Potencialidade agronômica do resíduo...
POTENCIALIDADE AGRONÔMICA DO RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAIS AGRONOMIC POTENTIALITY OF THE ORNAMENTAL ROCKS RESIDUE Marihus Altoé Baldotto1, Ignácio Aspiazú2, Alexandre Paiva da Silva3, Mauro Lúcio Torres Corrêa4 e Víctor Hugo Alvarez Venegas5 Universidade Estadual do Norte Fluminense “Darcy Ribeiro” Av. Alberto Lamego, 2000, Campos dos Goytacazes - RJ, 28016-820 1
2,3,4,5 Universidade Federal de Viçosa - UFV Av. PH Rolfs s/n, Viçosa - MG, 36571-000
e-mail:
[email protected],
[email protected],
[email protected], 4
[email protected] e
[email protected]
1
Aceito em 11 de setembro de 2007
RESUMO O objetivo deste estudo caracteriza o resíduo de mármore (pó-de-mármore) proveniente das indústrias de rochas ornamentais e avalia a sua potencialidade agronômica. Aplica o pó-de-mármore como corretivo da acidez do solo e fonte de cálcio e de magnésio para a cultura do milho e compara com um calcário de referência em um bioensaio. Mostra que a elevação do pH e dos teores de cálcio e de magnésio no solo, a neutralização do alumínio e o crescimento inicial de milho são semelhantes quando usa o pó-de-mármore ou corretivo de referência. O pó-de-mármore pode ser usado como corretivo da acidez do solo e como fonte de nutrientes para as plantas. O uso de pó-de-mármore reciclou, no solo estudado, cerca de 5 t ha-1 desse resíduo, melhorando a sua fertilidade e a nutrição de plantas. Palavras-chave: Pó-de-mármore – corretivo de acidez. Calcário. Resíduo de mármore-aproveitamento.
ABSTRACT The objective of this study was to characterize the marble residues (marble powder) originated from marble industry and evaluate its agronomic potential. The marble powder was supplied as corrective of soil acidity and source of calcium and magnesium for the corn cultive and compared with a reference limestone in a biologic experiment. The results indicated that the increasing of pH and the soil calcium and magnesium contents, the neutralization of the exchangeable acidity and the initial growth of corn were similar using marble powder or reference corrective. The marble powder can be used as corrective of soil acidity and as source of nutrients for the plants. The use of marble powder for the studied soil recycled approximately 5 ton ha-1 of this residue, improving the soil fertility and the plant nutrition. Keywords: Marble powder – acidity correctives. Limestone. Marble residues – use.
tação é mais expressiva na América do Sul, que detém a maior
1 INTRODUÇÃO
parte da fronteira agrícola mundial. Nesse caso, mais de 50 % A classe dos Latossolos (1) representa mais de 40 %
dos solos apresentam problemas de acidez superficial e em pro-
das terras agricultáveis do mundo. (2,3) Tais solos caracterizam-
fundidade. (4) Assim, corrigir a acidez do solo é o modo mais
se pelo avançado estágio de intemperismo, que leva à baixa con-
eficiente de diminuir as limitações químicas para o pleno desen-
centração de bases no solo, associada à toxidez por Al . A limi-
volvimento das plantas e garantir o uso eficiente da água, dos
3+
Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia, Vitória, n. 3, p.1-8, 2. sem.2007
1
Baldotto, M. A. et al nutrientes, e, conseqüentemente, obter maior produtividade. Nos
Quando calcários são aplicados ao solo, os produtos
solos ácidos brasileiros, de forma geral, ocorre a subprodutivi-
das principais reações químicas dos carbonatos entram em solu-
dade das culturas, já que a média obtida com os cultivos em tais
ção e reagem com a acidez do solo, como no exemplo a seguir:
solos é considerada baixa. Entre outros fatores, a subcalagem contribui para esse fato.
