Por uma Outra Geografia Escolar. O Prescito e o Realizado na atividade de ensino-aprendizagem de Geografia (Considerações segundo Mônica Spegiorin)

July 25, 2017 | Autor: I. Santo | Categoria: Geography
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Por uma Outra Geografia Escolar. O Prescito e o Realizado na atividade de ensinoaprendizagem de Geografia (Considerações segundo Mônica Spegiorin)

Wladimir Borges1 Isaac Simão Santo2 Resumo O presente estudo insere-se na “mediação” que muitas das vezes se solicita aos professores, contrariando o sentido tradicional do ensino no que à Geografia diz respeito. Para além disto, visa valorizar o ensino desta “realidade” já que tem vindo a ser preterida por outras ciências que, mais novas, chegam a acomodar muitos dos conceitos tratados ou desprotegidos pelos professores de Geografia. Esta situação é ainda mais evidentes em países como Angola, em que muito do que se ensina depende do que sabe quem decide sobre "o quê" ensinar e não sobre o que se deve ensinar, comparando com a realidade de outros países. Tal facto permite pensar que muitos problemas ambientais possam também resultar da falta de entrosamento entre o que se ensina em Geografia e o que se deve ensinar, a par da falta do rigor necessário para o ensino desta disciplina, em especial no ensino superior em Angola. A Geografia é encarada como mais uma meio para conseguir um canudo, já que consta do plano escolar, não tendo o valor mais global e transversal, que permitirá uma visão mais integradora do novo homem que Angola necessita. Dado que o nosso foco de formação é o ensino da Geografia, ciência que tem como objecto de estudo o espaço geográfico, entendemos facilitar a apreensão de conhecimentos para a formação nesta área do conhecimento, com maior destaque para os estudantes do 2.º ano do ISPMaravilha-Benguela a partir da análise dos conhecimentos de Mônica Spegiorin.

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Licenciado em Geografia pelo ISCED de Benguela (UAN), Mestre em Ambiente e Ordenamento (Universidade de Coimbra) e Pós-graduado em Geociências pelo ISPTundavala 2 Licenciado em Geografia pelo ISCED de Benguela (UAN), Mestre em Ambiente e Ordenamento (Universidade de Coimbra) e Pós-graduado em Geociências pelo ISPTundavala

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Introdução As considerações a que fazemos referência abordam o “contexto sócio-histórico-cultural” em que os principais atributos são dados aos professores de Geografia no Geral. Spegiorin (2007) começa por destacar o grande salto que a educação conheceu, não sendo já privilégio de uns poucos, mas uma ambição e obrigação de todos. Segundo aponta, “desde o século XVIII até a última década do século XX, observa-.se uma grande transformação na escola resultante do processo de industrialização e urbanização” (Spegiorin, 2007, p. 2). Contudo, este modelo fordista-taylorista, que enfatiza o saber tecnicista e contribui para o “favorecimento de um processo de alienação e exclusão que atinge grandes contingentes populacionais, no Brasil e no mundo (Spegiorin, 2007, p. 3). Infelizmente, as escolas não têm vindo a acompanhar o ritmo que a sociedade impõe, dando lugar ao “distanciamento entre o ensino oferecido às classes menos favorecidas economicamente e a classe dominante, o que faz crescer o número de trabalhadores desempregados, incapazes de criar e conceber novas formas de ocupação” (idem, 2007, p. 3). Neste contexto entra em campo a sala de aula (escola) como local em que o ensino se processa de forma sistematizada. Muitas das vezes, devido a falta de alguma liberdade das próprias instituições de ensino superior em gerir os modelos que sirvam de base para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, assiste-se a uma dependência e a uma falta de autonomia de pensamento dos professores. A crise mundial, iniciada em 2008, teve consequências mais pronunciadas na Europa e nos Estados Unidos da América (uma vez que nos países em vias de desenvolvimento ou subdesenvolvidos, não se trata de um caso resultante de uma crise mundial, mas sim de uma crise social em que é normal tal tipo de manifestações). Nestes territórios sublinhados, os conceitos desemprego e emigração, por exemplo, passaram a, mais constantemente, fazer parte das estatísticas dos governos e de autoridades que se dedicam a análise destes factores. Para o caso português, por exemplo, é referido que a taxa de desemprego está muito ligada à baixa escolaridade mas, conforme se ressalva, isto é apenas um referencial. Em países africanos, no entanto, estes dados deixam de ser referenciais e passam a ser reais, já que nem sempre ter formação implica, objectivamente ter emprego, apesar das várias oportunidades que podem ser criadas para se diminuir este foço. Com base neste exemplo, podemos recorrer ao que aponta Molon (referido por Spegiorin ,2007, p. 62) de que “alunos e professores agem por coerções externas do

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sistema, não atingindo o estágio de volição intrapsicológica, marcado pela motivação interna, construída por uma meta coletiva”. Ambos ficam descansados pois, “na escola, o trabalho do professor é pago com salário e o trabalho do aluno com a nota” (idem, p. 62).

