POSTURA CORPORAL E RESPIRAÇÃO NO CANTO E DANÇA (TCC pós em Dança e Consciência Corporal)

May 25, 2017 | Autor: W. Martins | Categoria: Dança, Voz, Teatro Musical, Canto
Share Embed


Descrição do Produto

POSTURA CORPORAL E RESPIRAÇÃO NO CANTO E DANÇA

Willa Soanne Martins
Pós-graduação em Dança e Consciência Corporal - Universidade Estácio de Sá
- Rio de Janeiro 2016.
Orientadora: Dra.Cynthia Tibeau
Coordenadoras: Ms. Maria Cristina Mutarelli Pontes e Esp. Maria Inês Artaxo
Netto




RESUMO

Dançar e cantar são duas artes cada vez mais requisitadas de forma
simultânea e por isso, artistas de ambas as formações buscam uma forma de
conciliar a técnica da dança e do canto. Por meio de uma revisão
bibliográfica, esta pesquisa inicia analisando a relação entre a respiração
e postural corporal, bases tanto do canto como da dança. Segue abordando as
diferenças de orientação dos manejos respiratórios no ensino do canto assim
como investiga estudos acerca da respiração e postura corporal na dança.
Apresenta ao final como análise dos resultados, conclusões acerca de
orientações técnicas compatíveis que possibilitem uma postura corporal e
respiração em comum que para a prática do canto e da dança, facilitando
assim ao bailarino-cantor ou ao cantor-bailarino a execução de ambas as
atividades de forma simultânea.

Palavras chaves: respiração, postura corporal, canto e dança


ABSTRACT

Dancing and singing are two arts that are increasingly required
simultaneously and therefore, artists of both formations seek a way to
reconcile the techniques of dance and singing. This research investigates
basic guidelines that provide technical orientations compatible from the
point of view of body posture and breathing.
Through a bibliographical review, this research begins by analyzing the
relationship between breathing and body postural, bases of both singing and
dancing. He goes on to appoint to the differences in the orientation of
respiratory management in singing teaching as well as investigates studies
on breathing and body posture in dance. It presents at the end as an
analysis of the results, conclusions about compatible technical
orientations that allow a body posture and breathing in common that for the
practice of singing and dancing, thus facilitating the dancer-singer or the
singer- dancer performing both activities in a way simultaneously.

Key words: respiration, body posture, singing and dancing


INTRODUÇÃO

Temos como problema central as questões relacionadas à postura
corporal e respiração dos bailarinos que pretendem adquirir uma técnica
para cantar e dançar, assim como dos cantores que pretendam aprender a
dançar. O objetivo foi investigar uma orientação técnica compatível às duas
práticas, seja simultaneamente ou não, que ao mesmo tempo seja expressiva e
eficiente para a execução das difíceis exigências técnicas das duas artes
envolvidas. Pretende-se responder à questão: como conciliar a respiração da
dança com a técnica de apoio respiratório para o canto?
A pesquisa iniciou-se investigando a relação postura corporal e
respiração na prática do canto e da dança e meios de se obter uma boa
postura para uma respiração sem entraves, ou seja, tensões musculares
prejudiciais à prática artística. Depois se averiguou qual escola de canto
(orientação técnica vocal) é a mais apropriada e compatível com a postura e
respiração da dança. Seguiu-se se explanando acerca dos desafios da prática
das atividades de cantar e dançar simultaneamente e quais as estratégias e
orientações adequadas para vencê-los.
A questão da pesquisa surgiu da atuação da autora como professora de
canto ao detectar a dificuldade dos alunos bailarinos em aprender a técnica
vocal pela incompatibilidade de orientações técnicas que recebem da dança
no que se refere à postura e respiração. Também é fruto do próprio caminho
inverso que a autora percorreu tentando tornar sua técnica respiratória de
cantora compatível com a prática da dança. A maioria dos bailarinos relata
que aprendem a "fechar as costelas", ou seja, contrair a musculatura costo-
diafragmática e abdominal para obterem a postura ereta exigida para o
ballet. Já no canto, a técnica respiratória busca a expansão da
musculatura envolvida no apoio respiratório (controle do fluxo do ar
durante o canto) sendo o inverso da prática diária do aluno e muitos sequer
conseguem movimentar os músculos da costela para fora. A grande maioria
procura o estudo do canto para atuar em teatro musical onde canto e dança
são simultâneos. Como solucionar essa incompatibilidade, visto que a
respiração alta, ou seja, clavicular é refutada pelos profissionais do
canto e da fonoaudiologia por gerar tensões na região laríngeas e causa de
futuras lesões nas pregas vocais? Outra questão é, na prática do canto e
dança simultâneos, qual a postura e manejo respiratório correto se por um
lado é necessário a expansão da costela para cantar e contrair para dançar?
Considerando que a respiração está vinculada diretamente à postura
corporal investigou-se também estratégias em abordagens corporais que
possam interferir positivamente de forma auxiliar no alinhamento corporal
do canto e dança.



