PÓS-COLONIALISMO, GLOBALIZAÇÃO - CULTURAS E DESENVOLVIMENTO EM QUESTÃO - H L L de Oliveira - R H Seidel (Org.).pdf

May 23, 2017 | Autor: Roberto H. Seidel | Categoria: Canadian Studies, Comparative Literature, Canadian Literature
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PÓS-COLONIALISMO, GLOBALIZAÇÃO: CULTURAS E DESENVOLVIMENTO EM QUESTÃO

PÓS-COLONIALISMO, GLOBALIZAÇÃO: CULTURAS E DESENVOLVIMENTO EM QUESTÃO

Humberto Luiz Lima de Oliveira Roberto Henrique Seidel (Organizadores)

Núcleo de Estudos Canadenses – NEC/UEFS Feira de Santana, 2008

Copyright © Núcleo de Estudos Canadenses – NEC/UEFS Ilustração da Capa: Geovanio Silva do Nascimento Normalização e editoração: Roberto Henrique Seidel Revisão: Humberto Luiz Lima de Oliveira Universidade Estadual de Feira de Santana Reitor: José Carlos Barreto de Santana Vice-Reitor: Washington Almeida Moura Depatamento de Letras e Artes Diretor: Cláudio Cledson Novaes Vice-Diretora: Ana Cláudia da Costa Dória Núcleo de Estudos Canadenses – NEC/UEFS Coordenador: Roberto Henrique Seidel Vice-Coordenador: Washington de J. S. da F. Rocha Centro de Estudos Francófonos – CEF/UEFS Coordenador: Mahomed Bamba Vice-Coordenador: Cláudio Cledson Novaes Associação Brasileira de Estudos Canadenses – ABECAN Presidente: Rosa Berardo (UFG) Vice-Presidente: Dilma Mello (UFU)

Comitê Científico do V e VI Seminários Brasil-Canadá de Estudos Comparados: Celeste Maria Pacheco de Andrade (UEFS/UNEB) Celina de Araújo Scheinowitz (UEFS) Cláudio Cledson Novaes (UEFS) Christine Jacquet (UFS) Edson Miranda dos Santos (UNEB) Humberto Luiz Lima de Oliveira (UEFS) Marcos Silva (UFS) Maria Lina Menezes Maltez Garrido (UEFS) Mohamed Bamba (UEFS) Roberto Henrique Seidel (UEFS) Sèverine Arnaud (SCAC) Núcleo de Estudos Canadenses da Universidade Estadual de Feira de Santana – NEC/UEFS 44031-460 – Feira de Santana – Bahia – E-mail: [email protected] Ficha Catalográfica Biblioteca Central Julieta Carteado

P887

Pós-colonialismo, globalização: culturas e desenvolvimento em questão. Humberto Luiz Lima de Oliveira, Roberto Henrique Seidel (Organizadores). - Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana / Núcleo de Estudos Canadenses, 2008. 228 p. il. ISBN 978-85-7395-165-3 1. Literatura. 2. Literatura comparada - Brasil – Canadá. 3. Sociologia. 4. Antropologia. 5. Turismo. I. Oliveira, Humberto Luiz Lima de. II. Seidel, Roberto Henrique. CDU: 82

SUMÁRIO Apresentação Humberto Luiz Lima de Oliveira Roberto Henrique Seidel

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Vers la création d‟un nouveau partage: la Francophonie aujourd‟hui Véronique Dahlet

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Montreal: a cidade-texto e o texto-cidade em Les aurores montréales, de Monique Proulx Maria Bernadette Velloso Porto

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Un renouvellement de la práxis poétique québécoise par le biais de l‟oralité Danielle Forget

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Civilisation et barbarie : analyse comparative des films Cidade de Deus et Hochelaga Mathieu-Etienne Gagnon

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Deux scènes campagnardes: Rimbaud et Nelligan en parallèle Celina de Araújo Scheinowitz La justice administrative libanaise face aux enjeux de la modernité et de la citoyenneté Georges Saad La voix du Dyâli ou une introduction à la poétique de Senghor Lilian Pestre de Almeida

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O dever de memória nas literaturas e nos cinemas da África e da diáspora 131 Mahomed Bamba 7

A África de Margaret Laurence: uma leitura de This Side Jordan Miguel Nenevé

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“Vou limpar a cidade da Bahia”: racismo e perseguição policial às práticas afro-brasileiras em Tenda dos milagres 157 Josivaldo Pires de Oliveira Braconagens, noções e histórias Nubia Jacques Hanciau

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La destruction de la ville de Bucarest en Roumanie à travers Un sosie en cavale (1986) de Oana Orlea, Mort d‟un poete (1989) de Michel del Castillo et Peste à Bucarest (1989) de Tudor Eliad 181 Alain Vuillemin O global e o local na atividade turística: um desafio para as comunidades de pescadores do litoral nordestino – Brasil 189 Maria Dilma Simões Brasileiro Lamara Mirna Brasileiro de Andrade Turismo y construcción del espacio urbano Julio César Cabrera Medina

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Informações sobre os autores

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APRESENTAÇÃO O Núcleo de Estudos Canadenses e o Centro de Estudos Francófonos da Universidade Estadual de Feira de Santana realizam anualmente seminários temáticos, o que concede uma unidade à diversidade de áreas do conhecimento. De fato, o leitor encontrará nesta coletânea artigos de pesquisadores de vários campos do conhecimento: do Turismo ao Cinema, da Literatura Comparada à Sociologia, da Poesia ao Direito. São textos de investigadores que se integraram, de modo pontual alguns, ou mais duradouro outros, às atividades desenvolvidas por esses dois setores que têm por linhas de pesquisa as (re)configurações identitárias no espaço pós-colonial. Tanto em 2006, com o tema escolhido Sociedades plurais, sociedades inclusivas: cidadania, modernidade, globalização, quanto em 2007, onde a ênfase temática recaiu sobre Pós-colonialismo, globalização: culturas e desenvolvimento em questão, as discussões remetem diretamente às questões de novos reposicionamentos sobre conceitos recorrentes e que podem ser ditos com diferentes dicções segundo quem e de onde se fala, para quem e por que fala, no Brasil, no Canadá, na França, na África e em outras partes do mundo. Não podemos esquecer de onde falamos, nós os filhos mestiços dessas Américas, nascidos do violento encontro de culturas diversas e sob tecnologias desiguais. Por isso a nossa preocupação em definir previamente alguns conceitos recorrentes na contemporaneidade: alteridade, identidade, pós-colonialismo, o Outro e o Mesmo, cidadania, desenvolvimento, progresso... num mundo em acelerada transformação e sob o impulso de uma forte tentativa de homogeneização das culturas. Assim, observa-se que antigas comunidades são “convidadas” a integrar novos modos de vida, inserindo-se nos chamados processos de modernização ou ocidentalização crescente e avançada do mundo. Tomados pelo que Agnes Heller considera como a “febre de modernidade”, grupos inteiros abandonam tradições e, num território movediço, entre o deslizar e o tropeçar, tateiam novas realidades, buscam partilhar de novos valores, sonhos e projetos até então desconhecidos. 9

Analisar não apenas a passagem do comunitarismo para o individualismo, mas avaliar o drama do desenraizamento, em seu momento de aparente vácuo, de aparente ausência de significados, torna-se, ao nosso ver, uma condição decisiva para ressignificar noções e conceitos até então vistos como dicotômicos: Oriente e Ocidente, razão e emoção, local e global... Tudo isto sem negligenciar a questão dos mercados, o fluxo e o trânsito de mercadorias e idéias, grupos e indivíduos, bens e produtos, numa tentativa de recriar novas ordens, novas configurações de sociedades, não mais ligadas pela pertença, mas pela solidariedade ou por acordos demasiadamente pontuais. O caráter multidisciplinar desses textos aponta para a riqueza de eventos acadêmicos que têm encontrado o respaldo da comunidade acadêmica, como o comprovam a presença de nomes brasileiros e estrangeiros que apresentam suas leituras de um mundo em mudanças, mas cujo caos aponta não para a desordem, mas para a possibilidade de novas reconfigurações das identidades individuais e sociais, como podem ser vistos pelos textos que se seguem: – Na multiplicidade de línguas que pontilham no antigo espaço colonial, mesmo após as independências, um dos pontos de convergência e de identidade é a língua francesa utilizada pela grande maioria das elites políticas e intelectuais de antigas excolônias confrontadas ao processo de globalização. Ao se apropriarem da língua do antigo dominador, escritores, cineastas, intelectuais de modo em geral podem se fazer escutados, podem recontar a história de outro ponto de vista e exprimir toda a diversidade do mundo. Assim, para confirmarem não a homogeneização, mas sim a “diversalité”: “[...] L‟actuelle recentration sur la « diversalité » ne saurait pourtant enfermer la Francophonie sur elle-même : au-delà d‟un regroupement selon la langue, le terme suggère un rassemblement autour de valeurs de civilisation [...]”. É neste sentido que a lìngua francesa “est en voie de devenir apte à exprimer non plus l‟universalité, mais la « diversalité », ce divers cohérent et par définition solidaire dans ses parties”, como afirma Véronique 10

Dahlet em seu artigo Vers la création d‟un nouveau partage: la Francophonie aujourd‟hui. – Quando as sociedades humanas mostram sua face distópica, os seres humanos podem sofrer processos de desestruturação, até se tornarem não-humanos e de difícil representação. Na novela “Ça”, que integra o livro Les aurores montréales, da escritora quebequense Monique Proulx, a figura do mendigo “encontra-se paralisada nas malhas do olhar e do discurso de quem o vê e não o reconhece mais enquanto gente [...]”. Para melhor questionar “onde nos situamos em um mundo carente do movimento maior da generosidade e da descoberta do Outro”, Maria Bernadette Velloso Porto suplementa seu estudo com a leitura do poema “O bicho”, de nosso poeta Manuel Bandeira, ambos os textos vistos por ela como conclamações para que o leitor possa buscar e encontrar os vínculos de solidariedade e de pertença que podem evitar “dois dos riscos de nossa época: o fechamento e a fragmentação”, e que impedem de encontrar no Outro a nossa própria humanidade, ou nos levam à desumanização, ao desumanizarmos o Outro. – « À une époque de remise en cause de la modernité et ses stéréotypes, la poésie opte pour une voie / voix de plus en plus orientée vers la performance », segundo Danielle Forget, em Un renouvellement de la práxis poétique québécoise par le biais de l‟oralité. Segundo a autora, esta nova práxis poética, sem se distanciar da produção escrita, a ela integra recursos da moderna tecnologia, mas também recoloca o uso do corpo, da voz, dos gestos, da expressão corporal. Buscando oferecer condições de maior difusão da sua poesia, autores reivindicam autonomia e engajamento “d‟une prise de parole”. E ao se posicionarem frente aos auditores dos seus textos, esses poetas, seja em praça pública, seja em saraus, autores e autoras podem mostrar sua produção poética, liberando-se das amarras do restrito mercado editorial, além de propiciarem uma convivialidade aparentemente estranha no seio da metrópole, e, desta forma, reinstituem possibilidades de uma nova solidariedade no espaço urbano. 11

– O espaço urbano fraturado, distópico é também o cenário de Cidade de Deus, do brasileiro Fernando Meirelles, e de Hochalaga, do canadense Michel Jetté. Embora com diferentes perspectivas, essas narrativas fílmicas analisadas por MathieuEtienne Gagnon apresentam convergências evidentes. Cidade de Deus faz uma releitura da criminalidade e da violência recorrentes nas favelas do Rio de Janeiro, não oferecendo nenhuma perspectiva de solução dos problemas sociais. Diverso é a abordagem de Hochalaga, tendo a metrópole de Montreal como cenário da degradação não de uma coletividade, mas de indivíduos que tentam ingenuamente encontrar em grupos isolados uma forma equivocada de se sentirem “seguros e integrados” num mundo onde prevalece a indiferença. O autor nos mostra que a criminalidade e a violência que esses filmes nos apresentam são faces sombrias de uma barbárie que impregna toda uma civilização e não apenas uma dada sociedade. – Através de uma análise comparativa, Celina de Araújo Scheinowitz estuda dois poemas: “Ma Bohème (Fantaisie)”, do poeta francês Arthur Rimbaud, e “Rêve de Watteau”, do também poeta canadense-francês Émile Nelligan, em seu artigo Deux scènes campagnardes: Rimbaud et Nelligan en parallèle. Sua leitura possibilita desvelar convergências e divergências entre esses textos cujos temas são similares, mas tendo cenários e abordagens diversas. Plágio e imitação são afastados, na medida em que, para a autora, « Rimbaud parcourt, [...] un chemin thématique plus restreint car, le long du poème, il s‟attache à sa vision initiale, quoique celle-ci soit continuellement renouvelée et approfondie, tandis que le regard de Nelligan, comme s‟il provenait des hauteurs suprêmes, trace un itinéraire plus vaste, toujours en quête de nouveaux espaces [...] ». – A passagem do comunitário para o individualismo, condição para a modernização das sociedades e também fundamento da própria modernidade, é o enfoque jurídico que Georges Saad oferece ao leitor em seu trabalho La justice administrative libanaise face aux enjeux de la modernité et de la citoyenneté. À luz da sociologia, o autor analisa o drama do desenraizamento e da acessi12

bilidade à justiça, ao enfocar a questão dos refugiados palestinos no Líbano, confrontados a um aparelho judiciário subordinado aos interesses polìticos numa sociedade onde “[...] la relation citoyen-Etat, l‟allégeance aux pays étrangers, les divergences dans les positions politiques [...]” contribuiriam para a permanência do caráter dicotômico da cultura libanesa que se vê dividida entre Oriente-Ocidente, Razão-Emoção... – Analisando o poema “L‟Absente” que ela articula com o Posfácio, que integram Éthiopiques, daquele que Aimé Césaire considera o “mais francês dos africanos e o mais africano dos franceses”, Lilian Pestre de Almeida, em La voix du Dyâli ou une introduction à la poétique de Senghor afirma que « Senghor est sans doute le premier poète africain à transcender le drame du colonisé mal décolonisé, il a su trouver son équilibre entre cultures et des forces différentes, dans une synthèse harmonieuse et enrichissante », como bem ilustra este “poème narratif, poème allégorique” impregnado de uma forte oralidade e escrito por este poeta que soube integrar diferentes tradições do Ocidente e do Oriente. – Se na Europa, notadamente na França, uma minorité agissante vem tentando afastar os fantasmas de uma consciência culpada pelo que se convencionou considerar de “horrores” do processo colonial, e com isso recusariam a “inclinação natural do Ocidente ao arrependimento e à auto-flagelação [...]” no campo das chamadas “vìtimas da histñria” escritores e cineastas africanos ou da diáspora, tentam fazer a releitura da história de suas sociedades, desde a colonização, passando pelas independências até a contemporaneidade, na tentativa de resgatar “uma parte da memñria histñrica da África e dos povos negros [...]”, como mostra Mahomed Bamba, em seu artigo O dever de memória nas literaturas e nos cinemas da África e da diáspora. – A colonização européia na África é também o tema do romance This Side Jordan, escrito pela escritora canadense Margaret Laurence e recebido com reservas por parte da crítica que o consideraria “radicalmente anti-europeu” na medida em que nesta narrativa predominam personagens representativos dos 13

excluídos e marginalizados. Em A África de Margaret Laurence: uma leitura de “This Side Jordan”, Miguel Nenevé afirma que Laurence, para mostrar uma África penalizada pelo colonialismo, mas que busca a libertação, reelabora a passagem bíblica do Jordão e oferece uma leitura impregnada de esperança, numa obra que evidencia a “dicotomia entre o mundo dos colonizados e o mundos dos colonizadores”. – O racismo vulgar travestido de teoria científica alimentaria a intransigência contra a alteridade e fomentaria o etnocídio, que consiste em matar a cultura do Outro com o objetivo de torná-lo igual ao Mesmo, “livrá-lo do mal” que o impediria de ser “bom”, isto é, idêntico ou parecido ao modelo dominante. Em “Vou limpar a cidade da Bahia”: racismo e perseguição policial às práticas afro-brasileiras, em “Tenda dos Milagres”, Josivaldo Pires de Oliveira mapeia a violenta repressão da polícia baiana que Jorge Amado denunciaria em Tenda dos Milagres (1969), através de personagens instigantes, dentre elas Pedrito Gordo, delegado com pretensões intelectuais, e seu auxiliar, o capanga Inocêncio Sete Mortes, ambos se considerando numa espécie de “Cruzada” que, com o uso da força, deveria “embranquecer” a cultura baiana, apagando dela toda a riqueza cultural herdada da tradição africana. – Dentre as “estratégias de resistência ou de sobrevivência empregadas pelo sujeito (tanto em perspectiva individual quanto coletiva)” estão as “braconagens”, que se constituem “em novos modos de apropriação do lugar” e “têm por caracterìstica comum serem contra-produtivas aos olhos da autoridade estética, polìtica e econômica”, segundo Nubia Jacques Hanciau, em seu estudo Braconagens, noções e histórias, a partir da leitura crítica da narrativa Les braconniers d‟histoires / Os caçadores de história, da escritora canadense Nancy Houston, cujas personagens, “[...] embora se situem em território proibido, espoliem e usufruam desse território, desconsiderando seu caráter privativo e a exclusividade do espaço do outro [...] desenvolvem, ao mesmo 14

tempo, a estratégia da astúcia e da dissimulação, assemelhadas à arte do fingimento [...]”. – Apropriação destrutiva de espaços públicos sob o signo da brutalidade é mostrada por Alain Vuillemin cujo artigo La Destruction de la ville de Bucarest en Roumanie à travers “Une sosie en cavale” (1986) de Oana Orlea, “Mort d‟un poete” (1989) de Michel del Castillo et “Peste à Bucarest” (1989) de Tudor Eliad, enfoca o violento processo de reurbanização da cidade de Bucareste implementado pelo regime comunista liderado por Ceaucescu. Para o ensaísta, « [...] L‟éfondrement des monuments, la volonté de supprimer tout vestige du passé, d‟abolir toute trace dans la mémoire, [...] » apontaria para a « [...] l‟agonie d‟une société, la désintégration d‟une communauté avec son cortège de souffrances et de désolations qui sont évoquées [...] » nestes três romances de denúncia tendo como cenário a capital romena. – Mudanças sociais e econômicas, com fortes impactos sobre as culturas locais é o tema do artigo O global e o local na atividade turística: um desafio para as comunidades de pescadores do litoral nordestino – Brasil. Suas autoras, Maria Dilma Simões Brasileiro e Lamara Mirna Brasileiro de Andrade, buscam evidenciar a necessidade de políticas públicas capazes de oferecerem um novo paradigma sócio-econômico e cultural, na medida em que busquem valorizar as comunidades locais ao tempo em que possibilitem o aumento da renda através do desenvolvimento do turismo, pois “[...] essas sociedades já não possuem o paradigma da industrialização como base para o desenvolvimento econômico e para a construção das relações culturais, políticas e sociais [...]” exigindo, portanto, por sua complexidade, que as tensões geradas sejam devidamente analisadas. – Em Turismo y construcción del espacio urbano, a partir da análise de experiências implementadas tanto na Espanha quanto no Brasil, na área do turismo, Julio César Cabrera Medina mostra-nos como a geração de conflitos pode predominar quando as políticas públicas operacionalizadas não consideram e não respeitam as populações autóctones. A ausência da mediação ofere15

ceria como conseqüência “[...] una importante cantidad de „efectos no deseados‟ que alimentan las relaciones de „conflitividad‟ y „cooperación‟ y el carácter „reflexivo‟ de la sociedad objeto de estudio, en su intento de definir el espacio „abstracto‟ y su consiguiente construcción del espacio „concreto‟”. A publicação destes textos visa difundir, em caráter mais abrangente o debate de idéias, conceitos e noções que são recorrentes na contemporaneidade, e, assim, oferece-se a oportunidade de (re)pensar projetos individuais e coletivos, evidenciando os pontos de articulação aparentemente invisíveis que regem as relações entre os homens, as sociedades, as nações... e tendo por fios condutores tanto os estudos francófonos quanto os estudos relacionados ao Canadá. Por fim, queremos registrar nossos mais sinceros agradecimentos não apenas à própria UEFS, por envidar os recursos necessários, mas também ao SCAC – Serviço de Apoio Cultural/Embaixada da França, à ABECAN – Associação Brasileira de Estudos Canadenses, à RELEC – Red Latinoamericana de Estudios Canadienses, e sobretudo às pessoas dos amigos Biringanine Ndagano (AUG), Celina de Araújo Scheinowitz (UEFS), Christine Jacquet (UFS), Denise Lavallée (UNEB), Danielle Forget (Université d‟Ottawa), Edson Miranda dos Santos (UNEB), Georges Saad (Université Libanaise), Maria Bernadette Velloso Porto (UFF), Miguel Nenevé (UNIR), Núbia Hanciau (FURG), Rita Suzarte (NEC-UEFS), Sèverine Arnaud (SCAC) e dos estudantes bolsistas e voluntários do NEC/UEFS: Ana Paula Santos, Angelo Ricell, André Vilas Boas, Claudia de Jesus, Cliver Dias, Dayane Paim, Deusa Santana, Edney Torres, Edson Jacobina, Elane Nery, Fannie Sampaio, Fernanda Regina, Geisa Freitas, Geovanio Nascimento, Ivana Oliveira, Janaína Dias, Jocenilson Ribeiro, Joylma Barbosa, Layanna Araújo, Lorena Dantas, Luana Reis, Márcio Santana, Palloma Silva, Paula Nagle, Reinaldo Venas, Rogério Silva, Shirley Tiara, dentre outros parceiros valiosos e de cuja colaboração dependeram tanto a realização dos seminários acadêmicos quanto a presente publicação. Humberto Luiz Lima de Oliveira Roberto Henrique Seidel 16

VERS LA CREATION D’UN NOUVEAU PARTAGE: LA FRANCOPHONIE AUJOURD’HUI Véronique Dahlet (USP) La notion de Francophonie implique, par définition, la coprésence de langues en contact. Or, les situations de bilinguisme ou de plurilinguisme sont une constante dans l‟histoire de l‟humanité. L‟histoire des langues en contact remonte à celle des routes du commerce, de l‟échange de marchandises ; elle se tisse également au gré de la circulation des savoirs (par la traduction notamment). Mais elle est aussi faite, jusqu‟à un passé récent, des vagues de colonisation et, jusqu‟à aujourd‟hui encore, des mouvements de migrations (volontaires ou forcés). Si donc les situations de langues en contact ont toujours existé, il s‟agit de voir les raisons pour lesquelles le concept de francophonie est devenu, en l‟espace de trente ans à peine, à la fois un étendard, une réalité institutionnelle, et, on va le voir, un moteur de changement d‟équilibres parce que ces équilibres sont ressentis comme excluants et désintégrateurs. Toute situation de langues en contact comporte une relation de pouvoir, qui est avant tout une résultante historique et politique, et qui se traduit sur plusieurs plans. Sur le plan économique, il s‟agit de savoir quelle langue domine l‟autre du fait précisément qu‟elle est langue de domination économique ; au niveau de la production culturelle, les industries de la culture ayant tendance à donnner le même traitement aux produits culturels qu‟aux produits commerciaux, il vaut la peine de rappeler que la langue dans laquelle je consomme, par exemple, un film, est aussi la langue qui m‟imprègne de sa vision du monde. Sur le plan symbolique enfin, il s‟agit de savoir quelle langue est-ce que je peux parler, dans quelle langue est-ce que je voudrais parler et dans quelle langue on parle de moi. Pour tenter de mieux comprendre les mutations et les enjeux de la Francophonie aujourd‟hui, il est préférable de la penser non pas seulement à partir des textes officiels qui en ponctuent le parcours, mais aussi, par-delà la mondialisation, à la lumière des situations 17

concrètes résultant des langues et cultures en contact. C‟est sous ce double éclairage que l‟on verra que la Francophonie cherche à se donner d‟autres marques, sous peine, semble-t-il, de perdre de sa cohérence et de son efficacité. 1 NAISSANCE PARADOXALE DE LA FRANCOPHONIE La Francophonie est à la fois multiple et paradoxale. Multiple, parce que plusieurs francophonies coexistent. Du point de vue géographique, il y a une francophonie européenne (la Belgique, le Luxembourg, la Suisse, l‟Italie : le Val d‟Aoste) et une francophonie éparpillée sur les autres continents (CALVET parle respectivement de « francophonie continue » et de « francophonie fragmentée »,1999. J‟ajouterai aussi, toujours du point de vue géographique, la « francophonie hexagonale », c‟est à dire celle qui implique non seulement les langues régionales (alsacien, breton, corse, catalan, etc.) mais aussi les populations immigrées qui se sont installées en France, notamment après la 2e moitié du XXe siècle, et pour lesquelles le français est devenu la langue de travail, mais non nécessairement langue parlée en famille. Du point de vue politique et économique se dessinent deux mouvements fondateurs de la francophonie hors de l‟Europe : a) le premier mouvement résulte de la colonisation, c‟est-à-dire de l‟expansion du pouvoir de l‟Etat hors de ses frontières. Par nature, il s‟agit là d‟une opération agressive, belliqueuse, qui a créé d‟emblée une relation de pouvoir et d‟écrasement entre le colonisateur français et les gouvernements et populations colonisées. Sont essentiellement concernés par la première vague colonisatrice (du XVIe siècle au XIXe siècle) le bassin caribéen et le continent africain sub-saharien. La seconde vague de colonisation (milieu du XIXe siècle – milieu du XXe siècle) concerne l‟Asie : Vietnam, Cambodge et Laos ; b) l‟autre mouvement de la francophonie hors-Europe résulte de la colonisation suivie d‟une immigration de français aux effectifs 18

plus ou moins importants dans les pays concernés. Il s‟agit singulièrement, en Amérique du Nord, du Canada, où l‟émigration au début du XVIIe siècle allait fonder « la Nouvelle France » (aujourd‟hui, la Province de Québec, qui compte 7 millions d‟habitants dont 82% de francophones), de l‟Ontario, avec un peu plus de 550 mille francophones (immigration entre 1830 et 1920), et de la Louisiane (vendue dès 1803 par Bonaparte aux Américains). En Afrique du Nord, la colonisation commence au XIXe siècle et entraîne une immigration particulièrement importante (près d‟un million de Français s‟installent en Algérie) ; c) enfin, il y a la Francophonie qu‟on pourrait appeler « convergente ». C‟est la Francophonie d‟aujourd‟hui, celle qui émerge à partir des années 70-80 du XXe siècle. Fondée sur des assises institutionnelle, économique, scientifique et interculturelle, elle cherche à renforcer la coopération dans l‟ensemble de ces domaines, selon une logique mutilatérale et non plus franco-centrée (le glissement de la notion du français en commun à celle du français en partage est à ce titre significatif). Multiple, donc, la francophonie est aussi paradoxale : alors qu‟elle est née de la colonisation, elle s‟est néanmoins légitimée en s‟appuyant sur le prestige de la Déclaration Universelle des Droits de l‟Homme (rédigée en français au moment de la Révolution de 1789), ainsi que sur les principes de la philosophie des Lumières (suprématie de la Raison sur la Tyrannie), deux courants de pensée fondés sur l‟égalité. Or, le principe d‟égalité, comme le note Todorov, a dérivé vers une tyrannie de l‟égalité (2002, p. 190) : entraîne subrepticement avec lui une hypothèse anthropologique, celle de l‟identité, qui à son tour se traduit souvent par une politique d‟assimilation. C‟est un peu l‟histoire de la colonisation française, faite au nom de l‟idéal des Lumières. Condorcet [philosophe et mathématicien, XVIIIe.s], précurseur en la matière, disait : tous les hommes ont les mêmes droits, y compris celui d‟être civilisés ; or, les Français et les Anglais sont les peuples les plus civilisés de la Terre, ils ont donc le droit, et même le devoir,

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d‟apporter la civilisation aux sauvages (un devoir d‟ingérence). Si ceux-ci persistent dans leur ignorance, on doit les améliorer par la force. « Les populations européennes, écrivait-il, doivent civiliser ou faire disparaître les nations sauvages»1.

La Francophonie est encore paradoxale du fait qu‟elle est faite d‟un double mouvement, mais inverse. Le premier mouvement correspond aux deux périodes de la colonisation française et répond à la volonté politique et économique d‟étendre le pouvoir de la France sur d‟autres espaces géographiques, politiques et humains. Rappelons qu‟en 1939, l‟empire colonial français est le deuxième plus important au monde, après celui de l‟Angleterre. Il s‟agit donc d‟un mouvement centrifuge, dont le point de départ est l‟Hexagone, et qui s‟étend en étoile, à travers les continents. En revanche, le second mouvement, centripète, qui caractérise la francophonie « convergente », se situe après la période de décolonisation et est impulsée par les pays qui ont retrouvé leur indépendance. Je la qualifie de convergente pour trois raisons : a) plusieurs gouvernements ont pris l‟initiative de créer la francophonie; b) cette demande de francophonie s‟est faite avec un partenaire et un médiateur privilégiés : la France; c) tous les pays ayant en partage le français nourrissent globalement les mêmes ambitions, unissent leurs efforts autour des mêmes objectifs, et cela, dans le souci d‟intégration de réalités socio-politiques, économiques et culturelles extrêmement diverses. Or, quand on observe les composantes conflictuelles sinon belliqueuses2 de la francophonie de la colonisation, et celles inaugurées à 1 2

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Autrement dit, le XVIIIe siècle est passé du paradigme de l‟évangélisation à celui des Lumières. On se souvient de la guerre d‟Indochine, qui a duré 7 ans et 7 mois (de 1946 à 1954), puis de la guerre d‟Algérie, longue de 7 ans également (de 1954 à 1962).

partir des années 1970/1980 qui construisent jusqu‟à aujourd‟hui une francophonie de la convergence, on ne peut qu‟être surpris par la fulgurance avec laquelle s‟est produit ce changement de cap : quelque 30 ans à peine ont suffi à donner à cette troisième Francophonie convergente une constitution, des institutions, ainsi que des opérateurs. Mais avant de voir plus avant sa configuration institutionnelle, il est intéressant d‟observer quels ont été les déclencheurs de cette transformation radicale. 2 LES DECLENCHEURS DE LA TROISIEME FRANCOPHONIE On peut, me semble-t-il, identifier trois déclencheurs principalement, qui tous trois trouvent dans la 2e Guerre mondiale, bien qu‟à des degrés divers, leur condition d‟émergence. 2.1 Le premier déclencheur renvoie à la grande vague de décolonisation, qui s‟étend sur une vingtaine d‟années, dont les prémisses se sont manifestées, pour ainsi dire, à la faveur de la Seconde Guerre Mondiale. Ainsi, dès 1936, encouragés par l‟accès au pouvoir du Front Populaire, le Liban et la Syrie demandent leur indépendance à la France; en 1944, c‟est au tour de la Tunisie tandis que dans la même année, le Protectorat prend fin au Maroc. En 1946, le Viêtnam se déclare indépendant, ce qui déclenchera la guerre d‟Indochine. Madagascar a dû aller à la révolte pour obtenir son indépendance en 1947. Enfin, tandis que l‟Algérie a dû se lancer dans une longue guerre, les pays d‟Afrique sub-saharienne avaient déjà obtenu l‟indépendance, de manière pacifique. La décolonisation a redistribué les cartes linguistiques, et ceci donc, au sein même des nouveaux Etats souverains. Il n‟est évidemment pas possible ici d‟analyser ces redistributions au cas par cas. Mais, tout en rappelant que la France coloniale (du XIXe et XXe siècles notamment) a systématiquement imposé la langue française, non seulement dans l‟ensemble de ses administrations outre-mer mais aussi dans les écoles, qui fonctionnaient à l‟image des écoles françaises, on distinguera quatre modalités qui tiennent compte à la fois des situations 21

linguistiques locales d‟avant la colonisation et des contextes géopolitiques3 : – sur le continent africain, une ligne de partage très nette sépare l‟Afrique subsaharienne du Maghreb. En effet, l‟Afrique subsaharienne compte un nombre particulièrement élevé de langues locales (dont certaines sont en rivalité frontale) de sorte que les pays anciennement colonisés n‟ont guère eu le choix quand ils ont maintenu le français comme langue officielle (ou parfois co-officielle), car il s‟agissait d‟éviter des tensions, voire des affrontements, pour des questions de pouvoir qui transitent par le degré de représentativité des langues, elles-mêmes identifiées et assimilées à des groupes ethniques. Il est maintenant bien connu, le phénomène selon lequel (MARTINET, 2006, p. 202). La langue de l‟ancienne puissance colonisatrice a d‟autant plus de chance de s‟imposer finalement à l‟ensemble de la population que celle-ci est linguistiquement moins homogène.

Le Maghreb (Tunisie, Algérie, Maroc), beaucoup plus homogène d‟une part et de colonisation ou tutelle récentes (2e empire colonial, XIXe – XXe siècles), s‟est engagé sur la voie de l‟arabisation. – du côté asiatique, le français a fortement décliné devant l‟anglais. – Le français en Amérique du Nord est assez faiblement représenté en Louisiane, mais il reste très actif dans la Province du Québec. Ce phénomène se comprend du fait d‟une immigration française assez importante au Canada, ainsi que par la construction politique de la Fédération qui historiquement témoigne d‟une vigilance incessante de la communauté francophone à l‟égard des risques d‟affaiblissement face à l‟anglo-américain.

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Pour une synthèse complète des français hors de France, joliment appelés par l‟auteure « les français du monde », cf. Mireille HUCHON, Histoire de la langue française, 2002, chapitre 8. Je m‟appuie sur quelques-unes des indications données dans cet ouvrage.

– La Réunion, La Martinique, la Guadeloupe et la Guyane, devenues départements d‟outre-mer, ont été intégrées à la France et de ce fait ont le français comme langue officielle. Quant aux langues polynésiennes et malésiennes correspondant aux Territoires français dans le Pacifique (Tahiti et Polynésie française, Nouvelle-Calédonie, Wallis et Futuna), elles restent langues vernaculaires, fortement prégnantes du fait d‟êtr edes labgues insulaires. Le second déclencheur qui a précipité le passage à la Francophonie d‟aujourd‟hui, renvoie au fait que la langue française a perdu son statut de langue diplomatique, au profit de l‟anglais qui s‟impose rapidement un peu partout dans le monde, sous l‟effet d‟une économie forte (l‟Europe est ruinée après la 2e guerre mondiale) et d‟une politique active, systématique et très lucide d‟expansion linguistique. 2.3 Enfin, le troisième déclencheur concerne la construction de l‟Europe elle-même. L‟Europe, marquée par de longs siècles d‟hostilités, de concurrence économique et politique exacerbée sur le continent lui-même comme au-delà, constitue une mosaïque de langues-cultures fortement enracinées et démarquées. On comprend pourquoi il s‟agit là d‟une construction qui ne va pas sans heurts ni sans grincements, mais elle poursuit son projet qui consiste à apprendre à négocier les intérêts propres en tenant compte de ceux des autres, à apprendre à articuler les différences, à échanger, se parler et s‟entendre dans le concert des 24 langues officiellement reconnues4. Bref, l‟Europe constitue pour la Francophonie un laboratoire de première importance, et réciproquement. De fait, ne peut-on voir des similarités dans les projets et ambitions respectives ? Ainsi par exemple, la devise européenne : « Unie dans la diversité » officialisée en 2004 et mentionnée dans le Traité établissant une Constitution pour l‟Europe, traduit 4

Cette année (2007), 3 langues se sont ajoutées aux 21 langues officiellement reconnues depuis 2004 : le roumain, le bulgare et la langue gaélique d‟Irlande (l‟irlandais).

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l‟effort de transformer en atout les différentes cultures et langues européennes. Poser l‟union dans la diversité, c‟est se défaire d‟une culture vieille de quatre siècles, conceptualisée puis reformulée au fil du temps par les philosophes du Droit, et qui voulait que ce qui n‟est pas à ma ressemblance constitue de fait une menace, en d‟autres termes, ce qui n‟est pas ma nation m‟est étranger et par définition hostile. C‟est, rappelons-le, en vertu de cet axiome que se sont construites les idées de Nation, de langue (unique), et de Défense, à l‟aide de l‟équation : UN Pays = UNE Langue = UNE Armée. En effet, un pays suppose des frontières, tandis qu‟une langue, pour devenir langue « nationale », s‟est toujours définie en terme de frontières et s‟est prévalue de son armée (militaire puis économique), quand le pays en question le considérait nécessaire. Or, qu‟est-ce que réalise l‟Europe d‟aujourd‟hui? Par-delà les frontières nationales, elle travaille à rendre effectifs la reconnaissance et le respect des languescultures en présence, et incite à la formation plurilingue5. C‟est donc par le biais de ces deux données (concevoir le différent – l‟étranger – comme complémentaire et se défaire de l‟association UN Pays = UNE Langue) que l‟on peut voir ce qui fait lien entre la construction de l‟Europe et la Francophonie6.

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Un exemple de bonne entente des langues (dans les deux sens du terme) : les Députés Européens s‟expriment et se répondent chacun dans leur langue, et leurs homologues sont censés pouvoir les comprendre. Une première langue étrangère a été introduite dès l‟enseignement primaire. Le programme d‟échange ERASMUS encourage les étudiants à passer au moins 6 mois au cours de leurs études dans un pays de la Communauté, faisant de la langue choisie non seulement un instrument véhiculaire, mais un instrument d‟apprentissage culturel et de convivialité quotidienne. C‟est donc essentiellement sur le terrain de la philosophie du Droit qu‟on peut percevoir des changements importants qui redéterminent aujourd‟hui la politique de plusieurs Etats.

3 CONFIGURATIONS DE LA FRANCOPHONIE On sait que le mot de Francophonie est apparu au XIXe siècle, sous la plume du géographe Onésime Reclus, quand est publié son live intitulé France, Algérie et colonies (1880). La francophonie renvoie à la fois aux espaces où on parle français et aux communautés qui parlent le français. Le terme a été repris en 1962 par Léopold Senghor, poète et homme politique7, c‟est-à-dire au moment où la Francophonie commence à prendre forme du point de vue notionnel et institutionnel8. 3.1 Ses composantes institutionnelles Je citerai rapidement les cinq plus hautes institutions de la Francophonie d‟aujourd‟hui, qui sont l‟aboutissement de 40 ans de réflexion-action intergouvernementale, ainsi que les opérateurs directs officiellement reconnus9 : – la Conférence des chefs d‟État et de gouvernement des pays ayant le français en partage (Sommet) ; – la Conférence Ministérielle de la Francophonie (CMF) ; – le Conseil permanent de la Francophonie (CPF) ; – le Secrétariat général de la Francophonie ; – l‟Organisation Internationale de la Francophonie (OIF).

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Rappelons que Léopold Senghor est Président du Sénégal de 1962 à 1980. Il est d‟usage de distinguer la francophonie (avec f minuscule) pour référer aux locuteurs francophones, de la Francophonie (avec F majuscule) pour référer aux gouvernements et instances officielles. Source : www.francophonie.org. – La période des quatre décennies évoquées débute avec la création à Montréal de l‟AUPELF (Association des universités partiellement ou entièrement de langue française), en 1961, et s‟achève en 1997, avec création de l‟OIF (Organisation Internationale de la Francophonie), fondée sur le partage de la langue française et de valeurs communes.

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Quant aux opérateurs, il s‟agit de : – l‟Agence universitaire de la Francophonie (AUF). Depuis 1989, l‟Agence est l‟opérateur direct de la Francophonie pour l‟enseignement supérieur et la recherche10 ; – TV5. La télévision internationale francophone touche près de 60 millions de téléspectateurs); – l‟Association Internationale des Maires Francophones. L‟AIMF, qui compte aujourd‟hui 166 villes de 46 pays, a été créée en 1979 ; – et l‟Université Senghor d‟Alexandrie, créée en 1990. Le projet de création d‟une université francophone au service du développement africain date de 1989, quand il a été présenté et adopté au Sommet des Chefs d‟Etat et de Gouvernement des pays ayant le français en partage, à Dakar11. 3.2 Le français et les autres langues du monde Avant d‟aller plus avant, il vaut la peine de rappeler quelques chiffres qui permettront de situer le français parmi les autres langues du monde (HUCHON, 2002, p. 281-2 ; www.auf.org) :

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Et j‟en profite ici pour saluer l‟entrée récente de 2 universités brésiliennes : l‟Université d‟État de Feira de Santana et l‟Université Fédérale du Parana à Curitiba. Il faut bien reconnaître que dans l‟émergence de la Francophonie et dans une partie non négligeable de son développement, la France est restée en marge, se limitant à un rôle mineur, davantage spectatrice qu‟actrice des événements dont il était sans doute difficile de prévoir l‟ampleur considérable dans les années qui allaient suivre. En effet, c‟est d‟abord le Canada qui initie la dynamique avec la création de l‟AUPELF en 1961, devenue AUF, visant la construction et la consolidation d‟un espace scientifique en français, ainsi que la mise en application de programmes de coopérations et de fonds pour la recherche. Ce sont ensuite, en 1970, les 3 pays africains fondateurs de l‟ACCT (Agence de Coopération Culturelle et Technique), qui donnent une impulsion politique et culturelle à la Francophonie.

– La communauté francophone compte près de 110 millions de personnes, si on compte les francophones langue première, langue seconde, ou langue étrangère (réseau d‟enseignants/ apprenants). Mais les recensements sont peu fiables: ils vont du simple (110 millions) au double (près de 200 millions)12. Il est vrai que les critères retenus sont extrêmement variés (ROBILLARD, 2000, p. 79-80): par-delà les locuteurs ayant le français comme langue première, on distingue l‟utilisateur actif (celui qui vit en français et celui qui travaille en français), et l‟utilisateur passif (celui qui comprend et lit le français, mais ne produit pas d‟énoncés). En outre, les divers recensements ne prennent pas en compte le phénomène, lent, de l‟oubli, car dans le même temps qu‟il y a un flux de locuteurs entrant dans la communauté francophone, existe un flux qui imperceptiblement en sort (pensons aux francophones établis depuis des décennies dans un pays d‟acceuil, et dont une partie parle une sorte de pidgin) ; – le français ne compte pas parmi les 5 langues les plus parlées au monde, qui sont respectivement : le chinois, l‟anglais, l‟hindi, l‟espagnol et le russe; – le français est en revanche en 2e position comme langue internationale, après l‟anglais. Elle est également en 2e position comme langue enseignée ; – à l‟ONU, le français est avec l‟anglais la langue de travail. Il compte aussi comme langue officielle à côté du chinois, de l‟anglais, de l‟espagnol, du russe et de l‟arabe. Enoncer les insitutions et les chiffres ne saurait faire oublier la dynamique qui les sous-tend et qui encourage la prise d‟initiatives politiques, elles-mêmes fondées sur des aspirations, une certaine éthique, sur la volonté, enfin, de reconquérir une emprise sur le cours du monde, emprise trop longtemps laissée dans les seules mains de quelques décideurs de la mondialisation. 12

Cf. par exemple Calvet (1999, p. 263) et Huchon (2002, p. 281-282).

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4 LA RECONNAISSANCE DE LA DIVERSITE Joindre le disctinct, éthique de la reliance (E. Morin).

La communauté francophone est donc, dès le début de son histoire, une communauté composite, éparpillée aux quatre coins du monde. Son trait d‟union, sa force, c‟est donc le français en partage, qui dans ses diverses manifestations est en réalité lui-même très diversifié. En quoi la Francophonie peut-elle se considérer comme représentant une force, alors que ce qui la constitue tout d‟abord en tant que telle est le partage d‟une langue ? N‟est-il pas idéaliste, ou même dérisoire, de mettre en avant une langue alors que l‟on est passé, depuis la 2e guerre mondiale, à des guerres de marché, des batailles économiques à tout crin, des ouvertures de marché qui déstabilisent les économies locales et disloquent des groupes populationnels? N‟est-il pas idéaliste de mettre en avant une langue face à la mise en place puis à l‟imposition parfaitement concertées de la mondialisation, obligeant les populations de tous les continents à consommer la même musique, à consommer les mêmes produits culturels, à consommer les mêmes hamburgers, que ce soit à Pékin ou à Mexico, à Moscou ou à Abidjan ? A mon sens, la force de la francophonie est d‟avoir en quelque sorte saisi une langue – en l‟occurrence, le français – pour penser en termes de réseaux, i.e. pour créer des logiques transversales, qui configurent un modèle d‟organisation et d‟échanges qui dépasse les clôtures territoriales. De fait, qu‟est-ce que la Francophonie ? Elle n‟est pas faite d‟un espace territorial continu et homogène, elle ne possède pas de pouvoir exécutif, mais elle donne des axes, qui sont aussi ses principes, qui demandent la reconnaissance de valeurs dont il est nécessaire de réaffirmer la primauté, au premier plan desquels la reconnaissance des multiples autres, pour former une culture de développement mutuel, que ce soit au niveau économique, technologique, social et éducatif. C‟est ce que Jacques Cortès appelle l‟« espace civique commun » (2001, p. 98). Les opérateurs de la Francophonie illustrent l‟efficacité de cette culture du développement mutuel, non fondée sur l‟axe vertical qui irait des institutions d‟une nation donnée 28

vers les groupes populationnels de cette même nation, mais fondée sur les potentialités d‟une coopération horizontale (partenariat non gouvernemental, non centralisé et transfrontalier) dont les logiques se caractérisent, du fait même de la transversalité, par le partage des initiatives, des actions et des engagements. Que l‟on pense, par exemple, à l‟Agence Universitaire de la Francophonie qui, en favorisant le développement de la recherche et des échanges entre les universités du monde, partageant la plate-forme du français, se développe dans la dynamique des réseaux multilatéraux. On se limitera ici à citer le programme thématique Aspects de l‟État de droit et démocratie de l‟AUF, programme qui fédère nombre de facultés de Droit autour de la recherche concernant prioritairement les droits de l‟Homme, l‟Etat de droit, la démocratie, qui sont autant de points de référence menacés du fait de leur perte d‟influence, tant réelle que symbolique. Les aspects de cet État de droit sont multiples. Ils touchent les libertés, les droits fondamentaux, les rapports entre le droit des individus et l‟orientation communautaire de nombreuses sociétés, les droits des femmes et leur accès à l‟éducation, ou encore les rapports entre le caractère laïque de la déclaration universelle des droits de l‟Homme et le caractère religieux de certaines communautés. Certes, cette ambition à hauteur d‟homme ne s‟est pas déclarée dès les premiers moments de la Francophonie. En effet, celle-ci s‟était d‟abord fixée des objectifs de développement économiques et culturels/éducationnels (et on a vu que ces objectifs ont été de l‟initiative de pays autres que la France (Afrique sub-saharienne, Canada). Avec la mondialisation, la Francophonie s‟est vers les années 1980 constituée en riposte à l‟expansion toute puissante de l‟anglo-américain (et dans ce cas, le mouvement est parti tout d‟abord du Québec – qui, historiquement, et dans le contexte d‟encerclement géoculturel angloaméricain qu‟on connaît, n‟a jamais cessé depuis sa fondation de militer pour le droit de vivre et de parler en français – mais il est suivi de près par la France qui, bien qu‟elle eût perdu ses prétentions à l‟ « universalité », cherchait encore à rivaliser avec l‟anglais.

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Dans les deux cas, l‟entreprise a été décevante, car elle n‟a pas obtenu les résultats escomptés. Et heureusement, en quelque sorte. Je m‟explique. Je partirai d‟abord du deuxième point, à savoir la francophonie comme force de rétention de l‟anglo-américain. On sait les débats acharnés concernant la « défense » du français, ou sa « protection », face aux « offensives » de l‟anglais. On aura remarqué le champ lexical de guerre que je viens d‟employer13. Or, la défense du français incarnée pour l‟essentiel par des commissions de terminologie, parce qu‟elle se limitait essentiellement à proposer des équivalents français de mots anglais massivement introduits via les innovations technologiques, ne produisait guère les résultats escomptés, ne parvenant pas à freiner l‟extension de l‟anglo-américain, qui semblait irrémédiable14. Ce que certains peuvent concevoir comme un échec a cependant eu comme heureuse conséquence de pousser les gardiens de la langue, et plus généralement les acteurs français de la Francophonie15, à se rendre compte qu‟une langue ne se soutient pas d‟elle-même, ou qu‟elle ne peut escompter bénéficier pour ainsi dire d‟une rente à vie, j‟entends par là se prévaloir aujourd‟hui d‟un ancien prestige culturel et diplomatique quasi exclusif. Il fallait se rendre au principe de réalité : une langue maintient son rang dans la mesure où elle draine avec elle

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Il suffit d‟ailleurs d‟évoquer des titres de publications qui donnent également la mesure et la nature des débats-actions (les actions renvoient aux diverses commissions de terminologie qui, pour « défendre » le français, proposent en général des substitutions de mots anglais ou d‟anglicismes par des équivalents français) : La guerre des langues, de Louis-Jean Calvet (1987 pour la 1e édition), ou encore, plus près de nous, Le Français : Histoire d‟un combat, de Claude Hagège (2006). Cf. L.-J. Calvet, 1999, p. 256 et sq. Il faut éviter d‟assimiler les propositions québecoises sur la terminologie en faveur du français à celles qui émanent de l‟Hexagone. Tandis que là, l‟enjeu est identitaire ; ici, il se fondait sur la nostalgie d‟une époque où le français prédominait dans toutes les sphères géographiquement et politiquement décisives (Europe et langue diplomatique).

une force de production tout d‟abord économique et scientifique16. Ainsi, dans le même temps où les diverses représentations françaises luttaient, dans les frontières hexagonales, contre le franglais, et hors des frontières, pour la promotion de la culture française, les États-Unis axaient leurs actions principalement dans le domaine économique, de sorte que l‟anglo-américain s‟implantait pour ainsi dire naturellement17. On pourra rétorquer que la Francophonie dès ses débuts travaillaient sur des projets technologiques et donc économiques (ACCT). C‟est juste, mais, dans la mesure où ces accords se situaient sur un axe bilatéral (entre pays d‟Afrique et la France) d‟une part, dans la mesure où les échanges se fondaient encore sur une dynamique issue de la colonisation d‟autre part, il a fallu un temps de latence et de rééquilibrage pour que les échanges deviennent réellement mutuels et que les membres deviennent partenaires à part entière. Ainsi donc, les résultats à peu près inexistants en matière de stratégies de défensive linguistique et les insuffisances sur le plan de la coopération économique ont eu cet effet en dernière instance bénéfique, d‟obliger les acteurs français de la Francophonie à repenser de fond en comble la nature même de leur politique et de la représentation de leur rôle dans la communauté francophone. En effet, cette révision en profondeur a consisté à abandonner – c‟est-à-dire jusque dans l‟imaginaire collectif vieux de quelques siècles – les velléités ethnocentristes, ce dont rend si parfaitement compte le changement de formulation qui a rendu caduque l‟expression « le français en commun » au profit de celle de « le français en partage ».

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Il faut cependant nuancer ce paramètre, même s‟il reste globalement vrai. C‟est ainsi que, comme on l‟a justement fait remarquer, si la production scientifique états-unienne est de 34% à l‟échelle mondiale, le total des publications en langue anglaise est de l‟ordre de 80%... d‟où la prééminence du facteur économique, quand bien même il n‟est pas autonome par rapport au facteur scientifique. Encore une fois, il faudrait nuancer le propos: on sait que les Etats-Unis sanctionnent par exemple les chercheurs qui résisteraient à publier leurs articles en anglais, en leur fermant les revues publiées sur leur territoire.

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5 LA FRANCOPHONIE AUJOURD’HUI Autrement dit, le partenaire français de la Francophonie avait encore beaucoup à apprendre, et il l‟a appris sous le double effet des autres pays membres de la Francophonie et de la mondialisation. Ainsi, la reconnaissance de la diversité des langues et des cultures est désormais posée de façon irréductible à partir des années 1990. Si la mondialisation a cherché à donner à l‟anglo-américain le statut de lingua franca, fondant ainsi un axe invariable de bilinguisme composé de la langue locale – minorée – et de l‟anglais comme langue de pouvoir, elle a également eu cet effet secondaire et compensatoire de susciter au sein même de la Francophonie la valorisation du plurilinguisme, comme garante de l‟ouverture sur un système multiple. C‟est à ce titre que les français de la francophonie jouent un rôle crucial de médiation dans la mutualisation du dialogue culturel international, car ce sont ces français-là qui ont promu une politique de valorisation du plurilinguisme auprès de la France hexagonale. Il faut en effet reconnaître que la France, qui se représentait encore comme l‟instance tutélaire de LA langue, bataillait contre l‟anglo-américain et contre les langues régionales (alsacien, breton, basque, catalan, Corse, franco-provençal, etc. et créoles d‟outre-mer), alors que les français non hexagonaux, revendiquant la légitimité de leurs propres parlers et à la pointe des littératures d‟expression francophone, défendaient déjà le plurilinguisme et la variation dans le cadre « du français »18.

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Faut-il voir un symptôme d‟insécurité dans le fait que la France de l‟Union Européenne n‟a pas encore, à l‟heure actuelle (juin 2007), ratifié la Charte européenne des langues régionales ou minoritaires du Conseil de l‟Europe de 1992? Face à la grande diversité des rapports réels entre langue minoritaire et langue nationale, faut-il y voir la difficulté de certains pays de l‟Union à reconnaître dans la Charte leurs spécificités linguistiques nationales respectives? Il vaut la peine de signaler que 11 pays (dont la France) ont signé la Charte, sur 22 qui l‟ont ratifiée par leur adhésion.

5.1 Littératures francophones : « négrifier la langue française » ? Il est courant de dire que l‟année 1948, qui voit la publication de l'Anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache de langue française organisée par Léopold Sédar Senghor, marque le début de la littérature francophone. De fait, l‟événement est majeur, puisqu‟il entérine le fait que le marché éditorial s‟ouvre à des oeuvres de langue française mais non hexagonales. Corrélativement, il devient possible à des auteurs francophones de se faire connaître au-delà des espaces nationaux respectifs, et le lectorat français aura pour la première fois l‟opportunité de se frotter à des mondes différents et à des modes d‟écrire, d‟être, de voir et de sentir, le partage de la langue faisant lien. Depuis, les littératures francophones ont largement conforté leur position dans le palmarès des maisons d‟édition de l‟Hexagone, et atteignent aujourd‟hui non seulement leur pleine reconnaissance mais encore leur consécration par le nombre de prix littéraires prestigieux qui ont marqué ces dernières années. Pour nous en tenir à 2006, il n‟est évidemment pas anodin que trois grands Prix aient été attribués à des auteurs non français, qui ont cependant choisi cette langue pour leur écriture. Ainsi, Jonathan Littel (franco-étasunien) a obtenu, pour Les bienveillantes, le prix Goncourt et le Grand Prix du roman de l‟Académie Française, tandis que le Prix Renaudot a été décerné à Alain Mabanckou (congolais) pour son roman Mémoires de porc-épic. Or, si les littératures francophones touchent de fait le lectorat français et sont largement reconnues dans leur excellence littéraire19, c‟est bien parce que les auteurs, en choisissant le français pour langue de création, ont su faire aboutir l‟adoption d‟une langue par un imaginaire et une culture qui, bien qu‟ancrés dans un espace externe à celui du lectorat hexagonal, ont réussi à se dire en travaillant, en réception, le partage de cet imaginaire. Aimé Césaire disait déjà dans les années 1930 qu‟il fallait « négrifier la langue française », posant ainsi les prémisses d‟une lente 19

Excellence qui par ailleurs n‟empêche nullement de mesurer la volonté politique de mise en avant de littératures d‟expression française.

