Potencial medicinal e distribuição geográfica de espécies vegetais da região do Parque Estadual do Cristalino, Amazônia Meridional: um resultado prévio

May 23, 2017 | Autor: R. da Silva Ribeiro | Categoria: Botany
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Scientific Electronic Archives: Especial Edition Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste _____________________________________________________________________________

Potencial medicinal e distribuição geográfica de espécies vegetais da região do Parque Estadual do Cristalino, Amazônia Meridional: um resultado prévio 1*

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Francis Junior Araújo Lopes ; Ricardo da Silva Ribeiro ; Aline Gonçalves Spletozer ; Anderson Alex Sandro 1 1 1 Domingos de Almeida ; Diego Ferreira da Silva ; Célia Regina Araújo Soares Lopes . 1

Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT/AF, Centro de Biodiversidade da Amazônia Meridional - CEBIAM, Herbário da Amazônia Meridional – HERBAM, Alta Floresta, Mato Grosso. *[email protected]

Resumo. As espécies vegetais apresentam diversas potencialidades conferidas pelo seu metabolismo secundário, sendo fontes naturais de diversos compostos alternativos ao uso de fármacos laboratoriais. Sua aceitação e estudos científicos ainda se encontram restritos. Esse estudo objetivou apresentar o potencial medicinal/uso popular de espécies coletadas na região do Parque Estadual do Cristalino; apresentar os compostos secundários isolados destas plantas com base em literatura; apresentar a distribuição geográfica na região do parque para as plantas as quais foram encontradas literatura de uso medicinal. Foram consideradas apenas espécies taxonomicamente válidas com potencial medicinal de acordo com literatura cientifica acessível e identificadas de acordo com sistemas de classificação APG IV (2016). 20 espécies apresentaram uso popular e apenas 12 com literatura fitoquímica. Com base nos resultados constata-se a escassez os estudos químicos e que apesar disso uma variedade considerável de compostos foi obtida com a pouca literatura, demonstrando o potencial ainda a ser explorado. Palavras-chave: Fitoquímica; Bioprospecção; Etnobotânica.

Introdução As plantas apresentam propriedades que são importantes no desenvolvimento/substituição dos fármacos produzidos em laboratórios, apesar de encontrar dificuldade de aceitação pela sociedade devido a crença nos fármacos atuais, conforme Rassol-Hassan (2012). Entretanto comunidades rurais e urbanas, como visto no estudo realizado por Ruzza et al. (2014), utilizam-se das plantas como alternativa viável e econômica na substituição das drogas laboratoriais. Nos estudos de Baque et al. (2012) e Carvalho (2012), as plantas medicinais são consideradas fontes inesgotáveis de opções alternativas a maioria da população do mundo, o que se deve à eficiência e eficácia dos princípios ativos destas plantas (Baque et al., 2012; Carvalho, 2012). Porém, o uso popular, seguro, depende de estudos clínicos que comprovem os princípios ativos anteriormente citados. Tendo essa premissa como fundo, o estudo de Giovannini et al. (2016), demonstra que na América Central muitas plantas são usadas no combate a diabetes, porém poucas possuem estudos qualitativos em relação aos seus compostos farmacológicos. Tendo em vista que o conhecimento sobre estas plantas ainda se encontra fragmentado, este estudo foi guiado pelos seguintes objetivos: 1° Apresentar o potencial medicinal/uso popular de algumas espécies coletadas na região do Parque Estadual do Cristalino; 2° Apresentar quando encontrado em literatura, os compostos secundários isolados das espécies; 3° Apresentar a distribuição geográfica na região do parque para as plantas as quais foram encontradas literatura de uso medicinal. Métodos Foram compilados os dados do banco de dados (do sistema BRAMHS) da Coleção do HERBAM, das espécies coletadas na região do Parque Estadual e Cristalino (PEC) e RPPN Cristalino depositadas no referido Herbário. Para este estudo foram consideradas as espécies taxonomicamente válidas com potencial medicinal de acordo com a literatura cientifica acessível (artigos em periódicos científicos; resumos em anais on-line da área de Química; Trabalhos de Conclusão de Curso; Teses e Dissertações disponibilizadas em repositórios on-line). O Sistema de classificação para famílias nesse estudo, segue Angiosperm Phylogeny Group – APG IV (2016). A revisão de nomenclatura foi de acordo com a Flora do Brasil 2020 em construção (2016). Com base nos meta-dados de coordenadas elaborou-se o mapa de distribuição geográfica das espécies, utilizando o software ArcGis versão 9.3, conforme os registros do Herbário da Amazônia Meridional. Resultados e discussão Neste estudo foram amostradas 20 espécies (Figura 1) distribuídas em 13 famílias que apresentaram usos medicinais e das quais foram avaliadas em relação aos compostos secundários isolados.

