Pós-modernismo e pós-estruturalismo: semelhanças de família - Postmodernism and Poststructuralism: family resemblances

July 14, 2017 | Autor: Valteir Vaz | Categoria: Poststructuralism, Postmodernism
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Pós-modernismo e Pós-estruturalismo: semelhanças de família “O sentimento de que não estamos destinados a completar o projeto da modernidade (a frase é de Habermas) e de que nem por isso necessitamos cair na irracionalidade ou no frenesi apocalíptico e o sentimento de que a arte não persegue exclusivamente um telos de abstração, não-representação e sublimidade têm aberto um leque de possibilidades para os esforços criativos atuais. De certo modo, isso altera nossa concepção do próprio modernismo. Em vez de ficarmos atados a uma história unilinear da modernidade que a interpreta como desdobramento lógico em direção a um objetivo imaginário, e portanto fundada numa série de exclusões, começamos a explorar suas contradições e contingências, suas tensões e resistências internas a seu próprio movimento “para adiante”. O pós-modernismo está longe de tornar o modernismo obsoleto. Pelo contrário, ele joga uma nova luz sobre o modernismo e se apropria de muitas de suas estratégias e técnicas estéticas, inserindo-as e fazendo-as trabalhar em novas constelações” (Andreas Huyssen, “Mapeando o pós-moderno”. In: Hollanda, Heloisa Buarque. Pós-modernismo e política. Rio de Janeiro: Rocco, 1991, pp. 15-80).

A passagem acima é parte do ensaio “Mapeando o pós-moderno”, do crítico Andreas Huyssen. Trata-se de um ensaio longo dedicado a já bastante conhecida polémica teórica entre Modernismo e Pós-modernismo. A tônica dominante do ensaio recai nas tensões entre o Pós-modernismo com o Modernismo e as Vanguardas Históricas. Particularmente no trecho citado, se encontra um dos núcleos duros do ensaio ou, se quisermos, é justamente aí que reside a tese fundamental sobre a qual está travejada a arquitetura discursa do ensaio, qual seja, a de que as produções artísticas a partir

os

anos

1960



não

cabem

mais

na

moldura

conceitual

“modernismo/vanguardismo”. E é exatamente desse “fracasso” do modernismo que, segundo, Huyssen nasce o Pós-modernismo: Eu diria que as artes contemporâneas – no sentido mais amplo possível, quer se autodenominem pós-modernistas ou rejeitem esse rótulo – já não podem ser consideradas uma nova fase na sequência dos movimentos modernista e vanguardista que começaram em Paris nas décadas de 1850 e 1860 e que mantiveram vivo um ethos de progresso cultural e vanguardista até a década de 1960. (Huyssen, op. cit. p.74)

Mas embora o Pós-modernismo denuncie a fragilidade do Modernismo em incorporar a produção contemporânea em seu vasto repertório conceitual, denunciado particularmente as dicotomias como “progresso versus reação, direita versus esquerda, presente versus passado, modernismo versus realismo, abstração versus representação, vanguarda versus kitsch.”(Huyssen, op. cit. p.74), tão importantes para as pioneiras do

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auto Modernismo, ele não rejeita o Modernismo por completo, pois necessita da tensão gerada entre a tradição e a inovação, entre o novo e o antigo. Segundo Huyssen, A sensibilidade pós-moderna do nosso tempo é diferente tanto do modernismo quanto do vanguardismo precisamente porque coloca a questão da tradição e da conservação cultural como tema estético e político fundamental, (...). Porém, o que acho mais importante no pós-modernismo contemporâneo é que ele opera num campo de tensão entre tradição e inovação, conservação e inovação, culturas de massas e grande arte (...). (Huyssen, op. cit. p.74)