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décolonisation des langues-cultures et des imaginaires par l‟affirmation d‟une identité qui peut transiter par l‟appropriation du français : faire sienne cette langue autrefois imposée, n‟est-ce pas renverser la situation en faisant d‟une transaction subie une transaction choisie ? Mais la formule « négrifier la langue française » indique aussi la modalité de l‟appropriation, en posant la question, fondamentale pour les écrivains, du rapport de leur langue d‟écriture à LA langue française, soutenue par le double pilier des gardiens de la langue (Académie, grammaires, école, traités du bien rédiger, etc.) et du prestige du dominant20. On comprend le défi, constitutivement double, dans lequel se lancent les écrivains francophones, singulièrement non européens21, dans la mesure où il s‟agit de se mesurer à la fois à la langue en littérature et à une langue que l‟Histoire rend d‟emblée problématique. De fait, la langue que l‟on parle pour parler notre vie construit notre identité, mais aussi notre psyché, ce que démontre magistralement le poète et poéticien martiniquais, Édouard Glissant, qui en développant sa Poétique de la Relation22 fait porter le regard et l‟intelligibilité beaucoup plus loin. Le concept de Relation déplace en effet les positions fixées frontalement par la bipolarité du moi /vs/ l‟Autre (bipolarité qui retranche chacune des entités/des identités dans son quant à soi), et installe d‟emblée la réflexion sur le deux, sur la dynamique du terrain commun (mais pas nécessairement pacifique, bien sûr), espace de l‟entre-deux, donc, qui par nature toujours se négocie (rejet de l‟immobilisation de l‟histoire ; approfondissement de la réflexion sur l‟identité/l‟altérité, qui ne peut être pensée qu‟à partir du 20

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On entend par « LA langue française » l‟ensemble des représentations spontanées que s‟en fait tout locuteur francophone ayant en général été scolarisé dans le système français : le français standard, et langue de la clarté et de la logique. On peut en effet admettre que pour les écrivains de la « francophonie continue », i.e. européenne, le défi ne diffère guère de celui d‟un auteur français, aux prises avec la langue/lalangue. Quant aux écrivains tels que Beckett, Cioran, Kristeva, Todorov, etc., le fait de choisir le français ne se pose pas dans les mêmes termes, puisque pour ces derniers, la langue choisie ne porte pas les stigmates de la colonisation. Titre donné au Livre II de Le discours antillais. Paris, Seuil, 1981.

relationnel ; et enfin, condition préparatoire à la pensée centrale de métissage). C‟est pourquoi, pour Glissant (1981, p. 190-191), le « Divers établit la Relation », « le Divers, c‟est la différence consentie ». Autrement dit, parler de la Relation, c‟est parler de la différence consentie. Il n‟est évidemment pas fortuit que la pensée du Divers, de la Relation, provienne de quelqu‟un qui porte en lui successivement deux déportations : celle de l‟histoire collective du « transbord » (la Traite des Nègres), et celle de la diglossie (co-présence de deux langues dont l‟une est majorée de prestige – le français – et l‟autre minorée – le créole, qui est la langue intime, la langue de connivence). Dans un premier temps, donc, la valorisation du plurilinguisme, compris ici comme la coexistence de variétés lexicales et syntaxiques qui compose donc les français, a d‟abord trouvé son terrain – de lutte, puis de réflexion – dans l‟espace francophone lui-même, hors l‟Hexagone. C‟est du reste dans cette perspective que plusieurs observateurs (Raphaël Confiant, Dominique Wolton) préconisent la création d‟une Académie Francophone, qui serait dotée des mêmes missions, pour l‟espace francophone, que l‟Académie Française pour l‟espace national. Et si les différents pays membres de la Francophonie étaient cohérents, au premier rang desquels la France, la création de l‟Académie Francophone entraînerait naturellement, à moyen terme, l‟extinction de l‟Académie Française. Il n‟y aurait là rien de choquant ou de scandaleux, voyons plutôt. a) Le nombre de locuteurs francophones est supérieur hors frontières hexagonales au nombre de locuteurs à l‟intérieur des frontières ; b) en conspéquence de quoi, la représentativité des français d‟ailleurs dépasse celle du français « de France » (du reste luimême hétérogène) ; c) dans le domaine littéraire, les auteurs issus de la francophonie sont très présents, sur le plan qualitatif et quantitatif. (Et de façon plus ample peut-être, le cinéma (africain, canadien) et les musiques (Afrique, Caraïbe et Canada principalement) jouent 35

un rôle important de diffusion et de contact entre les cultures). Voilà donc au moins 3 états de fait qui sont par définition et par statut ignorés dans les travaux des Académiciens d‟aujourd‟hui. Or, si l‟on veut véritablement une intégration mutuelle des français du monde, il devient assez clair que l‟Académie Française, ne serait-ce que parce qu‟elle se définit par rapport à un unique pays de langue française, n‟est pas apte à réaliser cette intégration23. Cela dit, ce mouvement de pensée sur le plurilinguisme comme co-existence simultanée de plusieurs français s‟est produit en même temps que se développait un intérêt toujours croissant pour les langues étrangères qui cohabitent dans l‟espace francophone (langues coofficielles, véhiculaires, d‟usage privé) : pour donner quelques exemples, le français côtoie le néerlandais et l‟allemand en Belgique, l‟arabe en Mauritanie ou aux Comores, le kurundi au Burundi, le sango en Centrafrique, l‟anglais, l‟inuktitut et l‟inuinnaqtun à Nunavut (Canada), le créole en Haïti, et la liste n‟est pas close. En effet, cela aurait été une contradiction interne si la Francophonie (et au premier chef la France, pour avoir eu tendance historiquement à se tourner sur elle-même) n‟avait pas intégré dans ses actions d‟échanges et de coopération le souci des langues en contact avec la langue de partage, contact des langues qui tissent la vie quotidienne de millions de personnes. S‟il s‟agit de soutenir la représentativité du français qui, parce qu‟elle est langue de partage, constitue une force pour l‟intercompréhension et le décloisonnement culturel et sociétal des espaces délimités par des frontières géopolitiques réelles mais aussi par des frontières imaginaires, il devient également nécessaire de promouvoir et d‟aider au développement et à la reconnaissance des langues locales, chacune d‟elles ayant la vocation, comme toute langue, de garantir à la fois les

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Et ceci, quand bien même l‟Académie a élu des membres étrangers, naturalisés français (François Cheng, Hector Bianciotti) ou non (Assia Djebar).

identités et le dialogue entre les diverses cultures en présence24. On peut voir là deux phénomènes disctincts, quoique complémentaires. Tout d‟abord, il n‟est pas concevable pour la Francophonie de se centrer sur le français, en tant que langue de communauté, si on ne parle le même langage, c‟est à dire si on ne se place pas dans une logique du mutuel, du réciproque. Dans ce sens, la francophonie se renforce du fait même de renforcer les langues qui cohabitent avec le français, car en effet comment pourrait-on concevoir de délaisser la ou les langues dans laquelle ou lesquelles un francophone non natif a développé son univers de sensations et d‟intelligibilité ? Comment négocier notre relation au monde dans le respect et l‟effort de compréhension mutuelle, si nous sommes minorés dans l‟autre langue qui me fait et me nomme ? On peut ici évoquer les situations de diglossie, extrêment difficiles à vivre, et dont témoignent par exemple certains écrivains antillais (cf. par exemple Patrick Chamoiseau : Écrire en pays dominé, 1981). On comprend donc ici la logique d‟un véritable partage, où le français comme langue de partage devra peut-être songer un jour à donner place aux langues en co-présence, dans ses propres institutions intra- et extra-hexagonales (Alliance Française, Départements universitaires, Écoles de langue, Instituts Français...). Le second phénomène concerne, à l‟échelle planétaire, la sauvegarde de la diversité, ou mieux, de la pluralité. On a déjà très justement comparé les enjeux de la bio-diversité à ceux de la diversité des langues-cultures (J. Werthein, 2001 ; P. Dahlet, 2007), mais il convient de distinguer, avec P. Dahlet (2007, p. 77), diversité et pluralité, afin de ne pas diluer le culturel dans le naturel : Si la diversité est une donnée de nature et d‟espèces, la pluralité est un choix d‟humanité et de sociétés. A cet égard, on retiendra que la diversité qualifie la condition constitutive du vivant, biologique et humain, alors que la pluralité désigne l‟incorporation de la diversité linguistico-culturelle (et de sa primauté sur la bio-diversité) dans une politique de projection et de supervision 24

On se souvient que le Sommet de Beyrouth, en 2002, avait comme thème fédérateur celui du dialogue des cultures.

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d‟interactions équilibrées et réciproques entre les identités culturelles.

Ainsi, le concept de pluralité subsume, par la volonté politique qu‟elle implique, la diversité des langues-cultures, la diversité des modes de pensée et enfin diversité d‟être au monde et de voir le monde. Dans ce sens, la Francophonie travaille à contre-courant du tout-marchand de la mondialisation, qui, sous les auspices d‟un village global, risque de faire des habitants du monde des répliques d‟un seul et même modèle. Il s‟agit donc de ne pas aller dans l‟angélisme. Les intérêts des divers Etats, gouvernements ou sociétés ne convergent pas toujours, loin de là. D‟autre part, l‟individu a toujours tendance à faire spontanément prédominer le mode d‟être et de penser de son groupe, et par conséquent de chercher à l‟imposer aux autres, qui ne lui ressemblent pas. On connaît le double mouvement de mondialisation d‟une part, et d‟autre part de crispations identitaires. L‟un a pour effet de neutraliser toutes les différences qui sont perçues comme des dysfonctionnements dans la grande entente planétaire, via la circulation supra-nationale des capitaux qui, en défiant toutes les juridictions, dérégulent à merci les économies régionales. L‟autre mouvement se prévaut de l‟identité, ethnique ou religieuse dans son acception la pire qui soit, c‟est-à-dire dans son acception excluante, pour voir en l‟autre une menace qui ne cesse que si on le détruit. Ainsi donc, pas d‟oecuménisme, mais au contraire la prise en compte du fait que si les sociétés relâchent leur vigilance, la tendance spontanée est à la régression, i.e. à la barbarie, à la destruction des biens, des oeuvres, des langues et des personnes. D‟où la primauté du concept de pluralité, qui comporte celui de diversité. Mais cette volonté politique en commun doit se faire guider par l‟« humanisme », qui devient un un dénominateur commun à la francophonie, mais aussi un leitmotiv en sociologie et en anthropologie25. Il faut, dit E. Morin, « civiliser les relations humaines » (2001, p. 17), ce qui consiste à mettre « en interrelation constante des altérités des uns et des autres pour 25

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Citons E. Morin, La Tête bien faite ; La Méthode. Ethique ; Todorov : La vie commune ; Devoirs et délices. Une vie de passeur.

appréhender la dignité de la personne », à « relier les différences pour instaurer les convivialités, pour civiliser les individus ». Et le moyen le plus sûr (même s‟il est lent et ardu) de tenter de relier les personnes et les groupes, les groupes et les sociétés, c‟est à travers les langues que cela devient possible, car une langue, toute langue, est à la fois vecteur politique et porteuse de cultures. En parlant une langue, des langues, mon interlocuteur et moi renouons la mémoire de la Relation, qui donne sens au fait d‟être sur terre, ensemble. Au terme de ces quelques pages où j‟ai tenté de tracer un parcours (parmi plusieurs possibles) de la francophonie, on aura compris que celle-ci est ambitieuse, et qu‟elle produit par conséquent du complexe. L‟ambition réside principalement, à mon sens, dans le fait que les instances au plus haut niveau renoncent désormais à toute velléité de pensée réductrice, pour faire face, dans l‟invention d‟un authentique partage, aux grandes mutations qui marquent ces décennies. En effet, la pensée réductrice ne saurait concevoir l‟entredeux de la Relation, ou encore des dispositifs multilatéraux qui substituent des logiques transversales à celles qui, édictées au gré de l‟histoire des cartographies, ajoutent ou ajoutaient aux tracés des frontières la plus-value de langue, de culture et de puissance militaire et économique. Cette logique verticale fonctionne, de par sa structure même, sur le mode de la domination qui se décline, simultanément ou alternativement, selon des stratégies de retranchement et/ou d‟invasion (linguistique, culturelle, militaire, économique, selon, et à degrés divers). A ce titre, la Francophonie représente un contre-modèle en voie de consolidification. Que l‟on pense à la francophonie d‟aujourd‟hui, que j‟ai appelée « de convergence », et dont la condition même de possibilité procède de ce qu‟on pourrait a priori considérer comme un paradoxe. Car en effet, n‟est-il pas remarquable de réinvestir, à contre-courant de l‟Histoire, le français à titre de langue d‟élection et non plus d‟être investie par elle en tant que langue de soumission ? de questionner la pseudo-légitimité de l‟antécédence de la langue pour s‟arroger le droit exclusif de la légiférer, et de puiser en retour sa propre légitimité, à l‟exclusion de celle des autres communautés? La belle formule « avoir le français en partage » remodèle donc de fond en comble la 39

représentation selon laquelle une langue coïncide avec un territoire ou une nation, par lequel ou par laquelle émergerait une identité culturelle unique et homogène. Ce que montrent magistralement les écrivains qui ont choisi la langue française comme langue d‟expression littéraire26 : le français est en voie de devenir apte à exprimer non plus l‟universalité, mais la « diversalité », ce divers cohérent et par définition solidaire dans ses parties. L‟actuelle recentration sur la « diversalité » ne saurait pourtant enfermer la Francophonie sur elle-même : au-delà d'un regroupement selon la langue, le terme suggère un rassemblement autour de valeurs de civilisation. C‟est pourquoi, on ne peut que se réjouir de cet événement majeur qui a réuni lors d‟un Sommet en mars 2001, à Paris, les trois espaces linguistiques de la lusophonie, l‟hispanophonie et la francophonie, représentés par les trois Présidents de la République de l‟Equateur, Gustavo Novoa Bejarano, du Mozambique, Joaquim Alberto Chissano et de la France, Jacques Chirac, ainsi que par les Secrétaires Généraux de cinq organisations internationales : l‟Organisaation des Etats ibéro-américains, la Communauté des Pays de langue portugaise, le Secrétariat de la Coopération ibéro-américaine, l‟Union Latine et l‟Organisation Internationale de la Francophonie. Ce Sommet, le premier dans son genre, a affirmé son souci de renforcer les échanges culturels, de travailler à donner un espace de visibilité plus grand aux langues et aux cultures qui se développent dans les trois espaces linguistiques, ainsi qu‟à promouvoir les partenariats dans le donaine économique, environnemental, éducationnel et sociétal.

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Cf. Le Bris & Rouaud (Org.) 2007. Pour une littérature-monde. Paris : Gallimard.

REFERENCES BIBLIOGRAPHIQUES BEACCO, J.-Cl. Les dimensions culturelles des enseignements de langue. Paris, Hachette Références, 2000. CALVET, J.-L. La guerre des langues et les politiques linguistiques. Paris, Hachette Littératures, 1999. CERTEAU, M. de. La culture au pluriel. Paris, Seuil, 1993. CHAMOISEAU, P. Écrire en pays dominé. Paris, Gallimard, 1977. CORTÈS, J. Plaidoyer pour la Didactique des Langues-Cultures. Le réseau GERFLINT. In ROUMEGAS, J.-P.; PAGEL, D.; BORG, S. (Coord.). Mondialisation et Humanisme. Les enjeux du français. Synergies Brésil. Revue de didactologie des langues-cultures, nº spécial, juin. Florianópolis, Departamento de Línguas e Literatura Estrangeiras, Universidade Federal de Santa Catarina, 2001. DAHLET, P. Universalité, Francophonie, Hybridation: vers une pluralité active ? In LENDO, R.; LOPEZ MORALES, L. (Coord. e Ed.). Francofonía e diversidad cultural. Rostros de la francofonía. Cidade de México, Editorial Aldus/Universidad Nacional Autônoma de México, 2007. GLISSANT, E. Le discours antillais. Paris, Seuil, 1981. HUCHON, M. Histoire de la langue française. Paris, Librairie Générale Française, 2002. MARTINET, A. Les langues dans le monde de demain. In WALTER, H.; FEUILLARD, C. (Dir.). Pour une linguistique des langues. Pairs, PUF Quadrige Manuels, 2006. [1967]. MORIN, E. Diversité culturelle et pluralité d‟individus. In ROUMEGAS, J.-P.; PAGEL, D.; BORG, S. (Coord.). Mondialisation et Humanisme. Les enjeux du français. Synergies Brésil. Revue de didactologie des langues-cultures, nº spécial, juin. Florianópolis: Departamento de Línguas e Literatura Estrangeiras, Universidade Federal de Santa Catarina, 2001. NOUSS, A. Plaidoyer pour un monde métis. Paris, Textuel/La Discorde, 2005. 41

PARLEMENTS et Francophonie. Revue de l‟Assemblée Internationale des Parlementaires de Langue Française, n. 83-84. Paris, A.I.P.L.F. ROBILLARD, D. F comme la guerre des Francophonies n‟aura pas lieu. In CERQUIGLINI, B.; CORBEIL, J.-Cl.; KLINKENBERG, J.M.; PEETERS, B. (Dir.). Le Français dans tous ses états. Paris, Flammarion, 2000. ROUMEGAS, J.-P.; PAGEL D.; BORG, S. (Coord.). Mondialisation et Humanisme. Les enjeux du français. Synergies Brésil. Revue de didactologie des langues-cultures, nº spécial, juin. Florianópolis: Departamento de Línguas e Literatura Estrangeiras, Universidade Federal de Santa Catarina, 2001. TODOROV, T. Devoirs et délices : une vie de passeur. Paris, Seuil, 2002. Biographie. WALTER, H.; FEUILLARD, C. (Dir.). Pour une linguistique des langues. Pairs, PUF, 2006. WOLTON, D. L‟autre mondialisation. Paris, Flammarion, 2003.

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MONTREAL: A CIDADE-TEXTO E O TEXTO-CIDADE EM “LES AURORES MONTREALES” DE MONIQUE PROULX Maria Bernadette Velloso Porto (UFF/CNPq) 1 PRELIMINARES Cada página de um livro é uma cidade. Cada linha é uma rua. Cada palavra é uma casa. Meus olhos percorrem a rua, abrindo cada porta, penetrando em cada casa (DUCHARME, 1960, p. 107).

Em um de seus ensaios, Salman Rushdie reconhece que, como passaportes, há livros que abrem para os leitores portas inusitadas que dão acesso a uma outra realidade, levando-os, muitas vezes, a emigrar do mundo em direção à própria escrita (RUSHDIE, Salman, 1993, p. 305). Associada à idéia de movimento, a leitura faz desse leitor privilegiado um viajante que pode, por sua vez, tornar-se autor cujos textos constituem convite para outros deslocamentos. À luz da metáfora da leitura como passaporte, será apresentada aqui uma breve análise de Les aurores montréales da escritora quebequense Monique Proulx. Livropassaporte que oferece aos interessados pistas relevantes da cultura em trânsito de uma cidade marcada pelo panorama transcultural, tal obra – escrita ao longo de dez anos durante os quais sua autora, originária de Quebec, viveu uma relação afetiva com Montreal – oferece aos leitores instantâneos reveladores da cotidianidade da terra que a acolheu, através de narrativas – às vezes muito curtas – que dão conta das tensões, contradições e das (im)possibilidades dessa nova Babel. Lida sob o signo da multiplicidade (de culturas, memórias, sotaques), Montreal parece se refazer a cada dia ao longo dos textos do livro em questão, sempre incompleta e surpreendente na sua fragmentação e no caleidoscópio de cores e de imagens que se (des)encontram continuamente. Antes de se passar à apresentação do livro em questão, é necessário discorrer um pouco sobre as relações entre cidade e texto para maior aprofundamento de dados presentes nas novelas de Proulx. 43

Se, como propõe Réjean Ducharme na epígrafe citada, toda página de um livro pode ser vista como uma cidade – o que confirma a concepção da leitura como travessia, com suas pausas, acelerações e escolhas –, toda cidade é passível de ser encarada como uma espécie de rede textual, reservando ao leitor-transeunte surpresas e revelações inesperadas. Um livro como As cidades invisíveis de Italo Calvino (CALVINO, 1990) é muito sugestivo a esse respeito: centrada nas narrativas que Marco Pólo teria feito ao imperador dos Tártaros, essa obra apresenta cidades-textos inusitados que não cessam de encantar seus leitores. Diante de tais descobertas, “O olhar percorre as ruas como páginas escritas” (CALVINO, 1990, p. 18), páginas sempre inacabadas como toda obra de arte, que se renovam sob o olhar de quem as interpreta. A partir dessas pistas preliminares, podemos compreender melhor nossas relações com livros e cidades. Assim como há livros que não nos dizem muito e que parecem fechar suas portas a nosso desejo de aí penetrar, há cidades que dão a impressão de se recusar a nossa vontade de conhecê-las, mostrando-nos apenas o que o olhar superficial de um turista pode captar. Por outro lado, existem livros e cidades onde podemos inscrever um pouco de nós mesmos, de nossos desejos e perguntas. Que leitor não teve nunca a sensação de ser lido por um texto? Quem nunca experimentou a sensação de estabelecer, por uma espécie de afinidade eletiva, uma relação especial com uma cidade que não coincide, necessariamente com seu lugar de origem? Hospitaleiros por excelência, esses livros e cidades se instalam em nós que nos tornamos seus hospedeiros e os recebemos no seio de paisagens afetivas de nossa memória como leitores do mundo. 2 DA SIMBOLOGIA DA CIDADE: MODOS DE APROPRIAÇÃO Só se conhece verdadeiramente uma cidade através do gesto de apreendê-la através da acuidade do olhar e dos sentidos em geral, do investimento corporal e da disponibilidade para a descoberta do Outro. Uma cidade diz respeito a seus monumentos, construções, paisagens, mas também a seus habitantes. Segundo o historiador Michel de Certe44

au (1990), a melhor maneira de se captar uma cidade é a caminhada por suas ruas. Ao contrário de quem percorre o tecido urbano de carro e só tem uma visão parcial do mesmo, o pedestre conhece de perto os meandros de uma cidade, e, ao imprimir aí as marcas de suas pegadas, passa a melhor se situar nesse espaço. Para o autor de L‟invention du quotidien 1: arts de faire, a travessia de uma cidade equivale ao ato de fazer despertar lugares adormecidos que, sem a presença do pedestre, permaneceriam como a Bela Adormecida à espera do Príncipe Encantado. Retomando o paralelismo entre uma cidade e um livro, poderia ser dito que, como o transeunte, o leitor se mostra capaz de tirar os livros do estado de passividade e de letargia em que se encontram, quando esquecidos na prateleira de uma biblioteca. E se há lugares imobilizados em uma espécie de sono como sugeriu De Certeau, há livros adormecidos, como propôs o escritor antilhano Patrick Chamoiseau: Sei o que é um livro adormecido. Conheço seu cheiro, sua cor apagada, o aspecto compacto de sua lombada, a película de poeira [...] que lhe confere uma maneira atemporal. [...] Caído em uma espécie de esquecimento, no centro de um orgulho mineral, ele espera o retorno de seu tempo (CHAMOISEAU, 1997, p. 26).

Encarnação de uma promessa de um vir a ser como os lugares esquecidos – que só existem plenamente quando visitados pelos transeuntes –, tais livros adormecidos, ao serem lidos, não modificam necessariamente o mundo, mas seus leitores (CHAMOISEAU, 1997, p. 28), e seu modo de ver o que os cerca. Em se tratando de Les aurores montréales, percebe-se o cuidado de sua autora ao retirar dos bastidores do silêncio e do ocultamento não apenas locais que poderiam ser considerados obscuros ou menos relevantes, mas também seres excluídos do sistema produtivo, relegados às margens do espaço urbano. Trata-se, em grande parte, de figuras paratópicas (imigrantes, mendigos, alienados etc.) que aí adquirem visibilidade. Como se fosse uma atriz pronta para dar voz a diferentes personagens, Monique Proulx encarna diversas figuras estrangeiras, apresentando Montreal como o palco onde deslocados e desterritorializados vivem suas histórias muitas vezes anônimas. Desta forma, no conjunto 45

das novelas, assim como os desclassificados sociais que empregam a primeira pessoa do discurso, contribuindo para o caráter polifônico e plural de uma cidade em contìnua construção, “todos os lugares falam” (PROULX, 1997, p. 53), mesmo os mais inexpressivos à primeira vista. Lugar de contradições, a Montreal de Monique Proulx concilia características incompatíveis em uma primeira leitura. Espaço de acolhimento, é também o cenário de práticas de exclusão que lembram manifestações de barbárie. Feita de marcas referentes ao acúmulo de experiências justapostas, ela é palimpsesto, sem deixar de ser promessa de futuro. Tal é a simbologia do branco que aparece no último parágrafo de duas das novelas cromáticas do livro: “Gris et blanc” e “Blanc”. Na primeira, que abre o livro, um menino imigrante da Costa Rica, descobre, ao lado de sua mãe, a beleza epifânica da primeira neve de suas vidas, que rompe com o lado cinzento de uma cidade hostil aos estrangeiros. Acenando-lhes com o caráter inaugural de uma nova vida, o branco da neve sugere que suas histórias estão ainda para serem escritas no Novo Mundo. Quanto ao texto “Blanc”, é também a neve que, no desfecho da morte, no momento da dissolução das diferenças, se associa à simbologia da página em branco. Como se passassem a limpo as rivalidades identitárias, o anglófono agonizante e a francófona que o acompanha em seu leito de morte, despem-se de suas vestimentas identitárias para se encontrarem enquanto seres humanos, espaços virgens liberados de entraves e preconceitos: [...] quand vous ne serez plus ni anglophone ni montréalais ni homme, mais essence volatile affranchie de l‟obscurité, je me sentirai un instant moi aussi comme un espace vierge, John, je serai comme vous une page blanche sur laquelle rien n‟est encore écrit (PROULX, 1997, p. 239).

Ao terminar sua obra com tal imagem, a autora confirma o aspecto inconcluso da nova Babel, lugar onde podem se inscrever outras possibilidades existenciais. E a experiência estética dessa cidade, que se traduz como uma maneira especial de se compreender o Outro, se articula com a noção de mundo vivido. Isso porque, como pensa Pierre Ouellet, as cidades apontam, antes de tudo para a experiência vivida, sendo feitas de 46

olhares e de passos, de coisas que se vêem e que se ouvem [...]. Em resumo, elas são mais carne e osso do que argamassa e cimento. Elas vivem, no sentido forte da expressão. Elas são também seus habitantes, das quais elas encarnam o lugar físico da existência, o topos no sentido grego, mas sobretudo o lugar ético e político da coexistência, que os gregos chamavam de Polis. A cidade é habitat e habitus misturados (OUELLET, 2005, p. 155156).

A valorização da cidade como mundo vivido se depreende também nos estudos do filósofo colombiano Armando Silva que, em seu livro Imaginários urbanos afirma que uma cidade se define por seus cidadãos, vizinhos e visitantes. Por isso, para ele, “ver, cheirar, ouvir, passear, deter-se, recordar, representar são atributos que devem ser estudados em cada cidade” (SILVA, 2001, p. XXVII). Isto confirma o investimento corporal necessário à apropriação simbólica de uma cidade onde os seres humanos não deixam de imprimir suas marcas. É justamente a ausência de tais marcas no país estrangeiro onde acaba de aportar que causa profundo mal estar na personagem-narradora da novela “Jaune et Blanc”. Como em outras novelas cromáticas, o texto se constrói como uma carta impossível, uma vez que seu destinatário (no caso, a avó muito doente da narradora) não apresenta condições de responder (já em “Gris et Blanc”, o destinatário é Manu, cachorro de estimação deixado no país de origem). Adotando o estilo da escritora migrante Ying Chen, a quem a novela é dedicada, Proulx coloca na boca da narradora de seu texto o incômodo de não coincidir com os referenciais espaciais e culturais de Montreal. Ao cuidar do jardim, a mesma narradora-personagem se dá conta de que precisava de uma estaca para melhor fixar as dálias que acabara de plantar. Tal gesto adquire maior valor simbólico, se for levado em conta seu desenraizamento. Ora, ao entrar em uma grande loja de departamentos para comprar o que lhe faltava, é assaltada pela sensação de total desorientação. Mesmo tentando se conduzir ao longo das diferentes seções, ela se sente ameaçada pelo excesso de mercadorias – próprias do consumismo desenfreado – e não se mostra capaz de ler a lógica daquele ambiente novo. Antecipando-se ao que seria seu difícil processo de adaptação a esse meio, ela afirma: “Montréal m‟est apparu comme une énigme 47

indéchiffrable dont les clés et les codes pour survivre m‟échapperaient à jamais” (PROULX, 1997, p. 54). Aos poucos, porém, habitua-se a conviver com a fartura e, sem perder seu olhar de estranhamento, apropria-se dos novos códigos necessários a sua sobrevivência. Porém, entre a personagem e Montreal permance um hiato, assim como ela não coincide mais com a China de sua origem, que corre o risco de perder sua diferença: “Peut-être qu‟un jour il n‟y aura plus de différence entre être un Chinois et être un Nord-Américain” (PROULX, p. 57). Todavia, para a personagemnarradora, foi possível redefinir seu espaço no mundo, sua casa identitária que não se restringe a Shangai ou a Montreal, apontando para uma terceira margem inscrita em seu próprio corpo: “J‟ai trouvé mon lieu, grand-mère, celui au centre de moi qui donne la solidité pour avancer, j‟ai trouvé mon milieu” (PROULX, p. 57). 3 O NÃO-LUGAR DE SERES DAS MARGENS NO CENÁRIO URBANO DE MONTREAL Enquanto lugar de produção de sentidos, onde se deslocam diferentes atores sociais e representantes de culturas diversas, e onde coexistem e se esbarram diferenças múltiplas (econômicas, identitárias, lingüísticas, memoriais e ideológicas), Montreal aparece na obra Les aurores montréales de Monique Proulx como um texto que fala e é falado ao mesmo tempo. Como pensa Pierre Ouellet, a cidade é falada e contada, mas também fala a seu modo (OUELLET, 2005, p. 155). “Palavra em potencial, narração virtual, energia falante, dinâmica discursiva” (OUELLET, 2005, p. 155), Montreal se deixa enunciar nas novelas de Proulx pela ótica de seres minoritários, pelas paisagens humanas que aí desenham cartografias da exclusão do homem “desabrigado” (OUELLET, 2005, p. 9). Dialogando com idéias de Ouellet, para quem “os lugares do homem não são mais fixos e protegidos” (OUELLET, 2005, p. 9), uma vez que não existe mais um lugar onde é possível se sentir em casa, a autora de Les aurores montréales mostra ao leitor pequenos flashes do cotidiano, vivenciados em espaços múltiplos (apartamentos, hospital, cemitério, loja de departamentos, metrô, cabine telefônica, gabinete de trabalho em uma universidade etc.). 48

Tangenciando a miséria, o horror do caos urbano, o abjeto – que existem ao lado de revelações epifânicas da beleza, como a neve vista pela primeira vez por imigrantes que até então só tinham observado o lado cinzento da cidade onde mal haviam se instalado – Monique Proulx oferece ao leitor imagens surpreendentes de Montreal. Cidade inacabada, nova Babel marcada por tensões sociais, econômicas, lingüísticas e políticas, Montreal define-se no universo de Proulx enquanto construção em aberto e em trânsito, como a própria escrita. Espaço propício à itinerância, palco de pequenos dramas da banalidade cotidiana, a rua favorece a elaboração de artes menores de sobrevivência, estratégias inventivas criadas por seres despossuídos e sem teto. Visto por Pierre Ouellet como um migrante do interior, o mendigo é também aquele que conhece os obstáculos em suas caminhadas e que é: o deslocado do interior, que não tem uma casa para si a não ser na rua ou na estrada, em um espaço público [...], que não lhe pertence e que nunca será sua propriedade. Sem teto, como se diz, o mendigo se define pelo fato de não ter lugar, de não ter um lugar destinado para ele, ao qual poderia ser identificado: ele é a encarnação de uma pura motricidade, de uma movência sem fim nem finalidade, que lhe dá uma existência no tempo e no devir somente, mais do que no espaço e no ser no sentido próprio. Mas trata-se, entretanto, de uma motricidade travada, como diz a palavra clochard (= mendigo), que designa “aquele que vai à cloche pied” (= saltando sobre um pé), clopin clopant (= coxeando), do latim cloppus, que significa “coxo” O clochard “claudica”: ele anda torto e com dificuldade, puxando o pé. Há algo nele que cloche (= é defeituoso), que anda mal ou não anda, embora seu destino seja ir, andar, vagar, mesmo quando ele sabe que não há mais caminho, nada além que a poeira do caminho (OUELLET, 2005, p. 27-28).

No livro Les aurores montréales uma novela em especial – centrada na representação do irrepresentável – apresenta a figura do mendigo sob os traços do pós-humano. Designado pelo demonstrativo “ça” (= isto), esse ser-coisa, difícil de ser nomeado e designado no discurso, já perdeu qualquer atributo que o ligaria ao humano. Indo muito além da 49

idéia da não-pessoa, a autora explora a reificação de um indivíduo, resto entre os restos que ele carrega, vestígios do que fora um dia (uma garrafa de bebida alcoólica vazia, um vale de uma loja de departamentos de Montreal, uma passagem de ônibus vencida, uma camisa rasgada de um time de hockey etc.). Como se se apegasse a referências de uma vida anterior, esboça um gesto de animal frágil ao se sentir invadido em seu espaço, defendendo a bolsa com seus pertences que sugerem outros momentos de um quotidiano mais produtivo. Como a passagem de ônibus vencida que ele guarda no meio de coisas inúteis, sua própria vida parece ter perdido sua validade. Encalhado no meio da rua, esse corpo que não se exercita mais nos esportes, na rotina diária de trabalho e nas horas de lazer, se encontra paralisado nas malhas do olhar e do discurso de quem o vê e não o reconhece mais enquanto gente. Ao contrário de outras novelas de Proulx centradas no personagem do mendigo, a novela “Ça” mostra que o movimento em direção ao Outro se tornou inviável em uma situação extrema. Trata-se de um texto muito curto que causa impacto no leitor até por sua concisão e dureza da cena descrita, como aparece em sua transcrição: Ça C‟est couché sur le trottoir. On dirait une sculpture. Off-off-expost-moderne. On s‟approche. Ça pue quand on s‟approche, ça pue et ça remue, diable ! ça a des yeux. Ça tient un grand sac vert qui déborde de choses. On veut voir ce qu‟il y a dans le sac, Ça jappe un peu quand on arrache le sac, heureusement, ça ne mord pas. On ouvre le sac. Déboulent silencieusement jusqu‟à la rue une bouteille de caribou vide, de l‟argent Canadian Tire, un chandail de hockey troué, une carte périmée de la STCUM, un morceau de Stade olympique, un lambeau de société distincte, et une vieille photo de ça quand c‟était humain et petit et que ça rêvait de devenir astronaute (PROULX, 1997, p. 197).

Neste texto, que dialoga com o poema “O bicho”, de Manuel Bandeira, vê-se o ápice do processo de degradação humana vivenciado pela figura do mendigo, desconstruído em seus atributos de pessoa, imobilizado como escória social. Mas se nos versos do poeta brasileiro, 50

mesmo tornado bicho, o homem ainda pode ser representado pelo pronome “ele”, na novela de Proulx, confundido inicialmente com um animal (“Ça jappe un peu quand on arrache le sac”), esse ser reificado não merece ser designado como o pronome pessoal de terceira pessoa do singular. Para uma melhor apreensão das interfaces entre “Ça” e “O bicho”, optou-se pela inclusão aqui do poema de Bandeira em que se depreende o estranhamento e o mal estar diante da revelação do intolerável: O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem (BANDEIRA, 1986, p. 283-284).

Na distribuição dos atores na cena dramática do texto “Ça”, deve-se levar em conta o emprego reiterado dos pronomes “on” e “ça”: de um lado, os transeuntes que olham o mendigo, movidos por uma curiosidade indiferente; de outro, o ser-coisa paralisado na impossibilidade de se tornar outro – ou outra coisa –, estagnado em qualquer tentativa de devir. Último estágio da queda irreversível no não-lugar, na inexistência social, entre a visibilidade do horror e seu ocultamento, a condição desse ente difícil de ser nomeado equivale à degradação de quem um dia fora o menino que dava asas à imaginação, sonhando em ser piloto, antes de despencar no não-reconhecimento, na invisibilidade social e na renúncia a toda idéia de ascensão. Entre a passividade camuflada sob a face da curiosidade e o não-lugar do mendigo, nós, leitores podemos nos indagar onde nos situamos em um mundo carente do movimento maior da generosidade e da descoberta do Outro. Ao tirar 51

do limbo da inexistência esse ser-coisa da abjeção, jogado na sarjeta de uma cidade de Primeiro Mundo, Monique Proulx nos leva, pela experiência do estranhamento, a tomar consciência da necessidade de nos deslocarmos da indiferença paralisante que conduz à naturalização da perda de referenciais humanos. Escapando de dois riscos de nossa época – o fechamento e a fragmentação – a autora aposta no discurso da conexão, da empatia, da comunidade e da comunhão, que, segundo Boris Cyrulnik, leva-nos a nos construir, a nos tornar nós mesmos para encontrar um outro que, assim como nós, é um outro si mesmo (CYRULNIK; MORIN, 2004, p. 87). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. São Paulo: Cia. das Letras, 1990. CHAMOISEAU, Patrick. Ecrire en pays dominé. Paris: Seuil, 1997. CYRULNIK, Boris et MORIN, Edgar. Dialogue sur la nature humaine. Paris: Editions de l‟Aube, 2004. DE CERTEAU, Michel. L‟invention du quotidien: arts de faire. Paris: Gallimard, 1990. DUCHARME, Réjean. L‟avalée des avalés. Paris: Gallimard, 1960. OUELLET, Pierre. L‟esprit migrateur. Essai sur le non-sens commun. Montréal: VLB, 2005. PROULX, Monique. Les aurores montréales. Montréal: Boréal, 1997. RUSHDIE, Salman. Patries imaginaires. Essais et critiques 1981/1991. Paris: Christian Bourgois, 1993. SILVA, Armando. Imaginários urbanos. São Paulo: Perspectiva, 2001.

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UN RENOUVELLEMENT DE LA PRAXIS POETIQUE QUEBECOISE PAR LE BIAIS DE L’ORALITE Danielle Forget (Université d‟Ottawa) À une époque de remise en cause de la modernité et de ses stéréotypes, la poésie opte pour une voie/voix de plus en plus orientée vers la performance. Cette praxis poétique constituerait une manière de faire valoir sa relation au monde dans une attitude parfois déconcertante mais incarnée. Démonter le sens, prendre le contre-pied des normes sociales, jouer la carte de la cacophonie des idées reçues, surtout face aux paradoxes d‟un développement technologique accéléré et d‟un progrès qui n‟enraye pourtant pas l‟exclusion économique et sociale, autant de prises de position qui s‟accordent avec ce renouvellement poétique. Ce que l‟on peut appeler la poésie/performance ne constitue pas une simple façon d‟apprêter le poème, de l‟habiller d‟un contexte approprié. Cette pratique poétique mise sur la conjonction des moyens – rarement lors de la production poétique mais certainement pour sa diffusion – de manière à susciter un « événement poétique » total par la conjonction de moyens audio, vidéo et le plus souvent, multimédias. Une telle interprétation se déroule dans les lieux publics et s‟exprime par un travail d‟équipe transdisciplinaire et transculturel. On pourrait s‟attarder à de nombreux poètes qui jettent leur dévolu sur une forme ou l‟autre de performance. Des manifestations variables allant de l‟appui musical à la poésie sonore, au SLAM, au spoken word, sans négliger celles exploitant le visuel de la peinture aux projections cinématographiques; d‟autres exploitent la mise en place ou encore le mouvement de la danse jusqu‟à la poésie/théâtre, et enfin des agencements multiples, c‟est l‟orchestration que procure le multimédia. Infinité des moyens et donc des expansions du poème vers des zones de perceptions nouvelles et attrayantes pour le spectateur ainsi sollicité. Elle se double aussi d‟efforts de réflexion sur les pratiques qui accompagnent souvent la démarche. Par exemple, à travers tous les événements culturels dont elle est l‟instigatrice, la directrice artistique et 53

poète D. Kimm milite pour la littérature orale, le texte performé, le spoken word, tout en orientant ses choix explicitement contre le figement des formes et des comportements sociaux, en faveur de la marginalité et de la relève. La performance tend la main à l‟expérimentation, qu‟elle prenne une forme écrite ou orale directe ou retransmise, même si l‟oral est le plus souvent visé. En reculant un peu dans le temps, pensons à Yolande Villemaire : son « laboratoire d‟écriture » lui permet de déconstruire des réflexes de langue, de ce qu‟elle a appelé la « lalangue » en figement dans les formulations chargées de stéréotypes sexistes, aliénant en général. Le renouveau obtenu comme une renaissance dans le maniement de la langue, une éclosion d‟une voix nouvelle. La poésie performée dans sa version actuelle lui permet de réaliser cette transfiguration dans sa mise en acte. Cette façon de s‟ouvrir suscite le contact avec la cyberculture, autre préoccupation de l‟écrivaine, un monde nouveau qui ne s‟apprivoise qu‟avec des moyens repensés, dépouillés des anciens carcans. Cependant, en soulignant les particularités de la poésie/performance, il apparaît plus que jamais nécessaire de faire la part belle au poète lui-même. C‟est à travers son projet, pas seulement d‟écriture mais d‟exécution – au sens de présentation/représentation active – que la performance acquiert un statut artistique, qu‟elle libère du sens. L‟exécution totale du poème en situation représente davantage que le poème seul, sur papier. Au-delà de l‟adjonction d‟effets sonores, visuels et autres, un feuilleté de sens se déploie. Le produit final n‟est pas simplement un poème auquel on aurait ajouté de la musique, des déplacements dans l‟espace, etc.; il en ressort une pratique poétique autre, renouvelant ses assises dans l‟urbanité. UNE POESIE CONTACT La poésie québécoise marque résolument un intérêt pour l‟exploitation conjointe des formes et la mise en contexte de l‟art poétique, au milieu de quoi se trace la performance comme mode de présentation et de divulgation du poème, s‟adjoignant souvent d‟autres 54

pratiques artistiques, mais comptant sur un contact privilégié avec son auditoire1. On pourrait se demander s‟il s‟agit d‟un phénomène nouveau. En fait, le panorama culturel québécois abonde de ces exemples de spectacles, récitals, soirées qui ont marqué l‟évolution des idées et du goût, sans compter qu‟ils heurtaient volontiers les idées reçues. Certains de ces événements se sont inscrits dans une lutte politique émancipatrice ou carrément révolutionnaire. La Nuit de la poésie de 1970 vient immédiatement à l‟esprit par l‟importance des enjeux de l‟époque mais aussi par les répercussions qu‟elle a eues depuis (dont une autre Nuit de la poésie en 1980) et qu‟elle continue d‟avoir, comme en témoignent les autres « nuits » qui s‟organisent encore, à Montréal ou ailleurs en région. Il ne faudrait pas négliger cette autre soirée, Chants et poèmes de la résistance en réplique contre l‟arrestation d‟écrivains, lors des événements d‟octobre 70, de même que le Solstice de la poésie, manifestation culturelle durant les Jeux olympiques de Montréal en 1976. On a trop tendance à considérer ces phénomènes comme des événements sociologiques comportant, au second plan, un contenu culturel poétique, ou alors à ne regarder que les participations de tel ou tel poète comme contribution individuelle particulière à ces rassemblements. Il convient plutôt de les voir comme pratiques poétiques dont le type a une incidence à la fois sur la production des œuvres et sur leur divulgation/réception auprès d‟un public consommateur d‟œuvres artistiques, bref des performances à part entière. Si les poésies/performances ont de forts antécédents au Québec, elles n‟en prennent pas moins une tournure actuelle qui inscrit la poésie dans le renouvellement d‟une parole publique. Des poètes de renom s‟y adonnent. Certains en saisissent l‟occasion : Louise Dupré, Jean-Marc Desgent, Violaine Forest, Paul Chamberland, pour n‟en citer que quelques-uns. D‟autres l‟endossent 1

Ce travail s‟est fait dans le cadre d‟une subvention du CRSH (GTRC auquel participe Le Soi et l‟autre, P. Ouellet, dir.) Je remercie mes assistants de recherche (Geneviève Cousineau, Josée Gonthier, Sathya Rao). Ma reconnaissance va aux poètes, plus particulièrement D. Kimm, Jean-Marc Desgent et Yolande Villemaire, pour leur témoignage et leur soutien.

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franchement : D. Kimm, José Acquelin, Geneviève Letarte, Hélène Monette, Jean-Paul Daoust, Kim Doré, Jean-François Poupard, Alexis O‟Hara, Yolande Villemaire, Michèle Lalonde, Gaston Miron, etc. D‟autres encore prennent l‟initiative de la poésie/performance en concevant ces soirées ou spectacles : pensons à Aimée DandoisParadis, Claudine Bertrand, Claude Beausoleil et à D. Kimm qui, par le biais du Festival des Voix d‟Amérique réussit chaque année depuis cinq ans à mettre au premier plan la performance à travers le spoken word, le texte performé et d‟autres formes de littérature orale. Il ne faudrait pas croire que les performances ont toujours l‟envergure des grands rassemblements. Elles prennent quelquefois des allures intimistes, des allures de rencontres où le poète se pose seul à seul avec son public. En effet, même dans ces circonstances, toujours le poème s‟enrichit d‟une représentation au cours de laquelle des moyens divers, souvent multiples, interviennent en conjonction du poème. Mais le poème a-t-il besoin de ces moyens pour exister ? A-t-il besoin de ces moyens pour produire un effet? Non, et d‟ailleurs, intrinsèquement, tout poème se nourrit d‟oralité, de rythme, d‟une musicalité de la parole sous-jacente. Le poème dans son appropriation particulière de la langue déploie l‟oralité de multiples manières et nous la fait sentir, à nous, spectateurs/lecteurs. Il est vrai qu‟une simple lecture (un poète, un micro sur une scène nue ou dans un coin de salle, à la table d‟un café) à haute voix suffit à inscrire le poème dans l‟oralité. Mais lorsque le poème se prépare et s‟exécute comme performance, c‟est qu‟il appartient à un projet spécifique. Alors, le poème se donne à voir : il est présentation, représentation. Il maximise les moyens de s‟afficher, ces derniers étant sélectionnés judicieusement en vue de maximiser l‟effet à produire. Je m‟écarte ainsi légèrement du sens qu‟en donne Pierre Bonnasse et, à travers lui, Paul Zumthor sur lequel il s‟appuie, lorsqu‟il dit : « Les spécificités de la poésie orale ne sont observables que lors de la transmission du message poétique, lors de „l‟exécution du poème‟ : c‟est ce que nous appellerons „performance‟ » (BONNASSE, 2002, p. 36). En effet, je restreindrai le terme de performance à un usage, me semble-t-il, de plus en plus répandu dans le milieu littéraire et des médias, pour 56

désigner un type de rapport entre le poème et son contexte de transmission. Performance n‟est pas entendue ici comme synonyme d‟exécution du poème. C‟est, comme mentionné plus haut, le poème se donnant à voir, à interpréter à travers un contexte de transmission qui en détermine en partie la teneur. En effet, lors d‟une telle exécution en un lieu et temps déterminés, le contexte – soit par l‟exploitation de la voix ou par une conjonction de moyens musicaux, audiovisuels, etc. – reçoit une valeur telle qu‟il influe sur l‟œuvre, dans ses traits constitutifs, actualisant cette dernière. Comme événement poétique. Pour cette raison, le poème en situation de performance est surdéterminé par un aller-retour entre musique, gestes, déplacements, effets visuels et sonores de toutes sortes qui en règlent l‟interprétation. Il est autre, et c‟est ce que j‟appelle une pratique poétique surdéterminée par son contexte d‟élocution, de représentation. Voilà aussi sur quoi mise le poète. La poésie qui s‟affiche comme performance, appelée en raccourci la poésie/performance, prend des formes variables, allant de la poésie sonore aux vers chantés; de la mise en place des poètes regroupés sur une scène, à la mise en scène, au spectacle. ORALITE ET PERFORMATIVITE La poésie, on l‟a vu, se conjugue à l‟oralité. Dès l‟Antiquité, cette caractéristique lui est associée. Genre noble, elle véhicule des positions philosophiques, appelle l‟émotion, sensibilise au point d‟influencer les comportements, va même jusqu‟à soutenir le ralliement à une cause. C‟est sa valeur incantatoire qui est sollicitée, autant dans l‟expression des sentiments que dans la mobilisation publique. Les troubadours colportaient des paroles lyriques ou ludiques. Déjà elle s‟imposait comme une pratique et pas seulement comme œuvre individuelle choisie. En effet, l‟action de transmettre ainsi, c‟està-dire de divulguer un contenu dans son passage à travers le temps et l‟espace, tout en témoignant des préoccupations, des valeurs sousjacentes, voilà l‟oralité dans sa manière la plus évidente. Le résultat en 57

est des productions artistiques mais surtout des savoirs, des opinions qui circulent et se répandent dans la communauté vers l‟extérieur. Corps et voix prennent part à l'oralité. Elle est présente même à l'écrit et ce, parce que l'oral et l'oralité sont deux dimensions différentes. L'oralité, dont je dis qu'elle est présente à l'écrit, ce sont les traits de la parole sous-jacente, inscrivant le poème dans un contexte qui m'interpelle comme auditeur/ lecteur. Le poème, dans sa composition même, déploie son sens à travers des éléments « corporels » : sonorités, assonances, allitérations, pauses, silence, répétitions, redondances. Le rythme en constitue une dimension essentielle pour moduler le sentiment, aviver les émotions. En luimême le poème n'est pas colère ou plaisir, mais il transmet par la rapidité, la langueur, la fébrilité, la sérénité. La performance met en évidence la voix, le corps – par la posture et le mouvement – en sollicitant les perceptions sensorielles qu‟aiguisent bruits, musique, mise en place, mises en scène, etc. en complément des paroles qui sont supportées, transfigurées par cette collusion des moyens. Par le ton, il rend ce que les mots ne prennent pas en charge à moins qu‟il ne mise sur l‟agencement des mots pour renforcer le sens. Fond et forme se fondent dans la musicalité de la parole. De manière exacerbée, cette praxis poétique fait que le poème entre dans une relation métonymique avec le corps, dont il se dit en prolongement, se propose dans la continuité de son expression. Et d‟ailleurs, plus que jamais lorsque la poésie s‟affuble de la performance peut-elle être considérée comme praxis. Le corps, la voix, le mouvement y participent en conjonction et délient la parole. Ce faisant, le poème en contexte de performance ne saurait exister sans le désir d'interaction avec l‟autre, avec le public en général : une sorte d‟alter ego mobilisé pour l‟occasion, mais qu‟il faut réussir à séduire, tâche chaque fois recommencée pour que la magie opère. La poésie devient performative. En effet, la pratique de la performance poétique fait qu‟en se livrant, et au moment même où elle se dit, l‟œuvre prend forme, est interprétée. Il y a coïncidence possible entre le temps de référence, d‟exécution et de lecture/interprétation – ce qui n‟est pas aussi évident à l‟écrit, sauf par subterfuge, quand la 58

lecture se donne comme temps de connaissance et se fusionne avec l‟exécution (comme si l‟auteur dialoguait avec son lecteur). Lors de la performance, toute l‟attention est orientée vers une expérience commune qui se déroule dans le hic et nunc, autrement dit, dans un présent qui tient de l‟exclamation, sans distanciation dans le temps. C‟est l‟accomplissement : la production et la réaction immédiate qui coïncident, un aspect que Zumthor avait bien énoncé à travers les phases suivantes : Dans les différentes phases de l‟existence d‟un poème (production, transmission, réception, conservation, répétition), la performance embrasse simultanément les deux phases que sont la transmission et la réception. S‟il y a improvisation, elle contient aussi la phase de la production (ZUMTHOR, 1983, p. 103; BONNASSE, 2002, p. 36).

Voilà qui rend la pragmatique particulièrement apte à saisir et expliquer cette praxis. Depuis les études d‟Austin sur ces verbes particuliers appelés performatifs qui servent à produire une action par la langue et dans la langue même, on est sensibilisé aux phénomènes semblables. Depuis que l‟on admet ceci : que la langue ne se construit pas seulement sur du référentiel et de l‟information, il est plus facile de concevoir des jeux littéraires, des constructions de discours misant, justement, sur la performativité, cette dimension d‟action intrinsèque à la production de tels procédés. Quand je dis : « Je te promets de venir », je ne fais pas simplement référence au fait de promettre, j‟accomplis l‟acte lui-même. Voilà un exemple de performativité. Quand la poésie se fait performance, c‟est, me semble-t-il, qu‟elle met au premier plan un tel projet face à son auditoire qui lui sert d‟interlocuteur. Elle crée une situation qui les implique tous les deux. Anne MacNaughton souligne à propos du spoken word (traduit comme « création parlée ») : To experience a poem “spoken” by the poet is to be present at the moment of creation, for once a poem as been composed, “written”, the energy of its creation is accessible anew each time it‟s spoken aloud. For the audience, this shared experience is also an intimate connection with the poet (a word whose etymologi-

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cal root is “maker”) as the poem is created in the listener‟s mind in the moment of its pronouncement (MACNAUGHTON, 2004, p. 101).

En effet, l‟interaction est une dimension essentielle de cette pratique. Le poète cherche à produire un effet (une émotion), et il s‟en nourrit pour mieux relancer sa parole. Sur le plan cognitif, la sollicitation de la poésie/performance se démarque. Le poème livré par des voies plus traditionnelles, simplement lu dans une atmosphère de silence quasi sacré, suppose une relation particulière au lecteur/spectateur, comme si ce dernier était convié à se positionner à travers le soi du poète : « soyez qui je suis » afin de se reconnaître à travers la voix, de faire corps avec ce qui se dit. Une transposition de rôle est demandée : un effort cognitif pour s‟associer au propos qui ne peut se déployer que dans un état des lieux favorisant la disponibilité totale face à un imaginaire de confidence, qui se livre entre gens privilégiés. La métamorphose, et donc l‟identification, s‟opère au prix d‟un effort. La performance, quant à elle, suppose un autre type de rapport à l‟autre. Cette fois, la poésie va au-devant de son public. Elle se donne en l‟interpellant, quelquefois en l‟assaillant presque de ses attributs tapeà-l‟œil, mais efficaces à capter l‟attention et à la maintenir rivée sur un sens qu‟il ne s‟agit plus de conquérir mais s‟exposant librement. Rien n‟empêche ce sens d‟être multiple et de s‟alimenter de réactions diverses. Yolande Villemaire racontait, lors d‟une interview, à quel point le contexte de performance du poème peut en changer la teneur : de profondément triste, une expérience racontée à travers un poème au Festival de Trois-Rivières avait trouvé, contre toute attente, une tournure ludique par la connivence instaurée spontanément avec l‟auditoire présent2. Cette dimension performative est tellement ancrée dans la pratique poétique misant sur la performance qu‟elle influence le poème, sa composition. Autrement dit, cette relation n‟est pas seulement dans le rapport à établir avec l‟assistance. Elle concerne les traits et modifie 2

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Interview qu‟elle m‟a accordé en avril 2006.

la forme du poème. Il n‟est pas rare de favoriser le dialogue. Le poète interpelle, s‟adresse explicitement à l‟autre comme s‟il était en tête à tête. On ne s‟étonnera pas que l‟improvisation soit souvent partie prenante. On ne s‟étonnera pas, non plus, que les réactions dans l‟assistance se manifestent ouvertement, au point de servir de point d‟appui à la suite de la performance. ENGAGEMENT ET REVENDICATION DU QUOTIDIEN La parole poétique est en soi un acte, mais lorsqu‟elle est performée en temps et lieu réels, elle s‟inscrit plus facilement dans le social et revendique ses positions. La performance favorise l‟engagement, quand ce dernier n‟est pas qu‟implication sur le front politique. L‟engagement peut aussi être entendu comme l‟affirmation d‟une parole face à la multitude, une manière de proclamer ses choix et d‟afficher sa liberté. En février 2006 se tenait au Gesù (église et centre de créativité) à Montréal, une soirée littéraire, organisée par Aimée Dandois-Paradis, intitulée Déchirures et paix au cours de laquelle un récital de poèmes, avec un intervalle de danse, se tenait sur le thème de la guerre. À ce récital faisait suite une table ronde sur l‟incidence de l‟art et le rôle de l‟artiste pour le maintien de la paix. La parole poétique peut devenir une voix de responsabilité qui s‟exprime au-delà des réalités nationales ponctuelles où est ancré le poète; une responsabilité sans frontières à l‟image de la société plurielle et éclatée qui caractérise le rapport au territoire et aux gens de notre époque. D. Kimm clamera par sympathie la douleur de l‟amour dans un pays pris dans le tourbillon de la guerre : Nous étions dans une époque d‟émotion cet été-là, conscients qu‟il n‟y avait pas d‟issue. Aussi, sombrer l‟un contre l‟autre n‟était jamais assez. Le bruit des bombes qui tombaient autour de nous rappelait que nous étions encore vivants (PRISTINA, 2005, extrait audio).

