Povoamento Alto Medieval de S. Bartolomeu de Messines

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Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines

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CAIXA DE CRÉDITO AGRÍCOLA MÚTUO DE SÃO BARTOLOMEU DE MESSINES E S. MARCOS DA SERRA

FREGUESIA DE SÃO BARTOLOMEU DE MESSINES

Título: Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines Autor: Luís Miguel Guerreiro Cabrita Ilustração da Capa: Carlos Rocha Desenhos: António Medeiros e Miguel Cabrita Fotos Miguel Cabrita Depósito legal n.º ................. ISBN - 978-989-20-4596

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APRESENTAÇÃO A região de São Bartolomeu de Messines constitui uma das mais ricas em património arqueológico do Algarve. A continuidade da presença humana que ali se mantém desde tempos pré-históricos, deve-se, em boa parte, à sua localização no denominado Barrocal Algarvio, ou Meia-Serra, com relevos pouco acentuados, que intercalam com vales abrigados, largos e abertos, possuindo terrenos com boas aptidões agrícolas, a que se associa a presença de cursos de água, assim como a existência de minas de cobre e de outros metais, exploradas desde tempos remotos. O património daquele território começou a ser conhecido a partir do século XVIII, com Frei Manuel do Cenáculo, que foi bispo de Beja e arcebispo de Évora, e nele trabalharam arqueólogos pioneiros como Estácio da Veiga e José Leite de Vasconcellos. Ulteriormente, têm-se efectuado trabalhos pontuais de investigação ou integrados em projectos de salvamento. Destes, importa assinalar o levantamento arqueológico que antecedeu a construção da barragem do Funcho, da responsabilidade dp Professor Mário Varela Gomes, na qual o Dr. Miguel Cabrita participou, e que conduziu à escavação de importante necrópole, da Idade do Bronze, de Alfarrobeira, publicada monograficamente. Com o acompanhamento arqueológico durante a construção da auto-estrada reconheceram-se distintos vestígios, entre os quais alcaria islâmica. Encontra-se em curso a investigação de villa romana e existe circuito arqueológico que integra menires e outros testemunhos. A riqueza arqueológica da região messinense encontra-se, de igual modo representada através de peças que o Museu Municipal de Arqueologia de Silves exibe. Mas São Bartolomeu de Messines é, também, terra de pessoas ilustres, que têm sido homenageadas através de exposições e de publicações, constituindo caso particular, a musealização da casa onde viveu o poeta e pedagogo João de Deus, o inesquecível autor da Cartilha Maternal, que inventou e implementou novo método de ensino da leitura em Portugal. “O Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines” corresponde a importante contributo para a História, através da Arqueologia, não só da região que especificamente aborda como do Sudoeste Peninsular. Trata-se do resultado de investigação inovadora e bem documentada, que permitiu ao Dr. Miguel Cabrita a obtenção, com nota máxima, do grau de Mestre em Arqueologia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, perante júri onde, como orientadora, tive a honra de estar presente e, por isso, naquela qualidade me solicitou o presente texto. Estamos perante obra onde, através do mundo da ritualização dos mortos, se aborda o estudo das comunidades rurais, tardo romanas ou visigóticas, cujos contornos económicos, sociais e ideológicos, eram, até então, muito imprecisos. O resultado daquela investigação, que agora se apresenta, só foi possível devido a trabalhos sistemáticos, de prospecção e registos exaustivos, que conduziram aos levantamentos arqueológicos dos arqueossítios identificados, possibilitando o estudo do ritual funerário, desde a localização das necrópoles aos tipos de sepulturas e suas orientações. Datação por radiocarbono (14C) confirmou a cronologia proposta para uma de tais comunidades. A presente obra, em boa hora editada pela Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de S. Bartolomeu de Messines e S. Marcos da Serra e Freguesia de S. Bartolomeu de Messines, representa contributo incontornável, para o conhecimento do passado de São Bartolomeu de Messines, nomeadamente daqueles que residiram no seu território nos tempos que antecederam a islamização. Rosa Varela Gomes (Professora de Arqueologia da F.C.S.H. da U.N.L.)

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Necrópole da Carrasqueira, Vale Fuzeiros 6

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Agradecimentos O presente trabalho é o produto da dissertação efectuada no âmbito do Mestrado em História e Arqueologia Medievais, promovido pelo Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A conjugação de várias tarefas desenvolvidas no âmbito da minha actividade como funcionário da administração local, contribuíram igualmente, para o desenvolvimento do presente livro. O acompanhar meu pai e o saudoso Dr. Caetano de Mello Beirão, pelas serras de Silves, na descoberta de vários monumentos arqueológicos existentes na região de S. Bartolomeu de Messines, terá despertado a minha curiosidade pela Arqueologia. Nos finais dos anos setenta da passada centúria, o referido arqueólogo, acompanhado pelo Arquitecto Mário Varela Gomes e a Professora Doutora Rosa Varela Gomes, iniciaram trabalhos arqueológicos em Silves. Desde logo os acompanhei em distintos projectos empreendidos na área urbana e no concelho de Silves e, ainda, noutros locais do Algarve. Essa experiência terá contribuído definitivamente para estimular o meu interesse pela História através da Arqueologia. Em primeiro lugar, não poderei deixar de expressar, os meus melhores agradecimentos à orientadora científica deste trabalho, Professora Doutora Rosa Varela Gomes, que dedicou muito do seu precioso tempo a estimular e acompanhar a construção desta dissertação. Ao Professor e Amigo Mário Varela Gomes, o meu agradecimento mais sincero, pelo empenho dedicado na disponibilização de fontes, utilização graciosa de desenhos, e pela leitura atenta e crítica dos textos. Agradeço o apoio concedido pelo executivo da Câmara Municipal de Silves, que impulsionou a execução do projecto de valorização do património histórico e arqueológico na região de S. Bartolomeu de Messines, estamos gratos pela confiança que em nós depositou na realização daquele trabalho. O nosso reconhecimento estende-se, também, a toda a equipa de trabalho de campo, Hélder Duarte, colega de muitas campanhas de escavação, que infelizmente já não se encontra entre nós, José Damião, Papue Eugen, Agridan Nicolae, Grecu Marius, Babici Radu, Raducahu Cristian, Luchici Daniel, Diaconovici Ghitá, Bumbak Vasile. Ao colega António de Medeiros que nos auxiliou na representação gráfica dos monumentos. Ao Luís Campos Paulo na exumação do espólio osteológico. Manifesto ainda o meu profundo agradecimento aos meus pais, mulher e filho, José Luís, Josefa, Bela e João, que continuamente me incentivaram e pacientemente suportaram a minha escassa disponibilidade, a quem dedico este trabalho. Por último e não menos importante à Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de São Bartolomeu de Messines e São Marcos da Serra e ao Sr. João Correia Presidente da junta de Freguesia de S. Bartolomeu de Messines pela contribuição disponibilizada para que a história de S. Bartolomeu de Messines seja do conhecimento público e que tenha a sua divulgação local.

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- Agradecimentos 1 - Introdução 1.1 – Objectivos 1.1.1 - Metodologia e organização do trabalho 1.2 – O espaço 1.2.1 - O território 1.3 - Recurso naturais 1.3.1 – O coberto vegetal 1.3.2 - O subsolo 1.3.3 - O solo arável 1.3.3.1 - Santo Estêvão 1.3.3.2 - Cumeada 1.3.3.3 - Vale Fuzeiros 1.3.3.4 – Amorosa 1.3.3.5 - S. Bartolomeu de Messines 1.3.3.6 – Portela 1.3.3.7 - Pico Alto 1.3.3.8 -Messines de Cima e Messines de Baixo 2 - Os testemunhos da ocupação humana 2.1 - As origens 2.2 - Os testemunhos medievais 2.3 – A presença cristã 2.4 – As vias de comunicação 3 - Povoados 3.1 - Prováveis sistemas defensivos 3.1.1 – Cerro do penedo grande, s. Bartolomeu de Messines 3.1.2 - Cerro do castelo 3.1.3 - Cerro agudo 3.1.4 - Santa ana 3.1.5 - Cerro da Vilarinha 3.1.6 - Torre 3.2 - Povoados sem sistemas defensivos 3.2.1 - Portela 3.2.2 - S. Bartolomeu de Messines 3.2.3 - Amorosa 3.3 - Casais agrícolas e mineiros 3.3.1 - Pico Alto 3.3.2 -Messines de Cima e Messines de Baixo 3.3.3 - Cerro do Castelo 3.3.4 - Bica Alta 3.3.5 – Abrutiais 3.3.6 - Monte Branco 3.3.7 – Pedreirinha 3.3.8 - Forneca 3.3.9 - Carrasqueira

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-7- 15 - 15- 17 - 19 - 21 - 22 - 22 - 23 - 26 - 26 - 26 - 27 - 28 - 28 - 28 - 29 - 29 - 32 - 33 - 40 - 41 - 45 - 50 - 51 - 51 - 53 - 53 - 54 - 55 - 55 - 58 - 58 - 59 - 62 - 66 - 66 - 67 - 67 - 68 - 69 - 69 - 70 - 71 - 72 Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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3.3.10– Horta de Baixo – fundição 3.3.11– Barrada 3.3.12– Penedo 3.3.13– Canhestros 4 - Necrópoles 4.1 - Descrição das sepulturas 4.1.1 - Necrópole da Forneca 4.1.1.1 - Ambiente natural 4.1.1.2 - Estruturas 4.1.1.2.1 – Sepultura 1 4.1.1.2.2 – Sepultura 2 4.1.1.2.3 – Sepultura 3 4.1.1.2.4 – Sepultura 4 4.1.1.2.5 – Sepultura 5 4.1.1.2.6 – Sepultura 6 4.1.1.2.7 – Sepultura 7 4.1.1.2.8 – Sepultura 8 4.1.2 - Necrópole da Carrasqueira 4.1.2.1 - Ambiente Natural 4.1.2.2 - Estruturas 4.1.2.2.1 – Sepultura 1 4.1.2.2.2 – Sepultura 2 4.1.2.2.3 – Sepultura 3 4.1.2.2.4 – Sepultura 4 4.1.2.2.5 – Sepultura 5 4.1.3 - Necrópole da Pedreirinha 4.1.3.1 - Ambiente Natural 4.1.3.2 - Estruturas 4.1.3.2.1 – Sepultura 1 4.1.3.2.2 – Sepultura 2 4.1.3.2.3 – Sepultura 3 4.1.4 - Necrópole da Amorosa 4.1.4.1 - Ambiente Natural 4.1.4.2 - Estruturas 4.1.4.2.1 – Sepultura 1 4.1.4.2.2 – Sepultura 2 4.1.4.2.3 – Sepultura 3 4.1.4.2.4 – Sepultura 4 4.1.4.2.5 – Sepultura 5 4.1.4.2.6 – Sepultura 6 4.1.4.2.7 – Sepultura 7 4.1.4.2.8 – Sepultura 8 4.1.4.2.9 – Sepultura 9 4.1.4.2.10 – Sepultura 10 4.1.4.2.11– Sepultura 11 4.1.4.2.12 - Sepultura 12 4.1.4.2.13– Sepultura 13 Luís Miguel Guerreiro Cabrita

- 72 - 73 – - 74 - 74 – - 77 - 79 – - 82 - 82 - 83 – - 83 – - 83 – - 83 – - 84 – - 85 – - 85 – - 85 – - 86 – - 88 - 91 - 91 – - 91 – - 92 – - 92 – - 92 – - 93 – - 95 - 97 - 97 – - 97 – - 98– - 98– - 99 - 102 - 102 – - 102 – - 102 – - 103 – - 103 – - 104 – - 104 – - 104 – - 105 – - 105 – - 106 – - 106 – - 107 – - 107 – 9

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4.1.4.2.14– Sepultura 14 4.1.4.2.15– Sepultura 15 4.1.4.2.16– Sepultura 16 4.1.4.2.17– Sepultura 17 4.1.4.2.18– Sepultura 18 4.1.5 - Necrópole do Castelo 4.1.5.1 - Ambiente natural 4.1.5.2 - Estruturas 4.1.5.2.1 – Sepultura 1 4.1.5.2.1 – Sepultura 2 4.1.5.2.1 – Sepultura 3 4.1.5.2.1 – Sepultura 4 4.2 - Sepulturas isoladas 4.2.1 - Sepultura isolada n.º 1 da Forneca 4.2.1.1 - Ambiente natural 4.2.1.2 – Sepultura 4.2.2 - Sepultura isolada n.º 2 da Forneca 4.2.2.1 - Ambiente natural 4.2.2.2 – Sepultura 4.2.3 - Sepultura isolada da Horta de Baixo 4.2.3.1 - Ambiente natural 4.2.3.2 - Sepultura 4.2.4 - Sepultura isolada dos Canhestros 4.2.4.1 - Ambiente natural 4.2.4.2 - Sepultura 4.2.5 - Sepultura isolada dos Pedreirinha 4.2.5.1 - Ambiente natural 4.2.5.2 - Sepultura 5 - Arquitectura 5.1 - Arquitectura funerária 6 - Ritual funerário 6.1 – Ritual 6.2 - Orientações das sepulturas nas necrópoles 7 - Interdependência antropológica 7.1 – A conexão com o indivíduo 8 - Proposta cronológica 8.1 – A diacronia 9 - Conclusão 10 – Bibliografia 11 – Índices 11.1 – Índice de fotografias 11.2 – Índice de mapas 11.3 - Índice de desenhos

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- 109 – - 109– - 109 – - 110 – - 110 – - 112 - 115 – - 115 – - 115 – - 116 – - 116 – - 116 – - 119 - 121 - 121 – - 121 – - 121 - 121 – - 122 – - 122 - 122 - 122 - 123 - 123 - 123 - 125 - 125 - 125 – - 128 - 129 - 141 - 142 - 147 - 148 - 149 - 158 - 159 - 167 - 173 - 184 - 185 - 186 - 187 -

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Vista de Vale Fuzeiros.

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A meus pais á Bela e ao João

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S. Bartolomeu de Messines, cerca de 1895, foto Manuel Romão Pereira

S. Bartolomeu de Messines, cerca 1904/1905, edições Malva n.º 386, solenização do centenário do Nascimento de João de Deus. Postais ilustrados de Joaquim Graça Mira. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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De sonhos sobre sonhos de ventura, desejava dormir o sono eterno Abrindo junto ao berço a sepultura! Fechar em suma o círculo da vida … João de Deus Ramos, Poema Pátria

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1 – Introdução 1.1 – Objectivos Os primeiros registos fundamentados da presença de memórias romanas nesta região interior do extremo Sudoeste do actual território português, remontam ao século XVIII, com o Bispo Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas. Este prelado manda recolher em Beja, um cipo de mármore, com uma inscrição consagrada ao Deus Júpiter, que estaria em S. Bartolomeu de Messines. (Encarnação, 1984, p. 107-109) Próximo dos finais do século, XIX Sebastião Phillipes M. Estácio da Veiga, na sua extensa e marcante obra “Antiguidades Monumentaes do Algarve”, assinala a presença de sepulturas abertas nas fragas rochosas da Amorosa e do cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines que, segundo aquele autor, remontariam ao período romano, assim como os trabalhos existentes nas minas de cobre dos cerros da Cumeada e do Pico alto. (Veiga, 1889, pp. 55 a 79.) O primeiro Congresso Nacional de Arqueologia, realizado no derradeiro mês do ano de 1958, homenageou o digníssimo Doutor José Leite de Vasconcelos e nele Maria Elisa Helena Henriques Gomes apresentou comunicação titulada Monumentos Arqueológicos Inéditos do Concelho de Silves. O referido trabalho documenta a existência de três núcleos de sepulturas apelidados de Fragão, Quinta da Unha e Pedreira. (Gomes, 1958, pp. 75 a 94) Nos inícios dos anos setenta do século XX. Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso dos Santos, recolhe e identifica num terreno junto do bairro do Furadouro e da Igreja de S. Pedro, em S. Bartolomeu de Messines, fragmentos de cerâmica dispersos que atribui á presença romana. (Santos, 1972, p. 120) Passadas quase duas décadas, nos finais dos anos oitenta, tivemos o agrado de integrar a equipa que participou no levantamento arqueológico, arquitectónico e etnográfico da bacia hidrográfica da barragem do Funcho no alto curso do rio Arade. As prospecções arqueológicas efectuadas sob a orientação do Arquitecto Mário Varela Gomes, ao longo do trajecto da ribeira de Arade, revelaram a existência de necrópoles, de incineração e inumação do período itálico. (Gomes, 2002, pp. 103 e 104) Foi durante o decurso daqueles trabalhos, que participámos nas escavações arqueológicas da necrópole da Alfarrobeira, identificada anos antes pelo Dr. Caetano de Mello Beirão, Arqt.º Mário Varela Gomes e José Luís Cabrita, atribuída á Idade do Bronze. No seguimento de tais Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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investigações, recolhemos, junto do monte da várzea, dois fragmentos de uma estela da I.ª Idade do Ferro e, a poucos quilómetros, para nascente no sítio dos Abrutiais, foi registado a existência de menir. (Gomes, 1994, pp. 79 a 92). Nos últimos vinte anos, o reconhecimento de monumentos neolíticos, na área de Vale Fuzeiros, ascende a cinco exemplares. Agregamos aos anteriores menires o monólito dos Gregórios, reconhecido por José Luís Cabrita e Caetano de Mello Beiro, três décadas antes. Posteriormente, Mário Varela Gomes intercede na classificação deste monumento que ocorre em meados dos anos oitenta do século XX. Na última década, às três necrópoles de inumação construídas nos penedos rochosos de arenito, anteriormente identificadas, incorporamos ao inventário mais dois cemitérios e foram reconhecidas mais quatro sepulturas isoladas. Penedos que guardam gravuras rupestres, também, têm vindo a ser descobertos e, actualmente, conhecem-se três importantes núcleos na região. (Gomes, 1994, pp.79 a 92) A construção da actual auto-estrada A2 tornou necessária a escavação de alcaria islâmica que se encontra nas imediações da actual aldeia da Portela, já anteriormente referenciada (Gomes, 2002, p.152). Apenas parte do antigo aglomerado populacional, afectado pela obra, foi integralmente escavado. Infelizmente, só foram publicados notícias parciais dos trabalhos, dando perspectiva incompleta do local e dos materiais exumados. (Pires e Ferreira, 2003, p.303 a 306). A riqueza arqueológica da região de S. Bartolomeu de Messines e Vale Fuzeiros, é quanto a nós, fundamento para dar continuidade aos estudos precedentes que foram publicados e privilegiaram a região. Pretendendo conhecer um pouco melhor o território que abasteceu a grande urbe medieval islâmica de Silves, impunha-se o estudo desta zona serrana, que controlaria importantes recursos minerais, agrícolas e vias de comunicação. Os eixos viários que teriam origem no Sotavento e se dirigiam para Barlavento, assim como os que teriam início na Costa algarvia a sul e tendiam para o Baixo Alentejo a norte. As populações que exploraram aquele território durante a Alta Idade Média, seriam originárias das incursões exógenas do século VI, ou pertenciam a fundo autóctone, tendo ulteriormente sofrido influências externas e paulatinamente absorveram a cultura dos invasores muçulmanos do século VIII.

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1.1.1 - Metodologia e Organização do Trabalho

A ausência de fontes históricas escritas, sobre as zonas serranas e interiores do Algarve, é um obstáculo incontornável nos estudos da história da região. As paupérrimas menções que chegaram até nós sobre a região de S. Bartolomeu de Messines, resumem-se a dois topónimos medievais para aglomerados proto-urbanos existentes na zona, Mussiene e Amrūša, que sugerem ser S. Bartolomeu de Messines e Amorosa. As primeiras narrações escritas, sobre a região em causa, datam do início do século XVII, (História do Reino do Algarve), descrevem as gentes e lugares vizinhos de Messines, da autoria de Henrique Fernandes Sarrão, (Guerreiro e Magalhães, 1983, pp. 153 a 158) A prospecção arqueológica destes espaços tem revelado a existência de testemunho históricos, que permitem revelar abundante actividade humana ancestral. Assim, procedemos a intensa pesquisa de vestígios arqueológicos pelo território em causa, seguindo as linhas de abastecimento de água e procurando locais com condições naturais de defesa. A abordagem aos habitantes locais, também forneceu informações valiosas para o prosseguimento dos trabalhos. Efectuamos, também, a consulta das cartas militares, emitidas pelos Serviços Cartográficos do Exército, em 1952, identificando através daqueles mapas poços, noras, minas de água e topónimos, que denunciam a existência de testemunhos arqueológicos e históricos. O exame das cartas cadastrais, publicadas pelo Instituto Geográfico Cadastral, possibilitou o reconhecimento de micro-topónimos que acusaram a existência de vestígios arqueológicos. A análise das Cartas de Solos e Capacidade de Uso do Solo, na escala 1: 50.000, editada, em 1965, pelos Serviços de Reconhecimento de Ordenamento Agrário, denunciam os terrenos mais aptos para a produção de cereais e onde permanecem os solos com melhores capacidades agrícolas. Por fim, a observação da Carta Geológica da Região do Algarve, folha ocidental, à escala 1:100.000, elaborada pelos Serviços Geológicos de Portugal em 1992 e a respectiva nota explicativa, coordenada por G. Manuppella, acusou a presença de substratos rochosos que encerram jazidas minerais de compostos ferrosos e cúpricos, assim como mostram a diversidade geológica da zona. A análise espacial do território, enumerando as suas diversidades de recursos agrícolas, minerais, fluviais, terrestres e arbóreos, forneceu testemunhos da ocupação humana. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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A sistematização da identificação dos locais que forneceram vestígios da presença humana, tende a apresentar panorama daquela implantação no território, reconhecendo-se núcleos urbanos ou proto-urbanos, com sistemas naturais ou artificiais de defesa, assim como a presença de habitats isolados. Coligimos, ainda, os espaços dedicados aos mortos, escrutinando as singularidades de cada sepulcro. Relatamos, igualmente, o ambiente natural que rodeia cada necrópole, e abordaremos o ritual funerário praticado em ambiente rural, sem aparentemente indiciar a presença de qualquer elemento ordenador da espiritualidade das populações existentes, nomeadamente de templo ou santuário. As peculiaridades que cada fossa sepulcral oferece, proporcionam dados individuais respeitando aos indivíduos neles inumados, fornecendo padrão de estaturas médias para as populações que povoavam a zona. Encerramos o primeiro volume com a proposta de povoamento da região em estudo entre o período tardo-antigo e os inícios da presença islâmica. O segundo volume apresenta o registo gráfico das cinco necrópoles com as trinta e oito sepulturas que estes cemitérios contêm, mais cinco sepulcros que se encontram isolados, totalizando quarenta e três fossas tumulares, na zona em estudo. Incluímos, ainda, em ficha, as principais características identificáveis nos cemitérios, assim como, as singularidades que cada câmara sepulcral encerra. Efectuámos, de igual modo, o recenseamento de todos os arqueosítios que reconhecemos nas prospecções efectuadas, assim como as particularidades dos anteriores locais.

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1.2 – O ESPAÇO

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Área de Estudo 20

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1.2.1- O Território A actual vila de S. Bartolomeu de Messines é sede de uma das oito freguesias que constituem o concelho de Silves, ocupa uma área aproximada de 245 KM², o que representa mais de um terço do actual território do concelhio. O aglomerado populacional de S. B. Messines está localizada nas faldas de dois importantes conjuntos montanhosos da região do território do Algarve, a Serra de Monchique e a Serra do Caldeirão, respectivamente, ocupando posição estratégica junto da via de acesso ao Baixo-Alentejo e ao Centro e Norte do País. A sul da actual povoação desenvolvem-se as planícies calcárias do Barrocal. A vila de S. Bartolomeu de Messines enquadra-se nas coordenadas cartesianas em Datum 73, X-13692,87 Y267647,91 Z 150 m, (Cartas Militares n.º 595 e 587 dos Serviços Cartográficos do Exercito, emitida em 1959 à escala 1/25000). A zona referida é composta pelas extremidades dos dois maciços rochosos, anteriormente citados. A norte encontram-se rochas xisto-argilosas e grauvaques do período Carbónico (265-210 milhões de anos), a sul as formações argilosas marinhas e os calcários duros, dolomíticos, do período Jurássico (155-130 milhões de anos). Na separação destes dois maciços emergem rochas fluvio-lagunares avermelhadas do período Triásico (155-130 milhões de anos) que foram apelidadas de Grés de Silves. (Ribeiro e Lautensach, 1987, pp. 156 a 170). Conforme antes mencionamos, os vestígios arqueológicos nesta região de São Bartolomeu de Messines, têm vindo a ser coligidos desde o século XVIII, pela mão do então bispo D. Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas, que mandou recolher um cepo de mármore branco dedicado a Júpiter. (Encarnação, 1984, pp. 107 e 108) Nos finais da centúria de oitocentos, Sebastião Philipes Estácio da Veiga, colige informações e reúne artefactos na região em causa, anunciando uma diversidade cronológica da presença humana neste espaço. (Veiga, 1887, pp. 350 a 369). Mas é no século seguinte que Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso Santos, regista testemunhos itálicos junto da actual Vila de S. Bartolomeu de Messines. (Santos, 1972, pp. 117 e 118). Achados isolados continuaram a suceder, chamando a atenção de arqueólogos como Caetano de Mello Beirão e Mário Varela Gomes, que nos privilegiaram com as suas campanhas arqueológicas na bacia hidrográfica do Alto-Arade, onde se documentou a existência de numerosos locais com vestígios da acção humana e se iniciaram os estudos históricos e arqueológicos, segundo mitologias modernas, desta faixa interior do Algarve. (Gomes, 1994, pp. 79 a 72). Foi recentemente publicada tese de doutoramento sobre a Cidade Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Islâmica de Silves que alude á fertilidade dos territórios envolventes, abarcando a área mencionada. (Gomes, 2002, pp. 87 a 156). Uma teia de linhas de água atravessam a zona (ribeiro do Baralha, ribeiro Meirinho, ribeira do Gavião, barranco do Pinheiro, barranco Velho, barranco do Resgalho, barranco de Cardasós, barranco de Vale Fuzeiros, barranco do Furadouro, barranco dos Campilhos, barranco da Ameixeira, barranco do Vale Laranja, barranco da Bica, barranco do Vale), a maioria dos quais são afluentes do rio Arade, que corre um pouco mais a norte da área citada. Todavia, conseguimos ainda identificar nas Cartas Militares N.º 595, 586 e 587, dos Serviços Cartográficos do Exercito, publicadas em 1959, à escala 1/25000, várias outras pequenas linhas de água que se dirigem para o Arade e que não possuem geónimo. Os solos são na sua maioria litólicos não húmicos, pouco insaturados, normais de «grés» de Silves ou de rochas semelhantes, com franjas de aluviossolos antigos calcários, de textura mediana, encontrando-se ainda barros castanhos avermelhados, calcários não descarbonatados, basaltos, dolrelitos, tal como outras rochas eruptivas ou cristalofílicas básicas, associadas a calcário friável. Nas planícies aluvianares encontram-se aluviossolos modernos, não calcários, de textura pesada ou mediana. (Koops, 1989, pp. 22 -27). (Planta 1). 1.3- Recurso Naturais. 1.3.1- O coberto Vegetal. O manto vegetal apresenta-se pouco denso e é constituído na sua maioria, por árvores de regime pouco húmico, como a amendoeira, (Amygdalus communis); figueira, (Ficus carica Lin); alfarrobeira, (Ceratonia siliqua, Lin); pinheiro, (Pinus Pinea Lin); oliveira, (Olea europaea var.sativa.D.C.Me). No último quartel do Século XX estas espécies têm vindo a ser substituídas por outras mais rentáveis à economia agrária como a laranjeira, (Citrus cinensis Lin); limoeiro, (Citrus limonea Lin); ameixeira, (Prunus domestica Lin). No entanto aquelas espécies requerem maiores quantidades de água e regas constantes nos períodos quentes do Verão. O fornecimento de água para as culturas referidas recorre sistematicamente à perfuração do subsolo, extraindo a água existente nos aquíferos subterrâneos, com potentes motores. Uma das consequências de tal actividade é a extinção, em vastas áreas, de plantas autóctones como o medronheiro, (Arbustus unedo L.); lavanda (Lavanda stocchas); zimbreiro (Juniperus oxicedus); tomilho (Thymus vulgaris L.); linho bravo (Linum bienne Mill). Esta transformação teve início com a desmatação e a despedrega de grandes áreas de terreno,

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seguindo-se as plantações de grandes quantidades de árvores, resultando no aparecimento de manchas de floresta mais densa que alteraram profundamente algumas áreas da região, a que se associou a introdução do eucalipto 1.3.2- O Subsolo. O subsolo da faixa de território compreendida entre a cidade de Silves e a vila de S. Bartolomeu de Messines, é composto por cinco formações rochosas. A primeira formação lítica encontra-se a norte do Barranco da Baralha, sítio de Vale Fuzeiros, e é composta por turbiditos (xistos e grauvaques), com intercalações de conglomerados de quartzovaques e quartzitos, do Carbónico Superior. Deste maciço afloram nascentes de água ricas em minerais, na sua maioria ferrosas, que dão nome aos locais onde emergem, Águas Belas, Fonte Santa, Fonte Ferrosa, Fonte Ferrenha. A sul da anterior formação, afloram os arenitos de Silves, do Triásico Superior, que abrigam os aglomerados populacionais, as indústrias de extracção desta rocha arenítica para a construção civil e anteriormente forneciam também a indústria corticeira, com rebolos para amolar as afiadas facas de corticeiro, podendo-se ainda detectar os vestígios destas actividades nos afloramentos rochosos existentes nas cercanias de S. Bartolomeu de Messines, em Vale Fuzeiros, Penedo Grande e Cerro do Castelo. Entre a anterior formação rochosa e os calcários dolomíticos localizam-se em duas estreitas bandas rochosas e constituídas por pelitos calcários, evaporitos de Silves, rochas vulcano-sedimentares básicas e dolomitos intercalados com argilas vermelhas, as explorações de minerais de cobre, com origem provável desde a Idade do Ferro ou Período Romano. A derradeira formação rochosa que se exibe a sul da anterior, é como antes aludimos, formada por rochas de calcários dolomíticos do Jurássico Inferior. (Carta Geológica da Região do Algarve, Direcção-Geral de Geologia e Minas, 1992). No século XIX Sebastião Philippes Estácio da Veiga documentou perto do lugar de Santo Estêvão três minas que denominou da Defesa, Estrada e Lagar, citadas nos relatórios de prospecção do Eng. Schiappa de Azevedo que afirma ter visto trabalhos antigos nesses locais. (Veiga, 1887, pp. 350-368). Um pouco mais para noroeste encontra-se a aldeia da Cumeada e na encosta norte desta povoação são, ainda, visíveis galerias de mineração que foram igualmente registadas pelo anterior arqueólogo, afirmando ter ali visto várias candeias de barro e martelos de mineração. (Veiga, 1889, pp. 48-57). Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Os valores de concentração de cobre das minas anteriormente citadas foram analisadas por Claude Domergue que registou percentagens de 38,55%, recentemente efectuaram-se novas medições que mostraram registos um pouco abaixo dos anteriores (15,29%). (Gomes, 1999, pp. 104, 105). Estas não são as únicas explorações mineiras existentes no espaço em estudo, sendo que junto da actual aldeia da Amorosa, na elevação do Monterroso, são visíveis cortas nas suas vertentes. A dois km para nordeste de S. Bartolomeu de Messines, no cerro do Pico Alto, encontra-se outra mina de cobre, igualmente documentada por Estácio da Veiga. Este arqueólogo afirma ainda ter tido notícia de vários achados de objectos de cobre, nas imediações das duas últimas minas citadas e que se terão perdido por terem sido vendidas a um caldeireiro ambulante.

