Porto Alegre em tempo de praia. A cidade e as praias do Guaíba, entre os anos 1940 e o início dos anos 1970.

July 25, 2017 | Autor: A. Dias Prestes | Categoria: Environmental History
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Porto Alegre em tempo de praia. A cidade e as praias do Guaíba, entre os anos 1940 e o início dos anos 1970. Antonio João Dias Prestes (*) Porto Alegre, setembro de 2008. RESUMO As praias do Guaíba foram intensamente desfrutadas pelos porto-alegrenses, principalmente entre meados dos anos 1940, quando foram ligadas ao centro da cidade por linhas de ônibus, e o início dos 1970, quando o processo de poluição do rio por esgotos domésticos e industriais se intensificou, tornando-as impróprias para o banho. Esta situação se mantém até os dias de hoje, apesar de sucessivos programas de recuperação, conduzidos por vários governos, que obtiveram resultados bastante modestos, e a população de Porto Alegre, hoje, parece acreditar que a poluição do rio é inevitável e natural, assumindo uma atitude resignada diante do fato. Este trabalho tem como objetivo problematizar a relação entre os porto-alegrenses e as praias do Guaíba, tendo como foco este período de seu maior uso, e buscando avaliar a atitude e o imaginário dos moradores da cidade em relação às praias a partir da sua representação na imprensa da época, em especial a Revista do Globo e o jornal Zero Hora. Buscouse, também, entender a relação existente, nestas representações, entre as praias do rio e as praias marítimas do estado. Palavras-chaves: Porto Alegre; Lago Guaíba; história ambiental. ABSTRACT The beaches of the River Guaíba were intensely enjoyed by the people of Porto Alegre and neighborhoods, from the 1940´s, when they were linked by bus to the city, to the beginning of the 1970´s, when the pollution of the river by untreated domestic and industrial effluents turned its water inadequate for the bath. This condition remains till today, despite of many recovery programs that had been conducted by various administrations, with fairly poor results. Nowadays, people that leaves in the city seems to believe that the river’s pollution is something natural and hardly avoidable, thus taken a conformist attitude towards the situation. This work aims to investigate the relationship among the habitants of Porto Alegre and the beaches of the River Guaíba, focusing this period of its intense usage, and trying to assess the imaginary of the people regarding the beaches, based on how they were shown in the local press at this time, specially the magazine Revista do Globo and newspapers like Zero Hora. The relationship among the beaches of the Guaíba and the sea shore of the State of Rio Grande do Sul, as shown in these same sources, is also addressed. Keywords: Porto Alegre; Lake Guaíba; environmental history. “Antes de poder ser um repouso para os sentidos, a paisagem é obra da mente. Compõe-se tanto de camadas de lembranças quanto de estratos de rochas. [...] E esse mundo irreversivelmente modificado, das calotas polares às florestas equatoriais, é toda a natureza que temos”. Simon Schama (1996, p. 17) “E nas praias populares continuam as proibições, por sobre as necessidades. Não se deve pisar na grama, mesmo onde não existe grama. Não se pode sentar no bar em traje de banho. 1

Não se pode... O guarda está sempre atento. [...] Dentro do rio, porém, a humanidade navega livre e satisfeita, esquecida do asfalto, do bonde, de todas as torturas da cidade”.Juliano Palha (1944, pp. 41-43) (*) Estudante do Bacharelado de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

INTRODUÇÃO As praias do Guaíba, tanto na zona sul de Porto Alegre, como Ipanema, Belém Novo, Espírito Santo e Pedra Redonda, entre outras, quanto em Guaíba, na outra margem do rio, como Alegria e Florida, foram intensamente freqüentadas e usadas para o banho pelos moradores da cidade, desde muito cedo, mas em especial no período que vai dos anos 1940 ao início da década de 1970. A poluição das águas vem impedindo o banho nas praias, desde o final deste período, e muito pouco se fez desde então, para combatê-la e restituir o Guaíba para o pleno uso da população, tendo já transcorrido quase quarenta anos, com uma sucessão de programas inacabados, conduzidos por governos estaduais e municipais de variadas orientações partidárias. Passado todo esse tempo, ainda persiste uma memória, ou lembranças, em muitos porto-alegrenses, das praias como local de banho e de veraneios, vindas tanto de seus tempos de criança, quanto de relatos de seus pais e avós. A perda das praias, no entanto, é vista pelas pessoas, de modo geral, como algo “natural”, uma conseqüência inevitável do crescimento de economias subdesenvolvidas, como a do Brasil, com um certo senso comum indicando que a poluição dos rios é algo irreversível, ao contrário do que aconteceria com a do mar, o qual teria uma maior capacidade de autodepuração, além de ser mais facilmente tratável, com o problema se resolvendo com a simples construção de emissários submarinos. A simples menção à proposta de realização desta pesquisa, entre colegas, amigos e na família, foi suficiente para motivar um grande número de testemunhos sobre suas vivências pessoais, ou de lembranças de relatos de seus pais e avós, nas praias da cidade, além de suas opiniões com respeito aos motivos que levaram à degradação, até o momento irreversível, das praias. Apenas para dar uma breve impressão desta memória, são citados, a seguir, alguns destes depoimentos: “quando vim para Porto Alegre estudar [no início dos anos 1950], ia nadar até um banco de areia em frente à ACM, na Washington Luiz, e pegava o ônibus para Ipanema nos domingos”; “morávamos na Tristeza, e tomávamos banho no rio – como vão resolver o problema da poluição, se não cuidam de nada, nem da educação, nem da saúde...”; “o trabalho é sobre as praias? Eu me lembro que ia muito, quando guri”; “acho que o que acabou com as praias do Guaíba foi a inauguração da freeway”; “acho que o problema não é só nosso, dos gaúchos, pois onde há rios, estão todos poluídos”. 2

Esta memória das praias do Guaíba, por outro lado, não se materializou no imaginário da cidade, ao menos num grau que reflita a intensidade anterior de seu uso, como parece indicar a rarefeita produção cultural existente sobre o tema, tanto na historiografia quanto na literatura, para não falar de outras formas de expressão, como a música popular e o cinema. Tomando como ponto de partida estas constatações, o presente trabalho propõe problematizar a relação entre a cidade de Porto Alegre e as praias do Guaíba. O processo de degradação do Guaíba foi uma decorrência de diversos fatores conjugados, entre os quais o principal foi o intenso crescimento populacional de Porto Alegre e região metropolitana, especialmente acelerado entre 1940 e 1970. Nesse período a população da capital gaúcha triplicou, passando de 272 mil para 887 mil habitantes, sem que fossem feitos os investimentos necessários no sistema de coleta e tratamento de esgotos. Seus efeitos foram amplificados por um expressivo aumento da geração de efluentes líquidos industriais, especialmente em fábricas de pequeno e médio porte instaladas nas bacias dos seus formadores, como os rios dos Sinos, Caí e Gravataí, na região metropolitana da capital e áreas vizinhas, mas também em grandes empreendimentos instalados às margens do próprio rio. Foi o caso da fábrica de celulose Borregaard, na cidade de Guaíba, em frente às praias da zona sul de Porto Alegre, que entrou em operação no início da década de 1970, tendo operado, por alguns anos, sem as instalações adequadas para o tratamento dos poluentes hídricos e gasosos. As iniciativas públicas para a restauração da qualidade ambiental do Guaíba e de sua bacia hidrográfica têm acontecido desde a década de 1980, porém de forma lenta e pouco eficaz. Assim sendo, até o momento atual, cerca de quarenta anos depois da emergência do problema, foi possível apenas estabilizar os níveis de poluição, de modo a não comprometer o fornecimento de água tratada para a população, mas sem a recuperação da balneabilidade das principais praias urbanas de Porto Alegre, como Ipanema e Belém Novo. A falta de coordenação entre as instâncias de governo do município, que conduziu um programa próprio de recuperação, o “Guaíba Vive”, e do estado do Rio Grande do Sul foi, durante muito tempo, um obstáculo à condução efetiva dos programas de recuperação, e o programa integrado “PróGuaíba”, conduzido pelo governo estadual a partir de 1989, teve sua execução suspensa, a partir de 2004, ao término de sua primeira fase, que teve um investimento de 225 milhões de dólares. Estes programas alcançaram apenas resultados modestos, no que diz respeito às condições de banho das praias de Porto Alegre, das quais a única efetivamente recuperada foi a do Lami, situada fora da zona urbana da cidade, e com a elevação do esgoto doméstico tratado para 27% do total em 2002. A segunda fase do “Pró-Guaíba” previa um investimento 3

adicional de 172 milhões de dólares, mas não está sendo executada, alegadamente em função da crise financeira do estado (NETTO, CUSTÓDIO, 2004, pp. 4-5). O interesse da população pelos programas de recuperação da balneabilidade do rio tem sido irregular, muitas vezes restrito aos setores mais engajados com a defesa do meioambiente, e dificilmente um ponto chave nas plataformas eleitorais e de governo, tanto no estado quanto no município. A relação da cidade com o Guaíba tem sido lembrada pela imprensa porto-alegrense apenas em momentos específicos, como nas semanas de aniversário de Porto Alegre. Mesmo nestes momentos, a maior preocupação tem sido quanto aos aspectos relativos à ocupação da orla na área central da cidade, com as sucessivas idéias abortadas de aproveitamento do velho cais do porto e áreas adjacentes, sendo muito menor com relação às praias, e, mesmo neste caso, muitas vezes as vendo como uma alternativa de lazer somente para os mais pobres, para os que não podem ir às praias do mar. 1 Curiosamente, no entanto, algumas destas reportagens são acompanhadas de um tom nostálgico, lembrando um tempo, talvez existente, ou apenas imaginado, em que a ida a essas praias do rio era coisa “chique”.2 O fato é que na orla do Guaíba, enquanto muitos barcos saem dos elegantes clubes náuticos da zona sul, e alguns populares, especialmente no tórrido verão porto-alegrense, ainda teimam em entrar nas águas que continuam poluídas, a maioria da população simplesmente ignora a existência do rio, e se aglomera em engarrafamentos na auto-estrada para o litoral norte, nos fins-de-semana de dezembro a março. Tentamos, com este trabalho, buscar elementos para entender a atitude predominante na sociedade gaúcha e porto-alegrense, de baixo envolvimento frente ao problema da degradação ambiental do Guaíba e de suas praias urbanas em Porto Alegre. Esta atitude tem sido, no nosso entendimento, um dos fatores determinantes para a persistência desta situação, ao longo de um período de quase quarenta anos, no qual se sucederam governos estaduais e municipais de diversas tonalidades político-partidárias, desde o regime da ditadura militar até o advento da redemocratização do país, a partir dos anos 1980. Para atingir este objetivo,