La mission de l‟artiste et son rôle de responsabilisation, sa contribution à la communauté, voilà ce que Raoul Duguay, en précurseur, s‟était efforcé de préciser dès la fin des années 70. En un 61

véritable traité de l‟art poétique, Duguay établit lors de communications, quel serait le rôle véritable qui lui revient. Il s‟agit d‟un rôle d‟éclaireur, teinté des influences indéniables de la pensée marxiste à l‟époque. L‟artiste devrait utiliser tous les talents qui lui sont dévolus pour éduquer les masses, ce qui veut dire les rendre sensibles aux subtilités du langage. Parmi ces dernières se trouve le pouvoir de la parole que confèrent les variations de voix. Dénonçant une aliénation que reproduisent les médias, l‟auteur prône une vigilance qui consisterait à utiliser les mêmes moyens sclérosants, mais en les déconstruisant et les ravivant vers d‟autres buts : la dénonciation, l‟éclatement des schémas de pensée en pratiquant ce qu‟il appelle la méthode active : « La méthode active vise à susciter chez le spectateur l‟initiative nécessaire qui lui permette de créer son propre système de valeurs » (DUGUAY, 1968, p. 6). Ayant pour but d‟annihiler l‟aliénation, le poète doit vivre au diapason d‟une réalité en pleine « diversité » qu‟il doit faire revivre pour montrer les mécanismes réducteurs. Duguay propose une imitation des mécanismes à l‟œuvre dans les médias pour mieux les démonter et briser leur effet aliénant. Seul un travail d‟équipe pouvait, selon lui, en venir à bout : cinéma, peinture, chorégraphie, photographie, musique, etc. devraient se coordonner au travail du poète, afin d‟accéder à l‟œuvre totale, but ultime de cette entreprise. L‟artiste, dans une telle recherche, aurait la volonté de briser les différences de classe, à ramener la poésie dans le quotidien et surtout à utiliser les moyens sclérosants pour les détourner de leur emploi habituel et en faire les déclencheurs d‟une nouvelle vision du monde. La fonction pédagogique de l‟artiste devenu animateur des masses se disait comme suit : […] l‟animateur doit faire un inventaire des informations de son public, en connaître les sources, puis se mettre dans la peau de son public et tenter de parler son langage en le magnifiant autant que possible en lui donnant une signification qu‟il n‟avait pas chez lui (DUGUAY, 1968, p. 6).

La poésie s‟attache aussi à la quotidienneté, se départissant du sacré pour frayer avec le profane. La performance, comme on l‟a vu, est interaction; on comprendra alors qu‟elle puisse favoriser l‟allusion au 62

quotidien, quand elle ne donne pas explicitement et résolument dans le terre à terre d‟un monde qui en ressort absurde et insolite. Le recueil de Jean-Marc Desgent donne à voir les petites réalités de tous les jours, d‟où peut se dégager, par contraste, une réflexion sur l‟inadéquation de l‟homme ou du monde, à moins que ce ne soit le rapport d‟incompréhension qui existe entre les deux : le portrait d‟un univers composé de fragments et d‟incohérence : Plus tard à l‟intérieur d‟un immense bâtiment où l‟écho est métallique, on frappe ses bottes l‟une contre l‟autre, et des petits sexes disparaissent sur le champ. On se prend les mots dans le givre, on dit givre comme le seul mot, la langue est cristalline, on parle fragments restés fragments (DESGENT, 2005, p. 32).

L‟insistance est pratiquée : l‟accumulation du trivial, qui côtoie des aspirations autres par contraste, ou qui s‟infiltre et annule toute forme possible d‟utopie. L‟exposé du quotidien, revendicateur ou non, passe par une mise en situation et un accord avec l‟auditoire, re-créant un monde d‟expérience commune. En outre, la poésie/performance telle qu‟on la reçoit en ces années actuelles, au Québec, s‟inscrit, pourrait-on dire, dans ce mouvement de postmodernisme qui remet en question les fondements d‟un savoir, d‟une société et son lien à l‟histoire. Il en ressort une voix sinon marginale, du moins discordante qui se détache des institutions, des modes de pensée ankylosants. La présence d‟une quotidienneté articulant des visions au sein des poèmes n‟empêchent pas de lancer des vues du côté d‟un idéal, qu‟il soit sollicité ou proscrit dans un élan apocalyptique. tout disparaîtra le genre humain et les mythes célèbres assassinats de tes ongles c‟est nous maintenant

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la chaleur étouffante trompe-moi misère du grand théâtre il nous faut des fantômes armés une seule drogue comme un doigt dans l‟œil maquillage pour survivre à ça tout disparaîtra (DORE, 2004, p. 85)

L‟universel et la tension vers l‟avenir sont convoqués sur un mode souvent négatif de la déception et même du désengagement, et cette ambiguïté qu‟il suppose entre celui qui subit et celui qui rejette. J‟ai parlé plusieurs langues, amassé des planètes entières. À moi seul, le sens du monde; il faut beaucoup tuer pour ça. À moi seul…dont il faut soustraire quelques étoiles. Certaines sont disparues depuis l‟invention des rencontres amoureuses. C‟est la méchanceté qui fait le beau corps (DESGENT, 2005, p. 56).

La poésie performance devient un lieu privilégié de réflexion sociale ou plutôt de réflexivité des tics de comportements sanctionnés dont elle se fait le miroir incongru. Elle prend pour cible des manières d‟être en société afin d‟amener l‟auditeur, par un jeu de connivence, à s‟en distancier, voilà une posture que favorise la poésie/performance. Par ailleurs, certaines formes littéraires qui appartiennent à la culture populaire sont sollicitées et s‟intègrent au plaisir que prend l‟auditoire devant la poésie performance : contes, récits oraux de toutes sortes et chansons font partie du folklore – autre domaine souvent boudé par la culture savante et trop peu valorisé. Au Québec, la réception de la poésie/performance montre que l‟on répond bien à ces interpellations du littéraire, de l‟art en général, avec le quotidien. L‟imagination embraye sur un mode chaque fois différent qui prête à des tons variés, entre le rire souvent satirique et les larmes. Elle se départit volontiers des modèles canoniques pour flirter avec les genres de plus grande circulation, montrant bien le parti pris d‟une époque où la mondialisation s‟exprime aussi en laissant place à la majeure circulation de la fonction poétique, peu importe les voies qu‟elle emprunte. 64

La poésie/performance s‟érige-t-elle contre la poésie écrite pour y substituer l‟oral?3 Je soutiens plus volontiers que ce type de pratique déporte la poésie vers d‟autres supports que l‟écrit en refusant à ce dernier l‟exclusivité. La poésie/performance, telle que pratiquée au Québec, n‟est pas un mouvement contre l‟écrit puisque ce dernier continue d‟être présent. En effet, il est courant que le performeur ait entre les mains sa feuille de texte : il ne s‟agit donc pas de soustraire aux yeux du spectateur la présence de l‟écrit et de lui dénier tout rôle. C‟est plutôt la prédominance de l‟écrit qui est remise en cause.La performance encourage le contact direct avec un public, contact qui peut prendre, cependant, une forme différée par la retransmission radiophonique, télévisée, par CD, DVD, etc. Le changement qu‟opère ce contact direct s‟accompagne aussi d‟un changement quant à la diffusion : non plus les milieux académiques sélects mais l‟ancrage dans la réalité quotidienne, par des temps marquants, des lieux de vie où la poésie choisit de se ressourcer. Cet ancrage de l‟événement poétique produit, on le comprend bien, une ouverture vers un auditoire plus large. Une conception moins élitiste de la poésie en ressort. Un exemple tout récent comme point d‟appui : il s‟agit de cette soirée poésie organisée par Claudine Bertrand dans le cadre de l‟événement Noël dans le parc (9-31 décembre 2005). Ainsi, le soir du 15 décembre, veille de tempête, se produisaient au milieu de la neige et des vents une dizaine de poètes (dont Yves Préfontaine, José Acquelin, Bernard Pozier, Louise Blouin) accompagnés par le musicien Stephen Faulkner. Dans un décor de manèges interplanétaires et de fête foraine, ils déclament des poèmes sur le thème de l‟hiver, poèmes dont ils sont l‟auteur, tout en joignant celui d‟un autre poète à qui rendre hommage (Émile Nelligan, Anne Hébert, Claude Haeffely, etc.). Une soirée de poésie intégrée parfaitement au cycle des fêtes populaires, tout en profitant d‟un lieu, le parc, au cœur de la ville et des activités de tous. Par ailleurs, la symbiose poésie et musique est au programme des 3

D‟après les hypothèses recueillies par mon assistant de recherche Sathya Rao et exposées dans un travail non publié, « Socialités et oralités poétiques à Montréal. Pour une épistémologie de la performance ».

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activités du Band des poètes. Sous la tutelle de l‟organisme que dirige D. Kimm, Les filles électriques, il regroupe poètes et musiciens qui produisent leur propre composition, apprêtée dans une conjonction paroles/ musique à la scène et au public. Chacun prend part à l‟accompagnement musical, démontrant ainsi la multidisciplinarité de leur art, qui se donne dans l‟atmosphère informelle d‟un café bistro, un art à la portée de tous. Cette plus grande accessibilité de la poésie est d‟autant mieux accueillie qu‟elle était annoncée et revendiquée par plusieurs poètes qui, il y a vingt ou trente ans, ont tenté de lui insuffler cette verve plus populaire. Lucien Francoeur, comme d‟autres, a fait ses débuts comme poète sur la scène publique, au café bistro La Casanous où se tenaient des soirées de poésie animées par Pierrot Léger. Puis la relève, assurée par Janou Saint-Denis, qui lançaient l‟invitation aux poètes tous les mercredis soirs à une soirée « Place aux poètes ». Dans une entrevue, elle explique son point de vue qui tient de l‟engagement et ouvrait la voie aux manifestations actuelles : Pour moi, l‟importance de la Casanous c‟est de sortir la parole du livre et de la délivrer; et en plus et surtout, qu‟il y a énormément de gens qui écrivent, qui ont des choses à dire, qui ne sont pas encore acceptés chez un éditeur […] Alors le fait de venir devant cinquante ou soixante personnes dire ses poèmes même s‟ils ne sont pas publiés, c‟est déjà une communication avec les gens qui sont là et c‟est une évolution de sa propre poésie4.

Plus forte est la connivence, plus grand sera l‟impact de sa réflexivité critique. Cette dernière devient tangible au moyen de la voix, du corps, de l‟environnement visuel et sonore dont la poésie/performance s‟entoure. Cette pratique se propose dans l‟autonomie et l‟engagement d‟une prise de parole. Son ancrage explicite et assumé dans une société marquée de technologie, d‟urbanité et de mondialisation en fait une praxis qui tient lieu de témoignage, tout en lui permettant d‟insuffler à la production littéraire une expansion 4

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Entrevue « États actuels de la jeune poésie québécoise », L.-P. Hébert, juin 1978, Maison de Radio-Canada, fonds Josée Yvon.

transdisciplinaire, en somme un événement littéraire où les conditions de production font parties intégrantes de sa nature, un reflet des facettes sociétales multiples au sein desquelles nous vivons. REFERENCES BIBLIOGRAPHIQUES AUSTIN, John L. Quand dire c‟est faire. Paris : Minuit, 1960. BEAUSOLEIL, Claude. Extase et déchirure. Trois-Rivières/Cesson : Écrits des Forges/La Table Rase, 1987. BONNASSE, Pierre. Rythme, souffle et musique dans la poésie contemporaine. Le cas Velter. Mémoire de DEA, Université de Pau et des Pays de l‟Adour, juin 2002. CAMBRON, Micheline. Une société, un récit. Discours culturel au Québec (1967-1976). Montréal : L‟Hexagone, 1989. DESGENT, Jean-Marc. Vingtièmes siècles. Trois-Rivières : Écrits des Forges, 2005. D. KIMM. Les poètes ont une voix mais aussi un corps. Cahiers de théâtre JEU. Montréal, n. 112, p. 99-103, septembre 2004. DORÉ, Kim. Le rayonnement des corps noirs. Montréal : Éditions des Poètes de Brousse, 2004. DUGUAY Raoul. De la puissance de la parole. Communication donnée au Festival de l‟ACTA, 23 juin 1968. ELEVELD, Mark. (Dir.). The Spoken Word Revolution (slam, hip hop & the poetry of a new generation). Illinois : Sourcebooks, 2004. FORGET, Danielle. Les nouveaux paradigmes de l'identité et la littérature migrante au Québec. P. Ouellet. (Dir.). Le Soi et l‟Autre. L‟énonciation de l‟identité dans les contextes interculturels. Québec : Presses de l‟Université Laval, 2003. FORGET, Danielle et SOARES Costa, Maria do C. Os espaços da poesia : identidade, conquistas e evasoes. Actes du Colloque de l‟Association brésilienne d‟études canadiennes. Feira de Santana : UEFS, 22 août 2000.

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CIVILISATION ET BARBARIE : ANALYSE COMPARATIVE DES FILMS « CIDADE DE DEUS » ET « HOCHELAGA » Mathieu-Etienne Gagnon (UQAM) INTRODUCTION On dit que le cinéma est le reflet de son époque, et que tant le dit que le non-dit nous informent sur la société dans laquelle une œuvre est née. En 2002, le film Cidade de Deus du Brésilien Fernando Meirelles a attiré notre attention pour le regard nouveau qu‟il posait sur la criminalité et la violence qui sévissent dans les favelas de Rio de Janeiro. Ce film nous a d‟abord frappé par son fatalisme. En effet, Meirelles nous présente dans Cidade de Deus une situation de crise à laquelle il n‟offre pas de solution immédiate. À l‟autre bout du continent, le Canadien Michel Jetté réalisait, en 2000, le film Hochelaga. Nommé d‟après un quartier historiquement ouvrier et défavorisé de Montréal, ce film aborde le thème de la guerre des bandes de motards criminalisés au Québec. Bien qu‟ils diffèrent grandement dans leur façon d‟aborder le sujet, Meirelles et Jetté nous offrent tous deux une image plutôt décadente de la société contemporaine. Intrigué par ce constat, nous avons décidé de comparer ces deux œuvres afin de voir si un lien les unissait. C‟est ce dont il sera question dans les pages qui suivent. Dans un premier temps, nous verrons l‟évolution de l‟image du crime organisé au cinéma dans les dernières décennies. Puis nous ferons la démonstration que la violence que nous présentent les films Cidade de Deus et Hochelaga a des causes similaires et qu‟elle est en fait le reflet d‟un profond malaise social qui s‟étend au-delà des frontières des bandes criminalisées. Finalement, nous examinerons comment l‟ordre naît du désordre en portant une attention particulière aux normes sociales prévalant chez les motards d‟Hochelaga ainsi que chez les jeunes délinquants de la Cité de Dieu.

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1 LA VILLE ET LE CRIME ORGANISE AU CINEMA De tous les aspects de la réalité urbaine traités par le 7ème art, le crime organisé compte sans doute parmi les plus populaires. La première version de Scarface, chef d‟œuvre repris en 1983 par Brian de Palma, date de 1932. La trilogie The Godfather de Francis Ford Coppola (1972, 1974 et 1990), est sans conteste un des classiques du genre. Depuis toujours, semble-t-il, le crime fascine, attire les foules. Traditionnellement, les films de gangsters étaient présentés comme une lutte entre les forces de l‟ordre et le monde du crime. Dans le cinéma hollywoodien du moins, c‟était la reproduction de l‟éternel confrontation entre le Bien et le Mal. Et plus souvent qu‟autrement, c‟était le Bien qui finissait par l‟emporter, permettant au spectateur de pousser un soupir de soulagement. Toutefois, il semble qu‟un changement de paradigme se soit opéré dans les quinze ou vingt dernières années. En 1988, le film Colors de Dennis Hopper annonçait : Gangs. The war is here. The war is now. Relatant les ravages causés par la guerre des gangs de rue à Los Angeles, le film se terminait par la mort du policier Bob Hodges (Robert Duvall). Colors lançait un message plutôt pessimiste sur la capacité de l‟État à faire régner l‟ordre dans la cité des anges. Dans son film La Haine, paru en 1995, Mathieu Kassovitz déclarait : « Jusqu‟à maintenant, tout va bien. Mais ce qui compte, ce n‟est pas la chute. C‟est l‟atterrissage ». Il faisait référence aux problèmes d‟intégration des jeunes des cités à la société française et à la hausse de la violence urbaine dans l‟hexagone. Le film Ma 6-T va crack-er de Jean-François Richet reprenait le même thème en 1997, sur une note encore plus alarmante. Nous avons pu voir récemment que ces films étaient plus que jamais d‟actualité, la France étant forcée de décréter un couvre-feu pour tenter de mettre fin aux émeutes qui faisaient rage dans de nombreuses cités depuis plusieurs jours. Il semble donc que ce ne soit plus toujours les bons qui l‟emportent, ni dans les films, ni dans la vraie vie. D‟après Castells, ce phénomène est une conséquence directe de l‟effondrement de l‟étatisme et du triomphe du système capitaliste mondialisé, générateur 70

d‟inégalités sociales sans précédent dans l‟histoire. Pour mieux comprendre comment ce changement de paradigme se présente au cinéma, nous comparerons ici deux films qui rendent bien compte de cette nouvelle réalité : Hochelaga, film québécois réalisé par Michel Jetté en 2000; et Cidade de Deus, film brésilien réalisé par Fernando Meirelles en 2002. Hochelaga raconte l‟histoire de Marc, un petit criminel qui se fait recruter par une bande de motards criminalisés. Marc se retrouve rapidement impliqué dans la guerre impitoyable que se livrent les Dark Souls et les Devil‟s Soldiers, et finit par y laisser sa vie. Le scénario d‟Hochelaga est fortement inspiré de la guerre que se livraient les Hell‟s Angels et les Rock Machines – deux bandes de motards criminalisés rivales – au Québec dans les années 1990. Le titre fait référence à un des quartiers les plus pauvres de la ville de Montréal, où se déroule en grande partie l‟action du film. Cidade de Deus raconte l‟histoire de Petit Ze et de Bene, deux jeunes qui se lancent dans le trafic de drogue pour faire fortune; et de Fusée, qui essaie de survivre à la misère de sa vie quotidienne sans tomber dans le piège de la criminalité. Le film dresse un portrait lucide des problèmes sociaux vécus par les jeunes de la Cité de Dieu, une favela de Rio de Janeiro. Il se termine sur une note mitigée, la guerre faisant toujours rage dans la cité, mais Fusée ayant réussi à s‟en sortir pour devenir journaliste. Si Hochelaga présente la déchéance de Marc comme étant principalement le résultat de mauvais choix personnels, Cidade de Deus dresse un portrait beaucoup plus complexe de la violence qui règne dans la favela brésilienne. On peut, en ce sens, donner crédit au réalisateur brésilien pour sa façon nuancée de présenter une réalité des plus complexes. Que se passe-t-il pour que Rio la paradisiaque devienne un véritable champ de bataille? Pour que le Canada, réputé pour être l‟un des pays offrant la meilleure qualité de vie au monde, succombe à la violence des bandes de motards criminalisés? Doit-on y voir une simple coïncidence, ou plutôt les symptômes d‟un malaise généralisé? 71

2 DE LA CIVILISATION A LA BARBARIE Paul Chamberland définit la barbarie comme étant « une régression de l‟humanité, la grossièreté morale, le nivellement par le bas, la légitimation de la force brute, dont l‟effet serait l‟affaiblissement puis la liquidation des institutions que nous prenons pour nécessaires à la reproduction de la vie civilisée » (CHAMBERLAND, 1999, p. 9). En ce sens, Cidade de Deus et Hochelaga nous présentent, chacun à leur façon, le crime comme étant la victoire de la barbarie sur la civilisation.

« Cidade de Deus » Meirelles entame son film en expliquant l‟origine de la Cité de Dieu, îlot de marginalité créé de toutes pièces par le gouvernement brésilien pour reloger les trop nombreux pauvres de Rio. Ville champignon, la cité est un nid de pauvreté et de désintégration sociale. À preuve, c‟est la majorité de ses habitants qui se réjouit lorsque le Trio tendresse dévalise un camion venu livrer des bonbonnes de gaz dans les premières minutes du film. Après ce vol, Canard charge son frère de remettre le butin du vol à leur père afin qu‟il puisse assurer la subsistance de la famille. Cet exemple témoigne bien de l‟ampleur de la précarité qui y règne. Dans autre scène, on peut voir les minus – qui paraissent avoir tout au plus une dizaine d‟années – aller voler pour se nourrir. Personne n‟a la vie facile dans la Cité. Les opportunités d‟emploi sont rares. Les mères monoparentales y sont nombreuses et la plupart des adultes doivent faire comme Manu Tombeur et aller travailler à l‟extérieur. Les jeunes sont laissés à eux-mêmes et doivent se débrouiller pour survivre. En l‟absence des parents, ce sont les criminels qui deviennent les modèles à suivre : ce sont eux qui portent les bijoux et les beaux vêtements. Voulant joindre une des deux bandes qui se font la guerre dans la favela, un enfant déclare qu‟il est un homme car il tue, sniffe, fume et braque. Rejetés par la société dominante, les jeunes de la Cité ont développé une structure sociale qui possède ses normes et ses règles propres. Nous y reviendrons plus loin. 72

La police, quant à elle, est corrompue et exhibe des valeurs douteuses. Un des agents va même jusqu‟à affirmer que « Voler des Noirs et des voleurs, ce n‟est pas voler ». Les policiers n‟hésitent pas à tirer en pleine rue, en plein jour. Pire encore, la police se rend complice de la guerre meurtrière qui se déroule dans la Cité en fournissant des armes aux deux bandes rivales. Les forces de l‟ordre n‟ont toutefois pas un grand pouvoir dans la Cité de Dieu. Ainsi, Tignasse n‟aura aucun mal à trouver quelqu‟un qui accepte de l‟héberger alors qu‟il est recherché activement après le vol du Motel Miami. On peut dire qu‟une certaine complicité règne entre les habitants de la Cité. Laissés pour compte de la société, ils sont tous confrontés aux mêmes conditions de vie misérables. Devant une telle impasse, le crime devient une alternative intéressante. Le conseil du collecteur du bus à Fusée et son ami résume bien la situation : « Étudiez et poussez vous de la Cité ». Il n‟y a aucun avenir pour les habitants de la Cité de Dieu. C‟est un endroit duquel il faut sortir à tout prix.

« Hochelaga » Historiquement, le quartier Hochelaga-Maisonneuve est un quartier ouvrier de Montréal. Les taux de pauvreté et de chômage y sont parmi les plus élevés de la ville et la prostitution, la vente de drogue et le crime y sont monnaie courante. Dans son film, Michel Jetté aborde toutefois le phénomène sous un angle tout-à-fait différent de celui adopté par Meirelles. Là où Cidade de Deus dressait un portrait global de la situation de la favela brésilienne, Hochelaga présente la criminalité des motards comme un univers clos, sans vraiment chercher à en identifier les causes profondes dans la société. En y regardant de plus près, il est cependant possible de faire ressortir de nombreuses similarités entre ces deux univers. Marc, le personnage principal du film, est un petit délinquant. Avec ses amis, il vit une vie de débauche. Il ne travaille pas, écoute du heavy metal, boit, se drogue et traîne dans des ruelles couvertes de graffitis et de têtes de mort. Bref, il représente l‟archétype du jeune marginal, vivant en dehors de la société dominante. 73

Sa situation familiale n‟est guère reluisante. Sa mère – elle-même aux prises avec des problèmes personnels – a élevé son fils seule. Elle tente de raisonner Marc, mais a très peu d‟autorité sur lui, d‟autant plus qu‟elle a elle-même fréquenté les motards dans sa jeunesse. Quant au père, il est littéralement absent, tout comme le reste de la famille. Au début du film, Marc n‟aspire pas à faire partie d‟une bande de motards. Il veut seulement « faire du cash ». Il rêve de posséder une moto et souhaiterait aussi pouvoir aider sa mère financièrement. Faute de modèles positifs dans son entourage, le crime est la seule option qu‟il connaisse pour se sortir de la misère. Dans Hochelaga, l‟État brille par son absence. La police est invisible, tout comme le sont les services sociaux ou les gens « normaux ». Même s‟il vit dans un des pays les plus riches au monde, les perspectives d‟avenir de Marc semblent pratiquement nulles. Il est coincé dans un cul-de-sac et les motards lui offrent la porte de sortie dont il a tant besoin. Pauvreté, marginalisation, défaillance de la structure familiale, manque de perspectives d‟avenir et absence de l‟État caractérisent donc autant la Cité de Dieu de Meirelles que l‟Hochelaga de Jetté. Comment expliquer ce chaos urbain aux deux extrémités de l‟Amérique? Le sociologue Michel Forcé avance que « l‟enrichissement croissant des sociétés industrielles entraîne la multiplication des jouissances et surtout leur diffusion à l‟ensemble de la population. Plus le système social devient inégalitaire, plus les inégalités deviennent insupportables aux individus, qui se mobilisent pour plus d‟égalité » (FORCÉ, 1989, p. 53). Tout système social ayant la stabilité pour finalité, le désordre qui en résulte n‟est selon lui qu‟une réaction temporaire, le temps que se fasse la transition vers un nouvel ordre. De Montlibert, quant à lui, insiste sur le sens social du travail. « Le travail relie l‟individu aux autres, structure la journée, offre des contacts sociaux hors du cercle familial, donne le sentiment de participer, même contraint, à un dessein social, procure statut social et identité » (MONTLIBERT, 2001, p. 53). On comprend ainsi que le chômage de masse dans la Cité de Dieu ou dans le quartier HochelagaMaisonneuve soit la cause d‟une sorte de processus de « décivilisation ». 74

Le passage d‟un État social – État qui prend en charge l‟intégration des citoyens – à un État soumis aux impératifs du marché économique vient accélérer ce processus de fragmentation sociale encore davantage. Faisant allusion à la favela brésilienne, Peralva déclare : « Alors que les aînés ont toujours orienté leurs aspirations vers une amélioration de leurs conditions matérielles de vie [...], la nouvelle génération raisonne, elle, en termes de bonheur individuel » (PERALVA, 2001, p. 44). L‟écart grandissant entre les riches et les pauvres « fabrique de la frustration, de la régression, de l‟exclusion, de la demande angoissée et violente de participation au festin » (CASTRO, 1994, p. 19). Les exclus en ont assez et ils exigent leur part du gâteau. Tant Cidade de Deus qu‟Hochelaga témoignent bien de cette nouvelle réalité. Absence de travail, inégalités croissantes entre les riches et les pauvres, manque de cohésion sociale et individualisme sont des ingrédients qui ont vite fait de devenir dangereux lorsqu‟ils sont réunis et qui constituent, en quelque sorte, des facteurs de décivilisation. 3 L’ORDRE DANS LE CHAOS Derrière le chaos apparent qui sévit dans Hochelaga et dans Cidade de Deus, existe un système social complexe et structuré. Toutefois, une inversion des rôles s‟est effectuée et les bandes criminalisées constituent dorénavant un refuge contre la barbarie de la civilisation. En procurant un sentiment d‟appartenance et un statut social à leurs membres, elles réussissent là où l‟État a échoué. Dans son livre Mafia, bandes de motards et trafic de drogue, Pierre de Champlain explique que « les bandes de motards canadiennes sont dotées d‟une structure de type militaire très hiérarchisée. Elles se divisent en chapitres ou en sections dirigés par des présidents locaux. Ces sections sont chapeautées par un conseil national qui supervise l‟ensemble des activités du club » (CHAMPLAIN, 1990, p. 254). Cette structure inclut des positions telles que président, vice-président, secrétaire, trésorier et sergent d‟armes. En ce sens, le film de Jetté est très fidèle à la réalité. 75

Hochelaga présente les bandes de motards comme si elles évoluaient dans un univers parallèle au nôtre. Sorte de sociétés secrètes, elles possèdent leurs propres valeurs et normes de conduite et tout un système disciplinaire est en place pour punir ceux qui en dérogent. N‟entre pas qui veut dans les Dark Souls. Marc doit faire ses preuves avant d‟obtenir le statut de striker (membre en probation). Une fois admis dans la bande, il recevra la bénédiction d‟un des hauts placés : « Que le Diable te protège ». Lorsqu‟il obtient enfin ses couleurs – une veste à l‟effigie du club – on lui dit d‟en prendre bien soin, car « tes couleurs, c‟est ce que tu as de plus précieux ». Dans une autre scène, les membres d‟une bande rivale se font massacrer par les Dark Souls parce qu‟ils ont osé porter leurs couleurs sur un territoire qui n‟était pas le leur; tandis que Nose, l‟ami de Marc, se fait aussi casser la figure pour s‟être fait tatouer les couleurs du club alors qu‟il n‟en faisait pas partie. Tous les membres de la bande feront rugir les moteurs de leurs motos en signe de respect aux funérailles d‟un des leurs qui vient d‟être assassiné. Ils jureront ensuite vengeance à cedernier car, croient-ils, « le sang attire le sang ». Si on peut reprocher à Jetté de dépeindre une image excessivement stéréotypée des bandes de motards – qui finit inévitablement par prendre des allures de lutte morale entre le Bien et le Mal – ces quelques exemples illustrent quand même bien la force du sentiment d‟appartenance qui en unit les membres. Faisant référence aux bandes de jeunes criminalisées qui règnent dans les cités françaises, Henri et Marinet déclarent : « Se sentant exclus de la société, ces adolescents ont inventé leur vocabulaire, leurs codes. Des formules et des règles non-écrites qui doivent être respectées [...] sous peine de sanctions qui ne sont pas inscrites dans le Code pénal » (HENRI; MARINET, 2002, p. 89). On retrouve le même phénomène dans le film de Meirelles. Les jeunes de la Cité de Dieu ont créé leurs propres règles du jeu. Ainsi, on ne vole pas dans le quartier : ce n‟est pas bon pour les affaires. Un tout petit l‟apprendra à ses dépens lorsqu‟il se fera tirer une balle dans le pied, puis abattre, pour avoir désobéi à la règle. 76

De plus, chaque membre de la bande a un rôle précis à jouer : du petit livreur de drogue à celui est chargé d‟aller acheter une nouvelle garde-robe pour le chef de la bande. Il est également intéressant de remarquer à quel point le discours de Petit Ze s‟apparente à celui de certains PDG d‟entreprises multinationales : Établir la stabilité dans la région pour favoriser le développement économique, conquérir de nouveaux marchés, éliminer la concurrence... La logique est la même. Seuls les moyens utilisés diffèrent. On pourrait même pousser l‟audace jusqu‟à faire un parallèle entre les employés qui travaillent dans le laboratoire de production de cocaïne – drogue qui sera par la suite vendue aux gens des classes sociales plus riches – et les employés des maquiladora – qui produisent des bien le plus souvent exportés vers les pays du Nord. Dans un univers où la prospérité économique a atteint le statut de valeur première, le trafic de la drogue est un commerce comme un autre, et il donne l‟espoir d‟un avenir meilleur aux jeunes de la Cité de Dieu. CONCLUSION La fracture sociale a donné naissance à d‟innombrables scénarios de films dans l‟histoire du cinéma. « L‟incivilité s‟est affirmée de tout temps, mais aujourd‟hui ce débat sur la violence est devenu récurrent. [...] La ville, appréhendée comme entité globale, est pourtant devenue le point nodal de ces questions de société, le cinéma en étant son miroir déformant » (FEIGELSON, 2001, p. 195-196). Chacun à sa façon, Meirelles et Jetté nous incitent à réfléchir sur le monde dans lequel nous vivons à partir de leurs œuvres respectives. Si leurs perspectives et leur façon d‟expliquer la réalité diffèrent, on peut néanmoins constater de nombreuses similitudes dans les causes derrières la violence qui sévit aux deux extrémités du continent. Alors que nous croyions avoir atteint un état de civilisation des plus avancés, ces deux films nous ramènent à la réalité et nous font voir que la barbarie est toujours à nos portes. La violence et la criminalité qu‟ils nous présentent semblent prendre leur source dans l‟échec de l‟État à construire un projet de société global, à intégrer les citoyens 77

marginalisés et à modérer l‟écart grandissant qui s‟opère entre les riches et les pauvres. Ils sont, en ce sens, à la fois très pertinents et très contemporains. À la lumière de cette analyse, il nous semble nécessaire – voire urgent – de repenser notre façon de vivre en société, et ce non seulement au niveau national, mais aussi international. Faute de quoi nous risquons de voir se multiplier les Cidade de Deus et Hochelaga de ce monde avant longtemps. REFERENCES BIBLIOGRAPHIQUES CASTELLS, Manuel. Fin de millénaire. Paris, Édition Fayard, 1999. CASTRO, Roland. Civilisation urbaine ou barbarie. Paris, Éditions Plon, 1994. CHAMBERLAND, Paul. En nouvelle barbarie. Montréal, Hexagone, 1999. CHAMPLAIN, Pierre de. Mafia, bandes de motards et trafic de drogue : le crime organisé au Québec dans les années 80. Hull, Asticou, 1990. MONTLIBERT, Christian de. La violence du chômage. Strasbourg, Presses de l‟université de Strasbourg, 2001. FEIGELSON, Kristian. Cinéma et fracture sociale. In Le cinéma dans la cité. Paris, Félin, 2001. FORCÉ, Michel. L‟ordre improbable : entropie et processus sociaux. Paris, PUF, 1989. HENNI, Amar et MARINET, Gilles. Cités hors-la-loi. Paris, Ramsay, 2002. MARIE, Michel. La thématique urbaine dans les films. In Le cinéma dans la cité. Paris, Félin, 2001. PERALVA, Angelina. Violence et démocratie – le paradoxe brésilien. Paris, Balland, 2001.

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DEUX SCÈNES CAMPAGNARDES: RIMBAUD ET NELLIGAN EN PARALLÈLE Celina de Araújo Scheinowitz (UEFS) Notre intention dans ce travail est de procéder à une approche comparative de deux poèmes, “Ma Bohème (Fantaisie)”1, de Rimbaud, et “Rêve de Watteau”2, de Nelligan, pour dévoiler leurs points de convergence et de divergence et pour fournir des éléments pour l‟évaluation de la permanence des thèmes littéraires et des principes esthétiques à travers l‟espace et le temps. Les mobiles qui ont guidé notre choix ne se situent pas sur un plan intertextuel qui tiendrait compte de questions telles qu‟imitation, parodie, allusion ou réminiscences, d‟une composition par rapport à l‟autre, car nous avançons l‟hypothèse que Nelligan (1879-1941) n‟a probablement pas connu le poème de Rimbaud (1854-1891), écrit en octobre 1870. Nous rappelons que le cas de figure inverse est difficilement envisageable, car “Rêve de Watteau”, un des trois poèmes récités par Nelligan à l‟occasion de la première rencontre du groupe de l‟École littéraire de Montréal avec le public, en 1898, a probablement été écrit cette année, et à ce moment-là l‟oeuvre de Rimbaud n‟était pas encore connue en Amérique. Si nous estimons que l‟on ne peut pas parler, dans ce cas précis, d‟influence d‟un poète sur l‟autre, nous considérons cependant qu‟un parallèle peut être établi entre les deux compositions, à partir de quelques similitudes que nous décelons entre celles-ci, aussi bien sur le plan formel que sur le plan des contenus. Ces données nous permettent de brosser un schéma comparatif dénué d‟inspiration généalogique et construit selon un modèle de type structural s‟appliquant à deux 1 2

RIMBAUD. Poésies. Préface, commentaires et notes par Daniel Leuwers. Paris: Librairie Générale Française, 1984, p. 55. NELLIGAN, Émile. Poésies complètes (1896-1941). Nouvelle édition entièrement refondue d‟après l‟édition critique de 1991, préparée par Réjean Robidoux et Paul Wyczynski, professeurs à l‟Université d‟Ottawa. Montréal: Bibliothèque Québécoise, 1992, p. 64.

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systèmes autonomes d‟écriture poétique, régis par des dépendances fonctionnelles internes et mis en parallèle afin de faire ressortir leurs zones d‟intersection et d‟indépendance. “Ma Bohème” est le dernier poème du Cahier de Douai (ou Recueil Demeny), manuscrit comprenant deux parties, formées respectivement de quinze et de sept poèmes. Recopiés par Rimbaud en octobre 1870, à l‟intention de Paul Demeny, ces poèmes ont été conservés par celui-ci en dépit de la demande de destruction qui lui avait été adressée par le poète en 1871. Bien que “Ma Bohème” ait été écrit en octobre 1870 et publié dans Le Revue indépendante, en 18893, ces premiers poèmes de Rimbaud n‟ont été divulgués pour le grand public qu‟à partir de l‟édition des Oeuvres publiée par Paterne Berrichon, en 1898, sept ans après la mort de Rimbaud. En effet, pendant sa courte période de production littéraire (1870-1874), Rimbaud n‟a publié, dans des revues sans prestige, que trois poèmes mineurs et une plaquette en prose, Une saison en enfer, dont il laissera les exemplaires chez l‟éditeur bruxellois. Parti à Aden et en Éthiopie, il n‟a pas été averti de la publication de son poème “Les Premières Communions”, en avril 1886, dans la revue parisienne La Vogue, ni de celle des Illuminations, en mai-juin et d‟Une saison en enfer, en septembre, dans la même revue. À ce moment-là il s‟occupait de ses affaires commerciales à Harar, en l‟occurrence de la vente d‟armes au roi du Choa, Ménélik II. Entre 1896 et 1899, période d‟activité poétique, également courte, de Nelligan, le poète québécois n‟a donc probablement pas eu l‟occasion d‟avoir entre ses mains les premiers poèmes de Rimbaud4. 3 4

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Information donnée par Claude Jeancolas, à la page 96 de son livre Rimbaud. L‟oeuvre, publié à Paris, par les éditions Textuel, en 2000. Les spécialistes de Nelligan ne citent jamais Rimbaud comme un auteur ayant exercé une influence sur Nelligan. Ainsi, Laurent Maillot et Pierre Nepveu rappellent que Nelligan “a assimilé l‟essentiel de l‟art de son temps: Baudelaire et le Parnasse, Verlaine et les décadents, Rollinat et Rodenbach” (La poésie québécoise. Anthologie. Montréal: Éditions Typo, 1996, p. 116 ; 1ère édition: 1986). Quant à Jocelyne Felx, elle dit: “Nourri précocement de Millevoye et de Musset, il se dédiera peu à peu aux parnassiens et à Baudelaire [...]” (La forme a valeur d‟or. In : NELLIGAN, Émile. Poèmes choisis. Le récital de l‟ange. Choix et présentation de

Atteint d‟une démence précoce et incurable, dès 1899, Nelligan passera le reste de son existence interné dans des asiles psychiatriques. Voilà donc une première convergence entre les deux poètes qui n‟est pas par ailleurs sans rapport avec le thème de ce travail et pourrait même contribuer à le justifier: Rimbaud et Nelligan sont des météores qui passent par l‟univers de la poésie, sans s‟y attarder. En effet, à la veille de leur vingt ans, ils cessent d‟être poètes: le premier, par un choix de vie personnel, décide de se taire, préférant partir en Afrique, à la recherche d‟aventures (on comptabilise dix-sept ans de silence littéraire) et le second, contraint par la maladie mentale, va s‟enfermer dans son monde intérieur et se débat, quarante ans durant, entre fantômes et visions, entre délires et hallucinations. Cinq années d‟activité poétique, en ce qui concerne Rimbaud (1870-1874) et quatre, pour Nelligan (1896-1899), ont cependant suffi pour leur assurer une place d‟importance dans le panthéon de la poésie française, comme deux de ses représentants les plus éminents. Si nous examinons l‟objet de notre étude dans une perspective formelle, nous découvrons que le contenu lyrique des deux poèmes vient coulé dans un même moule de composition: il s‟agit de deux sonnets, construits tous les deux en vers alexandrins. Les rimes, pour “Ma Bohème”, présentent le schéma abba – cddc – eef – ggf et, pour “Rêve de Watteau”, abba – baab – ccd – ede. Le poème de Rimbaud se construit donc en sept tons de rimes et celui de Nelligan, en cinq. Les quatrains des deux sonnets ont des rimes embrassées et des rimes plates, mais alors qu‟au départ Nelligan les façonne en mélopée, en reprenant dans le deuxième quatrain, dans un ordre inverse, les mêmes rimes du premier (a et b), Rimbaud renouvelle, dans son deuxième quatrain, la rime de ses vers, en y introduisant de nouvelles sonorités (c et d). Dans les tercets, Rimbaud maintient le même schéma de rimes que celui des deux premières strophes du poème, c‟est-à-dire, des rimes plates pour les deux premiers vers de chaque tercet, leurs derniers vers Jocelyne Felx. Saint-Hippolyte (Québec): Éditions du Noroît; Saint-Laurent (Québec): Fides, 1997, p. 7).

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rimant entre eux, en rimes embrassées. Nelligant, dans les tercets, modifie la norme de la composition, en établissant des rimes croisées, qui suivent les rimes plates des deux premiers vers du premier tercet. Bien que, du point de vue des rimes, le poème de Nelligan se construise en cinq tons (en fonction de l‟effet de mélopée, recherché par le poète), Rimbaud, en multipliant les sonorités et utilisant sept tons, atténue toutefois cette différence par l‟utilisation de rimes en [u], [urs] et [ut], des variations à partir de la voyelle de base [u], atténuation évidente dans les quatre vers du second quatrain et dans les vers initiaux du premier tercet. Une convergence de facture concernant le choix des temps verbaux des deux poèmes en parallèle dans ce travail émerge dès que l‟on observe chacune des deux compositions, étant donné la préférence presque absolue pour l‟emploi de l‟imparfait de l‟indicatif aussi bien dans “Ma Bohème”, qui l‟utilise onze fois, que dans “Rêve de Watteau”, où l‟imparfait est attesté dans six phrases. Si l‟on met à part le quatrième vers de “Ma Bohème” (“Oh ! là là ! que d‟amours splendides j‟ai rêvées!”), où l‟on remarque un passé composé, souligné ici, on pourrait affirmer que ce sonnet est pratiquement écrit entièrement à l‟imparfait, car on y liste onze verbes à l‟imparfait de l‟indicatif, à savoir je m‟en allais, devenait, j‟allais, j‟étais, avait, j‟égrenais, était, avaient, je les écoutais, je sentais, je tirais. De son côté, “Rêve de Watteau” est également construit en accordant une prééminence à ce temps verbal, présent six fois dans le poème, s‟en revenaient, nous allions, longeait, nous nous couchions, nous déjeunions, nous soupions, bien que deux verbes y apparaissent au présent de l‟indicatif, au onzième vers (“Dont le pipeau qui pleure, appelle, tout au loin”). Nous ne tenons pas compte, dans cet inventaire, des verbes aux modes impersonnels, étant donné leur fonction plutôt adjectivale ou circonstancielle que verbale (un participe présent et deux participes passés, dans le poème de Rimbaud, et trois participes présents, un gérondif et un participe passé, chez Nellligan). Les deux poèmes sont donc fondamentalement écrits à l‟imparfait de l‟indicatif, un temps du passé qui présente le procès verbal dans son déroulement, sans que l‟on envisage ses limites 82

temporelles et sans que l‟on tienne compte de son début ou de sa fin. Lorsque Rimbaud, dans le quatrième vers du poème, introduit un passé composé, j‟ai rêvées, celui-ci va s‟opposer aux autres verbes à l‟imparfait par l‟aspect. Au lieu d‟un aspect non limitatif (sécant, non accompli ou duratif), propre à l‟imparfait, le passé composé envisage le procès verbal d‟un point de vue limitatif (non sécant, accompli ou ponctuel), c‟est-à-dire en cernant ses limites temporelles. L‟opposition aspectuelle va mettre en relief l‟action de “rêver d‟amours splendides” et ce sont ces rêves d‟amours splendides ce que le poète va retenir dans sa mémoire comme étant le souvenir le plus marquant de cette marche de l‟adolescent à travers les champs... Quant au poème de Nelligan, les deux présents de l‟indicatif ne vont pas s‟opposer aux six formes de l‟imparfait par leur aspect, car le présent, comme l‟imparfait, cerne le procès verbal en considérant ses limites temporelles. La divergence se situe au niveau de la catégorie du temps, le présent s‟opposant au passé. Le poète choisit la musique du pipeau des bergers, qui “pleure appelle, tout au loin” (v. 11) (c‟est nous qui soulignons les verbes), comme idée fondamentale de son poème, celle qui va résonner dans sa mémoire à partir de cette scène pastorale imaginée comme un tableau de Watteau. C‟est ce qui reste, ce qui se maintient, d‟où le présent. Mais la musique n‟est-t-elle pas pour Nelligan le moteur de son inspiration et ne joue-t-elle pas un rôle fondamental dans son écriture poétique? N‟a-t-il pas laissé à la postérité des poèmes tels que “Nocturne”, “Mélodie de Rubinstein”, “Chopin”, “Pour Ignace Paderewski”, “Lied fantasque”, “Prélude triste”, “Rythmes du soir”, “Mazurka”, “Vieux piano”, “Violon de villanelle”, “Le violon brisé”, “Violon d‟adieux”, “L‟organiste du paradis”...? Un poète se sert de l‟aspect verbal, l‟autre de l‟opposition temporelle pour enrichir les possibilités lyriques de leur texte poétique. Du moins, c‟est la lecture que l‟auteur de ce travail présente ici. Les deux poèmes que nous analysons se rejoignent thématiquement car tous les deux expriment une vision qui n‟est pas réelle et qui appartient au royaume de l‟imaginaire. En donnant le contre-titre de Fantaisie à sa composition, Rimbaud souligne cet aspect onirique, lié à la perception d‟une scène où le sujet lyrique, un adolescent vagabond, 83

marche, heureux, dans la campagne. Nelligan, de son côté, décrit un rêve, une scène picturale, selon il s‟exprime dans le titre du poème, Rêve de Watteau: des adolescents gouailleurs, dont le poète, y composent un tableau de rêve dans leur vagabondage à travers les champs. Donc, deux scènes campagnardes représentées toutes les deux comme irréelles et relevant du domaine de la fantaisie. Le sonnet de Nelligan prétend fixer une scène champêtre, à la manière d‟un peintre qui brosse un tableau, le poète reproduisant, plus précisément, le coup de pinceau de Watteau, peintre français né en 1684, à Valenciennes, ville située près de la frontière belge, justement pas loin de l‟endroit où est censé se trouver le personnage du poème de Rimbaud, si l‟on tient compte de l‟exégèse liée à l‟interprétation de ce poème et si l‟on considère l‟oeuvre comme la transposition de la vie. Car Rimbaud, dans sa fugue d‟octobre 1870, part à pied de Charleville pour Charleroi, en Belgique, où il espère être engagé comme journaliste et traverse, dans ses déambulations, une bonne partie de la plaine belge. Bien que canadien, Nelligan, se délocalisant et se transportant très loin, en Europe, introduit ainsi dans son poème un peu de la couleur locale du poème de Rimbaud: une convergence d‟ambiance et de climat se crée de la sorte entre les deux textes. Le lien très ténu et discret entre Nelligan, la France du Nord et des Ardennes et la Belgique que l‟on vient de suggérer n‟et pas le seul moment de rapprochement entre les deux espaces francophones que l‟on puisse entrevoir dans “Rêve de Watteau”. On observe dans le dernier vers de ce poème la présence d‟un mot régional, courant dans le français du Canada et de la Belgique, mais aussi dans quelques régions de France, souper. Ce terme introduit, auprès du lecteur français, une connotation spéciale qui le transpose vers un contexte temporel et géographique différent de celui où il se trouve. Dans le même vers du poème de Nelligan, on rencontre également déjeuner et aussi bien souper que déjeuner sont employés, comme verbes, dans un sens poétique et figuré: “Nous déjeunions d‟aurore et nous soupions d‟étoiles” (v. 14). Dans les communautés francophones situées à l‟extérieur de l‟hexagone citées ci-dessus, ainsi qu‟en Suisse, souper désigne “prendre le repas du soir” et équivaut, en France, à dîner, et déjeuner signifie “prendre le repas 84

du matin, le premier repas de la journée” ou prendre le petit déjeuner (en France), la langue de la périphérie ayant conservé le vieux sens du français. En effet, l‟emploi de souper pour désigner le repas du soir est attesté depuis le Moyen Âge et se maintient en Belgique, en Suisse et au Canada, mais en France (sauf dans quelques régions) souper désigne un repas pris très tard en fin de soirée, généralement après un spectacle, déjeuner, le second repas de la journée et dîner, le repas du soir. Les raisons de cette innovation sémantique, née à Paris, s‟expliquent par l‟évolution des pratiques sociales dans la capitale où tout le système de désignation des repas subit une réorganisation, ayant comme conséquence l‟apparition du vocable petit déjeuner et l‟abandon de souper dans son acception historique initiale5. Si le poème de Nelligan se veut une représentation plastique, un tableau de la vie rustique, nous oserions dire que celui de Rimbaud constitue, avant la lettre, une prise de vue de l‟art cinématographique, une scène filmique car, à la place du pictural nelliganien, statique et instantané, nous faisons face, chez Rimbaud, à un mouvement dynamique et animé. Une divergence dans la manière d‟appréhender le thème poétique. Les deux poèmes présentent donc, nous venons de le voir, des points d‟accord et de désaccord. En regardant de plus près leur vocabulaire, nous y observons des reprises troublantes. Ainsi, le substantif qui donne le titre au poème de Rimbaud, “Ma Bohème”, réapparaît en fonction d‟épithète dans le poème de Nelligan, au premier vers du deuxième quatrain, dans la description des adolescents de son tableau, vus comme des “Bohèmes écoliers” (v. 5). En contrepartie, le substantif rêve qui compose le titre du poème de Nelligan, “Rêve de Watteau”, réapparaît à son tour sous la forme du verbe rêver dans la première strophe de Rimbaud: “que d‟amours splendides j‟ai rêvées!” (v. 4). Une convergence à partir des titres, chacun d‟eux se faisant 5

Cf. les articles SOUPER, DÉJEUNER et DÎNER du Dictionnaire historique du français québécois, publié sous la direction de Claude Poirier, par les Presses de l‟Université Laval, en 1998, et de l‟ouvrage Belgicismes. Inventaire des particularités lexicales du français de Belgique, de Willy Bal et alii, publié par Duculot, en 1994.

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source d‟inspiration lexicale pour le développement lyrique de l‟autre poète. Les premiers mots du sonnet de Rimbaud, “Je m‟en allais [...]” (v. 1), sont aussi repris par le poète québécois, dans le deuxième quatrain du sien : “Nous allions [...]” (v. 8). Il convient de souligner que le même verbe aller/s‟en aller est utilisé à l‟imparfait dans les deux poèmes, à la première personne du singulier, dans le premier cas et du pluriel, dans le second, pour traduire, respectivement, la solitude du poète et la camaraderie. Rimbaud nous fait savoir qu‟un adolescent vagabonde seul sur les routes, tandis que les “Bohèmes écoliers” peints par Nelligan errent en groupe dans la campagne. Nelligan ajoute par ailleurs à la scène d‟autres personnages, à savoir, des bergers qui rentrent de leur travail, alors que le bonheur de l‟adolescent glosé par Rimbaud, tout content de s‟évader de la sévérité de sa mère et de la vie plate qu‟il menait à Charleroi, n‟est troublé par aucune autre présence humaine; sa solitude ne fait par ailleurs qu‟augmenter son bonheur. Aussi bien dans le sonnet de Rimbaud que dans celui de Nelligan, la scène dépeinte se passe à la fin de la journée ou plutôt à la tombée de la nuit. Dans les deux poèmes on parle de soirs: “Ces bons soirs de septembre” (v. 10, Rimbaud) / “[...] aux soirs des crépuscules roux” (v. 1, Nelligan). De même, dans les deux poèmes, on retrouve le mot étoiles. Ces astres qui brillent au firmament acquièrent ici des connotations poétiques spéciales. Pour Rimbaud, ce sont des fées, dont les vêtements soyeux et luxueux produisent des froissements sonores et pour Nelligan ils constituent la nourriture spirituelle dont les jeunes ont besoin. L‟identification de Rimbaud avec ses étoiles va encore plus loin car il y habite, elles sont sa demeure et son paradis: “[...] Mon auberge était à la Grande-Ourse. / – Mes étoiles au ciel avaient un doux froufrou” (Rimbaud, v. 7, 8) / “Et parfois, radieux, dans nos palais de foin / Nous déjeunions d‟aurore et nous soupions d‟étoiles...” (Nelligan, v. 13, 14). “Rêve de Watteau” est très marqué par les couleurs, étant donné que le poème prétend reproduire le tableau d‟un peintre. Dans la première strophe, il est question de “crépuscules roux” (v. 1), de “boucs noirs” (v. 2) et de “râles d‟or des flûtes” (v. 2). Si “Ma Bohème” 86

est exempt de coloris, de teintes de toutes sortes et de nuances de couleur, les impressions auditives y abondent, de même que dans “Rêve de Watteau”. Ces impressions constituent même un élément de liaison entre les deux compositions; chez Rimbaud, le sujet lyrique “écoute” la nature et chez Nelligan, les personnages du tableau “prêtent l‟oreille” à ses bruits: “Et je les écoutais, assis au bord des routes, / Ces bons soirs de septembre [...]” (Rimbaud, v. 9, 10) / “Nous allions, gouailleurs, prêtant l‟oreille aux chutes / Des ruisseaux, [...]” (Nelligan, v. 8, 9). D‟autres sonorités s‟ajoutent aux deux poèmes, des bruits légers, fantaisistes et presque imperceptibles, pour Rimbaud, qui se sert encore du sarcasme pour pincer les cordes de sa lyre, et toute une orchestration synesthésique, pour Nelligan, qui introduit dans son univers musical des instruments champêtres, des flûtes et des pipeaux, accompagnés par les jappements d‟un chiot. D‟une part, Rimbaud évoque le frou-frou de ses étoiles, “– Mes étoiles au ciel avaient un doux frou-frou” (v. 8), et, “Comme des lyres” (v. 13), il tire “les élastiques / De ses (mes) souliers blessés, un pied près de son (mon) coeur !” (v. 13, 14). D‟autre part, Nelligan fait vibrer les “râles d‟or des flûtes” (v. 2), pour faire chanter et enchanter son paysage, où passe “en jappant / Le petit chien berger” (v. 9, 10), cet espace qui est habité par les “calmes fils de Pan / Dont le pipeau qui pleure appelle au loin.” (v. 10, 11). Cette allusion à Pan nous amène à analyser le recours à la mythologie que l‟on retrouve chez l‟un et chez l‟autre poète. Le canadien fait mention, dans le premier tercet de son sonnet, du dieu des bergers, fils d‟Hermès et d‟une nymphe, né avec les jambes, les cornes et le poil d‟un bouc et souvent représenté avec une flûte de roseau (syrinx) à la main. De son côté, le barde français, dans le premier quatrain de son poème, invoque sa Muse et se déclare son fidèle et loyal serviteur, dans une référence à Polymnie6, Muse qui présidait, dans le Parnasse, à la poésie lyrique: “J‟allais sous le ciel, Muse! et j‟étais ton 6

Dans la mythologie gréco-latine, les Muses étaient les neuf déesses qui présidaient aux arts libéraux : Calliope (Muse de l‟éloquence), Clio (de l‟histoire), Erato (de l‟élégie), Euterpe (de la musique), Melpomène (de la tragédie), Polymnie (de la poésie lyrique), Terpsichore (de la danse), Thalie (de la comédie) et Uranie (de l‟astronomie).