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Planta Litológica

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1.3.3- O Solo arável. A capacidade agrícola dos solos na área de S. Bartolomeu de Messines apresenta-se nas Cartas de Capacidade de Uso do Solo, datadas de 1959, escala 1/50000, elaboradas para as campanha do trigo e promovidas pelo então Estado Novo, como terrenos de classe A, B e C, sendo os de classe A os mais aptos para a produção cerealífera. O vasto território que compreende esta área mostra diferentes tipos de solos, pelo que procurámos arrolar os diversos tipos de terrenos, de acordo com os topónimos locais. 1.3.3.1- Santo Estêvão. S. Estêvão dista 5 km para nordeste de Silves, (Carta Militar de Portugal n.º 595, Serviços Cartográficos do Exercito, escala 1/25000, 1959). A localização geográfica cartesiana é X-22263,39; Y-271977,3; Z 27 m., segundo a Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, publicada pelos Serviços Geológicos de Portugal, em 1992. Os solos são compostos por aluviossolos antigos, não calcários, de textura leve, da classe A, permitindo grande produtividade agrícola de cariz cerealífero, segundo a Carta de Capacidade de Uso de Solos. (Koops, 1989, pp. 22-27). A norte apresenta-se o maciço rochoso de turbiditos (xistos e grauvaques), com intercalações de conglomerados de quartzovaques e quartzitos, de baixa capacidade agrícola. Consultando a Carta Militar nº595 do S.C.E. de 1957, identificamos várias linhas de água, (Barranco do Pinheiro, Barranco Velho, Barranco do Resgalho) que formam pequena teia hídrica, orientada na sua maioria norte-sul atravessando os terrenos baixos e dirigindo-se para o rio Arade. Nos períodos de maior pluviosidade, de Dezembro a Março, estes cursos transbordam das suas margens, fertilizando as terras circundantes e possibilitando assim colheitas abundantes. Mostra ainda o anterior mapa duas fontes apelidadas de Sebodeiro e Fonte Santa, cuja localização desconhecemos. No entanto aqueles topónimos são indicadores de importantes nascentes de água, necessária ao uso humano. 13.3.2- Cumeada. O sítio da Cumeada encontra-se no topo de uma elevação com 165 m a pouco mais de 2 km a leste de S. Estêvão. A sua localização geográfica cartesiana é X-18657,07; Y270195,43; Z 165 m., segundo a Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, publicada pelos Serviços Geológicos de Portugal em 1992.

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O local assenta no maciço rochoso composto pelo complexo vulcano-sedimentar básico e por dolomitos intercalados com argilas vermelhas. A norte encontram-se os substratos rochosos compostos por pelitos calcários e evaporitos de Silves e arenitos de Silves. A sul desenvolvem-se os calcários dolomíticos e os calcários dolomíticos de Almádena. (Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, escala 1/100000, publicada pelos Serviços da Direcção-Geral de Geologia e Minas em 1992). O solo da área envolvente apresenta-se igualmente diversificado, junto do povoamento rural disperso, o terreno é composto por barros castanho-avermelhados calcários, não descarbonatados, com baixa aptidão agrícola, a norte encontram-se solos litólicos não-húmicos, pouco insaturados, normais com rochas de grés de Silves e aluviossolos modernos, calcários, de textura pesada, (Koops, 1989; pp. 22-27,). Estes terrenos detêm alta capacidade agrícola cerealífera segundo a Carta de Capacidade de Uso dos Solos, escala 1/50000, de 1959, publicada pela Secretaria de Estado da Agricultura). As cartas militares à escala 1/25000, dos Serviços Cartográficos do Exército, editadas em 1959, mostram-nos, ainda, uma série de linhas de água que correm no sentido nordeste/ sudeste e que alimentam o rio Arade, (Ribeiro da Baralha, Ribeiro dos Canhestros e Barranco da Cumeada). Na vertente voltada a norte do cerro da Cumeada, encontram-se quatro galerias de antigas explorações de minério de cobre, onde, recentemente Mário Varela Gomes recolheu amostras que indicaram a presença daquele metal com percentagem não superior a 15%. (Gomes, 1999, pp. 104, 105). 1.3.3.3- Vale Fuzeiros. O sítio de Vale Fuzeiros assenta numa marga de arenitos de Silves a 131m de altura e a sua posição geográfica cartesiana é, X-18985,95; Y-267949,04; Z 131 m. O solo a norte é constituído pela formação de Brejeira composta por turbiditos (xistos e grauvaques), com intercalações de conglomerados e de quartzovaques e quartzitos. A sul é formado por pelitos calcários e evaporitos de Silves. Encontra-se também a sul a elevação do Monterroso, que é um complexo vulcano-sedimentar básico e dolomitos intercalados com argilas vermelhas do período Jurássico. (Carta Geológica da região do Algarve, Folha Ocidental, escala 1/100000, publicada pelos Serviços da Direcção-Geral de Geologia e Minas, 1992). Os solos desta área são compostos por terras litólicas não-húmicas pouco insaturadas e por barros castanho-avermelhados, calcários, não descarbonatados, de basaltos ou dorelitos ou outras rochas eruptivas, cristalofílicas básicas associadas a calcário friável. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Apresentam normalmente alta rentabilidade cerealífera segundo a Carta de Capacidade de Uso do Solo do Barlavento Algarvio, datada de 1959. (Koops, 1989, pp. 22-27).

1.3.3.4 – Amorosa O aglomerado populacional da Amorosa está assente em substrato rochoso de arenitos de Silves, que se prolonga para poente, tendo a nascente, pelitos calcários e evaporitos de Silves em aluviões e sapais. A sua posição geográfica cartesiana é X-16746,08; Y267814,81; Z-173 m, acima do nível médio das águas do mar. (Carta Geológica da região do Algarve, Folha Ocidental, escala 1/100000, Serviços da Direcção-Geral de Geologia e Minas 1992). Os terrenos em redor deste núcleo urbano são compostos por solos calcários vermelhos típicos dos climas de regime xérico, normais com rochas detríticas, argilácias, de textura franco-argilosa a argilosa, e aluviossolos modernos, não calcários de textura pesada, com alta capacidade para a produção cerealífera. (Koops, 1989, pp. 22-27).

1.3.3.5 - S. Bartolomeu de Messines. S. Bartolomeu de Messines assenta na base de elevação com 247m de altura, denominada Penedo Grande. Ostenta localização geográfica cartesiana de X-13613,37; Y267649,33; Z 136 m., segundo a Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, publicada pelos Serviços Geológicos de Portugal em 1992. O subsolo é constituído por arenitos de Silves, do complexo vulcano-sedimentar básico, e dolomitos intercalados com argilas vermelhas, apresentando, nas zonas baixas, aluviões e sapais. (Carta Geológica da região do Algarve, Folha Ocidental, escala 1/100000, Serviços da Direcção-Geral de Geologia e Minas, 1992). Os solos são formados por barros castanho-avermelhados calcários, não descarbonatados, de basaltos, doleritos ou outras rochas eruptivas ou ainda cristalofílicas básicas, associadas a calcário friável e a barros castanho-avermelhados não calcários. (Koops, 1989; pp. 22 a 27). 1.3.3.6 – Portela A actual aldeia da Portela exibe uma posição geográfica cartesiana de X- 10669,15; Y-269217,81 Z 199 m, do nível médio das águas do mar. A povoação assenta em subsolo 28

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constituído pelo complexo vulcano-sedimentar básico e dolomitos intercalados com argilas vermelhas. A norte apresentam-se pelitos calcários e evaporitos de Silves juntamente com aluviões e sapais. No ponto oposto, a sul, a composição do subsolo é formada por dolomitos e calcários dolomíticos. (Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, escala 1/100000, Serviços da Direcção-Geral de Geologia e Minas, 1992). Os solos em torno da aldeia da Portela são combinados por aluviossolos modernos calcários, com textura pesada, de alta rendibilidade agrícola, litossolos, dos climas de regime xérico, por basaltos ou dorelitos ou outras rochas eruptivas básicas e por solos mediterrâneos vermelhos ou amarelos, com materiais calcários normais de calcário compacto ou dolomia. (Koops, 1989, pp. 22-27).

1.3.3.7 - Pico Alto. A aldeia do Pico Alto apresenta localização geográfica cartesiana de X-8447,74; Y267164,1; Z 300 m., segundo a Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, Serviços Geológicos de Portugal, 1992. A povoação ergue-se sobranceira ao vale do Ribeiro Meirinho e assenta em subsolo formado por maciço de dolomitos e calcários dolomíticos. A norte apresenta-se o complexo vulcano sedimentar básico e dolomitos intercalados com argilas vermelhas, pelitos calcários, evaporitos e arenitos de Silves. A sul o subsolo mostra idêntica composição rochosa do período Jurássico. As formações rochosas encontram-se rodeadas pela formação de Mira, composta por turbidito (xistos e grauvaques) do período Carbónico. (Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, escala 1/100000, Serviços da Direcção-Geral de Geologia e Minas, 1992). O solo arável é formado por calcários vermelhos dos climas de regime xérico normais, com rochas detríticas argilácias calcárias, de textura franco-argilosa a argilosa, ou de calcários e por solos mediterrâneos vermelhos ou amarelos de materiais calcários, normais de calcários compactos ou dolomias, que apresentam alto valor agrícola. (Koops, 1989; pp. 22-27). No vale a norte da povoação do Pico Alto apresentase o início do curso de água denominado Ribeiro Meirinho e a sul encontra-se o nascente do Barranco do Vale, (Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, escala 1/100000, Serviços da Direcção-Geral de Geologia e Minas, 1992).

1.3.3.8 - Messines de Cima e Messines de Baixo O sítio de Messines de Cima e Messines de Baixo está localizado segundo as

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coordenadas geográficas cartesianas em X- 9310,12; Y-269165,4; Z 208 segundo a Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, Serviços Geológicos de Portugal, 1992. O local corresponde a subsolo do maciço composto por dolomitos e calcários dolomíticos. A norte deste apresenta-se o complexo vulcano-sedimentar básico e dolomitos intercalados com argilas vermelhas, pelitos calcários, evaporitos e arenitos de Silves, que se adossam às formações de Mira, compostas por turbiditos (xistos e grauvaques) do período Jurássico. (Carta Geológica da Região do Algarve, Folha Ocidental, escala 1/100000, Serviços da Direcção-Geral de Geologia e Minas 1992). Os solos agrícolas são formados por litossolos dos climas de regime xérico, por basaltos ou dorelitos e outras rochas eruptivas básicas tal como por solos mediterrâneos vermelhos ou amarelos, de materiais calcários, normais, de calcários compactos ou dolomias. (Koops, 1989, pp. 22-27,)

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Planta de Capacidade de Uso do Solo

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2- OS TESTEMUNHOS DA OCUPAÇÃO HUMANA.

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2.1 - As Origens. Os testemunhos da presença humana nesta região interior do Algarve Ocidental, onde S. Bartolomeu de Messines se encontra, têm vindo a ser documentados desde os finais do século XIX pelo ilustre investigador Sebastião Philipes Martins Estácio da Veiga, na sua obra Antiguidades Monumentaes do Algarve. São deste distinto arqueólogo as primeiras notícias sobre a existência de menires de grés vermelho de Silves, no sítio da Cumeada. (Veiga, 1886, pp. 219, 220) A poucos quilómetros para norte do anterior local, no sítio dos Gregórios, Mário Varela Gomes, Caetano de Mello Beirão e José Luís Cabrita, nos anos setenta do século XX, identificaram um outro monólito, também de grés vermelho de Silves. (Gomes, 1984, p. 6). Um pouco mais a norte, no alto curso do rio Arade, junto do Monte da Alfarrobeira, actualmente submerso pelas águas da Barragem do Funcho, José Luís Cabrita e Caetano de Mello Beirão reconheceram outro menir, que terá ulteriormente sido transformado em estela decorada durante a II Idade do Bronze. (Gomes, 1984, p. 6). Ulteriormente outros monumentos semelhantes têm vindo a ser identificados nesta região. A dois quilómetros, a norte da vila de S. B. Messines, no lugar dos Abrutiais, acompanhámos Mário Varela Gomes na identificação e registo de monólito que se encontrava tombado junto de pequena represa. As elevações da Pedreirinha e Velarinha, emergem a sul do Lugar de Vale Fuzeiros, albergando actualmente quatro monólitos nos topos das suas vertentes. Um quinto menir proveniente deste local está presentemente guardado no Museu Municipal de Arqueologia de Silves. Este monólito foi talhado em grés de Silves, mostra forma fálica, no que se assemelha aos anteriores monumentos. Eles oferecem dimensões que variam entre 1,85 m e 1,70 m de altura e os diâmetros máximos oscilam entre 0,65 m e 0,45 m. As decorações nos monólitos mencionados são por vezes imperceptíveis, devido à rocha friável em que estão talhados, no entanto, o menir que foi guardado no M.M.A.S., ostenta várias ornamentações, a partir do topo ou da glande, ali se reconhecendo linhas ondulantes, que irrompem junto da gola e percorrem o menir no seu maior comprimento. Sem qualquer disposição aparente reconhecemse também vários báculos insculpidos ao longo do monólito. Achados casuais de artefactos de pedra têm também vindo a ser recolhidos desde o século XIX, designadamente por Estácio da Veiga. (Gomes, 1984, p. 6).

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Este investigador resgatou dos residentes na Amorosa vários artefactos líticos, brunidores, machados, percutores, recolhidos nas proximidades daquele local. (Veiga, 1981, pp. 80 a 83). Mais recentemente, em meados do século XX, José Saturnino, recolheu machado de pedra polida, junto de sua casa na Cumeada, que ofereceu ao Museu Municipal de Arqueologia de Silves. Mencionámos anteriormente a existência da estela decorada pertencente à II Idade do Bronze, recolhida no Monte da Alfarrobeira no alto curso do rio Arade. Junto do local onde foi descoberto aquele monumento, foi escavada e estudada pelo arqueólogo Mário Varela Gomes, necrópole da Idade do Bronze do Sudoeste. (Gomes, 1994). Outras necrópoles deste horizonte cronológico foram identificadas na região de S. Bartolomeu de Messines, por Estácio da Veiga, no serro da Fonte Figueira, Monte Boi, serro da Portela, Zambujal. (Gomes, 1994, p. 80). Algumas daquelas sepulturas ofereceram objectos de cobre, como o punhal recolhido no interior de cista nas imediações de S. Bartolomeu de Messines. (Veiga, 1891, p. 81). A existência de antiga actividade mineira nos serros do Pico Alto, Cumeada, Monte Rosso e Santo Estêvão foi, igualmente, documentada por Estácio da Veiga. (Veiga, 1887, pp. 364 a 366; 1889, pp. 49 a 79; 1891, pp. 80 a 82). Conseguimos, recentemente, ainda reconhecer nas vertentes voltadas a norte da elevação da Cumeada a presença de quatro galerias, assim como na encosta norte do Serro do Pico Alto, onde identificámos poço junto da galeria de mineração. As três minas que Estácio da Veiga menciona em Santo Estêvão, Estrada, Defesa e Lagar, já não têm vestígios desta antiga actividade, no entanto, junto do local da Mina do Lagar pudemos obter várias rochas que terão sido extraídas do interior da mina. (Gomes, 1994, p. 80). Junto da actual estrada nacional 124, ao 38,5 km, na encosta Norte da elevação que acolhe a actual aldeia da Portela, foram recuperadas, nos finais do século XIX, fragmento de estela epigrafada da I. Idade do Ferro, assim como colar de contas em pasta de vidro. (Veiga, 1891, p. 259). Nas proximidades da Aldeia da Amorosa, foram encontrados diversificados artefactos, na sua maioria provenientes das minas de Monterroso e de necrópoles existentes na região, que remontam, provavelmente, às Idades do Bronze e do Ferro. Aqueles objectos terão sido vendidos a comerciante de ferro velho, conforme testemunho do fundador do Museu Arqueológico do Algarve Estácio da Veiga. (Veiga, 1889, p.53; Gomes, 1984, p.6). 34

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As várias necrópoles anteriormente citadas localizam-se a sul do povoado da Amorosa, nos sítios do Benaciate, Zimbreira e Monte Boi. Naquele primeiro local, José Luís Cabrita, nos inícios dos anos setenta do passado século, descobriu, e deu a conhecer ao arqueólogo Caetano de Mello Beirão necrópole onde, tinha identificado duas lápides epigrafadas da Idade do Ferro. (Beirão, 1973, pp. 204 a 207). O segundo sepulcro, igualmente intervencionado pelo citado arqueólogo, não apresentou qualquer espólio. No último local foram dadas a conhecer várias cistas que apresentavam esteios na vertical, tendo sido retirado do seu interior “um treçado e um punhal “, que Estácio da Veiga recolheu de um morador. (Veiga, 1891, pp.80-83). No vale do Bairro do Furador, local a poente da vila de S. Bartolomeu de Messines, foi identificado, nos anos setenta, diverso material cerâmico, fundos de vasilhas, gargalos de ânforas e materiais de alvenaria que teriam pertencido a assentamento agrícola. (Santos, 1972, p.120). No topo de uma pequena elevação junto do anterior local encontra-se o templo cristão de S. Pedro, a onde se atribui a proveniência de cipo de mármore epigrafado, dedicado a Júpiter Óptimo Máximo (Gomes, 1999, pp.134,135). A este templo está associada pequena fonte, que forneceu água às populações residente nas suas imediações. A presença romana na região pode ser ainda justificada com a riqueza mineral das jazidas cúpricas existentes em Santo Estêvão, Cumeada, Monte Rosso e Pico Alto. Esta última elevação ostenta cortas a céu aberto nas suas vertentes voltadas a norte, provocadas presumivelmente por trabalhos de mineração não muito antigos. O mesmo tipo de testemunho pode ser encontrado no lado oposto do monte, no sítio da Horta do Pomar, onde presentemente se pode ainda recolher escórias do produto da mineração. Terá sido nas cercanias deste local que foram encontradas, e vendidas posteriormente a um fundidor, “cunhas” de cobre, nos finais do século XIX. (Veiga, 1891, pp. 56,57).

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Estela Menir da Alfarrobeira (Desenho de Mário Varela Gomes) 36

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Estela das Passadeiras (Desenho de Mário Varela Gomes) Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Fragmento de estela em baixo-relevo, Benaciate 38

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A JÚPITER ÓPTIMUS MÁXIMO EM MEMÓRIA DE LÚCIO ATÍLIO MÁXIMO SEVERIANO, FILHO MODELO DE PIEDADE LÚCIO ATÍLIO ATILIANO E ARTÚLIA SEVERA FILHA DE GAIO COLOCARAM COM LIBRAS DE PRATA (Encarnação, 1984, p. 107)

Base de Estátua a Júpiter Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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2.2 - Os testemunhos medievais Os actuais núcleos urbanos e outros registados na toponímia não são muito numerosos, podendo ser localizados preferencialmente nos afloramentos de arenito vermelho que se encontram bem delimitados, formando estreita faixa que separa os substratos rochosos compostos por xistos e grauvaques do Carbónico Superior, a norte e os calcários dolomíticos do Jurássico Inferior a sul. É na marga arenítica de Silves do Triásico Superior de cor vermelha, que se encontram construídas várias necrópoles, embora mostrando desenvolvimentos desiguais. Registamos a existência tanto de um único sepulcro como de cemitérios que possuem quase duas dezenas de fossas tumulares. Os sítios dos Canhestros, Hortas de Baixo, Forneca, Pedreirinha, oferecem, cada um deles apenas uma sepultura, aberta em fragas de grés vermelho de Silves. A citada primeiramente, apresenta dimensões consideráveis, dado medir 2 m de extensão por 0,45 m de largura máxima e 0,40 m de profundidade máxima, denunciando ser um dos maiores exemplares conhecidos na região. (Gomes, 2002, pp. 339 a 391) As obras do lance da A2, compreendido entre S. Bartolomeu de Messines e Paderne, revelaram na vertente poente da elevação da Portela uma alcaria muçulmana. Recentemente identificada e alvo de trabalhos de emergência em toda a área afectada pela estrada, este aglomerado populacional, mostrou possuir uma dimensão considerável e, a ele associada encontra-se parte da necrópole. (Gomes, 1999, pp.199-201). Esta alcaria parece ter sido abandonada nos finais do Século XIII, porquanto os materiais mais recentes ali exumados inserem -se nesse horizonte temporal. A este da actual aldeia da Portela conseguimos identificar nas cartas cadastrais da propriedade agrícola, á escala 1/2000, o micro-topónimo, Fornalhas, que sugere a existência de fornos nas redondezas. Recordamos a proximidade deste local com o monte da Rocha de Messines ou do Pico Alto onde existem jazidas que forneceram minerais de cobre. Não é conhecido um topónimo muçulmano para o povoado rural da Portela, no entanto para S. Bartolomeu de Messines o cruzado anónimo que participou no assédio à medina de Silves, em 1189, refere a queda em poder conveniente do castelo de Mussiene, que insinua fortemente ser o topónimo de Messines. (Lopes, 1844, p. 42). A região apresenta fertilidade agrícola e parece possuir capacidade para acolher vários aglomerados populacionais, onde os seus topónimos ancestrais se dissiparam no tempo.

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A leitura de fontes árabes tem revelado mais geónimos como, recentemente, a alcaria denominada “Amrūša”, que sugere ser o topónimo muçulmano da aldeia da Amorosa, perto de S. Bartolomeu de Messines. (Khawli, 2002, pp.21 a 38). Em Vale Fuzeiros as necrópoles aí existentes, Forneca, Carrasqueira, Pedreirinha e Amorosa, mostram as suas sepulturas construídas igualmente nos maciços de grés de Silves. As dimensões destas fossas tumulares variam ente 1,50 m e 1, 85 m de comprimento por 0,45 m e 0,70 m de largura e 0,30 m a 0,50 m de profundidade máxima. As fragas rochosas onde foram abertos os sepulcros apresentam-se, na sua maioria, inclinadas para a pendente sul. Presentemente muitos destes túmulos são aproveitados, pelos residentes locais, como bebedouros dos animais que criam nas quintas limítrofes. A nascente da vila de S. Bartolomeu de Messines, no sítio do Castelo, regista-se a existência de necrópole composta por quatro sepulcros. Estácio da Veiga menciona este cemitério formado por muitas sepulturas, algumas desta com um metro de comprimento. (Veiga, 1891, p. 82). Actualmente nenhum dos sepulcros ali identificados detém as dimensões que Estácio da Veiga afirma, pelo que consideramos, seriamente, a possibilidade das fossas tumulares avistadas por aquele arqueólogo terem sido destruídas pela indústria de extracção de arenito, que se apresenta muito perto das sepulturas existentes.

2.3– A presença Cristã. No sítio de Santo Estêvão existiu pequena ermida cujo orago gerou o topónimo mencionado. Foi-nos transmitido, pelos habitantes da região, a notícia da descrição de edifício que poderá corresponder a templo medieval cristão, destruído em meados dos anos sessenta do século XX. A ermida apresentaria planta de forma rectangular, composta por uma única nave, orientada norte-sul. A fachada principal seria formada por portal de vão recto, encimado por gelosia circular. Não foram recolhidos quaisquer artefactos no local, pois as lavras sucessivas do terreno onde este templo se encontrava implantado deverão ter dissipado e destruído a maioria dos materiais. O templo pertencia a um grupo de dez locais de cultos que o cabido de Silves Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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dispunha para professar a fé cristã na freguesia e que estavam distribuídos pelas seguintes devoções: Santo Estêvão, N. Senhora dos Homens, Santo Amaro, São Luís, São Brás, São Miguel, N. Senhora dos Mártires e São Pedro, Misericórdia e a Sé. Todos estes templos encontravam-se em actividade no início do século XVIII, tendo sofrido a ruína com o abalo sísmico de 1755, chegando aos nossos dias somente os últimos quatro acima mencionados. (Silva, 1712, p.342). No sítio do Penedo, em Vale Fuzeiros, emerge fraga de grés de Silves, onde se encontram insculpidas vários motivos, nomeadamente círculos e covinhas. Na base desta formação rochosa encontra-se cavidade ampla que poderia abrigar uma pessoa e onde foram recolhidas lamelas de sílex, pelo arqueólogo Mário Varela Gomes. Ainda junto deste afloramento foram descobertas, pelo citado arqueólogo, um numisma medieval e vários fragmentos de telhas que se encontram dispersos em redor do afloramento referido. Os casais agrícolas seriam compostos por uma única habitação, onde residiria uma família, que laboraria nos campos em redor e vigiavam de perto as suas culturas. No entanto estavam igualmente perto de um povoado rural, não muito grande, onde poderia, com facilidade, reunir toda a população existente na região. A vila de S. Bartolomeu de Messines possui actualmente quatro templos cristãos, ermida de S. Pedro a noroeste da povoação, Senhora da Saúde a sul, S. Sebastião e a Igreja Matriz no centro da vila. A dois quilómetros para norte daquela localidade, junto da confluência da ribeira do Gavião com a ribeira de Arade, encontra-se a ermida de Santa Ana. Está orientada noroeste sudoeste.

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Igreja Paroquial de S. Bartolomeu de Messines.

Necrópole da Forneca Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Igreja de S. Sebastião, S. Bartolomeu de Messines

Igreja da Nossa senhora da Saúde, Monte de S. José, S. Bartolomeu de Messines 44

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2.4 – As Vias de Comunicação. Parece ser consensual a existência no Período Romano de uma via longitudinal no Algarve, que teria início no Promontorium Sacrum, Sagres e culminaria em Castro Marim Baesuris, ele ligava por estrada os principais aglomerados populacionais que possuíam portos marítimos, Lagos Lacobriga, Alvor Ipses, Portimão Portus Hannibalis, Alcantarilha, Cerro da Vila em Vila Moura, Faro Ossonoba, e Tavira Balsa, atingindo finalmente, já no curso do Guadiana Castro Marim Baesuris. (Mantas, 1997, pp. 315 a 318). Um testemunho a concordar com a manifesta possibilidade da existência desta via terrestre é a presença do marco miliário de Bias do Sul, nas imediações da Fuzeta, no concelho de Olhão. Não seria este itinerário certamente o mais utilizado, pois a navegação de cabotagem, estaria enraizada há séculos e permitiria atingir outros povoados, também estes importantes, por via fluvial, como no caso do Guadiana que seria navegável no período romano até Mértola Myrtilis e o Arade possibilitaria ultrapassar Silves Cilpes, na progressão para o interior da Serra de Silves. (Mattoso, 1993, pp. 255 a 257). A rota marítima seria naturalmente a mais utilizada tendo em vista chegar ás cidades portuárias do actual Norte do País. No entanto, são descritas importantes vias terrestres, que teriam início na capital da Lusitânia Augusta Emérita (Mérida). O caminho saído da anterior capital e se dirigia para sul aportaria a Évora Ebora, de onde largaria um outro na direcção para Beja Pax Iulia, e rumava a Mértola Myrtilis. Muito provavelmente a partir deste ponto poder-se-ia privilegiar o barco como meio de transporte para chegar a Castro Marim Baesuris. (Mattoso, 1993, pp.255 a 257) No entanto, fontes escritas como o Itinerário Antonino e a Cosmografia do Anónimo de Ravena, parecem não deixar dúvidas quanto á existência de estrada ao longo do Guadiana que ligaria Castro Marim (Baesuris) a Mértola (Myrtilis), dirigindo-se depois para Beja (Pax Iulia). (Mantas, 1997, p.315). Uma outra via de acesso ao interior serrano algarvio é referida nas anteriores fontes literárias e teria o seu início em Castro Marim, dirigia-se para Balsa e em seguida para Faro, de onde avançariam dois importantes caminhos, um para ocidente e outro para norte rumo a Milreu, S. Brás de Alportel, Barranco do Velho, Almodôvar, aportando a Beja (Pax Iulia). (Mantas, 1997, p.315) O curso da serra do Caldeirão seguiria, muito provavelmente, ao longo dos vales das ribeiras que sulcavam o relevo até atingir os terrenos planos do Sul. Temos bem patente esse facto na actual estrada de S. Brás de Alportel para Barranco do Velho, que segue Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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ao longo da ribeira de Alportel. A progressão terrestre para o interior parece não se limitar aos anteriores caminhos, um outro possível itinerário teria a sua origem na vila rústica de Milreu, passava por Loulé, Salir, Alte, S. Bartolomeu de Messines, S. Marcos da Serra e Garvão (Arandis). (Mantas, 1997, p.318). Em S. Marcos da Serra, seguindo o curso do rio Odelouca, poder-se-ia com facilidade, encontrar o caminho para Almodôvar, em direcção a Beja (Pax Iulia), rumando no sentido oposto, perto de Benafátima encontrar-se-ia as ribeiras que vão alimentar o rio Mira e seguindo-as confluía-se em uma outra estrada que teria o seu começo em Sagres (Promontorium Sacrum) e seguiria para Alcácer do Sal (Salacia), aportando à margem sul de Lisboa (Olisipo). O anteriormente mencionado caminho, assim como o longitudinal do Algarve, seriam importantes na peregrinação ao Extremo Ocidente da Península, onde se prestaria homenagem às divindades pré-romanas e romanas. (Gomes, 2002, p.157). A rede viária romana no actual território algarvio seria por certo pouco desenvolvida, subordinando-se a ligar entre si as vilas rústicas existentes no território e as explorações mineiras situadas no limiar norte do Barrocal Algarvio, (Mattoso, 1993, pp.255 a 257), onde emergem os evaporitos de Silves que contêm minerais de cobre e ferro. (Domergue, 1990. p. 129). Parece ser o que se passa na região de S. Bartolomeu de Messines onde a exploração mineira do Pico Alto, Cumeada e Santo Estêvão, seriam muito provavelmente embarcadas perto deste último local, num porto fluvial onde chegariam barcos para recolher o fruto da indústria de mineração. A via terrestre seria sempre possível e importante para ligar os povoados do interior. Santo Estêvão apresenta também fragmento de uma via que poderá ser medieval ou até mesmo anterior. Actualmente o que resta deste trilho são os muros que o delimitam e o seu traçado sinuoso, mas com um piso de tapete de alcatrão. A facilidade de comunicação marítima e fluvial no Algarve facultaria uma rápida deslocação ao longo da costa oceânica. A progressão para o interior seria efectuada pela teia de cursos de água que rasgam o território de norte para sul. Certamente que, durante o Período Romano, a ribeira de Aljezur seria navegável até um povoado existente no interior desse curso de água, o mesmo sucedendo com a ribeira de Lagos, também a actual ribeira de Alvor e de Odiáxere facultariam muito provavelmente uma ascensão fluvial até às faldas da serra de Monchique, ocorrendo possibilidade análoga com a ribeira de Boina, que deveria permitir chegar pequenas embarcações até ao lugar de Porto de Lagos. Este último sítio parece ser um 46

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encontro natural de vias, pois chegaria aqui quem tivesse partido de Silves ou Portimão, desejando seguir para as importantes termas romanas de Monchique (Mantas, 1997, p.318). O rio Arade, como mencionámos anteriormente, possibilitaria a subida do seu curso até Santo Estêvão, aí sendo possível tomar o caminho da Cumeada, Torre, Calçada e chegar á aldeia da Amorosa. Esta povoação dista a três quilómetros de S. Bartolomeu de Messines que constitui local de reunião de vias do interior da serra algarvia, pois ali chegavam os caminhos procedentes de Loulé, Alte, São Brás de Alportel, Salir, e as estradas com origem na costa marítima, de Vila Moura (Cerro da Vila), Paderne e Portela. Este último itinerário, terá sido, muito provavelmente implementado já na Idade Média. Outras vias não menos importantes, na maioria sem qualquer registo documental, seriam os caminhos de ferradura, transitados por almocreves que se dirigiam para o seio da Serra Algarvia, transportando relevantes fardagens para as gentes aí instaladas. (Gomes, 2002, p.159). Os pastores seriam, por certo, também utilizadores destas vias na transumância do gado, na busca de pastagens frescas, percorrendo longas jornadas, sem se afastar demasiadamente das fontes de água que manam naturalmente das vertentes rochosas. Os pequenos cursos de água da região em torno de Silves, incluindo a área de S. Bartolomeu de Messines, apresentam níveis aquíferos muito baixos, quando a pluviosidade é escassa. Mesmo nos períodos de Inverno, quando a precipitação é mais elevada, estes não permanecem muito tempo com estados elevados de água. Estas ribeiras tornam-se carreiros ideais para penetrar no interior da serra ou descer os seus cursos até aos importantes centros de comércio. (Gomes, 2002, p.159). Uma outra estrada, também implementada durante a permanência islâmica no território algarvio, é o caminho que se dirigiria de S. Bartolomeu de Messines, para Algoz e dali alcançando a antiga via da costa do Algarve. Esta via oferece, perto de S. Bartolomeu de Messines, no sítio de Monte Ruivo, importante troço calcetado, e junto do ribeiro Meirinho, possui ainda estruturas do que poderá ter sido uma ponte, de que se desconhece a cronologia. (Gomes, 2002, p.159) A continuidade destes itinerários parece ter atravessado toda a Idade Média e Mohamed-al-Edris, ao assinalar as milhas que separavam os diferentes núcleos urbanos no século XII (Gomes, 2002, p.157), relata distâncias que ao percorrermos as estradas existentes no início do século XX não apresentam grandes alterações de extensão em relação às propostas Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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pelo geógrafo Muçulmano. Pressupomos, desta forma, que as ligações terrestres entre localidades no Período Moderno, não tiveram grandes alterações, chegando a manter os trajectos antigos até aos alvores do século XX.