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Este discurso está presente, na verdade, desde o período em que as praias, ainda limpas, passaram a ser usadas mais intensamente pela população de Porto Alegre, a partir dos anos 1940. O problema aqui não está, evidentemente, no uso popular das praias, bem ao contrário, mas na desvalorização das mesmas que parece implícita neste tipo de discurso, em essência elitista. 2 É o caso, por exemplo, de BRUM, Eliane. Porto Alegre em três décadas. In: Zero Hora. Porto Alegre, 30 de abril de 1995, Revista ZH, pp. 6-13. Esta matéria apresenta uma fotografia de Ipanema com a seguinte legenda: “O Guaíba de antigamente: a praia de Ipanema, na Zona Sul de Porto Alegre, limpa e bem freqüentada, em outubro de 1967”. É o caso, também, de ROCHA, Patrícia. Houve uma vez outro verão. In: Zero Hora. Porto Alegre, 14 de janeiro de 2007, Donna ZH, pp. 7-11. Nesta matéria, a fotografia de capa, com duas jovens de biquíni, na mesma praia, tem a seguinte legenda: “No point da praia de Ipanema, nos anos 60, um retrato da Porto Alegre ainda romântica”. Ainda nesta mesma matéria, outra cena praiana recebe a seguinte legenda: “1966: A praia de Ipanema, no Guaíba, era point nas décadas passadas”. 4

buscamos investigar a relação existente entre a cidade e o Guaíba e suas praias, no período em que estas ainda eram plenamente desfrutadas pelos porto-alegrenses. O recorte temporal escolhido para o foco principal da pesquisa foi o período de maior uso das praias do Guaíba, as décadas de 1950 e 1960, adotando-se, no entanto, como marcos inicial e final, os anos de 1944 e 1973. Em 1944 aparece uma primeira grande menção na imprensa do uso popular das praias, em reportagem de Juliano Palha e Santos Vidarte (fotografia), na Revista do Globo, Praias do Guaíba (n° 355, pp. 41-43), enquanto que em 1973 uma série de eventos é indicativa do final de uma época em relação às praias, como a colocação de placas pelas autoridades públicas indicando a sua impropriedade para o banho, a entrada em operação da fábrica de celulose Borregaard, com suas emissões de gases mal-cheirosos, e a inauguração da freeway para o litoral norte do estado. ANTECEDENTES: SOB O SOL DOURADO O NOSSO RIO DORME, E SONHA QUE É MAR O gosto pelas praias O estudo dos usos, das sensibilidades, do imaginário, e das relações de convivência dos povos ocidentais com o mar e suas praias, com todo o processo radical de mudança por que passaram desde o período do Renascimento até o século XIX, é uma temática que foi explorada com bastante profundidade e propriedade pelo historiador francês Alain Corbin na obra Le Territoire du Vide – L´Occident et le désir du rivage (1750-1840). Trata-se de toda uma mudança de sensibilidades e de atitudes, tanto do homem em relação à natureza, na busca de um contato mais próximo, junto das areias da praia, das ondas, das pedras, e do espaço misto entre a terra e o mar, quanto de novas formas de convivência e de exercício da sensualidade entre as pessoas (CORBIN, 1988, p. 319). Esta nova sensibilidade não deixou de ser, de certa forma, uma reação a um estilo de vida crescentemente emparedado nas grandes cidades e nas rotinas estressantes da economia capitalista industrial. Inicialmente restrito às camadas da elite, o costume do veraneio nas praias de mar não demorou muito para ser estendido às classes proletárias.3 O trabalho de Corbin pode ser usado como uma referência básica para a investigação dos processos que levaram à valorização de espaços litorâneos, inclusive no Brasil, seja pela criação de balneários, inteiramente novos ou derivados de vilas de pescadores já existentes,

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O historiador britânico Eric Hobsbawm aborda de passagem este tema, ao mencionar a instalação de iluminação pública na praia de Blackpool, reduto para as férias da nova classe proletária do norte industrial da Inglaterra, na passagem do século XIX para o século XX. (HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios: 1875-1914 São Paulo: Paz e Terra, 1988, pp. 154-155). 5

seja pela urbanização de espaços praianos em cidades localizadas próximas ou junto à beiramar.4 O gosto pelas praias de mar foi introduzido no Brasil como parte da difusão dos novos costumes da elite européia, aristocrática, e, logo em seguida, burguesa, a partir de meados do século XIX. Anteriormente, no entanto, o mar também era visto pelos brasileiros como um lugar repulsivo, ameaçador, e que servia, nas cidades litorâneas, apenas como local de descarte de todo tipo de dejetos, inclusive os humanos, que eram despejados in natura, para serem tragados pelas marés. Este posicionamento, característico das próprias camadas da elite, é mostrado por Gilberto Freyre, em Sobrados e Mocambos (2006[1936], pp. 312-313). Nesta obra, o grande autor pernambucano mostra, ao lado da desvalorização das praias de mar, a clara preferência pelas águas doces, com o costume dos banhos de rio. Freyre ilustra esta preferência citando o Rio de Janeiro e Salvador, mas se detendo, com mais detalhe, no Recife, cidade na qual cita os casarões do bairro aristocrático da Madalena, construídos com a frente voltada para o rio Capibaribe (hoje de há muito tempo poluído), e os banhos das famílias da elite pernambucana junto às pontes deste rio. Fundada apenas em 1772, Porto Alegre foi durante mais de cem anos uma pequena cidade, embora capital de província, atingindo no primeiro censo, de 1872, apenas 44 mil habitantes, e alcançando 73 mil habitantes na entrada do século XX. Ao contrário de cidades como o Rio de Janeiro, Salvador e Recife, não se situa junto ao mar, mas, a exemplo de Belém, às margens de um grande curso de água doce (lá, o Amazonas, próximo de sua foz, aqui, o Guaíba). Em função disto, suas relações com o rio e com o mar tiveram um desenvolvimento histórico, em muitos aspectos, bem diferentes das que foram desenvolvidas por essas três primeiras capitais, que, além disso, eram maiores e bem mais antigas, fundadas no século XVI, nos primeiros tempos da colonização do Brasil. Com o mar distante da cidade, o Guaíba cumpria, assim, desde esses primeiros tempos, duas funções: a de local de lazer da população, para seus banhos, e, também, o de local para o lançamento de seus dejetos. Este último papel já aparecia bem claramente nos relatos dos primeiros viajantes europeus ao Rio Grande do Sul, como é o caso de Saint-Hilaire, em sua Viagem ao Rio Grande do Sul, 1820-1821. Neste livro, o naturalista francês, que viajou pelo Brasil entre 1816 e 1822, e esteve em Porto Alegre quando esta tinha apenas dez a doze mil habitantes,

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A utilização de conceitos propostos por Corbin foi realizada com sucesso em trabalhos como o do geógrafo Ulisses da Silva Fernandes, A natureza de Copacabana, no qual o autor analisa a passagem da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, entre o final do século XIX e as três primeiras décadas do XX, de lugar inóspito, simples vila de pescadores, para o símbolo e materialização de um estilo novo e característico de vida à beiramar na então capital do Brasil, consolidado com a instalação do Hotel Copacabana Palace, no início da década de 1920. 6

mostra admiração com a paisagem vista do alto da península, junto ao rio onde se situou o centro inicial da cidade (SAINT-HILAIRE, 1974, p. 40). Admira-se, também, com a vista para o lado sul da península, que contempla a enseada da Praia de Belas, hoje em boa parte aterrada (Idem, p. 41). E muito, também, com a paisagem vista a partir do Guaíba.5 Mas não passou despercebido a Saint-Hilaire o uso do rio para o despejo de lixo e outros dejetos dos porto-alegrenses: Poucas casas possuem jardim e muitas não tem mesmo pátio, redundando isso no grave inconveniente de serem atiradas à rua todas as imundícies, tornando-as de uma extrema sujeira. As encruzilhadas, os terrenos baldios e principalmente as margens do lago são entulhadas de lixo. Apesar de ser o lago o único manancial de água potável, utilizado pela população, consentem que nele se faça o despejo das residências (Idem, p. 43). 6

Há um bom número de fontes que documentam o uso do Guaíba para o lazer, para os esportes e para o banho dos moradores de Porto Alegre, na segunda metade do século XIX, tanto através de crônicas escritas na época, ou de suas reminiscências, como por meio de fotografias, além de produção literária ou historiográfica mais recente. No primeiro caso, pode-se destacar o livro História popular de Porto Alegre, de Achylles Porto Alegre (18481926). 7 Cronista e professor, ele escreveu, por volta de 1920, sobre aspectos da cidade por volta da década de 1880, quando ela ainda retinha a maior parte de suas características coloniais, e sua população ainda não chegava à casa dos 50 mil habitantes. Suas crônicas oferecem uma boa descrição dos banhos de rio, no Areal da Baronesa (trecho da cidade que se situava entre o Riacho e o Guaíba, região de refúgio, até a Abolição, de escravos em fuga) e na Praia de Belas, para onde a cidade começava a se estender, à beira do rio.8