A análise proposta por Huyssen, na qual a tensão entre as grandes dicotomias modernistas é sua ponta de lança, nos permite mirar o Modernismo por um novo prisma; ou seja, trata-se de uma leitura à contrapelo da tradição modernista que denuncia suas contradições internas e suas contingências teóricas. Como diz o próprio crítico, “o pós-modernismo está longe de tornar o modernismo obsoleto. Pelo contrário, ele joga uma nova luz sobre o modernismo e se apropria de muitas de suas estratégias e técnicas estéticas, inserindo-as e fazendo-as trabalhar em novas constelações.” (Huyssen, op. cit. p.75) Pensado por esse ângulo, a proposta de Huyssen guarda estreitas similaridades com o movimento pós-estruturalista, particularmente na sua face norte-americana e também com a filosofia desconstrucionsia de Jacques Derrida. Os desdobramentos da desconstrução na América, como por exemplo, os estudos sobre gêneros, sexualidade, etnias e a política do pós-colonialismo também são aferíveis no ensaio de Huyssen, embora eles não os abordem de forma detida. Como se sabe, em outubro de 1966, a Universidade Johns Hopkins, de Baltimore (EUA), sediou o Colóquio Internacional sobre Linguagens Críticas e Ciências do Homem, que contou com a participação das mais ilustres figuras do pensamento teórico francês de então. Dentre os convidados estava o filósofo franco-argelino, Jacques Derrida, o antropólogo, Claude Lévi-Strauss, o linguista, Roland Barthes e o psicanalista, Jacques Lacan. Com destaque especial, a comunicação apresentada por Derrida foi decisiva no evento: sua leitura do artigo “A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas”1, que contém as ideias basilares do movimento que posteriormente se denominaria “desconstrução”, estabeleceu novo rumo nos estudos

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A comunicação foi posteriormente publicada como ensaio em Derrida, Jacques. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2009, pp.407-426.

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literários daquele país assim como projetou novas perspectivas no debate filosófico internacional. A novidade do discurso proferido por Derrida, proclamado no auge do estruturalismo2 francês, consistia em questionar justamente as bases sobre as quais esse movimento estava erigido. Na perspectiva mais radical de Umberto Eco, o pronunciamento do filósofo equivale a nada menos que a “liquidação do estruturalismo”3, particularmente aquele praticado na academia francesa da década de 1960, por teóricos como Claude Bremond, Gérard Genet e Tzvetan Todorov, para ficarmos apenas no âmbito da análise da narrativa. As ideias apresentadas por Derrida tiveram notável aceitação em solo americano e logo se espelharam pelo país, mas recebendo melhor acolhimento nos departamentos de literatura de universidades, entre elas a renomada Yale. Dessa forma, não demorou muito para Derrida ser aclamado como o fundador de uma nova escola críticofilosófico, a saber o Desconstrucionismo. Possivelmente uma das justificativas desse culto imediato da desconstrução nos Estados Unidos esteja ligada à tendência crítica que a antecedeu. Sabe-se que, entre 1920 e 1950, floresceu nesse país o chamado New criticism, movimento crítico-literário que se orientava, em suma, por uma leitura imanente (close reading) do texto literário, à cata de suas ambiguidades, paradoxos, ironias e tensões. E nesse sentido, há uma proximidade entre o New criticismo e a descronstrução, pois ambos prezam por uma prática meticulosas de leitura de textos da tradição sejam eles literários ou filosóficos. Mas, como também já apontou Leyla Perrone-Moisés, há também diferenças salutares entre ambas: “a diferença”, segundo a autora, “é que o new criticism era estetizante e apolítico, e a desconstrução se coloca como uma prática política, no sentido amplo da palavra.”4 Por outro lado, o influente crítico francês, Antoine Compagnon credita o culto a Derrida, que – diga-se de passagem – foi muito mais lido e estudado nas 2

Segundo referência do historiador do movimento estruturalista francês, Françoise Dosse, 1966 é considerado “o ano-luz” do movimento. Cf. Dosse, Francoise. História do estruturalismo. Vol. I: O campo do signo. Bauru: Edusc. 2007. 3 Eco, Umberto. A estrutura ausente. São Paulo: Perspectiva, 1971. 4 Perrone-Moisés, Leyla. “Pós-estruturalismo e desconstrução nas Américas”. In: Perrone-Moisés, Leyla (org.). Do positivismo à desconstrução. São Paulo: Edusp, 2004, pp.225-226. Também para uma discussão apurada dos paralelos entre a desconstrução e o New criticism, veja: Graff, Gerald. Literature against Itself: literary ideas in modern society. Chicago: Chicago University Press. 1979 e também, do mesmo autor, Professing literature: an institutional history. Chicago: Chicago University press, 1987.

