Praça da Liberdade, Almada - Apropriação e vida da praça no século XXI

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Luís Miguel da Silva Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada Apropriação e vida da praça no século XXI

Orientadora: Patrícia Santos Pedrosa

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Escola de Comunicação, Arquitectura, Artes e Tecnologias da Informação

Lisboa 2015

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Luís Miguel da Silva Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada Apropriação e vida da praça no século XXI

Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Arquitectura no Curso de Mestrado em Arquitectura, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Orientadora: Patrícia Santos Pedrosa

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Escola de Comunicação, Arquitectura, Artes e Tecnologias da Informação

Lisboa 2015

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"What attracts people most, it would appear, is other people." (White, Squares, s.d.)

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Ao meu pai, presente em memória e saudade e a minha mãe; À Sónia e à Mara; Pelo amor da minha família e tudo o que representam para mim. Especialmente por todo o apoio e compreensão ao longo do meu percurso académico.

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Agradecimentos

- À Sónia pelo carinho, compreensão e apoio incondicional. - À Mara pelo sorriso de todos os dias. - Aos meus pais pelo amor, carinho e educação, assim como por toda a dedicação e orientação de uma vida em proporcionar-me o melhor que puderam. - Aos meus familiares, Isilda, Joana, Celestino, Joaquim, Pedro, Rui e João pelo apoio familiar e compreensão. - Aos meus amigos que sempre me apoiaram e ajudaram directa ou indirectamente a alcançar este objectivo, pela compreensão e dedicação à nossa amizade. - Aos colegas de curso, Paulo Araújo, Nuno Amores, António Velez e Pedro Freitas, pelo companheirismo e amizade em todo o percurso académico, pela disponibilidade, conhecimento e ensinamentos partilhados. - À HEDAPE, por toda a ajuda e disponibilidade ao longo do meu percurso académico e pela compreensão nas horas mais difíceis. - A João Lucas Dias, arquitecto e técnico da Câmara Municipal de Almada, autor do projecto da Praça da Liberdade, pela disponibilidade e gentileza. - A todos os utilizadores da Praça da Liberdade que contribuíram para este trabalho. - Ao Professor Pedro Guilherme, pelo conhecimento mais profundo da arquitectura, pela exigência e rigor, pela determinação em obter o melhor de mim. Em especial pelo apoio e incentivo no período mais difícil da minha vida, em que acompanhei a despedida do meu pai para o mundo celeste. - Agradecer ao grupo de coordenação do curso de arquitectura da Universidade Lusófona. - O especial agradecimento à Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias pelo reconhecimento e atribuição da Bolsa de Mérito correspondente no ano lectivo 2010/11. - Por fim e igualmente importante, agradecer à Professora Doutora Patrícia Santos Pedrosa, por aceitar ser minha orientadora, pela disponibilidade, acompanhamento, rigor e positivismo.

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Resumo

As metrópoles do século XXI assumem na sua estrutura diferentes polaridades, alienando a ideia de centralidade, cujo espaço público se dispersa nas diversas formas e variáveis por vezes colocando em causa a qualidade da vida urbana e modos de socialização. A Praça como um elemento determinante na evolução da forma urbana representa o lugar público, o espaço de activação e afirmação, assumindo um papel importante no tecido urbano. Nesse sentido é premente a actualização do conhecimento acerca das suas potencialidades, bem como das necessidades futuras da vida urbana. A presente dissertação tem como principal objectivo a análise da Praça da Liberdade, quanto às lógicas de apropriação do espaço público e formas de comportamento. Em desenvolvimento estabelece-se enquadramento à evolução histórica da Praça na forma urbana e uma reflexão acerca do espaço público segundo as diferentes problemáticas tratadas por alguns autores contemporâneos. Contextualizando o caso de estudo, segue-se uma abordagem histórica ao território de Almada quanto à evolução da forma urbana relacionando os factores económicos e socioculturais. O processo de análise da Praça da Liberdade verifica-se por meio: do mapeamento e registo dos modos de ocupação e actividades; pela obtenção de dados com recurso a inquérito junto dos utilizadores da praça; síntese dos mapas de ocupação e análise dos dados recolhidos. Quando os estímulos da individuação se constituem como um sério risco aos valores estabelecidos pela vida em sociedade, a importância da Praça como espaço público quanto à sua capacidade de activação da vida pública torna-se essencial no processo evolutivo da metrópole cada vez mais indiferente aos processos identitários dos lugares.

Palavras-Chave: Praça; Espaço Público; Apropriação; Vida Urbana; Socialização; Almada.