Como pode ser visto neste trecho: “Após sairmos do porto dobramos a ponta da colina em que fica a Cidade de Porto Alegre e, em seguida, tivemos sob nossos olhos, durante muito tempo, o lado ocidental dessa mesma colina. Ao alto a igreja, os relvados sobre as vertentes e as casas à margem, à face da praia, formavam um fundo encantador; à esquerda, o lago é guarnecido de colinas cobertas de pastagens e matas; à direita, o terreno é menos desigual e parece inteiramente coberto de matas”. (Idem, pp. 199-200). Aqui Saint-Hilaire navegava pelo Guaíba rumo ao porto de Rio Grande. Á sua esquerda via os recortes do que hoje é a zona sul de Porto Alegre, com suas pontas, enseadas e praias. 6 Como se vê, o problema da poluição do rio Guaíba por dejetos dos moradores de Porto Alegre é um problema quase tão antigo quanto a fundação da cidade. 7 Estas crônicas foram inicialmente compiladas e editadas pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre em 1941, por ocasião do Bicentenário de Colonização de Porto Alegre, e reeditadas em 1994, pela Secretaria Municipal de Cultura da capital, sob a coordenação de Luís Augusto Fischer. 8 Os fragmentos a seguir podem nos dar uma idéia: “Em frente ao atual quartel da Brigada, existia, naqueles tempos agrestes, uma excelente praia de banho limpa e cuidada. Era muito concorrida por escolares, que gazeavam as aulas e, nos tempos cálidos, atraídos pelas frutas como os passarinhos, procuravam aquele aprazível sítio, tão rico de encantos naturais”.(PORTO ALEGRE, 1974, p. 41). “Ali, a margem do rio é arenosa e baixa e penetra-se n´água, até um regular trecho, sem risco de pedras, por isso era, até pouco tempo, um ponto predileto de banho. Pouco povoado, então, não era raro, nos dias cálidos do estio, verem-se ali, a pequenos espaços, grupos de banhistas, procurando refrigério ao calor que amolenta e caustica. Nas noites de plenilúnio, a Praia de Belas era, se me permitem dizê-lo, banheiro da cidade. O casario foi aos poucos, se estendendo por ali. [...] Chalés de aspecto pitoresco foram-se semeando pelos terrenos e fraldas do morro que olha para o rio. Rasgaramse ruas, que vão morrer na praia”. (Idem, p. 42). 5

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O surgimento dos primeiros espaços concebidos com a finalidade específica de serem balneários, às margens do Guaíba, na zona sul de Porto Alegre, no entanto, ocorreu num momento posterior, já no início do século XX, quando o costume dos banhos de mar, e das temporadas de veraneio no litoral, já havia se estabelecido no Rio Grande do Sul. Aqui no estado, além do balneário do Cassino, em Rio Grande, instalado em 1890, que ficava muito longe da capital, com acesso apenas por navio, através da lagoa dos Patos, ou por estrada de ferro, já estavam sendo procuradas para temporadas de veraneio as praias de Tramandaí e de Torres, no litoral norte. Mas o acesso a estes balneários marítimos era ainda muito precário e demorado, pela falta de boas estradas e de veículos adequados, fazendo com que o seu uso se mantivesse restrito a temporadas de veraneio de umas poucas famílias muito abastadas. Em 1900, a pequena Estrada de Ferro do Riacho foi estendida até o arrabalde da Tristeza, então apenas uma área de chácaras à beira do Guaíba. Esta ferrovia foi construída com a finalidade principal de transportar o lixo produzido no centro da cidade para os aterros da zona sul, 9 mas a facilidade de acesso que trouxe estimulou o desenvolvimento da Tristeza, e a sua vocação balneária. A partir da década de 1930 foram criados os balneários de Ipanema, ao sul da Pedra Redonda, e de Vila Assunção e Vila Conceição, próximos à Tristeza, junto às colinas que avançam para o rio, nas pontas do Dionísio e dos Cachimbos, em áreas com intensa mata natural. Belém Novo, uma vila estabelecida à beira do rio desde 1867, a cerca de 30 quilômetros do centro da cidade, começou a receber casas de veraneio e banhistas à mesma época, enquanto que os balneários do Espírito Santo e do Guarujá, no prolongamento da enseada de Ipanema, foram formados mais tarde, no início dos anos 1950. Ipanema, até o início dos anos 1930, era uma grande área de praia arenosa, com muitas árvores frutíferas, como descrita em Revelando a Tristeza por Roberto Pellin, cujo pai vendeu uma grande área que tinha no local, em 1930, para os incorporadores do balneário, a firma constituída por Agrifóglio, Failace e Coufal. 10

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A partir da década de 1880, a municipalidade começou a utilizar o rio, na ponta do Melo (que passou então a ser conhecida como ponta do Asseio), no atual bairro do Cristal, para o despejo dos chamados “cubos”, ou seja, recipientes usados para o transporte de dejetos humanos vindos do centro da cidade – ver CENTRO DE PESQUISA HISTÓRICA / Coordenação de Memória Cultural / Secretaria Municipal de Cultura / Prefeitura Municipal de Porto Alegre. História dos bairros de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, (http://www.lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/observatorio/usu_doc/historia_dos_bairros_de_porto_aleg re.pdf), acessado em abril de 2007, p. 31. 10 PELLIN, Roberto. Revelando a Tristeza. Porto Alegre, 1979. A edição está esgotada. Está disponível um excerto na Internet, referente à fundação do balneário de Ipanema, no site da Terra (http://www.terra.com.br): Pré história de Porto Alegre, 02 de abril de 2003: “Em 1926, fomos morar na Serraria, de onde foram extraídas as pedras para a construção do cais do porto. [...] Nosso terreno limitava-se com a margem do Guaíba, desde as terras do seu João Batista Magalhães, até os eucaliptos da Chácara das Flores, de propriedade de seu Otto Niemeyer (hoje, rua Dea Coufal). [...] No interior desta enorme área corria um arroio de águas cristalinas e ao 8

O registro desta primeira fase do uso das praias da zona sul de Porto Alegre pode ser visto em algumas obras mais recentes, de caráter historiográfico ou mais geral, entre as quais pode ser destacado o livro Crônica de um rio, de Tania Carvalhal, Edgar Timm e Liana Timm. Neste livro, uma menção a estes balneários, como locais de veraneio, substituindo as antigas casas para banhos, está ilustrada com fotografias de famílias na praia, da década de 1930, retiradas de acervos familiares. Além disso, podem ser vistas fotografias de banhistas ou de famílias passeando na praia da Pedra Redonda (possivelmente nos anos 1910 ou 1920); no primeiro caso, na coleção História do Século 20, e, no segundo, no acervo do Setor de Fotografia do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, em Porto Alegre. O imaginário sobre as praias do Guaíba nos anos 1920 e 1930 Uma boa idéia a respeito de como esses lugares de veraneio e praias – e também as praias do litoral gaúcho – eram representados no imaginário da sociedade porto-alegrense dos anos 1920 e início dos anos 1930, através da imprensa, pode ser apreendida da leitura dos primeiros números da Revista do Globo. Publicação quinzenal editada pela Livraria do Globo, em Porto Alegre, de 1929 a 1967, a Revista do Globo teve Érico Veríssimo, como diretor de redação, desde 1931, e, a partir de 1933, como seu editor. Érico, então um jovem escritor em busca de afirmação, foi chamado por Henrique Bertaso, seu amigo pessoal, e que dirigia a Livraria do Globo desde 1931. Em seus primeiros anos, a Revista, que se autodefinia como de “cultura e vida social”, trazia um misto de crônica social, crítica literária, alguns trechos de poesia, crônicas e contos, editoriais políticos, relatórios das administrações públicas da cidade e do estado, e relatos de viagens e cobertura de festas populares, como a procissão fluvial de N. S. dos Navegantes. Nesse período a ida às praias de mar é ainda muito difícil, quase exclusiva para as pessoas de maiores recursos, mas o acesso às do Guaíba também é bastante restrito, os automóveis ainda são raríssimos, e o único transporte público disponível é o trem para a Tristeza. As praias no litoral ainda são usadas apenas para veraneios prolongados, e as de Porto Alegre, quase que apenas para veraneios, ou, quando muito, em finais de semana, também de pessoas com recursos, ou seja, em ambos os casos, uma minoria integrante dos extratos mais privilegiados da sociedade. Não transparece, assim, nestas primeiras edições da Revista do Globo, nenhum sinal de desvalorização da orla praiana de Porto Alegre, ou de seus freqüentadores, que podem ser identificadas como pessoas de elite, tanto quanto os que vão ao litoral. Podem ser lado deste, uma cancha reta, para corrida de cavalos. Quase tudo era areia coberta por joás, branquilhos, camboins e pitangueiras. Na beira da praia haviam (sic) figueiras, onde meu pai instalou um balanço para eu brincar (frontal onde havia o Restaurante Taba)”. Uma boa idéia da praia de Ipanema no período inicial de sua urbanização pode ser vista numa fotografia da Revista do Globo. Porto Alegre, 1932, n° 80, p. 13. 9