Fragmento de Caminho Medieval. 48

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Fragmento de Caminho Medieval Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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3- Povoados.

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3.1 - Prováveis sistemas defensivos. 3.1.1 – Cerro do Penedo Grande, S. Bartolomeu de Messines A actual vila de S. Bartolomeu de Messines, dada a sua localização estratégica entre o Baixo-Alentejo e o Algarve assim como a proximidade da cidade de Silves, teria que possuir dispositivos defensivos que não só protegessem a população residente como, de igual modo, integrassem pelo menos uma parte a defesa desta zona do Algarve. A vila de Messines ocupa a base sudeste de um monte apelidado de Penedo Grande, com 247 metros de altitude. Esta elevação apresenta formação geológica de arenito vermelho, grés de Silves, com as seguintes coordenadas cartesianas, X-13692,87 Y-267647,91 Z 150 m. O primeiro testemunho que se reconhece sobre a existência de fortificação na actual vila de S. Bartolomeu de Messines encontra-se no texto do cruzado anónimo, sobre a conquista de Silves aos muçulmanos em 1189, “Relação Da Derrota Naval, Façanhas, E Successos Dos Cruzados Que Partirão Do Escalda para a Terra Santa no Anno de 1189”, obra traduzida e anotado pelo académico João Baptista da Silva Lopes em 1844. O texto em causa refere os castelos que caíram na posse dos cristãos após a tomada de Silves, e são os seguintes: “Carphabal, Lagus, Alvor, Porcimunt, Munchite, MontaAgut, Caboiere, Mussiene, Paderne”. (Lopes, 1844, p. 42). A existência de uma estrutura amuralhada parece evidente no texto antes citado, se aquele nome conforme pensamos se referir a Messines. No entanto, actualmente os vestígios da presença de uma construção desta natureza são praticamente nulos, pois não se consegue reconhecer na malha urbana da vila de Messines traço algum da presença de panos de muralha ou de torres que pudessem evidenciar um sistema defensivo. No cimo da elevação onde Messines encosta, Penedo Grande, registámos a presença de largos muros que suportam as terras, criando pequenas plataformas horizontais onde se praticou a agricultura de sequeiro, estando actualmente o espaço ocupado por sobreiros. O limite superior da encosta mostra um pano de muro em pedra com cerca de 0,80m de espessura, uma altura média de 1,20m e um comprimento que vai além das três dezenas de metros. A extremidade sudoeste do referido muro ostenta um outro pano, perpendicular a

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este, que desce a encosta e oferece dimensões idênticas às anteriormente mencionadas. Observámos a junção destes dois muros, correspondem a larga parede, medindo 2,50m de espessura, 3 metros de comprimento e 1,60m de altura e formando plataforma, com 7,50m², que poderia suportar pequena torre atalaia com alguns metros de altura. Será provavelmente esta a estrutura a que João de Almeida se refere, pois está situada no cimo da dita elevação a poucas centenas de metros para nordeste da actual povoação de S. Bartolomeu de Messines. (Almeida, 1947, pp. 507,507; Gomes, 2002, p. 126). A discrepância entre uma torre atalaia no cimo do monte do Penedo Grande e um castelo que terá sucumbido ao domínio cristão em 1189, só se poderá compreender com a necessidade de valorização da força dos cavaleiros cruzados que participaram no assédio à cidade de Silves, ou então o relator do assédio a Silves terá confundido o local com outra fortaleza. Como referimos anteriormente, a vila de Messines não mostra a presença de vestígios de estruturas pertencentes a uma fortaleza, panos de muralhas ou torres. No entanto, a actual malha urbana encerra espaço semicircular junto da ermida de S. Sebastião, está situada muito próximo da estrada principal que atravessa o interior da vila, onde pensamos que a forma mencionada foi adquirida devida à presença de remoto sistema amuralhado que ao longo dos anos terá sido absorvido pela renovação urbana da vila. Situação análoga a esta, mas que conserva ainda parte das muralhas da sua fortificação é reconhecida na cidade de Loulé. Podemos escrutinar a forma semicircular da ala ocidental do núcleo antigo da referida urbe, onde se localiza o encontro de duas importantes vias, a primeira com origem em Vila Moura, (Cerro da Vila), e outra que partiria do Castelo de Paderne e chegaria ao encontro da anterior, junto das muros da defesa medieval de Loulé. À povoação de S. Bartolomeu de Messines confluem três importantes vias de comunicação, a primeira com origem na cidade de Silves, seguiria a margem direita do Rio Arade até à antiga ermida de S. Estêvão, que já não subsiste, atravessaria a região que divide o Barrocal e a Serra, pelas elevações da Cumeada e chegaria a S. Bartolomeu Messines onde partiria para a serra do Caldeirão, passando por Alte e Salir e atingindo a cidade de Loulé. O segundo itinerário tem o seu início no litoral, junto da vila de Alcantarilha, passa pelo centro rural da vila de Algôs e seguiria em direcção a norte, para o interior da Serra Algarvia, para o importante Castro da Cola. A última rota, não menos importante, é a que teria

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origem em Albufeira ou Cerro da Vila, Vila Moura, passaria pelo castelo de Paderne e conduziria à Portela de Messines. Chegando a S. Bartolomeu de Messines tomaria aí o curso interior da Serra, passando por S. Marcos da Serra, Benafátima, até ao Castro da Cola. São Bartolomeu de Messines era, pois, local de encontro de vias terrestres com origem tanto no Ocidente como no Oriente e no Norte ou no Litoral Algarvio, situação que não é de estranhar, pois é a norte daquela vila que se encontra extenso vale, orientado noroeste – sudeste, que divide a Serra de Monchique e a Serra do Caldeirão. O vale apresenta suaves declives e elevações pouco acentuadas, permitindo assim jornadas menos penosas para os viajantes e populações autóctones. 3.1.2 - Cerro do Castelo. Nas proximidades de S. Bartolomeu de Messines, para oriente, junto das actuais estradas nacionais 124, Silves - Alte, e 264 Lisboa - Algarve existe uma elevação com 148 metros de altitude que detém o topónimo de Castelo e que mostra as seguintes coordenadas cartesianas: X-12357,39

Y-268083,40 Z152m.

O geónimo referido poderá ter sido adquirido devido à presença de estrutura defensiva. Todavia, presentemente não se reconhecem testemunhos daquele. Identificamos, naquela necrópole com sepulturas abertas no substrato rochoso, de arenito vermelho, que trataremos em capítulo próprio. A indagação pelo lugar tentando escrutinar estruturas que denunciassem a presença de disposições construtivas semelhantes a muros espessos ou a restos de edificações quadrangulares que pudessem indicar a presença de atalaia também não se mostrou frutífera. Toda área do monte mostra intensa florestação e foi utilizada na agricultura de sequeiro, efectuada continuamente até à actualidade. Não descoramos a hipótese desta elevação ter aquartelado a presença de pequena torre atalaia, com o objectivo de controlar o cruzamento das vias que se dirigiam a Loulé e Baixo-Alentejo. Próximo do local corre o ribeiro Meirinho e os vales férteis que o ladeiam, podendo ser controlados a partir da elevação mencionada. 3.1.3 - Cerro Agudo. Localizado a dois quilómetros para noroeste de S. Bartolomeu de Messines, atinge a altitude de 156 m, e detém as seguinte coordenadas cartesianas X-15676,74 Y-265862,43 Z 169 m. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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O local não apresenta qualquer plataforma horizontal no seu topo que pudesse suportar uma grande edificação amuralhada, apesar disso é mencionado pelo cruzado anónimo como um dos castelos que se terá prostrado às mãos dos cristãos em 1189. (Lopes, 1844, p. 42). Em todos os lados da encosta do monte são visíveis inúmeros blocos de arenito vermelho aparelhados que sugerem pertencer a edificação. No entanto, pequena área superior da elevação não suportaria mais do que uma torre atalaia. A situação estratégica deste morro permitiria controlar a estreita passagem para sul, em direcção a Messines. Este caminho teria origem nos diversos casais agrícolas instalados junto dos cursos de água do Arade e do Odelouca, que correm um pouco mais a norte da actual elevação do Cerro Agudo. Ainda neste local a Professora Doutora Rosa Varela Gomes recolheu, em 1998, diversos fragmentos cerâmicos de origem muçulmana, facto que reforça o fundamento da presença de dispositivo militar no sítio. (Gomes, 2002, p. 139). Não podemos deixar de concordar com as constatações efectuadas pela outrora citada, sobre a excessiva valorização dada pelo cruzado ao dito local ou então este último referia-se a fortificação que não se localiza nesta região.

3.1.4 - Santa Ana. O sítio de Santa Ana localiza-se na confluência da ribeira do Gavião com a ribeira de Arade, a 3 quilómetros para noroeste da vila de S. Bartolomeu de Messines, com as coordenadas geográficas X-14544,45 Y-265071,30 Z 119 m. O local é guardado por um templo cristão, dedicado a Santa Ana, capela que apresenta arquitectura eclesiástica do século XVII, orientada este-oeste apresentando a austeridade de comunidade rural pouco abastada. O monte onde assenta a capela apresenta a uma dezena de metros para norte esporão que se eleva sobre a confluência dos cursos de água citados. Naquela pequena plataforma podemos reconhecer vários blocos de arenito vermelho e de xisto aparelhados que sugerem ter pertencido a edificação. A plataforma não possui, a nosso ver, dimensões para sustentar mais do que uma pequena estrutura com três metros de lado. Numa averiguação mais atenta do local, pudemos recolher fragmentos de cerâmica contemporâneos. A localização estratégica deste promontório facilita o controlo do baixo curso da ribeira do Gavião, assim como todo o vale por onde este serpenteia, permitindo também 54

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conferir todo o movimento que se faria ao longo do alto Arade e o caminho que se dirigia para norte, em direcção ao interior da Serra do Algarve. A relevância deste local para as populações autóctones prende-se com o período de maior pluviosidade na região, pois o transbordar das ribeiras antes mencionadas submerge, ainda hoje, grande parte do vale entre os cursos de água do Arade e Gavião, impedindo o trânsito entre as suas margens, durante vários dias.

3.1.5 - Cerro da Vilarinha. A extremidade noroeste da pequena cordilheira da Vilarinha é composta por uma elevação que atinge 129m de altitude, com as coordenadas cartesianas X-18963,83

Y-

269131,71, Z 129 m. Este local domina todo o vale de Vale Fuzeiros, a norte e o vale da Cumeada a sul, assim como todo o trânsito que se faria em direcção à cidade de Silves, das populações oriundas do interior da Serra Algarvia. O topo da elevação apresenta grande quantidade de blocos de xisto e de arenito, aparelhados e, ainda, se observa alinhamento de blocos com cerca de 6m de comprimento nos restantes lados. Não conseguimos identificar o que resta da edificação devido à intensa vegetação e a anteriores lavras que poderão ter destruído os últimos vestígios daquela. Podemos propor a existência neste local de torre de vigia que controlaria o acesso a Vale Fuzeiros, vindo de sudoeste. Não conseguimos no referido espaço recolher qualquer fragmento de cerâmica ou outro testemunho que enquadre a edificação num período cronológico.

3.1.6 - Torre. O sitio da Torre ocupa o espaço nordeste da cordilheira do cerro da Cumeada, detém uma altitude de 210 metros, com as coordenadas cartesianas, X-17636,44

Y-269613,58 Z

210 m. O topónimo terá sido adquirido pela provável existência de uma torre atalaia, de que actualmente não subsiste qualquer vestígio. Tal facto deve-se a terraplanagem efectuada há uma dezena de anos atrás para plantar uma horta de citrinos que transformou a suave encosta sul em espaço de socalcos. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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A localização estratégica deste lugar prende-se com o caminho medieval que percorria toda a cumeeira das elevações da Cumeada e que ligaria a cidade de Silves a S. Bartolomeu de Messines. Uma outra faculdade táctica deste local era controlar todo o vale a norte, que detinha excelentes terrenos para a prática agrícola. A prospecção do local mostrou-se infrutífera pois não conseguimos recolher algum elemento que evidencie a presença da antiga estrutura ali edificada.

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3.2 - Povoados sem sistemas defensivos 3.2.1 - Portela. A alcaria da Portela ocupava, a 200m de altitude a extremidade oeste da elevação dos Cômoros da Portela, que atinge 218 metros de cota e tem as coordenadas cartesianas X10799,30;

Y-269188,26, Z 200m.

O local foi identificado pelo arqueólogo Mário Varela Gomes, em 1993, que recolheu variado espólio cerâmico de origem muçulmana e detectou estruturas habitacionais que afloravam à superfície (Gomes, 2002, p. 152). Presentemente parte deste antigo espaço habitacional já não persiste, o traçado da actual auto-estrada A2 impôs a destruição de fracção do povoado. No ano de 2001 a área em apreço foi alvo de uma intervenção arqueológica de salvamento onde se documentou e registou as estruturas que foram postas a descoberto, assim como os espólios exumados. Os trabalhos estiveram a cargo da empresa de arqueologia E.R.A., que colocou a descoberto estruturas habitacionais, e catorze silos de aprovisionamento. Num dos compartimentos habitacionais foi exposta área coberta com escórias metalíferas e ali se exumou, também, variadíssimo espólio cerâmico e metálico. Descobriram, ainda, parte de necrópole, com nove sepulcros de inumação. (Relatório de escavação – E.R.A. – Junho de 2001). Os espólios cerâmicos mostram uma continuidade de povoamento que terá tido origem entre os séculos VII – VIII, coincidindo com populações autóctones que preservaram as influências da cultura itálica, antes estabelecida no actual território ibérico, e o início da ocupação islâmica da actual região peninsular. O fim ou a deslocação deste povoado terá ocorrido entre os séculos XII – XIII, em pleno período de instabilidade da região devido à proximidade cristã, que já se fazia sentir. (Pires e Ferreira, 2003, pp.303 a 306). A área do povoado intervencionada, possuía compridos muros de pedra orientados, norte – sul, onde se adossavam outros que se estendiam perpendicularmente aos anteriores, mostrando, assim, compartimentos pertencentes a diversas habitações. A planta do habitat evidencia um plano ortogonal, com uma rua ou corredor entre compartimentos, orientado este – oeste. As maiores paredes das divisões habitacionais encontravam-se a sul e norte, mostrando claramente orientação construtiva este – oeste. O interior dos compartimentos habitacionais continham catorze silos, abertos no substrato rochoso, alguns ainda conservando a tampa de arenito vermelho. Podemos também verificar que três dos silos identificados foram

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selados pelos muros pertencentes a estruturas habitacionais, que se sobrepunham a estas estruturas de aprovisionamento, denunciando o abandono dos mesmos, facto que poderá ter ocorrido durante um período de renovação ou ampliação das habitações. (Relatório de escavação – E.R.A. – Junho de 2001). Num espaço que parece ser o interior de uma dependência residencial foi registada a presença de escórias metalíferas, conforme já referimos, o que poderá pressupor a existência de oficina de fundição. Infelizmente só parte deste anexo foi alvo de intervenção arqueológica, ficando o restante selado. O facto da presença de escórias metalíferas na zona não será estranho, pois a 2 km deste lugar encontra-se a grande mina do Pico Alto, que terá sido explorada desde, pelo menos, do Período Romano. (Veiga, 1889, pp. 45 a 58). Esta indústria extractiva terá tido, muito provavelmente, continuidade durante grande parte da Idade Média e foi, igualmente, documentada laboração nesta jazida nos finais do século XIX e inícios do XX, conforme documentam os livros de registo de minas existentes na Câmara Municipal de Silves. Um pouco mais a norte do povoado, na área descendente da encosta, foi também intervencionada necrópole que contava com nove sepulcros, muito alterados em consequência das práticas agrícolas. Só foi explorada a área deste cemitério afectada pela referida auto-estrada e, registam-se as estruturas funerárias e os espólios osteológicos existentes. A necrópole está situada um pouco abaixo da cota dos 200 metros de altitude, exposta a norte, voltada para o vale onde correm várias linhas de água que desaguam no ribeiro Meirinho. Os nove sepulcros de inumação estariam todos orientados sudoeste – nordeste, estando os corpos depositados horizontalmente, com o crânio colocado na extremidade sudoeste e a face voltada para Meca. (Relatório de escavação – E.R.A. – Junho de 2001). A norte do povoado podemos encontrar várias fontes de água, que nascem das vertentes rochosas das elevações dos Cordeiros de Messines e da Rocha de Messines. No vale a água aparece a pouca profundidade ou corre à superfície pelos pequenos cursos de água que convergem para o Barranco do Ribeiro Meirinho. 3.2.2 - S. Bartolomeu de Messines S. Bartolomeu de Messines esta assentada na base da elevação, apelidada de Penedo Gordo, que detém 247m de altura. A localização geográfica cartesiana da vila de Messines é, X-13613,37; Y-267649,33; Z 136 m. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Povoações rurais situadas no interior da serra algarvia, detentores de vastas áreas de terrenos férteis e produtivos, recursos geológicos e minerais, são parcos ou inexistentes os documentos escritos sobre a sua administração, assim a arqueologia poderá dar um contributo de relevo para o esclarecimento da origem destes habitats, escoamento de excedentes produtivos, rotas de comércio e de peregrinação, importância que desempenhavam num vasto território administrado pela grande urbe medieval que era Silves. O primeiro testemunho da ocupação humana, até ao momento, registado na povoação de São Bartolomeu de Messines, é a presença de um santuário romano dedicado à divindade itálica, Júpiter, conhecido através de base de estátua epigrafada que foi mandada recolher, no século XVIII pelo então Bispo de Beja, Frei Manuel do Cenáculo Villas Boas, (Santos, 1972, pp. 117 a 119). A localização do santuário é desconhecida, nem se reconhece em todo o perímetro urbano da vila vestígios de edificações tão remotas. As quatro obras eclesiásticas existentes no interior e no exterior da actual vila também não oferecem qualquer elemento do Período Romano. A ausência de textos islâmicos é um facto que teremos de contornar. Quanto aos manuscritos cristãos, são fugazes em menções às personalidades residentes, ali, número de vizinhos ou rendas régias arrecadadas nas povoações do interior rural algarvio. Lembramos que em 1266 D. Afonso III, quando atribui carta de foral à cidade de Silves, fica detentor de todas as moagens e fornos de pão do termo de Silves, assim como de inúmeras propriedades que os muçulmanos possuíam até então,”... conservo para mim e todos os meus sucessores, perpetuamente, todos os fornos de pão ... construídos e a construir ... os moinhos de Odelouca e todos os reguengos ... e todos os figueirais que os sarracenos de mim têm”. (Andrade e Silva, 1993, p. 23). Apenas chega aos nossos dias o rol de bens reais do último quartel do século XV, “Livro do Almoxarifado de Silves” datado de 1474, que documenta o foro de herdade junto da ribeira do Gavião e courela de vinha em Messines “aldea de dona Orraca homde mora Lourenço Rodriguez”. (Domingues e Leal, 1984, p. 69). Nos finais da centúria seguinte, o tombo das rendas da Rainha documenta a existência de um forno de cozer pão no lugar de Messines, que pagaria 100 reis de renda no dia de Santa Maria, e estava aforado a “Joane Mendez e Inês Eanes e fora comprado a André Beiço”. (Corte-Real, 1998, p. 31).

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Como podemos constatar a parca referência à actual vila, nos documentos antes citados, demonstra a escassa influência que a grande cidade de Silves teria sobre os seus termos limítrofes e, também, a módica fiscalização que a grande cidade executaria sobre bens que terão sido arrolados à coroa portuguesa em 1266, quando da doação do foral afonsino à cidade de Silves. Teremos que chegar ao início do século XVII, 1607, para conhecermos a descrição que o licenciado Henrique Fernandes Sarrão faz “do lugar de São Bartolomeu de Messines, três léguas da cidade de Silves. È de sessenta moradores...”, comenta ainda aquele autor que em redor da actual vila de S. Bartolomeu de Messines os lugares de Gregórios, Cortes, Amorosa, Aldeia Ruiva, Portela e Messines, este último topónimo refere-se a Messines de Cima ou Messines de Baixo ou ainda a ambos, têm trinta, doze, quarenta, vinte, quinze e catorze moradores respectivamente, que totalizam cento e vinte nove residentes. Acrescentando os sessenta de S. Bartolomeu de Messines, teremos cento e oitenta e nove habitantes nesta área. Relembramos que no mesmo texto, Henrique Fernandes Sarrão, comenta que a cidade de Silves teria cerca de duzentos vizinhos. (Guerreiro e Magalhães, 1983, pp. 153 a 158). Outros lugares terão ficado por contabilizar os seus habitantes, mas mesmo assim constata-se que os lugares mencionados na freguesia de S. Bartolomeu de Messines, são próximos e estendem-se ao longo da cordilheira de arenito vermelho que atravessa toda a região. O conjunto de todas estas povoações detinha tantos habitantes como a cidade que administrava grande parte do território do Barlavento Algarvio, Silves. Como referimos anteriormente, Messines parece ter tido algum sistema defensivo que terá sucumbido ao poder cristão em 1189. Quanto à hipótese deste povoado possuir um dispositivo de protecção das populações aí residentes, não seria incompatível, pois parece que muitas aldeias agrícolas poderiam possuir um recinto amuralhado, para refúgio em caso de perigo, (Mazzoli-Guintard, 2000, pp. 21 a 64). No território administrado pela antiga capital muçulmana da Andaluzia, Granada, no actual distrito de Loja, foram documentadas por António Malpica Cuello duas alcarias que apresentam torres atalaias e fortificações que protegeriam as populações locais. A defesa de Campo Abor não se encontra numa localização elevada, pelo contrário, ocupa a base de uma elevação onde ainda ostenta uma torre com vários metros de altura e restos de edificações

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em seu redor. O povoado de Pesquera seria defendido pela chamada torre Pesquera, que mostra uma forma semicircular e a dado passo encosta a uma estrutura amuralhada. Este povoado e pequeno castelo com uma torre atalaia situados ainda no distrito ocidental de Loja, no curso do rio Pesquera, afluente do rio Genil, protegeria o importante caminho de Zagra a actual Fontes Cesna. Junto desta edificação localizava-se necrópole escavada na rocha que mostra cerca de vinte sepulcros tardo-romanos ou alto medievais. (Cuello, 1996, pp. 39 a 48). Ao analisar a malha urbana de Messines vários aspectos se destacam, o primeiro é um núcleo semicircular que poderá denunciar a remota existência de antigo sistema amuralhado com meio hectare de área. Este local poderia proteger um senhor terra-tenente que receberia os rendimentos da exploração da terra, como parece transmitir o mencionado livro do Almoxarifado de Silves, a povoação pertenceria a uma dignitária local, “Meçines aldea de dona Orraca”, Em torno desta área central desenvolve-se, em pequenos alvéolos, os bairros que se desdobram ao longo de caminho que passa adjacente ao núcleo central. O modelo de desenvolvimento urbano apresentado tem paralelos em pequenos povoados rurais, onde o estabelecimento de estrutura centralizadora irradiaria, posteriormente, em pequenos conjuntos habitacionais em seu redor. Um segundo aspecto é a nomenclatura atribuída às ruas que atravessam essa área específica, como a Rua do Rocio, orientada a sudeste. Aquela, actualmente, termina frente ao antigo cemitério da vila, que detém no seu interior uma interessante capela de planta quadrangular coberta por abóbada hemisférica. A este local confluía ainda a rua central da vila e os importantes caminhos vindos do norte, interior de Serra Algarvia e de este da Serra do Caldeirão. Este ponto estava destinado à realização dos mercados semanais de animais e de uma grande variedade de outros géneros, até há anos atrás. 3.2.3 - Amorosa A aldeia da amorosa localiza-se a três quilómetros para oeste de S. Bartolomeu de Messines com as coordenadas cartesianas X-16746,08; Y-267814,81; Z 173 m. A noroeste e a sudoeste da aldeia localizam-se duas importantes elevações, Monte Rosso e Gralheira, que detêm 250 metros e 281 metros de altitude, respectivamente. O primeiro morro é mencionado

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pela sua fertilidade mineral, onde Estácio da Veiga relata a existência de mina e a descoberta de vários objectos de cobre (Veiga, 1887, p. 364; 1889, p. 55). Actualmente ainda são visíveis as cortas a céu aberto dessa actividade que acarretou deslizamentos de grandes massas de terra e rocha para a base do monte, provocando assim, profundas alterações na geografia da elevação. A nordeste da localidade encontra-se extenso vale com solos de classe A que, segundo as Cartas de Capacidade de Uso do Solo do Barlavento Algarvio, de 1959, apresentam elevada aptidão agrícola para a cultura cerealífera. A povoação da Amorosa assenta em terrenos com suave declive, orientado a sudeste à altitude de 162 metros. O núcleo populacional mostra um ordenamento urbano rural em que as habitações familiares são compostas por quintais murados impondo organização viária do povoado na sua maioria orientada sudeste – noroeste, que cruza com a via de acesso ao interior da Serra Algarvia. Devido a este tipo de traçado é difícil sugerir um ponto central de onde terá emergido o desenvolvimento do núcleo antigo da localidade, já que o sector superior da elevação, que mostra plataforma horizontal, se encontra totalmente desabitado e ocupado pela prática agrícola. A análise mais atenta deste último local não revelou testemunhos mais antigos que os contemporâneos. Relatos medievais sobre estas remotas áreas rurais são evidentemente escassos ou praticamente nulos, excepto se algum personagem oriundo destes meios rurais tivesse adquirido, em vida, um alto estatuto na sociedade da época e a sua proveniência fosse mencionada, teríamos assim conhecimento da existência destes pequenos locais habitados. É o que parece ter acontecido com a aldeia da Amorosa num manuscrito árabe Al-Takmila do século VIII – IX, onde é referida a origem de figura de relevo na sociedade islâmica da época, como sendo da alcaria da “Amrūša” que sugerimos tratar-se da actual aldeia da Amorosa. (Khawli, 2002, pp.21 a 38). A ocupação destas áreas rurais pelos povos muçulmanos no século VIII, não terá sido efectuada com a ausência de população autóctone, como mencionamos anteriormente, a presença de minas nas proximidades e a descoberta de instrumentos de cobre revelam a presença de sociedades anteriores que explorariam os recursos naturais da região. Não muito longe do núcleo urbano, a cerca de 500 metros para norte encontra-se em Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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afloramento de grés de Silves, extensa necrópole, que trataremos em capitulo próprio, com cerca de 18 sepulcros orientados na sua maioria norte – sul. Este cemitério encontrava-se totalmente violado e não oferece testemunhos de modo a que possamos garantir a sua época de construção. No entanto, pelas características que exibe podemos sugerir a sua integração num horizonte cultural tardo-romano ou altomedieval. A ausência de textos escritos, revelando os contextos culturais e informações sobre as populações existentes na área em apreço, durante o Período Medieval, só poderá ser colmatada, a nosso ver, com intervenções arqueológicas. Estas poderão exumar testemunhos que permitam substanciar o panorama económico, social e cultural da região. As notícias que possuímos vão para lá do período medieval. No entanto permitem esboçar a relevância do local num cenário alargado ao termo da cidade de Silves nos finais do século XVI, quando este espaço pertencia à Casa das Rainhas portuguesas. O tombo com rol de bens reais aforados, regista a presença no lugar da “Amoroza” de três fornos de cozer pão, contrapondo com a presença de uma única estrutura desta natureza em Messines e Portela, Algoz com dois fornos, Alcantarilha com quatro e Silves com cinco. (Corte-Real, 1998, pp.30,31). Poucos anos após Henrique Fernandes Sarrão regista no dito lugar a presença de quarenta moradores, o lugar vizinho das Cortes detinha doze vizinhos, não longe da primeira aldeia, o sítio dos Gregórios apresentava trinta habitantes. (Guerreiro e Magalhães, 1983, p.158). Perante este panorama populacional justificava-se a presença de três fornos reais, aforados a moradores locais e que rendiam à coroa trezentos e dez reis anuais.

