Possíveis Caminhos para Análises Literárias, Fernando Chiavassa

August 18, 2017 | Autor: Fernando Chiavassa | Categoria: Literatura, Leitura e Produção de Textos, Análise literária, Discurso Narrativo
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Possíveis caminhos para bem estudar uma obra literária

Fernando Chiavassa Podemos estabelecer alguns caminhos para analisar um texto de ficção, seja ele classificável ou não, clássico ou de vanguarda, de conhecidos gêneros literários de prosa ou poesia, ou mesmo que se apresente como experimental, amálgama dentre múltiplos gêneros. Os principais recursos técnicos a disposição, podem ser dispostos na lista a seguir, na qual a ordem é apenas didática, não sugerindo pré requisitos. 1. 2. 3. 4. 5.

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Semiótica Retórica Comparada Teoria do Texto (Enunciação e enunciados) Teoria Literária 5.1 Vozes 5.2 Enredo 5.3 Personagens 5.4 Diálogos Estilística (Forma)

1. Através da semiótica desvendamos quase todo o significado expresso pelo texto, apontando marcas e vestígios lançados, mesmo num texto hermético, seja ele da natureza ou gênero que for, se de prosa ou de poesia. 2. De posse de técnicas retóricas, precisamos as intenções do autor e dos narradores, deixando claro o modo e grau de persuasão existente na obra. Provavelmente a poética é aquela que mais sugere e menos persuade. 3. Estudando o texto através da literatura comparada, vamos perceber influências, plágios, pastiches ou até mesmo cópias, chegando a detectar citações (mesmo as não indicadas), colagens, chegando por fim ao intertexto, estudando conexões com outras literaturas e até mesmo outras múltiplas formas de arte. 4. Através de eficaz análise dos enunciados e enunciações, vamos descobrir claramente onde estão as embreagens e debreagens de tempo, lugar e pessoa, percebendo claramente quem fala, de onde e de quando fala: saberemos exatamente onde se iniciam e terminam as mensagens de cada narrador, detectando ação ou descrição, narrativas passadas ou presentes. 5. A partir deste ponto poderemos seguir em frente, definindo autor e narradores, entendendo quem conta a história, percebendo de que tipo e de que maneira os vários pontos de vista chegam até nós, se através da 1ª., 2ª ou 3ª. pessoa, se de forma direta ou indireta, livremente ou se ao contrário, de forma tradicional (presa).

A análise do enredo segue caminhos que indicam a natureza do projeto adotado para a obra, desdobrando o estudo em múltiplas porções, verificando harmonia, progressão e amarração da história, conferindo o suspense criado e a manutenção do interesse do leitor, diante de personagens e diálogos que demandam, por si só, análises muito mais práticas do que teóricas. 6. O estudo e entendimento da forma apresentada surgem em decorrência dos estudos anteriores, demonstrando o grau de aprofundamento, o nível do partido escolhido e composição artística resultante, se tradicional, de se vanguarda ou se de quebra dos parâmetros anteriores. Ao fim de um estudo, que não precisa ser sistemático, poderemos através da Estilística, entender e esclarecer como tudo isso foi feito, abordando desde a criação de novas palavras; a formação das frases (já vistas pela Retórica, se encadeadas ou não, por coordenação ou subordinação, se paráfrases por justaposição (percebam que estas escolhas por parte do autor, desvendam intenções); a diagramação dos parágrafos e capítulos; o estudo das inúmeras figuras de linguagem adotadas assim como as metáforas novas ou mesmo antigas em novo contexto; o ritmo e a sonoridade de cada trecho da obra bem como o andamento resultante. Até mesmo através do estudo da pontuação adotada, descobrimos novas maneiras de expressão. (...) E mesmo assim, de posse de todo este arsenal técnico-artístico, não é possível estabelecer uma lista única de procedimentos através da qual se possa seguir até chegar a um resultado esperado. Há múltiplas maneiras de se abordar um texto literário, sendo que a ausência de regras e imposições é um dos caminhos que mais podem iluminar o alcance de resultados satisfatórios. Cada um forma a sua própria maneira. As artes todas, bem como o Teatro, a Música, as Artes Plásticas, a Literatura e o Cinema, são as únicas manifestações culturais – em contínua metamorfose – ainda livres (se não totalmente, mais livres) de imposições acadêmicas (mesmo culturais) e sociais. Podemos disso desfrutar com bastante liberdade e responsabilidade, abrindo as portas da percepção, sem restringir, nem muito menos impor quaisquer condicionantes.

Fernando Chiavassa fez cursos livres de literatura no Museu Lasar Segall e participou do Curso Livre de Preparação do Escritor (Clipe), na Casa das Rosas. Escreve poemas, crônicas, resenhas e ensaios, enquanto seu heterônimo, Mário Aviscaio, trata da ficção. O que não pode escrever, Fernando expressa através da pintura e da ilustração. Fernando pinta escrevendo, enquanto que Mário escreve pintando.

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