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féal;” (v. 3). Un rapprochement significatif entre les deux textes poétiques. Mais se nourrir de la tradition et incorporer l‟héritage du passé, ce n‟est pas le propre de l‟art et de la littérature? Ces deux allusions à l‟apport mythologique grec ajoutent un ton bucolique de type classique aux deux compositions, et ce lien n‟est pas sans intérêt pour notre démarche comparative. Nous attirons l‟attention sur un autre point qui va de pair avec la présence de ces éléments de la mythologie dans les deux poèmes. Dans “Ma Bohème”, Rimbaud introduit un terme de la langue médiévale, féal, qui signifie “fidèle à la foi jurée”, selon le Petit Robert, pour exprimer la loyauté du personnage envers sa Muse et Nelligan, dans “Rêve de Watteau”, se sert du nom pipeau, “flûte champêtre”, d‟après la définition du même dictionnaire, un nom lié à la langue des paysans. Aussi bien féal que pipeau appartiennent à des niveaux de langue spécifiques, s‟appliquant, le premier, à une société de type féodal et le deuxième, à un objet propre au système de vie rural, en opposition à ceux de la vie citadine. Donc, nos deux poètes ont senti le besoin, l‟un et l‟autre, d‟ajouter aux données de la culture grecque des éléments linguistiques à valeur variationnelle, diachronique pour Rimbaud (variation à caractère temporel) et diastratique pour Nelligan (variation liée aux strates sociaux), afin d‟affirmer un climat propice à la réception de l‟apport gréco-latin dans la poésie française de la deuxième moitié du XIXe siècle. Affirmation, chez les deux poètes, d‟une écriture marquée par la tradition et la continuité. Il convient maintenant d‟examiner les personnages centraux des deux poèmes, afin de déceler les sentiments qui les dominent et d‟essayer de percevoir si l‟on peut établir un rapprochement entre eux. Nous constatons que l‟opposition pauvreté / bonheur est fondamentale, dans ces deux poèmes, pour caractériser les sujets lyriques. De façon bien plus évidente, il est vrai, chez Rimbaud qui, dès le début du sonnet, insiste sur la pauvreté du personnage, visible spécialement à travers la description de l‟état de ses vêtements: “Je m‟en allais, les poings dans mes poches crevées;” (v. 1); “Mon paletot aussi devenait idéal” (v. 2); “Mon unique culotte avait un large trou” (v. 5). 88

Ce dénuement n‟interdit cependant pas le bonheur de l‟adolescent et tout le sonnet devient un hymne à la joie: il est libre; il est heureux; il vagabonde sur les routes et la nature, le silence et la marche éveillent en lui des sensations et des pulsions de toutes sortes, l‟amour, la poésie, l‟enthousiasme: “Oh! là là! que d‟amours splendides j‟ai rêvées !” (v. 4); “– Petit-Poucet rêveur, j‟égrenais dans ma course / Des rimes.” (v. 6, 7) ; “[...] je sentais des gouttes / De rosée à mon front, comme un vin de vigueur;” (v. 10, 11)... Les soucis de Nelligan, au début de son sonnet, portent plutôt sur la composition de son tableau champêtre et tout le premier quatrain est consacré à décrire les bergers qui rentrent de leur travail, à la fin de la journée: Quand les pastours, aux soirs des crépuscules roux Menant leurs grands boucs noirs aux râles d‟or des flûtes Vers le hameau natal, de par delà les buttes, S‟en revenaient, le long des champs piqués de houx; (NELLIGAN. Rêve de Watteau, strophe 1).

Ce n‟est que dans le deuxième quatrain que le poète introduit dans la scène ce groupe de “Bohémiens écoliers” (v. 5) qui, insouciants et gais, profitent de la douceur de la nature et s‟en vont “gouailleurs” (v. 8) par les champs, en écoutant le bruit des ruisseaux et des chutes d‟eau. Il y a un passage du descriptif au narratif, sans qu‟il y ait pour autant dans l‟expression un abandon du suggestif et de l‟émotionnel propres à l‟univers de la poésie. C‟est que, chez Nelligan, le but qu‟il se fixe ne constitue jamais qu‟un point de départ provisoire de son discours poétique et que, après le coup d‟envoi initial, celui-ci emprunte d‟autres voies et effectue d‟autres parcours. Jocelyne Felx le dit, très judicieusement: “Aussi, la pensée reste-t-elle chez lui à l‟état naissant, condamnée à l‟adolescence: il ne lui laisse pas le temps de se développer, de mûrir”7. Voilà une marque significative de l‟écriture poétique de Nelligan, la quête continuelle d‟une trajectoire à suivre. 7

Cf. p. 8 de La forme a valeur d‟or. In : NELLIGAN, Émile. Poèmes choisis. Le récital de l‟ange. Saint-Hippolyte (Québec): Éditions du Noroît, 1977, p. 5-24.

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Cette écriture ne suit pas un plan préétabli; fluide comme l‟eau, elle glisse sans cesse vers de nouveaux espaces et, dès qu‟une crevasse s‟annonce où que Schéhérazade s‟insinue dans un détour, elle s‟échappe des chemins battus. Sa vocation est de se transformer et de se rénover, sans qu‟il y ait un approfondissement ou un mûrissement. Une écriture aux aguets et à la recherche du renouveau. Au début de son poème “Rêve de Watteau”, on observe une certaine retenue dans l‟affichage des sentiments intérieurs, étant donné que les “Bohèmes écoliers” se présentent comme n‟ayant pas un vécu riche en expériences (“[...] âmes vierges de luttes, / Pleines de blanc naguère et de jours sans courroux” – v. 5, 6) et ce n‟est qu‟à la fin du poème, au deuxième tercet, que le poète oppose le bonheur des adolescents à leur pauvreté, au moyen de représentations esthétiques fortes, un oxymore et le recours à des images cosmiques: “Et parfois, radieux, dans nos palais de foin, / Nous déjeunions d‟aurore et nous soupions d‟étoiles...” (v. 13, 14). Focalisons maintenant le plan de composition des deux poèmes, afin d‟examiner leur conclusion et mieux apprécier la manière dont s‟orchestre la finale des deux textes poétiques. Rimbaud parcourt, au fil des quatorze vers de son sonnet, un chemin thématique plus restreint car, le long du poème, il s‟attache à sa vision initiale, quoique celle-ci soit continuellement renouvelée et approfondie, tandis que le regard de Nelligan, comme s‟il provenait des hauteurs suprêmes, trace un itinéraire plus vaste, toujours en quête de nouveaux espaces. La voix du poète canadien atteint, à la fin de la compositon, des dimensions cosmiques, alors que, chez le poète français, pour clore son sonnet, son discours tourne à l‟ironie et atteint une sorte de sarcasme envers la personne même du poète. Dans “Ma Bohème”, un jeune garçon marche dans la campagne, habillé pauvrement, en pensant à sa Muse et en faisant des rêves d‟amour (premier quatrain); il se voit comme un Petit-Poucet qui fait des rimes et se sent proche du ciel étoilé, qui lui sert de logement (deuxième quatrain); c‟est le mois de septembre et il se confond avec la nature, qui le revigore par la présence de la rosée sur son front (premier tercet). Au second tercet, le poète nous montre qu‟il n‟est pas dupe de 90

son illusion et qu‟il sait que son aventure poétique est une fantaisie: nouvel Orphée, il tire les élastiques de ses souliers, devenus des lyres, en mettant un pied près de son coeur. Un point d‟exclamation souligne et accentue sa dérision: Où rimant au milieu des ombres fantastiques, Comme des lyres, je tirais les élastiques De mes souliers blessés, un pied près de mon coeur ! (RIMBAUD. Ma Bohème (Fantaisie), 2e tercet).

Dans « Rêve de Watteau », des bergers rentrent le soir chez eux, en menant leur troupeau au son de leurs flûtes (premier quatrain); l‟attention du poète se tourne ensuite vers un groupe d‟écoliers qui marchent dans les bois, bohèmes, insouciants et l‟esprit innocent (deuxième quatrain); un petit chien suit un val et l‟on entend le pipeau des bergers qui l‟appelle au loin (premier tercet). Au dernier tercet, Nelligan revient au groupe d‟écoliers, pour exprimer, après la fatigue de la marche, leurs joies et leurs rêves. Dans leurs palais de foin (oxymore), ces jeunes se pâment d‟admiration à contempler la nature. À se rapprocher du monde et de l‟univers. Des points de suspension soulignent l‟aposiopèse traduisant le ravissement qui envahit le sujet lyrique : Puis, las, nous nous couchions, frissonnants jusqu‟aux moelles, Et parfois, radieux, dans nos palais de foin, Nous déjeunions d‟aurore et nous couchions d‟étoiles... (NELLIGAN. Rêve de Watteau, 2e tercet).

Nelligan ne rejoint-il pas ici en force Rimbaud? Et les écoliers de Nelligan ne rejoignent-ils pas l‟adolescent de Rimbaud qui, pauvre et heureux, s‟en allait par les chemins en rêvant de percer les mystères du cosmos et de se rapprocher de l‟infini? Et qui passait en fredonnant: [...] Mon auberge était à la Grande-Ourse. – Mes étoiles au ciel avaient un doux frou-frou. (RIMBAUD. Ma Bohème (Fantaisie), v. 7, 8).

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Ces gamins étaient des frères. Le Petit-Poucet, de Rimbaud, et les écoliers gouailleurs, de Nelligan, sont donc de la même famille, bien que leurs créateurs aient vécu l‟un à l‟est et l‟autre à l‟ouest de l‟Océan Atlantique. Nous croyons ainsi que Rimbaud et Nelligan méritent bien d‟être mis en parallèle. REFERENCES BIBLIOGRAPHIQUES BAL, Willy et al. Belgicismes. Inventaire des particularités lexicales du français en Belgique. Louvain-la-Neuve: Duculot, 1994. FELX, Jocelyne. La forme a valeur d‟or. In : NELLIGAN, Émile. Poèmes choisis. Le récital de l‟ange. Saint-Hippolyte (Québec): Éditions du Noroît, 1997. JEANCOLAS, Claude. Rimbaud. L‟oeuvre. Paris: Éditions Textuel, 2000. NELLIGAN, Émile. Poésies complètes (1894-1941). Nouvelle édition entièrement refondue d‟après l‟édition critique de 1991, préparée par Réjean Robidoux et Paul Wyczynski, professeurs à l‟Université d‟Ottawa. Montréal: Bibliothèque Québécoise, 1992. NOUVEAU PETIT ROBERT. Dictionnaire alphabétique et analogique de la langue française. Paris: Paul Robert, 1994. PEREYR, Roberval. A unidade primordial da lírica moderna. Feira de Santana: UEFS / Universidade Estadual de Feira de Santana, 2000. POIRIER, Claude (Org.). Dictionnaire historique du français québécois. Sainte-Foy: Les Presses de l‟Université Laval, 1998. RIMBAUD. Poésies. Préface, commentaires et notes par Daniel Leuwers. Paris: Librairie Générale Française, 1984. SCHEINOWITZ, Celina. D‟une passante l‟autre: Baudelaire et Nelligan en dialogue. Canadart XIV, Revista do Núcleo de Estudos Canadenses, Universidade do Estado da Bahia, v. 14, jan./dez. 2007. Sous presse. STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969. Tradução de Celeste Aída Galeão. 92

ANEXOS MA BOHÈME (FANTAISIE) Je m‟en allais, les poings dans mes poches crevées; Mon paletot aussi devenait idéal; J‟allais sous le ciel, Muse! et j‟étais ton féal; Oh! là là! que d‟amours splendides j‟ai rêvées! Mon unique culotte avait un large trou. – Petit-Poucet rêveur, j‟égrenais dans ma course Des rimes. Mon auberge était à la Grande-Ourse. – Mes étoiles au ciel avaient un doux frou-frou Et je les écoutais, assis au bord des routes, Ces bons soirs de septembre où je sentais des gouttes De rosée à mon front, comme un vin de vigueur; Où, rimant au milieu des ombres fantastiques, Comme des lyres, je tirais les élastiques De mes souliers blessés, un pied près de mon coeur! (RIMBAUD. Poésies, p. 55).

RÊVE DE WATTEAU Quand les pastours, aux soirs des crépuscules roux Menant leurs grands boucs noirs aux râles d‟or des flûtes, Vers le hameau natal, de par delà les buttes, S‟en revenaient, le long des champs piqués de houx; Bohèmes écoliers, âmes vierges de luttes, Pleines de blanc naguère et de jours sans courroux, En rupture d‟étude, aux bois jonchés de brous Nous allions, gouailleurs, prêtant l‟oreille aux chutes

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Des ruisseaux, dans le val que longeait en jappant Le petit chien berger des calmes fils de Pan Dont le pipeau qui pleure appelle, tout au loin. Puis, nous nous couchions, frissonnants juqu‟aux moelles, Et parfois, radieux, dans nos palais de foin, Nous déjeunions d‟aurore et nous soupions d‟étoiles... (NELLIGAN. Poésies complètes, p. 64).

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LA JUSTICE ADMINISTRATIVE LIBANAISE FACE AUX ENJEUX DE LA MODERNITE ET DE LA CITOYENNETE Georges Saad (Université Libanaise) Le titre que j‟ai choisi pour mon intervention « la justice administrative face aux enjeux de la modernité et de la citoyenneté » paraît hors sujet si l‟on regarde étroitement le titre du séminaire « Sociétés plurielles, sociétés inclusives : Citoyenneté, modernité, globalisation ». Je ne traiterai pas du Liban en tant que terroir des sociétés plurielles et inclusives et dieu sait combien ce sujet trouve à dire et redire sur la question. Ma contribution serait plus modeste et plus proche de mes préoccupations académiques. J‟essaierai d‟analyser comment, à travers les décisions du juge administratif libanais, ce dernier approche ces deux concepts que sont la citoyenneté et la modernité. En effet le passage du communautarisme à l‟individualisme prend une forme originale et spécifique à la société libanaise. Quant au drame du déracinement il peut être analysé mais dans une perspective sociologique concernant le problème des réfugiés palestiniens au Liban. Malgré la juste démarche du séminaire de resignifier des notions et des concepts jusqu‟alors vus comme dichotomiques comme Orient et Occident, raison et émotion, tradition et modernisation, local et global, nous pensons qu‟au contraire l‟analyse de la situation libanaise est décevante à cet égard. C‟est que les décisions du juge libanais confirment en général cette dichotomie. Notre critère reste le droit français qui a tant inspiré et inspirera le droit libanais et la jurisprudence libanaise. Je ne vais pas jusqu‟à dire que la France incarne l‟Occident, la raison, la modernisation et le global.. Et que le Liban incarne l‟Orient, l‟émotion, la tradition et le local. Je tenterai de justifier, à travers une définition de la citoyenneté et la modernité, pourquoi je défends la thèse selon laquelle cette dichotomie existe bel et bien en droit libanais (deuxième partie), après avoir dressé, à travers quelques cas jurisprudentiels, un état des lieux de cette jurisprudence et ses malaises (première partie). 95

PREMIERE PARTIE : LA MODERNITE ET LA CITOYENNETE DANS LA JURISPRUDENCE ADMINISTRATIVE LIBANAISE Première section : modernité et citoyenneté, deux concepts ambiguës A - Un débat actuel Le débat fait rage de nos jours pour essayer de comprendre la notion moderne de la modernité et de la citoyenneté, ou plutôt la notion de « citoyen moderne ». Certes l‟évolution va dans le sens d‟une plus grande reconnaissance des droits du citoyen. Avec les nouveaux moyens de communication le citoyen ne peut plus être caché, comme on ne peut plus cacher tous ces grands moyens technologiques qui révolutionnent la communication et les rapports entre les gens. Comme le dit le proverbe arabe : « qui creuse un fossé à son frère y succombe ». Le citoyen est désormais là, exigeant, demandeur. Le citoyen moderne et malgré sa marginalisation par la mondialisation veut des droits appliqués effectivement, une hiérarchie des normes respectées, et une justice (administrative notamment) consciente de l‟évolution des idées en ce début du vingt et unième siècle. Le multiculturalisme s‟est imposé sous l‟effet de la globalisation et devant le spectacle de la dstructuration de la narration nationale. Les sociétés deviennent plus plurielles et le désir de l‟harmonisation encore plus fort. Quel paradoxe ! Le juge administratif peut jouer un rôle important à cet égard. La société libanaise est une société plurielle par excellence : communautés religieuses, activités associatives très fortes de nos jours (2007), appartenances idéologiques diverses et contradictoires (nationalisme arabe, libanais, pro-américains, prosyriens). La société libanaise veut être moderne. Cette aspiration est perceptible à travers l‟histoire du Liban, l‟œuvre des Libanais, l‟occidentalisation, la francisation, l‟aspiration à plus de libertés publiques. Dans la présente communication je me tiens à la conception classique de la modernité, c‟est-à-dire j‟évite délibérément le débat 96

tracassant sur la post-modernité. Je me tiens à la conception, naïve dans l‟apparence, d‟une modernité universelle et abstraite. Il y a un besoin pressant de ré-humaniser l‟espace civique et civil où nous vivons. Contemplant la société libanaise on ne peut que constater deux choses contradictoires, mais dialectiquement liées : d‟une part, une société évoluée dans ses normes juridiques comme dans les désirs de ses citoyens ; d‟autre part une situation cruelle au niveau de la relation citoyen-justice (le citoyen libanais pense mal d‟une justice onéreuse et dont il doute de son indépendance). Les pouvoirs publics ont en effet désubstantialisé les droits civils et sociaux (Giorgio Agamben) en Orient et en Occident tel qu‟on ne sait plus ce que les notions de « bien public » et « ordre public » veulent bien dire. La politique ne doit pas tuer le politique. Le citoyen moderne libéral du plan T.H.Marshall est-il mort ? Depuis 1948 il peine à exister : exclusion de classes entières, de femmes, famine, mauvais fonctionnement des mécanismes de la représentation sociale. Le capitalisme sauvage et la mondialisation en sont en partie responsables. Le citoyen moderne international ou post-national (de l‟après mondialisation) se heurte aux mêmes problèmes, sinon à de plus graves. Pierre Legendre évoque son souci de la transformation du politique en raison ultra-managériale. Pour Habermas l‟État-Nation, fortement soumis aux pressions du multiculturalisme et de la globalisation, doit reconnaître des principes politiques universalistes et la déconnexion entre citoyenneté et nationalité. Pour le grand philosophe on doit atteindre la démocratie en misant sur les règles procédurales du patriotisme constitutionnel, sur le droit des gens au niveau international et sur l‟articulation entre le national et l‟international, grâce à une éthique de la discussion, au consensus raisonné et au refus de la violence. Toute démarche qui étudie la justice devrait partir de ces bases. Où est-ce que diffère le citoyen moderne de nos jours du citoyen d‟il y a deux millénaires. Platon ne voulait entendre parler de citoyen. C‟est Aristote qui en a ouvert la discussion : « Un citoyen au sens absolu ne se définit par aucun autre caractère plus adéquat que par la 97

participation aux fonctions judiciaires et aux fonctions publiques en général. » (Aristote, III, 1). Mais la citoyenneté était impossible « pour ceux qui n‟ont pas assez de loisirs et qui ne peuvent comprendre les problèmes politiques, pour ceux dont l‟occupation est routinière. Les femmes n‟y ont pas accès car leur vraie place se trouve à la maison et non dans l‟agora ». Au XIXe et XXe siècle il y a eu extension de la citoyenneté formelle grâce à la révolution des droits humains. Après tout, qu‟est-ce la Révolution française sinon l‟expression avancée de cette idée de participation des hommes aux affaires de la société : concours personnel des citoyens à la formation de la loi, expression de la volonté générale. Le citoyen a tout maintenant, en théorie. Mais à y chercher en profondeur l‟avancée est minime. Tant que subsiste la distinction entre vie économique et vie politique, entre vie privée et vie publique il y a aliénation et une société divisée en classes (Marx). Pour Marx le citoyen moderne n‟existe que dans le cadre d‟une forme socialiste d‟autogestion industrielle et sociale « qui réconcilierait l‟idéal grec de la participation avec l‟aspiration moderne à l‟individualité et au bien-être économique »1. D‟autres problèmes se poseront : comment concilier l‟universalisme annoncé de la représentation politique et la prise en compte des attentes particulières de telle ou telle collectivité ou minorité2. Le citoyen moderne c‟est, ni plus ni moins, le même citoyen aristotélicien avec quelques surplus d‟exigence : l‟idée centrale reste celle de la participation. La nouveauté consiste en ce que le citoyen de nos jours participe non plus seulement pour élire les représentants de la volonté générale mais aussi au sein des entreprises, des écoles (parents d‟élèves), syndicats, associations. Le citoyen moderne va un peu plus loin sur le chemin de la démocratie directe. Ce qui toutefois doit nous pousser à garder la modestie c‟est que la tension n‟a jamais cessé entre le local et le global, les classes sociales et le capital, l‟égalité et la liberté, la tyrannie de la majorité et les droits 1 2

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Dictionnaire de la pensée politique, op. cit. Technopolis (Crises urbaines et innovations municipales), Jean-Pierre GAUDIN, Presses Universitaires de France, 1989, 168 p.

des minorités. Tout cela fait que l‟avancée est uniquement formelle tout en reconnaissant les pas réalisés sur un plan fondamental selon les pays et les époques (avancée de l‟effectivité des droits humains en Europe occidentale, liberté d‟expression, le système de votation). B - Et le juge devant tout cela ? D‟un fonctionnaire docile le juge serait devenu à l‟époque moderne un homme indépendant qui applique la loi. A quel point cette révolution s‟est-elle produite ? L‟on sait les réalisations d‟un juge administratif qui exerce sur les autorités publiques un contrôle de plus en plus efficace. On connaît aussi les limites d‟une telle audace. Une bonne citoyenneté c‟est un bon juge, un juge qui applique la loi et qui l‟interprète dans un sens citoyen, c‟est-à-dire plus respectueux des droits des citoyens. Le juge administratif libanais a suivi cette évolution dans la mesure du possible, par mimétisme des avancées réalisées par le juge français. Le juge des citoyens modernes doit assurer à ces derniers leur droit à la communication des dossiers administratifs, à l‟exécution des décisions juridictionnelles, à la liberté d‟expression, au droit de manifester, de constituer des associations, à l‟égalité devant les services publics. Parallèlement et réciproquement, le juge administratif ne peut évoluer sans les avancées réalisées par un juge constitutionnel, protecteur des droits et des libertés des citoyens. En droit français, droit fondateur du droit libanais, le Conseil constitutionnel s‟est érigé en protecteur des droits et libertés des citoyens et en garant de l‟Etat de droit3. 3

Et ce depuis sa décision fondatrice du 16 juillet 1971, qui a consacré la valeur constitutionnelle du préambule de la Constitution de 1958, lequel renvoie au préambule de la Constitution de 1946 et à la Déclaration des droits de l'homme et du citoyen de 1789. Le juge constitutionnel libanais a lui aussi suivi le juge français dans sa reconnaissance de la valeur constitutionnelle du préambule : voir notre étude « La réception des droits de l‟homme en droit administratif libanais », in Feuilles universitaires (Ed. Ligue des professeurs de l‟université libanaise), n° 22, 2001, p. 91.

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Le Conseil constitutionnel a étendu en effet le bloc de constitutionnalité : renvoi à la Déclaration des droits de l‟homme et du citoyen (DDHC) dans la décision dite « taxation d‟office » du 27 décembre 1973 (relative au principe d‟égalité), et par suite tous les droits et libertés énoncés dans cette déclaration comme la liberté d‟expression, l‟égalité de tous devant la loi, devant les emplois publics, devant l‟impôt, la non-rétroactivité des lois pénales, la proportionnalité des peines, ou encore la propriété « droit inviolable et sacré » ; la consécration de la valeur des principes fondamentaux reconnus par les lois de la République énoncés dans le préambule de la constitution française de 1946 : liberté d‟association, liberté d‟enseignement et de conscience, l‟indépendance des professeurs d‟universités ou encore le respect des droits de la défense ; l‟application des principes politiques, économiques et sociaux particulièrement nécessaires à notre temps, énoncés et énumérés dans le préambule de la Constitution de 1946 (égalité homme-femme, droit d‟asile, liberté syndicale, droit de grève ou même le droit à l‟emploi. Sans oublier les principes dénommés principes à valeur constitutionnelle sans autre précision, comme la continuité de l'Etat et du service public (décision du Conseil constitutionnel libanais n°1/1997) ou la dignité humaine (arrêt Morsang-sur-Orge du Conseil d‟Etat français). C - Difficultés Mais devant le juge administratif ou le juge constitutionnel le problème reste entier lorsqu‟il s‟agit de devoir concilier plusieurs libertés contradictoires ou des libertés et des devoirs (liberté d‟aller et de venir et devoir de maintenir l‟ordre public). Comment appliquer une telle liberté dans un pays comme le Liban vivant dans un équilibre communautaire fragile ? Comment pouvoir appliquer un tel idéal aux réfugiés palestiniens ? Comment concilier liberté et sécurité, propriété et droit au logement, droit à la vie et liberté de la femme de disposer de son corps, etc. ? Surtout que ni le juge administratif ni le juge constitutionnel n‟admettent de hiérarchie formelle entre les droits et libertés des citoyens. 100

Ce coup d‟œil que nous avons jeté sur la notion de modernité et de citoyenneté nous convainc que dorénavant, au vingt-et-unième siècle, l‟on doit composer avec ces nouvelles conceptions. La modernité et le citoyen moderne deviennent une réalité qui s‟impose. Lorsque le téléphone mobile commençait à se répandre je me rappelle avoir dit que « jamais vous me verrez avec un cellulaire qui sonnerait et qui dérange ». Je regrette d‟avoir été si simpliste pour ne pas dire davantage. Je ne peux plus me passer du cellulaire. On ne peut plus faire « la belle au bois dormant replonger dans son sommeil à grand renfort de somnifères »4. Comme en matière de technologie, en droit aussi, le juge et les juristes doivent comprendre que leur immobilisme c‟est du « faux confort »5. Philippe Messine dit qu‟ « autour de nous les trains accélèrent : le changement technologique, le tourbillon des cultures, les relations internationales6. Refuser le changement, c‟est le suicide par le froid, c‟est se laisser doucement couler à pic. La noyade pourrait être lente et presque indolore, mais elle serait inéluctable »7. La même équation s‟applique aux juristes : ou bien moderniser les lois, les jugements et les interprétations au rythme des courriels (e-mails) ou c‟est la noyade. Nous verrons que le juge administratif libanais en est conscient qui tente, à travers des décisions récentes, d‟éviter la noyade. C‟est ce que démontrera cette deuxième section. Deuxième section : modernité et citoyenneté dans les décisions du juge administratif libanais Nous nous arrêtons dans cette section devant certaines stations jurisprudentielles pour tenter de dégager la position du juge administratif libanais à l‟égard de quelques questions de citoyenneté : le retrait des 4 5 6

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Philippe Messine, « Liberté, égalité, modernité », Editions La Découverte, 1985, p. 7. François Mitterand a utilisé cette expression pour décrire la société française. Qui n‟a pas remarqué durant la dernière guerre au Liban qui s‟est déclenchée le 12 juillet 2006 que la technologie a le dernier mot dans une grande mesure. Ce qui ne veut pas dire qu‟on doit succomber à la course folle aux armements. Philippe Messine, op. cit, p. 7.

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actes administratifs, le droit de constituer des associations, responsabilité de l‟administration, etc. A - Le retrait des actes administratifs : « affaire de la naturalisation ‫» قضية التجنيس‬ Dans une décision du Conseil d‟Etat libanais « al Rabita al Marounya » (la ligue maronite) du 7/5/2003 la ligue maronite avait présenté une requête le 26/8/1004 contre le décret de naturalisation du 20/6/1994 afin de retirer les décrets de naturalisation ayant accordé la nationalité libanaise à certaines personnes de manière injuste8. Cette décision pose la question de la possibilité de retrait de la nationalité (libanaise) en cas de fraude. En matière de citoyenneté la nationalité est le « Lien » par excellence. Une question de vie ou de mort à traiter avec prudence dans un Etat de droit. Devenir citoyen c‟est acquérir des droits et devoir assumer des devoirs. C‟est l‟adhésion à une patrie, l‟appartenance entière morale et matérielle à une communauté d‟esprit et l‟appropriation d‟une histoire. Un citoyen moderne a le droit d‟exiger que l‟administration et la justice traitent de la manière la plus sérieuse les dossiers de naturalisation. Dans « al Rabita al Marounya » se posa la question suivante : qu‟adviendra-t-il des décrets de naturalisation entachés de fraude ? La règle jurisprudentielle veut que le retrait soit toujours possible puisqu‟il s‟agit dans ce cas d‟un acte nul et non avenu et donc pour lequel le délai ne court jamais. Mais en contrepartie le comportement citoyen de l‟Etat devrait être conforme à un « code moral moderne » qui exige que ces dossiers soient traités avec respect. Très brièvement cette décision a posé l‟interrogation suivante : même en cas de fraude et malgré les règles jurisprudentielles en vigueur 8

Voir notre note sur cette décision dans Revue al Adl, revue du barreau libanais, 2003, numéros 2 et 3, p. 41. Cette décision a été rendue neuf ans après la date du décret de naturalisation. Mais le Conseil d‟Etat ne se prononce pas sur le retrait ou pas des décrets de naturalisation mais confie de nouveau au ministère de l‟intérieur le soin de revérifier les dossiers, ce qui permettra au Conseil d‟Etat de retirer les décrets de naturalisation obtenus par la fraude.

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l‟administration a-t-elle le droit de « prendre son temps ». Nous sommes en 2006 et toujours sans suite de cette décision, c‟est-à-dire toujours en attente des résultats des enquêtes du ministère de l‟intérieur et donc sans décision juridictionnelle. Douze ans après l‟acquisition supposée de la nationalité libanaise, un particulier ne sait pas s‟il est ou non citoyen libanais. Comme vont les choses, la décision définitive ne sera pas rendue avant plusieurs années si tant est qu‟elle sera rendue un jour. C‟est ce que nous nous permettons d‟appeler un comportement non citoyen et non moderne. C‟est le problème du retard flagrant dans le traitement des dossiers administratifs et de justice. Le retrait des actes administratifs est une sanction sévère, c‟est pourquoi l‟administration ne peut retirer un acte que durant le délai de deux mois. De même le particulier qui recourt à la fraude pour obtenir des droits est lui aussi sanctionné sévèrement puisque le délai de recours ne s‟arrête pas contre les actes ayant accordé des droits par la fraude. Mais là aussi, le comportement citoyen du service de la justice doit respecter un délai raisonnable. Est-il possible de retirer la nationalité libanaise de celui qui a poursuivi ses études en tant que libanais et qui s‟est marié en cette qualité ? Le manquement à l‟obligation pour le service public de la justice de rendre les décisions dans un délai raisonnable n‟est-il pas capable de rendre inefficace une règle juridique ? Agissant de la sorte nous pensons que l‟Etat, le service public de la justice manquent à leur devoir de respect des citoyens. B - Avancée libanaise dans les décisions sur la responsabilité administrative Le juge administratif libanais a réalisé une avancée importante sur le chemin de la responsabilisation de l‟administration. Très tôt il s‟est engagé à indemniser les citoyens endommagés par des actes commis par l‟administration. En droit libanais et jusqu‟à 1924 c‟est la règle de la non responsabilité de l‟administration publique qui régnait car on appliquait les lois ottomanes et notamment les dispositions d‟« al Mejalla » qui ne contenait pas de textes sur la responsabilité administrative. Le 24 avril 1927 le jeune Conseil d‟Etat libanais rendit sa première 103

décision « Vincent Dayé » par laquelle il imposa à l‟administration l‟indemnisation du requérant qui a été endommagé suite à la chute d‟un mur sur sa voiture. Le Conseil d‟Etat libanais continua dans son parcours de responsabilisation de l‟administration, suivant par là avec un certain mimétisme le juge français mais avec beaucoup de différenciation comme nous allons le voir. Dans certaines récentes décisions la responsabilisation est surprenante : citons l‟arrêt « Marcel Boutros ‫مرسيل‬ ‫»بطرس‬9. Dans cette affaire Monsieur Boutros qui possédait une galerie de meubles réclamait indemnisation pour les dommages subis par lui à cause des barricades levées par les autorités publiques devant le palais gouvernemental (siège du conseil des ministres) afin de protéger le premier ministre. Le Conseil d‟Etat décida l‟indemnisation du requérant sur la base du principe de l‟égalité des citoyens devant les charges publiques, ce qui veut dire que pour le Conseil le dommage fut exceptionnel et spécial10. De même, à titre d‟exemple, dans « Saleh Solh »11 le Conseil trouva que l‟Etat a manqué à son devoir de nettoyer les terrains des mines laissées après des entraînements de l‟armée, ce qui causé l‟amputation du bras du requérant. Sont nombreuses les décisions du Conseil d‟Etat libanais qui déclarent l‟Etat responsable pour faute : en cas de circonstances exceptionnelles la voie de fait est jugée par le juge administratif et l‟Etat doit indemniser le requérant dont l‟armée a occupé les bureaux durant la guerre (arrêt « Akef Haidar »). C - Le droit de constitution des associations Le droit de constituer des associations pose le problème de la liberté d‟expression. La constitution libanaise reconnaît cette liberté fondamentale de manière qui ne prête à aucune ambiguïté : La liberté 9 10 11

Du 7/7/1998, Majallat al qada al idari, p. 617. Important de signaler que l‟indemnité décidée dans cette décision fut considérable. Majallat al qada al Idari, 1988, tome 1, p. 45.

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d‟exprimer sa pensée par la parole ou par la plume, la liberté de presse, la liberté de réunion et la liberté d‟association sont également garanties dans les limites fixées par la loi (article 13). Or la liberté de constituer des associations a été ignorée suite à une pratique gouvernementale, née durant la guerre libanaise, qui a consiste à ajouter des exigences ayant transformé le droit de constituer des associations sur simple dépôt de dossier en un droit soumis à autorisation préalable. Mais fort heureusement une décision juridictionnelle administrative « citoyenne et moderne » par excellence a été rendue par le Conseil d‟Etat qui a corrigé la situation en donnant une interprétation juste des textes et en accordant aux citoyens le droit de constituer des associations sur simple dépôt de dossier12. Il s‟agissait d‟une requête présentée par ladite association tendant à annuler la décision du ministre de l‟intérieur13 qui impose aux associations de respecter certaines conditions jugées par l‟association non conformes à la loi libanaise sur les associations. En effet selon la loi les citoyens libanais ont le droit de constituer des associations sur simple dépôt de dossier déclarant le but de l‟association et ses activités (non lucratifs), ainsi que les noms des membres fondateurs et le siège social. Or les autorités publiques ont ajouté des conditions qui s‟apparentent à une autorisation préalable : l‟envoi du dossier au ministère de l‟intérieur, ministère de la santé, demande de renseignement sur les dossiers personnels des membres fondateurs de l‟association, etc. L‟attente se faisait longue parfois (des années) pour apprendre que le dossier a été classé. Cette décision prise par le juge administratif libanais remet les pendules à l‟heure et sanctionne les abus répressifs pratiqués par les autorités publiques. La décision du ministre de l‟intérieur portait le nom de « communiqué ». En principe la juridiction administrative refuse de recevoir des requêtes contre des communiqués, qui ne sont pas considérés comme des décisions exécutoires. Le juge libanais dans cette 12 13

CEL, “Jamyat al difaa an alhoqouq wal Hourriat” (Association de défense des droits et des libertés), 18/11/2003. Du 16/1/1996.

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affaire fait preuve de respect de la citoyenneté en proclamant que ce communiqué est en réalité une véritable décision exécutoire et donc la requête devrait être recevable. Sur le fond l‟association estime que la décision du ministre est illégale puisqu‟elle est contraire à l‟article 13 de la constitution libanaise (liberté d‟expression) et contre le pacte international relatif aux droits civils et politiques (article 2) adopté par le Liban14, ainsi que les articles 2, 6 et 8 de la loi sur les associations15. Une autre question intéresse la liberté des citoyens : c‟est le libre consentement et la liberté contractuelle. La partie requérante invoque ce principe qui a rapport direct avec le fondement juridique des Républiques et des Etats de droit, à savoir la liberté contractuelle des citoyens, pourvu que cette liberté ne nuise pas à l‟ordre public. C‟est que les autorités publiques exigeaient aussi de l‟informer avant la tenue des réunions des associations. Or rien dans les textes ne formule cette exigence. Il s‟agit donc d‟une violation de l‟article 166 du code des contrats et des obligations qui consacre la liberté contractuelle. Autre question relevée dans cette affaire et qui concerne le respect de la citoyenneté moderne : c‟est le regard large et ouvert sur la qualité d‟agir en justice. L‟on sait que plus les sociétés deviennent démocratiques, plus nombreuses deviennent les possibilités d‟agir en justice. La loi exige un intérêt direct, personnel et légitime. L‟évolution a touché le sens de ces mots. Aux yeux de l‟Etat l‟association en question n‟a pas la qualité d‟agir puisqu‟elle n‟a pas encore rempli les conditions qui en font une véritable association. Le Conseil d‟Etat, en désaccord avec l‟Etat, a estimé que cette association, étant constituée par le simple dépôt de dossier jouit donc en cette qualité de l‟intérêt à agir en justice. Il est important de signaler ici l‟évolution acquise en France à cet égard : citons un arrêt relativement ancien par lequel le Conseil d‟Etat a estimé que le particulier amoureux des campings a 14 15

Le 1/9/1972. Notamment l‟article 2 qui stipule: « la constitution des associations n‟exige pas l‟obtention d‟une autorisation ; il faut seulement en informer les autorités publiques ».

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qualité d‟agir pour présenter une requête contre une décision municipale interdisant le camping dans un village auquel ce particulier n‟appartient pas16. En un mot cette décision “Jamyat al difaa an alhoqouq wal Hourriat” (Association de défense des droits et des libertés) du 18/11/2003 est une décision qui renoue avec la tradition de démocratie (formelle, nous nous empressons de dire) au pays du cèdre, ainsi qu‟avec la tradition de conformisme à la jurisprudence française, d‟aucuns diront « mimétisme anarchique du juge français »17. En effet cet arrêt se place dans le cheminement droit du fameux arrêt « De Beauvoir » du Tribunal administratif de Paris du 25/1/1971 par lequel le juge français affirme que la constitution des associations est libre, puisque soumis au concept de dépôt de dossier et non à celui de l‟autorisation préalable ; et ce malgré l‟absence du principe de la liberté de constitution des associations dans la constitution française, alors que ce principe existe dans la constitution libanaise (article 13). DEUXIEME PARTIE : PERSISTANCE DE LA DICHOTOMIE Première section : Les décisions critiques A - La responsabilité administrative Le respect de la citoyenneté moderne exige la réparation des particuliers ayant subi des préjudices du fait des actes de l‟administration. L‟arrêt français « Blanco » du Tribunal des conflits du 8 février 1873 est venu semer cette étonnante graine pour l‟époque d‟alors : l‟Etat est responsable de ses actes. Le juge administratif libanais a suivi la jurisprudence française dans cette matière ; mais c‟est 16 17

CEF, “Abisset”, 14 février 1958, Lebon, 98. Voir notre contribution : « Quelques réflexions sur l‟influence du Code Napoléon de 1804 sur les systèmes juridiques arabes et musulmans (cas du Liban), in Actes du colloque international de Grenoble du 3 et 4 décembre 2003 sur le thème « le Code civil et les Droits de l‟homme », organisé par la Faculté de droit de l‟Université Pierre Mendès France de Grenoble, Ed. L‟Harmattan, p. 355.

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un suivisme de principe qui n‟a pas encore touché l‟essentiel. Trop d‟hésitations, trop d‟absence d‟indemnisation, trop de modestie dans la responsabilisation. Nous constatons par exemple que le juge administratif libanais ne dédommage pas les citoyens pour les dommages subis en temps de guerre et recourt exceptionnellement à l‟application de la notion de responsabilité sans faute. D‟autre part l‟on est surpris parfois par quelques décisions qui ressemblent à de petites îles dans une vaste mer, décidant d‟une forte indemnisation18. Intéressant est aussi le débat engagé autour des deux décisions du Conseil d‟Etat libanais dans l‟affaire « Fattouch » ayant accordé une forte indemnisation du fait d‟une décision administrative qui avait stoppé illégalement les travaux des carrières19. Rien ne justifie la non indemnisation en cas de tempêtes surtout lorsqu‟il ne s‟agit pas du tout de cas de force majeure. Or ce fut la position adoptée globalement par la jurisprudence administrative libanaise dans les affaires relatives à ce qu‟on a pu appeler « les tempêtes des deux heures » en 2000 et les autres tempêtes en 2003 qui ont fait beaucoup de dégâts en particulier dans la Bekaa et le nord. Citons aussi la position négative du Conseil d‟Etat en dehors des tempêtes imprévues : arrêt « Héritiers Elias Zaidan » du 10/7/199520 où le Conseil estime que l‟Etat n‟est responsable ni sur la base de la responsabilité pour faute ni sur celle sans faute. Or cette tempête n‟est pas un événement imprévu et, au cas où il était imprévu, il n‟était pas imprévisible dans cette région, l‟absence de prudence et de prévention de la part de l‟Etat étant la cause première, ce qui a amené les autorités étatiques à révoquer le mohafez (préfet) de la Bekaa. Précisons que la notion de responsabilité sans faute est née pour assurer un meilleur respect de la citoyenneté moderne et il faut admettre que le vingtième siècle est celui des droits de l‟homme. Même en l‟absence de texte la jurisprudence (administrative) a déployé des 18 19 20

Voir CEL “Marcel Boutros”, du 7/7/1998, Majallat al Qada al Idari, 1999, p. 617. Voir Journal Annahar, 20 janvier 2006. Tempêtes de neige au Col al Baidar ayant abouti au blocage de la route et causé la mort d‟un nombre important de personnes.

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efforts théoriques immenses pour pouvoir indemniser les citoyens lésés par les actes (ou l‟absence d‟acte) de l‟administration. Mais le juge administratif libanais recourt rarement à la notion de responsabilité sans faute. Ici c‟est tout un travail de sociologie juridique comparée, voire de philosophie de droit à faire pour comprendre pourquoi devant le même cas le juge administratif libanais se comporte autrement que le juge français, auquel pourtant il se réfère sans arrêt et devant lequel le palais de justice libanais est en admiration permanente. S‟agit-il non seulement d‟un mimétisme mais de surcroît d‟un faux mimétisme ? Toujours est-il qu‟en matière de responsabilisation des autorités publiques beaucoup de décisions seraient injustes, voire méprisantes de la notion de citoyenneté moderne : comme cette décision «Rodolf et cie »21 par lequel le Conseil d‟Etat refuse d‟appliquer la notion de responsabilité sans faute pour rupture d‟égalité entre les citoyens pour indemniser les particuliers lésés par les événements de 1975 et dans lequel il justifie de manière étonnante et en tous cas peu citoyen son refus d‟indemniser: On ne peut, dit-il, indemniser sur la base de la notion de rupture du principe d‟égalité car il y avait bien égalité dans les pertes et les préjudices, tous les Libanais ayant bel et bien souffert de cette guerre. Ici, nous pensons que le principe de l‟indemnisation pour rupture d‟égalité qui a été créée pour indemniser est utilisé par le juge libanais pour ne pas indemniser, l‟égalité dans la détresse ne justifiant pas la non indemnisation. Nous estimons que la modernité, la bonne citoyenneté et la démocratie exigent du juge administratif libanais plus de courage dans la responsabilisation des autorités publiques. Certains juges avouent que la situation économique d‟un pays empêchent une telle hardiesse (cas du Liban). Notre repoussons ce raisonnement : ce n‟est pas le montant de l‟indemnisation qui importe mais le principe et la reconnaissance, surtout en un temps où le lien entre le droit et la notion de risque se resserre22. Les autorités publiques libanaises et les juges administratifs 21 22

Du 20/5/1998, Majallat al qada al idari, 1998, tome 2, p. 500. Voir à ce sujet « le droit et le risque », Sous la direction de la Commission du droit du Canada, Les Presses de l‟Université de Laval, 2005.

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ont souvent tendance en matière de responsabilité à avancer l‟hypothèse de l‟absence de preuve de la responsabilité de l‟Etat (cas de l‟affaire Héritiers Elias Zaidan). Je pense que de nos jours l‟évolution juridique en matière de responsabilité exige des juges une nouvelle orientation devenue indispensable suite au succès du principe de précaution. De quoi s‟agit-il ? « Le principe de précaution est une manière plus efficace de gérer les dangers pour l‟environnement et la santé que l‟évaluation conventionnelle du risque scientifique »23. Avec le principe de précaution l‟on s‟arrête devant les risques soupçonnés, pas seulement devant les risques démontrés. Il faut revenir à la Déclaration de Rio sur l‟environnement et le développement de 1992 : « En cas de risque de dommages graves ou irrésistibles, l‟absence de certitude scientifique absolue ne doit pas servir de prétexte pour remettre à plus tard l‟adoption de mesures effectives visant à prévenir la dégradation de l‟environnement. Si l‟on applique le principe de précaution en matière de responsabilité administrative on peut dire la chose suivante : dans l‟affaire « Héritiers Zaidan » le juge administratif libanais, suivant par là le même raisonnement des autorités publiques, s‟appuyait sur l‟absence de preuve de la responsabilité des autorités publiques, qui ont fait tout leur possible pour éviter un tel drame24. Avec la consolidation du principe de précaution le juge ne peut plus se comporter de la sorte, puisque la responsabilité sera engagée pour les risques soupçonnés et non seulement démontrés. Le risque soupçonné aurait imposé aux autorités publiques dès le début de la tempête de bloquer totalement la route du « Col al Baidar » devant les passagers. B - Les actes de gouvernement Les actes de gouvernement sont les actes administratifs qui ne sont pas soumis au contrôle du juge administratif, parce qu‟ils touchent 23

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Dayna Nadine Scott, « Inversion du fardeau de la preuve : le principe de précaution et ses possibilités de « démocratisation » du risque », in « Le droit et le risque », op.cit. p.78. On voit que le fardeau de la preuve échoit à la victime.

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de près à la politique générale de l‟Etat. Au 19e siècle le Conseil d'Etat français refusait tout recours présenté contre des actes touchant à la politique générale de l‟Etat. Mais les exigences de la modernité et de la démocratie ont bien rétréci cette notion. En droit français plusieurs actes qui étaient considérés comme des actes de gouvernement ne le sont plus. Le juge reconnaît de plus en plus difficilement l‟existence d‟actes de gouvernement: ne constituent plus un acte de gouvernement la décision du ministre des finances répartissant entre les banques françaises et la Compagnie française pour le commerce extérieur des sommes provenant de la cession des créances relatives à la construction d‟une papeterie en Colombie (TC 2 décembre 1991, Préfet de Paris/COFACE) alors que cette cession est le résultat direct d‟une action diplomatique. Ne constitue plus un acte de gouvernement le refus d‟extrader: CEF, 15 octobre 1993, Grande Bretagne et Gouverneur de la colonie royale de Hongkong. Le Conseil d‟Etat libanais estime que si le gouvernement est en droit de refuser d‟exécuter par l‟usage de la force armée les décisions juridictionnelles cet acte ne doit pas être considéré comme un acte de gouvernement insusceptible de recours pour excès de pouvoir. Le Conseil a décidé aussi que la décision du conseil des ministres consistant à interdire toute relation avec une compagnie ayant une filiale en Israël ne fait pas partie des actes de gouvernement. Dans l‟espace qui nous est réservé pour cette contribution nous ne pourrons pas nous étaler davantage pour essayer de cerner la position du juge libanais à cet égard. Nous nous contentons de dire que le juge administratif libanais suit timidement l‟évolution jurisprudentielle en France, c‟est-à-dire veut rétrécir le champ des actes de gouvernement ; preuve en est qu‟il note souvent dans ces arrêts le fait que l‟évolution va dans ce sens. Néanmoins nous pensons que beaucoup d‟efforts restent à faire : un arrêt récent vient signaler que le juge libanais est loin de vouloir rétrécir ce champ, et donc loin de réaliser le respect de la citoyenneté moderne qui est indissociable d‟une ouverture à pleins vents du recours pour excès de pouvoir. C‟est un arrêt du 14/7/2004, « Société des betteraves (non publié jusqu‟à l‟heure) » dans lequel le Conseil d‟Etat voit un acte de gouvernement 111

dans la décision du conseil des ministres de supprimer le soutien financier pour l‟industrie des betteraves (production du sucre). Pour le Conseil c‟est une décision à caractère politique rentrant dans le cadre de la fonction gouvernementale exercée par le gouvernement en tant qu‟autorité constitutionnelle. On peut dire ici qu‟à la lecture de la décision le lecteur s‟aperçoit que les justifications avancées par la juridiction administrative pour considérer que c‟est un acte de gouvernement ne sont pas convaincantes. D‟autre part le Conseil d‟Etat recourt dans cette décision à une notion abandonnée par la jurisprudence depuis le dix-neuvième siècle, à savoir le caractère politique de l‟acte. Cet arrêt récent est un coup dur à une évolution qui va dans le sens inverse de l‟évolution de la notion des actes de gouvernement ; cet arrêt du Conseil d‟Etat respecte peu les exigences de la citoyenneté contemporaine. Nous nous contentons ici de consacrer ces deux sous-sections sur des problèmes spécifiques (la responsabilité administrative et les actes de gouvernement). Dans une troisième sous-sections nous dresserons quelques autres exemples et généralités relatifs à l‟attitude critiquable de juge administratif. C - Autres actes douteux En effet, dans de nombreux autres domaines des efforts juridictionnels sont à déployer pour un meilleur fonctionnement de la justice administrative. Nous pensons au travail procédural de l‟administration de la justice : nous savons les nombreux obstacles auxquels se heurte le citoyen libanais lorsqu‟il présente une requête juridictionnelle (excès de pouvoir ou lien contentieux). C‟est pourquoi l‟institution du médiateur de la république devient indispensable.

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Sur le plan des jugements eux-mêmes, citons le retard des différentes cours pour rendre les décisions et les problèmes vécus pour exécuter les jugements25. Arrêtons-nous devant deux cas qui concernent plutôt la justice constitutionnelle libanaise où nous pensons noter une défection du fonctionnement de la justice, ce qui a justifié au Liban une attitude des citoyens très sceptique à l‟égard de la justice. - La prorogation du mandat du président de la République Emile Lahoud Pour beaucoup de Libanais la prorogation du mandat du président Lahoud du 3 septembre 2004 était illégale et inconstitutionnelle puisqu‟elle a été accomplie sous la contrainte et la menace exercées essentiellement par le régime syrien et les autorités libanaises. De plus cette prorogation est contraire aux exigences de la résolution du Conseil de sécurité de l‟ONU n° 1519. En réaction à cette prorogation dix députés ont élaboré un recours pour le présenter devant le conseil constitutionnel afin d‟annuler cette loi relative à la prorogation. Toutefois ils ne l‟ont pas présenté devant le conseil mais devant le peuple par manque de confiance dans le conseil constitutionnel dont l‟indépendance était à cette époque entourée de plusieurs interrogations et doutes. Les requérants basent leur requête sur trois dispositions : celle de l‟article 76 de la constitution, le paragraphe « b » du préambule et le paragraphe « c » du préambule. L‟article 76 de la constitution prévoit pour une révision constitutionnelle que l‟initiative soit prise par le président de la République. Or ce n‟était pas le cas dans la révision critiquée. 25

Des décisions administratives mettant à disponibilité des fonctionnaires ont été annulées depuis six ans sans que ces fonctionnaires aient pu retrouver leur poste d‟origine ou aient été affectés dans de nouveaux postes. Voir notre note sur arrêt « Mohammad Obeid » du Conseil d‟Etat libanais, du 7-5-2002, Revue al Hayat al Nyabya, numéro septembre 2002, p. 83.

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Cette prorogation est contraire au paragraphe « b » du préambule qui stipule que le Liban est membre de l‟Onu et respecte ses engagements internationaux ; et le paragraphe « c » qui stipule que le Liban est une démocratie parlementaire établie sur le respect des libertés publiques et de l‟égalité entre les citoyens. Il est important d‟ajouter que le conseil constitutionnel libanais a accordé au préambule de la constitution une valeur constitutionnelle dans une décision n° 1/1997 dans laquelle il s‟est appuyé sur le principe de la périodicité des élections. Cet acte de prorogation du mandat présidentiel n‟est pas seulement un acte négatif, il représente un recul et une violation de la constitution elle-même qui évoque dans son article 49 la nécessité de la rotation institutionnelle à travers des élections26. La citoyenneté moderne reçoit un coup dur lorsque sur vingt années il y a eu trois prorogations du mandat présidentiel. - La décision du Conseil constitutionnel : Myrna el Murr En 2002, en pleine époque de la tutelle syrienne, le conseil constitutionnel libanais rend une décision « Myrna el Murr » du 4-112002 par laquelle il invalide l‟élection de Monsieur Gabriel el Murr au parlement libanais. Cette décision a été reçue comme une insulte par les citoyens libanais. En effet il fallait absolument empêcher Monsieur el Murr d‟arriver au parlement pour ses positions antisyriennes. Le moyen employé cependant était flagrant par son caractère offensant, voire vexant pour la citoyenneté, pour la modernité juridique, pour la référence libanaise juridique par excellence, à savoir la France et sa jurisprudence. Le juge constitutionnel libanais se réfère dans cette décision à la jurisprudence française. Ce qui était déplaisant toutefois dans le cas de la décision « Myriam el Murr » c‟est que le juge constitutionnel libanais s‟appuie sur un précédent français27 mais pour 26 27

Cette prorogation est aussi contraire à l‟article 25 du pacte international relatif aux droits civils et politiques (périodicité des élections libres). « Zuccarelli c/Faggianelli, Louis favoreu et Loïc Philip, Les grandes décisions du conseil constitutionnel français, n°16, du 24 janvier, 1968.

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dire le contraire de l‟enseignement de ce dernier. Cette décision française nous enseigne que le conseil constitutionnel ne décide l‟invalidation de l‟élection d‟un candidat et déclare la victoire d‟un autre qu‟en cas de flagrantes erreurs dans le décomptage des bulletins de vote. Les erreurs éventuelles dans le décomptage des voix des deux premiers candidats dans l‟affaire « Myriam el Murr concernaient un nombre bien modeste de voix. Le deuxième candidat s‟étant retiré, le conseil constitutionnel déclare la victoire du troisième candidat qui avait pourtant obtenu moins de 1 sur 19 des voix obtenues par le candidat écarté Gabriel el Murr. Bien entendu il fallait appeler à une autre élection partielle. Mais la décision était plus politique que juridique, ce qui pose en entier le problème de l‟indépendance de la magistrature. Au Liban c‟est un problème crucial28. Quant à la décision « Myrna el Murr » il faudrait la replacer dans le contexte de la tutelle syrienne sur le Liban. Deuxième section : autour de la notion de dichotomie A - Persistance de la dichotomie Dans cette section nous allons tenter de montrer que la dichotomie « Orient et Occident, raison et émotion, local et global29» continue 28

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L‟ancien président du conseil suprême de la magistrature s‟est demandé au lendemain de la fin de son mandat : d‟où viennent tous ces chateaux que possèdent les magistrats ? In Journal alsafir, n° du14 octobre 2002. Il faut absolument que j‟élucide un point : je n‟ignore pas qu‟une séparation rigide « Orient-Occident » est irrationnelle surtout lorsqu‟on aborde une question comme l‟attitude de la justice devant les droits des citoyens. Les Etats-Unis d‟Amérique n‟est pas un pays démocratique dans tout le sens du terme, non plus la France. Mais ce qui me fait croire à cette dichotomie, donc à une coupure Occident-Orient c‟est la chose précise suivante : la plupart des pays occidentaux ont réussi l‟examen de la citoyenneté et de la modernité. On sait qu‟obtenir une licence en droit ne fait pas nécessairement un avocat réussi. Donc je veux dire qu‟une étape minimale a été franchie. Alors qu‟en Orient (dont les pays arabes, y compris le Liban, malgré sa distinction) on est en dessous du deuil minimal. Ainsi Orient-Occident est pour moi une division d‟école, plus qu‟une division géographique.

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d‟exister malheureusement. Ce qui ne veut pas dire que cette dichotomie doit subsister éternellement. Il est vrai que votre séminaire organisée par le Centre d‟Études Canadiennes et par le Centre d‟Études Francophones de l‟Université d‟État de Feira de Santana (UEFS) sur le thème Sociétés plurielles, sociétés inclusives: citoyenneté, modernité, mondialisation se contentait de proposer de resignifier ces notions. Il n‟a donc pas la prétention de les dépasser radicalement. Toutefois cette modestie trahit une intention ferme mais très bonne de dépasser cette dichotomie et d‟aller vers la recréation de nouveaux ordres et de nouvelles configurations de sociétés, « non plus reliées par l‟appartenance, mais par la solidarité ou par des accords trop ponctuels », surtout à une époque (la nôtre) où le progrès domine et où l‟homme maîtrise enfin la nature. Jean-Cristophe Merle30 revient à Bacon pour évoquer le progès inéluctable de la société. On comprend que le juge doit être généreux puisque le droit est par essence généreux, et surtout puisque la nature est par essence généreuse. Croyons à la science ! Bacon pensait que « le progrès scientifique et ses applications techniques permettront de sortir de l‟état de rareté grâce à la maîtrise de la nature par la raison ». La nature peut, pour Bacon, potentiellement nous procurer des ressources de manière illimitée. Le thème du séminaire n‟est pas loin de l‟optimisme baconien. Tout en partageant ce « but-rêve » et à partir de notre terrain d‟analyse, à savoir la justice administrative au Liban, je vais proposer de nous arrêter devant quelques stations pour démontrer les difficultés d‟une telle démarche, ou son prix très élevé. L‟état des lieux est plutôt noir. Malgré la multitude des relations internationales, accords et traités ; malgré la mondialisation et ses ouvertures réellement « révolutionnaires » au niveau de la communication, les frontières restent solides entre l‟Occident et l‟Orient, le local et le global, la raison et l‟émotion. Je vais essayer de fouiller un peu plus à travers le niveau modeste du juge administratif libanais. Dans la première section de la deuxième partie nous avons vu ce qu‟on a appelé un peu par provocation « les décisions douteuses » du juge administratif. Tout le problème est de savoir à quel point ces 30

Voir « Justice et progrès », PUF, 1997, p. 23.