CaCO3(s) + H2O(1)=Ca2+(aq) + HCO-3(aq) + OH-(aq) HCO-3(aq) + H+(aq)=CO2(g) + H2O(1)
Os calcários são os materiais corretivos mais usados na agricultura. Sua aplicação adequada possibilita elevar o pH do solo a um valor adequado, neutralizar os efeitos tóxicos pro-
Os carbonatos também reagem com o Al3+ na solução
movidos pela alta atividade de alguns íons, por exemplo, o Al3+ e
do solo, reduzindo a toxidez vegetal proveniente de sua alta ativi-
fornecer Ca e Mg como nutrientes para as plantas.(5) Entretanto,
dade, com a formação de hidróxido de alumínio, espécie química
alguns resíduos industriais poderiam, potencialmente, ser utili-
que precipita segundo a reação:
zados com esses fins (3), uma vez que a produção de resíduos industriais representa grande preocupação para a sociedade. Dessa
3HCO-3(aq) + A13+(aq) = A1(OH)3(s) + 3CO2(g)
forma, são necessários estudos para reciclar esses materiais e, a um tempo, gerar tecnologias que permitam diminuir os problemas de contaminação ambiental por tais resíduos. (6, 7)
Após a determinação da acidez do solo a ser corrigido, para a escolha e a determinação das quantidades de calcário a serem aplicadas,
Entre os resíduos da indústria de rochas ornamentais,
deve-se considerar a eficiência relativa (ER), que estima a reatividade
o pó-de-mármore é proveniente de processos de beneficiamento,
do corretivo, os teores de nutrientes (Ca e Mg) e a capacidade de neutra-
usando-se instrumentos abrasivos à base de diamante em presen-
lizar a acidez do solo (poder de neutralização - PN).
ça de água, resultando em suspensão rica em partículas de rocha.
A ER de um calcário depende de sua natureza geológi-
O processo industrial não inclui metais pesados ou outros conta-
ca (os de natureza sedimentar são mais reativos do que os que so-
minantes nos resíduos sólidos, que, após parcialmente secos ao
freram metamorfismo) e da superfície específica das partículas,
ar em tanques de deposição, possuem umidade e granulometria
estimada pela análise granulométrica. (5) Como os calcários são
variáveis e ainda pouco caracterizadas para fins agrícolas. Os mármores são rochas metamórficas de natureza calcária. Constituem-se, geralmente, da mistura de carbonatos de cálcio e de magnésio (CaCO3 e MgCO3). Além de ornamentação e escultura, são também empregados na indústria química e na construção civil. (8, 9) Atualmente, com o crescimento da indústria de rochas ornamentais em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, elevadas quantidades de resíduos sólidos oriundas do beneficiamento desses materiais
de baixa solubilidade, procura-se adequar a dimensão de suas partículas (granulometria), ou seja, a sua superfície específica, para melhorar o seu contato com a solução do solo. Em relação à granulometria, a Portaria nº 3, de 12 de junho de 1986, da Secrecetaria de Fiscalização Agropecuária do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, (11) determina as seguintes características mínimas: [...] “passar 100 % por peneira de 2 mm, (ABNT Nº 10); 70 % por peneira de 0,84 mm (ABNT Nº 20) e, 50 % por peneira de 0,30 mm (ABNT Nº 50)” [...]. A tolerância de retenção permitida na peneira de 2 mm é de até 5 %.
têm-se constituído em um problema ambiental em potencial.
O PN avalia a capacidade de reação dos ânions presen-
A quantidade de pó-de-mármore, que se aproxima de 25 % do
tes no material, considerando o CaCO3 puro como padrão. Seu
total obtido no processo de beneficiamento, é geralmente des-
valor é determinado por neutralização direta com ácido clorídri-
cartada, acumulando-se em grandes tanques de deposição nas
co. (12) Se um calcário possui PN igual a 120 %, significa que
proximidades das indústrias, uma ameaça constante ao meio
100 kg desse corretivo têm a mesma capacidade de neutralizar a
ambiente e à qualidade de vida dos moradores da região. (10)
acidez correspondente a 120 kg de CaCO3.
Em razão da problemática ambiental, motivada pela geração
Combinando-se o PN com a ER do calcário, calcula-se
dos resíduos e pela necessidade de encontrar alternativas para
o valor de seu poder relativo de neutralização total (PRNT) pela
seu melhor aproveitamento, surge a estratérgia do aproveita-
expressão:
mento do pó-de-mármore como corretivo da acidez do solo, haja vista o seu alto teor de carbonatos e a sua granulometria aparentemente compatível com a dos calcários comerciais.