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Américas do que na própria França, a um interesse sempre vivo mantido pelos norteamericanos pelo pensamento teórico francês (French theory). Também não seria exagero afirmar que a aceitação das ideias de Derrida, nos Estados Unidos, deve-se muito ao trabalho de exímios interpretes e continuadores que ele encontrou neste país. Desde que o filósofo estabeleceu suas visitas anuais à Universidade de Yale, logo se estabeleceu o que se denominou Escola de Yale, ou mais pejorativamente “Máfia de Yale”, e sua fama não parou de crescer. Entre seus discípulos mais notáveis está o belga radicado nos EUA, Paul De Man, e os americanos, Geoffrey Hartman, Hillis Miller e, em certa medida, parte dos trabalhos mais antigos de Harold Bloom. Quanto a De Man, um dos professores mais queridos e admirados de seu tempo, talvez ele não seja necessariamente um discípulo de Derrida. Em verdade, a obra de ambos foi desenvolvida paralelamente. Para Rorty, “se Derrida nunca tivesse existido ou nem mesmo chegado a ser conhecido nos EUA, os discípulos de De Man seguramente teriam formado uma escola similar, apesar de que essa provavelmente tivesse nascido com outra etiqueta, diferente de “desconstrução”. Outra ligação importante entre Derrida e De Man e o subsequente destino da desconstrução nas Américas, foi a orientação, por parte deste último, dos primeiros trabalhos da mais ilustre teórica dos chamados “Estudos pós-coloniais”, Gayatri Chakravorty Spivak. Indiana de Calcutá, Spivak, sob a influência e tutela de De Man, traduziu para o inglês Of Grammatology (De la gramatologie) de Derrida. Na apresentação desta obra, a tradutora redigiu um longo e influente prefácio de mais de oitenta páginas, repetindo assim um gesto do próprio Derrida quando da sua tradução de A origem da geometria de Edmund Husserl para o francês. Spivak fora muito influenciada pelas ideias de Derrida e se diz uma continuadora das ideias do mestre francês, embora a esse respeito as opiniões se divirjam5. Embora uma definição precisa do que venha a ser precisamente desconstrução não seja possível, pois a própria noção de conceituação lhe seja algo alheio, podemos elencar algumas características que comumente lhe são atribuídas. Atentos aos propósitos deste ensaio, escolhemos a passagem seguinte por ela particularmente apresentar estreito paralelo com as ideias de Andreas Huyssen:

Cf. Perrone-Moisés, Leyla. “Desconstruindo os estudos culturais”. In: Vira e mexe nacionalismo: paradoxos do nacionalismo literário. Veja também Eagleton, Terry. “Gayatri Spivak” in: Figures of dissent. Verso: London/ New York. 2005, pp. 158-167. 5

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Derrida afirmou que o pensamento ocidental e, em especial, a filosofia haviam se baseado na noção binária implícita na lei da lógica. Nossos conceitos definidores dependiam dessa oposição. Uma sentença era verdadeira ou falsa. Uma coisa estava viva ou morta. Uma localização era dentro ou fora, alta ou baixa, acima ou abaixo, à esquerda ou à direita. E por aí

seguia:

positivo/negativo,

bem/mal,

geral/particular,

mente/corpo,

masculino/feminino - assim era como deveríamos e classificávamos nossa experiência, afim de dar a ela um sentido. (Strathern, p.30)