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Figura 1. Distribuição geográfica das espécies com uso medicinal na região do Parque Nacional do Cristalino.

As espécies apresentaram usos relatados em estudos etnobotânicos tais como: anti-inflamatórias, adstringentes, anti-helmínticas, diuréticas e depurativas, antibacterianas, antidiabéticas, febrífugas, antihipertensivas e tônicas, sendo que em alguns estudos essas propriedades antibacterianas foram testadas e comprovadas em ensaios biológicos. Segundo nota editorial redigida por Rassol-Hassan (2012), as plantas medicinais apresentam um futuro promissor, pois além da grande biodiversidade vegetal, boa parte destas não apresentam estudos quanto a sua atividade medicinal. Nesse quesito há ainda os estudos fitoquímicos que apresentam análises que podem ser quantitativos ou qualitativos, descrevendo compostos do metabolismo secundário e apresentando possíveis efeitos farmacológicos. Diante do exposto, é perceptível a dominância de flavonóides e terpenos nas espécies analisadas neste estudo (Tabela 1). Além disso, nem todas espécies que foram apontadas nos estudos etnobotânicos apresentaram estudos fitoquímicos, totalizando apenas 12 que possuem relatos em literatura. Tabela 1. Compostos secundários isolados conforme literatura. Família

Espécies

Compostos secundários isolados

Fonte

Acanthaceae

Justicia pectoralis Jacq.

Cumarinas, flavonóis e terpenos.

Amaranthaceae

Hebanthe eriantha (Poir.) Pedersen

Saponinas.

Anacardiaceae

Anacardium occidentale L.

Flavonóides, e taninos.

Anacardiaceae

Spondias mombin L.

Terpenos.

Morais et al. (2005) Lorenzi & Matos (2008) Aguilar et al. (2012); Silva et al. (2007) Morais et al. (2005)

Annonaceae

Annona hypoglauca Mart. Bocageopsis multiflora (Mart.) R.E. Fr. Aspidosperma multiflorum A.DC. Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers Cochlospermum regium (Mart. ex Schrank) Pilg.

Alcalóides.

Rinaldi (2007)

Terpenos.

Soares et al. (2015)

Alcalóides.

Pereira et al. (2007)

Flavonóides.

Ferreira et al. (2000)

Flavonóides e terpenos.

Antunes (2009)

Annonaceae Apocynaceae Bignoniaceae Bixaceae Burseraceae Burseraceae Celastraceae

Protium spruceanum (Benth.) Engl. Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Cheiloclinium cognatum (Miers) A.C.Sm.

Cumarinas, flavonóides, terpenos, saponinas e xantonas. Catequinas, cumarinas, flavonóides, terpenos. Terpenos.