METODOLOGIA

Para esta pesquisa utilizou-se a revisão bibliográfica de cunho
qualitativo e descritivo. Utiliza-se o método fenomenológico, que, segundo
Martins (1994) é o mais adequado ao estudo teórico e à análise de
documentos e textos. O objeto de estudo é o fenômeno, e sua apropriação dá-
se pelo círculo hermenêutico compreensão- interpretação – nova compreensão.
A revisão bibliográfica teve como ferramenta a busca de artigos
científicos em sites de busca acadêmicos, livros, dissertações de mestrado,
teses de doutorado e artigos em periódicos publicados dentro da área da
Dança, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Medicina, Música e Canto, para
promover uma discussão que gira em torno do problema de pesquisa e das
questões expostas na introdução.




REVISÃO DE LITERATURA


A relação da respiração e postural corporal

A respiração é um movimento constante que envolve todo o corpo e seu
equilíbrio gravitacional. É uma via de mão dupla, pois, tanto a postura
corporal interfere na respiração como a respiração pode interfere na
postura corporal. Essa relação se expressa principalmente pela mobilidade
do diafragma, principal músculo da respiração. Conforme explica Ramos
(2011), o diafragma é uma estrutura central que se liga com as estruturas
vizinhas musculares agindo sobre a estática, consequentemente o equilíbrio
corporal. As ligações das bainhas de contenção que envolve as inserções
terminais do músculo do diafragma está em perfeita continuidade com
a aponevrose dos transverso do abdômen, do quadrado lombar até a crista
ilíaca e dos psoas dando estrutura muscular ao ato de respirar e cantar,
por tanto, toda essa estrutura é responsável por bom equilíbrio corporal
proporcionando uma boa respiração para as atividades artística com dança e
canto.

Campignion (2012) difere as respirações em natural (adinâmica e
dinâmica) e a forçada. A respiração natural é aquela feita
inconscientemente no dia-a-dia. Na respiração natural adinâmica, o corpo
está em repouso e é basicamente movimentada pelo diafragma, que empurra as
vísceras para baixo e abre ligeiramente a base do tórax. Já a natural
dinâmica, quando a pessoa está na postura ereta e ativa a inspiração será
de acordo com a estática vertebral e os músculos responsáveis pela ereção
reflexa, e a expiração passiva. A respiração forçada se dá da mesma forma,
mas a expiração é ativa. A respiração forçada é feita quando há
necessidade de maior ventilação pulmonar, como na recuperação após um
exercício aeróbico.
Do ponto de vista do método das Cadeias Musculares e Articulares GDS,
implementado por Denys-Struyf (2015), todo movimento corporal é
impulsionado pelo emocional e pisque do indivíduo, moldando o seu padrão de
postura corporal e consequentemente a respiração. Essa relação postura
corporal-respiração é evidenciada pela movimentação da cadeia PAAP -
encontro de dois conjuntos musculares que se controlam mutuamente: PA
(póstero-anterior) e AP (anteroposterior) - é responsável pelo equilíbrio
gravitacional.
Historicamente esses conjuntos musculares foram importantes pela
posição bípede do ser humano, pois "as cadeias PAAP, tiveram um papel no
equilíbrio e no ajustamento das massas e também na luta contra a força da
gravidade" (VALENTIN, 2007, p. 10). Enquanto PA indica um tipo reativo, AP
indica um tipo emotivo. Conforme explica Campignion (2001) a cadeia
muscular PAAP é caracterizada por uma flexibilidade e dá ritmo a respiração
devido à alternância de ação entre as forças de PA e AP. O equilíbrio entre
PA e AP é responsável por uma boa respiração natural, no entanto, por ser
instável é facilmente descompensada. A perda da flexibilidade e da
ritmicidade pode ocorrer quando uma ou outra cadeia passa a predominar por
razões psicocomportamentais. Por exemplo, a estrutura fixa em PA, sem AP é
consequente de uma retidão, um rigor e até mesmo intransigência, um ideal
muitas vezes acima das possibilidades. (DENNYS-STRUYF, 1995 apud MAYOR,
2009). Uma postura fixa seja em PA ou AP é prejudicial à respiração,
podendo bloquear o ato da inspiração e/ou expiração pela perda da
flexibilidade. Entende-se portanto que a postura corporal flexível e
equilibrada é responsável por uma respiração livre de entraves e adequada à
prática das artes por propiciar a livre expressão.