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3.3 - Casais Agrícolas e Mineiros. 3.3.1 - Pico Alto. O sítio do Pico Alto está localizado no cimo da vertente sul da elevação com o mesmo nome e representa um dos mais altos montes da região detendo 300m de altitude, lobrigando assim vasta área em seu redor. O povoado está assente em plataforma situada a poucos metros abaixo do cume, ficando abrigado dos ventos desagradáveis vindos do Norte. Apresenta as coordenadas cartesianas X-8447,74 ; Y-267164,1; Z 300m. Actualmente o local conta com pouco mais de meia dúzia de habitações, na sua maioria devolutas. A agressividade do local, particularmente da sua vertente norte que se mostra coberta por mato de estevas e silvas, dificulta qualquer prospecção mais cuidada da área. No entanto, foi nesta encosta que fomos localizar a mina de cobre mencionada por Estácio da Veiga na sua obra “Antiguidades Monumentaes do Algarve”. A exploração expõe-se a meia encosta com uma larga plataforma de escombros e foi junto deste local recolhido pela população, nos finais do século XIX, várias cunhas de cobre. Informaram ainda o eminente académico que próximo do local, no sítio do Pomar, aparecia com frequência escórias provenientes de fundição. (Veiga, 1889, pp.57 e 58). A prospecção neste último local não revelou qualquer fragmento de excedente de fundição, provavelmente devido à intensa prática agrícola de citrinos que se desenrola na área. Uma exploração desta natureza e com a quantidade de escombros retirados do interior da mina e fragmentos de escórias resultantes da fundição do metal extraído, terá tido uma continuidade temporal longa. Desconhecemos o tipo de cunhas encontradas que poderiam indiciar um período histórico de exploração. Temos, assim, unicamente os registos escritos do livro de minas da Câmara Municipal de Silves, que referem uma continuidade de exploração de quase um século, entre 1882 e 1972. As indagações pela área em torno da povoação do Pico Alto e do sítio do Pomar não revelaram testemunhos arqueológicos anteriores ao período contemporâneo, como anteriormente referimos. A deslocação pelas zonas mais íngremes a norte, são penosas devido à densidade e género das espécies vegetais que cobrem a vertente na sua totalidade. As pendentes sul e oeste mostram-se quase despidas de vegetação e muito lavadas pelas chuvas, oferecendo muita pedra solta e uma inclinação quase impraticável para se proceder a uma averiguação cuidada, onde não conseguimos recolher igualmente qualquer testemunho mais antigo que o

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período contemporâneo. Apesar dos parcos ou praticamente nulos testemunhos para aludir à existência de um pequeno assentamento humano de cariz mineiro, temos o principal elemento que levou o homem a acorrer a este local tão áspero e íngreme, os minérios de cobre e ferro encerrados na mina do Pico Alto. O maior testemunho é a exploração existente na vertente umbria da elevação, que só seria possível levar a cabo com prolongadas estadas ou com assentamento permanente junto do local de laboração. A detecção infrutífera de testemunhos na actual povoação pode, também, dever-se as renovações habitacionais que foram sendo executadas ao longo dos tempos. Estas apagaram os sinais que poderíamos reconhecer ter pertencido a períodos anteriores.

3.3.2 - Messines de Cima e Messines de Baixo. Os povoados estão assentes na encosta sul da elevação da Rocha de Messines, distam cerca de 500 m. um do outro, com as seguintes coordenadas cartesianas, X-9403,4; Y269451,18; Z 500m respectivamente. O facto de juntarmos estes dois assentamentos é no nosso entender, decorrente de um anterior estabelecimento existente entre estes dois habitats. Recentemente a Professora Doutora Rosa Varela Gomes, recolheu em laranjal próximo do sítio de Messines Baixo fragmentos de cerâmica do período Medieval ou Moderno. (Gomes, 2002, p.153).

3.3.3 - Cerro do Castelo O sítio do Monte do Castelo está localizado a 500 m. de S. Bartolomeu de Messines, junto da actual estrada Nacional n.º 124, ao quilómetro 37, com as seguintes coordenadas cartesianas, X-12357,39; Y-268083,40 e Z 152 m. Este local já foi mencionado por Estácio da Veiga, onde relata a existência de sepulturas abertas numa fraga rochosa de arenito vermelho. (Veiga, 1891, pp.82 e 83). A área foi prospectada várias vezes sem grandes resultados. Não conseguimos recolher qualquer indício anterior ao período contemporâneo, excepto a presença das referidas sepulturas na encosta sul, que trataremos em capítulo próprio.

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A elevação está profundamente ocupada com várias actividades de cariz agrícola, as encostas oeste e sul apresentam-se cobertas por pinheiros. Entre esta pequena mancha florestal encontra-se o excedente de uma pedreira de extracção de grés. As vertentes norte e este, são aproveitadas para produção local de vegetais e a instalação de redis de animais, na sua maioria ovinos e caprinos. Foi, neste último declive que encontrámos vários muros de divisão de propriedade, que analisámos atentamente mas não mostraram vestígios de pertencerem a anteriores habitações nem de competir com alguma defesa que ali poderá ter existido no passado. Como referimos anteriormente, o topónimo Castelo terá sido adquirido eventualmente pela presença de dispositivo defensivo desactivado. Gradualmente, a pedra aparelhada da fortificação, terá sido reaproveitada na construção de habitações e na manufactura de muros que delimitam propriedades. Reconhecemos alguns blocos de arenito facetados nas paredes das delimitações espaciais. A necrópole ali existente, é composta por cinco sepulcros, que devido ao seu diminuto número não pertenceria à alcaria de S. Bartolomeu de Messines que se encontra próximo. Estes pequenos campos funerários só teriam sentido se pertencem a grupos familiares restritos, que viveriam próximos e teriam o mausoléu parental onde depositavam os restos mortais dos entes queridos. A localização do habitat não seria longe da necrópole, o cimo da elevação oferece as condições adequadas para o seu assentamento, mostra-se plano, com uma altitude de 144m, e as encostas são suaves, descendo até aos vales circundantes. O local é, igualmente, rodeado por linhas de água que desaguam no ribeiro Meirinho que se corre a cerca de 200 m, no vale a sudeste do monte. Este estabelecimento controlaria os terrenos baixos em seu redor, que apresentam elevado grau de aptidão para a cultura cerealífera, como representa a Carta de Capacidade de Uso do Solo de 1959. A norte do local, na planura localiza-se a estrada que ligaria a povoação de S. Bartolomeu de Messines à da Portela e, neste último local, derivaria para a aldeia de Alte e Paderne. - Bica Alta. O sítio está localizado a 2 quilómetros para noroeste de S. Bartolomeu de Messines, numa elevação sobranceira à ribeira de Arade, apresenta a coordenadas cartesianas, X-15818,65; Y-265705,16; Z 122 m. 68

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No topo desta elevação foram violadas duas sepulturas, provavelmente tradoromanas. Mário Varela Gomes, no âmbito do Projecto de Levantamento Arqueológico da Bacia Hidrográfica da Barragem do Funcho, limpou e registou graficamente as fossas funerárias que estavam abertas no substrato rochoso de xisto. As câmaras estavam estruturadas com esteios lajiformes, de arenito vermelho. As tampas, foram igualmente, talhadas naquela rocha, e apresentavam-se fracturadas, no interior das câmaras funerárias. Estas mostravam orientação nascente poente. Junto do local passaria antiga via de acesso ao interior serrano, que terá originado o topónimo “Passadeiras”, ao local onde se passa a ribeira de Arade, permitindo o acesso entre os vales férteis que ladeiam aquele rio, tanto a montante como a jusante. Este arqueosítio controlaria o vale sul do antes citado curso de água, assim como a via, que do interior da Serra, conduzia ao aglomerado populacional da Amorosa.

3.3.5 – Abrutiais Este habitat está situado a cerca de 1500 m para noroeste de S. Bartolomeu de Messines, perto do topo de elevação com 147 m de altitude, com as coordenadas cartesianas X14209,79; Y-266191,45; Z 147 m. Na encosta desta elevação foi destruída por lavra mais profunda, sepultura, provavelmente tardo-romana, que ofereceu pequeno jarro de cerâmica de pasta alaranjada. A

fossa

sepulcral estava aberta no substrato rochoso de xisto e a câmara funerária encontrava-se delimitada por lajes daquela rocha. Esta estava orientada norte-sul. Este arqueosítio foi identificado, ainda no âmbito do antes citado projecto, que decorreu no último ano da década de oitenta do século XX. O habitat domina todo o vale dos Abrutiais que se expõe a poente do declive da elevação. O vale contém terrenos férteis para a cultura cerealífera e é rasgado no seu sentido longitudinal, norte-sul, por linha de água.

3.3.6 - Monte Branco O presente local assentaria em elevação situada a 4 Km para noroeste de S. Bartolomeu de Messines, onde correm vários cursos de água e apresenta as seguintes coordenadas cartesianas; X-17217,01 Y-264836,6 Z 181 m.

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Nos finais dos anos oitenta do século XX, Mário Varela Gomes reconheceu neste local uma necrópole, provavelmente de incineração, que oferecia manchas acinzentadas no solo castanho de xisto e fragmentos de cerâmica diminutos, que teriam pertencido a taças itálicas. O arqueosítio está próximo de caminho que bordeja a margem norte do Arade, junto de vale fértil, contendo solos favoráveis á cultura cerealífera.

3.3.7 – Pedreirinha. A instalação assenta no topo de uma elevação a com 171m de altitude a um quilómetro para sudoeste da aldeia da Amorosa, com as coordenadas cartesianas X-18104,75 Y268353,1, Z 171m . O habitat está protegido a norte pelo Monte Rosso, e a sul pela elevação da Gralheira. A base deste último monte é cortada por várias linhas de água que têm origem na encosta sul do Monte Rosso, onde podemos ainda observar várias nascentes naturais. No topo da referida elevação foi detectado pelo arqueólogo Mário Varela Gomes, restos de muros com cerca de 3 a 5m de comprimento, formando ângulos rectos entre si, provavelmente testemunhando de uma habitação. Recolheu-se, ainda, no local vários fragmentos de paredes de recipientes cerâmicos, muito rolados, que não permitiram atribuir uma cronologia segura. No entanto, o núcleo das paredes daqueles mostra muitos elementos não plásticos e cor castanha escura, características dos barros locais utilizados nas cerâmicas altomedievais. Este assentamento poderá estar ligado à actividade mineira que Estácio da Veiga refere ter existido no anterior levantamento. (Veiga, 1889, pp.48 a 57). Outra prática desenvolvida no local, seria provavelmente a agricultura, os vales existentes a oeste e a este do assentamento são bastante férteis, como é demonstrado pela Carta de Capacidade de Uso do Solo, de 1958. Este estabelecimento poderá, ainda, estar relacionado com a necrópole composta por cinco sepulturas abertas numa fraga rochosa que se encontra a duas centenas de metros a sudoeste e a um outro sepulcro isolado, igualmente escavado na rocha, que se descobre em plataforma um pouco mais a sul do anterior cemitério.

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3.3.8 - Forneca. O sítio está assente no topo de elevação com 140 m de altitude que dista 2 Km para oeste da aldeia da Amorosa. Apresenta as seguintes coordenadas cartesianas, X-19006,35 Y267942 Z140m. Actualmente o local é composto por meia dúzia de habitações erigidas na sua maioria em pedra de grés de Silves, substrato rochoso que compõe as suaves elevações que integram a linha de montes onde este serro está inserido. A exposição tanto para norte como para sul mostra vales compostos por solos vermelhos, com grande capacidade agrícola, como testemunha a Carta de Capacidade de Uso do Solo, de 1958. Podemos ainda identificar, em redor do local, várias linhas de águas que cortam os vales, assim como vários engenhos de captação de água, na sua maioria noras, sendo menos frequentes, as minas de água e os poços de pequenas dimensões. O solo encontra-se coberto a norte por sobreiros e estevas, enquanto a sul a agricultura intensiva praticada mostra paisagem de pomares e pequenos hortos de leguminosas, na sua maioria para consumo local. A prospecção efectuada não ofereceu testemunhos anteriores ao período contemporâneo. No entanto, a uma centena de metros do local, para oeste, situa-se a necrópole da Forneca, que é composta por oito sepulcros, escavados numa fraga rochosa de arenito vermelho, exposta a sul. O sítio é atravessado por um caminho que se desenvolve pelas cumeeiras da linha de elevações em que a necrópole e o habitat assentam. A via está situada a norte do assentamento habitacional e junto deste apresenta-se limitada por muros de grés, conduzindo às casas que o compõem. Ele divide-se 50 metros adiante, em direcção ao interior da Serra, para norte e para sul, em direcção ao vale. Junto deste desvio, em outra fraga de grés de Silves, encontramos outro sepulcro, igualmente escavado, com características idênticas às das sepulturas da necrópole anterior. O sítio onde se encontra a necrópole da Forneca, apresenta, actualmente, casario que se instalou, não há muitos anos no local, e tem vindo a ocupar o espaço do antigo cemitério, que se estenderia pelos afloramentos rochosos que emergem no cume da elevação.

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3.3.9 - Carrasqueira.

O sítio está assente no topo de uma elevação com 150m de altitude, que dista 2,5Km para oeste da aldeia da Amorosa, apresentam as seguintes coordenadas cartesianas, X19761,06 Y-268618,39, Z 150 m. As poucas habitações que compõem o local alongam-se no cimo de elevação que integra cordilheira de montes suaves, ladeados a norte e a sul por férteis vales. As populações, actuais, praticam uma agricultura intensiva a sul, exploram ainda, as culturas de sequeiro, no lado oposto ao anterior, onde também se observam sobreiros, estevas e medronheiros. Os vales que ladeiam a elevação, onde está instalado o habitat, mostram pequenos cursos de água que correm à superfície e engenhos de captação, assim como poços e minas que perfuram os serros, horizontalmente, obtendo desta forma a água necessária para as culturas e para o consumo diário. O substrato rochoso é composto por arenitos de Silves, do Triásico Superior, que emergem em pequenas afloramentos tanto na cumeeira como em toda a encosta voltada a sul, recurso que foi até recentemente aproveitado pelas populações locais. A extracção de arenito vermelho tinha várias finalidades, como a construção civil e os rebolos de amolar facas, para a indústria corticeira do Algarve. A prospecção no local não ofereceu elementos materiais, que possam apresentar cronologia mais antiga que o período contemporâneo. A uma centena de metros a sul, a meia encosta da elevação um afloramento rochoso oferece uma necrópole constituída por cinco câmaras funerárias escavadas na rocha de arenito. Junto deste cemitério encontra-se um penedo que detém cavidades disformes e expõe, na sua face sul conjunto de grafitos, que trataremos num capítulo mais adiante. Junto desta necrópole encontra-se o caminho que descia a vertente e seguia em direcção ao sítio dos Gregórios, localizado a 2 km mais a sul do presente local.

3.3.10 – Horta de Baixo – Fundição. O sítio está assente na base de elevação com 130m de altitude, que dista 3 Km para oeste da aldeia da Amorosa e apresenta as seguintes coordenadas cartesianas: X-19154,64; Y -268691,74; Z 78 m.

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O vale detém terras de cor castanha escura, muito produtivas como demonstra a Carta de Capacidade de Uso do Solo, de 1958. A norte localiza-se a linha de montes que mostram substrato rochoso, de xisto do Carbónico Superior, onde identificamos, anteriormente, com o arqueólogo Mário Varela Gomes, alinhamento composto por quatro menires. A planície é atravessada por linha de água que corre de nordeste para sudoeste. Ali existe poço construído com blocos de arenito vermelho. O solo, na vertente umbria, mostra povoamento de estevas e outras plantas rasteiras autóctones, por sua vez a planura é povoada por pomares de citrinos. A prospecção pelo local não ofereceu materiais cerâmicos anteriores ao período contemporâneo. No entanto, na base da plataforma identificámos uma quantidade apreciável de escórias de metal, que ocupam área com cerca de 100 m². A presença destes testemunhos pressupõe a presença de forno de fundição de metal, que não conseguimos localizar. Tal deve -se ao solo ser muito utilizado pela prática de agricultura intensiva. Quanto à origem do minério, este seria proveniente das minas da Cumeada que estão a 3 km para sul, ou ainda da mina do Monte Rosso, que dista 2 km para leste do referido local. Uma fundição necessitaria de combustível em quantidade apreciável e de água, dois recursos presentes na zona. A madeira encontrava-se na encosta, onde assenta a fundição, enquanto a água está presente no ribeiro que tem o seu curso a escassos 100 m para norte. Identificámos ainda monólito de grés, que oferece forma ovóide e mostrava orientação poente-nascente. Localizado a escassos metros para norte do local onde estaria anterior habitat, numa posição superior a este último, ocorre sepulcro escavado na rocha. A pesquisa mais atenta pelo local não permitiu identificar a tampa, ou de qualquer outro material ali deixado.

3.3.11 – Barrada. O habitat está assente numa plataforma sobrelevada ao vale que se situa a poente do Monte Roso, com 100 m de altitude e dista 2 Km para oeste da aldeia da Amorosa. Apresenta as seguintes coordenadas cartesianas: X-18569,66; Y-268345,48; Z 90 m. As terras em redor deste arqueosítio ostentam cor castanha escura, com grande produtividade como demonstra a Carta de Capacidade de Uso do Solo, de 1958. A nascente Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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eleva-se o Monte Rosso, a 250m de altitude, com as suas vertentes expondo veios de mineral oxidado, que terá sido explorado. A ribeira do Baralha corre a norte do habitat, cortando o vale e irrigando, também, os terrenos em seu redor. Numa prospecção pelo local, reconhecemos fragmentos de cerâmica pertencentes a paredes de vasilhas, alguns dos quais mostram uma das paredes vidradas de cor verde, e fragmentos de telhas. O espólio recolhido refere a hipótese deste local ter sido ocupado durante o Período Moderno.

3.3.12 – Penedo. O sitio está assente na suave vertente de um monte, exposta a poente, com 102m de altitude e distando 2 Km para oeste da aldeia da Amorosa. Apresenta as seguintes coordenadas cartesianas: X-18614,39; Y-268581,32; Z 110 m. A elevação mostra substrato rochoso constituído por de arenitos de Silves, do Triásico superior e está voltada para vale de terras produtivas a norte, conforme demonstra a Carta de Capacidade de Uso do Solo, de 1958. O solo esta coberto por pomares de citrinos e hortas de leguminosas. As encostas da elevação têm sido frequentemente lavradas e sujeitas a despedregas, que vão alterando o solo e dispersando os espólios ali deixados. O arqueosítio mostra, enorme penedo de arenito vermelho, que deu o topónimo ao local. Neste afloramento rochoso podemos identificar vários grafitos incisos, covinhas e a sua parede voltada a norte oferece uma grande cavidade. As várias prospecções pela zona têm oferecido fragmentos de telhas e paredes de recipientes de cerâmica, que demonstram pertencer à Idade Moderna. Recentemente, o arqueólogo Mário Varela Gomes recolheu nas imediações parte de numisma, que parece corresponder a um ceitil.

3.3.13 – Canhestros. O lugar está assente no cimo de uma elevação com 79m de altitude que dista 5 Km para oeste, da aldeia da Amorosa e apresenta as seguintes coordenadas cartesianas: X20214,85; Y-270453,25; Z 79 m . A cumeeira onde se localiza o habitat, é parte integrante de linha de montes que mostram substrato rochoso de arenitos de Silves, do Triásico Superior. O alinhamento anuncia,

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em toda a sua extensão, suaves declives e um estreito vale apertado entre altas elevações que se expõem a norte e a sul. O solo apresenta-se totalmente ocupado por uma agricultura intensiva de pomares e hortas que denuncia a sua fertilidade, comprovada pela Carta de Capacidade de Uso do Solo, de 1958. As vertentes íngremes a norte e a sul, mostram paisagem florestal distinta. A sul, são as culturas de sequeiro do Barrocal, amendoeiras, alfarrobeiras e raras azinheiras que povoam toda a encosta da elevação da Cumeada. A norte é também o sequeiro, mas da Serra Algarvia, azinheiras, sobreiros e medronheiros. A prospecção pelo local não ofereceu qualquer artefacto anterior à Idade Contemporânea. No entanto, registamos a presença de várias fontes de água que emergem na base das elevações a sul, onde assinalámos alguns poços, noras e minas de água. Estas mostram uma galeria horizontal, penetrando alguns metros pelo interior do serro, recolhendo e armazenando a água para posterior utilização na rega das culturas agrícolas. A vertente guarda ainda as jazidas metalíferas da Cumeada e Santo Estêvão, mencionadas pelo arqueólogo Estácio da Veiga, na sua obra Antiguidades Monumentaes do Algarve. O presente local oferece, ainda, num esporão de arenito, com uma inclinação considerável para sul, uma sepultura aberta na rocha, que foi identificada pelo arqueólogo Mário Varela Gomes há anos atrás. Este sepulcro oferece uma arquitectura idêntica às sepulturas antes mencionadas. As várias deslocações pela área em causa não ofereceram qualquer artefacto digno de registo, talvez pela intensa ocupação do solo pela agricultura intensiva que vai dispersando os testemunhos ali deixados e a proliferação de habitações rurais que, neste local, específico tem conhecido grande crescimento.

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4 - NECRÓPOLES

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4.1—Descrição das Sepulturas

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Necrópole da Forneca 80

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Plantas das Sepulturas

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4.1.1- Necrópole da Forneca. 4.1.1.1- Ambiente Natural. Os topos dos cerros que compõem as elevações da Forneca em Vale Fuzeiros exibem esporões de arenito vermelho do Triásico, na sua maioria basculados para sul. As encostas voltadas a norte mostram-se alcandoradas e têm o solo vegetal ocupado por árvores de sequeiro, alfarrobeira, amendoeira, oliveira, sobreiro. A vertente oposta, que é suave e solarenga, exposta ao sul, apresenta os terrenos cobertos por pomares de citrinos e hortas de leguminosas. O cemitério rupestre pertence administrativamente à freguesia de S. Bartolomeu de Messines e está situado a 200 m., do cruzamento da estrada de Vale Fuzeiros com o acesso à barragem do Funcho, integrado no casario do lugar da Forneca a uma cota de 124 m de altitude. O núcleo principal da necrópole ocupa um afloramento rochoso de arenito vermelho, apresenta-se dividido em dois planos e o conjunto mostra forma sub-rectangular, medindo 14 m. de comprimento na direcção sul - norte por 9 m. de largura. O penedo está situado quase no topo da elevação, junto do casario do sítio da Forneca e revela, no plano inferior, 5 sepulturas escavadas no maciço rochoso. O plano superior oferece duas lagaretas, uma semicircular e outra quadrangular, com um diâmetro de 1,30 m e 0,80m de comprimento em um dos lados, e detêm profundidade de 0,35 m e 0,20m respectivamente. Podemos propor, como interpretação plausível, que estas cavidades serviriam para o banho ritual do cadáver, facto que ocorre noutras necrópoles como na do Risado em Arcozelo da Serra, concelho de Gouveia, identificada por Catarina Tente, ou por Castillo na necrópole de Revenga. (Tente, 2005, 115) e ainda noutros cemitérios nesta área em apreço. A necrópole é composta por oito sepulcros. Cinco câmaras tumulares estão abertas no mesmo bloco rochoso. As restantes três fossas sepulcrais descobrem-se isoladas do anterior núcleo e partilham o espaço com o casario do sítio da Forneca. Estas habitações foram gradualmente ocupando a área do cemitério. O povoamento do local provocou a mutilação destas três últimas sepulturas que actualmente se localizam em estreita passagem e em penedo que delimita uma propriedade. O derradeiro sepulcro está deslocado do seu local original e ocupa penedo parcialmente destruído, encontrando-se deslocado, junto a um monte de pedras, que delimitam propriedade rústica. 82

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4.1.1.2 - Estruturas 4.1.1.2.1- Sepultura 1 Ocupa a extremidade poente do afloramento rochoso e oferece câmara com planta subtrapezoidal, sendo ligeiramente mais larga no espaço da cabeceira e estreita na zona dos pés. Os cantos estão arredondados, as paredes são verticais e o fundo é direito, ligeiramente côncavo ao centro. Na área da deposição da cabeça o fundo apresenta ténue elevação. O espaço dos pés não é destacado. Em torno da câmara sepulcral observa-se rebordo ou gola rebaixada, com 0,07m de altura e 0,15 m de largura, esboçando assim perfil rectangular servindo para encaixar de tampa monolítica ou composta por diversos elementos pétreos. O eixo central da sepultura está orientado a 350ºNW, mostrando a câmara funerária um comprimento de 1,92m e uma largura, a meio, de 0,42m. A largura na cabeceira é de 0,47 m, a largura nos pés, é de 0,26m. e tem profundidade média de 0,46m. 4.1.1.2.2 - Sepultura 2 Ocupa a área central do afloramento rochoso da referida necrópole da Forneca. Mostra câmara com planta sub-trapezoidal, mais larga no espaço da cabeceira, estreitando até à zona dos pés. Apresenta os cantos arredondados e as paredes são verticais. O fundo da sepultura é direito, ligeiramente côncavo ao centro. Na área da deposição da cabeça é levemente mais elevado, sugerindo a ideia de almofada. O trecho dos pés apresenta-se não destacado. Mostra, ainda, em torno da cavidade sepulcral rebordo ou gola, rebaixada. Este ressalto esboça um perfil rectangular com profundidade média de 0,10m e 0,14m de largura. A moldura permitiria o encaixe de tampa, composta por diversos elementos pétreos ou por um único bloco monolítico. O eixo central da sepultura está orientado a 340º NW,. A câmara funerária conserva 1,82 m de comprimento e 0,39 m de largura da cabeceira. A largura a meio é de 0,46 m e a largura nos pés é de 0,11 m. A profundidade média do sepulcro é de 0,54 m. 4.1.1.2.3 - Sepultura 3 A citada câmara funerária, ocupa o centro deste afloramento rochoso. Oferece cavidade sepulcral com planta sub-trapezoidal, mais larga no espaço da cabeceira, estreitando até à área dos pés. Mostra os cantos arredondados e a parcela da deposição dos pés não é destacada. As paredes são verticais e o fundo plano, ligeiramente mais elevado junto da cabeceira. O centro afigura-se levemente côncavo. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Em torno da sepultura, apresenta rebordo ou gola rebaixada com uma altura média de 0,05 m e uma largura de 0,12m. esboçando perfil rectangular, para encaixe de tampa, constituída por um ou mais elementos pétreos. A câmara funerária apresenta seu eixo orientado a 340º NW. Guarda comprimento máximo de 1,75 m e 0,55 m largura na cabeceira. A largura a meio é de 0,55 m e 0,19 m de largura nos pés. A profundidade média é de 0,47 m. 4.1.1.2.4 - Sepultura 4 Este sepulcro estaria em conexão com o túmulo 5 e deveria pertencer a um espaço funerário duplo. Ocupam a zona nascente e limite do afloramento rochoso. A parede que separaria as duas câmaras funerárias foi amputada, não permitindo descrever objectivamente a planta que esta deveria oferecer. No entanto, podemos sugerir que tivesse existido uma câmara com planta sub-trapezoidal, à imagem das anteriores sepulturas. Mais larga no espaço da cabeceira e estreitando até à zona da deposição dos pés. Os cantos que restam são arredondados e a área dos pés não é destacada do conjunto da câmara funerária. A mutilação descrita alterou a planta da sepultura, mostrando actualmente uma grande pia. Na zona dos pés a parede sul, limite das câmaras funerárias, também se apresenta mutilada, permitindo o escoamento das águas pluviais que ali são retidas. O fundo, junto da cabeceira terá sido rebaixado, até exibir uma superfície praticamente horizontal. As limitações apresentadas, condicionam uma apreciação exacta das características particulares da câmara funerária. Podemos ainda, registar algumas particulares que são visíveis nesta sepultura. O rebordo ou gola rebaixada, com uma altura média de 0,05 m e com 0,09 m de largura média, perfil rectangular, para encaixe da tampa monolítica, ou, constituída por diversos elementos pétreos. Como referimos anteriormente, podemos apenas sugerir a existência de planta subtrapezoidal para a câmara funerária. Mais larga na zona da cabeceira e estreitando até à área da deposição dos pés. As paredes norte e oeste apresentam ligeira inclinação, a parede sul do sepulcro está na vertical, o fundo é plano, os cantos são arredondados. O eixo central desta sepultura está orientado a 340ºNW. Conservando 1,68 m de comprimento e profundidade de 0,98 m, junto da cabeceira. A profundidade a meio é de 0,72 m, junto dos pés a profundidade é de 0,29m. A largura do sepulcro é difícil de calcular, devido à supressão da parede nascente e comum com a sepultura 5.