2
PRNT= N x R 100 Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia, Vitória, n. 3, p.1-8, 2. sem.2007
Potencialidade agronômica do resíduo... Assim, de acordo com a legislação, ficou estabelecido
A amostragem do pó-de-mármore foi ao acaso, em três
que um calcário comercial deve apresentar os valores mínimos
marmorarias onde a serragem e o polimento do mármore são fei-
de 67 % para PN e de 45 % para PRNT.
tos com lâminas à base de diamante. A caracterização de calcá-
Os teores de nutrientes e a relação Ca:Mg (mol:mol) do
rios encontra-se detalhadamente descrita em Defelipo e Ribeiro.
corretivo também devem ser observados. Para tal relação, o ideal
(15) Assim, a ER foi determinada com os dados da granulome-
varia de acordo com o solo e as culturas, sendo a de 4:1 a relação co-
tria (Quadro 1) e o PN envolveu a adição de HCl, reação com o
mumente recomendada. No entanto, as revisões de literatura apre-
corretivo e titulação do excesso de ácido com NaOH previamen-
sentadas em trabalhos anteriores mostram diferentes relações ideais
te padronizado com biftalato de potássio.
para distintas culturas e situações. (13) Assim, segundo a legislação, quanto aos teores de Mg, os calcários foram reunidos em três classes: i) calcíticos, com menos de 5 dag kg-1 de MgO; ii) magnesianos, que possuem entre 5 e 12 dag kg-1 de MgO; iii) dolomíticos, com teor maior que 12 dag kg-1 de MgO. O objetivo do trabalho foi caracterizar o pó-de-mármore, proveniente das indústrias de rochas ornamentais da região de Cachoeiro de Itapemirim-ES e avaliar a sua potencialidade agronômica como corretivo da acidez do solo e fonte de Ca e Mg
Fração granulométrica
Pereira ABNT(1)
Massa retida
Eficiência relativa
g
%
> 2,00
retida Nº 10
3,1
0
0,84 - 2,00
passa Nº 10, retida Nº 20
4,9
20
0,30 - 0,84
passa Nº 20, retida Nº 50
6,4
60
< 0,30
passa Nº 50
85,6
100
mm
QUADRO 1 - Análises granulométricas do pó-de-mármore estudado. Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas1 (ABNT).
para a nutrição de plantas. Os corretivos pó-de-mármore e referência foram estu2 MATERIAL E MÉTODOS Para o bioensaio, as amostras coletadas das camadas 0 a 20 e 20 a 40 cm de um Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico do município de Viçosa-MG foram secas ao ar, destorroadas e passadas em peneira de 2 mm, obtendo-se a terra fina seca ao ar (TFSA).
dados em cinco doses, correspondentes a 0; 0,25; 0,5; 1,0 e 1,5 vezes a necessidade de calagem (NC) de cada amostra do solo estudado e obtida pela fórmula de Alvarez e Ribeiro (16): NC (t ha-1) = Y . [Al3+ - (mt . t/100)] + [X – (Ca2+ + Mg2+)] Onde, NC corresponde a t ha-1 de corretivo com PRNT
A TFSA foi homogeneizada e enviada para a análise quí-
igual a 100 %, Y é variável em função da capacidade tampão
mica de rotina no laboratório do Departamento de Solos da UFV,
do solo, definido de acordo com o valor de P-rem, mt é o valor
conforme os procedimentos adotados pela Comissão de Fertilidade
máximo de saturação por Al3+ tolerado pelas culturas, sendo 15
do Solo do Estado de Minas Gerais – CFSEMG. (14)
% para o milho , e X é o valor de Ca2+ + Mg2+ (cmolc dm-3) ade-
Os resultados da análise química do solo da camada 0 a 20 cm indicaram: pH (H2O) = 4,38; P (Melich-1) = 1,10 mg dm-3; K+ = 0,05 cmolc dm-3; Ca2+ = 0,22 cmolc dm-3; Mg2+ = 0,07 cmolc dm-3; Al3+ = 2,33 cmolc dm-3; H+Al = 8,32 cmolc dm-3; M.O.S.= 4,0 dag kg-1 e P-rem = 11,1 mg L-1. A camada do solo de 20 a 40 cm apresentou pH (H2O) = 4,95; P (Melich-1) = 0,43 mg dm-3; K+ = 0,02 cmolc dm-3; Ca2+ = 0,11 cmolc dm-3; Mg2+ = 0,07 cmolc dm-3; Al3+ = 0,88 cmolc dm-3; H+Al = 1,65 cmolc dm-3; M.O.S.= 0,46 dag kg-1 e P-rem = 1,62 mg L-1.