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Abstract

The metropolises of the 21st Century get on their structure different polarities, transferring the idea of centrality, whose public space is dispersed in various forms and variables, sometimes putting in cause the quality of urban life and ways of socialization. As a determinant factor in the evolution of the urban form, the Square represents the public place, the space of activation and affirmation, getting an important role on the urban tissue. In this sense is urgent the knowledge actualization about their potential, as well as the future needs of urban life. The main objective of this thesis is the analysis of the Praça da Liberdade, and its logic of appropriation of public space and forms of behaviour. In development is settled up the framework about the historical evolution of the Square in its urban form and a reflection about the public space according to the different problems explained by some contemporary authors. Getting close to the study case, it presents an approach to the territory of Almada according to its evolution of urban form trying to establish relationship with economical and sociocultural factors. The analysis process of the Praça da Liberdade is verified by the mapping and the registration of the ways of occupation and activities; by obtaining information through inquiries to the Square users; by the synthesis of the occupation maps and analysis of the information collected on the inquiries. When the individual motivations are constituted as a serious risk to the values established by the social life, the importance of the Square as a public space for their ability of activation of public life is essential in the evolutionary process of the metropolis increasingly indifferent to the identity processes of the places.

Keywords: Square; Public Space; Appropriation; Urban Life; Socialization; Almada.

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Índice Agradecimentos ..................................................................................................................... 5 Resumo ................................................................................................................................. 6 Abstract ................................................................................................................................. 7 Índice de Figuras ................................................................................................................. 10 Introdução............................................................................................................................ 14 Capítulo I. A Praça e a apropriação do espaço público ........................................................ 18 1.1 A Praça, origem e evolução histórica ......................................................................... 18 1.2. Apropriação e reflexão do espaço público ................................................................. 25 Capítulo II. Almada: Evolução do Espaço Urbano................................................................ 36 2.1 Enquadramento geográfico e histórico ....................................................................... 36 2.2 Período Industrial ....................................................................................................... 39 2.3 Expansão Urbana....................................................................................................... 41 2.4 Almada na Zona Metropolitana de Lisboa .................................................................. 44 2.5 Caracterização Demográfica e Sociocultural .............................................................. 48 2.6 Caracterização do Espaço da Praça da Liberdade ..................................................... 51 Capítulo III. Praça da Liberdade: Apropriação e Vida........................................................... 59 3.1 Enquadramento ao caso de estudo ............................................................................ 59 3.2 Metodologia e Programação....................................................................................... 60 3.3 Ensaio do Mapeamento de Percursos e Apropriação do Espaço ............................... 63 3.4 Síntese do Mapeamento de Percursos e Apropriação do Espaço .............................. 65 3.5 Inquéritos ................................................................................................................... 83 3.5.1 Estrutura do Inquérito .......................................................................................... 83 3.5.2 Análise dos Inquéritos .......................................................................................... 86 Conclusão.......................................................................................................................... 101 APÊNDICES ...................................................................................................................... 113 Apêndice 1 - Entrevista ao arquitecto João Lucas Dias, autor do Projecto da Praça da Liberdade (Caso de Estudo). .......................................................................................... 114 Apêndice 2 - Planta Geral de Implantação da Praça da Liberdade................................. 123 Apêndice 3 - Plantas de Apropriação e Vivência do Espaço .......................................... 124 3.1 Minuta das Plantas ............................................................................................... 124 3.2 Fase de Análise - Plantas Síntese ........................................................................ 125 3.3 Fase de Análise - Plantas Diárias de Dias Úteis |Manhã| ...................................... 128 3.4 Fase de Análise - Plantas Diárias de Dias Úteis |Inicio de Tarde| ......................... 133

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3.5 Fase de Análise - Plantas Diárias de Fim-de-Semana |Tarde| .............................. 138 3.6 Fase de Ensaio ..................................................................................................... 142 Apêndice 4 - Inquérito aos Utilizadores .......................................................................... 154 4.1 Minuta do Inquérito ............................................................................................... 154 4.2 Inquéritos Realizados (4 Exemplos Preenchidos) ................................................. 156 4.3 Inquéritos - Tratamento de Dados......................................................................... 160 Apêndice 5 - Registo Fotográfico ................................................................................... 168 5.1 Série 1 | Praça da Liberdade |............................................................................... 168 5.2 Série 2 | Zonas de Acesso | .................................................................................. 169 5.3 Série 3 | Percursos |.............................................................................................. 169 5.4 Série 4 | Modos de Ocupação e Actividades | ....................................................... 170 5.5 Série 5 | Tectónicas | ............................................................................................ 171 5.6 Série 6 | Pontos de Degradação | ......................................................................... 172 ANEXOS............................................................................................................................ 173 Anexo 1 - Planta dos Núcleos Pré-históricos de Almada ................................................ 174 Anexo 2 - Plano Parcial de Almada PP7/PP9 ................................................................. 175 Anexo 3 - Unidades de Ocupação Urbana do Concelho de Almada............................... 176 Anexo 4 - Plano de Pormenor de Cacilhas ..................................................................... 177