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4.1.1.2.5 - Sepultura 5 Referimos na anterior descrição, que esta sepultura estaria em conexão directa com o sepulcro 4 e está localizado a poente deste. A parede que os separaria foi amputada para formar uma grande pia. Esta sepultura, como a anterior, não permite que se registe efectivamente a planta da câmara sepulcral. Podemos sugerir, de acordo com os padrões apresentados pelas anteriores sepulturas, que esta mostraria planta sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e estreitando até à área da deposição dos pés. O fundo apresenta-se no plano horizontal, sugerindo abaixamento da zona da cabeceira. A parede dos pés a sul, foi também, em parte mutilada. Os cantos são arredondados e as paredes voltadas a norte e a nascente estão ligeiramente inclinadas. Em torno da sepultura podemos ainda registar rebaixamento ou gola, com uma altura média de 0,03 m e uma largura de 0,11 m esboçando perfil rectangular, para encaixe da tampa monolítica, ou, constituída por diversos elementos pétreos. O eixo central desta sepultura está orientado a 340ºNW. Conserva comprimento de 1,67 m e profundidade junto da cabeceira de 1,72 m. A meio, a profundidade é de 0,56 m e junto dos pés a profundidade atinge 0,28 m. A largura é difícil de calcular devido à supressão da parede nascente do sepulcro. 4.1.1.2.5 - Sepultura 6. O acesso ao afloramento que guarda os cinco sepulcros, é feito por um estreito caminho entre o casario do sítio da Forneca. A pouco metros do citado afloramento, temos de caminhar sobre um maciço rochoso de arenito vermelho de Silves que exibe o fundo de uma sepultura. Este sepulcro foi totalmente destruído, mostrando apenas o fundo da câmara sepulcral. A depressão da fossa tumular, sugere actualmente, a existência de planta sub-trapezoidal, mais larga junto da cabeceira e estreita na zona de deposição dos pés. O seu eixo está orientado a 10ºN. O fundo da sepultura, apresenta um comprimento actual de 1,65 m e 0,50 m largura. 4.1.1.2.7 - Sepultura 7 O terreno que se localiza a este do afloramento rochoso onde se encontram as cinco primeiras sepulturas, foi recentemente lavrado e despedregado com o auxilio de máquinas pesadas de lavoura. No decorrer deste processo terão desenterrado, mutilado e fracturado penedo de forma ovóide onde foi construída uma sepultura. Actualmente, este está deslocado num monte de pedras que limita a propriedade a norte. A mutilação da sepultura e a não identificação do bloco em falta, limitou a recolha das características particulares que o túmulo conserva. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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A citada sepultura foi aberta num penedo que actualmente mostra comprimento máximo de 1,90 m, o diâmetro maior é de 1,20m. e o diâmetro menor é de 0,90m. A câmara funerária mostra amputação da zona de deposição das pernas. No entanto, podemos sugerir que a planta desta sepultura seria sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e estreita na área de deposição dos pés. O fundo é plano, ligeiramente elevado junto da deposição da cabeça. Ao centro exibe uma estreita linha côncava em todo o comprimento do túmulo. As paredes são verticais. Em torno da cela funerária, mostra gola ou rebordo com altura de 0,08 m e 0,10 m de largura, que deveria servir para encaixar uma tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. Os cômputos que conseguimos registar, devido à amputação de parte do monumento foram as seguintes, largura da cabeceira 0,33 m, a largura a meio é de 0,43 m. A profundidade da cabeceira é de 0,45m, a profundidade a meio é de 0,47m, o compartimento funerário mede 0,62 m de comprimento. 4.1.1.2.8 - Sepultura 8 Construída num esporão rochoso de arenito vermelho de Silves, que aflora no topo da elevação da Forneça, situado a noroeste do cemitério que guarda as primeiras cinco sepulturas. A sepultura tem as paredes laterais e a dos pés amputadas quase até ao fundo da Câmara funerária. Conserva a parede da cabeceira e todo o fundo do sepulcro. O eixo central da sepultura está orientado a 10º.NE. O topo da cabeceira mostra vestígios de gola ou rebaixo, com altura de 0,05 m. e 0,11 m de largura, que serviria provavelmente, para encaixar tampa monolítica ou formada por vários elementos pétreos. As limitações que foram impostas pela amputação das paredes laterais e terminal dos pés, podemos sugerir pelo fundo da sepultura que esta teria uma planta sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e estreita na área de deposição dos pés. Coligimos algumas medidas que o sepulcro guarda, o comprimento da câmara funerária é de 1,60 m , a largura da cabeceira é de0,35 m, e a sua profundidade da é de 0,24 m.

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Necrópole da Forneca, Vista Norte.

Necrópole da Forneca, Vista Sul Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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4.1.2—Necrópole da Carrasqueira

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Plantas das Sepulturas

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4.1.2.1 - Ambiente Natural. O lugar da Carrasqueira é um micro-topónimo do sítio Vale Fuzeiros, localizado na freguesia de S. Bartolomeu de Messines junto da estrada municipal 1080 que dá acesso a Vale Fuzeiros e à barragem do Arade. A 300 metros para norte do cruzamento da referida via de comunicação com a estrada para o sítio do Gregórios, apresenta-se a elevação da Carrasqueira com cota de 130 metros. A meia encosta oferece dois afloramentos rochosos, que mostram cinco sepulturas escavadas no arenito vermelho de Silves. Os sepulcros estão divididos pelos dois afloramentos, dispostos de modo distinto. A emergência pedregosa poente apresenta forma rectangular, com um comprimento médio de 16 m, no sentido norte / sul, por 10 m de largura no sentido este / oeste. Os três sepulcros do lado nascente, foram abertos na rocha que apresenta planta rectangular. Mede 15 m de comprimento na orientação norte / sul, e 3 m. de largura na orientação este / oeste. Mostra dois sepulcros abertos na parte mais a sul. As vertentes expostas a sul das elevações de Vale Fuzeiros estão cobertas por sobreiros, oliveiras, zambujeiros, matos autóctones como o tojo-do-sul, a esteva e o carrasco. Pomares de citrinos dividem o espaço com as leguminosas. A encosta norte destas elevações, têm o solo coberto por matos rasteiros, e arvoredo disperso de alfarrobeiras, sobreiros e oliveiras. 4.1.2.2 - Estruturas 4.1.2.2.1 - Sepultura 1 A câmara sepulcral mostra planta ovalada, estreita na zona da cabeceira, alargando na zona dos ombros e voltando a estreitar na área de deposição dos pés. Os cantos são arredondados, as paredes verticais e o fundo ligeiramente côncavo. O eixo da sepultura está orientado a 340º NW. As paredes são verticais e o fundo junto da cabeceira apresenta ligeira elevação. Em redor da cavidade fúnebre mostra-se gola rebaixada com altura de 0,08 m e 0,09 m de largura. Esboça perfil rectangular, que serviria para encaixe de tampa monolítica ou formada por vários elementos pétreos. Registamos, ainda, que o compartimento sepulcral mostra 1,86 m de comprimento, 0,46 m de largura na cabeceira, 0,64 m de largura a meio, 0,41 m de largura nos pés e uma profundidade média de 0,59 m.

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4.1.2.2.2 - Sepultura 2. A poucos centímetros abaixo da anterior sepultura foi construída outra fossa funerária. Esta exibe planta trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e estreita na área de deposição dos pés. Os cantos são arredondados, as paredes verticais e o fundo plano, acompanhando a inclinação da superfície da rocha. O eixo da sepultura está orientado a 340º. NW. Mostra gola ou rebaixo que contorna toda a câmara sepulcral, apresentando 0,10 m de altura e 0,12 m de largura, esboçando perfil rectangular, que serviria provavelmente, para encaixar tampa composta por vários blocos pétreos ou por único elemento lítico. As proporções da fossa sepulcral exibem 1,72 m de comprimento, 0,49 m de largura na cabeceira, 0,45 m largura a meio, e 0,27 m de largura na área de deposição dos pé. Registamos também, 0,45 m de profundidade média do sepulcro. 4.1.2.2.3 - Sepultura 3 Naquele afloramento rochoso foi aberta terceira cavidade funerária. Esta encontra-se a poucos metros para sudoeste do anterior sepulcro. Mostra planta rectangular, ligeiramente mais larga na zona dos ombros e mantendo as dimensões até à zona de deposição dos pés, que se mostra mais estreita. Os cantos são arredondados, as paredes verticais, o fundo é plano, acompanhando a inclinação da superfície do afloramento rochoso. O eixo do túmulo está orientado a 335º. NW. O contorno da sepultura apresenta moldura rebaixada ou gola com 0,08 m de altura e 0,15 m de largura, traçando perfil rectangular, que serviria para embutir tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. A câmara sepulcral mostra 1,86 m de comprimento, 0,40 m de largura na cabeceira, 0,45 m largura a meio, 0,27 m largura nos pés, e apresenta 0,50 m de profundidade a meio. 4.1.2.2.4- Sepultura 4 A nascente dos anteriores túmulos, foram abertos na rocha de arenito vermelho de Silves, duas sepulturas geminadas. A sepultura poente mostra planta rectangular, mantendo as dimensões da fossa sepulcral. As paredes da sepultura são verticais, os cantos arredondados e o fundo é direito, acompanhando a inclinação da superfície do afloramento rochoso. A parede que limita o tumulo a nascente è comum com a sepultura cinco que está em conexão directa com o presente túmulo.

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A orientação do eixo da fossa tumular é 340º.NW. Em todo o perímetro da sepultura mostra moldura rebaixada ou gola com 0.07 m de altura, 0,10 m de largura, esboçando perfil rectangular, que serviria para depositar tampa composta por único elemento ou por vários componentes pétreos. A sepultura oferece 1,90 m de comprimento, 0,57 m de largura na cabeceira, 0,60 m de largura a meio, 0,35 m de largura na área de deposição dos pés, e 0,45 m de profundidade a meio. 4.1.2.2.5 - Sepultura 5 Como anteriormente referimos esta sepultura está em conexão directa com o túmulo quatro, tendo a parede lateral, exposta a poente, comum com a anterior fossa. A câmara funerária apresenta planta sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e vai estreitando ao longo do seu comprimento até atingir a zona de deposição dos pés. Os cantos são arredondados. Mostra extensa amputação da parede voltada a nascente, apresentando as restantes paredes na vertical. Todo o perímetro do túmulo exibe rebordo rebaixado ou gola, com 0,08 m de altura, e 0,10 m de largura, denunciando perfil rectangular para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos líticos. O fundo é plano e acompanha a inclinação da superfície. O eixo da sepultura está orientado a 340º.NW. A fossa sepulcral apresenta 1,84 m de comprimento, 0,43 m de largura na cabeceira, 0,46 m de largura a meio, 0,23 m de largura nos pés, e 0,44 m de profundidade a meio.

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Necrópole da Carrasqueira, Vale Fuzeiros, fraga poente

Necrópole da Carrasqueira, Vale Fuzeiros, fraga nascente 94

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4.1.3— Necrópole da Pedreirinha

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4.1.3.1 - Ambiente Natural. No topo de pequeno cerro, que se eleva a 152 m de altitude, emergem alguns afloramentos rochosos de arenito vermelho. Em três destas protuberâncias foram abertas sepulturas, duas de adulto e uma de criança. Estas expõem-se no topo da elevação e nas vertentes voltadas a sudoeste. Esta suave elevação é rodeada por altos e alcandorados montes como o da Pedreirinha e Monterroso que atingem a cota dos 178 m e 236 m respectivamente. O primeiro destes montes, localizado a sul do cerro em apreço, exibe no topo, menir com forma cilíndrica que foi recentemente aprumado pelo arqueólogo Mário Varela Gomes, no âmbito de programa de reabilitação e conservação de património. No sentido este e sobranceiro à elevação em estudo, desenvolve-se pequeno monte com cota de 168 metros, onde se descobre no topo, aparelho de pedra trabalhada em pequenos blocos formando alinhamento. No entanto, não conseguimos recolher testemunhos que nos indicie cronologia aproximada, podemos apenas sugerir, que trata-se de pequeno assentamento humano. O Monterroso, situado a norte do cerro que guarda o cemitério, domina a paisagem do vale com a sua magnitude e elevação, protege a zona da necrópole e do habitat humano dos ventos frios do norte e oferece na pendente sul, várias nascentes de água, assim como alguns veios minerais cúpricos. O solo vegetal está coberto por matos rasteiros e autóctones, como a esteva a acácia e o tojo-do-sul. As árvores mais comuns são pinheiros, alfarrobeiras e sobreiros. 4.1.3.2 - Estruturas 4.1.3.2.1 - Sepultura 1 A câmara funerária foi construída em afloramento de arenito vermelho de Silves, localizado no topo da elevação. Esta mostra-se fracturada em três grandes blocos que foram separados pela acção mecânica da vegetação que floresceu junto da sepultura. O túmulo mostra planta rectangular, cantos arredondados, as paredes são verticais e o fundo plano, ligeiramente côncavo ao centro. Apresenta o perímetro da cavidade sepulcral com rebordo ou gola rebaixada, com 0,15 m de largura e 0,08 m de altura, devendo encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. O eixo da sepultura mostra orientação a 35º. NE. Apesar das fracturas existentes conseguimos registar as dimensões do monumento, salvaguardando os descontos inerentes ao afastamento das fissuras, assim, o comprimento registado foi de 1,97 m. a largura da cabeceira Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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é de 0,57 m., largura a meio de 0,53 m. e a largura dos pés é de 0,47 m., e 0,40 m de profundidade a meio. 4.1.3.2.2 -Sepultura 2 Esta cavidade funerária foi construída em estreito bloco de arenito vermelho de Silves, situado na pendente sul da elevação. A particularidade desta sepultura é tratar-se de um jazigo de criança que oferece planta rectangular com cantos arredondados e paredes verticais, o fundo é plano, ligeiramente mais elevado junto da cabeceira. O eixo da sepultura esta orientada a 25ºN.E.. Em torno da câmara funerária exibe-se gola ou rebordo rebaixado, com 0,15 m largura, 0,05 m de altura, servindo para encaixar tampa monolítica. O comprimento da sepultura é de 0,58 m., e 0,22 m de largura na cabeceira, a largura a meio é de 0,25 m, e 0,20 m de largura na área de deposição dos pés, a profundidade a meio é de 0,26 m. 4.1.3.2.3 -Sepultura 3 A cavidade funerária foi aberta em afloramento de arenito vermelho que se expõe na vertente oeste do cerrinho. A câmara está fracturada em seis grandes blocos rochosos, que vão mostrando algum afastamento provocado pela acção mecânica das plantas que florescem junto do monumento. O eixo da sepultura mostra a orientação a 35º. N.E.. Exibe planta sub-trapezoidal, mais larga junto da cabeceira e estreitando até atingir a zona de deposição dos pés. Os cantos são arredondados, as paredes verticais. O fundo é plano ligeiramente côncavo ao centro e levemente elevado junto da cabeceira. Em torno da sepultura exibe-se moldura rebaixada ou gola que mostra 0,12 m de altura, e 0,15 m de largura, servindo provavelmente para encaixar tampa composta por vários elementos pétreos ou por único elemento lítico. Os limites da cavidade sepulcral apresentam 1,94 m de comprimento, 0,48 m de largura na cabeceira, 0,50 m de largura a meio, a largura dos pés é de 0,38 m e a profundidade média é de 0,42 m.

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4.1.4—Necrópole da Amorosa.

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Planta das Sepulturas

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4.1.4.1 - Ambiente Natural O extenso afloramento de arenito vermelho de Silves, que guarda a necrópole da Amorosa expõe-se na base da vertente voltada a sul da elevação dos cerros das Pedreiras que atingem uma cota 200 metros. O cemitério está a 400m em linha recta da Aldeia da Amorosa. A anterior povoação ocupa o topo e vertente Sul de suave elevação que atinge os 173 metros de altitude. A necrópole é composta por dezoito sepulturas, separadas em dois núcleos, o grupo (a), é constituído por treze sepulcros, enquanto o grupo (b) mostra cinco túmulos. Actualmente, estes dois núcleos estão separados por um caminho que foi construído com o desmonte de parte da rocha de arenito. Parte significativa das sepulturas do núcleo (a) apresenta fracturas, mutilações e amputações recentes, provocadas pela maquinaria agrícola pesada, que terão construído as plataformas para plantação de eucaliptos. Arvoredo que cobre o solo a este, norte e oeste da necrópole. Os solos a sul estão ocupados por pomares de citrinos e pequena represa antes de atingir a estrada municipal 1080 Amorosa Vale Fuzeiros. 4.1.4.2 - Estruturas 4.1.4.2.1 - Sepultura 1 Na parte superior do afloramento de arenito vermelho apresenta plataforma horizontal, onde foram abertas, provavelmente duas câmaras fúnebres, e onde se reconhecem as plantas. Designamos, sepultura 1, a que está encostada a sul e mostra traçado que sugere forma subtrapezoidal, no entanto, a amputação da parede comum ás duas sepulturas, forma grande pia e condiciona a obtenção de dados, como larguras e plantas. O eixo da sepultura está orientado a 300º. N.W. As paredes são verticais, os cantos são arredondados e fundo é plano. No perímetro exterior da sepultura podemos observar gola ou rebordo rebaixado, com 0,15 m altura e 0,10 m de largura, que serviria para embutir tampa monolítica ou formada por vários elementos pétreos. As medidas coligidas estão condicionadas pela amputação da parede comum às duas sepulturas, como anteriormente referimos, assim o comprimento da câmara sepulcral é de 2,01 m, a profundidade a meio é de 0,51 m. 4.1.4.2.2 - Sepultura 2 A sepultura foi aberta junto da anterior, teria estreita parede que a separava da 102

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precedente câmara funerária. Esta terá sido posteriormente amputada, formando agora uma grande pia. A planta que poderia oferecer seria sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e estreitando até atingir a zona de deposição dos pés. As demais paredes são verticais, os cantos arredondados, o fundo plano. No perímetro exterior da sepultura podemos observar gola rebaixada ou rebordo, com 0,04 m de altura e 0,09 m de largura, serviria para embutir tampa monolítica ou formada por vários elementos pétreos. O eixo da sepultura está orientado a 300º. N.W. As medidas coligidas estão condicionadas pela amputação da parede comum às duas sepulturas, assim o comprimento da câmara sepulcral é de 1,60 m, e 0,46 m de profundidade a meio. 4.1.4.2.3 - Sepultura 3 No topo nordeste do afloramento rochoso foi construída a sepultura que designamos por sepulcro n.º 3. O eixo desta sepultura está orientado a 350º N.W. Oferece planta rectangular, mantendo idênticas as dimensões tanto na cabeceira como ao meio e na zona de deposição dos pés. As paredes estão na vertical, os cantos arredondados e o fundo plano, ligeiramente mais alto junto da cabeceira. Ao centro nota-se ligeira concavidade em todo o comprimento do túmulo. O perímetro da câmara sepulcral exibe gola ou rebordo com 0,12 m de largura, e 0,07 m de altura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. Registámos ainda, que o túmulo detinha 1,87 m de comprimento, 0,34 m de largura na cabeceira, a largura a meio é de 0,38 m, e a largura dos pés é de 0,30 m, a profundidade a meio é de 0,37 m. 4.1.4.2.4 - Sepultura 4 A poucos metros para sudeste da anterior sepultura, no mesmo afloramento de arenito, foi construída a presente sepultura que mostra o eixo orientado a 340º. N.W. A planta é subtrapezoidal, mais larga junto da cabeceira e dos ombros e estreitando ao longo de sepultura até atingir a zona de deposição dos pés. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo plano ligeiramente côncavo ao centro. Junto da cabeceira mostra leve elevação. Em torno da sepultura registámos a existência de um rebordo ou gola rebaixada com 0,06 m de altura, e 0,11 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou formada por vários elementos pétreos. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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A câmara sepulcral conserva 1,82 m de comprimento, 0,40 m de largura na cabeceira, 0,38 m de largura a meio, a largura na área de deposição dos pés é de 0,21 m e a profundidade a meio é de 0,39 m. 4.1.4.2.5 - Sepultura 5 Este sepulcro foi construído num bloco pétreo que se encontra a poucos metros para sudoeste da anterior sepultura. Exibe uma fractura e deslocamento do bloco rochoso que limitava o túmulo na zona dos pés. A câmara sepulcral está orientada a 325º. N.W. Apresenta planta subtrapezoidal, ligeiramente mais larga na zona dos ombros e vai estreitando até à área da deposição dos pés. Oferece paredes verticais, cantos arredondados, e o fundo plano ligeiramente côncavo ao centro, junto da cabeceira exibe uma muito ligeira elevação do fundo. A sepultura mostra uma gola ou rebordo rebaixado em torno da metade anterior da câmara funerária, com 0,06 m de altura, e 0,10 m de largura que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários blocos de pedra. A metade posterior da sepultura, não tem gola nem rebordo, devido à mutilação e amputação de parte da sua superfície. Este sepulcro guarda 1,75 m de comprimento, 0,36 m de largura na cabeceira, 0,37 m de largura a meio, a largura na área de deposição dos pés é de 0,20 m, a profundidade a meio é de 0,39 m. 4.1.4.2.6 - Sepultura 6 Este túmulo foi construído paralelamente ao anterior, no mesmo bloco rochoso de arenito vermelho de Silves, mostra extensa mutilação da sua parede sudoeste. A orientação do eixo é de 350º.N.W. A câmara sepulcral exibe planta que poderia ser ovalada, mais larga a meio e estreita nas zonas da cabeceira e dos pés. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo apresenta-se plano, ligeiramente côncavo ao centro e levemente elevado junto da cabeceira. Junto da deposição da cabeça, exibe-se rebordo rebaixado ou gola, que conserva 0,03 m de altura e 0,10 m de largura que serviria para encaixar tampa formada por vários elementos pétreos ou por único objecto lítico. A fossa tumular preserva ainda 1,73 m de comprimento, 0,48 m de largura da cabeceira, 0,50 m de largura a meio, 0,16 m de largura dos pés, e 0,50 m de profundidade a meio. 4.1.4.2.7 - Sepultura 7 Este sepulcro foi aberto no mesmo afloramento rochoso de arenito vermelho de Silves 104

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dos dois anteriores túmulos. A câmara sepulcral oferece planta sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e ombros, estreitando até atingir a zona de deposição dos pés. O eixo está orientado a 325º N.W. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo plano, ligeiramente côncavo ao centro e levemente mais alto junto da cabeceira O perímetro da câmara sepulcral exibe uma gola ou rebordo rebaixado com 0, 14 m de largura, e 0,11 m altura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. Registámos ainda, que o túmulo detinha 1,78 m de comprimento, 0,37 m de largura na cabeceira, 0,40 m de largura a meio, 0,28 m de largura nos pés, 0,44 m de profundidade a meio. 4.1.4.2.8 - Sepultura 8 Esta câmara sepulcral foi aberta na extremidade poente do afloramento de arenito vermelho de Silves, onde foram construídas as três anteriores sepulturas. Reconhecemos nesta fossa tumular, planta sub-trapezoidal, mais larga junto da cabeceira e dos ombros, estreitando ao longo da sepultura até atingir a zona de deposição dos pés. O eixo está orientado a 30º. N.E. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo, plano, ligeiramente côncavo ao centro. Junto da cabeceira mostra uma leve elevação. Em torno da sepultura registámos a existência de rebordo ou gola rebaixada, com 0,09 m de altura, e 0,09 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou formada por vários elementos pétreos. A câmara sepulcral conserva 1,63 m de comprimento, a largura da cabeceira é de 0,36 m. A largura a meio é de 0,34 m, a largura da área de deposição dos pés é de 0,26 m, a profundidade a meio é de 0,40 m. 4.1.4.2.9 - Sepultura 9 No limite poente deste cemitério o presente sepulcro foi construído no bloco de arenito vermelho de Silves que se encontra a poucos metros a sul da sepultura que designámos por um e dois. A câmara sepulcral está orientada a 320º. N.W. Apresenta planta sub-trapezoidal, ligeiramente mais larga na zona dos ombros e vai estreitando até à área da deposição dos pés. As paredes são verticais, os cantos arredondados, o fundo é plano, a cabeceira exibe uma muito ligeira elevação. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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A sepultura mostra gola ou rebordo rebaixado em torno da metade anterior da câmara funerária, com 0,04 m altura e 0,09 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários blocos pétreos. A metade posterior da sepultura, não tem gola devido à mutilação e amputação de parte da sua superfície. Este sepulcro guarda 1,87 m de comprimento, 0,47 m de largura de cabeceira, 0,40 m de largura a meio, 0,27 m de largura na área de deposição dos pés, 0,29 m de profundidade a meio. 4.1.4.2.10 - Sepultura 10 Perpendicular ao anterior túmulo foi construído a sepultura em apreço, no mesmo bloco rochoso de arenito vermelho de Silves. Mostra planta sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e nos ombros, estreitando ao longo da sepultura até atingir a área de deposição dos pés. O eixo está orientado a 20º.N.E. A câmara sepulcral tem as paredes verticais, os cantos arredondados e o fundo plano, ligeiramente côncavo ao centro e levemente elevado junto da cabeceira. Não exibe gola ou rebordo rebaixado em torno da sepultura, por ter sido amputado parte da superfície do bloco rochoso. A fossa tumular preserva ainda 1,99 m de comprimento e 0,39 m de largura na cabeceira, 0,46 m de largura a meio, 0,30 m de largura nos pés, a profundidade a meio é de 0,41 m. 4.1.4.2.11 - Sepultura 11 A presente sepultura foi construída logo abaixo da metade inferior do anterior sepulcro, no mesmo afloramento rochoso de arenito. A fossa sepulcral tem planta sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e ombros, estreitando até atingir a zona de deposição dos pés. O eixo da sepultura está orientado a 340º N.W., As paredes são verticais, os cantos arredondados. O fundo é plano, ligeiramente côncavo ao centro e levemente mais alto junto da cabeceira. O sepulcro está muito fracturado e apresenta amputações de fracções das paredes, o perímetro da câmara sepulcral conserva gola ou rebordo rebaixado com 0,14 m de largura, e 0,11 m de altura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. Assentámos ainda, que a sepultura tem 2,12 m de comprimento e 0,48 m de largura na cabeceira, 0,46 m de largura a meio, 0,37 m de largura nos pés, 0,47 m de profundidade a meio. 106

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4.1.4.2.12 - Sepultura 12 Um pouco abaixo da anterior sepultura exibe-se a presente câmara sepulcral que foi aberta no afloramento de arenito vermelho, onde foram construídas as anteriores sepulturas. A fossa tumular apresenta planta sub-trapezoidal, mais larga junto da cabeceira e nos ombros, estreitando ao longo de sepultura até atingir a zona de deposição dos pés. Mostra eixo orientado a 0º. N. As paredes são verticais e os cantos arredondados. Na extremidade nascente da sepultura, apresenta rebordo ou gola rebaixada com 0,11 m de altura e 0,10 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou formada por vários elementos pétreos. A câmara sepulcral tem 1,82 m de comprimento, 0,37 m de largura na cabeceira e a largura a meio é de 0,45 m, a largura da área de deposição dos pés é de 0,30 m. Não podemos, por ora, completar a descrição deste túmulo por este ser o único no universo das quarenta e três sepulturas que guarda no seu interior espólio osteológico, que ainda não foi exumado. 4.1.4.2.13 - Sepultura 13 No limite sudoeste deste cemitério o presente sepulcro foi construído em bloco de arenito vermelho, encontrando-se isolado das restantes sepulturas. A câmara sepulcral está orientada a 0º. N. Mostra planta sub-trapezoidal, ligeiramente mais larga na zona dos ombros, estreitando até à área da deposição dos pés. As paredes são verticais, os cantos arredondados. O fundo é plano e junto da cabeceira está ligeiramente elevada. A sepultura mostra gola ou rebordo rebaixado em torno da metade anterior da câmara funerária, com 0,06 m de altura e 0,11 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários blocos pétreos. Este sepulcro tem 2,00 m de comprimento, a largura da cabeceira é de 0,43 m, a largura a meio é de 0,46 m, a largura na área de deposição dos pés é de 0,33 m, a profundidade a meio é de 0,35m.

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4.1.4.2.14 - Sepultura 14 Como referimos anteriormente este cemitério está dividido em dois grupos, o primeiro apresenta treze sepulcros e o segundo grupo cinco sepulturas. Estes dois núcleos estão separados por caminho aberto recentemente e ocupam actualmente espaços distintos. Assim, o próximo túmulo está inserido no grupo de cinco sepulturas. No topo noroeste do cemitério foi construído em substrato rochoso de arenito vermelho de Silves, a sepultura que designámos por sepulcro n.º 14 do grupo de cinco. O eixo desta sepultura está orientado a 5º N.E. Apresenta planta trapezoidal, mais larga na zona dos ombros e estreitando até à zona de deposição dos pés. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo plano, ligeiramente mais alto junto da cabeceira. Ao centro observa-se ligeira concavidade em todo o comprimento do túmulo. O perímetro da câmara sepulcral mostra gola ou rebordo rebaixado com 0,11 m de largura, 0,09 m de altura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. A sepultura tem 1,70 m de comprimento e a largura da cabeceira é de 0,46 m, a largura a meio é de 0,54 m, a largura dos pés é de 0,22 m, a profundidade a meio é de 0,34 m. 4.1.4.2.15 - Sepultura 15 Esta sepultura foi construída um pouco abaixo do anterior túmulo, no mesmo bloco rochoso. Mostra planta trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e ombros, estreitando até atingir a zona de deposição dos pés. A orientação do eixo é de 340º.N.W. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo apresenta-se plano, ligeiramente côncavo ao centro e levemente elevado junto da cabeceira. Em torno da sepultura a superfície da rocha foi rebaixada, formando rebordo ou gola com 0,09 m de altura e 0,14 m de largura que serviria para encaixar tampa formada por vários elementos pétreos ou por único objecto lítico. A sepultura tem 1,84 m de comprimento, e a largura da cabeceira é de 0,42 m, a largura a meio é de 0,46 m, a largura dos pés é de 0,36 m, a profundidade a meio é de 0,41 m. 4.1.4.2.16 - Sepultura 16 Um pouco abaixo das anteriores sepulturas, no sentido sudeste, exibe-se a presente Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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câmara sepulcral que foi aberta no arenito de Silves, isolada das anteriores. Reconhecemos planta trapezoidal, mais larga junto da cabeceira e dos ombros, estreitando ao longo da sepultura até atingir a zona de deposição dos pés. Mostra o eixo orientado a 350º. N.W. As paredes são verticais e os cantos arredondados. Em todo o perímetro da sepultura, observa-se rebordo ou gola rebaixada com 0,06 m de altura, e 0,09 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou formada por vários elementos pétreos. A câmara sepulcral tem 1,70 m de comprimento, a largura da cabeceira é de 0,39 m, a largura a meio é de 0,42 m e a largura da área de deposição dos pés é de 0,29 m, a profundidade a meio é de 0,30m. 4.1.4.2.17 - Sepultura 17 A poente da anterior sepultura, no bloco rochoso, foi construída o presente sepulcro. A câmara sepulcral que tem o eixo orientado a 5º. N.E. A planta é trapezoidal, ligeiramente mais larga na zona dos ombros e vai estreitando até à área da deposição dos pés. As paredes são verticais, cantos arredondados, o fundo é plano, ligeiramente côncavo ao centro, junto da cabeceira exibe ligeira elevação do fundo. A sepultura mostra gola ou rebordo em torno da câmara funerária, com 0,07 m de altura, e 0,10 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários blocos pétreos. O sepulcro conserva 1,75 m de comprimento, a largura de cabeceira é de 0,36 m, a largura a meio é de 0,41 m, a largura na área de deposição dos pés com 0,27 m, a profundidade a meio é de 0,38 m. 4.1.4.2.18 - Sepultura 18 A poucos metros para sudoeste do anterior sepulcro foi construída num afloramento rochoso, de arenito, a presente sepultura. A fossa sepulcral tem o eixo orientado a 0º N. Apresenta planta ovalada, mais estreita junto da cabeceira e dos pés e mais larga a meio do sepulcro. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo plano, ligeiramente mais alto junto da cabeceira, ao centro nota-se ligeira concavidade. Em todo o perímetro da câmara sepulcral mostra gola ou rebordo rebaixado com 0,15 m de largura, e 0,09 m de altura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. A sepultura apresenta 1,92 m de comprimento, a largura da cabeceira é de 0,65 m, a largura a meio é de 0,67 m, a largura dos pés é de 0,63 m, a profundidade a meio é de 0,31 m. 110

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Necrópole da Amorosa, vista Oeste

Necrópole da Amorosa, vista Este Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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4.1.5 - Necrópole do Castelo.