vistas, assim, algumas imagens de banhistas da Pedra Redonda, em 1929 e 1930, inclusive mostrando as cabines para troca de roupas dos banhistas (1929, n° 1, p.26; Idem, 1930, n° 25, p. 18). Deve-se destacar, ainda, algumas matérias com um conteúdo altamente positivo sobre as praias do Guaíba, inclusive com bela inspiração poética, do período em que a Revista já estava sob a direção de Érico Veríssimo. Uma delas é composta por uma seqüência de seis fotografias das praias, intitulada “À Beira do Guahyba...”, com legendas, como esta: “Parece o Oceano, mas é o Guahyba na Pedra Redonda, sim senhor...”, ou “A canoa virou... mas Deus é brasileiro e o Guahyba é camarada...”. (Idem, 1932, n° 80, p. 13). Outra, com o título de “Alegria del mar!” e fazendo um inusitado paralelo com as praias da Alemanha, termina com este trecho, ilustrado com uma foto semipanorâmica da Pedra Redonda, com suas pedras e figueiras à beira da praia: As praias do Guahyba também teem creaturas alegres e bonitas. Quase todas morenas. Também sabem cantar, correr e rir, dentro dos mais deliciosos “maillots” imagináveis. Pedra Redonda! Balneário Ipanema! Balneário Nova Belém! Balneário Guahyba! O rio de águas encrespadas, dum tom cinzento azulado, todo piltalgado de velas brancas... As montanhas azulando na distância... O vento fresco que arripia águas, areias e epidermes. Sob o sol louro o nosso rio dorme. E sonha que é mar... (Idem, 1932, n° 81, p. 36).

É um dos textos mais líricos escritos sobre o Guaíba e suas praias, tendo, também, uma boa dose de sensualidade, embora algo ingênua. Seu autor, não identificado, poderia ter sido, talvez, o próprio Érico Verissimo. Mas não deixa de revelar, mesmo assim, a visão que parece ter permeado toda a relação dos porto-alegrenses com o rio, talvez desde muito antes: a sua comparação com o mar, o seu papel de “substituto”, com a existência, no melhor dos casos, de uma certa ambigüidade nesta relação. O processo de modernização da cidade no período entre 1920 e 1935 está fartamente documentado em imagens fotográficas. A historiadora Zita Rosane Possamai, em sua tese de doutorado, Cidade fotografada: memória e esquecimento nos álbuns fotográficos – Porto Alegre, décadas de 1920 e 1930, demonstra que estes álbuns buscavam, muito mais do que ser um simples reflexo das transformações em curso, construir uma visibilidade urbana que crie e possa disseminar sentidos ligados a um determinado imaginário social, no caso, o de uma certa idéia de modernização da cidade. A análise das fontes utilizadas pela autora (álbuns fotográficos das décadas de 1920 e 1930, em especial os dois últimos) permite identificar uma baixíssima visibilidade do tema do uso do rio e de suas praias para o lazer, e como parte integrante da paisagem urbana (apenas quatro fotografias, em todo o conjunto, com foco nas margens do rio – sem considerar o porto – ou nas praias, sendo que estas estão rotuladas como “Porto Alegre pitoresco”). Ou seja, nesta visão, o rio só fazia parte da cidade enquanto porto, ou como moldura do seu centro, foco principal das transformações, que incluíam o início de 10

sua verticalização. As praias estavam fora da cidade representada, assim como os lugares ainda não “saneados” no centro e na sua periferia.11 ANOS 1950 E 1960: PRAIAS POPULARES E INSPIRAÇÃO EM FORMA LÍQUIDA; É O MAR DOS POBRES E o povo também vai à praia Começam os anos 1940, e a cidade de Porto Alegre, já beirando os 300 mil habitantes, acelera o seu crescimento populacional e da atividade econômica, dentro de um cenário brasileiro em que, a partir das mudanças iniciadas sob o governo de Getúlio Vargas, começa a se realizar o processo de integração das diferentes regiões do país. A cidade cresce para o alto (com os primeiros grandes edifícios comerciais e residenciais na área central) e para os lados, incorporando novos bairros, o que é facilitado pela criação de novas formas de transporte público, com os ônibus juntando-se aos bondes elétricos e alcançando localidades mais distantes do centro, inclusive os balneários da zona sul. Nesse novo contexto, com o aumento explosivo da população de Porto Alegre – que passa para 394 mil habitantes em 1950, e 641 mil em 1960 – e com as maiores facilidades de acesso, a procura das praias do Guaíba na zona sul da cidade se intensifica, como uma forma de convivência social mais aberta e como alternativa de fuga para os dias tórridos do verão porto-alegrense (MONTEIRO apud ROCHA, 2007, p. 9). Os bairros da zona sul continuam sendo locais de veraneio, mas já passam a atrair uma população permanente, em alguns deles com famílias das classes mais privilegiadas, morando em belas casas situadas diretamente à beira da praia, na Tristeza, na Vila Conceição e na Pedra Redonda, muitas com ancoradouros particulares, ou na colina da Vila Assunção. O acesso às praias marítimas do litoral norte do estado continuava difícil, situação que se manteve, em linhas gerais, até a inauguração da freeway (auto-estrada Porto Alegre-Osório), em 1973, mas as famílias mais ricas começaram a trocar, a partir dos anos 1950, os veraneios nas praias do Guaíba pelo hábito de veranear no litoral norte (Idem). Antes da implantação da indústria automobilística no Brasil, a partir do governo de Juscelino Kubitschek, no final dos anos 1950, o número de automóveis em circulação nas cidades brasileiras ainda era relativamente pequeno, e esta situação ainda se manteve por algum tempo, pelo menos até o breve surto de crescimento econômico do chamado “milagre

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Uma visão diferente, no entanto, pode ser encontrada na obra de escritores como Érico Veríssimo, nos anos 1930, para esta mesma modernidade. Veríssimo aborda a temática urbana, situada em Porto Alegre, cidade que procura mostrar como uma pequena metrópole, já com todas as características de uma sociedade contemporânea, capitalista e industrializada. Em romances como Caminhos cruzados, de 1935, e Um lugar ao sol, um ano depois, o cenário das praias aparece nítido, mas perfeitamente integrado à trama. Caminhos cruzados apresenta duas passagens, umas delas envolvendo o casal protagonista, Fernanda e Noel, à tarde, à beira da praia em 11

brasileiro”, sob o regime da ditadura militar, no início dos anos 1970. Deste modo, o acesso às praias da zona sul de Porto Alegre, para a maioria de seus freqüentadores, era feito através de linhas de ônibus que saíam do centro da cidade. O serviço de transporte era deficiente, e o itinerário era muito demorado, pois as vias de acesso ainda eram precárias, situação que perdurou, na verdade, durante quase todo o período, pois a zona sul era ligada ao centro da cidade por uma via asfaltada, mas muito estreita (ASSIS, 1950, p. 56). Mesmo assim, uma grande massa de porto-alegrenses se dirigia para as praias nos fins-de-semana de verão. Talvez com algum exagero, a Revista do Globo informava, em 1944, que cerca de 15% da população da capital procurava as praias da zona sul, e as praias de Guaíba, como Alegria e Florida, nos fins-de-semana quentes, e que este número poderia chegar ao dobro, se não fossem as deficiências do transporte (n° 355, pp. 41-43). A mesma revista informava, em 1965, que cerca de trinta mil pessoas se espalhavam pelas praias do rio nos dias mais quentes do verão (n° 892, pp. 34-36). Mas o próprio acesso e os usos das praias do Guaíba eram bastante diferenciados ao longo de todo esse período (ASSIS, 1950, pp. 53-64). Em balneários como Ipanema e o vizinho Espírito Santo, que tinham acesso direto dos ônibus e uma extensão de praia pública, com rua à beira-rio, predominava uma freqüência mais popular de banhistas (embora estes bairros tivessem muitas casas de veraneio da alta classe média). Ficavam superlotadas nos finais de semana do verão. Já a Pedra Redonda, parte da Tristeza e a Vila Conceição tinham características mais elitistas, pois o acesso a suas praias era mais restrito, não havia rua na orla e boa parte das praias era privativa (Idem, p 58). Nelas havia alguns clubes, além dos náuticos, e, possivelmente, eram freqüentadas por pessoas que chegavam em barcos, que ficavam ao largo, ou nos diversos ancoradouros particulares (Idem, p. 56). O trecho entre a Praia de Belas e a Ponta do Dionísio era muito pouco freqüentado, pois neste local ficava o ponto principal de saída do esgoto cloacal da cidade, despejado no rio sem qualquer tratamento (Idem, p. 56).12 Nos anos 1960, além dos que apenas passavam o dia nas praias, e dos que ainda usavam as casas para veraneio, muitas pessoas passaram a utilizar as áreas de camping na beira do rio, como no balneário do Guarujá, e também em Belém Novo (Veludo), para passar temporadas, no verão, como mostrava uma matéria de Zero Hora, com fotografias de Assis Hofmann (26 de dezembro de 1966, pp. 7 e 24). Ainda no início dos anos 1970, com a poluição do Guaíba muito evidenciada, fazendo com que uma grande parte das pessoas Ipanema, outra com a ida de carro para as praias, com anúncios de novos loteamentos. Um lugar ao sol tem um trecho citado por Tania Franco Carvalhal, em Crônica de um rio, neste caso situado na orla à noite. 12 Ver também: Esgôto da cidade será lançado após o canal de navegação. In: Folha da Tarde. Porto Alegre, 6 de dezembro de 1967, p. 21. 12