quado a cada cultura (dois para o milho) e Ca2++Mg2+ é a soma dos teores de tais nutrientes na análise de solo. As quantidades de corretivo (QC), de acordo com o PRNT, foram calculadas pela fórmula adaptada de Alvarez e Ribeiro (16): QC (t ha-1) = NC . (100 / PRNT)
A multiplicação da QC em cada parcela pelas respec-
O pó-de-mármore (PM), proveniente do beneficiamento
tivas doses (0; 0,25; 0,5; 1,00 e 1,50 x NC) resultou nas doses
da indústria de rochas ornamentais da região de Cachoeiro de Itape-
de pó-de-mármore de 0; 1,21; 2,42; 4,85 e 7,28 t ha-1 e de 0;
mirim, Espírito Santo, é uma mistura de carbonatos de cálcio e de
0,52; 1,03; 2,06 e 3,09 t ha-1 para as camadas 0-20 cm e 20-40
magnésio (CaCO3 + MgCO3) na relação molar 4:1, com PRNT =
cm, respectivamente. Seguindo-se o mesmo procedimento para
100 % (Referência) que foram usados como corretivos de acidez do
o corretivo de referência, a QC foi de 0; 1,03; 2,06; 4,12 e 6,18
solo e fontes de Ca e de Mg para as plantas de milho.
t ha-1 e de 0; 0,44; 0,88; 1,75 e 2,63 t ha-1, respectivamente na
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3
Baldotto, M. A. et al camada superficial e subsuperficial. As doses recomendadas por
ácido nítrico e ácido perclórico na proporção 3:1 (v/v), res-
hectare, de ambos os corretivos, foram convertidas nas quantida-
pectivamente, e foram levadas ao bloco digestor até a comple-
des a serem aplicadas nos 2 dm3 de solo do vaso.
ta digestão. No extrato, foram determinados os teores totais
Os tratamentos avaliados em cada vegetação foram
de Ca e de Mg por espectrofotomentria de absorção atômica.
arranjados num esquema fatorial 2 x [(2 x 4) + 1], que corres-
Após a coleta da parte aérea, as raízes foram descartadas,
ponderam às duas camadas do solo (0-20 e 20-40 cm), aos dois
o solo de cada vaso foi homogeneizado e uma amostra coletada para
materiais corretivos (pó-de-mármore e referência), a quatro do-
determinar o pH, os teores de Ca2+ e de Mg2+ e a acidez trocável
ses de corretivo (0,25; 0,5; 1,0 e 1,5 vezes a NC) e à testemunha
(Al3+). O pH foi determinado em H2O, na relação solo: água (v/v)
em cada camada de solo. O delineamento experimental foi em
igual a 1:2,5. Os teores de Ca2+ e de Mg2+ foram extraídos com clo-
blocos casualizados com três repetições, totalizando 54 unidades
reto de potássio (KCl) 1 mol L-1 e dosados por espectrofotometria
experimentais.
de absorção atômica. A acidez trocável (Al3+) foi determinada em
A aplicação dos tratamentos foi inicialmente reali-
alíquotas desse mesmo extrato tituladas com hidróxido de sódio,
zada mediante a mistura do volume de solo de cada unidade
previamente padronizada com biftalato de potássio (KHC8H4O4),
experimental com as quantidades equivalentes às doses dos
na presença de azul de bromotimol como indicador, segundo os
respectivos materiais corretivos, pó-de-mármore e referência.
métodos descritos em Defelipo e Ribeiro (15) e recomendados por
Aplicados os corretivos, os solos tiveram sua umidade eleva-
Ribeiro, Guimarães e Alvarez Venegas. (14)
da a 80 % da capacidade de campo e receberam na forma de
Os dados da caracterização química das plantas e
solução nutritiva 50 mg dm de N, 300 mg dm de P, 150 mg
dos solos das respectivas unidades experimentais foram sub-
dm de K, 50 mg dm de S, 0,8 mg dm de B, 1,33 mg dm
metidos à analise de variância. Para a comparação entre os
-3
-3
-3
-3
-3
-3
de Cu, 1,56 mg dm-3 de Fe, 3,36 mg dm-3 de Mn, 4,0 mg dm-3
corretivos dentro de cada camada de solo estudada, usou-se
de Zn e 0,15 mg dm-3 de Mo (Waught & Fitts modificado por
o contraste pó-de-marmore versus referência. Foram ajusta-
Alvarez). (17) As fontes utilizadas constaram de NH4H2PO4,
das as equações de regressão, relacionando-se as variáveis
KH2PO4, K2SO4, Na2SO4, H3BO3, CuSO4.5H2O, FeCl3.6H2O, MnCl.4H2O, ZnSO4.7H2O e Na2MoO4.2H2O. Em seguida, fo-
dependentes, obtidas do solo e da planta, com as doses dos corretivos aplicadas em cada profundidade amostrada. As es-
ram plantadas, em cada unidade experimental, sete sementes
timativas dos contrastes e dos coeficientes da regressão serão
de milho, variedade AG 405. Aos sete dias após a semeadura,
consideradas significativas se inferiores a 5 % de probabilida-
foi realizado o primeiro desbaste, resultando em cinco plantas
de, usando-se o teste F.