A respiração e postura nas diferentes escolas de canto



No estudo da técnica vocal não só do canto, mas como também nas artes
que envolvem a voz como o teatro e a oratória, é muito comum a dúvida entre
alunos e profissionais sobre qual o mecanismo respiratório mais correto,
seja pelas diferentes orientações que são ensinadas ou por uma dificuldade
de adaptação a alguma técnica que propicie uma respiração satisfatória a
sua prática vocal. Mesmo com a diversidade nas abordagens do ensino do
manejo respiratório, é comum os indivíduos não se adaptarem a qualquer
técnica proposta, ficando esse tópico mal resolvido em sua prática
profissional.
Acerca da importância da respiração no canto já há um consenso geral
de que "quando se adquire uma melhor condição de respiração e apoio no
canto, observa-se maior potência vocal, com uma melhor projeção da voz."
(GAVA, FERREIRA, SILVA, 2010, p. 552).
A respiração do canto é muito específica e existem basicamente três
diferenças na abordagem do ensino do canto representadas pelas escolas
italiana, alemã e francesa, cada qual com um diferente manejo respiratório.

A escola italiana, fundamentada no princípio do bel canto, que é um
tipo de estética que privilegia uma sonoridade de timbre constante em toda
a extensão, é baseada no appoggio (apoio), termo que se refere ao mecanismo
da respiração. É comum professores da escola italiana, atribuírem grande
importância à aquisição da técnica respiratória para uma qualidade vocal,
pois o apoio respiratório está diretamente relacionado a emissão vocal. A
respiração ideal do canto italiano é conseguida por meio de uma boa postura
que é conseguida com o tronco nem alto e nem baixo, a expansão da
musculatura intercostal. (MILLER, 1996).
A escola alemã "deu ênfase ao canto sustentado e às variações de
colorido vocal - em oposição à preferencia italiana pelo canto melismático
e pela homogeneidade do timbre." (MANGINI E ANDRADA E SILVA, 2013, p. 216).
A respiração é consequência de todo um mecanismo que visa o rebaixamento da
laringe, descrito por uma respiração posicionada muito baixa, com grande
pressão abdominal e uma postura comparada a de um gorila.
A escola francesa possui uma sonoridade nasal e estridente. Quanto à
respiração existe uma particularidade que é "a sua crença em uma respiração
espontânea e na liberdade de movimentação da laringe, obtida por meio da
inclinação da cabeça para trás" (MILLER, 2002, p. 84, apud MANGINI, ANDRADA
E SILVA, 2013, p. 216). Vê-se uma orientação de postura corporal que
ocasiona uma consequente elevação da laringe que ocasiona o timbre
estridente e uma abertura exagerada da boca. E ao se propor uma respiração
espontânea para cada indivíduo irá utilizar a que já lhe é natural,
pressupondo que ele possua um padrão favorável ao canto, o que nem sempre
acontece. O padrão natural pode ser repleto de bloqueios tensionais
dificultando o aprendizado.
A explicação possível dessas diferenças respiratórias de cada escola
pode estar no próprio do idioma. A respiração profunda da escola alemã é de
acordo com o som gutural e grave do idioma, assim como a elevação do tórax
da escola francesa se dá em função da laringe alta e nasalidade. E a
italiana que tem como característica o brilho e projeção sem vogais
anasaladas possui uma respiração equilibrada como a sonoridade do idioma.
Ainda hoje não há um consenso das orientações respiratórias no ensino
do canto, principalmente no Brasil. Dependendo do professor, a respiração
pode se basear tanto na sensação de expansão do abdômen quanto na
contração, ou ainda, num leve tônus. E ainda, algumas orientações abordam a
ampliação da musculatura intercostal para a distensão do diafragma, outras
pregam o rebaixamento do diafragma empurrando-se os músculos abdominais
para baixo e para fora e ainda há quem oriente a se contrair os músculos
abdominais e do assoalho pélvico.