passassem a evitar os banhos, ficando só nas areias, a procura pelas praias da zona sul, especialmente Ipanema, continuava sendo muito grande, e, com a popularização dos automóveis, observavam-se enormes engarrafamentos nos fins-de-semana do período de verão (ZERO HORA, 27 de novembro de 1972, pp. 2-3). O imaginário: triste Porto Alegre, restam as praias, mas a cidade as tem de rio, ou Guaíba, um abraço de poesia? A representação das praias do Guaíba no período em que foram freqüentadas de forma mais intensa, entre meados da década de 1940 e o início dos anos 1970, pode ser encontrada na imprensa periódica da cidade, tanto nos jornais diários quanto na Revista do Globo, que continuou circulando até o ano de 1967. A pesquisa utilizou como fontes principais a própria Revista e os jornais Correio do Povo, Folha da Tarde e Zero Hora. Os dois primeiros circularam durante todo o período, o último somente a partir do ano de 1965. Além da pesquisa na imprensa periódica, foram levantadas algumas informações com respeito à representação das praias em outras fontes, como os documentários e reportagens da produtora cinematográfica gaúcha Leopoldis-Som, e os cartões postais da cidade de Porto Alegre. 13 Alguns comentários iniciais podem ser feitos com relação às fontes da imprensa periódica utilizadas. A Revista do Globo apresenta um bom número de matérias enfocando as praias porto-alegrenses, entre a década de 1940 e o ano de seu fechamento, 1967, ao lado de várias outras sobre os esportes náuticos e a vida social nos clubes da orla do rio, e sobre as praias de mar, não só do litoral gaúcho, em sua maior parte fotorreportagens com os autores de fotos e textos identificados. Seu exame traz muitos elementos sobre a representação das praias do Guaíba, do seu contraste com a dos balneários marítimos, especialmente Torres, e com a visão do próprio rio como cena do lazer de privilegiados. O Correio do Povo não tem matérias a respeito das praias, com exceção da série de reportagens de Kleber Borges de Assis, O rio que não é rio, mas apresenta várias sobre o tema da reforma urbanística da cidade, como o projeto de aterro da Praia de Belas e de construção da avenida Beira-Rio.14 Ao lado disso, em suas páginas de anúncios, pode se ter uma idéia dos usos dos balneários da

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O Arquivo Leopoldis-Som, adquirido em dezembro de 1986 pelo Museu do Trabalho, constitui-se de mais de 2 mil filmes que pertenciam ao acervo da extinta Cinegráfica Leopoldis-Som que cessou suas atividades em 1974, em face da concorrência feita pela TV. São documentários e noticiários veiculando eventos sociais, econômicos e políticos do Rio Grande do Sul, especialmente referentes aos anos 1950 e 1960 (referência: http://www.museudotrabalho.org/acervomaquina.html, acessado em setembro de 2007). 14

A série de reportagens de Kleber Borges de Assis sobre o Guaíba, publicada pelo Correio do Povo, em 1958, foi lançada como livro, O rio que não é rio, em 1960. O tema das praias é abordado em dois dos seus doze capítulos, um sobre o uso do rio pelos porto-alegrenses para recreação, e outro sobre a exploração do turismo. O contraste entre as praias do rio, cheias de vegetação frondosa (“que fornece uma bela sombra aos banhistas, entre 13

zona sul, e da sua valorização, como local de veraneio, em plena década de 1950. Nos anos 1960, várias matérias focalizam o uso das praias e seus problemas na Folha da Tarde e na Zero Hora, mas esta última, na época ainda um jornal em busca de mercado, e com um perfil mais popular do que o dos concorrentes, tendia a dar um maior espaço à interação dos portoalegrenses com as praias, com um enfoque mais positivo. Mas em quase todas essas, tanto dos jornais quanto das revistas, a menção às praias porto-alegrenses é acompanhada de alguma referência ao litoral marítimo ou à distância de Porto Alegre do mar. No início dos anos 1940, a temática das praias e do veraneio começa a ganhar mais espaço nas páginas da Revista do Globo. No verão de 1944, a Revista publica uma reportagem, Praias do Guaíba, escrita por Juliano Palha, com fotografias de Santos Vidarte (n° 355, pp. 41-43). Na primeira página, uma mulher de maiô (bonita e elegante, para os padrões da época), caminhando no passeio à beira da praia. A crônica começa falando do intenso calor num domingo de janeiro no centro de Porto Alegre: 2 horas da tarde [...] 36° à sombra. As árvores da Praça da Alfândega sofrem perfiladas, imóveis, como um cadete em dia de parada. O sol, a pino. O céu, sem nuvens. O chão de pedra, escaldando.

Segue com o relato das peripécias de um porto-alegrense que decide empreender a viagem do centro da cidade para as praias do Guaíba, para fugir do calor infernal e para se recuperar da semana que passou encerrado no escritório: – Seu guarda [...] De onde partem os ônibus para as praias? – Que praias? – Qualquer uma... As do Guaíba... O guarda cisma. Olha o cidadão com um ar de misericórdia e, por fim, estende o braço e o lábio: – Dali... De meia em meia hora até às 8 da noite. O cidadão se dirige para o Mercado Público. Há uma fila. Entra nela. [...] Chega o segundo [carro]. Ele embarca. Não lhe sobra lugar. Vai em pé mesmo. [...] No Cristal, o gasogênio falha.15 O chofer desce e abre o motor. Sol em cima do ônibus é mato. [...] As camisas, empapadas. Uma mulher gorda solta surda praga contra “a companhia”. Um homem magro cospe disfarçadamente entre os pés. Uma garota de vestido floreado ri para o namorado de cabelo negligé. O ônibus desempaca. E chega.

Chega às praias que estão sempre cheias de banhistas aos domingos: Ipanema, Vila Assunção e Espírito Santo. Diz o cronista: O Guaíba é um rio preguiçoso. Raramente tem ondas. Entrar nele é quase como entrar na banheira do apartamento. Com a diferença que no Guaíba é muito mais incômodo. [...] 15% da população de Porto Alegre procura estas praias nos fins de semana. E 30% passaria os domingos nelas, se não existissem as dificuldades nos transportes coletivos. Tentando uma ida a esses recantos é que a gente sente a sede de veraneio e de ar livre e fresco que martiriza o

um mergulho e outro”), e as praias do litoral gaúcho não passa desapercebido pelo geógrafo e repórter (Ver: ASSIS, op. cit., pp. 58-59). 15 O Brasil está em guerra com o Eixo, e há racionamento de combustíveis. O gasogênio é usado no lugar dos derivados de petróleo. É um combustível sintetizado a partir do carvão. 14

portoalegrense nos meses de verão. Ele se utiliza de todos os meios para chegar à beira do rio. Vai de carroça, a cavalo, a pé, em veículos improvisados às pressas. Mas vai...

Nas praias, os freqüentadores se deparam com todo tipo de dificuldades e contratempos, o que inclui a proibição de acesso a algumas das praias. Segue o relato de Palha: Chegando à praia, porém, crescem os problemas à frente do banhista. Desde o local para trocar de roupa até a deficiência do serviço de bar. [...] Para as vilas residenciais, há praias particulares, com tabuletas advertindo que são proibidas ao público. E nas praias populares continuam as proibições, por sobre as necessidades. Não se deve pisar na grama, mesmo onde não existe grama. Não se pode sentar no bar em traje de banho. Não se pode... O guarda está sempre atento. E a moral da indumentária tem ali um espaço vital rigorosamente observado.

Mas as praias ainda conseguem ser um espaço de liberdade e de convívio das pessoas nos domingos do verão, apesar das carências e das proibições, como mostra o cronista: Dentro do rio, porém, a humanidade navega livre e satisfeita, esquecida do asfalto, do bonde, de todas as torturas da cidade. Mulheres, homens e crianças. Principalmente homens. E os há de todos os tipos, desde os tarzans que se exibem em acrobacias na areia, até os raquíticos, de óculos, com ares professorais, e os carecas, de peito cabeludo. Quanto a elas, predominam as gordas. Carnes balofas, pernas encaroçadas. Porque as bonitas não entram no rio. Ficam passeando na areia, fazendo o footing, como na Rua da Praia, o andar estudado, o maquillage perfeito, o maillot de seda extravagantemente reduzido.

Que conclui falando sobre a volta à cidade, no último ônibus, ainda mais difícil do que a ida à praia: [...] reúne-se a família inteira à sombra do minúsculo cinamomo de beira-rio. Não há lugar no bar. O gelo terminou faz tempo. A meninada se satisfaz com sanduíches ressequidos e gasosas mornas. O sol queimando. As peles rebentando. Como não há refúgio, o remédio é ficar por ali [...] até que chegue o último banho do dia... Então, surge o problema da volta, muito mais trágico que o da ida. Não se pode gozar da contemplação do famoso crepúsculo sobre o Guaíba. Os ônibus começam a ser disputados aos empurrões, porque na praia despreza-se a fila. Mas, mesmo assim, o portoalegrense volta feliz para sua casa, conformado com tudo, crente de que passou um domingo agradável e de que se livrou do calor infernal.