por vaso. Aos dez dias, as plantas foram novamente desbastadas restando apenas três plantas por parcela. Por ocasião de cada desbaste, foram fornecidos 25 mg dm-3 de N. No transcorrer do experimento, a umidade do solo em cada unidade
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise química e granulométrica do pó-de-mármore
experimental foi mantida constante, ou seja, a 80 % da capa-
usado no experimento mostrou que o pó-de-mármore estudado
cidade de campo, por meio do monitoramento da massa de
apresentou as seguintes características: PRNT = 88 % (PN =
água nos vasos. Foi realizado o rodízio periódico dos vasos
97,6 % e ER = 90,4 %), CaO = 38,7 dag kg-1 e MgO = 2,10
dentro de cada bloco.
dag kg-1. Assim, o pó-de-mármore amostrado para esse traba-
As plantas foram colhidas aos 30 dias após a semeadura, ocasião em que foi determinado o diâmetro de caule
lho enquadrou-se aos critérios estabelecidos pelo Ministério da Agricultura para especificar corretivos de acidez do solo. (16)
(DC) no limite entre a planta e o solo. Em seguida, separou-
Os resultados mostraram que a neutralização da acidez
se, rente à superfície do solo, a parte aérea do sistema radi-
do solo, a disponibilidade de Ca2+ e de Mg2+ e o crescimento
cular. A parte aérea das plantas de milho foi lavada e seca em
inicial do milho foram semelhantes em resposta a ambos os cor-
estufa de ventilação forçada, a 60oC, até peso constante para
retivos aplicados (Quadro 2 e 3) e que o resíduo de marmorarias
determinação da massa de matéria seca (MS), que, em segui-
pode ser usado como corretivo e fonte de nutrientes para o cul-
da, foi avaliada quimicamente quanto aos teores totais de Ca
tivo de plantas de milho, com ação semelhante a um calcário
e de Mg. Para tal, amostras da MS receberam uma mistura de
assumido como ideal para a cultura.
4
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Potencialidade agronômica do resíduo...
Características (2) Corretivo(1)
NC
Planta
QC
- t ha-1 -
DC
MS
mm
g vaso-1
Solo Ca
Mg
pH
Ca2+
- dag kg-1 -
Mg2+
Al3+
----- cmolc dm-3 -----
Camada 0 - 20 cm Testemunha
0,00
0,00
3,03
0,90
0,24
0,13
4,17
0,47
0,17
2,33
PM
0,25 0,50 1,00 1,50
1,21 2,42 4,84 7,28
4,06 4,67 4,96 4,78
2,47 2,61 4,12 3,67
0,33 0,45 0,46 0,52
0,19 0,25 0,33 0,34
4,22 4,49 4,89 5,02
0,87 1,67 2,80 4,00
0,37 0,70 1,10 1,63
2,28 2,18 1,87 1,55
Referência
0,25 0,50 1,00 1,50
1,03 2,06 4,12 6,18
3,99 4,66 5,18 5,41
2,21 2,90 3,56 3,82
0,35 0,39 0,48 0,48
0,16 0,23 0,29 0,39
4,25 4,30 4,62 4,84
1,17 1,37 2,57 3,70
0,47 0,50 0,90 1,27
2,36 2,32 1,89 1,48
Camada 20 - 40 cm Testemunha
0,00
0,00
2,94
0,59
0,12
0,07
5,02
0,10
0,10
0,88
PM
0,25 0,50 1,00 1,50
0,51 1,03 2,06 3,09
3,47 4,01 4,70 4,62
1,50 2,35 3,19 3,08
0,19 0,33 0,43 0,53
0,10 0,15 0,20 0,25
5,03 5,10 5,28 5,39
0,27 0,57 1,20 1,73
0,13 0,33 0,53 0,73
0,65 0,55 0,35 0,25
Referência
0,25 0,50 1,00 1,50
0,44 0,88 1,75 2,63
3,68 3,92 4,48 5,07
1,70 1,89 2,91 3,42
0,31 0,34 0,48 0,54
0,14 0,15 0,20 0,25
5,04 5,05 5,12 5,29
0,27 0,47 1,03 1,63
0,13 0,20 0,40 0,60
0,58 0,52 0,32 0,30
Quadro 2 - Características químicas da parte aérea das plantas de milho e do solo, aos 30 dias do bioensaio (1) Corretivo: PM = pó-de-mármore, PRNT 88 % e Referência = mistura de CaCO3 + MgCO3, PRNT 100 %; Características das plantas: DC = diâmetro do caule 5 cm a partir do solo; MS = matéria seca da parte aérea; Ca e Mg = concentração na MS; Características do solo: pH =relação solo: H2O = 1: 2,5; Ca2+, Mg2+ e Al3+ = teores trocáveis no solo (KCl 1 mol L-1-1).