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décisions sont mauvaises. Si ces décisions sont très mauvaises la chance est monumentale de voir cette dichotomie consolidée et loin de risquer un renversement ou le moindre chamboulement. En effet cette dichotomie existe bel et bien à travers le travail juridictionnel administratif. On part de l‟hypothèse qu‟en Orient la relation « citoyen-Etat » est encore en cours de gestation. Le règne politique est souvent autoritaire. La citoyenneté n‟est pas encore « moderne ». A partir de là, oui, il y a beaucoup d‟Orient dans une décision comme celle de « Myrna el Murr » du conseil constitutionnel (déjà cité). Mais aussi beaucoup d‟émotion et trop de local. De même dans la décision du Conseil d‟Etat « Société des betteraves (cité pus haut) ». Et en matière de responsabilité administrative ; et en matière de principes généraux du droit où le recours à ces principes se fait de plus en plus rare. Le « local » prend le sens de « privilégier les intérêts des autorités publiques et des intérêts privés protégés par celles-ci ». L‟émotion prend le sens de « divorce d‟avec la raison, le raisonnable, le juste, l‟égalité, la reconnaissance de la faute des autorités publiques ». D‟aucuns diront que ces propos souffrent du « complexe de l‟Occident », que la raison a été exportée de l‟Orient, que la démocratie et l‟Etat de droit sont une création orientale. Ceci est vrai si l‟on revient à l‟histoire, ou plus exactement à certaines époques de l‟histoire de l‟Orient. Mais l‟analyse épistémologique du travail juridique montre une disparité qui ne peut résister aux arguments des tenants de la dichotomie. Voyons de plus près à travers quelques exemples et analyses : B - La liberté de presse Reconnaissons d‟abord que le juge administratif libanais prend une position honorable favorable à la liberté d‟expression31. Mais le juge n‟est pas tout. Il y a les lois et la société. La justice administrative n‟y peut rien devant des lois plus ou moins étroites pour ne pas dire

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Arrêt « Société LBC », 19-4-2001.

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répressives. Et une société qui elle-même n‟est pas toujours pour la liberté d‟expression32. Pour de nombreux journalistes libanais la liberté d‟expression souffre de plusieurs restrictions: des dizaines de journalistes interpellés, d‟autres agressés ou menacés et les médias victimes de la censure. Pour Joyce Assaf (conférence à l‟Université Saint-Joseph /USJ/, 2002) la liberté de presse au Liban a parcouru un long chemin de croix. N‟est-ce pas parmi les journalistes que l‟on dénombre un grand nombre de détenus et de martyrs ? En fait, plusieurs étapes ont marqué la liberté de presse au Liban depuis l‟époque des ottomans jusqu‟à nos jours là. Mais la presse a été atteinte surtout pendant la période de guerre. Plusieurs journalistes ont été assassinés : Salim El-Lawzi, Riad Taha, Kamel Mroué… et puis le courageux Jibran Tueini. Or la liberté d‟expression et la liberté d‟information est garantie par la Constitution libanaise (dans le préambule “alinéa b”, et dans l‟article 13 “La liberté d‟exprimer sa pensée par la parole ou par la plume, la liberté de presse, la liberté des réunions, et la liberté d‟association sont garanties dans les limites fixées par la loi”. Mais que prévoit cette loi? Comme la presse écrite, la radio et la télévision sont soumises à plusieurs lois comme le décret 7997 (1996) qui interdit la diffusion de nouvelles qui « enflamment ou incitent le chauvinisme sectaire ou religieux» ou contiennent « diffamation, dépréciation ou disgrâce ». La presse Libanaise est normalement indépendante mais son contenu reflète les opinions des supporters financiers. C‟est pourquoi certains disent « il n‟y a pas de liberté de presse au Liban mais des journalistes libres ». Encore plus, pour contrôler la liberté d‟expression et par suite la liberté de presse, le gouvernement dispose de plusieurs outils… la sûreté générale a le rôle d‟approuver l‟entrée des magazines étrangers aussi bien que les œuvres non périodiques, livres, pièces de théâtre et films avant qu‟ils ne soient distribués sur le marché. De même, le dé32

Le chef du parti Hezbollah du Liban, Chaikh Hassan Nasrallah, refuse d‟être objet de programmes satiriques, celui de Basmat watan (à l‟image des gignols en France), comme le sont tous les politiciens libanais. Voici donc une grande formation politique qui adopte une position répressive de la liberté d‟expression.

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partement de la Sécurité Publique au Ministère de l‟Intérieur est capable de censurer toutes les productions cinématographiques, surtout celles qui se rapportent directement ou indirectement à l‟Etat d‟Israël sans différencier entre les thèmes Juifs et les films sur Israël. Un exemple de la censure de deux scènes du film américain « Independence Day”, pour avoir montré des personnages juifs, peut être donné dans ce cas. Il semble que la censure a fait des ravages au Liban sous la tutelle syrienne. Exemple: Le 21 décembre 1998, l‟International Herald Tribune a été censuré parce qu‟il avait publié deux articles, l‟un sur un film controversé portant sur la guerre civile qui a noyé le Liban pendant 15 ans, et l‟autre sur une analyse faite par le correspondant de ABC, John K. Cooley, sur les perspectives de la paix entre la Syrie et Israël et les quelques points en suspens dans les négociations. 15 juin 2000 : plusieurs journaux et périodiques étrangers ont été saisis et interdits : “Le Monde”, “Libération”, “Financial Times”, “Herald Tribune”, ainsi que les dernières éditions de “Newsweek”, “Times” et “The Economist” et de nouveau “Libération” dans son édition du 17 juin 2000... La liberté est la règle et la restriction l‟exception. Mais tout le problème est de mesurer cette exception : En effet la loi garantit la liberté de presse, mais aucune publication doit porter “atteinte à la paix civile”. Et l‟Etat est allé même plus loin jusqu‟à inventer un mot passe-partout qui permet toute violation de la liberté de la parole : c‟est celui de “collaborateur avec Israël”. Citons aussi l‟usage abusif que beaucoup de gouvernements font de la législation sur la diffamation ou l‟atteinte à la dignité des personnes. Rapporter qu‟un ministre a touché un pot-de-vin, c‟est évidemment le diffamer. Exposer les liens d‟un chef de police avec des trafiquants de drogue, c‟est évidemment porter atteinte à son honneur. Tout le problème de la liberté de presse se trouve dans la qualification. C - La notion d’urgence en droit administratif De plus en plus la justice administrative protège les citoyens dans les cas d‟urgence. C‟est une exigence de la démocratie et de la citoyenneté moderne. Il existe des situations où on ne peut attendre 119

comme le cas d‟un refoulement d‟un étranger hors du territoire, ou l‟interdiction d‟une manifestation qui ne revêt aucun caractère violent, ou encore la fermeture d‟une chaîne d‟information télévisée. D‟où la création de l‟institution de référé-liberté en France. Au Liban la loi prévoit bien entendu un référé administratif mais pas spécifiquement un référé-liberté. Pour revenir à notre fil d‟analyse je peux dire que la dichotomie est visible non pas à cause de l‟absence d‟un référé-liberté, mais aussi à cause d‟un référé « timide » vu le peu d‟ordonnances en la matière. Or l‟urgence revêt une importance accrue. Rappelons les avancées en droit de l‟environnement33. Au Liban la culture de l‟urgence fait défaut. L‟introduction de l‟institution de référé-liberté dans le système juridique libanais est une nécessité si le Liban veut garder sa spécificité de pays des libertés dans cette région arabo-islamique. Mais relativisons : le Liban est « le » pays des libertés comme le borgne au pays des aveugles. C‟est bien mais il faut beaucoup plus. C‟est pourquoi nous penchons à une certaine dichotomie persistante entre Orient et Occident et le Liban fait partie de l‟Orient. C‟est quoi en deux mots le référé-liberté en droit administratif ? Le référé-liberté est une notion créée pour une protection juridictionnelle particulière aux libertés fondamentales. Le juge des référés peut enjoindre à l‟administration d‟agir dans un sens qu‟il détermine afin d‟éviter qu‟une atteinte grave et manifestement illégale soit portée à une liberté fondamentale par une personne de droit public (C.E. 3 mai 2005, confédération française des travailleurs chrétiens). Mais Il appartient au requérant d'expliquer en quoi l‟administration aurait, en ce qui le concerne, méconnu de façon grave et manifestement illégale une liberté 33

Au sujet de l‟urgence, le professeur Arnaud de Raulin explique la notion en ces termes : « l‟urgence se rapporte à des catastrophes, accidents, sinistres, qui sont définis par leurs effets dangereux et néfastes sur l‟environnement naturel. Quelle que soit la cause de la catastrophe, elle entraîne dans l‟instant une disproportion brutale entre les besoins de secours et les moyens immédiatement disponibles, notamment parce que les structures de soins d‟urgence sont détruits ou désorganisés », in « Les ONG dans la société internationale », Editions Ester, 1997, p. 90. Cette définition peut être facilement transposée en droit administrtaif.

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fondamentale. Pour que le juge reçoive une requête en référé il existe quatre conditions : l‟urgence, l‟atteinte à une liberté fondamentale, la gravité de cette atteinte et son caractère manifestement illégal. L‟urgence dans le référé-liberté est reconnue lorsqu‟une mesure nécessaire à la sauvegarde de cette liberté fondamentale doit être prise dans les quarante huit heures (C.E. 28 février 2003, commune de Pertuis). En matière du droit du travail par exemple il y a urgence lorsque le préfet réquisitionne des salariés et fait ainsi obstacle à l‟exercice du droit de grève en contraignant les intéressés à reprendre immédiatement le travail. Sur la question de la gravité Tout est affaire d‟espèces. Le juge apprécie cette gravité de façon subjective. Et là il y a beaucoup à dire au sujet de la dichotomie Occident-Orient : est-ce que le juge français ou britannique va juger la gravité de la même manière qu‟un juge libanais. La loi édicte souvent des notions générales et donc nécessairement vagues, telle l‟atteinte à la liberté d‟expression. L‟interdiction d‟une manifestation va-t-il avoir la même portée pour un juge libanais et un juge français. En ce qui concerne la charge de la preuve de l‟illégalité manifeste, elle pèse sur le requérant. Ce dernier doit mettre le juge des référés en mesure d‟apprécier si l‟atteinte qui est portée à son droit est manifestement illégale. Mais une question posée à juste titre par les défenseurs des droits de l‟homme : les particuliers ont-ils toujours la possibilité d‟apporter ces preuves qui exigent un certain niveau de connaissance juridique et procédurale. D - Autrs faits, approfondissement malheureux de la dichotomie Dans ce troisième paragraphe je vais passer en revue quelques faits « libanais » qui prouvent l‟existence de cette dichotomie. 1 - Le problème des minorités Le Liban est un pays fait de communautés religieuses. Toutes les relations « autorités-citoyens » passent par les tuyaux communautaires. Puis il y a le problème des minorités. La dichotomie Occident–Orient est ainsi renforcée. Ainsi que celle de « Raison-émotion ». L‟écrasement 121

du faible, du minoritaire, se transforme en une destinée inéluctable. Gourmo Abdoul LO explique cette détresse à propos de l‟Afrique : « la protection humanitaire en Afrique est confrontée, un peu partout, à une menace récurrente : celle de voir toute situation d‟urgence découlant ou non d‟un conflit « politique », dégénérer en un conflit identitaire où les catégories les plus fragiles des sociétés concernées, à savoir très souvent, les minorités nationales, être prises pour cibles34. La justice administrative, et la justice tout simplement, manque de modernité lorsqu‟elle a attrapé la maladie du confessionnalisme. C‟est un virus ravageur. Comment cela se révèle-t-il ? La réponse est simple : par l‟absence de l‟indépendance de la magistrature. Depuis deux ans nous souffrons du chômage d‟un conseil constitutionnel libanais. Le pays n‟arrive pas à nommer ses dix membres. Toutes les principales communautés doivent être représentées. En fait le problème est confessionnalo-politique. En principe rien d‟étonnant puisque le politique intervient dans tous les pays et gâche. Mais au Liban la relation citoyen-Etat, l‟allégeance aux pays étrangers, les divergences dans les positions politiques, sont telles que nous affirmons la persistance de cette dichotomie Occident-Orient, Raison-émotion. Je donne un exemple : Des magistrats libanais doivent faire partie du tribunal pénal à caractère international qui devra juger les criminels dans l‟affaire de l‟assassinat du feu premier ministre Rafic Hariri (son statut définitif doit voir le jour en novembre 2006. On peut être sûr qu‟on doit respecter une certaine répartition confessionnelle (un musulman, un chrétien), puis une appartenance « politique ». 34

« Droits fondamentaux et minorités », in Situations d‟urgence et droits fondamentaux, L‟Harmattan, Faculté de droit de Douai, Agence universitaire de la francophonie, sous la direction du professeur Arnaud de Raulin, p.84. Il explique que dès les premières manifestations de luttes politiques nationales de l‟indépendance, la dimension ethnique va être plus ou moins explicitement au cœur des événements, régimes et oppositions qui vont tendre à retourner et à transformer leur nationalisme anti-colonial en un néo-nationalisme ethnicisé comme nous en offre l‟exemple saisissant de la Guinée du Président Ahmed Sékou Touré à l‟encontre de l‟ethnie Peul, accusée de connivence avec « l‟impérialisme » et dont les membres furent massivement contraints à l‟exil.

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Nous voulons dire par là que même dans les nominations de magistrats le critère confessionnel et parfois politique est respecté. On sait par exemple que tel président de la Cour de cassation était proche du courant Hariri, d‟où sa nomination à ce poste, ou du courant du mouvement chiite Amal, etc. Ceci constitue un malheur pour la modernité et la citoyenneté. Le Liban ne peut accéder à un stade d‟Etat moderne sans une indépendance de la magistrature tangible et vérifiable. 2 - Le problème de l’accessibilité à la justice Si dans les pays occidentaux le problème se fait facilement repérer, je pense que dans les pays orientaux il est superbement établi. Dans le cas du Liban le réflexe de porter plainte contre les autorités publiques n‟existe que dans l‟imaginaire. On a l‟impression que les gens ordinaires craignent une sorte de représailles de la part de l‟Etat. Et puis le droit est une science difficile. Le vocabulaire juridique fait trembler ; il donne l‟impression que les gens sont ignorants, peu intelligents ; à quoi bon porter plainte si l‟on ne comprend pas grand-chose. D‟où les débats actuels sur l‟accessibilité des citoyens à la justice et aux lois, débats qui se sont intensifiés grâce à cette belle création qu‟est l‟Internet. On parle actuellement d‟un « devoir d‟information juridique », qui est devenu un véritable principe général du droit dans les Etats démocratiques. En Grande Bretagne l‟accès aux décisions de la Chambre des Lords est assuré par le Parlement qui a son propre site. En droit français l‟obligation pour l‟Etat de diffuser le droit par Internet se rattache au principe d‟accessibilité et d‟intelligibilité de la loi, le but ultime étant de garantir les droits et libertés du citoyen. Le principe d‟accessibilité et d‟intelligibilité de la loi fut érigé en « objectif à valeur constitutionnelle » par le Conseil constitutionnel français, dans une décision en date du 16 décembre 199935. 35

Malgré les critiques il faut reconnaître que sur le plan international, on peut dire que la nouvelle garantie de démocratie qu‟offre Internet prend la forme d‟une nouvelle forme de démocratie participative qui s‟exprimerait à travers l‟échange d‟informations juridiques sur Internet.

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Mais l‟accessibilité à la justice dans le sens de l‟accès à la connaissance des textes n‟est qu‟une minime partie de l‟accessibilité dans le sens originel du terme. L‟accessibilité à la justice doit poser tous les problèmes auxquels se heurte le citoyen dans ses rapports à la justice comme requérant. Pour renouer avec notre sujet je peux dire que les Libanais rencontrent de multiples obstacles, voire des détresses quand un acte administratif leur cause des préjudices. Combien de Libanais pensent réclamer dédommagement lorsqu‟ils sont objet d‟un mauvais traitement de la part d‟un agent public (fonctionnaire, policier.) ? Combien de Libanais savent qu‟il faut lier le contentieux avec le ministre en personne pour pouvoir demander indemnisation ? Sur le plan procédural les problèmes sont très nombreux : le conseil d‟Etat libanais enregistre des records dans le retard pour rendre les décisions. Il semble qu‟actuellement le chantier s‟est ouvert pour achever beaucoup d‟anciennes requêtes (certaines attendent depuis 25 ans). Ensuite il y a des problèmes emmêlés et désagréables liés à la non exécution des jugements : comme exemple donnons les jugements relatifs à l‟annulation des décisions administratives mettant des hauts fonctionnaires en disponibilité ( ‫)الوضع بالتصرف‬. Des jugements ont annulé ces décisions mais ces fonctionnaires attendant toujours depuis six et sept ans leur réintégration dans les mêmes fonctions, sinon ces jugements perdraient toute signification. Enfin, l‟absence de l‟institution du médiateur de la république accroît cette schizophrenia sous laquelle croupit le Libanais. Il faut reconnaître toutefois que le juge administratif libanais a sur son actif de très nombreuses et courageuses décisions en matière de responsabilité, de hiérarchie des normes, de principes généraux du droit. Mais les lacunes et les difformités sont aussi nombreuses que les performances qui le distinguent dans sa région. Puissent les recherches des juristes, des sociologues, des philosophes, dans une démarche de pluridisciplinarité, comme celle qui a guidé votre important colloque à l‟Université de Feira de Santana, aider à une plus grande ouverture entre les frontières et une meilleure justice dans le monde !! 124

LA VOIX DU DYALI OU UNE INTRODUCTION A LA POETIQUE DE SENGHOR Lilian Pestre de Almeida (Paris IV) Senghor, poète nègre de langue française et griot de la lignée: pour aborder ce sujet on prend comme point de départ Les Éthiopiques, recueil de 1956. Le volume d‟ailleurs est suivi d‟une Postface importante du point de vue critique intitulée “Comme les lamantins vont boire à la source”. La lecture d‟un poème “L‟Absente” articulée avec cette Postface permet de dégager le rôle de Senghor en tant qu‟anthropophage heureux, capable de synthèse harmonieuse entre cultures et traditions différentes. “L‟absente”, woi en sept mouvements “pour trois kôras et un balafong” se présente à l‟auditeur comme une composition musicale. Senghor lui-même insiste sur le fait que le poète négro-africain est un chantre et que les poètes sont surtout des auditifs. Le poème serait né de circonstances précises pendant une campagne électorale de Senghor à Louga, petite bourgade au Nord du Sénégal, vraisemblablement en 1951. Des jeunes filles chantaient ce jeu de mots ouolof en l‟honneur du visitant:” Nek ul-oo seen ngor, yaa di Sunu ngor” (tu n‟es pas leur honneur, tu es notre honneur). En réponse aux jeunes filles, le poète aurait composé de poème. A la première lecture, un homme (le coryphée) face à un Chœur de jeunes filles, répond à leurs hommages, chantant le charme de l‟Absente dont il se veut le féal et le dyãli. Le féal reprend le code chevaleresque médiéval, le dyâli le code traditionnel. Sous ce dialogue courtois, se retrouvent d‟autre schémas, comme des infrastructures, ou comme une pâte feuilletée comme le dirait un Lévi-Strauss. A un niveau premier, c‟est une réponse de circonstance d‟un poète candidat à l‟acclamation de son peuple: ici, l‟Africain cultivé en contact avec l‟enthousiasme de la foule lui explique son rôle actuel. C‟est le petit sérère qui répond au jeu de mots ouolof. 125

Un amateur de littérature orale entendrait volontiers le poème comme un conte traditionnel à énigmes: quelle est cette Absente qui se fait Présente, Princesse, Reine de Saba, la Souriante, mère allaitant le poète du “lait noir de l‟amour” (v. 75) et dont la venue est la Bonne Nouvelle (v. 25), la Très Bonne Nouvelle (v. 48)? Conte donc avec la révélation d‟un savoir occulte que seul l‟initié, le Circoncis (v. 38) peut atteindre. On pourrait encore regarder ce poème comme un exemple de métissage culturel où des réalités africaines côtoient des faits de civilisation occidentale et blanche, où le chant du Printemps rappelle les chansons de Mai du monde européen du Moyen Age et de la Renaissance, où la Reine de Saba serait signe vivant de l‟accord entre l‟Europe et l‟Afrique et “le beau bébé de sa chair brune” (v. 23) pourrait être une allusion au fils Ménélik qu‟elle aurait eu de Salomon. Senghor aime à retrouver dans la Bible des traces de “métissages” culturels entre l‟Afrique et l‟Occident. Le ton messianique, la réitération de la Bonne Nouvelle, la reine “parée du pentagramme” (v. 53), l‟identification du poète avec “les plaies du crucifié” (v. 20), la récitation d‟un motet célèbre de mystique chrétienne (v. 21) tout pourrait orienter le lecteur occidental vers une lecture “chrétienne” du poème qui ne serait point absurde. Poète errant, Senghor a bu à plus d‟une source: il ne le nie d‟ailleurs point: Pourquoi le nierai-je? Les poètes de l‟anthologie ont subi des influences, beaucoup d‟influences: ils s‟en font gloire. Je confesserai même – Aragon m‟en donne l‟exemple – que j‟ai beaucoup lu, des troubadours à Claudel. Et beaucoup imité (Postface, p. 155).

Senghor dans la Postface encore fit allusion à la double face de la négritude: le rythme et l‟humour avec sa multivalence. Des critiques ont décelé avec perspicacité l‟importance du rire nègre chez Senghor. Dans le poème liminaire des Ethiopiques, dans le combat épique de l‟Homme avec la Bête, c‟est le rire qui remporte la victoire et le très mystérieux lac final surgit du rire divin: 126

Il la terrasse dans un vaste éclat de rire, dans une danse rutilant dansée Sous l‟arc-en-ciel des sept voyelles. Salut Soleil-levant Lion au regard qui tue Donc salut Dompteur de la brousse, Toi Mbarodi! Seigneur des forces imbéciles. Le lac fleurit de nénuphars, aurore du rire divin (Ethiopiques, “L‟Homme et la Bête”, p. 98-99, v. 27-30).

Il faut noter que lorsque l‟Absente devient la Présente, elle reçoit une nouvelle appellation, la Souriante (v. 54, v. 67). Le rire marque un sentiment de gaieté sur le visage et sur tout le corps. Sourire c‟est rire légèrement et sans bruit, d‟un simple mouvement de la bouche et des yeux. Le sourire est proche de l‟humour, l‟humour qui alterne avec le lyrisme et qui éclate dans la description du désordre avec les Grands organisant “leurs femmes en pool charbon-acier” (v. 43). Or ce contrepoint permanent (monde noir/monde blanc; lyrisme/humour; absence/présence; passé/avenir) naîtrait d‟une structure dialectique, démarche empruntée au modèle hégélien reconnaissant l‟impossibilité de séparer les contradictoires (thèse et antithèse) que l‟on peut unir dans une catégorie supérieure (synthèse) où l‟Absente se fait la Présente dans le poème accompli. Cet enchevêtrement de lignes que l‟on perçoit sous l‟Ecriture de “L‟Absente” est porteur de sens. Nous n‟avons évoqué que quelques dessins de la trame. Il y n a d‟autres. Ces dessins sont-ils faits consciemment (c‟est à dire par imitation d‟autres œuvres préexistantes, de traditions diverses) ou sont-ils nés d‟un retour involontaire des archétypes? Et si les deux hypothèses étaient justes? Il faut détacher à quel pont la poétique senghorienne relève de la rhétorique classique par la notion de contaminatio. D‟ailleurs la contaminatio (qui suppose qu‟il faut apprendre à écrire en contagion afin de trouver sa voie véritable) est proche de l‟innutrition telle que Faguet la définissait ou de l‟éloge de l‟anthropophagie fait par le Brésilien Oswald de Andrade ou encore de la notion de palimpseste de Kristeva. Sous un texte il y a d‟autres textes à la limite du visible et de l‟audible. Tous ces dessins dépendent du 127

bagage de textes du lecteur. Tout cela est repris par la boutade ironique de Senghor: l‟important n‟est pas d‟être assimilé, mais d‟assimiler. Ainsi donc, reconnaissant la multiplicité des parcours possibles, nous voulons, comme point de départ, suivre le conseil de Senghor luimême: Si l‟on veut nous trouver des maîtres, il serait plus sage de les chercher du côté de l‟Afrique (Postface, p. 156).

Ou encore: La vérité est que j‟ai lu, plus exactement écouté, transcrit et commenté des poèmes négro-africains (Postface, p. 155).

Par là se trouve défini notre but: voir le texte de “L‟Absente” comme la transcription d‟un poème qui pour s‟accomplir “se fait chant” (Postface, p. 166) en essayant de le suivre comme tel, parole et musique. Ainsi l‟appel à la musique, depuis la notation initiale de l‟orchestration jusqu‟aux chants des jeunes filles n‟est pas une convention. Nous n‟aurons pas le temps de suivre le poème verset par verset. Je tiens à respecter le temps qui m‟est imparti. Si l‟on veut, je peux faire cet exercice ailleurs, textes en mains. Nous nous contenterons ici d‟indiquer les grandes lignes de sa lecture comme forme pratique d‟avoir accès à la poétique de Senghor. Je crois à la force des textes. Pour finir avec cette très courte introduction, rappelons que le poème est un woi, c‟est à dire, chant. C‟est, note Senghor lui-même qui a fait du grec, la traduction exacte de l‟ôdé grecque (Ethiopiques, p. 251). Le mot revient d‟ailleurs à la vie partie du poème (v. 67). La kôra est une sorte de harpe de 16 à 32 cordes: le dyâli chante l‟ode majeure ou l‟épopée en s‟accompagnant de la kôra. Le balafong (bala en mandingue) est un instrument de percussion. Ainsi donc: cordes et percussion. La première partie est la réponse au jeu de mots ouolof et se présente comme le discours d‟un je (le poète) à un vous (jeunes filles aux gorges vertes). Elle est construite à partir des sèmes de la négation et de la privation: je ne suis pas votre honneur, pas le Lion téméraire, ma tête n‟est pas d‟or, elle ne vête pas; sans bracelets; je ne suis pas le 128

Conducteur; jamais tracé; jamais proféré… Seule affirmation: “je suis le dyâli”. Le mot revient souvent sous la plume de l‟auteur. Il désigne une catégorie spéciale de gens de castes, le griot1 de la lignée. Ce sont les gewel ouolofs, les gawlo peuls, les gesere soninké, les dyâli malinké. Dans le poème “Congo”, Senghor chantera le dyâli dont la voix a plus de mémoire que l‟encre du scribe. Cette phrase pourrait être mise en exergue: “L‟encre du scribe est sans mémoire” (Ethiopiques, p. 99). C‟est plus qu‟un hommage à l‟oralité, c‟est l‟assomption de l‟oralité, principale source de la culture africaine traditionnelle, par opposition à l‟attachement occidental à l‟écrit, à la lettre (morte souvent). Senghor en évoquant en filigrane des figures mythiques, cite tout en refusant le titre, celles du Conducteur et du Fondateur. Dans le premier, se superposent et se mêlent les images du Dux latin (il Duce dans la version de Mussolini) et du Bon pasteur chrétien, avatars du Berger des civilisations de nomades éleveurs. C‟est lui qui conduit le troupeau, veille sur lui et le protège. L‟enracinement des populations sur un terrain est pris en charge par le Fondateur, c‟est lui qui définit concrètement et symboliquement l‟espace de la Ville, la fonde à la fois sur terre en traçant le sillon et sur le sens moral en lui donnant des lois. Il la protège par des murs et des portes en pierre. La parole du Fondateur est gravée, lettre à garder et à lire. Senghor, lui, s‟insère dans la lignée de ceux qui chantent. Il en est la voix. Sa parole est donc orale. La deuxième partie se présente encore sous la forme du discours d‟un je, identifié désormais comme celui du dyâli, qui invite les jeunes filles à chanter, avec lui, en chœur, “l‟Absente”, la Princesse en allée”. L‟expression est et restera ambiguë. Quelle est cette figure féminine qui porte à la fois les sèmes de la Royauté (Princesse) et de l‟Absenc. Le poèmes est la succession d‟énigmes peu à peu dévoilées. 1

Le mot français griot apparaît dès le XVIIe siècle sous la forme guiriot (16371695). Chez les ouolofs, les griots sont signalés de longua date par les voyageurs portugais en 1507. Pour ces derniers, les griots seraient d‟origine juive. On les enterrait alors dans les arbres, pour attirer la pluie (cf. N‟Diaye, p. 107). On comprend alors le lien qui unit la parole du griot, humide et fécondante, à la pluie.

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La richesse de la forme des poèmes à énigmes est énorme. Nous la retrouvons, sous la forme de devinettes, sous la plume de Césaire ou de Glissant. Tout un cours de littérature pourrait s‟organiser autour de ce thème et de ce procédé qui exige, de la part du lecteur/auditeur, un effort de déchiffrement. La troisième partie prend le ton du récit: abandonnant le dialogue avec le Chœur, le dyâli superpose le présent de durée qui rend compte des faits d‟expérience, l‟évocation du passé de l‟exilé et la prophétie. Ainsi se joignent présent, passé, avenir. Les v. 17 à 19 articulent des faits de culture européenne et de culture africaine; ils renvoient à une double expérience, celle d‟enracinement et d‟exil. Le poète s‟identifie au crucifié, affleurant dans le texte le souvenir de la mystique chrétienne où l‟âme se plaint d‟être séparée de l‟Epoux qui la comblerait. La quatrième partie reprend l‟invocation aux jeunes filles du Chœur: jeunes filles aux gorges vertes, jeunes filles aux longs cous de roseaux, jeunes filles aux sein debout et constitue une sorte d‟hymne au Printemps où le sème de l‟Absente s‟insère dans le cycle de la végétation, avec l‟eau et la sève qui gorgent les plantes après une période de sécheresse (les citernes vides, l‟Harmattan). Elle constitue une période d‟épreuve au Sénégal, permettant de dégager le symbolisme de l‟initiation. L‟Absente dévoile ici un nouveau sens, surrection de la sève et de la verdure, correspondant à une Connaissance secrète, obtenue après une période de privation et d‟épreuves. La circoncision, pratiquée dans toute l‟Afrique, marque l‟accession à une nouvelle étape de vie, à un nouveau degré d‟indépendance et de connaissance, “elle tranche comme une sorte de second cordon”. Signe de fidélité à la tradition, la circoncision marque une différence, crée une communauté et ouvre une nouvelle étape à la culture. Papa Gueye N‟Diaye lit cette IV partie comme l‟éveil du désir et l‟émoi des sens. Rien ne nous semble plus distant de l‟exaltation païenne des sens que ces versets où la venue de l‟Absente ouvre l‟accès à la Connaissance supérieure grâce au rite de passage. La Ve partie reprend le ton de la prophétie sur la venue de l‟Absente. Le texte au passé annonce l‟avenir. L‟Absente viendra à la fin 130

d‟une période de troubles. Or, ce temps est déjà celui du présent, car le dyâli fait l‟inventaire des signes du désordre. De petits groupes se dressent aux carrefours interdisant le passage de la vie sociale. Le carrefour, situé à la croisée des chemins, devient un centre du monde. Lieu épiphanique (lieu d‟apparitions et de révélations), le carrefour est aussi le lieu de passage d‟un monde à l‟autre, d‟une vie à une autre, de la vie à la mort. La révélation de l‟Absente, au solstice de juin (v. 49), permet la découverte de son sourire. La Souriante est la nouvelle appellation de l‟Absente. Entre elle et son chantre s‟établit un rapport courtois. Le thème de la gloire revient: à la lettre gravée, le dyâli préfère la voix rythmée destinée à germer, telle la semence dans la terre féconde, dans la mémoire de l‟Absente et celle des jeunes filles du Chœur. Ainsi donc une isotopie de la fécondation, de la croissance végétale et de la nutrition définit les rapports entre la parole humide du dyâli et la mémoire des figures féminines. Après le silence de sa possession par la Présente, sorti de l‟union avec elle (qui appartient à l‟espace du non-dit du texte), bouleversé jusqu‟aux tréfonds, le dyãli reprend le chant et rejette au néant ceux qui ignorent l‟Absente/Présente. Poème narratif, poème allégorique; poème écrit chantant admirablement la parole orale. Poète nègre, poète africain, poète de langue française, héritier de la tradition gréco-latine, héritier de la tradition de son peuple et de la mystique chrétienne: équilibre ardu et réussi. Senghor est sans doute le premier poète africain à transcender le drame du colonisé mal décolonisé, il a su trouver son équilibre entre cultures et des forces différentes, dans une synthèse harmonieuse et enrichissante. Anthropophage heureux. Nous n‟avons fait que parcourir le poème. Il faudrait revenir plus longuement sur le poème verset par verset.

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O DEVER DE MEMÓRIA NAS LITERATURAS E NOS CINEMAS DA ÁFRICA E DA DIÁSPORA Mahomed Bamba (UEFS) Uma nova onda de revisionismo está atravessando a Europa neste início de século XXI. O papel positivo ou negativo da colonização? Reparação ou não pelos estragos do tráfico negreiro? O debate sobre o passado colonial voltou a ser tema de atualidade entre historiadores e políticos no Velho Continente. No momento em que vozes de intelectuais, na Europa e particularmente na França, levantam – se em coro para dizer “um basta” àquilo que eles chamam de “inclinação natural do ocidente ao arrependimento”, à auto-flagelação e à complacência no sentimento de vitimização, acreditamos que chegou também a hora de se perguntar ou fazer um balanço sobre o trabalho de dever de memória no campo das vítimas da história. Como os escritores e os cineastas africanos e da diáspora, desde os períodos da colonização até as independências, vêm participando do movimento de resgate de uma parte da memória histórica da África e dos povos negros? Como os seus romances e seus filmes retratam e refratam a realidade presente e passada? Como os cineastas africanos e da diáspora reconstituem alguns fatos da história comum a ambos os povos para “inseri-los na dimensão da eternidade”? O dever de memória que procuramos delinear sucessivamente nas literaturas e nas cinematografias africanas não concerne apenas à história da escravidão, nem ao passado colonial; concerne em primeiro plano à história pós-colonial, a fatos e acontecimentos que foram da única responsabilidade dos africanos durante as décadas de exercício de sua soberania enquanto homens livres de conduzir o seu destino. Partiremos da concepção de Primo Levi sobre o valor da “obra testemunhal” e de uma releitura das duas grandes funções (militante e terapêutica) atribuídas por Marc Ferro à re-escrita da história no cinema para buscar entender como algumas obras literárias, filmes e iniciativas de cineastas e escritores africanos e da diáspora problematizam e tematizam a noção do dever de memória. 133

De antemão, partimos dos seguintes pressupostos: 1) a reconstrução histórica e o compromisso social constituem os dois pilares no trabalho de dever de memória nas obras de criação africanas. Este duplo compromisso se encontra tanto nos escritos dos primeiros historiadores africanos quanto nas literaturas e nos cinemas feitos na África e na diáspora. 2) o dever de memória está mais presente nas literaturas africanas do que nos cinemas. As dificuldades de se fazer cinema na África reforçam a sensação de que os estados africanos, seus artistas, seus cineastas são privados daquilo que deveria ser algo natural para todos os povos: a imperiosa necessidade de se voltar para alguns capítulos dolorosos da sua história, retratálos, problematizá-los na forma de um exercício catártico e terapêutico e de luta contra a amnésia das gerações presentes. 3) todo o compromisso social dos africanos com a sua história e seu presente parece arrebatado e confiscado pelas cinematografias das grandes nações. Até que ponto filmes hollywoodianos sobre a escravidão, o genocídio de Ruanda ou sobre o apartheid, sobre os dramas que assolam o continente negro e projetados para um grande público constituem-se num dever de memória que dispensa e exonera os próprios africanos deste trabalho? (Aliás, muitos criticam estes filmes por sua visão paternalista e pós-colonialista. Não concordamos totalmente com estas críticas, pois fazem esquecer que qualquer cinema e qualquer filme “bem-intencionado” pode ter um grande valor testemunhal, independentemente da sua nacionalidade). 4) o dever de memória nos romances e filmes africanos concerne tanto ao passado quanto ao presente e tomam a forma de um exercício terapêutico do que uma revanche sobre a história. OBRA TESTEMUNHAL E OBRA LITERÁRIA Primo Levi, depois de voltar dos campos de concentração nazistas, não somente se encontrou na pele e na condição de um sobrevi134

vente do holocausto, bem como se recusou em guardar a história do que viveu lá só para ele mesmo. Enquanto outros judeus sobreviventes se lançavam na caça aos seus ex-carrascos, ele fez da narrativa uma forma de luta contra o esquecimento: o projeto de narrar1, de relatar com a voz de quem esteve lá, viu e voltou se tornou vital para alguns sobreviventes. O trabalho de dever de memória de Primo Levi está na sua produção literária, bem como se encontra nas suas palestras, entrevistas e visitas que efetuou nas escolas. Algumas entrevistas que ele concedeu a Federico Cereja, aliás, foram compiladas e tomaram, anos após a sua morte, a forma de um livro-depoimento2 em que Primo volta a narrar minuciosamente o dia a dia nos campos, os novos códigos comportamentais e éticos que surgem entre os cativos nesses lugares de confinamento. je peux seulement affirmer ceci: chacun a vécu le Lager à sa façon, il sera difficile de trouver deux vertions semblables et d‟en tirer des règles générales ; dans mon expérience et dans celle de ceux qui étaient le plus proche de moi, prévalait, disons-le sans fard, la curiosité, l‟intérêt scientifique, anthropologique, pour un mode de vie complètement différent, et tout cela se révélait un facteur d‟enrichissement et de maturation. J‟ai dit quelques fois et je vais encore le souligner, que pour moi le Lager a été une sorte d‟université (PRIMO, 2000, p. 46).

De acordo com Cereja, organizador do livro, Primo Levi descobrira um novo ofício: ensinar esta matéria difícil que é o relato de deportação, sem omitir de sublinhar os limites da narração das próprias testemunhas. A coleta dos depoimentos dos sobreviventes da região de Piémont (Itália), explica Cereja, constituiu uma das mais extensas pesquisas em história oral já realizada na Europa. Esta iniciativa é fonte de novos documentos para a própria história da deportação no Piémont e na Itália donde era Primo Levi.

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O conjunto dos depoimentos dos sobreviventes dos campos acabou dando forma àquilo que é chamado de literatura do Lager ou literatura da deportação. « Le devoir de mémoire », 2000, ed. Mille et Une Nuits.

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Se concordarmos com Primo Levi, de que o dever de memória pode se constituir num depoimento das próprias vítimas, há de convir também que o dever de memória em tudo começa pelo trabalho das próprias vítimas, de seus descendentes diretos (igual ao trabalho de luto). O “testemunho, feito num tom grave e numa língua mais objetiva possível, acaba tomando a forma e a significação de um depoimento diante de um tribunal – aquele da história, dos contemporâneos, das novas gerações.” Diz Primo Levi. O sobrevivente de uma tragédia histórica deve ser fiel, nos mínimos detalhes, ao seu papel de depoente, ele é testemunha no pleno sentido da palavra, isto é, “uma pessoa que pode confirmar um fato em virtude de um conhecimento direto deste fato”. Nesta definição de Primo Lévi, há duas coisas para se destacar: de um lado, a valorização da história oral, e por outro, vê-se que a versão da testemunha direta é tão preciosa quanto a versão dos historiadores sobre os acontecimentos. O depoimento de um sobrevivente pode completar a história, mas também pode, em algumas circunstâncias, competir com a historiografia. O filme Shoah de Claude Lanzmann é a melhor demonstração de que o cinema, quando é solicitado, pode pôr sua função evocadora a serviço de uma obra testemunhal oral. O filme dura nove horas. O filme faz a economia das imagens de arquivo e deixa o lugar para o poder da fala. É construído rigorosamente a partir de depoimentos e entrevistas dos últimos sobreviventes do holocausto. Aqui, portanto, temos uma sábia dosagem entre “mis-en scène” cinematográfica e poder evocador da palavra. Se entendermos que o dever de memória pode se definir também como uma forma de se reapropirar a sua história, podemos ver que, antes ou conjuntamente com a literatura negra, este trabalho começou cedo na África com o compromisso dos primeiros historiadores africanos (como Cheick Anta Diop, Joseph Ki-Zerbo) de reescrever a história da África. Uma reescrita da história a partir do ponto de vista dos próprios africanos para mostrar que os povos colonizados tinham um passado que era anterior à própria colonização. As duas funções (tera136

pêutica e militante) que Marco Ferro atribui à história se encontram neste exercício de releitura da história africana: os livros didáticos para crianças exaltam os grandes impérios do passado africano, cujo esplendor é citado ao lado da decadência e do atraso da Europa feudal na mesma época: a função terapêutica está claramente expressa (FERRO, 1999, p. 13).

A reapropriação da sua história pelos africanos coincide com um momento de afirmação nacionalista e panafricanista em todos os países em luta contra o colonialismo (aliás, muitos autores estabelecem uma relação de causa a efeito entre os movimentos políticos de reivindicação da independência e a afirmação de uma civilização africana, tão rica de mitos, lendas e de um passado glorioso quanto a civilização ocidental). O que faz com que a função terapêutica da história se mistura aqui com a sua função política e militante. Sem negar o caráter rigorosamente historiográfico e científico dos primeiros textos escritos pelos historiados africanos, há, pelo menos, uma parte de mito, de poesia, de política, de ideologia e de poesia nestas versões das vítimas. Há um embelezamento da história do ex-oprimido. Afinal de conta, como diz Ferro, se o cientismo e a metodologia servem de disfarce para a ideologia na História, por outro lado, é a glorificação do passado que serve de meio para a reconstituição da história dos ex-dominados. Os dados orais que vão servir de base a este trabalho de resgate da memória da África pré-colonial surgem mais da memória oral do que de documentos escritos que atestam esses fatos. Aqui a memória coletiva está sendo solicitada para a construção de uma nova história oficial. Até que ponto a memória coletiva africana formada pelos contos e lendas dos griots nos aproxima da obra testemunhal de Primo Levi? Ambos têm, pelo menos a oralidade em comum. A história africana não será romanticamente voltada para essa África mítica. Os desafios e os problemas do período pós-independência fazem com que o historiador seja rapidamente interpelado pela atualidade do seu tempo. Como disse Ferro, “história ensinada hoje às crianças africanas informa-nos tanto a respeito dos atuais problemas do continente negro quanto de seu passado” (FERRO, 1999, p. 13). 137

DEVER DE MEMÓRIA NAS LITERATURAS AFRICANAS As literaturas africanas, como a história africana, vão se ater a levantar mais problemas do seu tempo do que estudar ou resgatar somente o passado. Hesitantes entre o valor testemunhal da história oral africana e a responsabilidade social da literatura, muitos escritores acabaram fazendo a opção de um dever de memória mais voltado para o presente. Isso começou com a Negritude, e se prosseguiu com as literaturas engajadas da descolonização e dos períodos de pós-independência até a literatura africana de hoje que quer se auto-definir como “literatura-mundo”. A literatura e a poesia engajada da África fizeram a opção de uma arte de urgência, colocando-se em contato direto com o presente do que com o passado. Quando os problemas presentes interpelam de forma ensurdecedora, o passado fica como entre parênteses. E o dever de memória se dá de modo mais clamoroso com relação a este presente. A relação dos escritores africanos com os problemas do seu tempo não explica, em parte, que as melhores e mais patéticas versões literárias sobre a escravidão, por exemplo, tenham sido escritas na literatura americana e da diáspora (negra)? Afinal de contas, os sobreviventes dessa tragédia estão do outro lado do mar e não na África. « LA LITTERATURE AFRICAINE ET L’EXPEDITION RWANDAISE » Em 1998, o poeta de Tchad, Nocky Djedanoum, que vive e trabalha em Lille (França), organizou uma viagem com vários escritores e um cineasta africano a Ruanda, para realizar diferentes coletâneas, livros e um filme sobre o genocídio dos Tutsis e dos Hutus. Essa iniciativa dos escritores africanos acontecia quatro anos depois da tragédia. Os organizadores da caravana queriam romper o silêncio dos intelectuais e dos artistas africanos quanto à violação dos direitos humanos na África. Eles apresentaram o seu projeto como sendo “um dever de memória dos escritores africanos”, convictos de que a arte, perenizando a lembrança do genocídio, podia ter a capacidade de curar as pessoas, de impedir as violências étnicas e contribuir para a reconciliação dos 138

diferentes grupos na África. Manthia Diawara3 faz uma análise da expedição dos escritores africanos em Ruanda a partir da perspectiva da problematização do estatuto e do “engajamento polìtico” do homem de letras, do artista numa África em déficit de democracia. A expedição, diz Manthia, levanta uma série de questões que dizem respeito ao papel dos artistas e intelectuais africanos que vivem na África e no estrangeiro. Estas questões têm a ver com o compromisso político entendido como um dever moral para o artista, numa época de graves violações de direitos humanos, não somente em Ruanda, bem como em toda a África (Sierra Leoa, em Sudã, na República Democrática de Congo e na Costa do Marfim). O que o poeta ou o intelectual pode ou deve fazer sob a ameaça constante dos regimes repressivos num país isolado da África e para o qual o resto do mundo virou as costas? Enfim, Manthia se pergunta: se o artista se implicar nestes combates atuais da África, para quem ele estaria escrevendo? Que legitimidade teriam os artistas e os intelectuais junto ao público? Uma coisa parece certa: a Expedição de Ruanda reabre o debate sobre a responsabilidade política e desloca questão do dever de memória do escritor africano no campo da ação numa África pós-colonial4. Expressa a vontade dos escritores de descerem na arena. DEVER DE MEMÓRIA NOS CINEMAS AFRICANOS Os cineastas africanos herdaram uma parte da responsabilidade política e ideológica dos escritores engajados. A relação quase ontológica dos cinemas africanos com a história e a realidade sócio-política da África faz com que cada filme africano problematize duas concepções do dever de memória: o dever de revisitar a pré-história, as epopéias gloriosas, mas, sem renunciar ao imperioso dever de retratar o presente, 3 4

Cf. artigo de Manthia Diawara. La littérature africaine et l‟expédition rwandaise. Africultures, n. 48, maio 2002. Dossiê « Afrique et Art contemporain ». A escritora de Costa do Marfim, Véronique Tadjo, que também fazia parte da expedição à Ruanda, voltava-se para o mito da “Mami Wata” para tentar “justificar o surto de violência que tomou conta de um país e o dividiu entre norte e sul”. Na lenda Agni, grupo étnico do leste de Costa do Marfim, Mami Wata sacrificou os seus dois filhos para salvar o seu povo.

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de denunciar esta mesma realidade presente. Portanto, o cineasta africano, como o escritor africano, se encontra num vai-vem constante entre presente e passado. Ou melhor, se ele se volta para o passado, é para melhor apreender o presente que o interpela. Desde meados dos anos 70, cada vez mais filmes mergulham no passado para interrogar a memória profunda da África. Os cineastas não se satisfazem mais com o simples mostrar da aparência da África de hoje. Denunciar as injustiças não basta mais. Diante das conturbações da época atual, eles buscam reencontrar valores profundos da África, as leis essenciais que regem as relações entre os homens, os valores de ontem que podem nutrir o progresso de amanhã (BOUGHEDIR5, 1983).

São as mais novas tragédias contemporâneas da África que interpelam ainda mais os escritores e os cineastas africanos. As desolações causadas pelas guerras civis, os genocídios são temas recorrente, ora para ser retratados de forma mais subjetiva e intimista, ora dando palavra diretamente aos sobreviventes, ora recorrendo a mitos e lendas africanas para denunciar o absurdo de conflitos políticos. Foi esta vontade de escrutar o presente conturbado da África pós-independência que motivou Ibéa Julie Atondi e Karim Miské a realizarem Contes cruels de la guerre (2002). Neste filme documentário na primeira pessoa, tratase de uma releitura das atrocidades e dos traumatismos das guerras civis da África contemporânea. O filme é construído através do olhar e do monólogo da narradora (que volta a Congo-Brazzaville e encontra uma cidade devastada) e dos depoimentos dos sobreviventes (na maioria jovens e mulheres estupradas) e inclusive com testemunhos dos próprios carrascos. O compromisso do cinema africano com o dever dizer tudo e com a construção de uma identidade cultural deve ser procurado por além dos limites das fronteiras artificiais e fictícias herdadas da colonização e que definem os contornos dos estados modernos africanos. Diante de uma realidade presente desoladora e desesperadora, a África vive ou sobrevive graças aos seus mitos fundadores. Esse passado mi5

Em Cinéma d‟Afique, citado por Olivier Barlet (1996), p. 61.

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rabolante e glorioso narrado pelos griots6 funciona como uma estratégia de superação do colonialismo. As grandes epopéias transmitidas pela tradição oral e pela literatura servem de refúgio e de matéria-prima para a construção de uma identidade cultural local mas também continental. As raízes do sonho do panafricanismo (sempre renovado e fracassado) devem ser buscadas neste elan coletivo e quase natural dos artistas de todos os países africanos de se apropriarem os mitos coletivos na sua criação artística. Os grandes impérios e personagens da era pré-colonial não têm mais fronteira. Na sua dimensão cultural, os cineastas realizam, no panafricanismo, aquilo que os governantes não conseguem concretizar politicamente: a integração da África a partir de velhos mitos e novos valores em que se reconhecem todos os africanos, independentemente de sua nacionalidade. O que leva muitos autores a dizer que o lugar da cultura africana, nas suas diferentes manifestações e expressões, (musica, literatura oral ou escrita, artesanato e artes, estética obras criativas), foi sempre contribuir aos ideais coletivos, porém sem negar uma função de humor, de jogo e de divertimento. Enquanto no ocidente e nas sociedades modernas pós-capitalistas as grandes narrativas ficcionais mecânicas continuam relegando as lendas e a própria literatura num segundo plano, nas sociedades tradicionais africanas são os substratos da tradição oral que alimentam os imaginários e a narrativa cinematográfica incipiente. O engajamento político e panafricanista do cineasta africano não se traduz apenas por uma volta incessante e esquizofrênico para o passado, mas o situa também no presente. Nos filmes africanos os temas fortes de atualidade são abordados sem complacência. O espaço fílmico funciona de maneira genérica e simbólica. A representação de um fato e de uma realidade sócio-política em um determinado país não vale apenas por este país, ela concerne simbolicamente a todos os países africanos. Os filmes Adagaman (2000) e Guimba – Um tirano, uma época (1995) são ilustrativos desta situação. Em Guimba, Cheick Oumar Sissoko se serve da lenda de um chefe tradicional tirano (Guimba) para problematizar uma das pra6

Espécie de trovador e narrador de epopéias; memória viva nas culturas orais da região do Sahel.

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gas da maioria dos estados africanos: a tirania hereditária instaurada de forma implacável pelos dirigentes africanos depois das independências. A história de dominação cega que Guimba e seu filho impõem aos seus próprios congéneres acontece numa cidade do Sahel, mas poderia ser transposta em qualquer país da África. Em Adanggaman (2000), Roger Gnoan M‟Bala vai mais longe. Ao revisitar o tema da escravidão, o cineasta de Costa do Marfim não se contenta com uma representação lamuriante desse momento doloroso da história da África, ao contrário, ele põe em cena a controvertida participação dos chefes tribais no tráfico negreiro. Desta reconstituição histórica, em forma de acusação, é toda a responsabilidade dos chefes de Estados africanos que está em questão. O engajamento panafricanista dos cineastas7 se reflete, portanto, na diversidade dos temas abordados e dos espaços geográficos que servem de pano de fundo às ações. Esta tendência é mais nítida, inclusive, nos trabalhos da nova geração de cineastas africanos que não hesitam em situar a ação de seus filmes em vários países. Os dois documentários realizados em câmera digital pelo senegalês Moussa Touré se situam nesta veia. No filme 5x5 (2005), é a poligamia que é o assunto principal. Toda a intriga ocorre num cortiço modesto onde a câmera explora, sem cair no denuncismo, as facetas desta prática ainda vigente e comum a vários países africanos. No seu primeiro documentário também rodado com câmera digital, Somos mumerosas (2003), Touré abordava a realidade das mulheres congolesas estupradas durante a guerra. Para ele, como para a maioria dos cineastas africanos da jovem geração, a câmera digital proporciona uma maior facilidade para filmar, mas, sobretudo, uma maior facilidade de se deslocar e capturar a realidade africana em todas as suas nuanças e nos diversos lugares do continente.

7

É bom lembrar que este compromisso dos cineastas africanos com o panafricanismo se afirmou bem cedo, em 1969, de forma programática, pela criação da Federação Panafricana dos Cineastas (FEPACI).

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DO ROMANCE AOS FILMES HISTÓRICOS: O COMBATE DE SEMBÈNE OUSMANE Todos os cineastas africanos da primeira geração são conscientes de uma coisa: um bom filme será sempre um filme útil. Depois do angelismo que marcou as primeiras tentativas de reconstituição cinematográfica da idade de ouro pré-colonial, muitos cineastas africanos se arriscaram no caminho da ficção. Foram filmes de ficção que não somente restauravam a memória da África, bem como procuravam “explorar atos e não se compraziam no denuncismo” (BARLET, 1996, p. 61). Abordar os temas históricos no cinema africano toma a forma do exercício de um olhar personalizado sobre o passado. De um lado, este olhar permite “corrigir os mitos criados pelas imagens ocidentais sobre a África”, mas por outro lado, ajuda os prñprios africanos a ter um outro olhar sobre a sua realidade. A emancipação da África passa, portanto, pela denúncia do ato colonial e néo-colonial que, em muitos casos, permanece a temática predominante. Os primeiros filmes de Sembène Ousmane ilustram bem esta corrente. O percurso de Sembène é atípico no cinema africano. Depois de publicar vários romances, ele abandonou a literatura por acreditar mais na força evocadora das imagens fílmicas. Numa África ainda dominada pelo analfabetismo, Sembène vai preferir a imagem à escrita para atingir um maior número de pessoas. Ele considerava o cinema como “um meio de educação polìtica” e como “um curso supletivo para o público africano”. Muitos das suas obras literárias lhes serviram como fonte de inspiração para os seus filmes. Em Ceddo (1977) Sembène Ousmane parte de uma extensa pesquisa histórica e da tradição oral para realizar a reconstituição histórica de um episódio de resistência do povo ceddo ao islã e também à colonização. É um filme sem complacência, pois critica tanto a influência islâmica passivamente aceita pelos africanos, quanto aquela imposta e perpetuada de fato pela colonização. Em Camp de Thiaroye (1988), o objetivo era o mesmo: voltar-se para o passado colonial e acertar as contas com a ingratidão do colonizador. Reagrupados na caserna de Thiaroye, perto de Dakar, depois de terem combatido para a França e 143

servido no exército francês contra a ocupação nazista, ex-combatentes senegaleses e africanos, vão se revoltar contra o seu tratamento. O filme pode ser considerado o primeiríssimo filme-homenagem a todos esses africanos alistados de força e engajados na segunda guerra mundial. Sembène, antes de falecer em 2007, realizou a sua última obra fílmica, Moolaadé (2000). Desta vez a temática era a circuncisão feminina, considerada como uma forma de “purificação” da mulher em vários países africanos. O último combate de Sembène era contra este outro cantinho de obscurantismo remanescente nas tradições africanas. A crítica do passado se torna assim indissociável de um questionamento das tradições africanas no cinema de Sembène. Para muitos autores, Sembène Ousmane representa um importante pólo da criação literária e cinematográfica africana fortemente ancorada na história e no social e em que a oralidade dos povos do continente negro desempenha uma função primordial. Para a geração dos primeiros cineastas africanos, o desejo de re-escrever a história não é apenas ideológico e político, mas é sobretudo sentido como um dever de memória. As suas obras e as suas entrevistas refletem a sua concepção da missão do cinema: arma política e ferramenta pedagógica. (LEQUERET, 2003, p. 13). Numa entrevista, Sembène declarava: “cabe a nós criarmos nossos valores, reconhecê-los, transportá-los através do mundo, mas somos nosso próprio sol”8. O DEVER DE MEMÓRIA NOS CINEMAS DAS DIÁSPORAS No “cinema da imigração” a questão da identidade é ao mesmo tempo individual, comunitária e nacional. Filmes após filmes, realizadores como Yamina Benguigui, Abdel Kechiche, Lyèce Boukhitine e Rachid Bouchareb se consagram como cineastas de referência no movimento cinematográfico diaspórico na França. Eles assumem na sua filmografia parte do dever de memória que se encontra no cinema africano. O último filme de Rachid Bouchareb, Indigènes (Dias de Glória) 8

Numa entrevista em 2003, concedida na reportagem do jornalista de Burkina Faso, Yacouba Traoré.