A reportagem-crônica é ilustrada por fotografias que mostram cenas as mais diversas das pessoas num domingo de praia, crianças em piqueniques, mulheres disputando um espelho, famílias à sombra das árvores, os “tarzans” acrobatas nos aparelhos de ginástica, a improvisação para a troca de roupas, a fila do ônibus (homens em calças compridas e mulheres de vestidos, roupas da cidade). Curiosamente, nenhuma das fotos mostra pessoas se banhando no rio. Pode-se ver que são de pessoas da classe média ou “remediados”, gente com condição de tomar um ônibus (automóveis, então, só para os muito ricos) e passar o dia na praia. O quadro parece bem realista, talvez com algum exagero nas carências e na feiúra das banhistas, citada no texto. O seu tom oscila entre a busca do pitoresco e a denúncia da precariedade das praias como opção de lazer, aí incluída, explicitamente, a obsessão por proibições e controles, mesmo num ambiente que deveria ser mais liberado, como a praia. De qualquer modo, está longe de ser uma exaltação das praias porto-alegrenses ou um convite ao leitor para visitá-las. 15

Também não traz um convite para ir às praias do Guaíba, de modo algum, a reportagem da Revista do Globo de 1951, Triste Porto Alegre, assinada por Rubens Vidal (n° 530, pp. 29-33). Nesta matéria, o autor traça um quadro extremamente crítico à capital gaúcha, com respeito às poucas possibilidades de lazer e de cultura que ela oferecia a seus moradores, em contraste com o seu tamanho e com a sua rotina já massacrante, de uma cidade na casa dos 400 mil habitantes. A legenda da fotografia que ilustra a sua primeira página diz: “Quem vê o grande movimento diurno da Rua da Praia não compreende a grande solidão noturna da capital”. A reportagem prossegue lamentando a falta de opções para a noite, com poucas boates, e a falta de um maior número de cinemas. Fala na existência de um verdadeiro “toque de recolher” devido a esta falta de alternativas, que faz com que a imensa maioria de sua população já esteja na cama às 11 horas da noite. Dois subtítulos: “P. Alegre é a capital que progride e boceja”, e “99% dos pôrto-alegrenses fogem da monotonia pelas portas do sono”. Com relação às praias, diz o autor: No verão, restariam as praias. Mas a cidade as tem de rio e os que desejam um banho de mar precisam viajar 4 horas em ônibus superlotados, enfrentar hotéis improvisados, restaurantes com fila e o desconforto geral das estações marítimas ao alcance de Porto Alegre (Torres é uma exceção distante cujo acesso depende do vento e das marés, pois não há uma rodovia que a ligue com Porto Alegre, e os carros só lhe chegam pela praia).

A reportagem traz uma foto de banhistas na Pedra Redonda, com a seguinte legenda: “As praias são belas como paisagem. Mas o banho de populares é desconfortável, trabalhoso e não compensa a viagem em ônibus superlotados. O mar fica a 130 kms”. Com sua crítica à monotonia cultural e social da pequena cidade grande, esta reportagem de Rubens Vidal lembra, de um certo modo, a temática e o tom de alguns cronistas que trabalhavam na imprensa periódica de jornais e revistas e na cena literária de Porto Alegre entre a década de 1890 e os anos 1910. Em sua obra O imaginário da cidade: visões literárias do urbano – Paris, Rio de Janeiro e Porto Alegre, Sandra Pesavento consegue identificar esta tendência literária, a que chama de “amargura provinciana”, que tinha entre seus representantes os cronistas Paulino de Azurenha e José Picorelli, e que exprimia uma frustração em face de uma cena urbana vista como sem emoções e vazia de expectativas, onde retirar assuntos sobre os quais escrever representava uma tarefa ingrata e estafante (PESAVENTO, 2002, pp. 335-350). Para a autora, esta tendência não deixava de refletir uma das faces do duplo provincianismo de Porto Alegre, face ao Rio de Janeiro, mas também Buenos Aires, e aos grandes centros da civilização, como Paris. Esta atitude refletia também, para Pesavento, uma certa posição de “esmagamento” do urbano, de Porto Alegre, entre a valorização do rural e de seu passado visto como épico, que dominava o imaginário 16

formativo do Rio Grande do Sul, e a reverência aos valores culturais difundidos pelos grandes centros europeus (Idem, pp. 256-262).16 Em 1957, a Revista do Globo publica mais uma grande matéria abordando o uso das praias fluviais pelos porto-alegrenses, Domingo (quente) no Guaíba. Trata-se de uma fotorreportagem, de Léo Guerreiro (n° 684, pp. 36-43). Diz o seu texto inicial: Não tendo tido a capital pôrto-alegrense a fortuna de encostar-se à beira-mar, tem mesmo de se contentar com alguma praia do estuário manso (mas freqüentemente cruel) do Guaíba. Dia de calor na capital gaúcha é dia de evasão em massa. E quando esse dia é domingo, isso significa que a fuga é total. Para a orla marítima ou para os nossos banhos de rio. Acontece que o mais comum no caso das praias fluviais é a pessoa não ter podido ir até ao Atlântico e então entra na fila dos que não dispõem de condução própria (e esses, infelizmente são a imensa maioria) e habilita-se até Ipanema, Espírito Santo, Belém Novo, Pedra Redonda e mais inúmeros recantos batizados pelo povo com nomes específicos. Mas a água é a mesma em todas as praias: linimento refrescante para a única folga de uma semana quente e portanto o povo a ela vai sem qualquer espécie de sentimento comodista, tão somente com a coragem, aliás muito forte mesmo...

Na fotografia de abertura, os ônibus para as praias da zona sul, saindo embaixo do viaduto Otávio Rocha, e as grandes filas formadas para apanhá-los. São pessoas muito bem vestidas, mais mulheres do que homens, a maioria composta por jovens. Diz a legenda: “São aos milhares as pessoas que querem disputar um pouco da água do Guaíba e, não muitos, os ônibus”. Logo ao lado, uma cena semipanorâmica da praia de Ipanema, sua orla cheia de árvores, muitos banhistas nas areias e dentro d’água, com a seguinte legenda: Nas repetidas, pequenas e bonitas enseadas com abundante vegetação o povo deixa o cansaço de uma semana de trabalho e desejos frustrados de um pouco de natação. Mas o objetivo principal, fugir do calor, é atendido.

Nas páginas seguintes, uma série de imagens fotográficas, destinadas a mostrar o que seriam diversos “flagrantes” de um domingo nas praias populares de Porto Alegre (“A alegria e a tristeza, de mãos dadas, também vão tomar o seu banho nas águas do estuário”). Três garotas de maiô caminhando na areia e tomando sorvete (entre elas uma “gordinha”). Outra “gordinha” banhando-se numa espécie de chuveiro público, numa seqüência de quatro fotos (“depois do banho nas águas do rio, o banho nas águas da prefeitura”). Os indefectíveis “tarzans de praia” (“[...] ainda são um dos elementos mais característicos das praias, sejam de rio ou marítimas. Os do Guaíba também fazem as suas demonstrações”). A mocinha solitária, sentada, de vestido, num banco da orla. Vários casais de namorados na beira da praia (“O amor não faz a mínima cerimônia nas areias do Guaíba e parece mesmo ter se tornado um complemento das praias. Na verdade, ama-se em massa junto às águas do estuário ou sobre as

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A autora se refere aqui, especificamente, à etapa inicial de formação do imaginário sobre o urbano de Porto Alegre, ainda no século XIX, mas esta situação ainda permaneceria por muito tempo, pelo menos até o advento de uma temática urbana no modernismo literário de autores gaúchos como Érico Veríssimo, Dyonélio Machado e Athos Damasceno Ferreira, já nos anos 1930. 17

areias quentes do sol”). O autor capta e seleciona uma cena inusitada, em meio a banhistas saudáveis, embora nem todos exibindo boa forma: de costas, olhando para a praia, um homem sem uma perna, apoiado numa muleta, e com um bebê nos ombros (“Num dia quente de verão, nada impede um homem de procurar uma praia, desde que ela exista, muito menos um bebê, ainda que ele não saiba nadar”). Por fim, a multidão, no fim da tarde, já de roupas trocadas, expressões cansadas, nas filas para o longo retorno, ao sol, e sem nenhuma estrutura, enquanto alguns poucos permanecem para aproveitar os últimos momentos da tarde, num último mergulho (“Mas é tão difícil a longa viagem de volta que já às quatro horas da tarde começam a formar-se as filas para garantir o retorno nos ônibus da Prefeitura”). O contraste desta e de outras reportagens da Revista do Globo abordando as praias de Porto Alegre com matérias da mesma revista sobre as praias do litoral gaúcho, especialmente Torres, e sobre as praias de Montevidéu, é muito grande, tornando ainda maiores as diferenças existentes entre as praias porto-alegrenses e estes locais de veraneio de pessoas da alta sociedade. A seleção das fotografias é, certamente, um fator muito importante para a obtenção deste efeito. Para ilustrar este ponto, podem ser citadas duas reportagens da Revista, uma de 1950, Montevidéu, cheia de encantos mil, escrita por Juvenal Passos, com fotografias de Christóvão Rios (n° 500, pp. 42-45), e outra, também de 1957, escrita por Nélio Macedo, com fotografias de Léo Guerreiro, O verão correu para a praia de Torres (n° 682, pp. 47-49). As duas fotorreportagens têm em comum a presença de mulheres muito bonitas, com elegantes maiôs e em poses sensuais. A matéria sobre Montevidéu mostra as atrações da capital uruguaia, como a movimentada praia de Pocitos, com sua avenida à beira do Rio da Prata, seus serviços de praia, como nos balneários europeus, e sua linha de edifícios lembrando Copacabana, e o cassino na praia de Carrasco. As praias do litoral uruguaio, como Piriápolis e Punta Del Este, também eram assunto constante nos jornais gaúchos nos anos 1950, como no Correio do Povo.17 A reportagem sobre Torres, por sua vez, mostra uma praia rústica, com uma natureza ainda intocada, e freqüentada por moças da alta sociedade da capital (“na mais bela praia gaúcha, há muitas gaúchas belas”), posando para o fotógrafo da Revista. O enfoque dado às reportagens sobre as praias do Guaíba é muito diferente, nelas o interesse parece estar centrado nos aspectos mais prosaicos (mas, às vezes, também em imagens inusitadas), enquanto que as praias uruguaias e Torres são representadas apenas como lugares

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Correio do Povo. Porto Alegre, 14 de janeiro de 1951, p. 3. A matéria, ilustrada com fotografias, fala sobre o balneário de Piriápolis, entre Montevidéu e Punta Del Este: “Piriápolis, encantador centro de turismo internacional”. O ponto a destacar está no fato de que Montevidéu e estes outros balneários próximos eram atrações turísticas internacionais, mesmo sendo praias do Rio da Prata, com águas doces ou misturadas com o 18

parasidíacos e plenos de “glamour”, longe dos atropelos da cidade. Uma boa idéia do fascínio que o litoral inspirava, exatamente na medida em que representava a antítese da cidade, pode ser vista em outra matéria da Revista do Globo, de 1965, sobre o verão nas praias do litoral gaúcho, Novamente o verão, com fotografias de Octacílio Dias (n° 891, pp. 12-15). Ilustrada com fotos de Torres e de Capão da Canoa, seu texto diz: Torres, a bela, Tramandaí, a popular. Capão, Atlântida e inúmeras praiazinhas perdidas na vastidão de areia vêem abrirem-se as janelas das suas casas de veraneio. Começou a estação balneária. Mais um verão a ser recordado quando o inverno chegar. Um verão gostoso, passado nas areias quentes da praia, e no friozinho gostoso da água do mar. Verão só é o verão de que falam as poesias quando é passado longe da cidade, a uma grande distância dos escritórios, das repartições, dos bancos, enfim, longe de todo e qualquer trabalho.