QMR wF. V.
Solo (4)
Planta (3)
G. L. DC
MS
Ca
Mg
pH
Ca2+
Mg2+
Al3+
Referência(1) vs PM(2)d/0-20 cm Referência vs PM d/ 20-40 cm
1 1
0,18 0,04
0,07 0,00
0,00 0,01
0,00 0,00
0,09 0,01
0,09 0,04
0,13 0,05
0,03 0,00
Doses d/ PM d/ 0-20 cm Doses d/ PM d/ 20-40 cm Doses d/ Referência d/ 0-20 cm Doses d/ Referência d/ 20-40 cm
4 4 4 4
1,84 1,70 2,78 1,94
3,89* 3,62* 4,06* 3,62*
0,04* 0,09* 0,03* 0,08*
0,02* 0,01 0,03* 0,01
0,40** 0,22** 0,11** 0,04**
6,28** 1,39** 4,91** 1,19**
1,04** 0,22** 0,55** 0,13**
0,25 0,19 0,33 0,17
Resíduo CV (%)
38
1,15 9,21
0,19 11,37
0,00 7,15
0,00 8,58
0,00 1,64
0,04 6,43
0,01 7,20
0,10 4,99
Quadro 3 - Análise de variância para características das plantas de milho e para os solos, aos 30 dias do bioensaio. (1) Referência = mistura de CaCO3 + MgCO3, PRNT 100 %; (2) PM = pó-de-mármore, PRNT 88 %; (3) Planta: DC = diâmetro do caule 5 cm a partir do solo (mm); MS = matéria seca das plantas (g); Ca e Mg = concentração na MS (dag kg-1); (4) Solo: pH = relação solo:água igual a 1:2,5; Ca2+, Mg2+ e Al2+= teores trocáveis (cmolc dm-3) usando KCl 1 mol L-1; ** e * = significativo a 1 e 5 %, respectivamente.
O estudo das doses dos materiais corretivos dentro das
A variação da MS em resposta às doses dos dois corre-
camadas de solos revelou efeito significativo para as caracterís-
tivos foi raiz-quadrática, em ambos os solos. Além da forma da
ticas da parte aérea das plantas de milho e dos solos aos 30 dias
resposta, os índices de incrementos foram semelhantes à respos-
do bioensaio (Quadro 4).
ta a ambos os corretivos.
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Baldotto, M. A. et al
Variáveis (1)
Camada
Corretivo
Equação de Regressão
MS
0-20 cm 0-20 cm 20-40 cm 20-40 cm
Pó-de-mármore Referência Pó-de-mármore Referência
ŷ = 0,86 + 1,66 ** x – 0,19 x ŷ = 0,87 + 1,58 ** x0,5 – 0,15 x ŷ = 0,51 + 1,93 ** x0,5 – 0,20 x ŷ = 0,60 + 1,29 ** x0,5 – 0,28 x
0,92 0,99 0,95 0,98
DC
0-20 cm 0-20 cm 20-40 cm 20-40 cm
Pó-de-mármore Referência Pó-de-mármore Referência
ŷ = 2,99 – 0,28 ** x + 1,45 ** x0,5 ŷ = 3,10 + 0,88 ** x – 0,08 * x 2 ŷ = 2,89 + 1,39 ** x – 0,27 * x 2 ŷ = 3,16 + 0,75 ** x
0,97 0,99 0,99 0,96
Ca folha
0-20 cm 0-20 cm 20-40 cm 20-40 cm
Pó-de-mármore CaCO3+MgCO3 Pó-de-mármore CaCO3+MgCO3
ŷ = 0,23 + 0,12 ** x0,5 – 0,06 x ŷ = 0,25 + 0,09 ** x – 0,01 ** x2 ŷ = 0,11 + 0,21 ** x – 0,02 * x2 ŷ = 0,14 + 0,30 ** x – 0,06 * x2
0,95 0,98 0,98 0,98
Mg folha
0-20 cm 0-20 cm 20-40 cm 20-40 cm
Pó-de-mármore Referência Pó-de-mármore Referência
ŷ = 0,13 + 0,06 ** x – 0,01 ** x2 ŷ = 0,13 + 0,04 ** x ŷ = 0,08 + 0,06 ** x ŷ = 0,11 + 0,05 ** x
0,99 0,98 0,98 0,99
pH
0-20 cm 0-20 cm 20-40 cm 20-40 cm
Pó-de-mármore Referência Pó-de-mármore Referência