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(2006), é fruto de uma có-produção (França, Marrocos, Argélia e Bélgica). O tema de Dias de Glória ilustra o compromisso dos cineastas “beurs” com a histñria da África. Mas sua indicação ao Óscar 2007 na categoria de melhor filme estrangeiro permitiu revelar a ambiguidade sobre a natureza e a nacionalidade do cinema diaspórico na França. Para o Oscar, a nacionalidade de um filme provém da natureza de seu financiamento ou da nacionalidade de seu diretor. Mesmo a França tendo financiado 90% do filme, Bouchareb, com a dupla nacionalidade (franco-argelina), preferiu que Dia de Glória representasse a Argélia no Oscar. É um filme histórico em forma de homenagem aos africanos, “indìgenas” das colônias, que lutaram e morreram pela França durante a segunda guerra mundial, mas que não sempre tiveram o reconhecimento merecido. Em outro filme, Little Sénégal, Rachid Bouchareb, procurava, ao contrário, descortiçar as relações não sempre harmoniosas entre os negros americanos (descendentes de escravos) e os imigrantes africanos recém-chegados nos USA. Little Senegal, um bairro de Harlem e reduto destes imigrantes africanos servem de microcosmo para retratar as diferenças culturais que a história ergueu entre a África e uma parte da sua diáspora americana que podem culminar na incompreensão e na rejeição mútua. Christian Lara, cineasta da Guadalupe, ao falar de seu último filme, 1802, l‟épopée guadeloupéenne, define-o como um dever de memória, um filme de ação e um filme popular sobre um episódio da história do povo das Antilhas francesas. O filme retrata o levante do povo caribenho contra a tentativa de Napoleão de re-estabelecer a escravidão nos territórios franceses das Antilhas Ao optar pelo género de filme de ação, o diretor afirma não somente a sua vontade de atingir um grande público, bem como reafirma a necessidade de se utilizar de todos os artifícios para fazer filmes em forma de dever de memória que possam alcançar um público alvo, isto é, um maior número de pessoas.

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Sobre a escolha da data do dia 10 de maio9 para lançar o seu filme na França, Lara justifica esta data com o seguinte argumento: “primeiro, devo dizer que é a primeira vez que um criminoso comemora seu crime. Portanto, queríamos ser os primeiros no reconhecimento desta data e antes de que ela fosse recuperada pelos políticos. Era preciso dar nossa marca particular. É um dever de memória. Meu filme seria lançado no dia 10 de maio, mesmo se não fosse uma quarta feira10. É uma escolha voluntária”. CONCLUSÃO O dever de memória nas literaturas africanas e nos cinemas africanos pode ser entendido como um gesto de reapropriação da sua história pelos africanos. Diferentemente dos escritores, as dificuldades de se fazer cinema na África impedem os cineastas africanos de fazer o seu trabalho de memória como os cineastas franceses fizeram com o capítulo da ocupação, como os cineastas judeus o fazem sobre o holocausto. Mesmo se o trabalho de dever de memória deve ser encarado como uma responsabilidade universal perante uma história comum dos povos (como uma espécie de tribunal penal internacional), não resta dúvida de que pertence a cada povo empreender este trabalho contra a amnésia, contra o esquecimento. Como sublinha bem Ferro: Controlar o passado ajuda a dominar o presente e a legitimar tanto as dominações como as rebeldias. Ora, são os poderes dominantes (Estados, Igrejas, partidos políticos ou interesses privados) que possuem ou financiam livros didáticos ou história em quadrinhos, filmes e programas de televisão. Cada vez mais eles entregam a cada um e a todos um passado uniforme. E surge a revolta entre aqueles cuja história é proibida (FERRO, 1999, p. 11).

9 10

O dia 10 de maio foi decretado na França como dia comemorativo oficial do fim da escravidão. Dia de estreia dos filmes na França.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARLET, Olivier. Les cinéma d‟Afrique noire : le regard en question. Paris : éditions l‟Harmattan, 1996, p. 228, 278, BARLET, Olivier. L‟Exception Africaine. Africultures, n. 45, dossiê « Cinéma: l' exception Africaine ». Paris : l‟Harmattan, 2002. BARLET, Olivier. Postcolonialisme et cinéma : de la différence à la relation. Africultures, n. 28, maio 2000, dossiê « Postcolonialisme : inventaire et débats », L‟Harmattan, p. 56-65. CONVENTS, Guido. L‟Afrique? Quel cinéma! Un siècle de propagande colonial et de film africain. Envers-Belgique : Éditions EPO, 2006. DIAWARA Manthia. La littérature africaine et l'Expédition rwandaise. Africultures, n. 48, maio 2002. FERRO, Marc. A manipulação da história no ensino e nos meios de comunicação. (A história dos dominados em todo o mundo). Tradução de Wladimir Araújo. São Paulo: Ed. IBRASA, 1999. FRODON, Jean-Michel. La Projection Nationale: Cinéma et Nation. Paris: Odile Jacob, 1998. HANNEBELLE, Guy. Os cinemas nacionais contra Hollywood. Tradução de Paulo Vidal e Julieta Viriato de Medeiros. São Paulo: Paz e Terra, 1978. GARDIES, André. Cinéma d‟Afrique noire francophone: l‟espace miroir. Paris: Harmattan, 1989. LEQUERET, Elisabeth. Le cinéma Africain: un continent à la recherche de son propre regard. Paris: Cahiers du Cinema (Les Petits Cahiers), ScérénCNDP, 2003. LEVI, Primo. Le devoir de mémoire. (Entretien avec Anna Bravo et Federico Cereja). Paris: Mille et une Nuits, 2000. MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Tradução de Roland Corbisier e Mariza P. Coelho. São Paulo: Paz e Terra, 1977. VIEYRA, P. Soumanou. Le cinéma Africain: des origines à 1973. Paris: Présence Africaine, 1975. 147

A ÁFRICA DE MARGARET LAURENCE: UMA LEITURA DE “THIS SIDE JORDAN” Miguel Nenevé (NEC/UNIR/CNPQ) Escritores canadenses, como escritores africanos, tiveram que achar as suas próprias vozes e escrever sobre o que é nosso em face a um capitalismo opressor (M. Laurence).

Neste trabalho, gostaria de explorar a relação da escritora canadense Margaret Laurence com a África, especialmente no seu primeiro romance This Side Jordan (1992). Parece ser possível afirmar que Margaret Laurence denuncia, de uma forma clara e direta, a colonização britânica na África e o modo como os ingleses tratavam os africanos. A dicotomia entre o mundo dos colonizados e o mundo dos colonizadores é muito visível nesta obra refletindo conceitos de críticos do póscolonialismo que argumentam que o colonialismo sempre favoreceu a crença de que há uma raça “superior” que pode colonizar uma outra “inferior” que deve ser submissa. A preocupação de Margaret Laurence com a colonização e a sua constante proclamação sobre a necessidade de lutar contra todas as formas de opressão e autoritarismo parecem ter nascido e crescido com ela na pequena cidade de Manitoba, onde seu mundo começou. Margaret Laurence nasceu em Neepawa, uma pequena cidade na província de Manitoba, em 1926. Como a própria autora diz, a sua maneira de ver o mundo e de escrever deve muito ao ambiente social onde ela nasceu e foi educada. Em seu ensaio “Where the World Began”, a autora afirma que sua terra natal era um lugar de “júbilo e de tristeza, horrível e bonito. Era de fato, uma cidade das pradarias” (p. 237). De fato, não somente a província de Manitoba, mas todo o oeste canadense tem uma história de protesto contra desigualdades econômicas e sociais que ajudaram Laurence a desenvolver uma consciência social. A escritora cresceu observando este mundo, ouvindo e lendo sobre o líder revolucionário Métis, Louis Riel, por exemplo, e sobre a história do Oeste como local de protesto. A famosa greve de Winnipeg em 1929 e o partido do “Social Gospel” são exemplos de caracterìsticas da 149

esquerda que o Oeste canadense obteve e que emergem nas obras da autora. A percepção da necessidade de lutar contra as desigualdades e injustiças sociais seria fortificada em Margaret Laurence, quando, em 1950, ela foi à África com seu marido engenheiro que recebeu um emprego da “British Protectorate of Somaliland”. Ela acabou passando dois anos na Somália e cinco anos em Gana, período importante e que, de certa forma, serviu de base para muitas de suas obras iniciais. Em seu ensaio “The Poem and the Spear” (1980) Laurence faz um paralelo entre Louis Riel, o Métis enforcado pelo governo central canadense e considerado um mártir, Mahammed Abdille Hasan (Sayid para os seguidores), um somalês que lutou contra o imperialismo britânico do século 20 e o povo de Culloden na Escócia que também foi vítima das forças britânicas em 1746. Portanto a experiência africana ajudou a desenvolver em Laurence o tom de suas obras, sempre sugerindo luta contra a opressão e as desigualdades. África deu também à escritora a oportunidade de observar de perto o funcionamento do imperialismo britânico na África e o comportamento dos britânicos em relação aos africanos. Ela adquiriu conhecimento, experiência e inspiração para começar a escrever sobre a África seu povo e suas histórias. As primeiras obras de Laurence têm a África dos anos 50 e 60 como cenário: A Tree for Poverty, uma tradução de poemas da Somália; The Tomorrow-Tamer, uma coleção de contos sobre África, principalmente Gana; Long Drums and Cannons, uma obra crítica sobre autores africanos; The Prophet Camel Bell uma espécie de literatura de viagem sobre a Somália e This Side Jordan, o seu primeiro romance, com cenário em Gana que me proponho a explorar neste trabalho. Margaret Laurence começou a escrever This Side Jordan quando ainda vivia em Gana e o completou em Vancouver, onde o publicou em 1960. A autora apresenta Gana nos anos cinqüenta, logo antes da sua independência, porque, como ela afirma, a África oferecia o tema da independência, tanto política como interior. Laurence explica por que isso é importante para ela: “eu vinha de uma terra que tinha sido colônia, uma terra que de algum modo ainda era [em 1964] uma colônia” (1978, p. 22). As idéias de Octave Mannoni, presentes na obra 150

Prospero and Caliban: The Psychology of Colonization (1964), deixaram uma visível influência neste primeiro romance de Laurence. As obras de Wole Soyinka e Achebe, que ela comenta em Long Drums and Cannons podem também ter sido uma grande inspiração para a autora. A sua percepção da história começa a passar por mudanças: ela vê a África, de tantas vozes que de certa forma não tinham sido ouvidas ou que tinham sido negligenciadas, com interesse e simpatia. A crítica canadense Craig Tapping em seu artigo “Margaret Laurence and África” diz que os trabalhos de crítica literária sobre a África serviram de aprendizagem para a autora, mais tarde, desenvolver os trabalhos de ficção1. David Richards afirma que a estrada para seus romances “canadenses” cuja base é a cidade fictícia de Manawaka, passam por Gana, Nigéria e o sol do deserto de Haud (1990, p. 16). Existe, portanto, uma espécie de didatismo em sua ficção, talvez herdado da sua observação crítica sobre a África e sobre a presença britânica no continente. Patrícia Morley, crítica e estudiosa canadense, diz que o This Side Jordan “foi elogiada por críticos africanos por fornecer uma visão altamente informada sobre a África de seu tempo” e por iluminar os problemas africanos de uma forma “enfática e memorável” (in Verduyn, p. 17). Por meio de um narrador em terceira pessoa, This Side Jordan apresenta pontos de vista alternativos: dos britânicos e africanos. Os dois protagonistas, o professor de história ganeense Nathaniel Amegbe e o britânico Johnnie Kestoe, um contador de uma firma inglesa em Accra revelam o mundo do colonizador e o mundo do colonizado, dois mundos que não se misturam embora geograficamente ocupem o mesmo espaço. Há muitos exemplos de monólogos interiores do protagonista africano que ajudam a informar o leitor sobre o mundo africano. Como um professor de história, Nathaniel tem a oportunidade de “recuperar” e glorificar o passado africano que para os ingleses “pertence à escuridão”. Apesar do fato de o romance ter sido escrito antes de Margaret Laurence ler Octave Mannoni, a obra retrata o problema 1

TAPPING, Craing. Margaret Laurence and África. In GUNNERS, edit. Crossing the River: Essays in Honour of Margaret Laurence. Winnipeg: Tornstone Press, 1988, p. 65-79.

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do colonialismo e o seu dano causado não somente aos africanos, mas também aos britânicos. Vê-se, por exemplo, o europeu colonial como alguém que, a fim de mascarar a sua inferioridade, exige a homenagem e a submissão do “dependente”. O romance também revela exemplos da resistência africana ao discurso colonizador europeu. Johnie Kestoe, o protagonista britânico, é apresentado bem no inìcio do livro como um homem “que não gostava dos africanos”, mas que dançava uma música típica com uma menina africana (p. 1). Johnnie, junto com outro britânico James Thayer, trabalha para uma companhia têxtil britânica, uma filial da firma Moore and Bright, que importa os tecidos muitas vezes conhecidos como mammy-cloths. Estes tecidos são designados para o mercado africano e são muito coloridos. James Thayer, o gerente da firma e responsável pelos desenhos coloridos, diz que ele “imagina que ele sabe o que esta gente quer melhor que eles mesmos possam saber” (p. 239). Laurence, portanto, vai apresentando a visão colonizadora dos europeus que consideram os africanos como inferiores, como crianças que não têm opção nem decisão sobre suas escolhas de vida. Com certeza, a autora aproveita suas observações que testemunhou em Gana para construir brilhantemente um romance em que apresenta o mundo dos ingleses na África e sua relação com os africanos. Johnnie Kestoe representa, portanto, o colonizador numa posição para julgar e controlar os povos nativos para seu próprio interesse. Na África, ele sente que ele pode preencher todos os seus desejos sexuais, que seriam freados na Inglaterra. Quando ele vê uma menina africana do interior, chamada “bush-girl”, que o africano Whiskey tinha trazido para ser sua “small wife”, Johnnie a toca. Quando ela o rejeita, ele bate em seu rosto (p. 135). Em outra ocasião, Johnnie encontra uma jovem africana do norte num clube noturno e, novamente, revela seu desejo de possuir o corpo da mulher africana, feminino como se fosse seu próprio território: “He drew the grirl close to him and twisted her body against his own” (p. 239)2. Mesmo não gostando dos africanos, Johnnie acreditava que ele tinha o direito de 2

Ele puxou a menina para perto dele e girou seu corpo contra o seu próprio [tradução minha].

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explorar, em todos os aspectos, a exótica sexualidade da africana, que ele descobre mais tarde, era virgem. Para ele, a menina não era mais que “um animal, uma criatura malmente consciente, uma coisa” (p. 230). Como uma terra virgem para ser explorada, a menina estava protegida por um “volumoso vestido verde” que ele descobriria para seu prñprio lucro, sua vantagem própria. Johnnie inspecionou e elogiou a menina como fosse um território novo, desconhecido, a ser explorado. O narrador diz: “Ela era um continente e ele o invasor, querendo tanto possuí-la como destruí-la” (p. 231). Laurence está transferindo aqui o encontro homem/mulher, sedutor/seduzida, estuprador/vítima para a relação colonizadora do europeu versus o não-europeu, o outro, o africano. Isto é muito visível em obras canônicas como a Tempestade de William Shakespeare e no poema de John Donne “Elegy XIX: Going to Bed”3. Mostrando seu desejo de “posse e destruição”, Johnnie Kestoe expressa seu desejo de estuprar não somente o ser humano, mas todo o continente africano. Muitos críticos afirmam que Margaret Laurence usou de uma comparação muito simples entre a mulher e a África. Isso pode se dar pelo fato de ela ser, quando escreveu o livro, uma jovem escritora entusiasmada em pronunciar-se contra o colonialismo inglês na África. Talvez ela quisesse usar símbolos muito claros e visíveis para expressar a sua fé, sua vontade de lutar contra o autoritarismo, a opressão e todas as formas de exploração de um ser humano por outro. Um outro exemplo do romance que pode ser criticado como abertamente didático é a referência que Laurence faz à prática da cliterodectomia na África. No decorrer da obra, ela explica que entre os africanos, na puberdade, as mulheres têm que passar por este processo que às vezes é feito com espinhos e que causa muito ferimento e infecção. Poder-se-ia argumentar que esta explicação poderia ser omitida por ser muito técnica e muito política, mas Laurence poderia ter dificuldades em retratar Gana, no seu período pré-independência, sem falar deste aspecto da cultura do povo, especialmente a situação da mulher. 3

John Donne escreve para a mulher amada se despir para ele, e refere-se a ela como “Minha América, minha nova terra à vista...”.

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Porque, além de sofrer a carga do imperialismo britânico, as mulheres africanas também tinham que carregar a carga do imperialismo dos homens africanos. No romance This Side Jordan, a jovem africana, do norte, Emerald (ou Esmeralda) era como se fosse um bem, uma propriedade, não somente para o britânico Kestoe, mas para os africanos que o entregaram a ele. Nathaniel, o protagonista africano, percebe que ela era “um sacrifìcio humano. E ele permitia isso” (p. 227). Além disso, sendo vendida para a prostituição, ela faz-nos lembrar dos seus ancestrais que eram vendidos para a escravidão em outros países. A história de Nathaniel Amegbe é a história de muitos outros africanos. Sendo vítima do imperialismo britânico, ele vive entre dois mundos: a vila onde estão as suas raízes culturais e a cidade de Accra, onde ele sente-se no exìlio. Se ele ficasse na floresta ele seria “feliz e não feliz” (p. 176). O colonialismo o faz perder seu senso de direção e o faz um estranho em sua prñpria terra: “a cidade de estrangeiros é a sua cidade, o Deus dos conquistadores é o seu Deus, uma fala estranha está em sua boca e não se tem uma casa” (p. 167). Aqui vemos a questão de deslocamento do colonizado que tem que viver “fora do seu lugar”, entre dois mundos, sem uma direção. Ao adquirir a língua e os costumes do opressor, o africano participa de dois mundos que estão em conflitos entre si, fazendo-o sentir deslocado, fora do “seu” mundo. Por meio de Nathaniel, portanto, a autora dá ao leitor a oportunidade de ouvir as vozes do colonizado, bem como proporciona uma reflexão sobre a ambigüidade da situação. Pode-se apreender através dele que a África, considerada “inferior”, sem histñria e sem cultura pelos ingleses, tinha na realidade uma cultura, um império com festivais, feiras, riqueza e felicidade. Tudo isso desapareceu quando os colonizadores vieram. Também pode-se aprender sobre o sofrimento e a humilhação do povo africano causado pelos anos de exploração. O leitor sente que conquista; subjugação, dominação, deslocamento, sofrimento - é tudo o que os britânicos trouxeram para a África. É por isso que Nathaniel Amegbe não pode confiar em nenhum deles. Quando ele ouve Johnnie dizendo que “the bloody Africans are all the same” (“os desgraçados africanos são todos iguais”), ele sabe que Johnnie repete o que todos os ingleses pensam. Ele se recusa a empurrar o 154

carro de Johnnie porque “ele não é um empregado, nem um escravo para receber ordens” (p. 151). Quando a mulher de Johnnie, Miranda, pergunta a ele sobre a cultura africana, ele não acredita em suas boas intenções. Ela pode estar elogiando a cultura africana ou pode estar simples e ironicamente debochando. Podemos dizer que o africano está sempre em alerta, pois não sabe o que virá depois da parte do colonizador. Nathaniel, portanto, pode-se dizer, representa o colonizado descrito por Fanon, que está sempre tenso “confrontado por um mundo governado pelos brancos” (p. 41). A narradora diz que “Nathaniel” não é o seu nome africano, foi dado a ele pelos missionários que o cristianizaram: “e depois de eles terem dado um nome diferente, eles começaram a dar a ele uma alma diferente” (p. 242). Não se sentindo ele mesmo, Nathaniel fica inseguro em relação a tudo. Ele é apresentado como um colonizado, deslocado e despersonalizado. Sua raiva dos colonizadores torna-se cada vez mais visível. Quando a sua esposa rejeita o gesto de preocupação da bem intencionada Miranda (mulher de Johnnie), Nathaniel fica feliz, porque segundo ele, “[a mulher branca] pôde sentir humilhação e angústia como ele mesmo sentira” (p. 263). O romance, portanto, revela claramente que o colonizado obrigatoriamente entra num mundo complexo, num mundo de trepidação, medo e ansiedade e um forte desejo de mudar a condição do oprimido. Nathaniel apresenta vários monólogos interiores que revelam tanto o momento de sonho de liberdade, como o sentimento de revolta. Sua ambivalência é revelada mais claramente quando ele, um defensor dos direitos africanos, tem atitudes que prejudicam os africanos não os britânicos. Como professor, ele aceita presentes de alunos africanos, por recomendá-los para emprego numa firma têxtil britânica. Em outra ocasião, ele permite que a garota africana seja explorada por Johnnie, seu inimigo. Em ambos os casos, Nathaniel tem oportunidade de olhar para trás, para os fatos, com tristeza, questionando a si mesmo sobre a violação da essência humana. Em seus momentos de angústia ele se pergunta o que Victor Edusei, um jornalista ganeense que tinha estudado na Europa, faria em seu lugar. Edusei é mais realista que Nathaiel e sabe que a “mentalidade de escravo” de Gana será erradicada com muito tempo de conscientização. 155

Ao longo do romance, pode-se reconhecer a distinção binária entre o “civilizado” e “bárbaro”, um conceito desenvolvido por Eduard Said, principalmente em Orientalismo (1979). De acordo com Said, os europeus precisam dividir o mundo em Ocidente e Oriente, em colonizadores e colonizados, em civilizados e selvagens a fim de mostrar e manter a “superioridade” européia (p. xi). É um mundo dividido não somente por uma questão racial, mas também por uma disparidade econômica muito grande. Os europeus dizem que eles são necessários na África, a fim de manter os africanos “em seu prñprio lugar”. Os britânicos sempre se colocam no lado bom e colocam os africanos no outro extremo. Como na análise de Said, no romance This Side Jordan, a divisão entre africanos e britânicos é estratégica. Quando o narrador descreve a parte da cidade onde Nathaniel mora, ele diz: “[...] e em todo o lugar havia crianças, bodes, e galinhas. Vívida, barulhenta e caótica, a vida nas ruas fluía... Nathaniel era parte deles e ao mesmo tempo separado. Não vivia exatamente como estes favelados, e mesmo assim vivia entre eles...” (p. 45). Este mundo que Laurence apresenta é semelhante ao mundo descrito por Frantz Fanon, que afirma, em Os condenados da terra (1990): “a região onde os nativos vivem não é complementar ao local habitado pelos colonizadores” (p. 30). Do outro lado da cidade vivia Johnnie Kestoe, que fazia questão de não ter nenhum amigo africano para não diminuir seu status. A casa confortável com bons móveis e decoração fina ajuda-o a mostrar poder sobre os africanos. Por meio de Johnnie Kestoe a autora tem oportunidade de descrever as atitudes dos ingleses em relação aos africanos. Johnnie é um superior que “conhece os seus nativos” porque para ele, os africanos não existem como indivíduos, mas são generalizados como pessoas inferiores, com pouca inteligência sem nenhum senso de ordem ou de honestidade. Como todas as obras de Margaret Laurence, This Side Jordan termina com alguma esperança, esperança de alguma transformação ou redenção quando o filho de Nathaniel cruzar o Jordão e proporcionar um certo renascimento da vida e dos valores africanos. A desigualdade social, a injustiça e todos os males causados pelo imperialismo que julga uma cultura como superior à outra podem e devem ser eliminados. É 156

impossível negar esta preocupação da autora com os despossuídos, os negligenciados e aqueles que tiveram sua história e cultura distorcida e maltratada. Embora sendo uma autora branca e de um país do chamado “Primeiro Mundo” a sua experiência a capacita a escrever sobre colonialismo, imperialismo e várias formas de dominação. Laurence usa uma figura da Bíblia, um instrumento cristão para referir-se ao mundo africano, não-cristão que busca mudança, que espera a passagem para um outro mundo, um mundo de liberdade. A sua história de canadense das pradarias ou do oeste, que é considerado por muitos críticos como colônia do Leste canadense, e sua experiência com outros povos colonizados, como os africanos, ajudaram-na a formar sua convicção contra colonialismo ou qualquer forma de dominação e exploração. This Side Jordan foi criticada por alguns estudiosos da obra de Margaret Laurence como muito radicalmente anti-européia, mas podese entender que a jovem escritora queria expressar por meio da ficção o clamor de vozes negligenciadas e oprimidas. A multiplicidade de vozes dá ao leitor a oportunidade de repensar a “verdade” estabelecida e divulgada pela visão euro-cêntrica. Em seu livro The Prophet‟s Camel Bell (1991) Laurence reconhece que às vezes parecia irônico a ela condenar o imperialismo e ao mesmo tempo fazer parte dele, uma vez que é uma canadense branca. Creio que o reconhecimento desta ambivalência lhe dá mais autoridade para falar contra o colonialismo. Ela sabe que ela não pode representar o africano, mas pode falar de uma posição que apóia suas lutas, sua resistência ao discurso colonizador. A África de Margaret Laurence, portanto, é uma África que sofre com o colonialismo, mas que merece cruzar o Jordão e alcançar a liberdade: liberdade de expressão, liberdade econômica e liberdade de ser um espaço que possa ter seus deuses, suas crenças e seu desenvolvimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FANON, Frantz. The Wretched of the Earth. London: Penguin, 1983. LAURENCE, Margaret. This Side Jordan. Toronto: M & S, 1992. LAURENCE, Margaret. A Tree for Poverty: Somali Poetry and Prose. Toronto: ECW Press, 1993. 157

LAURENCE, Margaret. The Prophet‟s Camel Bell. Toronto: M & S, 1991. LAURENCE, Margaret. Long Drums and Cannons: Nigerian Dramatists and Novelists 1952-1966. Toronto: Macmillan, 1968. LAURENCE, Margaret. Where the World began. In LAURENCE, M. Heart of a Stranger, p. 237-244. LAURENCE, Margaret. Heart of a Stranger. Toronto: Seal Books, 1980. LAURENCE, Margaret. Ivory? Tower or Grassroots?: The Novelists as Sociopolitical Being. In W. H. New (ed.). A Political Art. Vancouver: UBC, 1978. MANNONI, Octave. Prospero and Calbian: The Psychology of Colonization. Translated by Pamela Powesland. New York: A Prager, 1964. MORLEY, Patricia. The Long Trek Home: Margaret Laurence‟s stories. In Verduyn, p. 38-51. RICHARDS, David. “Leave some Room to dance!”: Margaret Laurence and Africa. In NICHOLSON, C. Critical Approaches to the Fiction f Margaret Laurence.Vancouver: UBC, 1990, p 16-34. SAID, Edward. Orientalism. New York: Vintage Books, 1979. TAPPING, Craig. Margaret Laurence and África. In Gunnars‟s Kristjana. Crossing the River: Homage to Margaret Laurence. Winnipeg: Turnstone Press, 1988, p. 65-79. VERDUYN, Christl, ed. Margaret Laurence: An Appreciation. Pewterborough: JCS, 1988.

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“VOU LIMPAR A CIDADE DA BAHIA”: RACISMO E PERSEGUIÇÃO POLICIAL AS PRÁTICAS AFROBRASILEIRAS EM “TENDA DOS MILAGRES”1 Josivaldo Pires de Oliveira (UFBA) Aqui ressoam os atabaques, os berimbaus, os ganzás, os agogôs, os pandeiros, os adufes, os caxixis, as cabaças: os instrumentos pobres, tão ricos de ritmo e melodia. Nesse território popular nasceram a música e a dança (Jorge Amado).

O Brasil, já dizia Manuel Querino, possui duas grandezas reais: a uberdade do solo e o talento do mestiço. Com essa frase, Jorge Amado inicia as primeiras linhas do que viria se tornar um dos seus mais importantes romances. Publicado em 1969, Tenda dos Milagres, surgiu em um período de acirrado debate sobre relações raciais no Brasil. A década de 1960 é um marco crucial na descoberta de novos temas e abordagens das Ciências Sociais e Humanas. A questão racial era um dos objetos contemplados, pois estava na ordem do dia nos debates acadêmicos, não apenas no Brasil, mas também em outros países do ocidente. Assim, os estudos sobre religiosidade afro-brasileira e relações raciais – leia-se preconceito racial e racismo – iriam marcar a produção intelectual brasileira nas décadas ulteriores. Tenda dos Milagres pode ser entendido como o discurso de um intelectual baiano sobre o aludido tema: “livro realmente da luta do povo brasileiro contra o racismo” (AMADO apud GOMES e NEVES, 1988, p. 52). No romance é evidente a tese da mestiçagem, considerada a solução possìvel para o problema da questão racial no Brasil: “atributo

1

Uma versão preliminar desse texto foi lida na mesa-redonda: “Capoeira, Histñria e Literatura”, no Simpñsio Internacional Tempo: Histñria e Literatura, realizado pela Universidade Federal da Bahia e Universidade Estadual de Feira de Santana. O evento ocorreu entre 25 e 29 de novembro de 2002, na cidade de Feira de SantanaBA. À presente versão foram acrescentadas algumas notas e atualizadas algumas referências, sem maiores alterações na estrutura do texto.

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da cidade mestiça, do amor das raças, da clara manhã sem preconceito” (AMADO, 1983, p. 28). Algumas das questões tratadas nesse romance, a exemplo da relação da polícia com o candomblé e a capoeira, práticas culturais de matrizes africanas, foram retomadas, principalmente, de um outro datado da década de trinta, do século XX. Trata-se de Jubiabá, publicado em 1935. Nele encontra-se o “herñi negro” Antônio Balduìno, um capoeira, “o imperador da cidade negra da Bahia” (AMADO, 2000, p. 54). Em Tenda dos Milagres, tal atributo coube a Pedro Archanjo, também capoeira protegido dos orixás e protetor do povo de santo. Archanjo seria um mulato autodidata “como bedel na Faculdade de Medicina, defendia o afro-brasileiro e sua cultura contra as teorias racistas dos acadêmicos da primeira década do século XX” (BROOKSHAW, 1983, p. 138). Os estereótipos e preconceitos presentes nas elaborações de Jorge Amado, inclusive no romance em estudo, foram alvos de severas críticas. Um exemplo é o papel da mulata, o que despertou o seguinte comentário: A mulata é sempre a mesma, a encarnação das fantasias sexuais do homem branco. [...] No caso de Ana Mercedes, suas aptidões extra-sexuais são ridicularizadas [...]. É significativo, porém, que a mulata obtenha maior respeitabilidade quanto mais distante esteja de seus antepassados africanos, fato este que mais uma vez ilustra o preconceito de Amado (BROOKSHAW, 1983, p. 143)2.

As críticas feitas à obra de Jorge Amado nem sempre são contundentes como o exemplo citado, às vezes derivam-se de leituras simplistas. Como não me ocuparei aqui com o debate sobre a crítica da literatura amadiana, recomendo a leitura do texto de Ana Paula Pala2

A personagem Ana Mercedes era uma jornalista responsável em acompanhar o cientista social norte-americano James D. Levenson. Professor da Universidade de Columbia que pagou para o bacharel Fausto Pena, “o corno do momento”, parceiro de Ana Mercedes, fazer uma pesquisa sobre Pedro Archanjo. Ana Mercedes é apresentada no romance como uma jornalista de duvidoso caráter profissional, mas bastante capaz em suas aptidões sexuais (AMADO, 1983, p. 19-23).

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martchuk (1998), no qual a autora destaca o caráter popular e de comprometimento social do romance amadiano, exigindo assim dos leitores e da própria crítica um maior cuidado ao avaliá-lo à luz dos cânones hegemônicos da produção literária no Brasil. Interessa a este trabalho o universo da repressão aos terreiros de candomblé e capoeira com destaques para os capangas e capoeiras e suas relações com o poder público, reconstituídos na ficção de Tenda dos Milagres. Os personagens Pedrito Gordo e Inocêncio Sete Mortes servirão de baliza para as observações que se seguem. Pedrito Gordo é um personagem inspirado no delegado Pedro de Azevedo Gordilho de quem muitas evidências históricas são encontradas. As notícias de periódicos que circulavam na Cidade de Salvador na década de 1920 permitem acompanhar a campanha desenvolvida pelo delegado contra o candomblé e, por tabela, a capoeira, arquitetando o controle social das ruas da capital. Ângela Lunhing, em seu trabalho sobre a repressão ao candomblé no período de 1920 a 1942, evidenciou que Pedrito foi um dos mais violentos e temidos chefes de polícia chegando a se tornar símbolo da perseguição ao povo de santo no referido período. A autora, pesquisando os jornais que circulavam em Salvador nas décadas de 1920 e 1930, não identificou a presença de capoeiras, pelo menos explicitamente, mas reuniu um montante de notícias de jornais sobre as batidas aos candomblés (LUHNING, 1995/96). Pedrito aparece em muitas dessas notícias, entretanto, Jorge Amado é quem se encarrega de construir sua caricatura, através de um personagem portador de mesmo apelido, marcado pela repressão ao candomblé e a capoeira. Alto, gordo, branco,“vacilando entre o loiro e o sarará” seriam as características físicas de Pedrito. Bacharel em direito – essa era, inclusive, a condição necessária para exercer o cargo de Chefe de Polícia – o ódio do delegado contra as manifestações da cultura afro-brasileira é justificado na sua formação intelectual, pois em seu tempo de estudante na Faculdade de Direito fora conduzido por leituras de autores influenciados pelas teorias do racismo científico, que defendiam a tese de que

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a cultura de matrizes africanas era uma degeneração social perniciosa e com tendência à criminalidade3. No gabinete de Pedrito Gordo, numa pequena estante, alinhavam-se livros e opúsculos, alguns do tempo de Faculdade, outros lidos depois da formatura, marcados a lápis vermelho, vários de publicação recente. As Três Escolas Penais: Clássica, Antropológica e Crítica, de Antônio Moniz Sodré de Aragão, adepto da Escola Antropológica Italiana: Degenerados e Criminosos, de Manuel Bernardo Calmon du Pin e Almeida: Craniometria Comparada das Espécies Humanas na Bahia sob o Ponto de Vista Evolucionista e Médico-Legal de João Batista de Sá Oliveira: Germes do Crime, de Aurelino Leal [...] (AMADO, 1983, p. 245).

Assegura ainda o autor que se juntavam a esse acervo publicações como: “A Criminalidade Negra; A Degenerescência Psìquica e Mental Entre os Povos Mestiços nos Países Tropicais; As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil; Antropologia Patológica – Os Mestiços” (Idem, p. 246). A lista das obras reforça a influência dos racialistas na formação do delegado Pedrito. Assim, buscando esclarecer aos leitores porque Pedrito “aprendera que negros e mestiços possuem natural tendência ao crime, agravada pelas práticas bárbaras do candomblé, das rodas de samba, da capoeira, escolas de criminalidade a apreciar quem já nascera assassino, ladrão, canalha” (Idem, p. 245-246).

3

A Faculdade de Direito da Bahia assim como a Escola de Medicina, teve relevante importância na difusão das teorias raciais no início do século XX. Sobre essa questão ver: Schwarcz (1993).

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Na foto, Jorge Amado pousa com mãe Senhora, importante mãede-santo do candomblé baiano, sentada à esquerda. Este momento ilustra a relação de intimidade do escritor com a religião afrobrasileira. Foto reproduzida de Tavares (1981).

Esse discurso (tomado por Jorge Amado como do chefe de polícia Pedrito Gordo) era reflexo das teorias racistas que marcaram a virada do século XIX para o XX. Essas teorias representavam a base da antropologia criminal, cujo pensador de maior eminência, Cesare Lombroso, afirmava em seu livro O homem delinqüente, publicado em 1876, ser a criminalidade um fenômeno físico e hereditário (SCHWARCZ, 1996, p. 85-86). Essa ciência, denominada Criminologia, acreditava ainda poder capturar o criminoso antes de cometer o ato4.

4

Vale ressaltar que o médico e etnólogo Raimundo Nina Rodrigues foi um dos maiores representantes das teorias lombrosianas, ao qual “Lombroso sagrava-o Apóstolo da Antropologia Criminal no Novo-Mundo” (PEIXOTO, 1957).

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Segundo esse raciocínio, Pedrito se propunha a acabar com a “negralhada”: “Vou limpar a cidade da Bahia”. Seria essa a intenção do delegado, segundo Jorge Amado. Sua administração na chefatura de Polìcia durou de 1920 a 1926 e para a realização de sua campanha “civilizadora” contra os costumes populares, contava ainda segundo Jorge Amado, com sua policia secreta formada por famosos assassinos dentre os quais, Inocêncio Sete Mortes. Buscaremos, nas linhas seguintes, a partir de notícias de jornais e dos autos do processo criminal do homicídio de Sete Mortes, reconstituir a relação desse ex-policial com os serviços de capangagem política e o universo da capoeira na Cidade do Salvador na Primeira República. As campanhas eleitorais, na Primeira República, no Brasil, foram marcadas por acirrados conflitos partidários. Termos como “poder local”, “coronéis” e “capangas” estão associados à histñria da luta político-partidária no Brasil republicano (LINS, 1988, p. 13). Nesse sentido, foram vários os mecanismos utilizados pelos grupos políticos que disputavam o poder, dentre os quais a contratação de “sicários” desordeiros, para atuarem como violentos cabos-eleitorais5. Na Bahia, neste período, parece ter sido freqüente para esses serviços a utilização de forças públicas. Constatamos na Cidade de Salvador, a presença de policiais da guarda civil atuando como temíveis capangas e que se tornaram notórios cabos-eleitorais. Cito aqui as polêmicas em torno de Antônio Moniz, governador do Estado da Bahia entre 1916 e 1920, quando foi acusado pela imprensa local de utilizar serviços de capangagem política realizados por policiais de duvidoso caráter: “Sete Mortes era um sicário obscuro [...]. Quem o fez célebre foi o dr. Antonio Moniz, mandando-o buscar no sertão longínquo, para ser aqui a sombra do seu governo” (Jornal A Tarde, 11/05/1922, p. 1).

5

“Sicário” era um adjetivo freqüentemente atribuìdo a Inocêncio Sete Mortes que encontramos em várias notícias dos jornais trabalhados. O mesmo significa “assassino comprado para cometer toda a casta de crimes”, “malfeitor, facìnora”, “cruel, sanguessedento” (AULETE, 1964, p. 3732).

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Sete Mortes chamava-se na verdade Inocêncio Firmino de Souza, casado com Medrada Firmino da Rocha. Nasceu em 1883 e, segundo consta, era oriundo da cidade de Juazeiro, sertão da Bahia. Durante a gestão de Antônio Moniz, Sete Mortes foi guarda civil de 1ª classe e era acusado de ser capanga do citado governador. A atuação de Inocêncio Sete Mortes não se restringiu ao mundo da capangagem política, foi também bastante conhecido no universo da capoeiragem (prática cotidiana dos capoeiras) em Salvador no segundo decênio da República. Não se sabe ao certo se os seus primeiros contatos com os capoeiras foram na Cidade do Salvador ou em Juazeiro. Nas memórias do Mestre Noronha, Inocêncio Sete Mortes aparece listado entre os capoeiras que causaram terror nas ruas de Salvador, onde, em meio a tiros e navalhadas, era ator e autor de conflitos envolvendo policiais, marinheiros e prostitutas nas famosas zonas da cidade. Inocêncio morava na Boa Viagem e trabalhava como cabo eleitoral (COUTINHO, 1993, p. 65). As informações que encontrei nos jornais (A Tarde, Diário da Bahia e Jornal de Notícia) e nos autos criminais do inquérito policial do homicídio de Sete Mortes confirmam as memórias do mestre Noronha. Assim, pode-se inferir que se trata, aqui, de um capoeira, guarda civil que trabalhava como capanga político e teve seu nome associado ao governo do Estado da Bahia na gestão de Antônio Moniz de Aragão. A relação de Inocêncio Sete Mortes com o poder público como guarda civil na Secretaria de Segurança Pública não passou despercebida na ficção amadiana. Ele aparece no romance Tenda dos Milagres em algumas passagens que narram as peripécias dos secretas do delegado Pedrito na “campanha civilizadora” contra o povo de santo, sambistas e capoeiras. Como membro da Guarda Civil e “pau para toda obra”, pertencia à “malta de facìnoras, os assassinos a serviço do delegado auxiliar” (AMADO, 1983, p. 275). Ainda assim, o autor de Tenda dos Milagres não deu muita ênfase a Inocêncio Sete Mortes, como acontece com outros personagens, a exemplo de Zé Alma Grande, Pedro Archanjo, sendo este último apresentado por Jorge Amado como defensor do Candomblé e dos capoeiras. 165

Peça do Laudo do Exame Corpo de Delito realizado no cadáver de Inocêncio Firmino de Souza, vulgo “Sete Mortes”, em 1922. Documento reproduzido do Inquérito Policial disponível no Arquivo Público do Estado da Bahia (APEBA).

O escritor baiano narra que Zé de Ogum foi proibido por Majé Bassã de freqüentar o terreiro de Xangô por ter matado uma iaô. Conta que quando ele recebia o santo sua força multiplicava. Foi o que ocorreu em uma noite de festa na Conceição da Praia. Ao receber o santo, parecia estar bastante irritado quando acabou com toda a celebração. Chegando a patrulha de soldados, o mesmo a enfrentou levando vantagens. O que custou perseguição a sua pessoa chegando a força policial a capturá-lo no dia seguinte quando lhe encontraram adormecido na 166

Rampa do Mercado. Ao contrário de uma boa punição, o que comumente acontecia com todo aquele que enfrentava os secretas da Guarda Civil, o que houve foi o seu recrutamento pelo delegado Pedrito. Assim, o valente Zé de Ogum se tornaria Zé Alma Grande, o capanga de maior confiança do delegado auxiliar6. Enquanto Zé Alma Grande aparece em quase todas as passagens que Jorge Amado trata dos secretas do Pedrito, Inocêncio Sete Mortes surge apenas em alguns momentos. Entretanto, muitas das características traçadas pelo escritor para o personagem fictício de Zé Alma Grande, combinam com o personagem real de Inocêncio Firmino de Souza, vulgo Sete Mortes. Zé Alma Grande não discutia as ordens do chefe, não vacilava em sua execução. Não havia de ser um caboclo de revólver e ameaças quem o fizesse deixar de cumprir comando de Pedrito. Bater e matar eram para ele coisas simples e normais. [...] Zé Alma Grande, negro do tamanho de um sobrado, homem de toda confiança de Pedrito, não conhecia a cor do medo (Idem, p. 244).

Zé Alma Grande era bastante eficiente no cumprimento de suas obrigações. Cumpria à risca o que lhe mandava seu chefe, “não vacilava em sua execução”. Curiosamente Inocêncio era freqüentemente acusado pela imprensa local de ser um fiel capanga de políticos ilustres. Entre os nomes associados a ele encontra-se o de José Joaquim de Seabra, Antônio Moniz e do chefe de polícia Álvaro José de Cova. Todos da mesma tendência partidária, o que reforça a idéia de capangagem política realizada por Inocêncio Sete Mortes (Jornal A Tarde, edições de 10/05/1922, p. 1 e 11/05/1922, p. 1). Assim como Zé Alma Grande, Inocêncio tinha um porte físico assustador e amedrontava a quem por ele passava: era “um indivìduo de constituição forte, medindo um metro e setenta e nove centímetros 6

Na ficção de Amado temos o caso de Manuel de Praxedes narrado nas páginas 247 e 248, que foi assassinado por resistir a uma batida no “terreiro de Sabaji, nas aforas da cidade”. O caso é que no terreiro Manuel foi vitorioso, sendo, posteriormente, vítima de uma emboscada realizada pelos secretas de Pedrito.

167

de altura e pezando [sic] noventa e um kilos [sic]; mestiço acaboclado” (APEBA, 1922). Sua relação com a população de Mont Serrat, comunidade onde morava, era de medo, onde o exercício de seu poder era imposto ao cotidiano daquelas pessoas, “suas proezas aterrorizavam ainda mais pela arrogância com que ele alardeava o respeito e a gratidão que a polícia e o governo lhe deviam” (Jornal A Tarde, 10/05/1922, p. 1). Assim, muito se assemelham os dois, permitindo, inclusive, sugerir que o capoeira e guarda civil Inocêncio Firmino de Souza, conhecido por Sete Mortes pode ter sido inspirador do personagem amadiano Zé Alma Grande, assim como o próprio Sete Mortes. Inocêncio Sete Mortes era guarda civil de primeira classe, portanto, funcionário da Secretaria de Segurança Pública, que teria sido exonerado de seu cargo de policial e se afastado do corpo de agentes policiais da guarda civil. Talvez tal fato tenha ocorrido com a sucessão do governo de Antônio Moniz, pois a imprensa local divulgava em seus periñdicos que Sete Mortes seria um capanga do governador “a quem acompanhou como a prñpria sombra”. Nesse sentido Sete Mortes pode ter sido afastado em 1920, quando assumiu o governo da Bahia, pela segunda vez, Joaquim José de Seabra. Desta forma pode-se inferir que Inocêncio Sete Mortes não poderia ter trabalhado com Pedro de Azevedo Gordilho, o Pedrito, como informa Jorge Amado, e sim com o chefe de polícia Álvaro José de Cova, um dos nomes associados a ele. Em requerimento feito ao Dr. Magalhães, pelo próprio Álvaro Cova, na defesa de continuar morando em um velho prédio em Mont Serrat, Sete Mortes e sua família, estava explícito essa relação: “Sendo o governador o dr. Moniz, o chefe de polícia dr. Álvaro Cova pediu ao dr. Magalhães permissão para continuar a morar no prédio um guarda civil casado e com filhos, de nome Inocêncio” (Jornal A Tarde, 11/05/1922, p. 1). Além de Sete Mortes outros nomes de capangas da polícia secreta da guarda civil estão associados ao chefe de polícia Álvaro Cova e ao próprio José Joaquim de Seabra. Um outro exemplo é o do secreta Pedro José Vieira, vulgo Pedro Mineiro, um capoeira conhecido pelas suas desordens, sobre o qual já fiz referência. No romance em questão, 168

Álvaro Cova não aparece e nem o Sete Mortes é apresentado como capoeira e sim como um facínora secreta da polícia de Pedrito. Com base no exposto, acredito que a intenção de Jorge Amado era denunciar, através do personagem Pedrito Gordo as práticas violentas de Pedro de Azevedo Gordilho, na repressão ao povo de santo e aos capoeiras, associando ao chefe de polícia nomes de notórios criminosos da Cidade do Salvador, a exemplo de Inocêncio Firmino de Souza, o Sete Mortes. A razão pela qual ocultou a cultura da capoeiragem em Inocêncio pode está relacionada ao posicionamento ideológico do autor em relação a essa prática cultural afro-brasileira. Ou seja, os capoeiras, em Tenda dos Milagres, teriam que ser os “herñis” e não os bandidos. É o que percebemos nos personagens de Lídio Corró e no protagonista do romance Pedro Archanjo, o “ojuoba”. Jorge Amado não afirma ser Inocêncio Sete Mortes um capoeira, pelas razões já consideradas. Este indivíduo era um assíduo freqüentador das tradicionais rodas de capoeira da velha Bahia, pois é listado na memória que se guarda dos capoeiras, vistos, às vezes, com depreciação, sendo responsabilizados pelas desordens nas rodas de capoeiragem onde as navalhas agiam sem freios. Mesmo não fazendo referência a Sete Mortes como capoeira no decorrer do romance, este não ficou de fora da galeria dos inesquecíveis capoeiras da Bahia listados pelo próprio Jorge Amado: No recinto da Escola demonstraram valor e competência, todo o seu saber, os grandes mestres: Querido de Deus, Saverista, Chico da Barra, Antônio Maré, Zacaria Grande, Piroca Peixoto, Sete Mortes, Bigode de Seda, Pacífico do Rio Vermelho, Bom Cabelo, Vicente Pastinha, Doze Homens, Tiburcinho de Jaguaripe, Chico Me Dá, Nô da Empresa e Barroquinha (AMADO, 1983, p. 14).

Inocêncio Sete Mortes aparece acompanhado de capoeiras que fizeram fama na Cidade do Salvador, muitos destes, famosos desordei-

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ros7. A reconstituição de aspectos da vida de Inocêncio Firmino de Souza, vulgo Sete Mortes, nos permite compreender faces da história social da capoeira na Bahia, a exemplo da relação de alguns capoeiras com a vida política da capital baiana. Assim, o romance Tenda dos Milagres constitui-se em um importante registro que, cruzado com outros documentos, possibilita a realização da pesquisa histórica sobre o referido tema. Em seus romances, tendo como cenário a Cidade do Salvador, não escaparia a Jorge Amado os capoeiras e com esses suas experiências cotidianas, como suas relações com a religiosidade afro-brasileira e os pequenos conflitos que os mesmos estavam envolvidos. Também não escapou ao romancista baiano a denúncia à repressão policial aos candomblés, a relação de notórios criminosos com a polícia baiana, a capangagem política e a crítica as teorias raciais que alimentavam o racismo científico presente na sociedade baiana, ainda na primeira metade do século XX. Muitos dos personagens protagonistas de seus romances, além de outros atributos, pertenciam ao universo da capoeira e do candomblé. Pedro Archanjo, por exemplo, o principal defensor do povo de santo contra a repressão, era um capoeira e adepto do candomblé. Neste trabalho me interessaram particularmente os personagens Pedrito Gordo e Inocêncio Sete Mortes por serem, na ficção amadiana, símbolos da repressão e inspirados em história de indivíduos que viveram na Cidade do Salvador e que de alguma forma se relacionavam com o universo da capoeira e do candomblé deste período. Com isso, Tenda dos Milagres representa um dos mais importantes testemunhos da história social da Bahia do século XX, em seu aspecto mais peculiar: a cultura afrobrasileira.

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Encontramos alguns dos capoeiras citados por Jorge Amado nas notícias de jornais e na documentação policial pesquisada. Sobre Zacarias Grande, Piroca Peixoto e Vicente Pastinha, ver Pires (2004) e Oliveira (2005).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APEBA. Auto de Exame Corpo de Delito de Inocêncio Firmino de Souza, vulgo “Sete Mortes”. Seção Judiciária, est. 195, cax. 2, doc. 5, ano de 1922. AMADO, J. Jubiabá. Rio de Janeiro: Record/Correio da Bahia, 2000. AMADO, J. Tenda dos Milagres. Rio de Janeiro: Record, 1983. AULETE, C. Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1964. BROOKSHAW, D. Raça & cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. COUTINHO, D. O abc da capoeira angola: os manuscritos do Mestre Noronha. Brasília: CIDOCA/DF, 1993, p. 23. GOMES, Á. C.; NEVES, S. R. R. Literatura comentada: Jorge Amado. São Paulo: Nova Cultural, 1988. LINS, W. Mandonismo e obediência. In: LINS, W. et al. Coronéis e oligarquias. Salvador: Ianamá, 1988. LUHNING, A. “Acabe com este santo, Pedrito vem aì...”: mito e realidade da perseguição policial ao candomblé baiano entre 1920 e 1942. Revista USP: Dossiê Povo Negro – 300 Anos, n. 28, 1995/96, p. 194-220. OLIVEIRA, J. P. No tempo dos valentes: os capoeiras na Cidade da Bahia. Salvador: Quarteto, 2005. PALAMARTCHUK, A. P. Jorge Amado: um escritor de putas e vagabundos? In: CHALHOUB, S.; PEREIRA, L. A. de M. (Org.). A história contada: capítulos de história social da literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. PEIXOTO, A. A vida e a obra de Nina Rodrigues. In: RODRIGUES, N. As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil. Salvador: Progresso, 1957. PIRES, A. L. C. S. A capoeira na Bahia de Todos os Santos: um estudo sobre cultura e classes trabalhadoras (1890-1937). Tocantins: Neab/Grafset, 2004.

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SCHWARCZ, L. K. M. Usos e abusos da mestiçagem e da raça no Brasil: uma história das teorias raciais em finais do século XIX. Afro-Ásia: Revista do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, n. 18, 1996. SCHWARCZ, L. K. M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. TAVARES, P. O baiano Jorge Amado e sua obra. Rio de Janeiro: Record, 1981.

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BRACONAGENS, NOÇÕES E HISTÓRIAS Nubia Jacques Hanciau (FURG) Caçar é saber que o Outro nos furtou um território, é tentar reconquistá-lo em parcelas, por adjunções que são igualmente enxertos metonímicos, em que o sujeito pode ter um olhar mais amplo sobre o lugar que ele não habita. Caçar é usurpar em um território que não se possui mais. A operação é eminentemente tática, é perigosa e arriscada (Simon Harel).

O conceito de “braconagem” – “caçar furtivamente em terreno vedado” – encontrado no Grande Dicionário de Domingos de Azevedo, tomado emprestado de Michel de Certeau e desenvolvido por Simon Harel, possibilita identificar estratégias de resistência ou de sobrevida empregadas pelo sujeito (tanto em perspectiva individual quanto coletiva) em seu meio. Variadas em gênero e número, essas estratégias declinam-se de acordo com os contextos e têm por característica comum serem contraprodutivas aos olhos da autoridade estética, política e econômica. No texto de Simon Harel “Braconagem, um novo modo de apropriação do lugar”, publicado em Interfaces Brasil/Canadá1, lê-se: “Atividade ao mesmo tempo ilícita e contingente, a „braconagem‟ é uma invasão, um transbordamento, uma camuflagem que permite a um sujeito de se imiscuir no território do outro, sujeitando-se aos perigos”. A seguir, ao pé da página, a nota da tradutora complementa a definição: “O termo braconagem (tradução de braconnage) não está dicionarizado em português, assim como os equivalentes a braconner (verbo) e braconnier (substantivo). Existe braco (raça de cães de caça), mas o termo não dá conta da riqueza semântica em francês, que supõe caçar ou pescar sem permissão, em tempos e lugares proibidos, podendo sugerir ainda a idéia de invasão, de usurpação. Opta-se por utilizá-lo aportuguesado ou às vezes substituìdo pela palavra „caça‟ e seus derivados – caçar, caçador”. 1

Interfaces Brasil/Canadá, n. 5, p. 211-230, 2005. Tradução de Maria das Graças Carvalho, revisão de Maria Bernadette Velloso Porto.