Na literatura estudada, por exemplo, afirma-se que o
padrão de apoio costodiafragmaticoabdominal é o ideal, por
determinar uma fonação mais adequada e proporcionar um
melhor equilíbrio na emissão do ar para a voz cantada.
Também é feita referência ao diafragma e a musculatura
abdominal como de apoio na emissão vocal tanto falada
quanto cantada. Outros autores, por sua vez, afirmam que a
denominada coluna de ar, responsável pelo apoio, é formada
pela musculatura abdominal-diafragmática e/ou intercostal,
de modo conjunto.
Segundo a literatura, o apoio denominado inferior
contribui para uma voz mais estável, com melhor projeção e
controle da hiperfunção laríngea e, para o canto, pode
promover uma emissão de voz cantada livre de tensões
cervicais. Pode-se verificar que os cantores que utilizam
dos músculos inferiores tais como os abdominais, diafragma
e intercostais inferiores adquirem uma emissão mais
controlada. Em contrapartida, aqueles que trabalham apenas
a musculatura intercostal superior (torácica) durante o
canto, promovem uma elevação da parte torácica,
anteriorização do esterno, tendem a uma captação menor de
ar e um aumento das tensões cervicais e laríngeas no ato
de cantar. (GAVA, FERREIRA, SILVA, 2010, p. 552)


O aluno normalmente opta por aquela técnica que melhor se adequa, o
que pode ter relação com a sua constituição e postura corporal. Porém há
uma tendência em se optar por uma respiração que esteja embasada nos
princípios da fonoaudiologia de bom funcionamento fisiológico, por não
sobrecarregar nem por elevação, nem por rebaixamento excessivo dos músculos
intercostais ou abdominais. Gava, Ferreira e Silva (2010) confirma também
em suas pesquisas essa tendência quando sintetiza a definição de apoio
respiratório colhida em pesquisa realizada. Constatou que, na perspectiva
dos fonoaudiólogos e professores de canto que entrevistou, o apoio
respiratório foi definido como uma propriocepção ou sensação das ações
musculares relacionadas ao diafragma e à musculatura intercostal, sendo que
os tipos de apoio mais mencionados foram o intercostal e o diafragmático.


Percebe-se que há um consenso na importância da expansão da
musculatura intercostal, com o abaixamento do diafragma e expansão da caixa
torácica, característica da escola italiana, na maioria das orientações de
técnica vocal.