A imagem dos clubes náuticos, e de veleiros e lanchas no Guaíba, era bastante explorada pela Revista do Globo, especialmente nos anos 1960, sob um enfoque muito próximo ao de suas reportagens sobre Torres e sobre as praias do Uruguai, com a presença de belas mulheres, inclusive em desfiles de moda de praia. Nos anos 1960, a Revista do Globo, que deixou de circular em fevereiro de 1967, publicou mais algumas reportagens sobre o tema, nas quais o Guaíba e suas praias são mostrados num tom mais positivo em relação às precedentes. Em 1965, é publicada Guaíba – um abraço de poesia, assinada por Eduardo Pinto (n° 892, pp. 34-37). Nesta matéria, ilustrada por uma bela foto do rio visto a partir das ilhas, com a cidade ao fundo, o autor dedica um parágrafo às praias: Além do porto e ilhas, o Guaíba é também praias populares e inspiração em forma líquida. No seu litoral sul, por uma extensão de mais de dez quilômetros, a população que não vai às praias de mar aproveita para fazer o seu veraneio de fim-de-semana. São dezenas de ônibus que despejam milhares de citadinos afoitos de sol e ar livre. No auge do verão, nos domingos, calcula-se que cerca de trinta mil pessoas espalham-se pelas margens do rio Guaíba. É o mar dos pobres. Alguns não tão pobres assim, como prova o alto número de veículos estacionados, com a presença até de rabos-de-peixe.

O repórter conclui sua matéria falando do “rio amigo”. Alguns trechos: Pois o Guaíba é, para a cidade de Porto Alegre, tudo isso e muito mais. É o rio amigo dos crepúsculos, das pescarias, das velas brancas noticiando passeios e competições, [...] dos banhistas de fim-de-semana, das ilhas com suas casas de pescadores, de frágeis canoas, escrevendo uma epopéia de luta pela vida às vezes contra a natureza [...] é tudo isso e mais o abraço fraterno do rio na sua cidade, para a delícia dos seus amigos que somos todos nós e também todos que o conhecem. [...] é o rio das ilhas navegando nas suas águas claras, da procissão naval em honra da Senhora dos navegantes. É beleza. É mais: abraço de poesia na sua cidade.

No ano seguinte, a Revista publica É domingo em Pôrto Alegre, reportagem assinada por Flávio Carneiro, com fotografias de Alderico Luchini (1966, n° 937, pp. 10-17). Esta matéria, com sua visão positiva de uma cidade cheia de opções de divertimento e cultura para mar, entre Montevidéu e Punta Del Este. Isto permite relativizar a idéia de uma preferência intrínseca pelas praias de mar. 19

quem vive nela o verão, parece ser uma antítese da matéria publicada em 1951, por Rubens Vidal, Triste Pôrto Alegre, sendo vistos de modo positivo aspectos nessa criticados, inclusive a ida aos estádios de futebol, para assistir ao clássico Gre-Nal, e às praias do Guaíba, além das opções de vida noturna. A reportagem traz uma foto de banhistas na Pedra Redonda, com a legenda seguinte: “O Rio Guaíba possui recantos de grande beleza plástica. A ‘Pedra Redonda’ é a praiazinha preferida para piqueniques”. O texto também fala sobre as praias: Pôrto Alegre é cidade sem mar, mas para consolo nosso tem-se o Rio Guaíba, que circunda a cidade, dando-lhe muita beleza e motivando toda uma série de diversões dominicais. Senão vejamos. “Quem não tem cão caça com o gato”, diz o velho ditado, e quem não tem mar, banha-se na água doce. Milhares de pessoas, nos meses quentes do verão, passam seus domingos nas praias doces que o Guaíba oferece. Estas vão desde as de precário funcionamento, no aterro da Beira-Rio, até as mais afastadas, como Pedra Redonda, uma praiazinha meio particular, mas muito bonita, própria para piqueniques. Depois vêm Assunção, Ipanema, Guarujá (os mesmos nomes das praias famosas do Rio e São Paulo). Em dezembro, janeiro e fevereiro é preciso se chegar cedo para pegar lugar, pois é enorme a multidão que lota a costa tranqüila do Rio Guaíba.

O jornal Zero Hora começou a circular em 1965. Em seus primeiros anos, ocupava um espaço bem menor do que o Correio do Povo e do que o jornal vespertino do mesmo grupo, a Folha da Tarde, e adotava uma linha editorial mais voltada para as camadas mais populares, em contraste com a maior sobriedade e postura um tanto mais elitista do Correio e do Diário de Notícias, jornal dos Diários Associados. Assim, matérias sobre as praias do Guaíba eram relativamente freqüentes nos primeiros anos da Zero Hora, geralmente com um enfoque positivo, colocando-as como uma alternativa importante para o lazer dos moradores da capital, no que não diferia das matérias da Revista do Globo, em seus últimos anos. Em novembro de 1965, com fotografias de Waldomiro Soares, a capa deste jornal apresenta, como uma das chamadas, “Pôrto Alegre em tempo de praia”, mostrando garotas mergulhando nas águas do rio (19 de novembro de 1965, capa e páginas centrais do Caderno 2). A matéria prossegue nas páginas centrais do caderno de variedades, com mais fotografias de garotas na praia de Ipanema, e o seguinte texto: Com o calor aumentando no meio da semana e a temporada de praia de mar por se iniciar em dezembro, Pôrto Alegre começou a ir à praia inclusive durante os dias de semana – como para enfrentar o sol de ontem. Enquanto a previsão para os próximos meses anuncia um verão dos mais fortes dos últimos anos a Praia de Belas já experimenta a movimentação mais comum no final de ano. Apesar disto, a maioria das piscinas de sociedades continuam a aguardar o mês de dezembro para o início da temporada. E a única solução mesmo é a praia de água doce mais refrescante.

Nos anos seguintes, do final da década de 1960 ao início da década de 1970, a maioria das matérias deste jornal sobre as praias do Guaíba, assim como as da Folha da Tarde, já abordam o problema da crescente poluição das suas águas, bem como do seu abandono pelo poder público, com o acúmulo de sujeira nos balneários e a falta de serviços como o de salva20

vidas. Mesmo assim, continua sendo veiculada pela Zero Hora, pelo menos até o ano de 1972, uma visão das praias como uma opção viva de lazer na cidade, apesar da consciência dos problemas. Esta postura pode ser vista em matérias de 1966, 1967 e mesmo desse último ano, quando a poluição das praias já era um fato percebido pela maioria da população. Em outubro de 1967, quando a poluição das praias é denunciada por um vereador da oposição, Cleon Guatimozim, a reportagem publicada pela Zero Hora, ao lado da discussão a respeito entre o parlamentar e as autoridades sanitárias, mostra a grande presença das pessoas nas praias, num fim-de-semana de muito calor na primavera, trazendo manchetes como “Praia cheia, apesar do aviso”, e, ilustrada com fotografias de garotas de biquíni, nas areias de Ipanema, com o subtítulo “Biquíni desfilou”, diz: 18 Em todas as nossas praias foi grande o número de biquínis desfilando na areia, e muitos se aventuraram a enfrentar as águas, que mais pela temperatura do que pela poluição, não estavam ainda, segundo os entendidos, no ponto. O movimento intenso em Ipanema, Belém Novo, Pedra Redonda, mostraram (sic) que a temporada de verão já foi aberta, apesar da afirmação do vereador Guatimozim, que vai necessitar de muito trabalho para convencer o pessoal de que existe poluição.

Cinco anos depois, em novembro de 1972, dentro de uma matéria mais ampla, que falava sobre o início da temporada no litoral, com seus contratempos, o jornal publica um texto sobre a grande freqüência, num domingo, a Ipanema e praias vizinhas, apesar dos grandes engarrafamentos no caminho para as praias e da poluição das águas: As águas poluídas do Guaíba não inspiram coragem para o banho a ninguém, com exceção das crianças, é claro. A maioria ficou na areia, tomando seu banho de sol ou jogando bola e frescobol.

A reportagem traz, também, um aspecto bastante curioso, tratando-se da ainda conservadora Porto Alegre, 19 mesmo em plena época de revolução de costumes e liberação sexual e feminina: a expectativa (frustrada) do uso do “top less”. 20 Outras matérias também poderiam ser citadas, mostrando a presença das praias do Guaíba como um aspecto vivo da cidade na passagem dos anos 1960 para os 1970, refletido nas páginas da Zero Hora.