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Atividade ilícita, a braconagem significa, além de ir ao território do outro, fazer incursão, espoliar o proprietário dos lugares, de modo que o usufruto dessa exploração seja parcial. Fazer braconagem implica um processo que se constitui de maneira sub-reptícia. Ao mesmo tempo ardiloso e tático, o sujeito que caça tenta fazer-se invisível para melhor escapar à lógica do espaço próprio. Numerosos são os lugares contemporâneos da dissimulação que atualizam essa lógica da caça, tradutora da usurpação, da invasão, em suma, uma camuflagem que permite a “infiltração” no territñrio alheio. Sabidas a origem e a utilização do termo, cabe lembrar ainda que a “braconagem” tem o mérito de situar o indivìduo e a coletividade o mais próximo possível do seu espaço de ação (texto, corpo, espaço social); onde sujeito e meio não são mais independentes: o sujeito constitui-se das opressões impostas pelo meio. Assim sendo, a prática da escritura - tanto quanto a da vida em sociedade -, não são mais vistas como naturais, mas sim procedentes de estratégias de resistência, quer ante a instituição literária dominante (língua standard, belo estilo), ou ante conformismos sociais (generosidade, gentileza, boa educação). A noção de braconagem será apresentada neste artigo considerando a acepção da apropriação intelectual furtiva – questão tão polêmica quanto perene – representada em Les braconniers d‟histoires (2004), texto de Nancy Huston2, tradução para o português, intitulada Os caça2

Nascida em 1953, em Calgary, na província de Alberta, Canadá, Nancy Huston é prolífica autora em língua francesa e inglesa. Escreveu os romances Variations Goldberg (1981), Histoire d‟Omaya (1985), Trois fois septembre (1989), Cantique des plaines (1993), este sua tradução da primeira obra que escreve em inglês sob o título de Plainsong. Publicou ainda os romances La virevolte (1994), Instruments des ténèbres (1996), L‟empreinte de l‟ange (1998), Prodige (1999), Dolce Agonia (2001). É reconhecida por ter reescrito ou traduzido a maioria de seus títulos. Garantiu a reputação de escritora não apenas de ficção, mas também de provocadores e ecléticos ensaios, encontrados em coletâneas tais como: Dire et interdire: éléments de jurologie (1980), Mosaïque de la pornographie: Marie Thérèse et les autres (1982), Lettres parisiennes: autopsie de l‟exil (1986), Journal de la création (1990), Tombeau de Romain Gary (1995), Désirs et réalités (1996), Nord perdu (1999), entre outros, que lhe valeram vários prêmios e a colocam na cena literária francesa como um dos nomes reconhecidos. Traduzida em várias línguas, só agora Nancy Huston ingressa na cena literária nacional com

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dores de histórias (Nubia Hanciau, 2007). Na utilização metafórica desse conceito rizomático e híbrido, a ficção jocosa e condescendente de Huston renova a representação das relações entre identidade e alteridade para valorizar a compaixão pelo outro, a generosidade e a tolerância, mesmo no ato flagrado da travessia ilícita da fronteira da propriedade textual, distante do contrabando institucionalizado e admitido. O texto inédito de Nancy Huston, ilustrado pelas criações oníricas da jovem Chloé Poizat3, foi oferecido ao público que participava da 5ème Journée Mondiale du Livre et du Droit d‟Auteur, em Paris, em abril de 2004. Trata-se de um breve ensaio/fabulação a respeito do processo de criação literária, que traz à baila as seguintes questões tão antigas quanto atuais: A partir do que um autor escreve? Ele deve e pode proteger suas idéias face aos outros escritores? O que fazer quando o plágio ameaça? *

LES BRACONNIERS D’HISTOIRES/OS CAÇADORES DE HISTÓRIAS Autora: Nancy Huston Tradutora: Nubia Hanciau Os escritores são aves de rapina, pilhadores, perpetuamente à espreita, à procura de histórias, de trechos cintilantes de narrativas que poderão monopolizar e engastar, tais como pedras preciosas, em seus projetos literários – conto, romance, peça de teatro. Quando dois escritores se encontram, seus olhos logo se iluminam: curiosidade – tão aguda quanto a desconfiança: O que ela viveu recentemente? O que ele teria para me contar? O que viram, ouviram ou souberam, de uma maneira ou outra, nestes

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Marcas de nascença (L&PM, 2007, tradução de Ilana Heineberg), seu primeiro romance “brasileiro”, em quinta edição. Nascida em 1970, Chloé Poizat vive e trabalha em Paris. Diplomada em Belas Artes em Orléans, onde explorou principalmente as técnicas da gravura, desde 1993 ilustra para a imprensa e para edições. Em paralelo expõe regularmente seu trabalho pessoal na França e no exterior.

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últimos meses? Que história poderia lhes escorregar dos lábios e tornar-se um fio colorido para a tapeçaria que estou tecendo? Inversamente, cada escritor sabe que deve atentar para não ficar muito eloqüente ou lisonjeado pelas centelhas de interesse que vê nascer nos olhos de seus ouvintes, deve temer deixar escapar as mesmas histórias com as quais quer regalar seus futuros leitores... É mais tranqüilizador para os escritores freqüentar artistas que não sejam escritores – ou, melhor ainda, pessoas comuns, que contarão suas histórias de maneira franca e inocente, sem mesmo observar que estão sendo armazenadas para serem usadas mais tarde, estudadas, para serem empregadas em alguma forma de exploração literária. Eis então a história. Ela começou como um fragmento da realidade, mas não posso colocar a realidade na página, somente palavras. Então, aqui estão palavras bem simples para narrar, inicialmente, o que aconteceu a um certo senhor – fato que já foi interessante em si –; em seguida, mais interessante ainda, o que aconteceu à história desse mesmo senhor. Em um café da cidade do Cairo, a menos que tenha sido Rabat, Argel, Túnis, Beirute ou Aleppo - uma dessas cidades da África do Norte ou do Oriente Médio nas quais os cafés são freqüentados quase exclusivamente por homens desocupados, e onde, dada a duração de um dia e as poucas formas de fazê-lo escoar, os clientes passam inumeráveis horas a jogar dados (a palavra dados nesta frase pode ser substituída ou não, se você quiser, pela palavra dominó). Nesse café, era hábito o perdedor oferecer uma rodada ao final de cada partida (sem dúvida, café turco ou chá de menta escaldante). Ora, acontece que um dia estava lá um senhor idoso. Ele não parava de jogar e perder, jogar e perder; o dono do café não parava de servir bebida aos outros clientes e de colocar a despesa na conta do velhote. Quando veio a hora de fechar, apresentou ao perdedor uma nota impressionante. O homem ficou constrangido e, revolvendo os bolsos para mostrar que estavam vazios, disse: “Lamento, estou sem dinheiro, não tenho nada, absolutamente nada”. De fato, ao olhá-lo de mais perto, o dono do

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café não pôde evitar de constatar sua miséria: suas sandálias estavam rasgadas, as roupas em farrapos; não tinha nem relógio, nem anel, nem cinto trabalhado – nada que pudesse representar qualquer valor para troca. Mesmo assim, era preciso pagar. O que fazer? Como o velhote ficara ali a lhe sorrir com ar simplório, o dono do café observou que ele tinha a dentadura bem nova e em bom estado. “Eis o que faremos, disse. Dás tua dentadura em garantia e me reembolsarás pouco a pouco, conforme teus meios; assim que tiveres quitado totalmente a dìvida, devolvo a dentadura”. O velhote só pôde aceitar. Considerando que não tinha de fato nenhum meio para encontrar recursos, parava no café no final do dia, na hora da refeição, e pedia emprestada sua dentadura para comer o sanduíche que ele próprio trazia. Eis a história tal qual foi contada ao escritor A, em segunda ou terceira mão. Encantado por ter se deparado com tal jóia narrativa, ele logo a incorpora ao romance que escrevia – dela se servindo para acrescentar um toque de ironia a um capítulo excepcionalmente sombrio, no qual a personagem principal, sentada nesse mesmo café (agora situado no Cairo e não em Rabat, ou então o inverso) planejava seriamente pôr fim aos seus dias. Mas, por infelicidade, o Escritor A estava tão encantado com essa história que não conseguia guardá-la para si. Nos meses seguintes, ela lhe vinha irresistivelmente aos lábios e transbordava a todo instante; quando se dava conta estava contando-a para qualquer um – e, naturalmente, no espaço desses poucos meses, havia fortes chances de que “qualquer um” que cruzasse com o Escritor A fosse um outro escritor. Foi o que aconteceu: chamemos a este de Escritor B. Quando o Escritor B escutou a história da dentadura usada como garantia e retomada a cada dia por seu proprietário, seu coração disparou. Já fazia algum tempo que procurava uma história desse tipo para uma coletânea de contos humorísticos em que o Oriente Médio seria o pano de fundo. Assim, sem comunicar suas intenções ao Escritor A, o Escritor B arquitetou

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uma história em torno do devedor desdentado, bem ao seu estilo espirituoso. O tempo passou. A coletânea do Escritor B engordou e terminou ficando suficientemente grande para constituir um manuscrito. Ele o enviou ao seu agente, que o enviou ao seu editor. No espaço de alguns dias, o Escritor B começou a escutar o zumbido gratificante dos ecos positivos. “Seus contos são formidáveis!” – diziam-lhe. “Sobretudo aquele que fala da dentadura – genial! Ah! Atrairá a atenção da crìtica, pode acreditar!” Bem entendido, o Escritor B estava feliz e lisonjeado por ouvir louvarem tão calorosamente seu trabalho, mas não podia se abster de experimentar um leve mal-estar à idéia de que todos seus leitores, sem exceção, inclusive sua esposa, reagiam com um entusiasmo particular a essa história que ele tinha, não tenhamos medo das palavras, surrupiado. Esforçou-se para apaziguar sua consciência dizendo que as histórias pertencem a todo o mundo, que o Escritor A também não tinha sido testemunha direta da anedota da dentadura... e que ele próprio, Escritor B, poderia muito bem ter sabido da história por outra fonte. Além do mais, ele a havia refeito e retrabalhado com talento tão evidente que acusá-lo de plágio seria verdadeiramente escandaloso. Contudo, apesar de todos os esforços para acalmá-la e reduzi-la ao silêncio, a consciência do Escritor B não cessava de atormentá-lo. Afinal, o Escritor A era um de seus melhores amigos! Como poderia lhe fazer tal coisa? Uma noite, o Escritor B acordou às três horas da madrugada, suando frio depois de um pesadelo, no qual, depois de tê-lo longamente encarado com ar de censura, o Escritor A muito lentamente vira-se para lhe revelar... um punhal plantado nas costas. Aquilo não podia mais se prolongar. No manhã seguinte o Escritor B chamou o Escritor A ao telefone e perguntou se poderiam marcar encontro em um café do centro da cidade. Tão logo o garçom trouxe os pedidos, o Escritor B foi entregando: – Lembras daquela história que contaste há alguns meses – o cara que devia deixar a dentadura como garantia, depois tomavaa emprestada para poder comer seu sanduíche?

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O Escritor A balançou a cabeça com ar amigável: – Certamente. – Pois bem, prosseguiu o Escritor B com a voz agora levemente hesitante, vê só, dela fiz um conto... e... agora que está para ser publicado, pensei que era melhor te prevenir... se por acaso quisesses... não sei... se por acaso tu mesmo quisesses fazer uso, porque... hum... todo o mundo está dizendo que é o melhor conto da coletânea e... enfim... que corre o risco de chamar a atenção dos críticos. O Escritor A empalideceu. Sorriu amarelo e disse ao amigo: – Eu... eu estou desolado, mas... não podes fazer isto! Fora de cogitação. Já publiquei essa história! Ela compõe todo um capítulo do meu último romance, lançado na primavera. Seria... quero dizer... Não seria absolutamente do teu interesse usá-la, entendes o que eu quero dizer? Nossos leitores até certo ponto devem ser os mesmos... – Certamente, certamente, disse o Escritor B coçando a cabeça e engolindo nervosamente pequenos goles de cerveja, em rápida alternância. Vejo bem. Meu Deus. Então! Felizmente eu te chamei. – Claro, disse o Escritor A com um riso breve. Claro. Felizmente me chamaste. Bem, é isso aí. Sem ressentimento, hein? – Sem ressentimento. Depois de um aperto de mão, os dois escritores se separaram. Quando, seis meses mais tarde, foi publicada a coletânea de contos do Escritor B, ele enviou um exemplar ao Escritor A com a seguinte anotação: “Espero que assim tenha ficado bem”. Saltando logo ao sumário, o olhar do Escritor A congelou quando viu o tìtulo “Uma garantia esquisita”. Como? O Escritor B ousara se servir da história, mesmo depois de terem concordado que ela lhe pertencia, exclusivamente a ele, o Escritor A? Cenho franzido, o Escritor A instala-se no sofá da sala para ler. A história começava da mesma maneira – muito calor, o tédio dos homens no café, os intermináveis jogos de dados ou de dominós para passar o tempo, a regra segundo a qual o perdedor deveria oferecer uma rodada aos outros, e o velhote que não pa-

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rava de perder, fingindo não ver que o dono lhe preparava uma conta astronômica... Muitos detalhes picantes nessa parte da história eram da lavra do escritor B. Ele a tinha tornado uma maravilha, de maneira que, à medida que as horas iam passando, fazia-se mais e mais descosturada e engraçada. Mas o cérebro impaciente e nervoso do Escritor A afastou esses detalhes como se fossem mosquitos; já estava preparando um telefonema para seu advogado para arrastar o Escritor B à justiça. Mas, quando chegou enfim ao episódio das garantias, a intriga desviou de maneira inesperada. “„Ah, é assim, hein?‟ disse o dono do café, vendo que o velhote nada tinha consigo para reembolsar sua dìvida. „Ora, neste caso, lamento, mas será necessário deixar teus óculos como garantia‟”. Nesta versão da histñria, o perdedor, além de ser pobre, sofria de grave miopia. Sem seus óculos de espessas lentes, ele não via patavina... Mas, não tendo escolha, submeteu-se à sugestão do dono do café. A partir desse dia, prosseguia o conto do Escritor B (e as sobrancelhas do Escritor A, agora vítima involuntária da curiosidade, franziam cada vez mais à medida que devorava a história), todas as tardes, às quatro horas, o velhote entrava tateando no café e pedia emprestados seus óculos. Deles necessitava para ver seu programa preferido na televisão: uma novela brasileira se desmanchando em salsa4 sentimental, em que jovens de biquíni se requebravam. O dono do café não podia lhe recusar esse prazer, que, suspeitava, era o único instante de trégua numa vida bem sofrida. Aliás, ao cabo de alguns meses, o dono do café penalizou-se do velhote. Inclinando-se em sua direção sobre o balcão, disse-lhe com voz grossa: “Escuta, deixa pra lá... Jamais vais poder me reembolsar. Esqueçamos tudo isso, guarda logo teus ñculos”. Mas, para sua estupefação, o homem recusou. Ele passara a preferir as coisas assim: olhar um mundo imaginário, mirabo4

N. da T. Nancy Huston ainda não tinha estado no Brasil, o que aconteceu dois anos depois, em abril de 2006. Cabe anotar que houve uma novela, “Vereda Tropical”, em que as personagens dançavam lambada, provavelmente seja essa a novela referida na fabulação.

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lante, uma meia hora por dia, e o resto do tempo não ter de se submeter à realidade: feitas todas as contas, esse lhe parecia um excelente acerto. Chegado ao fim da história, o Escritor A ficou imóvel no sofá de sua sala, as tripas fervendo de ciúmes, de raiva e vergonha. Pois, mesmo que o Escritor B houvesse tomado do seu território essa história, e mesmo se sua versão tivesse mais liberdades que a sua em relação à verdadeira história, sua superioridade enquanto obra de arte era inegável. “É injusto!” gemeu o Escritor A, balançando-se da direita para a esquerda do sofá, a cabeça nas mãos. Em seguida o Escritor C desembarcou, roubou as duas versões da narrativa e as tricotou em uma nova história a fim de submetê-la a você, Caro Leitor, para sua edificação e seu prazer. O Escritor D deu uma olhada no resultado e acrescentou: a versão do Escritor C era tão emocionante que se tornou um bestseller internacional e foi adaptada para o cinema por um importante produtor de Hollywood. Um dia, no intervalo da novela brasileira do velhote, um trailer anunciava o filme. “Olhem!” – exclamou o devedor mastigando seu sanduíche da tarde com sua dentadura emprestada – “é a minha histñria, essa! Deveriam me conceder os direitos autorais!” E, com seus direitos autorais, ele conseguiu enfim reembolsar sua dívida. *

Nancy Huston demonstra, nessa pequena e divertida obra para grandes adolescentes que somos, que não se escreve sobre idéias novas, o que se faz é uma apropriação do que já foi dito, sem que se deva entretanto esquecer: atrás dos livros há os homens. A originalidade e o talento provêm da maneira de contar. Em Les braconniers d‟histoires/Os caçadores de histórias, por intermédio de uma pirueta final magistral, a própria personagem da história é quem fica no centro da polêmica e quem se aproveitará dos direitos autorais dos escritores profissionais! 181

Embora os braconniers – no ensaio de Huston representados pelos escritores – se situem em território proibido, espoliem e usufruam desse território, desconsiderando seu caráter privativo e a exclusividade do espaço do outro, eles desenvolvem, ao mesmo tempo, a estratégia da astúcia e da dissimulação, assemelhadas à arte do fingimento. A braconagem representa para eles um ato significativo, que incita uma determinada poética, pois esses intelectuais, no caso, os escritores A – Mahi Binebine, em Pollens (Ed. Fayard, 2001), B – Fouad Laroui, em Le Maboul (Ed. Julliard, 2001), C – Nancy Huston e D – Sacha Todorov, estão do lado do bem, levando a compreender a braconagem em sua “pequena escala”, como “transferência cultural”, um fato de conjuntura, em oposição àquela dos estados-piratas, que canibalizam, exploram, desviam as redes econômicas oficiais.

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LA DESTRUCTION DE LA VILLE DE BUCAREST EN ROUMANIE A TRAVERS « UN SOSIE EN CAVALE » (1986) DE OANA ORLEA, « MORT D’UN POETE » (1989) DE MICHEL DEL CASTILLO ET « PESTE A BUCAREST » (1989) DE TUDOR ELIAD Alain Vuillemin (Université d‟Artois) La destruction historique de la ville de Bucarest, en Roumanie, entre 1977 et 1989, a marqué la littérature roumaine. Ebranlée en 1977 par un tremblement de terre, la ville a commencée à être remodelée, à partir de 1983, par Nicolae Ceaucescu, le dictateur de la Roumanie. Bucarest, sa ville capitale, devait devenir selon ses aspirations, « une citée digne de la future grande Roumanie communiste »1. Le projet était grandiose. Il comprenait la construction d‟une « Maison de la République » de proportions colossales, l‟aménagement d‟un « Boulevard du socialisme » immense et d‟une place centrale du socialisme qui devait être gigantesque. L‟entreprise commença par la destruction progressive des églises, dès 1977. A partir de 1983, c‟est le quartier d‟Uranus, au centre historique de la ville, qui commençait à être démoli. Dans le même temps, cette « modernisation » de l‟habitat urbain était étendue à quelques cinq cents villages roumains qui furent détruits et dont les populations furent déplacées. Les expulsions étaient effectuées avec la plus grande brutalité. Les habitants étaient sommés de quitter leurs logements dans les vingt-quatre heures. Les démolitions étaient immédiates. Les maisons étaient aussitôt écrasées, « laminées à coup de bulldozers et de pelleteuses »2. Par la suite, de nombreux Roumains ont évoqué ces événements. En France, deux témoignages majeurs ont été publiés, Un Sosie en cavale par Oana Orlea en mars 1986, et, en octobre 1989, Peste à Bucarest par Tudor Eliad. Tous deux sont des auteurs roumains d‟expression française. Mort d‟un poète de Michel del Castillo, 1 2

DURANDIN, Catherine. Nicolae Ceaucescu. Vérités et mensonges d‟un roi communistre. Paris, Albin Michel, 1990, p. 221. Ibidem, p. 221.

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paru en septembre 1989, est l‟œuvre d‟un écrivain français d‟origine espagnole. Les trois livres ont été publiés avant les événements qui provoquèrent la chute de Nicolae et d‟Elena Ceaucescu en Roumanie, en décembre 1989. L‟action des deux premiers récits se passe en Roumanie. Un Sosie en cavale d‟Oana Orlea raconte les malheurs d‟une héroïne, Léontine, le « sosie », victime de sa trop grande ressemblance avec l‟épouse du président Kouty, le dictateur de son pays. Peste à Bucarest de Tudor Eliad rapporte les impressions de voyage d‟un exilé, le narrateur, autorisé à revenir brièvement à Bucarest. Chaque anecdote qu‟il rapporte est un regard, venu de l‟intérieur, sur la dictature. Mort d‟un poète de Michel del Castillo se déroule au contraire dans un pays imaginaire, la Doumarie, qu‟il fait « plus qu‟évoquer la Roumanie : elle la renferme et la révèle. Elle la déborde aussi » 3 et condense des traits empruntés aussi à la Moldavie, à la Yougoslavie, à la Tchécoslovaquie, à la Pologne, voire à la Russie soviétique. Ce dernier roman relate les circonstances d‟un complot, une « révolution de palais » qui voit la chute du dictateur de la Doumarie, le Maréchal Karol Oussek, et celle de son épouse, Alexandra Oussékina, et leur remplacement par un autre dictateur, Fédor Oviedan, le chef de leur propre service de la Sécurité intérieure. En ces trois récits, à l‟arrière plan, la destruction de la ville de Bucarest revient comme un motif récurrent. La ville est partout présente avec ses chantiers, ses démolitions, ses habitants hébétés. C‟est un symbole de l‟identité roumaine écrasée, broyée par le totalitarisme qui revient. Qu‟est-il de cette figure allégorique ? Que signifie ce qui est dit, en ces trois œuvres, de la démolition de cette cité, de l‟anéantissement de sa mémoire et, enfin, de la désagrégation de la communauté de ses habitants ? 1 LA DEMOLITION DE LA CITE La démolition de la cité est décrite d‟une manière différente d‟un récit à l‟autre. Peste à Bucarest l‟évoque d‟une manière fugitive, à travers plusieurs anecdotes. Un Sosie en cavale y insiste plus longuement, en sa 3

CASTILLO, Michel del. Mort d‟un poète. Paris, Mercure de France, 1989, p. 11.

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seconde partie, lorsque le « sosie », l‟héroïne, Léontine, réussit à s‟échapper pendant un temps, la durée d‟une fugue, à la surveillance dont elle est l‟objet. A cette occasion, elle découvre, surprise, l‟éventration de la ville. Mort d‟un poète transforme cette destruction en une allégorie sinistre. C‟est le pouvoir totalitaire absolu, implacable, cruel, qui s‟exprime d‟une manière très concrète à travers l‟écrasement des maisons, le déblaiement accéléré des décombres et la mise en œuvre de chantiers de reconstruction. L‟écroulement des maisons, l‟effondrement des bâtisses, donnent lieu à de nombreuses descriptions. Dans Mort d‟un poète, le narrateur, Igor Védoz, le ministre de la justice de la Doumarie, entend depuis son bureau le « grondement des pelles [mécaniques] et des bulldozers, les déflagrations, le roulement des camions »4 qui scandent la destruction de la cité. Dans Un Sosie en cavale, l‟héroïne, Léontine, assiste à la projection d‟un film documentaire sur l‟effondrement de « l‟Eglise première [la Patriarchie de Bucarest] »5. A perte de vue, que ce soit dans Un Sosie en cavale ou dans Mort d‟un poète, il ne reste que des décombres. L‟enlèvement des débris du vieux Bucarest, de ses maisons, de ses immeubles, de ses hôtels particuliers, de ses églises, correspond à l‟activité majeure des chantiers de la capitale. Ce sont des « norias », des suites sans fin de camions qui les emportent au loin, vers la périphérie pour les éliminer. D‟autres chantiers se consacrent aussi, dans ces mêmes récits, à l‟édification d‟une autre ville. Partout, une autre société, une cité immense, monumentale, un cité « sans mémoire ni futur », commence à s‟élever, comme le commente Michel del Castillo dans Mort d‟un poète. C‟est cette ville sans âme que le narrateur de Peste à Bucarest traverse. En tous ces livres, la destruction de la vieille ville de Bucarest, la démolition de ses maisons, l‟enlèvement de ses décombres et la multiplication des chantiers de reconstruction deviennent, dans cette perspective, comme une figure de la construction du socialisme et du totalitarisme en Roumanie, dans les années 1980, au temps de Nicolae Ceaucescu.

4 5

CASTILLO, Michel del. Mort d‟un poète. Paris, Mercure de France, 1989, p. 113. ORLEA, Oana. Un Sosie en cavale. Paris, Seuil, 1986, p. 167.

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2 L’ANEANTISSEMENT D’UNE MEMOIRE C‟est aussi l‟anéantissement d‟une mémoire collective, celle des habitants de Bucarest, qui est poursuivi. C‟est un projet politique voulu, organisé, méthodique, qui s‟accomplit. C‟est le pouvoir absolu, implacable, totalitaire, d‟un seul individu – un dictateur – le Président Kouty dans Un Sosie en cavale, le Maréchal Karol Oussek dans Mort d‟un poète, le président Ceaucescu dans Peste à Bucarest, qui s‟exerce à travers la destruction des monuments, l‟effacement du passé et la rémanence de souvenirs dont on sent qu‟ils sont condamnés à disparaître. Les monuments dignes d‟intérêts, destinés à perpétuer « le souvenir de la ville perdue »6, sa mémoire, ses « maisons aux corniches sculptées […], ses tilleuls et ses peupliers centenaires [… ses] fontaines [… ses] rondspoints [… ses] porches »7. Il ne reste, dans Un Sosie en cavale, qu‟une « ville partie en nuages »8, transformée en un « chaos de poussière [qui] tourbillonne, s‟envole, s‟abat sur la danse des maisons épanouies en gerbes »9 Dans Un Sosie en cavale comme dans Mort d‟un poète, « la ville n‟existe plus »10. Son histoire a été pulvérisée. L‟anéantissement des « marques du temps »11, la suppression des « stigmates de la mémoire »12 manifestent la volonté de tout effacer du passé de la ville. C‟est une manière de priver les habitants de la ville de leurs racines, de leur sentiment d‟identité. Il ne leur reste que d‟ultimes souvenirs destinés à s‟effacer dans leur mémoire, ceux d‟une « rue encombrée de meubles [… de] femmes en attente [qui] surveillent des piles de valises et des baluchons noués dans des plaids, [de] déménageurs [de] camions qui, à grands coups de klaxon, essayent de se frayer un chemin »13. C‟est un 6 7 8 9 10 11 12 13

ORLEA, Oana. Un Sosie en cavale. Paris, Seuil, 1986, p. 166. Ibidem, p. 166-167. Ibidem, p. 166. Ibidem, p. 166. Ibidem, p. 167. CASTILLO, Michel del. Mort d‟un poète. Paris, Mercure de France, 1989, p. 129. Ibidem, p. 129. ORLEA, Oana. Un Sosie en cavale. Paris, Seuil, 1986, p. 166.

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« désastre qui [s‟abat] sur [la] ville »14 dans Mort d‟un poète. Au plus, dans ce dernier récit, Igor Védoz, le narrateur, conserve-t-il dans sa « mémoire le fracas des dynamitages, le grondement des pelles mécaniques déblayant les ruines de la Vieille Ville, avec ses centaines de coupoles, ses minarets byzantins, ses palais rococos, ses immeubles bourgeois […], ses ruelles bordées de maisons à pignon […] et ses placettes décorées de fontaines… »15. Ces souvenirs persistent. Un Sosie en cavale en conserve des images perdues, une « rue verdoyante », marquée par « l‟immobilité de l‟absence. Personne dans la rue, personne dans les jardins, pas de rideaux aux fenêtres des maisons. Des portails ouverts, béants, d‟autres fermés [… une] ville partie en nuages… »16. Ces deniers vestiges matérialisent, « en surface, la lente désagrégation de la substance la plus secrète de chaque individu et de la nation toute entière »17. Cet anéantissement traduit la désagrégation de la communauté roumaine. 3 LA DESAGREGATION DE LA COMMUNAUTE C‟est une communauté entière qui se désagrège. Peste à Bucarest en décrit les symptômes d‟une manière réaliste, à travers une cinquantaine de témoignages qui auraient été recueillis par le narrateur et qui n‟auraient omis « aucun détail [des] souffrances »18 subies. Un Sosie en cavale et Mort d‟un poète les résument : « la destruction était en marche, inexorable »19. L‟accablement des habitants, les souffrances du peuple, l‟agonie de la société en deviennent autant de signes. Lors de ses déplacements dans Voudas, la capitale de la Doumarie dans Mort d‟un poète, Igor Védoz ne cesse d‟observer l‟état de prostration, de « résigna-

14 15 16 17 18 19

CASTILLO, Michel del. Mort d‟un poète. Paris, Mercure de France, 1989, p.30. Ibidem, p. 30. ORLEA, Oana. Un Sosie en cavale. Paris, Seuil, 1986, p. 165-166. Ibidem, p. 174. ELIAD, Tudor. Peste à Bucarest. Paris, Ergo-Press, 1989, p. 7. ORLEA, Oana. Un Sosie en cavale. Paris, Seuil,1986, p. 174.

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tion morne, de léthargie sans espoir »20, des brigades de travailleurs « volontaires » et des passants. Une description – féroce – résume ce qu‟il ressent : « La capitale de notre radieuse République », explique-t-il, « offrait déjà l‟aspect désolé d‟une ville sinistrée. Eclairage anémique qui laissait des rues entières remplies de ténèbres inquiétantes. Les passants courraient, courbés, emmitouflés dans des vêtements usés et rapiécés, amas de loques enfilées les unes sur les autres, […] tournaient en rond […] évoquaient des meutes de chiens affamés. Difformes, les silhouettes avaient perdu jusqu‟à l‟apparence de l‟humanité. Un peuple de fantômes […]. Chaussées défoncées, creusées d‟ornières où l‟eau de pluie stagnait. Aucune enseigne ou presque. Les devantures des boutiques, vides, renvoyaient des reflets bleuâtres […]. Dans les cités ouvrières […] on apercevait les écrans de télévision où le Lumineux Guide prodiguait, comme chaque soir à la même heure, ses conseils diététiques. Moins de viande et de matières grasses, aucun sucre ou presque… »21. Dans Un Sosie en cavale, un graffiti, « un homme et une femme empalés, marqués d‟un K [pour le président Kouty] et d‟un A. [pour son épouse Aimée] » désigne les coupables, les « Bourreaux de la ville »22. Ces souffrances sont le lot de ce peuple. C‟est l‟agonie d‟une société toute entière qui est suggérée. En contrepoint, une « nouvelle ville, brûlée, érodée par la poussière, servait de toboggan pour cette descente au tombeau »23. Léontine y erre, désemparée, dans Un Sosie en cavale. Dans Mort d‟un poète, Igor Védoz en parcourt les « cités sans mémoire ni futur. Vides et gelées… »24, dépourvues de rues et d‟éclairage, où ne règnent que « la misère, la famine, la peur, la mort […] chaque degré de l‟horreur[…]. La défiance, la délation, le mensonge… »25. La destruction de la ville, l‟effondrement moral, les 20 21 22 23 24 25

CASTILLO, Michel del. Mort d‟un poète. Paris, Mercure de France, 1989, p. 59. Ibidem, p. 92. Allusion aux propos authentiques de Nicolae Ceausescu à la trélévision roumaine durant les dernières années de son régime. ORLEA, Oana. Un Sosie en cavale. Paris, Seuil, 1986, p. 180. CASTILLO, Michel del. Mort d‟un poète. Paris, Mercure de France, 1989, p. 130. Ibidem, p. 179. Ibidem, p. 179.

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souffrances subies, la misère éprouvée sont autant de signes de cette toute-puissance de l‟oppression. CONCLUSION Il existe une différence entre Peste à Bucarest de Tudor Eliad, d‟une part, et, d‟autre part, Un Sosie en cavale d‟Oana Orlea et Mort d‟un poète de Michel del Castillo. Dans Peste à Bucarest, le narrateur, un exilé, revient d‟un « voyage en zone d‟endémie »26, ravagée par « la Peste […] la sœur aînée des maladies »27, un mal défini comme le « symbole de tout le contraire »28 de la civilisation. Chaque anecdote rapportée dans ce récit décrit un aspect différent de cette maladie sur un plan moral, « l‟impossible craché au visage, l‟interdit ressenti comme une gifle, […] la monotonie planifiée, la répétition devenue règle, l‟injustice monnaie courante, le mépris habitude, la nausée petit déjeuner, la révolte avalée en guise de dîner »29 ; Dans Peste à Bucarest, chacun fuit en soi-même. Le livre a été publié en octobre 1989. C‟est le désarroi des Roumains et des Bucarestois immédiatement contemporains qui en fournit la matière. Un Sosie en cavale d‟Oana Orlea et Mort d‟un poète en proposent des descriptions plus extérieures. Les Roumains et les Doumariens vivent en un « siècle de fer »30. La destruction du centre ville de Voudas dans Mort d‟un poète, de la vieille ville de Bucarest dans Un Sosie en cavale, en sont un symbole. Le propos est transposé. Ces récits de fiction n‟en rappellent pas moins une réalité historique cruelle. Ce qui est dit de la démolition de la cité, de l‟écrasement de ses maisons, de l‟ampleur de ses travaux de déblaiement et de l‟étendue de ses chantiers de reconstruction illustre déjà, d‟une manière spectaculaire, ce que fut la brutalité des méthodes employées en Roumanie, entre 1977 et 1989, pour remodeler la ville. L‟effondrement des monuments, la volonté de 26 27 28 29 30

ELIAD, Tudor. Peste à Bucarest. Paris, Ergo-Press, 1989, p. 31. Ibidem, p. 71. Ibidem, p. 95. Ibidem, p. 106. CASTILLO Michel del. Mort d‟un poète. Paris, Mercure de France, 1989, p. 307.

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supprimer tout vestige du passé, d‟abolir toute trace dans la mémoire, insiste encore plus sur ce que Mort d‟un poète appelle « la plus extravagante entreprise jamais conçue : faire, littéralement, du passé, table rase… »31. C‟est l‟agonie d‟une société, la désintégration d‟une communauté avec son cortège de souffrances et de désolations qui sont évoquées. C‟est aussi la toute puissance d‟un pouvoir absolu, autoritaire et totalitaire, tel qu‟il s‟est exprimé en Roumanie et en Europe centrale et orientale, entre 1947 et 1989, qui se trouve présentée. C‟est de cette expérience que Peste à Bucarest, Un Sosie en cavale et Mort d‟un poète, trois livres écrits et publiés avant décembre 1989, tentent de témoigner.

31

Ibidem, p. 35.

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O GLOBAL E O LOCAL NA ATIVIDADE TURÍSTICA: UM DESAFIO PARA AS COMUNIDADES DE PESCADORES DO LITORAL NORDESTINO – BRASIL Maria Dilma Simões Brasileiro (UFPB) Lamara Mirna Brasileiro de Andrade (UFPB) INTRODUÇÃO Para compreender a relação entre o local e o global na atividade turística se faz necessário entender as mudanças que estamos vivendo na atualidade. Desde a Segunda Guerra Mundial, estamos vivendo várias mudanças sócio-culturais e econômicas. Entre as crises vividas pelos países a partir deste período, presenciamos uma nova ordem econômica, principalmente depois da década de oitenta. O consumo de massa, a flexibilidade no emprego, a globalização da economia, as multinacionais nos lugares mais remotos do mundo – lugares impensáveis até pouco tempo atrás –, são apenas algumas das características das sociedades contemporâneas. Essas sociedades, já não possuem o paradigma da industrialização como base para o desenvolvimento econômico e para a construção das relações culturais, políticas e sociais (TRIGO, 2000). Vivemos, portanto, um novo paradigma sócio-econômicocultural. São essas mudanças que mais têm possibilitado o enorme desenvolvimento da atividade turística. A lógica do turismo na sociedade contemporânea está baseada no aumento da qualidade de vida das populações e nas leis do mercado. Se alguém não tem recursos suficientes para realizar um turismo cinco estrelas, o próprio mercado turístico cria condições para que seus recursos sejam suficientes para realizar uma viagem turística, dentro das suas possibilidades econômicas, ou seja, o próprio mercado cria mecanismos para cobrir esta necessidade. Portanto, já não podemos falar do turismo como uma atividade elitista ou de luxo, mas como uma atividade social e massificada (MAZÓN, 2001). Como conseqüência à massificação do turismo, às novas leis de mercado e ao desenvolvimento tecnológico se extinguem e se criam 191

novas profissões na atividade turística. Atividades estas, agora inseridas numa outra visão de mundo, tanto por parte dos clientes – os turistas – , como dos profissionais. Nesta nova configuração das sociedades, os turistas e os profissionais do turismo são objetos de interesse de estudos relacionados com a globalização e as localidades, pois o turismo pode ser considerado como uma atividade produtiva global, mas que sua repercussão sócio-cultural e econômica afeta diretamente as comunidades receptoras. Centrando a análise no interesse local, o desenvolvimento do turismo pode produzir muitos benefícios, como emprego e renda e a melhoria da infra-estrutura local. Os impactos do turismo sobre o emprego e a renda estão interconectados e sua importância singular é que possui a capacidade do efeito multiplicador (LICKORISH; JENKINS, 2000). Segundo Pereira Oliveira (2000, p. 51), entre as vantagens da atividade turística, como fonte geradora de emprego e renda, se destacam: – a facilidade com que promoções e investimentos geram novos empregos; – diversidade qualitativa nos empregos gerados; – geração de primeiro emprego, principalmente para o público jovem; – geração de emprego de meio expediente e temporário para pessoas com outras ocupações; – geração de empregos em áreas com desemprego estrutural, como áreas rurais; – predominância e empregos de micro, pequenas e médias empresas. As vantagens apresentadas, principalmente as relacionadas com a criação de emprego e geração de renda, são os principais argumentos para o desenvolvimento do turismo numa localidade, não somente nos países em via de desenvolvimento, mas também nos países desenvolvidos, principalmente naquelas regiões periféricas, onde a atividade econômica tradicional se encontra estancada ou em declínio. Entretanto, este argumento tão linear que relaciona o turismo com a geração de emprego e renda, nem sempre é favorável à comuni192

dade local. Como argumenta Mazón (2001), principalmente nos países em via de desenvolvimento, os cargos de maiores responsabilidades das empresas que se instalam para a promoção do turismo, são de pessoas que já estão trabalhando nessas empresas em seu lugar de origem. O problema se origina na qualificação profissional. Esses postos de trabalho exigem uma formação profissional que, muitas vezes, não corresponde com a que possui a maior parte dos moradores da comunidade local. Antes de o desenvolvimento turístico começar nos pequenos lugarejos, principalmente os de litoral, que possuem um escasso nível de desenvolvimento sócio-econômico, o trabalho dos nativos está relacionado com o setor primário, principalmente a pesca. Estas circunstâncias fazem com que as qualificações profissionais da comunidade local sejam mínimas, se relacionadas com o perfil exigido pelo setor turístico. Assim sendo, todas essas mudanças provocadas pela entrada do turismo, principalmente nas pequenas comunidades, influenciam diretamente na organização do trabalho local. Como conseqüência, podemos citar o abandono das atividades primárias por parte dos nativos e a busca de empregos no setor turístico, principalmente pelos jovens, que abandonam a pesca e a agricultura, para trabalharem na construção civil ou em hotéis, bares e restaurantes. Entretanto, devido à falta de formação profissional para postos de melhores salários, a situação de dependência das populações receptoras do turismo com respeito às sociedades emissoras, que realmente controlam a economia do turismo, cria a incorporação dos nativos a postos de trabalho pouco atrativos e claramente insuficientes para impulsionar uma melhoria real na qualidade de vida dessas populações. Oliveira (2000) apresenta bem este problema ao afirmar que “a dependência excessiva do turismo pode provocar o declive de algumas atividades econômicas tradicionais e a atração de pessoas ligadas a outras atividades, originando uma economia desequilibrada” (OLIVEIRA, 2000, p. 48). Assim sendo, uma mudança na realidade dos nativos dos países em via de desenvolvimento e naquelas regiões periféricas dos países desenvolvidos passa pela necessidade de uma intervenção no âmbito da formação profissional dos nativos, para que o setor turístico 193

possa se constituir como importante fator impulsor da economia local e promotor de qualidade de vida dessas comunidades. A concorrência do mercado turístico atual exige, portanto, uma formação educacional e profissional, se pensarmos em promover um desenvolvimento turístico dentro do paradigma da sustentabilidade. Assim, pois, não temos dúvida quanto ao impacto do turismo como gerador de emprego para a comunidade local, entretanto, temos que nos questionar sobre a qualidade desses empregos, ou seja, que tipo de trabalho é oferecido aos nativos. CARACTERÍSTICAS DO TRABALHADOR DO TURISMO DE LITORAL O êxito de um desenvolvimento turístico sustentável passa por ações relacionadas com a participação comunitária, um processo educativo e formativo dos nativos e pela conscientização dos envolvidos na atividade turística. Tudo isso orientado à valorização da atividade turística como impulsora do desenvolvimento sociocultural e econômico local. É necessário também contextualizar e dimensionar os impactos e benefícios dessa atividade. Entretanto, a realidade da maioria das comunidades litorâneas do Nordeste do Brasil, que têm tentado se incorporar na atividade turística, se caracteriza por uma atividade produtiva informal, tanto para os nativos, que tradicionalmente se dedicaram à pesca e/ou a agricultura, como também para os que vêm de fora, e que vêem na atividade turística uma forma de ganhar dinheiro com pouco investimento, enquanto veraneiam naquelas praias, ou ainda, como parte de um estilo de vida1. Um dos aspectos detectados em algumas comunidades litorâneas é que quem se incorpora à atividade turística, considera que este tipo de trabalho exige pouca ou uma mínima formação e experiência nas ativi1

O estilo de vida vem definido “tanto por variables psicolñgicas, por ejemplo las moti-

vaciones, como por variables sociales, que a su vez pueden ser objetivas (condiciones de vida), simbólicas (opiniones, actitudes e incluso lenguaje) o prácticas (comportamientos reales) [...] algo personal y social a la vez, con grandes dosis de originalidad y privacidad, pero, en definitiva, como algo construido socialmente” (ISPIZUA Y MONTEAGUDO, 1998, p. 247).

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dades da área. Também pensam que não é necessário maior investimento em infra-estrutura. Assim é que, nas antigas vilas de pescadores, o trabalho na atividade turística é procurado por pessoas sem nenhum tipo de qualificação e que assumem essa atividade de forma independente, ou seja, trabalhando em condições que cada qual se impõe ou estabelece. Assim sendo, além dos problemas globais e clássicos da atividade turística, como é o caso do emprego temporário e dos baixos salários, nas comunidades pesqueiras do litoral do Nordeste do Brasil se somam o baixo nível educacional e a baixa formação qualificada para trabalhar nessa atividade. Devido a estas condições, nas quais o trabalhador desenvolve sua atividade por conta própria, gera-se o trabalho precário, de baixos salários e sem nenhuma proteção de benefícios sociais. Outro fator associado à precariedade do trabalho turístico no litoral nordestino é o próprio desconhecimento, por parte dos nativos, da importância e significado da atividade turística para o desenvolvimento local. Também podemos apontar a falta de identificação com o tipo de trabalho que exige esta atividade, além desta atividade representar, para algumas pessoas que nela estão envolvidas, apenas uma fonte extra de ingresso ou um paliativo para subsistir. Ou seja, o desenvolvimento turístico de contexto global, que exige uma grande competitividade e que requer um produto diferenciado, níveis elevados de qualidade nos serviços e formação profissional, passa desapercebido pela maioria das comunidades pesqueiras do litoral nordestino. UMA APROXIMAÇÃO EMPÍRICA À REALIDADE DE QUEM SE OCUPA DA ATIVIDADE TURÍSTICA NO LITORAL Portanto, indagar sobre o trabalhador na atividade turística de litoral no Nordeste do Brasil, leva-nos a refletir sobre uma complexa rede entre o global e o local, onde envolve turistas, comunidade local, poder público e empresas privadas. Deste modo, é necessário aprofundar-se sobre as implicações que tem o significado da atividade turística para quem trabalha nela, com o objetivo de entender as relações de 195

desenraizamento e re-significação do local, em um fenômeno global como é o turismo. A partir de um estudo realizado no município do Conde – litoral sul da Paraíba (SIMÕES-BRASILEIRO, 2003), podemos apontar que para os nativos, a identidade com o trabalho na atividade turística se limita à obtenção dos bens necessários para a sobrevivência, enquanto para os não originários da comunidade litorânea, o trabalho na atividade turística é uma fonte de renda ou de segunda renda para manter um estilo de vida em contato com a natureza, longe da vida urbana. Para os não originários, nessas praias se dá a cristalização entre espaço de lazer, descanso e de trabalho e a conquista de qualidade de vida, com possibilidades de interação com a natureza. Para os nativos, o turismo desorganizou suas possibilidades econômicas e sociais. Para eles, é a decadência das atividades primárias e a “invasão” de seu espaço de pesca e/ou agricultura pelos investidores imobiliários e por outras pessoas com novos valores e estilos de vida. Neste contexto, entre os nativos e os não originários se afirma uma aproximação espacial e uma distância sócio-cultural e de objetivos no trabalho turístico. O discurso dos nativos, como expressão de vida coletiva, não é o mesmo do discurso de opção de vida dos não originários. Na realidade, a pluralidade de motivações, culturas e percepção da atividade turística tem gerado tensões entre esses dois grupos. Os nativos se referem aos não originários como pessoas com costumes estranhos e que ocuparam seus espaços físicos e sociais, e os não originários se referem aos nativos como pessoas simples, sem educação e que não possuem uma visão das possibilidades turísticas da região. No Quadro I apresentamos algumas falas dos nativos e não originários sobre os temas anteriormente referidos. Entre os aspectos a destacar, encontramos em algumas dimensões analisadas, uma percepção diferenciada do trabalho na atividade turística entre esses dois grupos.

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Quadro I – Percepção diferenciada do trabalho na atividade turística DimenPerspectivas dos sões nativos Possibi“A pesca já não é boa, lidades de por isso estou com este trabalho bar... quando posso, ainda vou pescar, mas já não vale a pena. O ganha pão está aqui, com os turistas.” Mudança “Eu trabalhava como de agricultor, depois trabaTrabalho lhei na construção, economizei um pouco de dinheiro e comprei este bar...tenho este bar até hoje...”. Formação “Não tenho tempo para Profisestudar... agora é a vez sional dos meus filhos.”

Qualidade dos serviços turísticos prestados

“Acho que falta melhorar muitas coisas por aqui... não posso reclamar, pois tenho o dinheiro para a comida e está bem. Mas a Prefeitura tem que fazer muita coisa...a energia, o lixo...”

Organização da oferta

“Falta criar muitas coisas para chamar os turistas.... shows, desportos... Talvez se tivesse uma equipe para trabalhar, atuar de verdade e melhorar

Perspectivas dos não originários “Tenho este bar para sentir como são as coisas por aqui... Esta pousada não é minha, é alugada... como já venho trabalhando neste setor... venho só para ver como são as coisas por aqui em Jacumã, para futuramente ter a minha.” “Meu irmão comprou este bar por opção. O antigo dono necessitava de dinheiro. Então, ele comprou, melhorou algumas coisas e pronto... Como eu estou desempregado... estou aqui... se tem turistas, ótimo, se não... este não é meu negñcio.” “Para o tipo de turista que vem, acho que não faz falta, mas se queremos ter um mercado de um melhor nível, com certeza temos que pensar neste assunto.” “O turismo é bom. O problema é que aqui está mal administrado. Vemos que Jacumã está crescendo muito, mas não tem infra-estrutura. Então, vamos tentar que Jacumã cresça em outros setores, seja mais objetivo... mandem cursos para nossos pescadores, para os donos dos bares, para que o povo aprenda a trabalhar com turistas. Faltam muitas coisas para melhorar os serviços turìsticos...” “Falta uma organização para receber os turistas. Porque o primeiro que falta, é o turista que paga. Quando numa praia não tem uma oferta estruturada, este turista é o primeiro que não vem mais. O farofeiro, aquele que vem do interior,

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tudo isso aqui, seria excelente, lindo, maravilhoso. Tudo isso é muito bonito, mas está nas mãos de pessoas que não vivem aqui... Não sabem como as coisas aqui funcionam.”

que deixa o lixo, que não tem formação, é o que vem, mesmo sem organização aqui. Mas o que tem dinheiro, que pode escolher, se não encontra organização, não vem mais.”

Fonte: Simões-Brasileiro (2003)

Significado do trabalho no turismo para as comunidades de pescadores Nativos

Trabalhador por conta própria

Atividade turística

Não existe uma identificação. Representa um meio de subsistência. Não existe preocupação com as condições de trabalho. Não existe interesse pela formação na área turística.

Não originários

Não existe uma identificação. Representa uma renda adicional. Possibilidade de contato com um ambiente natural e/ou a busca de qualidade de vida. Não pensa sobre os problemas da atividade. A formação na área é necessária para os nativos.

Trabalhador por conta própria

Assim sendo, a valorização da atividade turística e o apoio do setor público ao investimento particular poderiam reverter às representações que têm os trabalhadores do setor turístico e favorecer uma maior identificação e posterior desenvolvimento de uma atividade globalizada como é o turismo. Reafirmamos que não se pode promover um destino turístico com garantia de êxito se não pensarmos esta atividade como um sistema integrado entre o global e o local. Portanto, uma análise global não pode separar-se das características local, neste caso, das ca198

racterísticas sócio-econômicas, culturais e históricas das comunidades de pescadores do Nordeste do Brasil. A conscientização da importância do turismo, como impulsor do desenvolvimento integral de uma comunidade, é imprescindível para a promoção turística desses lugares e, conseqüentemente, para a valorização e identificação do trabalho no setor turístico. A melhoria da qualidade de vida dos nativos é um desafio não somente para os próprios trabalhadores, mas também para a administração pública e os investidores que chegam para instalar-se nessas localidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS A problemática do setor turístico, entre o global e o local, e a perspectiva desse setor como fonte de emprego, revitalização e desenvolvimento, nos sugere um olhar mais analítico quanto às tensões geradas entre os nativos, que abandonam as atividades primárias – pesca e/ou agricultura – para trabalhar na atividade turística, e os não originários que chegam a essas comunidades com motivações, representações simbólicas e culturais bastante distintas das vividas pelos nativos. Nativos e não originários percebem a comunidade litorânea de forma diferenciada. As praias dessas comunidades litorâneas, efetivamente fazem parte da representação simbólica do paradisíaco, da natureza primitiva, que tanto encanta os turistas urbanos dos quatro cantos do mundo. Entretanto, o fato de que exista uma grande potencialidade climática e paisagística não são elementos suficientes para a promoção turística de uma localidade. O local, com sua gente, seus valores, crenças e desejos também faz parte desse fenômeno que aproxima pessoas, culturas e realidades sócio-culturais diferentes. Um planejamento de forma articulada entre a administração pública, os investidores e os nativos, com uma proposta sócio-econômicacultural, pode servir para reativar a cultura nativa (artesanato, gastronomia, festas folclóricas, etc.), constituindo assim em fonte de emprego, mas dentro da cultura e do modo de vida dos nativos. Sendo o turismo uma atividade sazonal, as atividades primárias (agricultura e 199

pesca) devem ser incentivadas pela administração pública, inclusive para gerar emprego e se constituir em uma economia indireta para o turismo da comunidade. Finalmente, o maior ou menor grau de satisfação do turista, passará pela riqueza sócio-cultural e ambiental da comunidade litorânea, pela infra-estrutura do lugar e pelos serviços prestados. O desafio é pensar global e atuar localmente, na busca da implantação de um turismo sustentável nas comunidades litorâneas do Nordeste do Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS TRIGO, L. Gonzaga G. A sociedade pós-industrial e o profissional em turismo. 3. ed. Campinas, Papirus, 2000. LICKORISH, L. J.; JENKINS, C. L. Una introducción al turismo. Madrid, Sínteses, 2000. MAZÓN, T. Sociología del turismo. Madrid, Ed. Centro de Estudios Ramón Areces, 2001. PEREIRA OLIVEIRA, A. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 2. ed. São Paulo, Atlas, 2000. PÉREZ LACASTA, M. J.; PIJUÁN RABASÓ, E.; SARDÁ PONS, J. Las características de las relaciones laborales en el sector turístico: una aplicación al caso de Tarragona. In: BLANQUER, D. et al. III Congreso Universidad Empresa: Municipio turísticos, tributación y contratación empresarial. Formación y gestión del capital humano. Valencia, Tirant lo Blanch, 2000. SIMÕES-BRASILEIRO, M. D.; SÁNCHEZ, L. Actividad turística y empleo: una realidad entendida desde los actores. Paradigma, v. XXIV, n. 2, p. 87-111, 2003.

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TURISMO Y CONSTRUCCIÓN DEL ESPACIO URBANO Julio César Cabrera Medina (UEPB/CNPq/FAPESQ) Don Quijote de la Mancha, dejando las ociosas plumas, subió sobre su famoso caballo Rocinante, y comenzó a caminar por el antiguo y conocido campo de Montiel (Miguel de CERVANTES, El ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha). El inocente tren amarillo que tantas incertidumbres y evidencias, y tantos halagos y desventuras, y tantos cambios, calamidades y nostalgias había de llevar a Macondo (Gabriel García MÁRQUEZ, Cien años de soledad).

1 INTRODUCCIÓN El turismo se ha convertido en uno de los fenómenos sociales más destacado del siglo veinte. El sector económico del turismo se encuentra en expansión y su tendencia es seguir aumentando en las próximas décadas. España es el segundo países del mundo en recepción de turistas extranjeros y en volumen de ingresos en dólares por dicha actividad. Por su parte, Brasil a pesar de sus grandes potencialidades tan sólo se sitúa en la posición trigésima tercera del ranking mundial de recepción de turistas y en la trigésima sexta en cuanto al volumen de ingresos. Pero más allá de su impacto económico, debemos recordar que, en el pasado reciente y en la actualidad, el turismo ha tenido y tiene un papel fundamental en el desarrollo social y cultural de España y otros países del Mediterráneo como Francia, Italia, Grecia, etc. Algunas ciudades, como por ejemplo, la ciudad de Granada en España, han sido una ciudad turística importante a lo largo de su historia, recibiendo turismo por motivaciones religiosas y de salud, como es el caso de las aguas termales, o por su triple raíz cultural (judía, árabe y española) Con la llegada del denominado turismo de masas, ésta pierde su importancia frente a otros destinos más vinculados con el turismo de “sol y playa”. F. Villegas sostiene que Granada ha sido centro turístico a lo largo de la historia como lo demuestra los extranjeros insignes 201

que por aquí han pasado (Washington Irving, J. Ford, T. Gautier, Chateaubriand y otros) También sostiene que el peso del turismo en la economía territorial, a través de su participación del sector en el PIB, para el año 1962, era superior incluso a la provincia de Málaga que se encontraba en la fase inicial del denominado boom turístico. Sin embargo, a partir de 1964 comienza el declive y va aumentando progresivamente esta diferencia a favor de Málaga prototipo del turismo de “sol y playa”1. Sin embargo, la evolución reciente del turismo, ha dado lugar a una diversificación de la demanda más allá del turismo de costa, surgiendo un turismo denominado cultural y urbano. Un ejemplo significativo en Brasil puede encontrarse en Salvador de Bahía donde, además de sus playas, un conjunto de acciones de las instituciones públicas como la rehabilitación de su centro histórico con ayuda financiera del gobierno de España, la rehabilitación el barrio histórico de Pelourinho, del mercado de artesanía, entre otras acciones han tratado de responder a esa diversidad de la demanda turística. En este capítulo se han considerado algunos aspectos del fenómeno del turismo así como formas distintas de ocio, con la intención de situarlos en este nuevo marco. La información contenida se ha estructurado en dos grandes apartados. En un primer apartado se realiza una reflexión sobre la importancia del turismo en la sociedad actual. Para ello destacamos en primer lugar la importancia que ha tenido los procesos migratorios en la re-construcción de la sociedad y el turismo como el mayor proceso migratorio en la actualidad. Los desplazamientos por motivos de ocio del S. XIX sólo eran accesibles a las clases altas. La separación o diferenciación entre el espacio turístico y el espacio de vida de los residentes era débil o prácticamente inexistente. Sin embargo, sus características relevantes hoy son la expansión a otras clases sociales y la separación de dichos espacios. Estos espacios son construidos por efecto de la lógica de la mercantilización propia del empresario, que además concurren con la lógica del placer propia del turista y la lógica del encuentro des-encuentro en cuanto a la interacción de éstos con los resi1

F. Villegas en “El turismo” en M. Titos Historia Económica de Granada. Granada, Cámara de Comercio, Industria y Navegación de Granada, p. 285-301.