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Plantas das Sepulturas

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4.1.5.1 - Ambiente Natural O Cerro do Castelo, eleva-se a uma cota de 152 metros e está localizado a 500 metros a este de S. Bartolomeu de Messines. Chegamos à elevação seguindo a Estrada Nacional 124, ao 36,5 Km, logo após o viaduto do Itinerário Complementar 1 Lisboa / Algarve, na direcção sul encontra-se caminho em terra que circunda o cerro do Castelo. Em torno desta elevação regista -se a presença de várias vias de comunicação, como anteriormente referimos a norte, a E.N. 124, o IC 1. Lisboa / Algarve limita o monte a oeste, a sul e este confina o morro com o acesso à auto-estrada A2. Anotámos que a vertente sudoeste da elevação do Castelo foi alvo durante a primeira metade do século XX, de várias indústrias de extracção de blocos de arenito, para a construção civil. É junto destas pedreiras que se localizam três afloramentos rochosos, que apresentam quatro sepulturas abertas na rocha. O solo está ocupado por sobreiros, oliveiras, zambujeiros e pinheiros, os matos de esteva e acácias também partilham o espaço desta pequena elevação. Os vales em redor do cerro apresentam os solos ocupados por pomares de citrinos. 4.1.5.2 – Estruturas 4.1.5.2.1 - Sepultura 1 Na vertente oeste da suave elevação do cerro do Castelo a 148 m de cota emerge afloramento pétreo. Neste bloco arenítico, foi construída uma sepultura que se mostra, actualmente, fracturada em três grandes blocos e exibem afastamento considerável entre eles, devido à acção mecânica das árvores que floresceram junto deste sepulcro. A sepultura mostra planta sub-trapezoidal, mais larga junto da cabeceira e ombros, estreitando ao longo da sepultura até atingir a área de deposição dos pés. Os cantos são arredondados, as paredes verticais e o fundo plano, ligeiramente concavo ao centro. O perímetro da câmara sepulcral mostra gola ou rebordo rebaixado com 0,07 m de altura e 0,12 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou constituída por vários elementos pétreos. A orientação do eixo do sepulcro é a 5º. N.E. Conserva 1,86 m de comprimento e a largura da cabeceira é de 0,38 m, a largura a meio é de 0,41 m, a largura dos pés é de 0,23 m e a profundidade meio é de 0,41 m. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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4.1.5.2.2 - Sepultura 2 A poucos metros para Sul da anterior sepultura, exibe-se afloramento rochoso, pouco extenso, basculado para sul, onde foram construídas duas sepulturas, paralelas, que distam 0,40 m uma da outra. Consideramos assim o sepulcro a poente como a sepultura 2. Esta fossa sepulcral apresenta planta sub-trapezoidal, mais larga junto da cabeceira e dos ombros, estreitando ao longo da sepultura até atingir a área de deposição dos pés. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo plano, ligeiramente concavo ao centro. Em torno da câmara sepulcral mostra-se gola ou rebordo rebaixado com 0,15 m de altura e 0,14 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou constituída por vários elementos pétreos. A orientação do eixo do sepulcro é a 5º. N.E. Preserva 1,76 m de comprimento, 0,47 m de largura na cabeceira, 0,50 m de largura a meio e 0,26 m de largura nos pés, 0,50 m de profundidade a meio. 4.1.5.2.3 - Sepultura 3 A 0,40 m para nascente da anterior sepultura encontra-se o sepulcro que foi construído no mesmo bloco rochoso. A câmara sepulcral apresenta planta sub-trapezoidal, mais larga junto da cabeceira e ombros, estreitando ao longo da sepultura até atingir a área de deposição dos pés. O fundo é plano, ligeiramente concavo ao centro, as paredes são verticais e os cantos arredondados. Em volta da fossa sepulcral mostra gola ou rebordo rebaixado com 0,08 m de altura e 0,14 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou constituída por vários elementos pétreos. A orientação do eixo do sepulcro é a 5º. N.E. A sepultura assegura 1,82 m de comprimento, a largura da cabeceira é de 0,40 m, a largura a meio é de 0,47 m e a largura dos pés é de 0,35 m, a profundidade a meio é de 0,44 m. 4.1.5.2.4 - Sepultura 4 O quarto e último túmulo, desta necrópole foi aberto num penedo que se encontra a poucos metros, para nascente, das anteriores sepulturas. A cavidade sepulcral tem planta subtrapezoidal, mais larga junto da cabeceira e dos ombros, estreitando ao longo da sepultura até atingir a área de deposição dos pés.

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O fundo é plano, ligeiramente concavo ao centro, as paredes são verticais e os cantos arredondados. O perímetro da sepultura apresenta gola ou rebordo rebaixado com 0,03 m de altura e 0,09 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou constituída por vários elementos pétreos. O sepulcro mostra orientação do eixo a 0º. N. A sepultura ostenta 1,71 m de comprimento, a largura na cabeceira é de 0,46 m, a largura a meio é de 0,43 m, a largura dos pés é de 0,24 m, a profundidade a meio é de 0,30 m.

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Necrópole do Cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines.

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4.2 - Sepulturas Isoladas

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4.2.1 - Sepultura isolada n.º 1 da Forneca 4.2.1.1 - Ambiente Natural O túmulo foi construído num extenso afloramento de arenito vermelho de Silves. Está exposto no declive voltado a sul do cerro da Forneca, que se eleva a uma cota de 148 m. A sul da sepultura encontra-se a estrada que dá acesso à represa do Funcho, a 300 metros, do cruzamento onde nos encaminhamos para a citada barragem, na direcção do norte, encontramos extensa laje de arenito vermelho onde foi construído o sepulcro em apreço. O solo em redor do local está ocupado por matos rasteiros de esteva e acácias, os vales a sul apresentam pomares de citrinos. 4.2.1.2 - Sepultura A cavidade sepulcral mostra planta sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e dos ombros, estreitando até atingir a área de deposição dos pés. O eixo da sepultura está orientado a 335ºN.W. As paredes são verticais, os cantos arredondados, o fundo plano e ligeiramente concavo ao centro. Em todo o perímetro da fossa sepulcral apresenta rebordo ou gola rebaixada com 0,09 m de altura e 0,11 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos pétreos. Apresenta 1,94 m de comprimento a largura da cabeceira tem 0,48 m, 0,48 m de largura a meio, 0,31 m de largura dos pés, a profundidade a meio é de 0,55 m.

4.2.2 - Sepultura isolada n.º 2 da Forneca 4.2.2.1 - Ambiente Natural As vertentes expostas a sul dos cerros da Forneca exibem afloramentos rochosos de arenitos. Numa destas ocorrências, junto da estrada que segue para a Fonte Ferrenha, foi construída uma sepultura. Acercamos do local seguindo pela estrada municipal n.º 1080 Amorosa – Barragem do Arade, ao abordarmos o cruzamento que indica a direcção da Fonte Ferrenha seguimos essa via durante cem metros. A formação rochosa está no interior de uma propriedade privada e será necessário solicitar autorização para aceder ao sepulcro. Neste não foi possível realizar o registo gráfico do monumento devido á pouca sensibilidade do seu proprietário para o estudo que se está a realizar. Mesmo com estes impedimentos conseguimos efectuar alguns registos fotográficos e elementos particulares do monumento funerário em causa. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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4.2.2.2 - Sepultura A fossa sepulcral tem o eixo orientado a 5º N.E. Mostra planta ovalada, mais larga no centro e estreita na cabeceira e na área dos de deposição dos pés. As paredes são verticais, o fundo plano, ligeiramente côncavo ao centro, apresenta leve elevação junto da cabeceira. Os cantos são arredondados, em torno do sepulcro mostra gola ou rebordo rebaixado com 0,11 m de altura e 0,11 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou constituída por vários elementos pétreos. A câmara sepulcral preserva 1,80 m de comprimento a largura da cabeceira é de 0,42 m, a largura a meio é de 0,60 m, a largura dos pés é de 0,35 m, a profundidade a meio é de 0,45 m.

4.2.3 - Sepultura isolada da Horta de Baixo. 4.2.3.1 - Ambiente Natural Na base da pendente norte do cerro da Vilarinha, no local com o micro topónimo de Hortas de Baixo, em Vale Fuzeiros, exibe-se um penedo de arenito vermelho, com forma paralelepipédica, onde foi construída a sepultura. Os solos do vale que se encontra a norte da sepultura, estão cobertos por pomares de citrinos e pequenos hortos de leguminosas, que são irrigados com as águas do barranco do Baralha. A sul, o solo da vertente do cerrinho da Velarinha está povoado com estevas e sobreiros. 4.2.3.2 - Sepultura O penedo está situado na cota de 70 metros e mostra uma sepultura que com planta subtrapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e dos ombros, estreitando até atingir a área de deposição dos pés. As paredes são verticais, os cantos arredondados, o fundo é plano e ligeiramente mais elevado junto da cabeceira. O eixo da sepultura está orientado a 65.º N.E. Em torno da fossa sepulcral mostra gola ou rebordo rebaixado, com 0,09 m de largura e 0,09 de altura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos líticos. A câmara sepulcral conserva, 1,40 m de comprimento, a largura da cabeceira é de 0,29 m, a largura a meio é de 0,36 m, a largura dos pés é de 0,40 m, a profundidade a meio é de 0,26 m. 122

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4.2.4 - Sepultura isolada dos Canhestros. 4.2.4.1 - Ambiente Natural No topo do cerro que se eleva a 78 m de altitude no sítio dos Canhestros, exibe-se em esporão um bloco de arenito de Silves, basculado para sul, onde foi construído uma sepultura. A vertente norte do cerro apresenta-se alcandorado, na base corre o barranco do Baralha. A pendente sul, é suave e mostra um solo ocupado por pequenas hortas de citrinos. Junto do local da sepultura foram construídas duas habitações, que presentemente estão em ruínas. 4.2.4.2 - Sepultura A câmara sepulcral mostra planta sub-trapezoidal, mais larga na zona da cabeceira e dos ombros, estreitando até atingir a área de deposição dos pés. Os cantos são arredondados, as paredes verticais e o fundo plano, com uma pequena concavidade central em todo o comprimento da sepultura, a cabeceira está ligeiramente mais elevada. O perímetro da sepultura exibe rebordo ou gola rebaixada com 0,08 m de largura e 0,11 m de comprimento, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos. As dimensões recolhidas da sepultura são: comprimento de 1,92 m, largura da cabeceira 0,51 m, largura a meio de 0,49 m, largura dos pés de 0, 39 m, profundidade a meio de 0,38 m.

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Sepultura Isolada II da Forneca, Vale Fuzeiros. 124

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4.2.5 - Sepultura isolada dos Pedreirinha. 4.2.5.1 - Ambiente Natural Na pendente norte do cerro da Pedreirinha no sítio de Vale Fuzeiros emergem blocos de arenito vermelho, a uma cota de 148 m, num destes afloramentos foi construído uma sepultura. A norte do local ergue-se a elevação do Monterroso e a necrópole da Pedreirinha. Os terrenos que se localizam a sul são compostos por xistos e estão ocupados por matos autóctones. A mancha florestal da encosta onde se encontra a sepultura é constituída por matos rasteiros e recentemente em área limítrofe plantaram ciprestes. 4.2.5.2 - Sepultura O afloramento em causa mostra planta sub-trapezoidal, com a parte superior semicircular e está basculado para poente. A câmara sepulcral apresenta planta ovalada, mais larga ao centro e estreita junto da cabeceira e dos pés. As paredes são verticais, os cantos arredondados e o fundo plano, ligeiramente mais elevado junto da cabeceira. O perímetro da sepultura mostra rebordo ou gola rebaixada, muito ligeiro, com 0,02 m de altura e 0,10 m de largura, que serviria para encaixar tampa monolítica ou composta por vários elementos. As dimensões recolhidas na sepultura são: comprimento de 1,62 m, largura da cabeceira 0,36 m, largura a meio de 0,38 m, largura dos pés de 0, 33 m, profundidade a meio de 0,33 m.

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5 - ARQUITECTURA

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5.1 - Arquitectura Funerária. Um extenso veio de arenito vermelho de Silves, emerge em todas as elevações, que limitam a norte o vale da aldeia da Amorosa e o sítio de Vale Fuzeiros. Os pequenos cerros apresentam por vezes longos afloramentos e imponentes penedos, nas encostas voltadas a sul. Esporões rochosos sobressaem nos topos dos montes, atingindo cotas entre os 200 e 150 metros de altitude. Contrapõe-se a estas elevações o Monterroso e a Gralheira que atingem uma cota de 246 metros e 281 metros de altitude respectivamente. A escolha de um afloramento rochoso de arenito vermelho, o mais comum na região, para ai se construir um cemitério rupestre, não seria por certo de modo aleatório. A proximidade do habitat, um local que se deveria distinguir na paisagem próxima e a sua fácil identificação no horizonte, seriam, provavelmente, factores a ter em conta pela comunidade. As necrópoles da Forneca, Carrasqueira, Amorosa e sepulturas isoladas estão inseridas nos critérios ante mencionados. Os penedos onde foram construídos os aludidos cemitérios, destacam-se da paisagem, são facilmente identificáveis no horizonte e muito presumivelmente os habitats estariam próximos, apesar de não termos conseguido identificar a localização exacta destes, muito verosimilmente pela actual ocupação habitacional do território em causa ou, por se encontrarem sob as actuais povoações, e ainda, pela prática agrícola intensa que se comete no sítio. A construção de habitações com materiais pouco perenes, a instalação destas em local que não interfira com a prática agrícola, a criação de gado, terão sido factores, condicionantes, no tipo de povoamento implementado por estas comunidades. As condições precedentes terão inviabilizado a presença prolongada no tempo de testemunhos inerentes aos habitats, muros de habitações, buracos de postes ou fornos. A ocupação humana desta área tenta assentar nas vertentes expostas a Sul das suaves elevações que emergem na região de Vale Fuzeiros. Ocupariam, provavelmente, um espaço junto de um rochedo onde guardariam os familiares já falecidos. A água está sempre presente no vale, presumivelmente, a curta distância do habitat. As serras a Norte poderiam fornecer a madeira, para combustível ou para a construção e ainda, o alimento para o gado. O vale será reservado para o cultivo das leguminosas e dos cereais.

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A indicação do local no penedo onde se iria proceder à abertura da sepultura, dependeria provavelmente de vários factores. No caso de ser a fossa inaugural esta iria presumivelmente ocupar a parte central do afloramento rochoso. Na situação de já existirem outras câmaras funerárias construídas no penedo, esta seria fundada ao lado das existentes, formando assim um alinhamento paralelo. Ocorrem, também, situações de ocupação de penedos isolados em redor do núcleo funerário central, como sucede nas necrópoles da Forneca, Amorosa e na Carrasqueira. Escolhido o local onde se iria construir a morada definitiva do indivíduo, assinalava-se na superfície rochosa a planta da fossa tumular. Em seguida teria início o desmonte para a abertura da câmara funerária. (Tente e Lourenço, 1998, p. 208). Esta operação seria efectuada com recurso a instrumentos metálicos, que podemos testemunhar e registar as suas marcas distintas, nas paredes internas das fossas sepulcrais. Os sinais negativos esculpidos nas paredes verticais e no fundo das câmaras funerárias mostram formas diversas. Uma é ponta aguda e provavelmente de secção quadrada, outra forma registada é larga e apresenta uma extremidade arredondada, com uma secção rectangular. O instrumento de trabalho que poderá escavar as rochas de arenito vermelho de Silves marcas idênticas às que registamos é actualmente apelidado de picareta. Apresenta-se em forma de um quarto de arco de círculo, uma das extremidades é pontiaguda e tem secção quadrada, enquanto a extremidade oposta é uma lâmina de secção rectangular e mostra gume semicircular. Estes dois tramos estão unidos por um anel onde se pode fixar um cabo, apresentando assim a forma de um T com as pontas superiores descaídas. Regista-se a presença deste tipo de instrumento, desde a ocupação itálica do actual território português, utilizado na mineração (Alarcão, 1997, pp. 95-106). O alisamento das paredes internas e do fundo, e o desgaste das orlas da fossa para receber a tampa concluiria a construção da sepultura. A cobertura, se possível, seria talhada num único bloco, embora na impossibilidade de se extrair uma laje do tamanho pretendido seriam, muito presumivelmente, utilizadas várias para encerrar o defunto na sua morada definitiva. Até à presente data não conseguimos identificar partes ou qualquer outro elemento que possa ter pertencido à cobertura das sepulturas em causa, muito presumivelmente devido à sua reutilização para a construção civil ou outras aplicações. A ausência de sepulcros cobertos terá também contribuído para que não fosse possível aferir um modelo de tampa para os jazigos. Escolhida a cobertura da sepultura esta seria aplanada interiormente e dimensionada 130

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para a encaixar no rebaixo anteriormente realizado na sua orla. Todas estas tarefas seriam efectuadas com o indivíduo moribundo ou logo após a sua morte. O tempo de execução destes trabalhos teria de ser rápido e muito naturalmente executados comunitariamente, entre os familiares e vizinhos. O assinalar da sepultura para posteriormente ser identificada pela família não sabemos se ocorreria. No entanto registámos outros elementos junto dos sepulcros que podem ter tido alguma função ritual ou simplesmente anunciar a quem pertencia aquela morada. Junto das câmaras funerárias assinalámos a insculturação de pequenas covinhas circulares, que variam de diâmetro entre os 2 cm, as mais pequenas e 15 cm, as depressões maiores. A profundidade média que guardam varia entre os 2 e 3 cm. Algumas destas covinhas estão inseridas em depressões maiores que os penedos oferecem, naturalmente, ou foram construídas por desmonte da superfície rochosa. Outras covinhas aparecem muito próximo das sepulturas, que sugerem a existência de uma prática ritual funerária associada a estes elementos A prática de tumular na rocha, que se verifica na região de S. Bartolomeu de Messines, Amorosa e Vale Fuzeiros, descarta a presença de esquifes, de madeira, nos quarenta e três túmulos deste universo, pois a profundidade e forma das fossas sepulcrais não comportaria tal funcionalidade. A planta tumular mais comum nos cemitérios em apreço é a sub-trapezoidal, com 23 sepulcros e representando mais de metade, (53%) das fossas. As plantas ovaladas, rectangulares e trapezoidais representam (14%) dos túmulos, com seis exemplares cada. Dois dos túmulos, que não conseguimos obter a planta com exactidão, representam (5%) dos jazigos. Na necrópole estudada por Mário Varela Gomes, no arqueossítio de Poço dos Mouros, no concelho de Silves, nas oito sepulturas que mostra, surgem plantas de forma rectangular em quatro exemplares (49%), trapezoidal em três exemplares (38%), por último com traçado oval, apresenta-se um único exemplar (13%). (Gomes, 2002, pp. 339-391). As formas aqui apresentadas são semelhantes às que encontramos na região de S. Bartolomeu de Messines e verificase, igualmente, uma total ausência de sepulturas antropomórficas. Nos dezoito túmulos escavados na rocha do distrito de Évora que foram registados e estudados nos concelhos do Alandroal, Borba, Redondo e Vila Viçosa, parece ocorrer a existência de um possível túmulo antropomórfico, no entanto os restantes apresentam plantas tipologicamente idênticas às do concelho de Silves. Assim, os traçados ovalados representam (22%) com quatro Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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exemplares, as sub-rectangulares detêm (50%) das ocorrências com 9 ocorrências, enquanto as formas rectangulares apresentam somente 3 casos ou seja (17%) deste universo, surgindo de forma indefinida dois túmulos, correspondentes a (11%) dos casos descritos. (Tente e Lourenço, 2002, pp. 239-258). Junto da igreja de S. Bartolomeu em Monsaraz, concelho de Reguengos de Monsaraz, aflora substrato rochoso de xisto onde se observaram algumas sepulturas abertas no manto pedregoso. O arqueólogo Mário Varela Gomes investigou o local e ali registou quarenta e sete tumulações, calculando a existência de mais de uma centena deles. (Gomes, 2002, p.371). As sepulturas deste cemitério ostentam plantas de forma trapezoidal, para os sepulcros antropomórficos, e plantas ovaladas para os túmulos não antropomórficos. (Motta, 1996, p.38). Dois outros núcleos de sepulturas escavadas na rocha, localizados no concelho de Gouveia, distrito da Guarda, e no concelho de Carregal do Sal, no distrito de Viseu, contam com 63 e 24 sepulturas respectivamente. Deste universo de oitenta e sete túmulos os não antropomórficos atingem somente uns ligeiros (13%) com 11 exemplares. As plantas tumulares não antropomórficas registadas nestes dois concelhos são sub-rectangulares, ovaladas e rectangulares, que apresentam dois, sete e dois testemunhos representando (18%), (64%) e (18%) respectivamente. (Tente e Lourenço, 1998, pp. 191-218). Dos noventa sepulcros escavados na rocha que o Professor Doutor Mário Jorge Barroca, registou entre Douro e Minho, vinte e quatro túmulos são não antropomórficos representando 27% dos jazigos, contrapondo-se aos 73% de sepulturas antropomórficas que detêm sessenta e seis exemplares. As plantas documentadas que ocorrem nas fossas tumulares não antropomórfica, são rectangulares, com 12 exemplos, ovais com seis modelos e trapezoidais com o mesmo número. Assim, as plantas rectangulares totalizam (50%) dos jazigos não antropomórficos e as plantas ovais e trapezoidais (25%) cada. (Barroca, 1987, pp. 119-176). Em Portugal o estudo deste tipo de cemitérios tem avançado lentamente, por falta de meios, outras por escassez de curiosidade científica por parte dos investigadores. Em Espanha o panorama parece um pouco mais adiantado com a escavação de algumas importantes necrópoles nas bacias hidrográficas dos rios Tejo e Douro. No entanto na Andaluzia onde a actividade arqueológica é também bastante activa, mostram-se, por ora, algo incipientes os estudos sobre necrópoles tardo-romanas ou visigóticas escavadas na rocha. O Dr. Júlio Punzón efectuou síntese a partir de trinta e cinco necrópoles escavadas na província de Granada, que estão

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Plantas das Sepulturas Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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delimitadas cronologicamente entre o período Tardo antigo e Visigótico, do século III d.C. ao século VIII d.C. (Punzón, 2004, pp. 7- 12) Do universo funerário estudado só catorze cemitérios apresentaram dados parciais, e destes somente cinco necrópoles foram construídas em fragas rochosas. Os restantes campos funerários foram abertos em solo vegetal. A Necrópolis del Bairro de la Esperanza (Loja), é conhecida desde o século XIX, apresentado vinte e quatro túmulos escavados na rocha, com orientação O-E. As formas apresentadas são rectangulares, trapezoidais, ovaladas e em redor das sepulturas observa-se degrau onde assentariam as lajes de cobertura, sendo antropomorfas. (Punzón, 2004, p. 52). Na necrópole do Cortijo de Buenavista (Moraleda de Zafayona), foram escavadas quarenta e três sepulturas, embora só uma tendo sido aberta no substrato rochoso. (Punzón, 2004, p. 52). A necrópole Lagar de Beas (Quéntar), identificada após prospecção ao terreno, onde se reconheceram restos de sepulturas escavadas na rocha, com tipologia que recorda os túmulos visigóticos. (Punzón, 2004, p. 76). Na necrópole de Quèntar, foram identificados restos de possíveis sepulturas escavadas na rocha, que a tipologia sugere serem visigóticas. (Punzón, 2004, p. 78). Na necrópole de Tozar (Moclin), descobriram-se cerca de vinte sepulturas escavadas na rocha. A forma destas era rectangular ou trapezoidal, com a cabeceira talhada em ângulos rectos. (Punzón, 2004, p. 80). Podemos, no entanto, constatar que a planta das sepulturas estudadas em torno de Granada apresentam tipologia semelhante ás de Poço dos Mouros e S. Bartolomeu de Messines, surgindo os traçados rectangulares, trapezoidais, ovais e arqueados, só em um dos casos mencionados anteriormente, Bairro de la Esperanza (Loja), se refere que a forma das fossas tumulares são antropomorfas. As restantes sepulturas construídas no solo vegetal apresentam formas também elas análogas ás sepulturas em apreço, mas o estudo de Punzón mostra uma variação na forma da sepultura da Antiguidade Tardia para o período Tardorromano, onde as formas trapezoidais, ovaladas e arqueadas vão sendo mais raras neste último período em detrimento da planta rectangular, chegando mesmo a não se registar uma única forma arqueada.

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Os sepulcros da Antiguidade Tardia mostram cobertura predominantemente de lajes de pedra, invertendo-se a tendência no período tardorromano, onde a cobertura da sepultura com tégulas ou outro material cerâmico ocorre na grande maioria dos túmulos. O material construtivo da sepultura também sofreu variações significativas, na Antiguidade Tardia a fossa simples e a cista com lajes de pedra representam mais de (75%) dos exemplos, enquanto no período subsequente, a fossa simples ganha expressão detendo mais de metade dos modelos (Punzón, 2004, pp. 96 - 101). As fossas simples, durante o Período Tardorromano representavam mais de metade dos exemplos, enquanto as fossas com estruturas interiores representavam cerca de (34%) dos testemunhos. O Período Visigótico na região de Granada, em Espanha, traz alterações a estas últimas sepulturas que passam a constituir a maioria dos exemplares ultrapassando os (66%) dos casos identificados (Punzón, 2004, p. 102). Exemplos de cemitérios visigodos encontram-se um pouco por todo o país vizinho. A necrópole de Carpio del Tajo (Toledo) ofereceu as sepulturas abertas no substrato arenítico e as dimensões de algumas fossas poderão sugerir ter recebido esquifes de madeira, outras ainda apresentaram paredes e coberturas de pedra e cerâmica. (Gomes, 2002, p.372). Na necrópole de Cacera de las Ranas (Aranjuez, Madrid), foram investigadas mais de uma centena de sepulturas e identificadas fossas abertas no solo, sem qualquer estrutura construtiva, que estão relacionadas com a inumação em ataúde de madeira, pois na sua maioria foram recolhidos pregos de ferro (Arranz, 2000. p. 224). Na ampla necrópole de Alcalá de Henares (Madrid), foram assinalados noventa e cinco sepulcros, 9% destes foram construídos no solo vegetal e outros tantos estavam cobertos por lajes pétreas. O aparecimento de pregos de ferro em algumas fossas tumulares, sugere que estes terão sido empregues em esquifes de madeira. (Gomes, 2002, p.372). As sepulturas duplas não aparecem mencionadas na maioria dos estudos efectuados em cemitérios rupestres, provavelmente devido à ausência de tal ocorrência ou por ser difícil distinguir estas estruturas associadas em necrópoles onde a quantidade de sepulcros é elevada. Todavia, nas necrópoles de S. Bartolomeu de Messines, Amorosa e Vale Fuzeiros, as sepulturas duplas que atingem (19%) dos exemplares, com 8 sepulturas, nº 4 e 5; 13 e 14; 17 e 18; 36 e 37. O comprimento médio das fossas tumulares das necrópoles em apreço é de 1,75 m. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Cortes transversais das Sepulturas 136

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incluímos neste cálculo o fragmento de sepultura da Forneca que oferece pelo menos metade do túmulo, com 0,62 m. de comprimento máximo, (sepultura 7), e o jazido de criança da Pedreirinha (sepultura 15), com o comprimento de 0,58 m. Só foi registado a existência de um exemplar de sepultura com 1,40 m, (sepultura 41). As fossas tumulares até 1,60 m. correspondem a duas, (sepulturas 8 e 18), que representam (5%) do universo das quarenta e três sepulturas estudadas. Com comprimento até 1,70 m. conservam-se (16%) dos testemunhos (sepulturas 4, 5, 6, 24, 30, 32 e 43) e (19%) medem até 1,80 m. (sepulturas 3, 10, 21, 22, 23, 33 e 37). A maioria dos sepulcros apresenta dimensões próximas de 1,90 m. (sepulturas 2, 9, 11, 12, 13, 19, 20, 25, 28, 31, 35, 36 e 39), representando cerca de (30%). Registámos sepulturas com 2 m. ou comprimentos superiores (sepulturas, 1, 14, 16, 17, 26, 27, 29, 34, 40 e 42) representando cerca de (23 %) dos túmulos. A necrópole que oferece dimensões de sepulcros maiores é o cemitério da Pedreirinha, se excluirmos a sepultura de bebé, apresentam os maiores comprimentos médios dos sepulcros, (1,96 m). Com grandezas idênticas, as necrópoles da Carrasqueira e da Amorosa, conservam sepulturas com medidas médias de 1,84 m. e 1,83 m. respectivamente. O cemitério do cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines, oferece comprimentos médios de 1,79 m. Os jazigos isolados que compilámos não manifestam grande discrepância em relação aos demais sepulcros e conservam medidas médias de 1, 75 m. A necrópole da Forneca mostra as fossas mais pequenas, com dimensão média de 1,71 m de comprimento. No cemitério do Poço dos Mouros, na freguesia de Alcantarilha, do concelho de Silves, as dimensões médias dos sepulcros atingem o 1,45 m de comprimento médio, conservando esta necrópole cerca de (50%) dos túmulos correspondendo a crianças. As restantes sepulturas pertencem a adultos, medindo a maior 1,98 m de comprimento e a mais pequena 0,98 m. As necrópoles e sepulturas isoladas do distrito de Évora, oferecem sepulturas que variam entre 1,10 m, as mais pequenas, e 2,04 m, as de maior dimensão. A maioria, destas fossas sepulcrais, detém dimensões no intervalo de 1, 61 m. e 1,90 m. com 10 exemplos, que representam mais de metade dos casos neste universo de dezoito sepulturas. No intervalo de, 1,91 m. e 2,20 m. o referido cemitério, apresenta três sepulturas que representam 17% dos exemplares. Dois sepulcros oferecem dimensões indeterminadas e um único caso conserva as dimensões de 1,10 m., que deveria pertencer a jovem. (Tente e Lourenço, 2002, pp. 239-258). Nas onze sepulturas não antropomórficas coligidas nos concelhos de Carregal do Sal e Gouveia, os comprimentos das fossas variam entre 0,74 m, num sepulcro de Arcozelo da Serra, Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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e 2,10 m, numa sepultura de Saião. No entanto, com dimensões entre 1,00 m e 1,30 m existem três exemplares, no intervalo imediatamente a cima de 1,31 m a 1,60 m não oferece qualquer caso. Entre o comprimento de 1,61 m e 1,90 m identificaram-se quatro sepulcros. Os restantes dois túmulos não apresentam dimensão longitudinal. (Tente e Lourenço, 1998, pp. 191-218) A norte do Rio Douro, os dados compilados são escassos, as necrópoles com sepulturas não antropomórficas, existentes apresentam dimensões que variam entre 2,30 m, na sepultura de Gondoriz, distrito de Viana do Castelo, e 1,60 m, em sepultura próximo de Perafita, distrito do Porto. Os restantes sepulcros que se apresentam oferecem dimensões em torno 1,80 m. (Barroca, 1987, pp. 119-176) O estudo das necrópoles da província de Granada em Espanha, não nos faculta medidas dos sepulcros. No entanto apresenta análise da idade dos inumados do Período Tardo-Romano e Visigótico, que demonstra a existência nos primeiros cemitérios sepulcros de neonatos e de infantis, representando mais de metade dos enterramentos. No período subsequente a deposição dos infantis e neonatais não atinge os (12%) dos casos, cabendo aos adultos a maioria dos sepulcros. (Punzón, 2004, pp. 109 e 110).