Uma característica óbvia, evidente tanto na desconstrução de Derrida como na proposta de leitura da produção contemporânea de Huyssen, é que ambas não podemos mais operarem por exclusão; tanto uma como a outra só são possíveis se houver o abandono de tais dicotomias contrastivas que eram uma das molas propulsoras do estruturalismo. Para ambas as teorizações o significado de algo nasce da relação entre partes e não mais da exclusão. Em outras palavras, o processo de significação de um termo depende do significado do outro. Para usarmos uma expressão do filósofo Richard Rorty, tanto a teorizaração de Huyssen como a de Derrida são “antifundacionsita”, a primeira por localizar o horizonte estético contemporâneo num campo de tensão que elimina “o sentimento de que a arte não persegue um exclusivamente um telos de abstração, não-representação e sublimidade” (...). (Huyssen, op. cit. p.75) e a segunda por desnudar, por meio de uma prática meticulosa de leitura (close reading), certas aporias sobre as quais estaria erigido o pensamento metafisico ocidental. Se considerarmos a desconstrução uma característica do Pós-estruturalismo norte-americano, como já fora defendido6, não faz sentido a afirmação de Huyssen de que “a distância entre os discursos críticos da nova crítica (new criticism) e do pósestruturalismo (uma constelação pertinente nos Estados Unidos mas não na França) não é idêntica às diferenças entre modernismo e pós-modernismo.” (Huyssen, op. cit. p.60) O fato é que a nova crítica, como sugerido anteriormente, em certo sentido, preparou o terreno para o florescimento do pós-estruturalismo, e, visto por esse ângulo, os dois Lucia Santaella, no ensaio “Pós-moderno & semiótica” declara: “Ora, a onda desconstrucionista, na América, coincidiu com a efervescência dos debates sobre o pós-moderno. Era essa composição que borbulhava por todos os seus pontos cardeais, quando visitei os Estados Unidos, em maio-junho de 1985. A conclusão óbvia que se pode extrais disso é que desconstrução ou pós-estruturalismo e pós-moderno são uma só e mesma coisa, ou, no mínimo, que se trata de fenômenos muito similares.” (Santaella, 1994: 31) 6

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movimentos não podem ser tratados como “distantes” mas, de certa forma, como uma continuação. O pós-estruturalismo amplia o horizonte da nova crítica, pois passa, particularmente, da análise da obra de arte literária, para outros domínios da filosofia e da sociologia. Por essa razão, as análises e conceituações de ilustres figuras do pósestruturalismo como o próprio Derrida e Paul de Man são, em certa medidas, tributárias, por exemplo, das conquistas de críticos literários como o inglês William Empson, com seu 7 types of ambiguity, que tanto influenciou os novos críticos americanos, e T.S Eliot. Quanto a obra de T.S Eliot, é possível vislumbrar um estreito paralelo entre o seu famoso ensaio “Tradição e talento individual”, texto basilar para compreensão da proposta do New criticism, e a proposta analítica da produção contemporânea ou pósmodernista de Andreas Huyssen. Diz Huyssen que “O pós-modernismo está longe de tornar o modernismo obsoleto. Pelo contrário, ele joga uma nova luz sobre o modernismo e se apropria de muitas de suas estratégias e técnicas estéticas, inserindo-as e fazendo-as trabalhar em novas constelações.” (Huyssen, op. cit. p.75). Para T.S Eliot, Nenhum poeta e nenhum artista de qualquer ofício produz sentido integral sozinho. Seu significado é a apreciação de sua relação com os poetas e artistas mortos. Não se pode prezar um artista sozinho; deve-se confrontá-lo, por contraste ou comparação, com os motos. Não se trata meramente de historicismo ou criticismo. Considero isso um princípio da estética. (Eliot, T.S. p.39)

A valorização do fato artístico para Eliot é relacional, pois o novo artista criador – no caso o poeta –, na intenção de entrar para o seleto clube chamado tradição, terá sempre sua obra relacionada com os mestres do passado e poderá ou não alteração nossa visão da tradição. Desta maneira a tradição, ou aquilo que já está temporariamente estabelecido, não poderá ser considerado algo obsoleto, livre de qualquer juízo crítico vindo do presente. Pois ela (a tradição) também vive na dependência do devir da produção contemporânea. A tradição e o talento individual de Eliot, assim como a Modernismo e o Pós-modernismo de Huyssen, residem no campo de força entre suas respectivas partes constitutivas, e não conhecem portanto formalizações decisivas, para usarmos uma expressão de Mikhail Bakhtin, trata-se de uma “totalidade aberta”. Huyssen, nas linhas finais, do ensaio em questão, arrola quatro fenômenos que ele considera constitutivos da cultura pós-modernista. Dentre os quatro seleciono dois 6