ŷ = 4,15 + 0,13 ** x ŷ = 4,13 + 0,11 ** x ŷ = 4,95 + 0,14 ** x ŷ = 4,99 + 0,01 ** x
0,95 0,98 0,80 0,93
Ca2+
0-20 cm 0-20 cm 20-40 cm 20-40 cm
Pó-de-mármore Referência Pó-de-mármore Referência
ŷ = 0,41 + 0,49 ** x ŷ = 0,48 + 0,51 ** x ŷ = 0,04 + 0,55 ** x ŷ = 0,03 + 0,59 ** x
0,99 0,98 0,98 0,98
Mg2+
0-20 cm 0-20 cm 20-40 cm 20-40 cm
Pó-de-mármore Referência Pó-de-mármore Referência
ŷ = 0,16 + 0,20 ** x ŷ = 0,20 + 0,17 ** x ŷ = 0,08 + 0,21 ** x ŷ = 0,06 + 0,20 ** x
0,98 0,98 0,97 0,98
Al3+
0-20 cm 0-20 cm 20-40 cm 20-40 cm
Pó-de-mármore Referência Pó-de-mármore Referência
ŷ = 2,39 – 0,11 ** x ŷ = 2,59 – 0,17 ** x ŷ = 0,80 – 0,19 ** x ŷ = 0,85 – 0,51 ** x + 0,12 ** x2
0,97 0,98 0,92 0,96
0,5
R2
QUADRO 4. Equações de regressão para as características de parte aérea das plantas de milho aos 30 dias e de solos nas respectivas unidades experimentais do bioensaio em função das doses dos corretivos aplicadas. (1) Variáveis: MS = matéria seca das plantas (g/vaso); DC = diâmetro do caule 5 cm a partir do solo (mm); Ca e Mg planta = concentração na MS (dag kg-1); pH = relação solo:água igual a 1:2,5; Ca2+, Mg2+ e Al3+ = teores trocáveis pelo extrator KCl 1 mol L-1; ** e * = significativo a 1 e 5 %, respectivamente.
A dose de aproximação da máxima eficiência econô-
A dose recomendável de pó-de-mármore resultou na
mica (MEE) foi calculada com produtividade referente a 90 %
projeção da reciclagem de 4.860 kg de resíduos sólidos prove-
da produção de máxima eficiência física (MEF) que, em virtude
nientes das marmorarias para cada hectare do solo estudado.
de não ter sido atingida resposta com incrementos constantes,
Nesse cálculo, não se considerou a massa de corretivo utilizada
foi considerada a obtida com a maior dose de corretivo aplicada
em subsuperfície, se conduzida aração em profundidade superior
(Quadros 5 e 6).
a 20 cm ou em covas para o caso de culturas perenes. Reciclar pó-de-mármore significa reduziros riscos de aporte residual sobre o meio ambiente, sobretudo no município estudado, onde as
Camada
Corretivo(1)
Doses recomendáveis(2)
PM PM Referência Referência
t ha-1 4,86 2,59 4,12 2,33
qual os tanques de deposição do resíduo sólido representam uma
cm 0-20 20-40 0-20 20-40
áreas amostradas se situam no vale do rio Itapemirim, para o ameaça em potencial, se considerado o risco de ruptura dos taludes e aporte dos resíduos na bacia hidrográfica. Os níveis críticos de Ca e Mg na planta e no solo, para o crescimento inicial do milho, foram determinados por meio das
Quadro 5 - Doses recomendáveis para o cultivo inicial de milho.
(1) Corretivo: PM = pó-de-mármore, PRNT 88 % e Referência = CaCO3 + MgCO3, com relação Ca: Mg = 4:1, PRNT 100 %; (2) Doses recomendáveis: para a simulação da produção de máxima eficiência econômica.