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Sepulturas 14 e 15 do núcleo 2 da necrópole da Amorosa Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Necrópole da Carrasqueira, Vale Fuzeiros.

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6 - RITUAL FUNERÁRIO

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6.1 – Ritual O ritual funerário que ocorre nas necrópoles do Cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines, Amorosa, Forneca, Carrasqueira, Pedreirinha em Vale Fuzeiros e nas sepulturas isoladas da Forneca, Horta de Baixo, Canhestros e Pedreirinha, também em Vale Fuzeiros é a prática da inumação em fossa, simples, aberta no arenito vermelho de Silves, coberta por laje monolítica ou composta por vários blocos. A ausência de esquifes de madeira parece ser uma realidade, pois as dimensões das fossas sepulcrais não comportariam tal aparato. No entanto, nas sepulturas 34 e 40, da necrópole da Amorosa e na isolada 2, da Forneca com larguras iguais ou superiores a 0,60 m, poderiam receber deposições em ataúdes de madeira. A planta ovalada daquelas sepulturas também permitiria essa opção, todavia, a violação anterior destes sepulcros não deixou qualquer testemunho da presença de madeira no local, pelo que, optámos por considerar que a prática usual deste universo de necrópoles não admitia esquifes. Na necrópole do Poço dos Mouros, na freguesia de Alcantarilha, do concelho de Silves, também o arqueólogo Mário Varela Gomes sugere a opção ritual de inumação do cadáver, envolto em sudário na posição longitudinal, sem qualquer ataúde a proteger o corpo, pois a largura das fossas tumulares não comportariam mais que aquele. (Gomes, 2002, p. 374). A profanação das sepulturas, de S. Bartolomeu de Messines e de Vale Fuzeiros, que ocorreu em épocas precedentes, não deixou testemunhos da existência de oferendas aos defuntos, prática que ocorre noutros cemitérios estudados neste concelho, como na necrópole anteriormente aludida de Poço dos Mouros. Ali Mário Varela Gomes recolheu, ainda, alguns fragmentos cerâmicos nas terras da necrópole, remexidas pelas intervenções, ocorridas em 1958 e 1970, dirigidas pelo Sr. Padre Semedo Azevedo da Paróquia de Albufeira e pela Dr.ª Maria Elisa Helena Henriques Gomes, respectivamente. O cemitério de Poço dos Mouros, ofereceu uma garrafa e um copo, exumados da Sepultura 1, fragmento cerâmico de jarro e fragmento cerâmico da parede de gargalo, provindos, provavelmente, da sepultura 2, tal como fragmentos cerâmicos correspondendo a um fundo de panela e de parede de vasilha recolhidos na sepultura 6. (Gomes, 2002, pp. 339391). No universo dos quarenta e três sepulcros estudos nas necrópoles d S. Bartolomeu de 142

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 143 ____________________________________________________________________________________

Messines e Vale Fuzeiros, a orientação mais comum é a noroeste-sudeste, correspondendo a primeira directriz à deposição da cabeça e a segunda ao assentamento dos pés, com 23 exemplares que representam a (55%) dos testemunhos. As sepulturas que apresentam esta orientação são: 1, 2, 3, 4, 5, da necrópole da Forneca; 9, 10, 11, 12, 13, da necrópole da Carrasqueira; 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 25, 27, 31 e 32 do cemitério da Amorosa; sepultura 40, isolada da Forneca no caminho para o Funcho e sepultura 42, isolada dos Canhestros. Segue-se a orientação norte-sul, com 12 exemplares que atingem (29%) dos vestígios. As sepulturas que mostram a anterior orientação são: sepulturas 6 e 8 da necrópole da Forneca; 28, 29, 30, 33 e 34 do cemitério da Amorosa; 35, 36, 37 e 38 da necrópole do Castelo e sepultura 39, isolada da Forneca, no caminho da Fonte Ferrenha. Somente seis sepulcros estão orientados nordeste-sudoeste, representando (14%) dos exemplares. As sepulturas que denunciaram a anterior orientação são as 14, 15 e 16, da Necrópole da Pedreirinha as 24 e 26 do cemitério da Amorosa, e a sepultura 41, isolada da Horta de Baixo. Foi coligido um único sepulcro, 43, que oferece orientação sudestenoroeste e representa 2% deste universo, a sepultura isolada da Pedreirinha. A exposição a sul, da maioria dos afloramentos rochosos de arenito vermelho de Silves, condicionou, muito provavelmente, a orientação e construção das fossas fúnebres, ostentando algumas necrópoles sepulturas que estão direccionadas para outras orientações, caso da necrópole da Amorosa, onde a extensão do afloramento rochoso permite construir a sepultura no rumo adequado. No cemitério da Pedreirinha, onde as fossas foram abertas em penedos isolados e estes estão direccionados para nordeste, tal orientação condicionou, muito provavelmente, a construção dos túmulos. Terá ocorrido situação idêntica à anterior na necrópole da Carrasqueira, onde os afloramentos se mostram direccionados para nordeste. No cerro do Castelo, em S. Bartolomeu de Messines, ostenta os penedos orientados a norte, direcção das sepulturas ai construídas. As sepulturas isoladas que foram construídas em penedos isolados, Horta de Baixo, Canhestros e Pedreirinha, estão orientadas de acordo com a orientação que os penedos detêm. Recordamos que as 35 necrópoles, investigadas na região de Granada em Espanha, o autor do estudo mostra que a maioria das sepulturas, (79,30%), de Época Tardo-Romana, séculos VI a VIII d.C., estão orientadas de oeste para este. O primeiro ponto cardeal coincide com a deposição da cabeça. Direccionadas de Este para Oeste só registou (13,80%) dos sepulcros, somente (6,90%) dos sepulcros é que apresentam o sentido norte / sul. Para a Antiguidade Tardia, anterior ao século V. d.C. o autor coligiu (65,72%) das Luís Miguel Guerreiro Cabrita

143

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 144 ____________________________________________________________________________________

sepulturas orientadas oeste / este, registando a existência de (22,14%), este / oeste e (12,08%) orientadas norte sul, conclui ainda que na Andaluzia Oriental, desde o estabelecimento decisivo do Cristianismo se praticava a orientação oeste / este. (Román Punzón, 2004, pp.93 e 94). No entanto, a maioria destas necrópoles foram abertas em solo vegetal e somente cinco necrópoles, daquele universo, foram construídas na rocha. Também só foi possível escrutinar a orientação da necrópole do bairro da Esperanza em Loja, com 24 sepulcros orientados oeste / este. (Román Punzón, 2004, p.52). Na necrópole rupestre de Tiermes, onde foram estudadas 35 sepulturas construídas num maciço rochoso de arenito, registaram-se seis orientações na disposição dos sepulcros ai reconhecidas. Com a orientação oeste – este, apresentam-se (57,14%) dos exemplares, noroeste – sudeste correspondem (28,57%) dos sepulcros, com a direcção norte – sul regista-se a presença de dois exemplares que corresponde a (5,71%) dos túmulos. Com as orientações sul – norte, sudoeste – nordeste e sudoeste – oeste, foi identificado um sepulcro em cada uma daquelas orientações, correspondendo a (2,85%) dos testemunhos. (Doménech, 1994, p.65). Na extensa necrópole Tardo-Romana de Albalate Las Nogueras (Cuenca), foram estudadas 354 tumbas. Quase meia centenas destas, correspondendo a (41%) dos testemunhos, não ofereceram orientação precisa. No entanto, os restantes vestígios mostraram direcção este – oeste com 139 sepulcros que representam (39,3%) daquele universo. Com a orientação oeste – este, só se identificaram 53 sepulturas que expressam deter (15%) dos testemunhos. A direcção norte – sul é a menos representada, com 14 exemplos registados, correspondem a (4,3%) do total de sepulturas desta necrópole. De acordo com o estudo apresentado, o autor afirma que a orientação mais comum é a este – oeste, nas necrópoles do Douro durante o século IV d.C. (Fuentes Dominguez, 1989, pp. 249-273) Num outro vasto cemitério, Cacera de las Ranas, foram estudadas cerca de centena e meia de sepulturas construídas no solo, onde (53,43%) das sepulturas estão orientadas oeste – este e as restantes sepulturas (46,56%) mostram uma direcção sudoeste – nordeste. A primeira orientação oeste – este, está relacionada com a área da necrópole que corresponde aos séculos V e VI d.C., enquanto que o ligeiro desvio que não excede os quarenta graus, so. – ne. é predominante na zona do cemitério atribuído aos séculos VII e VIII d.C. (Arranz, 2000, pp. 235, 236). Na necrópole hispano-visigoda de Segobriga, as 234 sepulturas identificadas, apresentam na sua maioria a orientação mais comum oeste – este, correspondendo o 144

primeiro

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 145 ____________________________________________________________________________________

ponto cardeal à deposição da cabeça do defunto. Alguns casos ostentam um desvio este – sudoeste, escassos os sepulcros orientados sul – norte. (Almagro Basch, 1975, p. 111). Na antes citada necrópole de Poço do Mouros, a orientação das oito sepulturas que formam este conjunto funerário, é sudoeste – nordeste e oeste – este. O afloramento rochoso onde foi construído o cemitério está exposto na vertente voltada a nascente da elevação das Terras Velhas. (Gomes, 2002, p. 375). Nos cemitérios de Albalate Las Nogueras, Cacera de las Ranas, Segobriga e Poço do Mouros, foram, também, registadas a existência de fossas mais alargadas, ou sepulturas onde estavam depositadas várias ossadas pertencentes a mais do que um individuo, ou a numerosos indivíduos. Estruturas similares parecem ocorrer em algumas necrópoles existentes no sítio de Vale Fuzeiros, necrópole da Forneca e necrópole da Amorosa. No primeiro daqueles cemitérios, no topo do afloramento rochoso, apresenta-se fossa de forma circular e uma outra de forma quadrangular, a primeira depressão poderia ser utilizada para depositar os restos mortais e a depressão quadrangular pode sugerir a sua utilização na preparação do corpo, para ser entregue na derradeira morada. Na necrópole da Amorosa, os sepulcros 1 e 2, que foram amputados da parede que os separaria e transformados numa grande pia, podia receber os remanescentes mortais das sepulturas que se encontram construídas em torno desta. Junto deste local encontramos ainda uma depressão que poderia albergar e preparar um corpo. Na pluralidade dos cemitérios anteriormente aludidos, a direcção mais vulgar das fossas sepulcrais, é de oeste para este, coincidindo a primeira direcção com a deposição da cabeça. Mesmo na necrópole onde esta não é a direcção mais privilegiada, Albalate Las Nogueras, ela apresenta uma percentagem elevada de sepulturas posicionadas na direcção mais comum. Nas necrópoles rupestres de Loja, perto Granada em Espanha, Tiermes, perto de Madrid, a orientação mais comum das fossas sepulcrais, é a oeste – este. As fossas sepulcrais das necrópoles de S. Bartolomeu de Messines e vale Fuzeiros estão na sua maioria orientadas entre 340º Noroeste e 10º Norte, apresentado 28 exemplares que representam (65,11%) do universo das 43 sepulturas estudadas. Entre os 300º Noroeste e os 335º da mesma orientação, coligimos 7 sepulcros que representam (16,26%) dos casos, entre os 20º Norte e os 65º Nordeste, registámos a existência de 6 fossas tumulares que manifestam possuir (13,95%) dos casos. Foi arrolada uma única sepultura que apresentava orientação de Luís Miguel Guerreiro Cabrita

145

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 146 ____________________________________________________________________________________

sudoeste – noroeste e representa (2,33%) dos casos. Com a mesma percentagem temos uma outra sepultura sem qualquer orientação no sítio da Forneca em Vale Fuzeiros.

Sepultura Isolada da Pedreirinha, Vale Fuzeiros. 146

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 147 ____________________________________________________________________________________

6.2 - Orientações das sepulturas nas necrópoles

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

147

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 148 ____________________________________________________________________________________

7 - INTERDEPENDÊNCIA ANTROPOLÓGICA.

148

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 149 ____________________________________________________________________________________

7.1 – A conexão com o indivíduo. A abertura da fossa tumular teria provavelmente uma relação directa entre a altura do indivíduo inumado. Assim, poderemos sugerir a aferição de alturas médias das populações e idades dos defuntos que ocuparam, inicialmente, as sepulturas rupestres existentes nesta região interior do Algarve Ocidental. No presente estudo utilizámos o percentil de Quétélet de altura para a idade de meninos e meninas dos 0 aos 36 meses e dos 2 aos 20 anos. (Neves, 1930, p.198). Lembramos ainda, que estas sepulturas se encontravam à data do presente estudo, todas violadas, excepto uma que contém parco testemunho osteológico. As restantes fossa tumulares não ofereceram qualquer espólio durante o processo de limpeza e registo gráfico, pelo que adoptámos como altura média dos inumados nestas necrópoles estaturas 0,10 m inferiores ao comprimento máximo oferecido por cada sepultura. Deste modo uma fossa tumular com 1,92 m de comprimento, como a sepultura 1 da necrópole da Forneca, receberia provavelmente indivíduo adulto com estatura não superior a 1,80 m e teria, muito presumivelmente, mais de 25 anos no caso de ser do sexo masculino e mais de 18 se fosse do sexo feminino. A planta da referida fossa tumular é sub-rectangular e está orientada 350º NO. Poderemos admitir um desvio na sua construção e aproximar esta da direcção norte-sul. O afastamento poderia ser ocasionado, de modo a posicionar o túmulo na fraga rochosa, que se mostra na vertente exposta a Sul da elevação da Forneca, e terá, desta forma, condicionando todos os 7 túmulos ali construídos. Neste cemitério as sepulturas 5 e 6, que viram a parede que as separava ser amputada, para assim formar uma grande fossa, medem actualmente 1,68 m e 1,67 m de comprimento e admitiriam indivíduos com estatura até 1,65 m, que deverá corresponder a indivíduos com idades compreendidas entre os 16 anos e os 18 anos, equivalendo a primeira idade ao sexo masculino e a segunda ao sexo feminino. As estaturas médias da população existente no sítio da Forneca corresponderiam, presumivelmente, a indivíduos que não mediriam mais de 1,95 m e os adultos menos desenvolvidos teriam 1,50 m de altura, conferindo a estatura média de 1,63 m.

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

149

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 150 ____________________________________________________________________________________ Sítio da Forneca Altura Provável do Individuo

Planta

Orientação

Orientação com desvio padrão de + ou - 20

+18 / +25

Sub-rectangular

350 N.W.

Norte - Sul

1,72

+18 / +25

Sub-rectangular

340 N.W.

Norte - Sul

1,75 x 0,55 x 0,47

1,65

+18 / +20

Sub-rectangular

340 N.W.

Norte - Sul

Sepultura 4

1,68 x + - 0,62 x 0,72

1,58

-16 / +18

Sub-rectangular

340 N.W.

Norte - Sul

Sepultura 5

1,67 x + - 0,52 x 0,56

1,57

-16 / +18

Sub-rectangular

340 N.W.

Norte - Sul

Sepultura 6

1,65 x 0,50 x -

1,55

-14 / +16

Sub-rectangular

10 N.E.

Norte - Sul

Sepultura 7

+ 0,62? x 0,43 x 0,47

0,52

Sub-rectangular

-

Norte - Sul

Sepultura 8

1,60 x 0,43 x -

1,50

Sub-rectangular

10 N.E.

Norte - Sul

N. de Registo

Dimensão da Sepultura

Sepultura 1

1,92 x 0,42 x 0,46

1,82

Sepultura 2

1,82 x 0,46 x 0,54

Sepultura 3

Idade Provável

-14 / +16

A três centenas de metros para oeste do anterior cemitério, encontramos a necrópole da Carrasqueira, que oferece cinco fossas tumulares. Estas últimas variam a sua orientação entre os 335º NO e os 340º NO, sentido em que se encontra patente o afloramento de arenito, na vertente exposta a Sul da elevação. A exposição do penedo, que conserva os túmulos em causa, condicionou muito provavelmente, a construção das fossas funerárias e conduziu à orientação que as sepulturas detêm. As dimensões oferecidas pelos túmulos permitiriam receber indivíduos adultos, que possuíam estatura variando entre o 1,62 m e 1,80 m , correspondendo esta última a indivíduos com mais de 18 anos para o sexo masculino e para a primeira mais de 18 para o feminino. A necrópole da Pedreirinha apresenta a particularidade de cada túmulo estar construído em fragas rochosas de arenito vermelho de Silves distintas. Este cemitério mostra claramente que as sepulturas 14 e 16 são de indivíduos adultos, com mais de 18 e 25 anos. No entanto, esta necrópole oferece o único túmulo de recém-nascido de todos os conjuntos tumulares estudados. A sepultura em causa mostra comprimento de 0,58 m, largura de 0,25 m e profundidade de 0,26 m. As dimensões que conservam sugere que recebeu criança recém-nascida até 24 semanas de idade. A prática de construir sepulturas para crianças ainda bebés, parece ser pouco usual nestas comunidades, pois este foi o único caso que documentámos no universo dos quarenta e três túmulos estudados.

150

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 151 ____________________________________________________________________________________

Sítio da Carrasqueira

N. de Registo

Dimensão da Sepultura

Altura Provável do Individuo

Idade Provável

Planta

Orientação

Orientação com desvio padrão de + ou - 20

Sepultura 9

1,86 x 064 x 0,59

1,76

+18 / +25

Sub-rectangular

340 N.W.

Norte - Sul

Sepultura 10

1,72 x 0,45 x 0,45

1,62

-16 / +18

Sub-rectangular

340 N.W.

Norte - Sul

Sepultura 11

1,86 x 0,45 x 0,50

1,76

+18 / +25

Sub-rectangular

335 N.W.

Noroeste Sudeste

Sepultura 12

1,9 x 0,60 x 0,45

1,80

+18 / +25

Sub-rectangular

340 N.W.

Norte - Sul

Sepultura 13

1,84 x 0,46 x 0,44

1,74

+18 / +25

Sub-rectangular

340 N.W.

Norte - Sul

O cemitério mais extenso que registámos é o do sítio da Amorosa, composto por dezoito sepulturas, que se encontram separadas em dois núcleos. O núcleo (A), é constituído por treze fossas tumulares, que exibem duas orientações principais, noroeste – sudeste e nordeste – sudoeste. Os indivíduos ali inumados, deteriam estaturas que não ultrapassariam os 2,06 m, (sepultura 27), sugerindo a deposição de adulto do sexo masculino, com mais de 18 anos e 25 anos se do sexo feminino. Os túmulos mais pequenos mostram possuir comprimento com 1,60 m e 1,63 m, (sepulturas 18 e 24), insinuando a deposição de indivíduos com estaturas acima do 1,54 m, que apontam para defuntos com idades inferiores a 16 anos, nos casos dos do sexo masculinos e com mais de 18 anos, nos do sexo feminino. As sepulturas 17, 19, 20, 21, 22, 23, 25, 26, 28 e 29, terão recebido indivíduos adultos, do sexo masculino e com mais de 18 anos, ou ainda adultos do sexo feminino com mais de 18 anos. Sítio da Pedreirinha

N. de Registo

Dimensão da Sepultura

Altura Provável do Individuo

Idade Provável

Planta

Orientação

Orientação com desvio padrão de + ou - 20

Sepultura 14

1,97 x 0,53 x 0,40

1,87

+25 / +25

Sub-rectangular

35 N.E.

Nordeste Sudoeste

Sepultura 15

0,58 x 0,25 x 0,26

0,48

+1 / +1

Rectangular

25 N.E.

Nordeste Sudoeste

Sepultura 16

1,94 x 0,50 x 0,42

1,84

+18 / +25

Ovalada

35 N.E.

Nordeste Sudoeste

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

151

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 152 ____________________________________________________________________________________

O núcleo (B) desta necrópole está a poucos metros para nascente do anterior, mostrando conjunto de cinco sepulturas que se encontram também orientas em duas direcções, norte – sul e noroeste – sudeste. As fossas tumulares deste núcleo variam de comprimento entre 1,70 m as mais pequenas e 1,92 m a maior, sepulturas 30, 32 e 34, respectivamente. Os túmulos de dimensões menores, poderiam guardar corpos com estaturas até 1,64 m apontando, provavelmente, para indivíduos com menos de 16 anos nos indivíduos masculinos e mais de 18 anos no caso do feminino. As sepulturas mais longas, poderiam alojar indivíduos adultos, com mais de 18 e 25 anos. A primeira idade refere-se aos casos masculinos e a segunda aos femininos. Sítio da Amorosa N.º de Registo

Dimensão da Sepultura

Altura Provável do Individuo

Idade Provável

Planta

Orientação

Sepultura 17

2,01 x + - 0,57 x 0,51

1,91

+25 / +25

Ovalada

300º N.W.

Sepultura 18

1,60 x + - 0,52 x 0,46

1,50

-16 / +18

Ovalada

300º N.W.

Sepultura 19

1,87 x 0,48 x 0,37

1,77

+18 /+25

Trapezoidal

350º N.W.

Norte - Sul

Sepultura 20

1,82 x 0,38 x 0,39

1,72

+18 / +25

Trapezoidal

340º N.W.

Norte - Sul

Sepultura 21

1,75 x 0,37 x 0,39

1,65

+18 / +20

Ovalada

325º N.W.

Noroeste Sudeste

Sepultura 22

1,73 x 0,50 x 0,50

1,63

+18 / +20

Ovalada

350º N.W.

Norte - Sul

Sepultura 23

1,78 x 0,40 x 0,41

1,68

+18 / +25

Ovalada

325º N.W.

Sepultura 24

1,63 x 0,34 x 0,40

1,53

-16 / +18

Subrectangular

30º N.E.

Sepultura 25

1,87 x 0,40 x 0,29

1,77

+18 / +25

Ovalada

320º N.W.

Sepultura 26

1,99 x 0,46 x 0,41

1,89

+25 / +25

Ovalada

20º N.E.

Norte - Sul

Sepultura 27

2,12 x 0,46 x 0,47

2,02

+25 / +25

Ovalada

340º N.W.

Norte - Sul

Sepultura 28

1,82 x 0,45 x 0,42

1,72

+18 / +25

Ovalada

0º N.

Norte - Sul

Sepultura 29

2,00 x 0,46 x 0,35

1,90

+18 / +25

Ovalada

0º N.

Norte - Sul

Sepultura 30

1,70 x 0,54 x 0,34

1,60

-16 / +18

Trapezoidal

5º N.

Norte - Sul

Sepultura 31

1,84 x 0,46 x 0,41

1,74

+18 / +18

Rectangular

340º N.W.

Norte - Sul

Sepultura 32

1,70 x 0,42 x 0,30

1,60

-16 / +18

Ovalada

350º N.W.

Norte - Sul

Sepultura 33

1,75 x 0,41 x 0,38

1,65

+18 / +20

Ovalada

5º N.

Norte - Sul

Sepultura 34

1,92 x 0,67 x 0,31

1,82

+18 / +25

Ovalada

0º N.

Norte - Sul

152

Orientação com desvio padrão de + ou - 20º Noroeste Sudeste Noroeste Sudeste

Noroeste Sudeste Nordeste Sudoeste Noroeste Sudeste

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 153 ____________________________________________________________________________________

Sepultura da Horta de Baixo, Vale Fuzeiros. Luís Miguel Guerreiro Cabrita

153

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 154 ____________________________________________________________________________________

A necrópole do cerro do Castelo, em S. Bartolomeu de Messines, mostra quatro sepulturas construídas em três afloramentos distintos de arenito vermelho de Silves. Estas fossas tumulares estão todas orientadas norte – sul, e possuem dimensões que poderiam guardar corpos com estaturas iguais ou superiores a 1,70 m, correspondendo a indivíduos adultos, com mais de 18 anos. Somente o sepulcro 38 oferece dimensão que podia receber indivíduo com estatura próxima de 1,65 m, sugerindo ser um jovem masculino com menos de 16 anos ou um adulto feminino, com mais de 18 anos.

Sítio do Castelo

N.º de Registo

Dimensão da Sepultura

Altura Provável do Individuo

Idade Provável

Planta

Orientação

Orientação com desvio padrão de + ou - 20º

Sepultura 35

1,86 x 0,41 x 0,41

1,76

+18 / +25

Trapezoidal

5º N.

Norte - Sul

Sepultura 36

1,82 x 0,47 x 0,44

1,72

+18 / +25

Ovalada

5º N.

Norte - Sul

Sepultura 37

1,76 x 0,50 x 0,50

1,66

+18 / +25

Trapezoidal

5º N.

Norte - Sul

Sepultura 38

1,71 x 0,43 x 0,30

1,61

-16 / + 18

Trapezoidal

0º N.

Norte - Sul

Nas sepulturas isoladas as orientações, são condicionadas pela orientação e forma das fragas rochosas onde foram construídas. Assim em cinco sepulturas registámos quatro orientações distintas, noroeste – sudeste e nordeste – sudoeste, norte – sul, sudeste – noroeste. Estes cinco túmulos apresentam também três grandezas diferentes que poderiam albergar três indivíduos em diferentes estados de crescimento. As sepulturas 39, 40 e 42 poderiam guardar corpos adultos com mais de 18 anos, a sepultura 41 hospedaria corpo jovem com 8 ou 11 anos, de menino no primeiro caso e de menina no segundo. A fossa tumular 43 abrigaria indivíduo que mostrava estatura próxima de 1,56 m, sugerindo idade inferior aos 14 anos, para rapaz, e mais 18 anos para rapariga.

154

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 155 ____________________________________________________________________________________

Sepultura

Altura Provável do Individuo

Idade Provável

Planta

Orientação

Orientação com desvio padrão de + ou - 20

1,86 x 0,60 x 0,45

1,76

+18 / +25

Ovalada

5 N.E.

Norte - Sul

1,94 x 0,48 x 0,55

1,84

+18 / +25

Sub-rectangular

335 N.W.

Noroeste Sudeste

1,40 x 0,36 x 0,26

1,30

-10 / +12

Sub-rectangular

65 N.E.

Nordeste Sudoeste

Canhestros 42

1,92 x 0,46 x 0,38

1,82

+18 / +25

Trapezoidal

340 N.W.

Norte - Sul

Pedreirinha 43

1,62 x 0,38 x 0,33

1,52

+14 / +18

Sub-rectangular

115 S.E.

Sudeste - Noroeste

Sepulturas Isoladas

Dimensão da

Forneca Caminho da Fonte Ferrenha 39 Forneca Caminho da Barragem do Funcho 40 Horta de Baixo 41

As alturas médias dos indivíduos adultos das comunidades rurais de Vale Fuzeiros e S. Bartolomeu de Messines, que conseguimos aferir por dedução a partir do tamanho das fossas sepulcrais mostram-nos três grupos distintos, constituídos por várias famílias alargadas. Um primeiro grupo, composto provavelmente por duas ou mais famílias, apresentam estaturas médias com 1,63 m e 1,69 m, correspondendo às comunidades da Forneca e do Cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines, respectivamente. Um segundo grupo composto pela comunidade da Carrasqueira, que podemos considerar uma família alargada e a colectividade da Amorosa, composta provavelmente por dez ou mais famílias alargadas, apresentam estaturas muito idênticas, 1,74 m e 1,73 m para os indivíduos adultos. Por último o grupo familiar que oferece estaturas superiores aos grupos anteriores é a comunidade da Pedreirinha, com estatura média de 1,86 m. Outros cinco grupos familiares, terão isoladamente erigido os seus panteões parentais. Podemos supor que estas famílias seriam mais reduzidas, pois apresentam um único sepulcro. As estaturas que podemos coligir, utilizando o método anteriormente descrito, mostram indivíduos que podiam deter estatura superior a 1,84 m, mas onde os mais baixos não ultrapassariam o 1,40m de estatura. As várias comunidades representadas neste estudo através das necrópoles registadas, mostram, presumivelmente, a existência de vários grupos familiares com características dissonantes. Um destes exemplos é a comunidade do Poço dos Mouros, onde a estatura média dos Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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indivíduos ali depositados seria de 1,45 m embora nem todos fossem adultos. Os grupos familiares, da região de S. Bartolomeu de Messines, começam a distanciar-se das estaturas medianas dos anteriores indivíduos, como o grupo da Pedreirinha que exibe túmulos com capacidade de albergar corpos com estaturas acima de 1,97m e da alargada comunidade da Amorosa, onde a média das sepulturas daria para conservar corpos ligeiramente superiores a 1.90 m de altura. Outras necrópoles visigóticas estudadas no nosso país, ofereceram espólios osteológicos, que permitiram calcular médias de estatura mais próximas da antiguidade tardia, como Estremoz, Alcoitão e Abuxarda. Nestas duas últimas, no concelho de Cascais, os estudos antropológicos mostraram a média da estatura dos indivíduos adultos, do sexo masculino e feminino, com 1,65m e 1,53m respectivamente. (Gomes, 2002, p. 383), sugerindo estaturas mais baixas que algumas das comunidades da região de S. Bartolomeu de Messines. Investigadores, como Ardanaz Arranz e Mário Varela Gomes, calcularam o número de elementos pertencentes às comunidades estudadas a partir do número de fossas funerárias e de inumações existentes no interior dos túmulos. Na necrópole de Cacera de Las Ranas, as trezentas sepulturas correspondem, a comunidades com cerca de 2200 indivíduos. (Arranz, 2000, p. 287). Na necrópole de Poço dos Mouros, Mário Varela Gomes, aponta para os oito sepulcros ali patentes, a existência de comunidade com vinte e cinco a trinta criaturas, percentagem menor que o anterior estudo castelhano, que aponta para sete indivíduos vivos por fossa tumular. A construção de uma fossa tumular, fundadora, condicionaria certamente, todas as futuras construções sepulcrais. A abertura desta fossa seria por certo um investimento de monta, que se pretenderia, a sua futura reutilização, para acolher os restantes entes familiares. Facto que ocorreu frequentemente, é a da inumação de mais de um corpo no interior destes túmulos, como sucede nos dois cemitérios antes mencionados, assim cada cavidade sepulcral poderia corresponder a uma família. O agregado parental de então poderia ser constituído por 8 a 12 indivíduos, em que pelo menos quatro destes seriam adultos e os restantes adolescente e crianças de tenra idade. Nas comunidades rurais a mortalidade infantil seria elevada. No entanto, estudos recentes não identificam estes últimos sujeitos nas sepulturas, porque o óbito seria em tenra idade e os restos mortais demasiado frágeis para resistirem ao tempo, ou ainda, porque estes recém nascidos não adquiriram estatuto para serem inumados no panteão familiar. Adoptando os cálculos dos anteriores arqueólogos, Mário Varela Gomes e de Ardanaz Arranz, a comunidade da Forneca em Vale Fuzeiros, deteria entre 28 membros, segundo os 156

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cálculos do primeiro investigador, número de sepulturas, repetida quatro vezes, ou 49 indivíduos, conforme os cálculos do segundo, número de sepulturas acrescidas de sete indivíduos por cavidade sepulcral. Propomos assim, um número de cinco indivíduos por sepultura, cifra também hipotética, que será um meio-termo entre os números relatados pelos anteriores investigadores, visto os menores de tenra idade não parecem ganhar o estatuto para serem inumados em sepultura familiar, excepto na comunidade da Pedreirinha onde se regista a única fossa tumular de um recém-nascido. Elegendo este último cálculo podemos aventar que a comunidade da Carrasqueira, deteria cerca de 25 elementos para os cinco sepulcros ali documentados. O habitat da Pedreirinha não deteria mais do que 10 indivíduos, pois os dois túmulos de adultos que se encontram neste local assim parecem demonstrar. O sepulcro de recém-nascido, assinalado no anterior local, poderá sugerir a inumação de um filho varão. No cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines, os quatro sepulcros podem apontar para a existência aproximadamente de vinte indivíduos. Distanciando-se destas comunidades teríamos o grupo de aldeia da Amorosa, onde registámos a presença de dezoito túmulos que representariam estimativamente noventa elementos. Os restantes conjuntos familiares que manifestam um único túmulo, deteriam provavelmente cinco a sete membros, que no total contribuiriam com trinta elementos.