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Índice de Figuras Figura 1 - Ágora e Acrópole de Atenas. (Morris, 1994, p. 47). ............................................. 19 Figura 2 - Mileto. (D'Alfonso & Samsa, 2006, p. 42). ............................................................ 20 Figura 3 - Ágora de Mileto. (Goitia, 1992, p. 50). ................................................................. 20 Figura 4 - Cidade e Fórum de Timgad (Morris, 1994). ......................................................... 21 Figura 5 - Fórum de Pompeia. (Morris, 1994). ..................................................................... 21 Figura 6 - A. Villréal; B. Lalinde; C. Castillonnes; D. Eymet; E. Villefranche-du-Périgord; F. Domme; G. Beaumont; H. Monflaquin. (Morris, 1994, p. 123). ............................................. 22 Figura 7 - A. Espaço de Tráfego, Place de la Concorde, Paris. (Google Earth. 4/16/2014. Obtido em 4 de Fevereiro de 2015) ..................................................................................... 23 Figura 8 - B. Espaço Residencial, Convent Garden Square, Londres. (Google Earth & The Geoinformation Group. 2015. Obtido em 4 de Fevereiro de 2015) ....................................... 23 Figura 9 - C. Espaço Pedonal, Piazza de San Marco, Veneza. (Google Earth. 9/22/2012. Obtido em 4 de Fevereiro de 2015) ..................................................................................... 23 Figura 10 - Plano de Barcelona, por Ildefonso Cerdá. Sistema de Quarteirão, Sistema de Circulação, e Espaços de Cheios e Vazios. (Lamas, 2000, p. 219) ..................................... 25 Figura 11 - [Direita] Localização da Área Metropolitana de Lisboa. Mapa de Portugal. (Obtido em 20 de Janeiro de 2015, de Wikimedia: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/48/Portugal_location_map.svg .... 36 Figura 12 - [Em Cima] Localização de Almada em Imagem Satélite da Área Metropolitana de Lisboa. (USGS/ESA 05/09/2013 9:08am. Lisbon, Portugal. [ID 296608]. Obtido em 2 de Fevereiro de 2015, de European Space Agency: http:www.esa.int/spaceinimages/Images/2013/09/Lisbon_Portugal . Adaptado, 2015) ........ 36 Figura 13 - Carta Topográfica Militar de Almada do séc. XVIII. A Malha Urbana Existente e as Fortalezas. (Costa, J., 1902. Carta Topográfica Militar do Terreno da Península de Setúbal. Corpo do Estado Maior do Exército, IGeoE) .......................................................... 38 Figura 14 - Estrutura de Quintas em Almada. (Atkins et. al., 2006, p.46) ............................. 38 Figura 15 - Fotografias aéreas de Almada em 1958, 1967 e 1990, com localização da actual Praça da Liberdade. (Atkins et. al., 2006, p.74-75, Adaptado, 2015) ................................... 42 Figura 16 - Plano Parcial de Urbanização de Almada. (Cavaco, 2011, p. 272) .................... 43

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Figura 17 - Zona Correspondente ao PPU de Almada na Figura 16. Vista Satélite do Existente em 23 de Junho de 2007. (Google Earth. 6/23/2007. Obtido em 6 de Fevereiro de 2015) ................................................................................................................................... 43 Figura 18 - Projectos das Praças do Eixo Principal de Almada. (Gonçalves J. , 2003, pp. 6768) ....................................................................................................................................... 46 Figura 19 - Distribuição do Espaço Público para Almada Nascente e a Relação com o Existente. Segundo a Proposta em Vigor. (Atkins et. al., 2006, p. 143) ............................... 47 Figura 21 - Mapa do Concelho e Freguesias de Almada. (Criado por Autor sobre Imagem. Almada, 2011, p. 146).......................................................................................................... 48 Figura 21 - Densidade Populacional de Almada por Freguesia em 2011(Recriado por Autor sobre Imagem. Almada, 2014, p. 30) ................................................................................... 48 Figura 22 - Evolução Demográfica no Concelho de Almada de 1801 a 2011. Fonte: INE (Almada C. M., 2011, p. 9) ................................................................................................... 49 Figura 23 - População Residente, Segundo os Grupos Etários no Concelho de Almada – 2001 e 2011 (Almada C. M., 2014, p. 15) ............................................................................ 50 Figura 24 - População Residente com Nacionalidade Estrangeira segundo o País de Origem. Almada - 2011. (Almada C. M., 2014, p. 54)........................................................... 50 Figura 25 - A. Mapa de Almada em 1902. B. Mapa de Almada em 1902 com Localização do Principal eixo Rodoviário e Praças. Adaptado por Autor. (IGeoE – Corpo do Estado Maior do Exército. Carta dos Arredores de Lisboa – 1 Detalhe. Obtido em 25 de Janeiro de 2015, de Almada Virtual Museum: http://almada-virtual-museum.blogspot.pt) .................................... 51 Figura 26 - Pavilhões Pré-Fabricados do Liceu Nacional de Almada. (10 de Abril de 2012. Obtido em 10 de Fevereiro de 2015, de Facebook, Liceu Nacional de Almada – Antigos Alunos: https://www.facebook.com/LNA.ESFMP.AntigosAlunos/photos/a.360751267301941.78421.1 78787148831688/360751273968607/?type=1&theater) ...................................................... 53 Figura 27 - Praça da Liberdade e Fórum Romeu Correia. (2014) ........................................ 54 Figura 28 - Implantação da Praça da Liberdade. (Google Earth. 6/23/2007. Obtido em 21 de Fevereiro de 2015) .............................................................................................................. 55 Figura 29 - Planta da Praça da Liberdade, Almada. (Desenho de Dias J.L., Adaptada, 2015) ............................................................................................................................................ 56