6
equações de regressão ajustadas com os dois materiais corretivos aplicados em cada camada de solo estudada. Comparando-se com a testemunha (sem calagem), os resultados indicaram a alta probabilidade de resposta do milho à
Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia, Vitória, n. 3, p.1-8, 2. sem.2007
Potencialidade agronômica do resíduo... calagem em ambas as profundidades do solo e para os dois cor-
de acordo com os corretivos estudados, vale ressaltar que a relação
retivos avaliados (Quadro 6). Os níveis críticos, no entanto, não
Ca:Mg do pó-de-mármore a ser usado deve ser considerada, uma
diferiram entre os corretivos usados, confirmando a possibilida-
vez que várias culturas exigem peculiar relação entre tais nutrientes.
de do uso do pó-de-mármore para a correção da acidez do solo e
(14, 13) O uso adicional ou intercalado de corretivos com caracte-
o fornecimento de Ca e de Mg para as plantas.
rísticas complementares (fontes de Mg) ao material reciclável poderia ser uma alternativa e caso da necessidade de adequações.
Nível Crítico(2) Camada
Corretivo(1)
Solo Ca2+
cm
Planta Mg2+
Ca
cmolc dm-3
5 CONCLUSÕES
Mg
dag kg-1
0-20 20-40
Testemunha Testemunha
0,47 0,10
0,17 0,10
0,24 0,12
0,13 0,10
0-20 20-40
PM PM
2,84 1,24
1,15 0,51
0,49 0,41
0,31 0,23
0-20 20-40
Referência Referência
2,65 1,09
0,97 0,43
0,49 0,46
0,30 0,22
A elevação do pH e dos teores de Ca2+ e de Mg2+ no solo e a neutralização do Al3+, bem como o acúmulo de nutrientes e de MS durante o crescimento inicial de milho, foram semelhantes entre o pó-de-mármore e o corretivo de referência. Assim, o póde-mármore pode ser usado como corretivo da acidez do solo e como fonte de tais nutrientes para as plantas. No presente estudo,
QUADRO 6 - Níveis críticos de cálcio e de magnésio na parte aérea das plantas de milho e no solo, aos 30 dias do bioensaio.
o uso da dose recomendável possibilita a reciclagem, na camada
(1) Corretivo: PM = pó-de-mármore, PRNT 88 % e Referência = mistura de CaCO3 + MgCO3, PRNT 100 %; (2) Nível Crítico: teor de nutriente no solo que corresponde à disponibilidade necessária para atingir a produção de máxima eficiência econômica; Solo: Ca2+ e Mg2+ = teores trocáveis pelo extrator KCl 1 mol L-1; Planta: Ca e Mg = concentração na matéria seca.
a sua fertilidade. O uso agronômico do pó-de-mármore é uma
Substituindo as respectivas doses recomendáveis nas
de 0 a 20 cm, mais de 4 t ha-1 de pó-de-mármore, melhorando alternativa em potencial para a reciclagem de tal resíduo nas indústrias de rochas ornamentais de Cachoeiro de Itapemirim, ES. 6 AGRADECIMENTO
equações de regressão ajustadas para as características das plan-
Ao graduando em Administração de Empresas Ruiter
tas e do solo, foram calculados os valores ótimos (no contexto)
Ferreira Júnior, profissional da indústria de rochas ornamentais,
para tais variáveis no cultivo inicial de milho em solos sob a apli-
pelo auxílio no planejamento e na execução da amostragem.
cação dos corretivos pó-de-mármore e referência (Quadro 7).
Camada
Corretivo
cm
Diâmetro do Caule
Matéria Seca
mm
g vaso-1
REFERÊNCIAS pH
Al3+ cmolc dm-3
0-20 20-40
Testemunha Testemunha
3,03 2,94
0,90 0,59
4,17 4,89
2,33 0,88
0-20 20-40
PM PM
4,97 4,39
4,05 3,26
5,01 5,29
0,35 0,12
0-20 20-40
Referência Referência
5,05 4,39
3,99 3,12
5,05 5,12
0,36 0,18
QUADRO 7 - Características da parte aérea das plantas de milho e do solo (pH e Al3+), aos 30 dias do bioensaio, para as testemunhas e para as dose recomendáveis.
(1)
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos: produção de informação, 2. ed. Rio de Janeiro, 2006. 412p.
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(1) Corretivo: PM = pó-de-mármore, PRNT 88 % e Referência = mistura de CaCO3 + MgCO3, PRNT 100 %.
O uso de ambos os corretivos, analogamente, aumentou a absorção de Ca e de Mg e a produção inicial do milho, assim como
acúmulo e exportação de macronutrientes em cana de açúcar. Scientia Agrícola, v. 59, n.1, p. 1-18, 2002. (4)
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