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8 - PROPOSTA CRONOLÓGICA

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8.1 – A Diacronia. É com a fragmentação do Império Romano, pressionada pelas invasões bárbaras, que os povos germânicos vão absorvendo e ocupando os territórios que restam da grande autoridade latina. Os visigodos entram na Península Ibérica, em 455, meses depois, Teodorico II submete Braga e captura Requiário no final do ano seguinte, forçando, desta forma, a capitulação do reino Suevo na Península Ibérica. No entanto, os povos derrotados cometem continuamente saques por todo o território, Santarém é assaltada em 460, Conímbriga é pilhada duas vezes, 462 e 468. A morte de Teodorico II, em 466, perpetrada por Eurico, seu irmão, comanda os visigodos por vinte anos. Conquista a Tarraconense, durante o seu reinado, que permanecera até então, província romana, (Marques, 1993, pp. 52 a 56), (Rucquoi, 1995, pp. 27 a 34). Nos finais do século V é o filho de Eurico II, Alarico II, que governa as tropas visigodas, na batalha de Voillé, abandonam o território ao franco Clóvis que se terá convertido ao catolicismo entre 498 e 499. A Península Ibérica nos alvores do século VI apresentaria uma geografia política instável. A Noroeste, nas zonas montanhosas da Galícia, os Suevos estariam acantonados, os Bascos formariam um outro grupo hostil ao centralismo visigodo que teria fundado a sua capital em Toledo, mantendo Mérida como a principal cidade da Lusitânia, herdeira da antiga província romana. Em meados da centúria de quinhentos as incursões Bizantinas perpetradas por Justiniano, que reclama ser o genuíno sucessor da Roma Imperial, assenhora-se de toda a costa Sul da Península Ibérica, desde Lagos, a Cartagena. (Marques, 1993, pp. 60 65) Aquelas divisões territoriais só foram colmatadas a partir do reinado de Leovigildo, restaurador do poder visigodo ariano na Hispânia. Aquele monarca submete em 576, os povos Suevos, que sobrevivem no Norte do território, impelindo-os a uma paz oprimida. Recaredo ao converter-se ao cristianismo no ano 587, gorou as expectativas arianas de unificação dos povos ibéricos. Os bizantinos abandonaram as suas possessões meridionais do território peninsular em 625, ficando desta forma unificado o território visigodo. (Marques, 1993, pp. 60 a 74), (Rucquoi, 1995, pp. 27 a 40). Mérida, centro irradiador do cristianismo, desde o século V, regularia espiritualmente a Lusitânia. O futuro território algarvio, seria então sobado pela diocese de (Ossonoba), Faro, a seu tempo sufragânea do bispo de Emérita. No curto período que Bizâncio regrou a estreita faixa meridional do actual território português, teriam a sua capital em Faro, (Ossonoba), assim Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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como, a sua sede episcopal regional. Estes conquistadores terão ainda conservado os templos de Loulé Velho e Senhora da Rocha como ordenadores espirituais na actual região algarvia. No entanto, as zonas interiores parecem não ter sido influenciadas por estes missionários mediterrânicos (Gomes, 2002, p. 386). A ausência de qualquer vestígio de espólio material que pudesse eventualmente ter pertencido a um túmulo do universo funerário de S. Bartolomeu de Messines não contribui para o esclarecimento cronológico das necrópoles rupestres da região. A orientação ritual dos sepulcros parece, plausível, embora a maioria dos afloramentos rochosos, que guardam necrópoles, se encontrar exposto nas vertentes voltadas a Sul das elevações de Vale Fuzeiros a S. Bartolomeu de Messines. Os espaços funerários manifestam dimensões que possibilitam as fossas sepulcrais obter outras orientações rituais. Supomos, assim, que o rumo traçado para as câmaras sepulcrais foi intencional e não terá sido limitado pela dimensão da fraga rochosa. Como anteriormente referimos (29%) das sepulturas ostenta a direcção norte-sul e (55%) a direcção Noroeste Sudeste, totalizando 35 sepulcros, de um universo de 43 cavidades tumulares. Nas necrópoles estudas na região de Granada, as inumações do período tardo romano, apresentam uma fraca representação dos sepulcros orientados norte-sul, (6,90%). Opondo-se as sepulturas dirigidas de noroeste-sudeste com (79,30%). Ainda no anterior território, os enterramentos atribuídos ao período da Antiguidade Tardia, anunciam uma percentagem um pouco mais elevada, (12,08%), para as sepulturas direccionadas norte-sul. Enquanto, as fossas funerárias encaminhadas, noroeste-sudeste, anunciam possuir (65,72%) dos modelos. (Punzón, 2004, p. 94) Esta última realidade aproxima-se do universo funerário de S. Bartolomeu de Messines. Assim como a realidade da Necrópole rupestre de Tiermes em Espanha, que ostenta 35 sepulturas abertas numa fraga rochosa, provavelmente de arenito. Estas oferecem câmaras tumulares de planta rectangular, trapezoidal, em forma de banheira e outras ainda de configuração indeterminada. A maioria destes sepulcros mostra uma orientação oeste-este, com (57,14%) dos exemplares, (28, 57%) dos túmulos estão posicionados de noroeste-sudeste. A direcção norte-sul apresenta (5,71%) dos exemplos representados, enquanto os restantes (8,58%) apresentam orientações diversas. A ausência de espólios materiais e osteológicos nestas sepulturas é um facto que não terá colaborado para a acertar uma datação de fundação e utilização da necrópole. No entanto, 160

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o período temporal proposto para este conjunto é balizado entre o século VII e inícios do X de acordo com as características atribuídas a outras necrópoles análogas. (Estebam, 1994, p. 63 a 81). A região algarvia detém actualmente parcos testemunhos da presença visigótica. A ermida de Nossa Senhora da Rocha, concelho de Lagoa, ostenta na sua arcaria de entrada duas colunas, uma destas é encimada por um capitel atribuído ao período Tardo Antigo, (Gomes, 2002, p. 109). O Museu de Arqueologia de Silves, guarda um capitel, um ábaco e variados fragmentos de vasilhas de cerâmicas. Ainda no concelho de Silves, na actual Vila de Alcantarilha, foram reconhecidos por Fernando de Almeida, em meados do século XX, dois capitéis que o Sebastião Ramalho Ortigão guardava em sua casa. Este acautelava ainda uma garrafa com uma asa, talvez proveniente de um outro cemitério das imediações da povoação de Alcantarilha. Actualmente não se conhece o paradeiro daqueles exemplares. (Gomes, 2002, pp.386 a 388) O Museu de Arqueologia de Loulé conserva dois capitéis do período Tardo-Romano, um fragmento de mesa de altar visigótico, provenientes de Torre de Apra no Concelho de Loulé, assim como variado espólio procedente das escavações realizadas no final do século XIX, por Estácio da Veiga. Outros locais do Algarve têm proporcionado, de igual modo, materiais cerâmicos, metálicos e funerários atribuídos ao período visigótico. Deste últimos conjuntos nomeamos os sítios, da Retorta, com uma importante necrópole, Bensafrim, cemitério intervencionado em meados do século XX por Santos Rocha. Rapozeira, concelho de Vila do Bispo, no sítio do Padrão, várias sepulturas foram alvo de escavação arqueológica por Mário Varela Gomes. (Gomes, 2002, pp.386 a 388) Este arqueólogo estudou, em 2002, a necrópole de Poço dos Mouros na área do concelho de Silves. Aquela, já tinha sido alvo de uma intervenção, nos finais dos anos cinquenta do século XX, efectuada pelo Padre Semedo de Azevedo de Albufeira, que exumou variado espólio material e osteológico. O espólio cerâmico recolhido, neste cemitério, corresponde a uma garrafa de perfil triangular com duas asas opostas, um copo de forma subcilíndrica e de pasta grosseira pouco homogénea, fragmento de jarro correspondendo ao fundo e corpo de forma bitroncocónica, fragmento de jarro ou garrafa correspondendo ao arranque do gargalo e do corpo de forma cónica e fragmentos de fundo e de bordos. (Gomes, 2002, pp. 353 a 359). O conjunto cerâmico estará cronologicamente compreendido entre os séculos VI a VII. Assim, a datação proposta para este espaço sepulcral estará desta forma inserido no horizonte cultural visigótico Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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que terá sido interrompido com a ocupação muçulmana do actual território algarvio em 711. (Gomes, 2002, pp.386 a 388) No espaço de S. Bartolomeu de Messines, perto do sítio de Vale Fuzeiros, no sitio da Bica Alta, Passadeiras, integrámos a equipa de Mário Varela Gomes, que intervencionou duas sepulturas tardo-romanas, anteriormente violadas e de onde foi retirado um passador litúrgico de bronze, fragmentos cerâmicos de paredes de vasilha e contas de pasta de vidro. (Gomes, 2002, p.385) Em sepulturas descobertas casualmente pela população local, têm sido exumados vários objectos que acompanhariam ritualmente o defunto. No vale dos Abrutiais, no sítio do monte dos Abertiais, localizado a norte de S. B. Messines, uma lavra mais profundo expôs uma laje de pedra que cobria uma sepultura, de onde exumaram uma jarra bitroncocónica, expondo leves caneluras junto do colo e bordo, oferecendo bordo com bico vertedor e arranque de asa que assenta na máxima largura do bojo. A asa apresenta perfil triangular. A pasta cerâmica ostenta uma cor alaranjada. Esta forma tem paralelos nos jarros tipo 1 da necrópole de El Ruedo, ou nas suas variantes com bico vertedor. Estes modelos foram identificados nos arqueossítios de Cortijo de Buenavista, El Almedral, Cotijo del Chopo, Tocón, Galera, El Castillón, El Romeral, reconhecidos desta forma trinta jarros. O subtipo com bico vertedor é a segunda forma mais vulgar identificada nas necrópoles da região de Granada. (Punzón, 2004, pp. 119 a 170). Como anteriormente aludimos, a falta de espólios materiais e osteológicos nas sepulturas rupestres da região de S. Bartolomeu de Messines, assim como não se ter reconhecido vestígios cerâmicos ou metálicos nas imediações dos relatados cemitérios é um factor inultrapassável deste universo funerário. Concordando com as evidências arqueológicas expostas nas proximidades dos arqueossítios ante citados, assim como, o panorama algarvio nos inícios da conquista islâmica deste espaço, acrescentando, os paralelos funerários e culturais do Sul da península Ibérica, em época análoga, podemos inserir estas necrópoles no panorama cultural visigótico, entre a ocupação bizantina do estremo Sul ocidente da Península Ibérica, meados do século VI até final do século VIII. A elevada estatura que provavelmente deteriam os ocupantes das sepulturas rupestres dos cemitérios de Messines, conferida nas dimensões das suas câmaras funerárias, afiguramse semelhantes às dimensões dos ocupantes germânicos que detinham os sepulcros da necrópole tardo-romana de Albalete de las Nogueras, Cuenca, no vale do Tejo, 2,30 m a 1,80 m 162

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para indivíduos adultos. Na necrópole Visigótica de Cacera de las Ranas, Aranjuez, que mostra sepulcros de 2,15 m a 2,00 m, igualmente para sujeitos adultos. (Arranz, 2000, p. 227; Fuentes Dominguez, 1989, p. 250, 251) O cemitério Tardo-Romano de Fuentespreadas, Zamora, no vale do rio Douro, detinha sepulcros que atingiam os 2,40 m. a 1,55 m. de comprimento para entes adultos. (Zoreda, 1984, pp, 37 a 164). A extensa necrópole de Segobriga foi inventariada por Martin Almagro Basch em 1971. Coligiu aquele arqueólogo, 234 sepulturas, que apresentaram dimensões das sepulturas para os indivíduos adultos entre 2, 37 m e 1,80 m. Os inumados deteriam desta forma uma altura que ficaria entre os 2,10 m. e 1,60 m. (Basch, 1975, pp. 17 a 107). Pelas características dimensionais nos universos funerários ante citados, podemos sugerir uma origem análoga para os ocupantes das câmaras funerárias da Amorosa, Forneca, Carrasqueira, Forneca isolada I e II Cerro do Castelo, Canhestros e Pedreirinha. As plantas que estas últimas sepulturas ostentam, idêntico método de construção entre elas e as sepulturas rupestres de Tiermes, no vale do Rio Douro, Manuela Doménech Estebam, menciona uma cronologia de construção e ocupação do cemitério entre o final do século VII e início da centúria do X. A escavação da sepultura 12 da necrópole da Amorosa revelou rara existência de espólio antropológico, pertencente a indivíduo ali depositado em decubitus dorsal, com os membros superiores ao longo do corpo e as mãos sobre o ventre, tendo a cabeça virada para sul, denunciando, claramente, inumação em posição canónica. Sujeitámos porção de osso a análise de radiocarbono (14C), processada no Beta Analytic Radiocarbon Dating Laboratory, em Miami (Florida). O resultado foi de 1290±40BP, que calibrado a 2σ, ou seja, com 95% de probabilidade, indicou intervalo de 660-780 cal A.D. A baliza temporal oferecida pela amostra encaixa perfeitamente no grande momento histórico em estudo, supondo-se que aquela foi uma das últimas inumações ali ocorridas dos tempos visigóticos, ou já moçárabes, em período de administração islâmica do actual território algarvio, problemática que cabe futuramente desenvolver. Em face do precedentemente citado a proposta cronológica que adiantamos é que estes cemitérios terão tido dois momentos distintos de construção. Uma primeira fase com a chegada das comunidades visigóticas, inícios do século VI até expulsão dos ocupantes bizantinos em 624. A segunda etapa, proliferação das comunidades humanas a partir dos meados Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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do século VII até à implantação muçulmana no Garb al-Andalus em 711 e, na região de Silves, a partir de 713. A ocupação do território em torno de S. Bartolomeu de Messines, é efectuado nas encostas expostas a Sul ou em locais de média altura com boa visibilidade para os territórios que pretendem controlar. Esta ocupação é consumada em grupo, construindo um pequeno aglomerado populacional, conseguindo desta forma uma protecção colectiva e, eventualmente, uma distribuição das tarefas. Esta forma de implantação insere-se no tipo de assentamento humano que as populações visigóticas vinham operando ao longo da sua difusão no espaço Ibérico. Ulteriormente estas comunidades poderão ter-se dispersado pela região, construindo pequenos habitats familiares, provocando, desta forma a proliferação das necrópoles.

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Planta da sepultura 12 da Amorosa com espólio osteológico Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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Resultados da Análises de radiocarbono C 166

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9 - CONCLUSÃO.

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A degradação da estrutura administrativa, decadência urbana dos oppida, de Cilpes, Lacobriga, Ipses que se localizavam, não muito longe, (Alarcão, 1990, p.360 e 361), o desmantelamento das cúrias municipais, poderes fiscais, judiciais e organizações militares, herdeiras da romanização, provocada pela invasão dos povos germânicos, visigodos, no primeiro quartel do século VII, no actual território algarvio, culminando com o afastamento dos Bizantinos que submeteram este espaço em meados do século VI, (Gomes, 2002, p. 386). A insegurança e permanente estado de hostilidade, arrastara para os campos as populações urbanas, a fuga de escravos para locais afastados dos centros urbanos, terá originado a ruralização e a disseminação de comunidades agrárias que terão crescido com a desorganização do poder das civitates e das cúrias municipais que cambiavam frequentemente o seu poder com os litígios constantes do período visigótico. A dispersão das populações nos Séculos VI e VII, pelos territórios mais ricos e protegidos terá provocado a falência da economia romanizada dos centros urbanos, que regulou a região a partir do Século III a.C. nas explorações agrárias e mineiras, (Mattoso, 1993, pp. 301359), persistindo, ainda hoje, sinais destas últimas actividades nos cerros da Cumeada, Monterosso, Pico Alto e cerro de S. Pedro em S. Bartolomeu de Messines, locais próximos das necrópoles em apreço. A ausência de um edifício eclesiástico cristãos nesta região do interior do Barlavento algarvio poderá ter sido um outro contributo para a dispersão das comunidades humanas, não tendo sido detectado nos actuais aglomerados populacionais qualquer vestígio da presença de um templo paleocristão, ou visigótico. Corroborando este facto é a dispersão por todo o vale de Vale Fuzeiros dos cemitérios rupestres que foram construídos nas cercanias dos habitats comunitários deste vale. O povoamento da região de S. Bartolomeu de Messines, em período visigótico, estaria disperso pelo espaço territorial e organizado em dois grupos societários distintos. Uma primeira comunidade mais ou menos ampla e com organização estrutural de aldeia. A outra sociedade, mais deprimida em população que a anterior, não se estenderia além da organização familiar alargada, ou mesmo não se alongando além do grupo parental. Indiciam os anteriores grupos societários, a existência de duas realidades rurais descoincidentes, apontando para a presença de comunidades de aldeia e comunidades de vale, sociedades rústicas que o historiador Garcia de Cortazar, tem vindo a identificar nestes últimos anos, no vizinho território espanhol. (Mattoso, 1993, 354). 168

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A primeira colectividade, anteriormente descrita, como comunidade de aldeia, teria o seu exemplo aqui no povoado da Amorosa, que terá dado origem á necrópole com o mesmo nome e incluímos ainda neste universo o aglomerado populacional de S. Bartolomeu de Messines. Estas colectividades rurais poderão ter tido origem nas sociedades pré-romanas existentes nesta região interior do Barlavento algarvio, identificadas anteriormente por Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso dos Santos (Santos,1972, p. 121), junto do Serro de S. Pedro e nas explorações das jazidas de cobre existentes nas elevações da Cumeada e Pico Alto por Estácio da Veiga (Veiga, 1891, pp. 79 e 80). Mais ou menos influenciadas pela romanização do actual território, que hoje representa o Algarve ocidental, os aglomerados habitacionais tentariam formar um núcleo central, facilitando desta forma a defesa contra as ameaças estranhas. A solidariedade entre os vizinhos com repartição das tarefas comunitárias, decisões tomadas em assembleia de aldeia, como o acesso à água, seria uma outra forma de protecção. (Mattoso, 1993, 354). Os habitats mais numerosos e que se disseminaram, um pouco por todo o território, segundo Garcia de Cortazar, são a comunidade de Vale, onde incluímos todos os outros assentamentos humanos, Cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines, Forneca, Pedreirinha, Carrasqueira e os habitats isolados em Vale Fuzeiros, que forneceram uma única sepultura. A dispersão destas comunidades em habitats parentais, expunha a vulnerabilidade destes grupos à servidão dos potentados Romanos e Visigodos. Estes casais agrícolas seriam ainda mais deprimidos na construção habitacional assim como nas áreas de exploração, por consequência o testemunho da sua presença é muito efémero, consistindo provavelmente no panteão familiar. O espaço físico ocupado seria junto de vale mais ou menos amplo com terrenos aptos para a agricultura. Economicamente elegendo a pecuária como a actividade mais privilegiada, não desprezando o cultivo temporário de cereais e a floresta em volta como fornecedora de combustível necessário ao grupo. (Mattoso, 1993, pp. 355 e 356). Estariam, naturalmente, organizados em sociedades parentais em trono de um ancião, compostos por quatro a cinco entes adultos, dois a três adolescentes e outras tantas crianças. Apesar da hegemonia cristã visigótica, confirmada no III º concilio de Toledo, capital do reino visigodo a partir de 567. (Gomes, 2002, p. 386), não podemos apontar como linha directora a orientação dos sepulcros para afirmar que os povos domiciliados nestas regiões interiores seriam cristãos, pois a maioria das sepulturas estão orientadas de Norte para sul ou muito Luís Miguel Guerreiro Cabrita

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próximo desta direcção, indicação em que se encontram expostas as fragas rochosas onde foram construídos este túmulos. Podemos, no entanto, admitir que esta orientação é herdeira da romanização do território em causa, excepto nos casos que confirmamos que o rumo da sepultura é a direcção em que se expõe o penedo onde esta foi construída, caso das sepulturas da Horta de Baixo e sepultura isolada da Pedreirinha. Outros cemitérios rupestres que chegaram ao nosso conhecimento, Falacho, junto de Silves e Morgado do Arge, próximo de Portimão, estão igualmente, instalados nos afloramentos rochosos de arenito vermelho de Silves, que devem indicar a presença de mais comunidades pertencentes a este instável período visigodo ou bizantino. As sepulturas ai patentes, ostentam orientações muito próximas das anteriormente referidas, pois os afloramentos arenitícos de Silves apresentam as mesmas direcções. As nomeadas colectividades humanas, da região de S. Bartolomeu de Messines e Vale Fuzeiros, para fixar os casais ou os habitats, parecem privilegiar os topos ou as vertentes expostas a Sul das suaves elevações que não superam os 200 m. de altitude, nos cerros da Forneca, Pedreiras Pedreirinha, Amorosa e Castelo. Outra importante característica é a presença de água junto destes conjuntos gentílicos, como ocorre no Cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines onde o curso do Ribeiro Meirinho servia a ante citada comunidade. Análogo ao anterior quadro, o barranco do Baralha, favorece com as suas águas todo o vale de Vale Fuzeiros e os povoados e habitats que aí estariam sedeados, Forneca, Carrasqueira, Pedreirinha Horta de Baixo, Canhestros e Amorosa. As planícies mais ou menos extensas que se encontram junto das elevações da Pedreirinha, Forneca, Pedreiras, Cerro do Castelo, onde se circunscreviam os assentamentos humanos, apresentam terrenos vermelhos escuros que, ainda hoje, detêm grande capacidade produtiva, permitiriam assim uma agricultura intensiva. A serra a Norte ofereceria a caça como complemento da base nutricional destas comunidades assim como a madeira para a construção das habitações e combustível para aquecimento durante os meses mais frios. Um outro facto que nos deixa consternados foi a ausência de espólios materiais que possam ter sido depositados juntos dos corpos, pois a violação dos túmulos parece ter sido consumada à muito, nada terá sobrevivido ao tempo nem na memória dos habitantes locais quando estas foram profanadas.

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As dimensões que os túmulos detêm, variam entre 0,58 m. o mais pequeno e singular tumulo de criança recém nascida, registado na necrópole da Pedreirinha e os 2,12 m., fossa tumular do cemitério rupestre de Amorosa. No cômputo total as sepulturas litófilas construídas no estrato rochoso de arenito vermelho de Silves, terão pertencido primitivamente a indivíduos de idade adulta, no entanto se a distância maior corresponder aproximadamente à altura dos inumados ali depositados inicialmente, a estatura das comunidades de S. Bartolomeu de Messines e Vale Fuzeiros, destacam-se dos paralelismos estudados dos grupos de Poço dos Mouros, no concelho de Silves e nas anteriormente aludidas comunidades visigóticas de Cascais, Alcoitão e Abruxada. A planta das fossas tumulares dá indicações sobre o método construtivo das cavidades sepulcrais, assim a forma sub-trapezoidal detêm a maioria dos registos coligidos e sugere que o talhe de abertura da cavidade teria início na zona de deposição da cabeça, alargando o espaço para instalar os ombros e posteriormente, é aberto a cova para o corpo, contraindo o espaço interior até atingir o comprimento desejado. Todo o interior da câmara é regularizado com um instrumento férreo, pontiagudo de secção quadrada ou com uma ferramenta, igualmente férrea, mas com a extremidade semicircular e laminar. Os negativos das insculturações provocadas pelos instrumentos mencionados foram matriculados no interior da maioria das sepulturas registadas. As coberturas das fossas tumulares, não foram detectadas, muito presumivelmente devido à violação anterior das necrópoles em apreço e a sua reutilização ulterior. Tentámos com este trabalho avançar mais um pouco na compreensão das sociedades rurais tardo romanas ou visigóticas, reunindo os dados oferecidos pelos parcos vestígios que se conseguem registar nesta remota região do interior do ocidente algarvio. A prática funerária que acertamos registar, nos penedos onde foram construídas as necrópoles revelam supostos paganismos que parecem ter persistido com a cristianização dos territórios do sul da península ibérica, o início da islamização em 711 terá alterado estas práticas, as sociedades parentais que se dispersaram pelo território terão abandonado esse modus vivendi, agregando-se a uma comunidade mais ampla com indícios de urbanidade? Ponderações que não conseguimos obter resposta com este estudo, no entanto as informações coligidas poderão ser um auxílio para uma melhor compreensão da evolução do povoamento no interior do Algarve Ocidental.

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Modelação 3 D da área de Vale Fuzeiros, S. B. Messines

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11 – ÍNDICES.

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11.1 – Índice de Fotografias. 1 Necrópole da Carrasqueira, Vale Fuzeiros

-5-

2 -Vista de Vale Fuzeiros

- 12 -

3 - S. Bartolomeu de Messines, década de trinta do século XX

- 14 -

4 - S. Bartolomeu de Messines, década de trinta do século XX

- 14 -

5 - Fragmento de estela em baixo-relevo, Benaciate

- 38 -

6 - Base de Estátua a Júpiter

- 39 -

7 - Igreja Paroquial de S. Bartolomeu de Messines

- 44 -

8 - Necrópole da Forneca

- 44 -

9 - Igreja de S. Sebastião, S. Bartolomeu de Messines

- 45 -

10 - Igreja da Nossa senhora da Saúde, Monte de S. José, S. Bartolomeu de Messines

- 45 -

11 - Necrópole da Forneca, Vista Norte

- 89 -

12 - Necrópole da Forneca, Vista Sul

- 89 -

13 - Necrópole da Carrasqueira, Vale Fuzeiros

- 96 -

14 - Necrópole da Carrasqueira, Vale Fuzeiros, fraga poente

- 97 -

15 -Necrópole da Amorosa, vista Este

- 117

16 - Necrópole da Amorosa, vista Oeste

- 117

17 - Necrópole do Cerro do Castelo em S. Bartolomeu de Messines

- 124

18 -Sepultura Isolada II da Forneca, Vale Fuzeiros

- 131

19

- 144

20 -Sepultura Isolada da Pedreirinha, Vale Fuzeiros

- 149

21 -Sepultura da Horta de Baixo, Vale Fuzeiros

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11.2 – Índice de Mapas 1 - Área de Estudo

- 21 -

2 - Planta Litológica

- 26 -

3 - Planta de Capacidade de Uso do Solo

- 32 -

4 - Fragmento de Caminho Medieval.

- 50 -

5 -Fragmento de Caminho Medieval

- 51 -

6 – Povoados

- 66 -

7 - Casais Agricolas

- 77 -

8 - Necrópoles e Sepulturas Isoladas

- 79 -

9 - Modelação 3 D da área de Vale Fuzeiros, S. B. Messines

- 174

186

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

Povoamento Alto Medieval de São Bartolomeu de Messines 187 ____________________________________________________________________________________

11.3 - Índice de Desenhos.

Desenho 1 -Estela Menir da Alfarrobeira

- 36 -

Desenho 2 -Estela das Passadeiras

- 37 -

Desenho 3 - Necrópole da Forneca

- 81 -

Desenho 4 - Plantas das Sepulturas da Necrópole da Forneca

- 82 -

Desenho 5 - Necrópole da Carrasqueira

- 91 -

Desenho 6 - Plantas das Sepulturas da Necrópole da Carrasqueira

- 92 -

Desenho 7 - Necrópole da Pedreirinha

- 99 -

Desenho 8 - Necrópole da Amorosa, Núcleo 1

- 103

Desenho 9 - Planta das Sepulturas da Amorosa

- 104

Desenho 10 - Necrópole da Amorosa, Núcleo 2

- 113

Desenho 11 - Necrópole do Castelo

- 119

Desenho 12 - Plantas das Sepulturas do Castelo

- 120

Desenho 13 - Plantas de Sepulturas Isoladas

- 126

Desenho 14 - Planta e Cortes da Sepultura Isolada 1 da Forneca

- 133

Desenho 15 - Planta e Corte da Sepultura Isolada da Pedreirinha

- 133

Desenho 16 - Plantas das Sepulturas

- 138

Desenho 17 - Cortes transversais das Sepulturas

- 141

Desenho 18 - Sepulturas 14 e 15 do núcleo 2 da necrópole da Amorosa

- 144

Desenho 19 -Orientações de todas as Sepulturas

- 150

Luís Miguel Guerreiro Cabrita

187

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