A respiração e postura corporal na dança


Na prática do ballet clássico as orientações acerca da postura
corporal e do movimento se mostram incompatíveis como uma respiração
adequada para o canto. Observando alguns tratados mais antigos que ainda
permeiam a pedagogia da dança nos dias atuais, vê-se a descrição de
movimentos que comprimem a musculatura abdominal e da base do diafragma.
Achcar (1985, p. 283) descreve o movimento correto do grand-plié desta
forma: "é necessário descer e subir com a força das coxas e nunca com a do
corpo (que deve permanecer reto), ou das costas (que devem estar bem presas
e aprumadas) o estômago deve estar para dentro." A autora ainda afirma que
para se posicionar o estômago para dentro as costelas e o diafragma se
comprimem, levando a uma respiração com a parte superior do pulmão. " Em
todos esses movimentos deve ser cuidado: (...) estômago e barriga
encolhidos e diafragma bem sustentado (...) corpo natural, porém com as
costas na altura da cintura fortemente tensas. " (p. 296). Algumas
informações se mostram incompreensíveis para as instruções do canto, onde
se considera que um diafragma bem sustentado é aquele onde as costelas
estão expandidas e não contraídas e onde o corpo natural não inclui tensão
na região da cintura.

Haas (2011) compartilha da preocupação acerca das orientações passadas
em aula para a obtenção da postura correta para a dança e a qualidade da
respiração, pois, admite, é recorrente se ouvir instruções para encolher a
barriga ao dançar, levando o bailarino a puxar o abdome para dentro,
levantar as costelas, o tórax e os ombros, aumentando, assim, a tensão na
parte superior do corpo dificultando a respiração. Indaga ainda, como,
estando a respiração comprometida, é possível dançar com naturalidade e
beleza se a respiração é parte da dança e do movimento?

Os estudos mais modernos propõem formas menos tensas de se obter uma
postura corporal alinhada para a dança. Hass (2010) orienta que o movimento
da dança seja coordenado com a respiração costo-diafragmática como forma de
se reduzir a tensão muscular e aumentar o fluxo de oxigênio. Alega que a
respiração superior leva a pouca resistência física, devido à precariedade
da oxigenação, além de desequilíbrios e tensões na articulação do quadril
devido a sua ligação muscular ao diafragma. Orienta e aconselha a se
utilizar a contração do assoalho pélvico para uma boa postura e respiração,
pois os músculos da parede abdominal se contraem junto com os músculos do
assoalho pélvico, permitindo a respiração intercostal. "Habitue-se a usar a
expiração para liberar a tensão superficial e aumentar a tensão abdominal
(...) Visualize os pulmões movimentando-se suavemente de modo que as
costelas possam ser flexíveis." (p. 36). E ainda " Cada vez que inspirar,
expanda as costelas e os pulmões com mínimo movimento da parte superior do
tórax."( p. 38)

Franklin (2012) também apresenta uma alternativa mais saudável para a
dança e compatível com a postura corporal e respiração do canto, em
contrapartida às orientações das antiquadas escolas de ballet. Considera
que um equilíbrio corporal seja eficaz quando o alinhamento não exige
excesso de força. Afirma que "você pode realizar um movimento equilibrado
com mínimo esforço." (p. 29). Afirma ainda que cada área que é
excessivamente contraída no corpo prejudica o alinhamento, o padrão de
respiração e o equilíbrio. Sua proposta é a de que o livre movimento e
flexibilidade, tão importantes à dança são potencializados ao se reduzir
tensões desnecessárias. A consciência do movimento é a mola propulsora de
sua proposta para o condicionamento físico para a dança sem tensões.

As propostas contemporâneas que apontam para uma postura corporal
alinhada sem excesso de tensões e coordenadas com uma respiração costo-
diafragmática são compatíveis para o bailarino que pretenda ser cantor,
assim como para o cantor que pretenda ter a dança como formação artística
complementar.



APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS ou DISCUSSÃO

Alinhamento corporal no canto e dança

Considerando a postura corporal alinhada e sem tensões ser importante
tanto para a dança como para o canto, pode-se considerar que técnicas de
abordagens corporais que possam levar a uma preparação corporal comum às
duas práticas. Ramos (2011) é entusiasta dessa proposta integrada e propõe
uma metodologia para atuantes em teatro musical onde haja prática
simultânea do "dançar/cantar/atuar", que capacite os alunos a coordenar voz
cantada com o movimento corporal, seja na dança, em movimentos
coreografados ou na interpretação, sem prejuízo do aparelho fonador.
Utiliza diversos exercícios de técnicas como pilates, método GDS, yoga,
técnica de Alexander, RPG, dentre outros para a preparação corporal do ator-
cantor-bailarino.
No estudo de Siviero e Macara (2015) relata a aplicação do método GDS
à preparação corporal em dança e os resultados positivos e mais expressivos
dos alunos envolvidos na prática. As autoras afirmam que o método GDS pode
ser aplicado na educação básica comportamental em qualquer grupo social,
trabalhando uma organização corpórea equilibrada e funcional. Já que o
método GDS não inclui a concepção de cura, mas se apoia na singularidade do
indivíduo e seu autoconhecimento do corpo em movimento ou na estática, pode
ser utilizado para um aperfeiçoamento da postura corporal na dança.
A pesquisa de Costa Filho e Jesus (2016), sobre a avaliação da
proprioceptividade no canto do desempenho vocal de cantores estudantes
apresentou resultados muito positivos por meio de exercícios com boa suíça
e faixa elástica. Esse estudo também baseado em movimentos associados ao
canto comprova a interferência positiva de atividades de abordagens
corporais promove na consciência e controle do movimento corporal.
Convém alertar que desvios posturais podem interferir na respiração e
consequentemente em todo o mecanismo do canto conforme comprova a pesquisa
de Carneiro e Teles (2012) que investiga a influência de alterações
corporais na produção da voz. Esta pesquisa interdisciplinar realizada por
uma fisioterapeuta e uma fonoaudióloga investigou cientificamente a
influência das diferentes posturas corporais na produção da voz obtendo
resultados através de análises que concluíram que a melhor produção do som
é na postura ereta. As autoras pregam ainda que o fisioterapeuta é o
profissional mais indicado para a orientação postural e correção das más
posturas.
Na pesquisa sobre tensões na alteração dos músculos extrínsecos da
laringe também se evidencia, conforme afirma Cielo et al (2014) que o
prejuízo na produção vocal está relacionado à inadequação da função
respiratória, assim como ao mal uso das caixas de ressonância, hipertensão
lingual, glótica e da musculatura cervical. Afirma ainda que como solução
para essa tensão é necessário um trabalho conjunto da fisioterapia e
fonoaudiologia, sendo que o papel da fisioterapia inclui a correção do
desvio postural que causou a tensão musculoesquelética que levou a tensão
muscular na laringe. Mais uma vez se evidencia a interferência da postura
corporal no funcionamento do mecanismo vocal, pois a tensão laríngea causa
a elevação torácica com elevação da respiração que é inapropriada ao canto.

Tais desvios corporais podem ser corrigidos também pela prática da
dança, desde que seguindo as propostas contemporâneas de Hass (2011) e
Franklin (2012) e possa ser não só uma atividade artística complementar
para o cantor como uma ferramenta de correção postural que reflita de forma
favorável no canto.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


A procura por uma técnica que associe canto e dança remete aos estudos
mais modernos acerca da postura corporal como ponto em comum. Isto por que
ambas as atividades exigem como base uma postura corporal correta que
possibilite não só alinhamento corporal. Ao canto, o apoio respiratório que
não sobrecarregue as musculaturas envolvidas no ato de inspirar e expirar
se mostrou mais eficiente e saudável, além de eficiente em termos de
emissão vocal. Chegou-se também a conclusão pelas teorias mais atuais que
os movimentos da dança podem ser potencializados quando há uma respiração
mais ampla, pois aumenta a oxigenação e diminui as tensões musculares.
Consequentemente os movimentos passam a ter menos força e mais resistência
física e flexibilidade, o que leva a uma movimentação mais natural e
saudável.
Desta forma, conclui-se que uma postura corporal depende de um
alinhamento corporal flexível e não rígido (conforme as teorias do método
GDS) que respeite o tipo físico corporal de cada indivíduo e que permita
uma respiração livre de entraves.
O bailarino que pretende atuar e cantar deve estar aberto a uma
proposta técnica que possa aliar as duas artes de forma a não comprometer o
desempenho nem do canto e nem da dança. Se voltar para as técnicas modernas
da dança e procurar um correto alinhamento corporal defendido por diversos
métodos de abordagens corporais, são os caminhos disponíveis para que haja
uma técnica em comum ao canto, onde as duas artes sem encontram no ponto em
comum que é o equilíbrio do eixo gravitacional flexível e uma respiração
livre de tensões desnecessárias.
Seguindo essas diretrizes, o bailarino que aprende o canto ou o cantor
que aprende a dançar podem ter uma melhor expressão artística e qualidade
de vida, pois desenvolvem um corpo com mais tônus e menos tensão, mais
alongamento e menos força, mais prazer e menos tensão.