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dentes. Por otra parte, se aborda la relevancia del turismo en cuanto elemento esencial de las relaciones y de las estructuras sociales de las sociedades avanzadas. Para finalizar se aporta algunos datos cuantitativos y cualitativos relevantes de cara a la comprensión del turismo a escala mundial. En un segundo apartado, el contenido girará en torno al problema que surge entre las actividades turísticas, de ocio y el uso residencial en un espacio urbano. Los agentes que hemos tomado en consideración son los turistas, los empresarios, las autoridades de la ciudad, residentes de la ciudad que visitan el barrio y los residentes del propio barrio. La metodolgia que hemos usado parte del concepto de circularidad dialógica entre los significados y los números, o si se prefiere, de la necesidad de hacer dialogar a las metodología cualitativa y cuantitativa para una mejor comprensión de la realidad2. Nuestro objetivo aquí consiste en plantear la situación en el caso concreto del barrio del Albayzín en la ciudad de Granada, (España) y tratar de contribuir a la comprensión teórica de un problema de carácter general. El Albayzín es un barrio declarado Patrimonio de la Humanidad por la UNESCO, y fue parte del centro histórico de la ciudad. Creemos que este ejemplo puede ilustrar otros casos como el barrio de Pelourinho de la ciudad de Salvador de Bahía que sufre una trayectoria semejante en algunos aspectos. En ambos casos, fueron el centro neurálgico de la ciudad y debido a su evolución, quedaron abandonadas por parte de las instituciones públicas. Con el desarrollo del turismo cultural y urbano se inician un proceso de reintegración con la ciudad. En suma, encontramos una situación de convivencia entre la multifuncionalidad – que ha sustituido al aislamiento tradicional de estos barrios – y una cierta especialización o diferenciación, con respecto a la ciudad, que se manifiesta sobre todo en los usos hostelero y residencial3. Estas actividades desempeñan un papel importante 2

3

Hemos recogido nuestra reflexiñn sobre esta cuestiñn en “La circularidad dialñgica entre los significados y los números”, en A. da Silva Diniz, M. D. Simões Brasiliero y M. Latiesa (Org.) Cartografías das novas investigações em sociologia, João Pessoa, Editora Universitária UFPB, 2005, p. 109-131. Un análisis de la multifuncionalidad económica del barrio la hemos recogido en “Metamorfosis del Albayzìn (Granada): del asilamiento a al interdependencia”,

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para la re-construcción del barrio, así como la trans-funcionalidad expresada por los residentes y visitantes, y que a la vez han de tratar de ser compatibles con su status como Patrimonio de la Humanidad. A su vez, se analiza la interacción de las tres lógicas anteriormente mencionadas en su concreción en el propio objeto de estudio. 2 LOGICAS Y CONSUMO EN EL TURISMO 2.1 Lógicas del turismo: mercantilización, placer y encuentrodesencuentro Nuestra sociedad se caracteriza por la alta capacidad de movilidad en todos los sentidos, que para algunos autores es representada como una compleja red de flujos, pero en particular el desplazamiento de personas por todo el globo4. Una de las mayores migraciones de la Historia de la Humanidad ha sido la producida como efecto de la revolución industrial en el siglo XIX. Migraciones sin precedentes hasta entonces se producen tanto dentro de Europa, el denominado el éxodo rural; pero también hacia fuera de Europa, casi todos los continentes se vieron afectados aunque de manera desigual5. En la actualidad, el mayor número de desplazamientos de seres humanos sigue teniendo la misma orientación, esto es, Norte-Sur. Pero a la cantidad le acompañan nuevas cualidades. No se trata de la búsqueda de El Dorado, o de medios de subsistencia, ahora se trata de desplazamientos efímeros en búsqueda de momentos de ocio. El viaje de ocio del siglo XIX era insignificante en

4 5

Cuadernos Geográficos, n. 32, 2002, p. 73-96. Un análisis funcional de la actividad económica da como resultado una mayor complejidad que la sintetizada por el imaginario colectivo. El estudio muestra que los comercios, la función residencial, la actividad educativa y actividades culturales tienen una presencia notable. Es decir, un patrón de multifuncionalidad que convive con la especialización hostelera presente en la representación social. J. Borja y M. Castells en Local y global. Taurus, Madrid, 1997. El único continente no afectado por este proceso es, por razones obvias, el Antártico. Véase las aportaciones en cuanto al desplazamiento demográfico a R. Puyol en el capìtulo “Caracterìsticas y factores de la distribuciñn espacial de la poblaciñn” en Población y espacios: problemas demográficos mundiales. Cincel, Bogotá, 1986, p. 39-54.

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cuanto a su volumen y no disponía de las infraestructuras de apoyo diseñadas para producir los espacios de ocio mercantilizado de la actualidad6. Se trataba de la sorpresa, de la incertidumbre, del imprevisto, del incidente, del contacto con la vida existente, de la no-diferenciación del espacio turístico del espacio de vida. Se trataba de un viaje de búsqueda, de encuentro con otras formas de vida donde la asistencia profesionalizada no existía y el viajero debía enfrentarse con su condición de bárbaro7 ante el „otro‟, con la conciencia de que el „otro‟ es el que esta en „su lugar‟ y él es el extraðo. Para algunos autores la cualidad principal del turismo es que este se democratiza, entendiendo por ello, que se hace popular y por tanto, incrementa su número. Pero más que la cuestión numérica lo relevante para nosotros aquí consiste en destacar la complejidad del fenómeno y las nuevas cualidades que se manifiestan en las tres lógicas diferentes que interactúan entre sí. En primer lugar, el turismo se mercantiliza, las actividades y espacios de ocio son producidos con la lógica del mercado y sus finalidades. El espacio de relación social se fragmenta entre un espacio para uso turístico y un espacio para uso de sus habitantes. El espacio de uso turístico en una ciudad es aquel que mantiene un diferencial mercantilizable en el contexto del mercado global. Se construye un discurso para atraer el turista basado en la singularidad o la autenticidad de dicho espacio. Según D. Harvey “muchos argumentos se apoyan en narraciones históricas, interpretaciones y sentidos de las memorias co6

7

Para una mayor profundización de las diferencias entre ambos tipos de turistas podemos ver el capìtulo de M. A. Santana Turégano en “Turismo fordista y posfordista. Una primera aproximación a la operativización de conceptos” en M. Latiesa y A. Álvarez Sousa (Comp.) El turismo en la sociedad contemporánea: diversificación, competitividad y desarrollo. Proyecto Sur Ediciones, Granada, 2000, p. 93-110. En este capítulo el autor realiza una distinción analítica entre industria turística fordista y postfordista, por un lado, y entre turismo moderno y postmoderno, por otro. Posteriormente aplica el modelo diseñado a zonas de Cataluña y de Canarias, con el objetivo de profundizar en la construcción de una tipología del turismo según el eje fordismo/postfordismo. Empleamos el término de bárbaro en su sentido etimológico, esto es, aquel que entra en contacto con miembros de otra cultura y desconoce las claves culturales de ésta.

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lectivas, significados de las prácticas culturales, etc. En todo caso, siempre hay un elemento social significativo sobre el que se construye ese discurso”8. En segundo lugar, vender espacios turísticos supone necesariamente que la sorpresa está programada y ha de ser satisfactoria para el cliente. El tiempo de ocio presenta dosis homeopáticas y cualquier incidente que afecte a su „normal‟ desarrollo es vivido como negativo, dado que el consumidor de turismo esta impregnado de la lógica del placer. La industria del ocio y el cliente del ocio no desean incertidumbres, imprevistos. Las motivaciones del turista pueden ser muy variadas como muestra Mário Carlos Beni “la demanda del turismo presenta una especificidad propia, de acuerdo con diversas motivaciones, necesidades y preferencias de los turistas por los productos, que imprime al núcleo receptor su propia orientación e consecuentemente su poder de atracción, permitiéndole una afluencia de turistas autodeterminada o autodirigida”9. Pero detrás de todos los motivos posibles, tenemos que lo que busca el turista no es una satisfacción material. Nuestra sociedad ya no se fundamenta en una ética calvinista orientada hacia el trabajo y el esfuerzo, se trata de una cultura orientada hacia el placer. Como analizamos en otro lugar, “desde la perspectiva del consumidor, la clave se halla en la gratificación exclusiva o añadida que genera un bien o servicio – y no la simple utilidad –, que nos conduce a la cuestiñn del placer”10. Por último, éstas dos lógicas interactúan con los residentes que obedecen a otra forma diferente de considerar el espacio y de habitarlo, dicha interacción la hemos denominarla lógica del encuentro y desencuentro.. Desde el punto de vista del turista, el turismo supone, por un lado, una ruptura con el espacio de vida cotidiano, por otro lado, el encuentro con el otro, la posibilidad de contacto con otras personas, espacios y cultura. Desde el punto de vista del residente, supone también el con8 9 10

D. Harvey en A produção capitalista do espaço. Annablume, São Paulo, 2005, p. 233. Mário Carlos Beni en Análise Estrutural do Turismo. Editora Senac, São Paulo, 2006. J. C. De Pablos y J. Cabrera Medina en “Las lñgicas del turismo: del consumo a la construcciñn de la sociedad”, en D. Blanquer (Dir.) Turismo cultural y urbano. Tirant lo Blanch, Valencia, 2004, p. 255-278. La cita se encuentra en la p. 263. En este trabajo hemos reflexionado sobre el desencuentro entre receptores y turistas.

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tacto con el otro, pero en su propio espacio de vida cotidiano. Como dice Bauman, el turista “lleva a cabo la proeza de no pertenecer al lugar que tal vez esté visitando; el suyo es el milagro de estar dentro y fuera de lugar al mismo tiempo. Los turistas guardan las distancias e impiden que las distancias se reduzcan hasta convertirse en proximidad. Es como si cada uno de ellos estuviese encerrado en una burbuja con una ósmosis estrictamente controlada; sólo pueden infiltrarse aquellas cosas a las que el ocupante de la burbuja da entrada; sólo pueden exudar aquellas cosas a las que él o ella dan autorizaciñn para salir”11. El significado, las formas de uso y las formas de comportamiento en el espacio son diferentes. Por tanto, existe una relación de encuentro y simultáneamente de desencuentro entre ambos. 2.2 Consumo material y consumo cultural del turismo El turismo es esencialmente un tipo particular de consumo, y por tanto, puede ser analizado según las reglas generales que rigen para el conjunto de mecanismos de la sociedad de consumo, es decir: interdependencia y complejidad, actuación conjunta de agentes individuales y estructuras sociales, generador de procesos de exclusión y desigualdades, gran importancia de los procesos materiales – mercantilización – así como de los procesos simbólicos – representaciones sociales –, de acuerdo con las reglas del capitalismo cultural. En una primera aproximación al análisis del turismo podemos entenderlo como un conjunto de actos de consumo, o mejor aún, de procesos de consumo, como Y. Tinard pone de manifiesto al hablar de la cadena del turismo12. Esta concepción no desentona con la definición que proporciona la Organización Mundial del Turismo13, que “comprende las actividades que realizan las personas durantes sus viajes y estancias en lugares distintos al de su

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Z. Bauman en La postmodernidad y sus descontentos. Akal, Madrid, 2001, p. 114. Y. Tinard en Turismo. Economía y gestión. Bosch, Barcelona, 1996. Organización Mundial del Turismo en Introducción al turismo. Organización Mundial del Turismo, Madrid, 1998, p. 44.

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entorno habitual, por un período de tiempo consecutivo inferior a un aðo con fines de ocio, por negocios y otros”14. La interpretación del turismo como consumo por parte de la propia Organización Mundial del Turismo queda plasmada en las palabras del propio Secretario General, F. Frangialli, cuando expresa así el balance del aðo 2002: “tenemos mucho trabajo por delante para reafirmar las tendencias positivas, pero lo primero es recuperar la confianza de los consumidores donde sea necesario”15. De hecho si analizamos algunos de los datos del turismo en el mundo comprenderemos mejor la interdependencia existente en una sociedad globalizada, a partir de la cual podríamos destacar los siguientes aspectos: Los últimos datos que maneja la Organización Mundial del Turismo señalan una amplia superación de la cifra de 700 millones de turistas internacionales. En la Tabla 1 se recoge la evolución de los últimos años. La existencia de una inmensa infraestructura orientada al turismo, que actúa como mediadora a efectos del turista: las agencias de viajes, los tour – operadores, el sistema de transporte, de alimentación, de alojamiento; los medios de comunicación, la publicidad, los productores finales de servicios... todos constituyen un entramado dispuesto para crear y satisfacer las necesidades del turista – consumidor. En una sociedad red, caracterizada por el crecimiento de los flujos de personas y de dinero, de información y tecnología, el turismo constituye un sector económico en auge tanto para los agentes del mercado, como para las autoridades de las ciudades, gobiernos regionales y estatales. Según la Organización Mundial del Turismo, los ingresos por turismo en 2000 a 481,703 miles de millones de dólares. Para 2005 la producción a escala mundial fue de 682,667 miles de millones de dólares. Determinadas realidades – naturales, culturales, paisajísticas y pa-

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En los sucesivo, y mientras no se especifique otra cosa, las fuentes de la Organización Mundial del Turismo proceden de www.world-tourism.org. Comunicado de prensa 27.I.2003, „El Turismo Mundial en 2002‟ de la Organización Mundial del Turismo, el subrayado es nuestro.

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trimoniales – comienzan a ser re-valorizadas y re-construidas para recibir a los turistas. Tabla 1 – Turistas internacionales por regiones

África América Asia y Pacífico Europa Oriente Medio Total

1990 15,231 92,804

1995 20,433 109,029

2000 28,284 128,164

2003 31,567 113,161

2004 34,453 125,739

2005 37,312 ---

56,138 265,647

82,747 315,009

111,372 395,894

126,075 407,113

114,237 424,449

145,491 441,528

9,630 439,45

13,704 540,922

24,183 687,897

29,538 711,048

36,265 735,143

39,023 663,35416

Fuente: Organización Mundial del Turismo, 2006

En una comparación entre Brasil y España podemos observar que Brasil recibe a 4,133 millones de turistas, por su parte España recibió 52,430 millones de turistas en el año 2004. En cuanto a los ingresos obtenidos Brasil ingreso 3,222 millones de dólares mientras que España ingresa 45,248 millones de dólares. Conviene recordar que la población de España es de 41 millones de habitantes mientras que Brasil es 190 millones. Como se ha dicho, el consumo tampoco es simplemente un gasto desde la perspectiva del turista, pues, aunque éste realice efectivamente un desembolso, lo hace integrándolo en un proyecto vital, donde lo importante es lo que hace con el conjunto de sus recursos, teniendo en cuenta que éstos no son exclusivamente económicos, sino también sociales y culturales. La mejor manifestación de esta realidad es la com-

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El número total de turistas para 2005 es inferior al de 2004 debido a que la pagina web de la OMT no dispone del número de turistas para América en 2005. No obstante, puede observarse la progresión del turismo en todos los continentes y por tanto, a escala mundial.

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plejidad de la demanda turística: la pluralidad de motivaciones relacionadas con el viajar y de formas de recorrer otras partes del mundo. Tabla 2 – Ingresos por regiones

África América Asia Europa Oriente Medio Total

1990 6,402 69,274 46,474 142,885

1995 8,500 98,439 80,700 212,159

2000 10,503 130,797 90,207 232,486

2003 16,124 114,231 98,363 283,423

2004 19,187 132,022 129,523 328,498

2005 21,526 144,556 140,765 348,263

5,124 270,159

10,905 410,703

17,567 481,56

22,459 534,6

25,474 634,704

27,557 682,667

Fuente: Organización Mundial del Turismo, 2006

Como estamos viendo el turismo desempeña un importante papel en la edificación de la sociedad global: ésta no puede construirse de espaldas al turismo, pues los agentes turísticos están profundamente implicados en el establecimiento de las nuevas estructuras de la sociedad red. Dos iniciativas de la Organización Mundial del Turismo respaldan esta idea. En primer lugar, el establecimiento del Sistema de Estadísticas de Turismo, a través de la adopción por parte de cada país de la Cuenta Satélite de Turismo, que supone un esfuerzo considerable hacia la normalización o estandarización de los datos relativos al turismo, con referencias importantes al PIB y al empleo. En segundo lugar, propuesta de un Código Ético Mundial para el Turismo, que recoge un conjunto de derechos y obligaciones de todos los agentes implicados, para el respeto de la vida y los valores humanos y el cuidado del patrimonio natural y cultural. Las actividades son tantas y tan variadas que podríamos considerar el turismo como auténtico policonsumo: transporte, viajes, alojamiento, alimentación, visitas, entretenimiento, etc. Desde luego, más allá de los consumos convencionales, cabe hacerse la pregunta acerca de lo que verdaderamente consume un turista. En sentido amplio, el consumo es un conjunto de procesos de apropiación de bienes sociales en interacción 210

con los propios recursos17. Para Lefebvre, unido a la producción del espacio se desarrolla un proceso de construcciñn del mismo y “se aprecia en estos lugares un intento de apropiación cualitativa del espacio que entra en abierta contraposición con el carácter cuantitativo que domina por doquier”18. Así, más allá de bienes y servicios, siempre hay un consumo cultural y una interacción con los anfitriones, aunque el turista gaste lo mínimo y la interacción se encuentre sujeta a condiciones de simulacro19 como plantea J. Baudrillard: “la simulaciñn es precisamente este desarrollo irresistible, esta concatenación de las cosas como si éstas tuvieran sentido, cuando sñlo están regidas por el montaje artificial y el sinsentido”, en contra de este concepto propone la “desimulación radical que consiste en destapar el „no lugar‟ de los acontecimientos”. Los acontecimientos son extraídos de su propia facticidad, del conjunto de acciones, y por tanto, del esquema interpretativo que les da sentido. La interacción entre turistas y residentes, entre turistas y el espacio está supeditada a la percepción que se tienen los agentes entre sí y los agentes y el espacio, o como dice E. Goffman “si consideramos la percepción como una forma de contacto y comunicación, el control sobre lo que se percibe es control sobre el contacto que se hace, y la limitación y regulación de lo que se muestra es una limitaciñn y regulaciñn del contacto”20.

17 18

19 20

J. C. De Pablos en “Un concepto sociolñgico (y comprensivo) del consumo” en Estudios sobre Consumo. n. 65, 2003, p. 109-124. H. Lefebvre en Espacio y política, el derecho a la ciudad. v. II, Península, Barcelona, 1978, p. 138. Para este autor, dicho proceso de apropiación, en el caso español que estudia, se concreta en el proceso de transformación del uso de suelo de la agricultura o espacios baldíos a dicho uso turístico. Pero aún más, este proceso de apropiación se caracteriza por que el turista se desplaza del espacio de producción (sus propios países de origen) al espacio de consumo para “entregarse al consumo del espacio: la playa, el mar, el sol, la nieve...”, p. 138. Véase La ilusión del fin. La huelga de los acontecimientos. Anagrama, Barcelona, 1993. La cita se encuentra en la página 29 y las cursivas son del propio autor. E. Goffman en La presentación de la persona en la vida cotidiana. Amorrortu, Buenos Aires, 1993, p. 78.

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3 TURISMO Y RE-CONSTRUCCIÓN DEL ESPACIO URBANO 3.1 El turismo: construcción material y simbólica del espacio social El turismo es agente que estructura el espacio social en su forma material y en su forma simbólica: en primer lugar, como agente activo, construyendo y re-construyendo el espacio físico mediante el uso que hace del mismo. Pero también como agente vicario actuando a través de la modificación de las representaciones o lógicas dominantes de los otros agentes, que a su vez afectan en las pautas de comportamiento que construyen el espacio. El ocio, y dentro de éste el turismo, se constituye en elemento clave de las relaciones y de las estructuras sociales de las sociedades avanzadas. El ocio ha sido considerado en la teoría sociológica como un conjunto de actividades marginales, complementarias al trabajo. Esta concepción parte de la centralidad del trabajo como elemento estructurador de la sociedad, en la cual el resto de tareas son consideradas como reparadoras o de reproductoras de la fuerza de trabajo. Numerosos son los factores que han posibilitado el desarrollo del ocio como nuevo elemento que afecta a la estructura de la sociedad actual: innovaciones industriales y tecnológicas, que han modificado las formas de producción, la organización y la división del trabajo; las luchas por la mejora en las condiciones de trabajo; las modificaciones de los valores culturales; etc. En consecuencia, la disponibilidad de tiempo liberado del trabajo sienta las bases de muchas de las actuales características de la vida cotidiana y la reivindicación del derecho al ocio aparece como un componente inestimable de bienestar social de los individuos y como motor e impulsora del cambio social21.

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D. Hiernaux Nicolás en “La fuerza de lo efìmero. Apuntes sobre la constitución de la vida cotidiana en el turismo”, en A. Lindñn (Coord.) La vida cotidiana y su espaciotemporalidad. Anthropos, México, 2000, p. 95-122. Éste autor sostiene la hipótesis de que la sociedad ha pasado por el tiempo religioso, el tiempo del trabajo en la modernidad y ahora es le momento del tiempo de ocio. Las formas de funcionamiento de la vida desarrollada en el tiempo libre afectan y estructuran la sociedad.

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En la actualidad, la emergencia de un nuevo tipo de sociedad en la que se observa una transformación de los valores como por ejemplo, el fin de la sociedad del trabajo y del valor trabajo como central en el esquema de valores dominantes; y el inicio de una sociedad de tipo hedonista, de culto del cuerpo y del placer. Esta revolución cultural queda determinada por la búsqueda de la calidad de vida que, en ocasiones, trata de encontrar o definir espacios para su realización al margen o más allá del Estado del bienestar y del mercado. El tiempo libre se constituyen en elemento esencial de la organización y funcionamiento de la actual sociedad. De esta forma el estudio del turismo se imbrica con el estudio de los estilos de vida y calidad de vida que están anclados en esta nueva concepción de la sociedad, tal y como han considerado J. C. De Pablos, Y. Gómez, N. Pascual22. Por todo ello, el turismo no puede ser entendido de forma marginal dado el tiempo empleado, los espacios en que se desarrolla, su importancia para el desarrollo personal y social; tampoco puede ser considerado como un derecho para privilegiados que consume objetos y servicios como elemento de distinción como se desprende de la teoría de la clase ociosa de T. Veblen23. El turismo debe ser entendido como un fenómeno extendido a numerosas clases sociales; y por tanto no como un hecho individual o personal sino como un fenómeno social. Por último, el ocio pasa de una concepción cívico-personal a ser un hecho político24. En efecto, actualmente el derecho al ocio es reconocido

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23 24

Son en definitiva, nuevas formas articuladoras de las relaciones sociales y permite establecer la diferenciación social a partir de ellas. J. C. De Pablos, Y. Gñmez y N. Pascual en “El dominio sobre lo cotidiano: la búsqueda de la calidad de vida”, Revista Española de Investigaciones Sociológicas. n. 86, abril-junio, p. 55-78. T. Veblen en Teoría de la clase ociosa, Fondo de Culura Económica, México D.F. 1974. Tal es así que la Constitución Española de 1978 la contempla como principio rector de la política social y económica en dos de sus artículos: vinculado con la salud en el 43.3. “Los poderes públicos fomentarán la educaciñn sanitaria, la educaciñn fìsica y el deporte. Asimismo facilitarán la adecuada utilizaciñn del ocio”. Y en el artìculo 50, asociándolo a la tercera edad, “los poderes públicos garantizarán, mediante pensiones adecuadas y periódicamente actualizadas, la suficiencia

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de forma social e institucional y este reconocimiento produce una serie de respuestas por parte de los diferentes agentes: Respuesta institucional, englobada dentro de la provisión de servicios como ya ha sido realizada en otras áreas del Estado de Bienestar. Trata de determina las posibilidades, los medios y las actividades que la población puede realizar en su tiempo de ocio. Su orientación consiste en generar una respuesta descendente, teóricamente participativa pero realmente dirigida desde arriba, sin capacidad de generar el autoprotagonismo necesario para el desarrollo cultural que podría generar. Y además, presentan numerosas dificultades a la hora de modificar pautas determinadas como la acción de las inmobiliarias, la especulación financiera vinculada al turismo, dominio e control del mercado por los tour-operadoras, etc. Respuesta empresarial, estrechamente relacionado con la tendencia a la mercantilización del ocio. El ocio es orientado hacia el ocioconsumo, el ocio se constituye como un potente mercado para la expansión de la economía. Su concreción se percibe en el desarrollo del sector servicios hacia actividades vinculadas con este sector económico, la modificación de la estructura de la población en cuanto a su ocupación, etc. Y como hemos visto mueve un gran volumen de dinero en todo el mundo. Respuesta de la sociedad, conjuntamente con el ocio institucional y el ocio empresarial se desarrolla un conjunto de asociaciones encaminadas a realizar sus propias auto-ofertas de tipo culturales, deportivas, artísticas, religiosas, educativas, entre otras. La tendencia es, en numerosas ocasiones, a engranarse con la respuesta institucional o con la respuesta empresarial. Por otro lado, la sociedad desarrolla formas de ocio no institucionalizadas, no organizadas, incomodo para determinados fragmentos del mercado y para las instituciones políticas que desarrollan sus actividades en el mismo espacio. económica a los ciudadanos durante la tercera edad. Asimismo, y con independencia de las obligaciones familiares, promoverán su bienestar mediante un sistema de servicios sociales que atenderán sus problemas específicos de salud, vivienda, cultura y ocio”. Constitución española. Tecnos, Madrid, 1986.

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En síntesis, los diferentes agentes tienen diferentes concepciones sobre el ocio y proyectan sobre el espacio los diferentes usos sociales del mismo: se trata de la relación entre las representaciones sociales y el espacio concreto, que podemos observar en las diferentes formas de uso del espacio de los distintos agentes. Se produce así una compleja interacción entre estos que generan relaciones de conflicto y consenso, líneas de fractura y tensiones. La intervención pública actúa de agencia de intermediación y en ocasiones genera efectos no previstos o no deseados, tratando de mantener un equilibrio inestable entre la representación y los comportamientos de los agentes a través de la planificación e implementación de políticas, presentándose de esta forma como elemento fundamental en el proceso de reflexividad de la sociedad. El ejemplo que sintetiza estas cuestiones puede ser el contraste entre el uso residencial y uso el hostelero, que expresan las tensiones entre la búsqueda de la calidad de vida por parte de los residentes, la búsqueda del placer por parte de los turistas y la lógica de la mercantilización o búsqueda del beneficio por parte de los inversores. 3.2 La ambivalente intervención pública: ¿recurso económico o motivo de des-encuentro? El Estado del Bienestar se caracteriza por un proceso creciente de diferenciación y especialización para hacer frente a la complejidad del entorno con el cual se, enfrenta. Esa complejidad desborda los principios con los que trabajaba hasta época reciente. Para N. Luhmann las políticas de código binario son una necesidad del sistema, dada la imposibilidad de la administración de definir una única serie de objetivos coherentes entre sí y la falta de criterio racionales para adoptar las decisiones. En este contexto los diferentes subsistemas del Estado actúan con finalidades y objetivos diferentes. Pues bien, en nuestra investigación hemos observado que las autoridades de la ciudad diseñan políticas de código binario25 y actúan de forma ambivalente al considerar esencial la llegada de los nuevos pobladores por su acción restauradora y re25

N. Luhmann, Teoría política del Estado del Bienestar. Alianza, Madrid, 1997.

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habilitadora del barrio, y al mismo tiempo apuestan por el turismo como motor del desarrollo de la ciudad. Las distintas instituciones públicas, pertenecientes a distintos órganos de las administraciones, han desarrollado numerosas iniciativas como la rehabilitación de la muralla interior, para crear un parque a su alrededor, y además está en fase de construcción un zoco o mercado de artesanía, se han establecido distintas rutas turísticas y un Centro de Interpretación en el palacio de Dar-al-Horra. Por otra parte, otras iniciativas se encaminan hacia las subvenciones a la vivienda para rehabilitación; y por último, establece líneas de actuación para el fomento de la actividad económica mediante políticas de revitalización. En el complejo conjunto de acciones encaminadas hacia la rehabilitación de espacios urbanos, confluyen el bienestar e intereses de los residentes y empresarios tanto como el potencial turístico del barrio. La intervención pública se constituye en intermediadora entre los diferentes agentes. Tratando de satisfacer las demandas de los distintos agentes, fomenta la lógica de la mercantilización del espacio, la lógica del placer de los turistas y las reivindicaciones de los residentes de orden estético, afectivo y de convivencialidad en su proyecto de búsqueda de la calidad de vida. El resultado es el desarrollo de una lógica del des-encuentro, que veremos mejor reflejado en los grupos de discusión, conjunto de demandas que difícilmente puede ser gestionada desde el campo político. Cuando los vecinos piensan en términos de revitalización del barrio entienden el turismo como uno de los principales recursos del Albayzín, tal como se ha puesto de manifiesto en diferentes encuentros entre gestores, expertos y residentes, como fue el Seminario para la Revitalización del Albayzín 2000+ (febrero de 1998, organizado por el Centro UNESCO de Andalucía, que propuso el establecimiento del Centro de Interpretación) y las Primeras Jornadas sobre el Albayzín (mayo de 2000, organizadas por el Instituto Municipal de Formación y Empleo, 2000). Sin embargo, en ésta última ocasión, ya aparecen las quejas de los veci-

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nos acerca de la forma inadecuada en la que, a su juicio, se gestiona el turismo del barrio, que no se adecuaría a la oferta cultural del mismo26. El espacio físico que se visita y se observa no es el mismo para el turista que para el residente. M. Auge define el espacio como „no lugar‟ de la siguiente forma: “si un lugar puede definirse como lugar de identidad, relacional e histórico, un espacio que no puede definirse ni como espacio de identidad ni como relacional ni como histórico definirá un no-lugar”27. El espacio social se encuentra jerarquizado u organizado mediante un esquema simbólico construido por los habitantes del pasado y transmitido culturalmente y re-construido en parte por los habitantes actuales. En opinión de los residentes, en las zonas altas del barrio, los autobuses descargan literalmente a los visitantes, con el compromiso de recogerlos a una hora determinada, a fin de visitar algunas calles y miradores. El resultado, según la opinión de dichos residentes, es el bloqueo de esas calles y la saturación de los miradores, las dificultades en el paso, y la sensación de que ese tipo de turismo, que reproduce el turismo de masas, no es el adecuado para el Albayzín, del que se llevan tan sólo una imagen superficial e inadecuada al tiempo que incomodan a los residentes. De esta manera, los residentes consideran que se convierte al Albayzín en un no-lugar, un mero itinerario, espacio de tránsito, sin referencia identitaria, relacional e histórica. Por su parte K. Lynch, considera que para el residente el espacio es una determinada red de recorridos que se encuentra altamente cargada de significado social28. El espacio así considerado, no sólo realza las potencialidades de la experiencia humana, sino que además es vivido e integrado en la personalidad del individuo y desempeña una función 26

27 28

Hemos profundizado sobre esta cuestión en J. Cabrera y JC de Pablos en “Turismo y residencia: conflicto de intereses en el marco del desarrollo sostenible”, en D. Flanquer (dir.), La calidad integral del turismo. Tirant lo Blanch, Valencia, 2003, p. 5770. M. Augé, Los no lugares: espacios del anonimato. Una antropología de la modernidad. Gedisa, Barcelona, 1998, p. 83. K. Lynch, La imagen de la ciudad, Ediciones Infinito, Buenos Aires, 1966. El autor exponde la cuestión del espacio como red de recorridos, véase especialmente el apartado: “La imagen del medio ambiente”, p. 9-22.

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social al establecer y reforzar los vínculos del sujeto con los símbolos y recuerdos colectivos de comunicación del grupo al que pertenece. Por lo tanto, el espacio físico articula y estructura la sociedad. Los espacios tienen un significado práctico o emotivo para el observador29, y este significado es diferente a la mera relación espacial, de esta forma, la red de recorridos pone en relación los diferentes lugares entre sí, entre los lugares y los sujetos, y por último, entre los sujetos y la comunidad a la que pertenecen. Por su parte, el turista considerado en cuanto a su relación con el espacio o red de recorridos, es un sujeto que actúa auto-referencialmente, con sus propios códigos y contenidos culturales, que determinarán los procesos de identificación, estructuración y significación del espacio. El turista así considerado es un sujeto sin experiencia, pues según R. Argullol y E. Trìas: “toda experiencia radica en una apertura hacia lo verdaderamente ajeno”30. Al traducir lo ajeno – extraño, exótico, diferente – a los términos de su propio esquema interpretativo de la realidad, el turista se carga de vivencias, pero no así de experiencias. Pero al mismo tiempo, la cultura del lugar se ve profundamente modificada por las nuevas formas de relación de la zona con su nueva fuente de ingresos. Sólo permanece lo mercantilizable, se produce un proceso de reducción de lo cultural a lo cultural-vendible. Esto se debe a que se encuentran dos lógicas antagónicas y por ello necesarias: la lógica del mercado (representado por las empresas del sector) y la lógica del placer (representados por quienes hacen turismo) A la que hay que añadir la reconstrucción social de la red de recorridos construidos por la sociedad concreta de recepción cargada de significado y emotividad diferente a la de los empresarios y turistas. Como ya hemos señalado con M. Augé, el turismo en la actualidad se mueve en los espacios de los „no lugares‟, es decir, espacios vaciados de contenido social, de contenido cultural y reciclados para su 29

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De esta forma se incorpora el componente emotivo, afectivo atribuido por M. Weber a la acción social, y tan necesario para la comprensión de lo social en un contexto de postmodernidad como el actual. R. Argulloy y E. Trías en El cansancio de Occidente. Destino, Barcelona, 1992, p. 4748.

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consumo. Además, los no lugares de los turistas y los lugares de los residentes pueden ser el mismo espacio, como el caso de Plaza Larga que puede ser considerado como espacio multifuncional ya que concentra gran parte de las actividades de provisión de servicios públicos, de escuelas privadas, comercio y lugar de encuentro entre residentes y lugar de uso turístico. Sin embargo, otros espacios pueden ser vividos como no lugares por los residentes como efecto de la mercantilización del mismo, como el caso de Plaza Nueva, donde las actividades económicas dirigidas al turismo han desplazado las anteriores actividades económicas destinadas a los residentes. El espacio excesivamente mercantilizado se vacía de contenido para el residente y se convierte en espacio para el ocio de otros usuarios: la plaza, el bar, el restaurante lugar de encuentro de los residentes se transforma en plaza, bar o restaurante para el turista. Las relaciones entre estos agentes se encuentran mediadas por los intereses y la significación diferenciada entre ambos, dando lugar a la lógica del des-encuentro. Como dice Álvarez Sousa, el turismo es paradójico, por cuanto “se espera lo no esperado”, lo sorprendente, lo que no estaba previsto, en medio de un control casi absoluto de todas las variables, en las que el azar es habitualmente minimizado a favor de la calidad global, que hoy pretenden ofrecer los servicios turísticos31. Hay, efectivamente, un proceso de descubrimiento, pero no está centrado en querer aprehender al otro. Si utilizamos la metáfora que E. Fromm emplea para el consumo32 – la gente está más interesada en tener que en ser – y la aplicamos al turismo, se puede decir que tanto el turista como el anfitrión están poco preocupados por lo que el otro es, y mucho por lo que el otro tiene, tal y como sucede formalmente en la lógica del mercado. No se ve en el turismo un interés directo por el otro más allá de la educación o corrección en el trato. Cabe una preocupación por lo que el otro tiene que ofrecernos, que no es otra cosa que una redefini31

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A. Álvarez Sousa, “Calidad global” en M. Latiesa y A. Álvarez Sousa, El turismo en la sociedad contemporánea. anteriormente citado, p. 285-303. La cita se encuentra en la página 294. E. From en ¿Tener o ser?. Fondo de Cultura Económica, Madrid, 1999.

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ción de los recursos ya sea el territorio, paisaje, o su historia, desde el punto de vista del turista; o el dinero para las instituciones públicas, los empresarios y algunos de los residentes, como verermos a continuación. Estas mismas conclusiones aparecen en la parte cualitativa de nuestro estudio, encontrando ahora el contraste entre los albayzineros tradicionales y los nuevos pobladores. En efecto, las diferencias entre ambos no se reducen a entender de manera diferenciada el papel de la intimidad, de las relaciones con los vecinos o los estilos con que se deben construir o decorar las viviendas, sino que afectan directamente a la percepción del impacto del turismo y a la re-construcción simbólica del espacio. Por supuesto, las posiciones no están totalmente polarizadas, pero poseemos evidencias suficientes para advertir cómo entienden de manera diferente la significación del turismo, y valoran desigualmente su impacto. He aquí algunos testimonios procedentes de los grupos de discusión de albayzineros tradicionales: “El turismo es una forma de dar vida, porque entra un autocar y entran 50 personas a un café y son cincuenta cafés que se venden, si aquí no viene el turismo no se venden esos 50 cafés” (GD 2: albayzineros tradicionales). “Para mì lo positivo es que vienen y visitan el barrio; lo negativo es que antes tu te podías sentar en San Nicolás un rato y ahora llegas a San Nicolás y no te puedes ni sentar con un mundo de gente adelante [...]” (GD 3: albayzineros tradicionales).

La visión de los nuevos pobladores, que recogemos a continuación, es mucho más crítica con la actividad turística, hasta el punto de interpretar de manera contraria el mismo hecho: “Lo que más molesta en el barrio, los grandes grupos que pasan por las calles y sólo pasan y no ven nada, porque yo creo que es un tipo de turismo muy masificado y rápidamente pasan y... yo he oìdo quejas de gente” (GD 4: residentes postmodernos). “Los turistas... Eso no puede ser, es que no cabemos los de aquí (los habitantes) [...] Los grupos de turistas, sobre todo los que

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van en grupo de 60 es que te invaden, te mezclan entre ellos... ¡Es que no puedes andar!” (GD 5: residentes postmodernos). “A mì montones de personas me piden permiso para entrar en mi casa y verla. Esa gente no molesta, generalmente consumen en el barrio. Ahora, los grupos estos numerosos que no te dejan pasar, y que aparcan los autobuses con peligro de accidente y todo... Esta gente no te deja nada en el barrio, lo único que hace es molestar!” (GD 6, residentes postmodernos).

Como se ve, ambos grupos sociales presentan representaciones distintas acerca de los efectos del turismo en la vida del barrio, que además, le llevan a ver selectivamente aquello que desea ver. Mientras que los residentes tradicionales parece manifestar una mayor tolerancia hacia el turismo, en cuanto recurso de tipo económico y de desarrollo; los nuevos pobladores del Albayzín son mucho más exigentes, conscientes de que en la organización actual del turismo – o de determinadas actividades consideradas perturbadoras – intervienen terceros que obtienen beneficios a costa de crear incomodidades, al tiempo que traicionarían la oferta cultural del Albayzín, representada en el recorrido sosegado y placentero por sus calles y rincones, anulado por la velocidad al que se somete a los actuales grupos, que del barrio alto conocen y visitan poco más que algún mirador. Mientras los albayzineros tradicionales se resignan, los nuevos pobladores son críticos con las autoridades y con lo que definen como su deficiente gestión. Que duda cabe que ambas visiones están condicionadas por sus propias fuentes de ingresos y por el capital cultural y político. Los esfuerzos de la administración por establecer un Centro de Interpretación del Albayzín (que comenzó a andar en el año 2001) y proponer algunas rutas por el barrio supone un factor más en la redefinición del uso de los espacios añadida a la concentración de la oferta hostelera, que no para de incrementarse. De ahí que la sensación de saturación no se limite tan sólo a los propios residentes, sino que el debate alcanza al conjunto de la ciudad, a través de los medios de comunicación social, en el que algunos expertos manifiestan su opinión

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considerando que el barrio puede convertirse en el restaurante de la ciudad, donde los chiringuitos y sus sombrillas, lo invaden todo33. Con anterioridad, la saturación de tráfico del barrio había llevado al Ayuntamiento de la ciudad ha restringir el tráfico rodado en el Albayzín tan sólo a los residentes. Esta medida es promovida y apoyada por las asociaciones de vecinos, pero no cuenta con el apoyo de los propietarios de comercios, que ven en ella la posible disminución de sus actividades económicas. No en vano es el sector que constituye la principal actividad del barrio con el 30,53% de las actividades, aunque oculta en el imaginario social por la fuerte presencia del sector hostelero con 27,14%. Es decir, la respuesta de la Administración está centrada en disminuir – coches, autocares, terrazas – y compatibilizar diferentes usos – creando paseos y jardines, mejorando la información, etc. –, actuando contra las tendencias de turistas y hosteleros a concentrarse en determinados puntos, pero generando como efecto perverso nuevos espacios mercantilizados para el uso turístico y que dado el volumen de turistas se convierten en espacios igualmente saturados. El efecto que produce es la generación de conflictos, puesto que estos espacios, al no ser zona de uso turístico o económico, fueron elegidos por los nuevos residentes para el establecimiento de su residencia. El carácter de intermediación entre agentes de la gestión pública genera la ejecución de políticas con finalidades, objetivos y estrategias diversas: fomentar la revitalización económica a través de la actividad turística y empresarial en el barrio; fomentar y favorecer la rehabilitación del patrimonio edificado en manos privadas como las viviendas; facilitar la construcción de nuevas viviendas ajustadas a la ingente normativa al respecto, etc. Como consecuencia la intervención pública genera una importante cantidad de efectos no deseados34 que alimentan las relaciones de conflictividad y cooperación, y el carácter reflexivo de la sociedad objeto de estudio, en su intento de definir el espacio abstracto ou simbólico y su consiguiente construcción del espacio concreto. 33 34

J. García Román, Presidente de la Academia de Bellas Artes de Granada, en el diario El Ideal el 17 de marzo de 2001. R. Boudon en La lógica de lo social, Rialp, Madrid, 1981.

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INFORMAÇÕES SOBRE OS AUTORES Alain Vuillemin é Professor de Literatura Comparada na Universidade de Artois (PRESLille/Nord-Pas de Calais/França) e tem as seguintes obras publicadas: Le Dictateur ou le dieu truqué dans la littérature française et anglaise de 1918 à 1984 (1989); Lubomir Guentchev. Le poète interdit (2006); Essais sur la poésie et le théâtre de Georges Astalos (2007). Em colaboração também publicou: La Littérature contre la dictature en et hors de Roumanie, 1947-1989 (1995); Interférences historiques, culturelles et littéraires entre la France, l‟Europe et les pays de l‟Europe centrale et orientale, XIX° et XX° siècles (2000); La France, l‟Europe et les Balkans. Crises historiques et témoignages littéraires (2002); L‟Europe, la France, les Balkans. Littératures balkaniques et littératures comparées (2004); Traditionnel, Identité, Modernité dans les cultures du Sud-Est européen : la littérature, les arts et la vie intellectuelle au XX° siècle (2007). Co-autor, com Stoyan Atanassov (Universidade Saint-Clément d‟Ochrid, de Sofia, Bulgária), de Libul, Inventaire de la littérature bulgare d‟expression française, 1841-1995 (2004), bibliografia difundida através do site do CLUEB da Universidade de Bolonha (Itália): . Endereço eletrônico: [email protected]. Celina de Araújo Scheinowitz tem doutorado de Estado pela Universidade de Paris-Sorbonne (Paris IV), com tese no campo da Lingüística contrastiva, defendida em 1987. Professora aposentada da Universidade Federal da Bahia – UFBA, onde exerceu cargos de chefia, tendo sido Diretora do Instituto de Letras (1984-1988) e Coordenadora da Pós-graduação em Letras (1982-1984), e também da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, onde prestou Concurso com defesa de tese, provas escrita, de didática e de títulos, para o cargo de Professor Titular de Francês, em 1997, e coordenou o Centro de Estudos Francófonos, desde a sua criação, em dezembro de 1999, até maio de 2007. Possui cerca de dez livros publicados e mais de uma centena de artigos, em revistas especializadas, sobre temas de lingüística contrastiva, literaturas francófonas e poesia brasileira e francesa. Condecorada pelo Governo francês com as Palmas Acadêmicas, em 1984, no grau de Cavaleiro, foi promovida a Oficial, em 1986, e pelo Governo português, com a comenda de Oficial da Ordem de Instrução Pública, em 1987. Endereço eletrônico: [email protected]. Danielle Forget é Professora Titular do Departamento de Frances da Universidade de Ottawa (Canadá). Seu campo de pesquisa abrange os domínios correlatos da Semântica e da Pragmática. Dentre seus inúmeros trabalhos, vários circunscrevem-se ao campo da Análise do discurso: L'émergence d'un discours démocratique au Brésil: conquêtes et résistances du pouvoir (1964-1984) (Candiac, Éditions Balzac, 1992 e São Paulo, EDUSP, 1994); enquanto que outros estão na intersecção entre a Retórica e a Cognição, tanto sobre o corpus literário quanto o não-literário, cujos exemplos são: Figures de pensée, figures du discours (Québec, Éditions Nota Bene, 2000); Construire le sens, dire l‟identité : catégories, frontières, ajustements, em co-autoria com K. Fall e Georges Vignaux (Québec, PUL/Paris, Maison des Sciences de l‟Homme, 2005). No Brasil, organizou, em colaboração com Humberto de Oliveira, a coletânea bilíngüe de ensaios em Literatura Comparada Images de l´Autre : lectures divergentes de l´altérité/Imagens do Outro: leituras divergentes da alteridade (Feira de Santana, Universidade Estadual de Feira de Santana/ABECAN, 2001). Endereço eletrônico: [email protected]. Georges Saad é Professor Titular da Faculdade de Direito na Universidade Libanesa (Beirute), onde leciona principalmente Direito Internacional. Suas pesquisas versam, em sua maior parte, sobre temas ligados ao direito público: L‟ Etat de droit, (Beyrouth, Editions Maktabat al Halabi, 2000); Le droit administratif et le contentieux administratif (Beyrouth, Editions Al Halabi, 2006); Etudes juridiques (notes sur arrêts du conseil d‟Etat libanais) (Beyrouth, Ed. AZ, 2005); La réception des droits de l‟homme en droit administratif libanais (In Awraq Jamiya, Ed. Ligue des professeurs de l‟Université libanaise, n. 22, 2001); Sur la notion de souveraineté chez Michel Troper: parallèles libanais

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(In Travaux et jours, Publication de l‟Université Saint-Joseph, n. 78). Atua também no campo da tradução, notadamente em Filosofia do Direito: obras de Michel Troper (La philosophie du droit) e de Bjarne Melkevik. No campo da literatura, em língua francesa, Georges Saad publicou o romance Marie-Luce Bruyère ou la vie d‟un étudiant libanais en France (Beyrouth, Atelier de Création Libertaire, 2002). Endereço eletrônico: [email protected]. Humberto Luiz Lima de Oliveira, com formação em Filosofia (UCSAL) e Letras (UEFS), tem pósgraduação em Estudos Literários, Mestrado em Letras e realiza doutorado em Literatura Comparada na Université d´Artois (França). Realiza pesquisas na área de (re)configurações identitárias no espaço pós-colonial, o que lhe permite estabelecer interfaces multi ou transdiciplinares com a Ética, a Educação e a Cultura contemporânea. Tem trabalhos publicados no Brasil e no exterior. No campo da edição, publicou, com Licia Soares de Souza, Heterogeneidades: Jorge Amado em diálogo (Feira de Santana, UEFS/ABECAN, 2000, 2003); com Danielle Forget, Imagens do Outro: leituras divergentes da alteridade (Feira de Santana, UEFS/ABECAN, 2001); com Celina de Araújo Scheinowitz, Haiti: 200 anos de distopias, diásporas e utopias nas Américas (Feira de Santana, UEFS/ABECAN, 2004) e Vozes e imagens da alteridade: ensaios em literatura comparada (Feira de Santana, UEFS/ABECAN, 2006). Na área da criação literária, tem uma coletânea de contos publicada: Colheita insólita (Feira de Santana, UEFS, 2003). Endereço eletrônico: humbert_ [email protected]. Josivaldo Pires de Oliveira (Bel) é Professor da Faculdade Nobre de Feira de Santana; Doutorando em Estudos Étnicos e Africanos na Universidade Federal da Bahia – UFBA; Mestre em História Social pela UFBA; Coordenador do Conselho Multidisciplinar de Pesquisa e Editoração do Instituto Maria Quitéria – IMAQ. Tem se dedicado à pesquisa da história social das práticas afro-brasileiras, já tendo publicado o livro No tempo dos valentes: os capoeiras na cidade da Bahia (Salvador, Quarteto), preparando tese sobre a repressão ao candomblé em Feira de Santana. Endereço eletrônico: [email protected]. Julio César Cabrera Medina possui graduação em Ciências Políticas e Sociologia pela Universidade de Granada; doutorado em Sociologia – Problemas Sociales de la Sociedad Contemporánea – igualmente pela Universidade de Granada. Ministrou aulas e trabalhou em projetos de pesquisa nas Universidades de Sevilha e de Granada na Espanha. Atualmente é Professor do Curso de Relações Internacionais na Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. É pesquisador CNPq no “Programa de Desenvolvimento Cientìfico Regional”. Seus principais campos de interesse acadêmico e de pesquisa se relacionam com as mudanças ocorridas nas sociedades contemporâneas; metodologia científica nas ciências sociais; desenvolvimento e globalização sócioculturais; transformações dos centros históricos declarados Patrimônio da Humanidade e turismo. Endereço eletrônico: [email protected]. Lamara Mirna Brasileiro de Andrade é graduanda dos cursos de Bacharelado em Turismo e Bacharelado em Administração de Empresas na Universidade Federal da Paraíba – UFPB. É bolsista do LACOS: Laboratório de Estudos e Pesquisas em Lazer, Corpo e Sociedade da UFPB. Seus principais campos de interesse acadêmico e de pesquisa se relacionam com mudanças sociais, globalização, turismo desportivo e marketing. Lilian Pestre de Almeida obteve seu doutorado em Letras pela Sorbonne (Paris) e é também Livre Docente, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. Professora de Literatura francesa e Literaturas francófonas, ensinou no Brasil (UFRJ, UFF), na França (Paris III) e em Portugal. Publicou inúmeros textos sobre Aimé Césaire, Edouard Glissant, relações entre francofonia e lusofonia, literatura comparada, e literatura relacionada aos “marranes”. Desde

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1994 vive em Lisboa. Integra um grupo de pesquisa sobre os cativos do Mediterrâneo. Endereço eletrônico: [email protected]. Mahomed Bamba possui doutorado em Cinema, Estética do Audiovisual e Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (ECA-USP). É Professor Visitante no Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. Dedica-se à pesquisa nas áreas da recepção cinematográfica, literatura e cinemas africanos e da diáspora. Participação em livros publicados: “O(s) Cinema(s) Africano(s): no singular e no plural” (In Cinema mundial contemporâneo. Fernando Mascarello e Mauro Baptista. (Org.). Campinas: Ed. Papirus, 2008 Coleção Campo Imagético); “Introdução” (In Cinema no mundo: indústria, política e mercado, volume I – África. Alessandra Meleiro. (Org.). São Paulo: ed. Escrituras). “O papel dos festivais na recepção e divulgação dos cinemas africanos” (In Cinema no mundo: indústria, política e mercado, volume I - África. Alessandra Meleiro. (Org.). São Paulo: ed. Escrituras). Endereço eletrônico: [email protected]. Maria Bernadette Velloso Porto é Professora nos cursos de graduação e pós-graduação na Universidade Federal Fluminense – UFF. Coordena o Núcleo de Estudos Canadenses da UFF. Pesquisadora do CNPq desde 1992, desenvolveu, entre outros, os projetos “Poéticas da exigüidade e da errância nas Américas”, “Babel revisitada: a construção de uma poética das lìnguas nas Américas”, “A representação do cotidiano como invenção nas literaturas periféricas”. Desde março 2008, também com o apoio da mesma agência de fomento, se dedica ao desenvolvimento do projeto “Representações imaginárias do lugar: práticas, invenções e apropriações”. Ao lado da Profa. Eurídice Figueiredo organizou a obra coletiva Figurações da alteridade. Anteriormente, como organizadora, lançou duas outras obras coletivas: Fronteiras, passagens, paisagens na literatura canadense e Identidades em trânsito. Publicou artigos em revistas especializadas e capítulos de livros. Endereço eletrônico: [email protected]. Maria Dilma Simões Brasileiro possui graduação em Educação Física pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB; mestrado em Ciências do Desporto de Recreação e Lazer pela Universidade do Porto – Portugal; doutorado Europeu em Sociologia, pela Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade de Granada – Espanha, com estágio na Universidade de Montipellier 1 – França. Atualmente é Professora Adjunta da UFPB e atua nos cursos de Educação Física e Turismo e nos mestrados de Sociologia da UFPB e de Educação Física da UFPB/UPE. Tem experiência nas áreas de Educação Física, Turismo, Metodologia Científica, Sociologia do Lazer, Desporto e Turismo, atuando principalmente nos seguintes temas: mudanças sociais, desporto de lazer; turismo desportivo; desporto e turismo em ambientes naturais; lazer e inclusão social; educação para e pelo lazer; trabalho, lazer e qualidade de vida; lazer e terceira idade; pesquisas em ciências sociais. Mathieu-Étienne Gagnon, jovem pesquisador com Mestrado em Comunicação pela Universidade do Québec em Montreal (UQAM), Canadá, interessa-se sobretudo pelas políticas de comunicação, área na qual realiza estudos sobre mudanças retóricas subjacentes nos discursos da esquerda emergente no Uruguai. Após sua formação em Antropologia, trabalhou durante vários anos como supervisor de intercâmbios internacionais entre o Canadá e países da América latina, África e Ásia. Sua experiência profissional e acadêmica lhe permitem considerar os fenômenos sociais numa perspectiva comparativa e, conseqüentemente, de se inspirar no que se faz no global para encontrar soluções para os problemas locais. Endereço eletrônico: dieuexiste@ yahoo.com. Miguel Nenevé é Professor Associado da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, coordenador do Núcleo de Estudos Canadenses, atua no Departamento de Letras Estrangeiras. Tem

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publicações no Brasil e no exterior, nas áreas de Literaturas de Língua inglesa, tradução, educação e literatura de viagem sobre a Amazônia. É pesquisador do CNPq nível II. Tem publicados os seguintes livros: Olhares sobre a Amazônia, com Marilene Proença e Martin Cooper (São Paulo: Terceira Margem, 2001); Psicologia e educação na Amazônia, com Marilene Proença (São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002); Folhas mortas (poemas – London: On: Pendas, 2003); Psicologia e saúde na Amazônia, com Marilene Proença e Ronilda Ribeiro (São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003); Poemas escolhidos de Penn Kemp (tradução e organização – London: On: Pendas, 2004); Educação e diversidade: interfaces Brasil-Canadá (São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005); Tradução, cultura e diversidade (no prelo – Porto Velho: Edufro, 2008); Poems to Frida Kahlo (no prelo – London: On: Pendas, 2008). Endereço eletrônico: [email protected]. Nubia Jacques Hanciau é Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Letras da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, representou o Brasil junto à AIÉQ – Association Internationale des Etudes Québécoises (1998-2000). Foi Presidente da ABECAN – Associação Brasileira de Estudos Canadenses no biênio 2004-2006. É editora da revista Interfaces Brasil-Canadá desde 2003. Autora de vários artigos em estudos literários canadenses, particularmente no âmbito da francofonia, co-organizou: L‟Amérique Française: introduction à la culture québécoise, com Alain Bélanger e Sylvie Dion (Rio Grande: Ed. da FURG, 1998), A América Francesa: introdução à cultura quebequense (id., ibid., 1999) e A voz da crítica canadense no feminino, com Eliane Campello e Eloína Santos (Rio Grande: Ed. da FURG, 2001). Sua tese (prêmio Air Canada 2004) deu origem ao livro A feiticeira no imaginário ficcional das Américas (Rio Grande: Ed. da FURG, 2004), laureado com o Prêmio Pierre Savard 2005. Em 2006 organizou Brasil / Canadá: visões, paisagens e perspectivas, do Ártico ao Antártico (Rio Grande: Ed. da FURG). Como tradutora publicou A gaiola de ferro, de Anne Hébert (Rio Grande: Ed. da FURG, 2003); organizou a série Traduções do PPG-Letras da FURG e traduziu os dois primeiros textos, de Yvan Lamonde e Jocelyn Letourneau. Endereço eletrônico: [email protected]. Roberto Henrique Seidel é Professor Adjunto de Teoria Literária junto ao Curso de Letras, da Especialização em Estudos Literários e do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Diversidade Cultural, da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS; graduado em Letras Germânicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS; especialista em Germanística pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg im Breisgau – Alemanha; mestre e doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Desde abril de 2008, coordena os trabalhos do Núcleo de Estudos Canadenses da UEFS. Dentre outros, tem publicado: Do futuro do presente ao presente contínuo: modernismo vs. pós-modernismo (São Paulo: Annablume, 2001) e Embates simbólicos: estudos literários e culturais (Recife: Bagaço, 2007). Suas áreas de pesquisa são as teorias literárias, os estudos culturais e pós-coloniais contemporâneos. Endereço eletrônico: [email protected]. Véronique Dahlet é Professora Titular junto ao Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Autora de muitas publicações sobre a pontuação, sua pesquisa se interessou, a partir dos anos 2000, na questão das identidades no âmbito do plurilingüismo e do deslocamento no espaço (emigração, etc.). O tema da francofonia vem completando essa reflexão, porém, mais como invenção de um novo modo de viver nossas diferenças que dá a primazia às línguas – às variações do francês em relação às configurações das centenas de línguas nacionais e autóctones do espaço francófono – portadoras de culturas numerosas e diversificadas, criando, assim, um novo mapa estratégico que não fica apenas desenhado pelas preocupações territoriais e econômicas. Endereço eletrônico: [email protected].

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