Zero Hora. Porto Alegre: 9 de outubro de 1967, p. 7. Na contracapa, o jornal traz a seguinte manchete: “As praias estão cheias. Perigo não assustou banhistas”. O Correio do Povo do mesmo período não abordou nada sobre este assunto. 19 Em pleno final da década de 1960, o uso de biquínis era reprimido nas piscinas dos clubes de Porto Alegre. De acordo com matéria da Zero Hora, “a maioria dos clubes de Porto Alegre firmou um acordo, proibindo em suas piscinas o uso do biquíni (no Teresópolis Tênis Clube chegou a ser proibido o uso do duas-peças)”. SAUL JR., Coluna ZH nos Clubes, 6 de janeiro de 1967, p. 19. 20 Zero Hora. Porto Alegre, 27 de novembro de 1972, pp. 2-3. Diz o texto: Uma decepção aqui: não se encontrou “top less” nem nas pedras do Espírito Santo. [...] Até agora, nenhuma garota teve a coragem de usar o “top less”. Muitos dos freqüentadores habituais das praias do Guaíba trocaram a badalação de Ipanema pela esperança de encontrar alguma jovem mais atrevida nas tranqüilas pedras do Espírito Santo, Guarujá e Serraria. Mas nem lá apareceu o tão aguardado maiô de uma peça só. Para consolo de todos, timidamente surgiram algumas tangas (maiô cavado) mostrando um pouco mais do que os tradicionais e superados biquínis. 18

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Mas a consulta aos jornais desta época parece indicar que a poluição das águas do Guaíba não foi sentida como uma grande perda para os porto-alegrenses. A degradação do rio foi motivo de algumas matérias isoladas, mas não de editoriais, e a atitude das autoridades no período resumiu-se, em essência, à divulgação das condições impróprias de banho através da colocação de placas informativas nas praias, “com finalidades educativas, e não punitivas” (estas placas estão presentes até hoje, passados quase quarenta anos, embora alguns “recalcitrantes” ainda teimem em desrespeitá-las). Isto é mostrado numa matéria da Zero Hora, de novembro de 1973, na qual pode ser vista, além desta atitude do governo, uma postura, no mínimo, resignada deste órgão da imprensa local, pois a divulgação da situação calamitosa das praias da capital não é acompanhada de qualquer manifestação de protesto ou cobrança, na própria reportagem ou em editoriais do período. 21 Este passeio ao imaginário e à representação das praias de Porto Alegre no seu período de maior uso, dos anos 1940 ao início dos 1970, pode ser concluído com uma rápida menção às reportagens cinematográficas e aos cartões postais. Há pelo menos uma reportagem da produtora Leopoldis-Som mostrando banhistas numa praia de Porto Alegre nos anos 1940. Não foi possível acessar a sua narrativa original, substituída por uma mais recente, de um programa da RBS-TV, que fala em “época romântica de Porto Alegre”, mas a simples existência deste documentário já dá uma boa indicação da presença do tema das praias na mídia da época.22 Os cartões postais de Porto Alegre neste período estão no acervo da Fototeca Sioma Breitman, do Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo. Neste conjunto, não há nenhum postal mostrando as praias do Guaíba, e a paisagem urbana só mostra o rio junto ao cais do porto, com o centro da cidade visto pelo lado norte, ou, em muito menor quantidade, visto pelo lado sul, a partir da enseada da Praia de Belas. Manteve-se, assim, a tendência já observada nas décadas anteriores, com as praias desconsideradas como parte da paisagem urbana. Uma possível explicação para esta “invisibilidade” das praias se encontra no fato de que, ainda nos dias de hoje, toda a região da zona sul, na orla do rio, a partir da Vila Assunção, quando vista ou fotografada em ângulos panorâmicos, ainda se mostra como uma área quase natural, destacando-se muito mais o verde das árvores do que as construções. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Banho no Guaíba pode dar hepatite infecciosa. In: Zero Hora. Porto Alegre, 20 de novembro de 1973, capa e p. 11. Na capa, emblematicamente, a chamada para esta matéria vem junto de outra, com muito maior destaque, que fala sobre o início da cobrança de pedágio na recém inaugurada freeway, estrada ligando a capital às praias do litoral norte. 22 Trata-se de um pequeno trecho, de cerca de dois minutos, cedido pela RBS-TV, e que foi exibido no Programa “Teledomingo”. 22

O trabalho de pesquisa mostrou a existência de uma intensa sociabilidade envolvendo o uso das praias pelos moradores de Porto Alegre no período estudado. Esta convivência envolvia pessoas das classes médias e das classes mais populares, e só foi interrompida devido ao processo de degradação das águas do Guaíba que intensificou a poluição das praias, tornando-as impróprias para o banho, de modo permanente, na passagem da década de 1960 para a de 1970, embora o acesso mais rápido às praias do litoral norte, a partir de 1973, com a freeway, também possa ter contribuído para o abandono das praias do rio. Por outro lado, no entanto, o trabalho também mostrou que esta sociabilidade não se refletia de um modo tão intenso na produção cultural do período sobre a cidade. Nas matérias da Revista do Globo, é possível resgatar a representação das vivências dos porto-alegrenses nas praias do rio, desde os anos 1920 e 1930, o período anterior à sua urbanização e popularização, até a época de sua maior freqüência, nos anos 1950 e 1960. Especialmente nesse último período, estas matérias oscilavam entre uma visão das praias apenas como a opção possível dos moradores da cidade para fugir do calor, pois o acesso às praias de mar era muito difícil, e uma outra visão, mais favorável, com o elogio à beleza e tranqüilidade de suas paisagens – visão esta que parecia predominar nos últimos anos da Revista, de 1965 a 1967. A revista também publicou várias reportagens sobre as praias do litoral gaúcho e do vizinho Uruguai e sobre as atividades sociais e esportivas da elite porto-alegrense na orla e nas águas do rio, cuja leitura permite ver a existência de uma clara hierarquia na relação entre o rio (como praia popular e como local de lazer mais exclusivo) e o mar, nas representações das elites culturais e sociais porto-alegrenses e gaúchas ao longo de todo o período. Na Zero Hora do período entre 1965 e 1972, talvez em função de sua proposta editorial na época, que visava atingir a um público leitor mais amplo, as praias eram retratadas sob um ângulo mais positivo, merecendo, inclusive, reportagens de capa. Mesmo neste jornal, no entanto, as referências às praias do Guaíba eram sempre acompanhadas de alusões às praias do litoral e, mesmo, às piscinas dos clubes da capital – as praias do rio eram uma boa opção em dias quentes fora da temporada de verão. E as praias foram mantidas fora da representação visual do urbano de Porto Alegre, o que é fortemente indicado por sua ausência nos cartões postais da cidade, ao longo de todo o período (assim como no período anterior, dos anos 1920 e 1930). Estes dois fatos, retirados das fontes acessadas e vistos em complemento às demais matérias, levam à constatação de que as praias do Guaíba, embora sendo um espaço social com um vivo uso concreto, possuíam uma baixa correspondência no imaginário da sociedade porto-alegrense, apresentando-se como o que poderia ser chamado de um não-espaço (ou um 23

não-lugar), de uso apenas circunstancial, em substituição a outro – que talvez também não fosse o litoral marítimo do estado, mas o Rio de Janeiro ou Punta Del Este. Esta percepção das praias do rio como um não-lugar parece ser confirmada, também, pela sua ausência em manifestações como a literatura (há exceções, mas fora do período do recorte) e a música popular. A visão de uma época da vida de Porto Alegre em que as praias eram um local de sociabilidade ao alcance de seus moradores pode contribuir para uma reflexão. A preservação da natureza é um valor pouco respeitado na nossa sociedade, sendo constantemente subordinada a interesses econômicos particularistas. Não busca trazer, contudo, uma visão saudosista do passado, com o conformismo que dela advém, mas a crença na real possibilidade de mudança. FONTES Jornais de Porto Alegre Correio do Povo – a partir de 1950; Folha da Tarde – no período de 1965 a 1973; Zero Hora – a partir de 1965. A pesquisa nestes jornais foi realizada no Setor de Imprensa do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa e no Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Velhinho. Revistas Revista do Globo, Porto Alegre – todo o período de sua publicação (1929 a 1967). A consulta aos exemplares digitalizados deste periódico foi feito através da página virtual do Laboratório de Acervos Digitais do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (IPCT / PUCRS), http://www.ipct.pucrs.br/letras/index_allglobo.shtml, acessada no período de março a outubro de 2007. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, Kleber Borges de. O rio que não é rio. Porto Alegre: Oficinas Gráficas da Livraria do Globo, 1960. CARVALHAL, Tania Franco, TIMM, Edgar (fotografias) e TIMM, Liana (ilustrações). Crônica de um rio. Porto Alegre: Riocell, 1987. CENTRO DE PESQUISA HISTÓRICA / Coordenação de Memória Cultural / Secretaria Municipal de Cultura / Prefeitura Municipal de Porto Alegre. História dos bairros de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura Municipal de Porto Alegre, (http://www.lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/observatorio/usu_doc/historia_dos_bair ros_de_porto_alegre.pdf, acessado em abril de 2007). CORBIN, Alain. Le Territoire du Vide – L´Occident et le désir du rivage (1750-1840). Paris: Flammarion, 1988. FERNANDES, Ulisses da Silva. A natureza de Copacabana. In: http://igeo.uerj.br/VICBG2004/Eixol/el%20250%20b.htm, acessado em março de 2007). 24

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