REFERÊNCIAS


ACHCAR, D. A. Ballet, Arte, Técnica, Interpretação. Cia Brasileira de
Artes Gráficas. Rio de Janeiro, 1985.

CAMPIGNION, P. Respir-actions. FRISON ROCHE 3ª. Edição. França. 2012.

________. Aspectos Biomecânicos – Cadeias Musculares e Articulares – Método
GDS – Noções básicas. São Paulo: Summus, 2001.

CARNEIRO, P. R., TELES, L. C. da S.. Influência de alterações posturais,
acompanhadas por fotogrametria computadorizada, na produção da voz. In
Fisioter. Mov. v. 25, no.1, p. 13-20, jan./mar. Curitiba. 2012.

CIELO, C. A.; et al. Síndrome de Tensão Musculoesquelética, musculatura
laríngea e postura corporal: considerações teóricas. In Rev. CEFAC. Set-
Out. 16(5): p. 1639-1649. São Paulo. 2014.

COSTA FILHO, M.; JESUS, L.M. T. A proprioceptividade no canto: uma
avaliação qualitativa do desempenho vocal de cantores estudantes. In
Investigação Qualitativa em Educação. Porto. Vol. 1, p. 696-706. 2016.


DENYS-STRUYF, G. La méthode des 'chaînes musculaires et articulaires G.D.S.
ICT GDS Paris, 2015.


FRANKLIN, E. Trad. Orlando Laitano. Condicionamento físico para
dança.Técnicas para a otimização do desempenho em todos os estilos. Manole.
São Paulo. 2012.

GAVA, W.; FERREIRA, L. P.; SILVA, M. A. de Apoio respiratório na voz
cantada: perspectiva de professores de canto e fonoaudiólogos. Rev.
CEFAC, São Paulo . 12(4) p. 551-562. vol.12 no.4 Jul-Ago. 2010.


HAAS, J. G. trad. Paulo Laino Cândido. Anatomia da dança. Guia Ilustrado
para o desenvolvimento de flexibilidade, resistência e tônus muscular.
Manole. São Paulo, 2011.

MANGINI, M. M; ANDRADA E SILVA, M. A., Classificação vocal: um estudo
comparativo entre as escolas de canto italiana, francesa e alemã. Opus.
Porto Alegre, v. 19, n.2 p. 209-222, dez. 2013.

MARTINS, G. de A. Metodologias convencionais e não-convencionais e a
pesquisa em administração. Caderno de pesquisas em Administração, São
Paulo, v. 0, n. 0, 2º. Semestre. 1994.

MAYOR, Alexandre de. A reeducação motora pelo método GDS para o
aprimoramento das técnicas vocais. In Rev. Olhar GDS no. 3 p. 18-26. 2009.

MILLER, R. On the art of singing.Oxford, New York. 1996.

RAMOS, E. Um Corpo Musical. O Percevejo Online. PPGAC- Unirio. v. 3,
http://www.seer.unirio.br/index.php/opercevejoonline/article/view/1790/1524.
2011.

SIVIERO, E. MACARA, A. Revista O Teatro Transcende. Departamento de Artes
– CCEAL da FURB, Blumenau, v. 20, n. 1, p. 22 - 37, 2015.

VALENTIN, B. Trad. Aria Antônia Miguet e Renata Ungier. Há muito tempo
atrás, AM entrou emsua residência, a bacia...E a postura mudou...In Olhar
GDS n. 1 p. 05-15, 2007.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.