Rodrigues (2010) Marques et al. (2008) Costa et al. (2007)

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Scientific Electronic Archives: Especial Edition Anais do XI Encontro de Botânicos do Centro-Oeste _____________________________________________________________________________ Os flavonóides são substâncias fenólicas, e devido a isso muito frequentes nos estudos químicos, como observado no estudo de Chaves et al. (2010), possuem propriedade antioxidante e potencial no tratamento de doenças degenerativas mediadas por estresse oxidativo, conforme dito por Dornas et al. (2007). Conclusão Com base na metodologia utilizada, identificou-se a falta de estudos fitoquímicos que de fato conciliem o uso popular das espécies vegetais com a fisiologia das mesmas, o que denuncia – apesar de a amostragem ser pequena – a escassez de análises químicas. Em segundo ponto, observou-se que apesar de pouca literatura, as espécies que a possuem apresentaram uma grande variedade de usos populares e, as análises químicas resultaram em compostos muito importantes para a farmacologia. Nesse sentido, enfatiza-se a importância de estudos de dados secundários e contínua alimentação do banco de dados, com informações de campo e associando a literatura etnobotânica e etnofarmacológica, dando base para estudos de bioprospecção. Agradecimentos A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso - FAPEMAT. Referências AGUILAR, Y.M., RODRÍGUEZ, F.S., SAVEDRA, M.A., ESPINOSA, R.H., YERO, O.M. Metabolitos secundarios y actividad antibacteriana in vitro de extractos de hojas de Anacardium occidentale L. (marañón). Revista Cubana de Plantas Medicinales 17: 320-329, 2012. ANTUNES, M.N. Constituintes Químicos de Cochlospermum regium (Martius e Schrank) Pilger (Bixaceae). (Dissertação de Mestrado) - Universidade Católica de Goiás, Goiânia, GO, 2009. BAQUE, A., MOH, S.H., LEE, E.J., ZHONG, J.J., PAEK, K.Y. Production of biomass and useful compounds from adventitious roots of high-value added medicinal plants using bioreactor. Biotechnology Advances 30: 1255-1267, 2012. CARVALHO, F.R. A Ecologia no Cultivo de Plantas Medicinais. Revista Agroambiental 4(1): 85-90, 2012. CHAVES, D.S.A., COSTA, S.S., ALMEIDA, A.P., FRATTANI, F., ASSAFIM, M., ZINGALI, R.B. Metabólitos secundários de origem vegetal: Uma fonte potencial de fármacos antitrombóticos. Química Nova 3: 172-180, 2010. COSTA, E.A., SANTOS, L.R., PONTES, I.S., MATOS, L.G., SILVA, G.A., LIÃO, L.M. Analgesic and inflamatory efects of Cheiloclinium cognatum root barks. Revista Brasielira de Farmacognosia 17(4):508513, 2007. DORNAS, W.C., OLIVEIRA, T.T., RODRIGUES-DAS-DORES, R.G., SANTOS, A.F., NAGEM, T.J. Flavonóides: potencial terapêutico no estresse oxidativo. Journal of Basic and Applied Pharmaceutical Sciences 28: 241-249, 2007. FERREIRA, D.T., ALVARES, P.S.M., HOUGHTON, P.J., BRAZ-FILHO, R. Constituintes químicos das raízes de Pyrostegia Venusta e considerações sobre a sua importância medicinal. Química Nova 23: 42-46, 2000. FLORA DO BRASIL 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 18 junho de 2016. GIOVANNINI, P., HOWES, M.J.R., EDWARDS, S.E. Medicinal plants used in the traditional management of diabetes and its sequelae in Central America: a review. Journal of Etnopharmacology 184: 58-71, 2016. LORENZI, H., MATOS, F.G.A. Plantas Medicinais no Brasil: Nativas e Exóticas. 2° edição, Nova Odessa, São Paulo, Instituto Plantarum. 2008. MARQUES, D.D., GRAEBNER, I.B., LEMOS, T.L.G., MACHADO, L., MONTE, F.J.Q. Triterpenos isolados da resina da espécie Protium hebetatum Daly (Burseraceae). In: 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (Anais on-line). 2008.

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