que gostaria de associá-los aos desdobramentos do pós-estruturalismo norte-americano. Trata-se das afirmações de Huyssen de que “o movimento de mulheres tem levado a algumas mudanças significativas da estrutura social e das atitudes culturais (...). (Huyssen, op. cit. p.78) e de que a “crescente consciência de que outras culturas nãoeuropeias, não-ocidentais, devem ser abordadas por meios que não os da conquista e da dominação (...). (Huyssen, op. cit. p 79)7 O que Huyssen chama de “movimento de mulheres” é denominados, nos dias de hoje, denominado, na academia norte-americana de gender studies e tem na figura de Judith Butler sua representante mais proeminente. Em seu já clássico Problemas de gênero, Butler explora as categorias fundacionais do conceito de sexo, desejo e gênero, tomando como conceito operatório a noção de “genealogia”, desenvolvida por Nietzsche e levada a cabo por Foucault, esse último – segundo esta crítica – um pósestruturalista. Apoiada nesse conceito, Butler recusa-se a buscar as origens do gênero, a verdade intima do desejo feminino, uma identidade sexual genuína ou autêntica que a repressão impede de ver; invés disso, ela investiga as apostas políticas, designando como origem e causa categorias de identidade que, na verdade, são efeitos de instituições, práticas e discursos cujos pontos de origem são múltiplos e difusos.”(Butler, op. cit. p. 9).

Como se pode notar, o que Huyssen vê como uma característica do pósmodernismo é uma das ramificações do pós-estruturalismo e, como já dissemos, tem no seu tronco a crítica desconstrucionista de Derrida. Por outro lado, convém lembrar que o próprio Huyssen considera o pós-estruturalismo como uma “teoria sobre o moderno” e não, como preferem alguns, atrelada ao pós-moderno. Quanto à solicitação de que as culturas não-ocidentais “devem ser abordadas por meios que não os da conquista e da dominação”, não ocorremos em erro se denominarmos esse movimento como Estudos Pós-coloniais. Os dois representantes mais ilustres desse movimento, também é de procedência norte-americana, são os indianos Homi Bhabha e Gayatri Spivak. Essa última, como já foi dito, é uma seguidora e tradutora de Derrida nos Estados Unidos. No seu livro, Crítica da razão pós-colonial, Spivak, munida de procedimentos desconstrucionista, persegue e desconstroe, em textos

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Essas questões foram abordadas, detidamente, por Huyssen no seu recém lançado no Brasil: Culturas do passado-presente: modernismo, artes visuais, políticas da memória. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.

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canônicos da cultura ocidental, o que ela denomina de “violência epistêmica” do colonialismo e do imperialismo europeus. O colonialismo, segundo ela, procurou mascarar com sua “missão civilizadora” estratégias de exploração e de dominação por parte de grandes potências europeias como França e Inglaterra. Essas características, diga-se de passagem, Huyssen as identificam como do “cultura da modernidade esclarecida” e atribui a Adorno e Horkheimer, já nos anos de 1940, seus teóricos pioneiros. No livro citado, Spivak também analisa (e nesse ponto, mais que em qualquer outro, é latente o paralelo com as formulações de Huyssen sobre o pós-modernismo) como durante as últimas décadas esses processos de exploração e dominação têm sido renovados no interior do pós-modernismo por meio de uma agressiva globalização econômica e de um consmopolitismo político e pistemológico de face liberal. Como bem esclarece Huyssen, a história cultural dos anos 70 deverá ser reescrita e os mais diferentes campos artísticos deverão ser tratados separadamente em detalhes. Talvez por essa ocasião também a “semelhança de família” entre os movimentos pósmodernista e pós-estruturalista sejam melhor delineadas.

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Perrone-Moisés, Leila (org.). Do positivismo à desconstrução: ideias francesas na América. São Paulo: Edusp, 2004. ___________. “Desconstruindo os ‘estudos culturais’”. In. Perrone-Moisés. Leyla. Vira e mexe nacionalismo: paradoxos do nacionalismo literário. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. ___________. “Aquele que desprendeu a ponta da cadeia”. In: Nascimento, Evandro. Jacques Derrida. Pensar a desconstrução. São Paulo: Estação Liberdade, 2005. Santaella, Lúcia. “Pós-moderno & semiótica”. In: Chalhub, Samira (org). Pós-moderno &: semiótica, cultura, psicanálise, literatura, artes plásticas. Rio de Janeiro: Imago, 1994. Spivak, Gayatri Chakravorty. Crítica de la razón pós-colonial: hacia una historia del presenter evanescente. Madrid: Akal, 2010. ______“Translator’s preface”. In: Derrida, Jacques. Of grammatology. Johns Hopkins Paperbacks Edition, 1976 - (Corrected edition, 1997).

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