Da Geografia à Geografia Crítica Voltando ao assunto sobre o irrealismo da Geografia, Spegiorin (2007, p. 3) considera que apesar das alterações que ocorridas no âmbito desta ciência, nota-se que a escola pouco mudou do ponto de vista do seu posicionamento, facto que acaba por afectar outras esferas da vida, em especial a ciência. Verifica-se, segundo afirma, um “ensino apoiado na combinação entre o comportamentalismo e a Geografia Tradicional, empirista, positivista e determinista”. Para contrapor esta tendência, chama à reflexão a Geografia Crítica, a qual “busca, através da observação e da análise do espaço geográfico e da sociedade, compreender os conflitos sociais, étnicos, culturais, as lutas pelo poder, os problemas económicos, o caos ecológico do planeta (Spegiorin, 2007, p. 5), o que obriga o professor de Geografia a “estabelecer a mediação entre esse conhecimento historicamente produzido e o aluno, que vive imerso nesta complexidade” (idem, 2007, p. 5), "desobrigando-se" a exigir “do aluno apenas a reprodução do conteúdo prescrito” e sim, tomando o seu lugar como criador de espaços para que os alunos compreendam e interpretem a realidade, através da leitura crítica do espaço, deixando de lado a posição de “mero transmissor de conhecimento” (idem, 2007, p. 5). Considerando o objecto de estudo da Geografia e a alteração do seu posicionamento positivista, do início, Spegiorin (2007, p. 20) sugere assim “uma perspectiva dialéctica e na concepção de espaço produzido, em que o lugar passa a ser visto como resultante da interrelação entre o todo e as partes” e acrescenta que a Geografia, “assim como outras ciências, caminham para o avanço do conhecimento que „consiste na constante susbstituição de nossas percepções confusas e inadequadas por idéias adequadas’ (Scruton, 2006 cit. in Spegiorin, 2007, p. 21).

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Contudo, a aplicação da Geografia Crítica não pode ser encarada de ânimo leve, pois apresenta algumas limitações do ponto de aplicação. Conforme refere Spegiorin (2007, p. 23) A opção pelo ensino da Geografia Crítica, dialética e monista, em oposição à Geografia Tradicional, cartesiana e dualista, não é uma escolha simples, pois, mesmo pertencendo à totalidade , interpretar o mundo nesta perspectiva, na direção das idéias adequadas, não acontece de maneira natural e espontânea. Essa tomada de consciência pressupõ uma mediação, uma intervenção, a visão do outro, capaz de estabelecer uma tensão dialética, um conflito instalado por idéias falsas, objectivando transformá-las.

Uma palavra é lançada aos professores especialistas, em especial no segundo ciclo. De acordo com Spegiorin (2007, p. 45), estes abstraem as teorias de ensino-aprendizagem, reforçam uma visão fragmentada do saber e uma opção conteudista que privilegia a memorização em detrimento da análise, interpretação e principalmente da autoria e da crítica por parte dos alunos em relação ao conhecimento historicamente acumulado.

No caso concreto da Geografia, Spegiorin (2007, p. 63) pensa que é que por esta razão que esta ciência “torna-se um conteúdo a mais a ser transmitido na escola”. Este pensamento é corroborado por Van-Dúnem3, o qual defendeu um melhor olhar sobre o processo de selecção do estudante e do docente universitário. Segundo diz, “a vida académica não é um negócio. Para além de tudo é uma vocação que configura todo um cenário em que cada actor desenvolve o seu papel de forma comprometida”. Outro grande investigador em Angola é Zassala4 (2015), para quem é necessário encarar-se os resultados de estudos feitos ao Ensino Superior em Angola por via dsa Universidade Agostinho Neto. Para ele, é necessário dialogar, já que o problema é a falta de aplicação da legislação vigente (Dec. 90/09), aguardando-se pela legislação futura. Considera ainda que há falta de formação por próprios gestores, os quais nem sempre têm preparação para liderar uma Instituição de Ensino Superior. Sobre isto, Spegiorin (2007, p. 93) destaca que a “gestão escolar que não valoriza a identidade, a singularidade e as particularidades dos membros de sua comunidade e, apoiando-se em Celani (2004), referido por Spegiorin (2007, p. 93a gestão escolar é tão importante pois a sua falta „é inapropriada para o contexto social atual, é ameaça à identidade cultural e leva ao desperdício de potencial humano‟.

VAN-DÚNEM, José Octávio Serra - Professor da UAN In Debate Livre. TVZimbo, edição de 2015-04-05 (reposição) 4 ZASSALA, Carlinhos, Professor da UAN, In Debate Livre. TVZimbo, edição de 2015-04-05 (reposição) 3

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Quanto a admissão de estudantes, Zassala (2015) defende que os exames de admissão realizados em Angola não têm carácter preditivo e sim selectivo5, porque muito se baseiam nas notas e não se faz uma análise sobre o desempenho do novo estudante do ensino superior. Alia a isto as infra-estruturas, programas e directrizes e eixos temáticos de cada curso que carecem de (re) avaliação permanente, pontos que se casam com os argumentos de razão de Spegiorin (2007).

Considerações finais O presente estudo procurou intervir no sentido de fazer valer a Geografia enquanto ciência e modo de estar que dos estudantes, quer dos professores, gestores e de outros actores sociais. No entanto, deve haver coragem para dar à Geografia uma nova roupagem, saindose do tradicionalismo para o criticismo, fazendo razão à reflexão que tem tem que ver “com o saber, a ciência e a criação. Uma nova construção de sentidos para aprender e ensinar Geografia” (Spegiorin, 2007, p. 46) e não mais uma disciplina que devo respeitar por estar no curriculo.

Referência de base SPEGIORIN, Mônica de Toledo e Silva - Por uma Outra Geografia Escolar. O Prescito e o Realizado

na atividade de ensino-aprendizagem de Geografia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007. Dissertação de mestrado. Disponível em http://www4.pucsp.br/pos/lael/laelinf/teses/por_uma_outra_geografia_escolar.pdf. [Acedido a 01.04.2015].

Com isto busca-se o dito Zassala segundo o qual “O ensino superior não é um ensino superior prolongado”. ZASSALA, Carlinhos, Professor da UAN, In Debate Livre. TVZimbo, 5

edição de 2015-04-05 (reposição)

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