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Figura 30 - Mapa dos principais fluxos pedonais do centro de Almada. (Almada, Revisão do PDM de Almada, Estudos de Caracterização do Território Municipal, Caderno 5 - Sistema Urbano, 2011, p. 26) ............................................................................................................ 57 Figura 31 - Relação espacial da Praça da Liberdade. (Obtido em 19 de Janeiro de 2015, de OpenStreetMap contributors, http://www.openstreetmap.org/copyright: http://www.openstreetmap.org/. Disponível em ODbL. Adaptado, 2015) .............................. 58 Figura 32 - Percursos e modos de apropriação do espaço na Praça da Liberdade, 24 de Abril de 2013, entre as 20h00 e as 20h10. Sobreposição de fotografias. Almada. (Autor, 2013). .................................................................................................................................. 60 Figura 33 - Grupo de jovens sentado e em pé, a conversar à sombra do Fórum Romeu Correia. Praça da Liberdade, Almada. (2015) ...................................................................... 64 Figura 34 - Gráfico de Representação da Relação de Qualidade dos Espaços de Ar Livre e a Ocorrência de Actividades. (Gehl, 2011, p. 11. Adaptado e traduzido) ................................ 66 Figura 35 - Legenda de Apoio e Interpretação do Sistema de Símbolos. (2015).................. 67 Figura 36 - Planta síntese de percursos nos dias úteis de manhã. (2015) ........................... 68 Figura 37 - Planta síntese de actividades nos dias úteis de manhã. (2015) ......................... 69 Figura 38 - Senhora a passear os cães e falar ao telemóvel despreocupadamente. Praça da Liberdade, Almada. (2014) .................................................................................................. 71 Figura 39 - Planta síntese de percursos nos dias úteis ao início de tarde. (2015) ................ 72 Figura 40 - Planta síntese de actividades nos dias úteis ao início de tarde. (2015) .............. 73 Figura 41 - Grupo de jovens em conversa a sair do “McDonald’s”, enquanto outros socializam sentados num banco debaixo da pérgula. Praça da Liberdade, Almada. (2014) 75 Figura 42 - Imagem de leitura da Praça da Liberdade ao início da tarde, com sol, quando apenas circula uma pessoa na zona central. Almada. (2014) .............................................. 76 Figura 43 - Planta síntese de percursos no dia de fim-de-semana pela tarde. (2015) .......... 77 Figura 44 - Planta síntese de actividades no dia de fim-de-semana pela tarde. (2015)........ 78 Figura 45 - Panorâmica de evento do Beira Mar Atlético Clube na Praça da Liberdade. Almada. (2014) .................................................................................................................... 79 Figura 46 - Assistência no evento do Beira Mar Atlético Clube com representação de diversas famílias. Praça da Liberdade. Almada. ( 2014) ...................................................... 80

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Figura 47 - Evento do Beira Mar Atlético Clube e a interacção de diferentes modos de apropriação do espaço. Praça da Liberdade. Almada. (2014).............................................. 81 Figura 48 - Crianças de bicicleta na Praça da Liberdade. Almada. (2014) ........................... 82

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Introdução O tema desta dissertação, segundo uma tipologia teórica, integra o projecto do Laboratório de Arquitectura (LABART), Cidades Paralelas: Apropriação e Vida do Espaço Público, sob a linha de investigação que trata a Concepção Arquitectónica e Percepção do Espaço, sob o título: Praça da Liberdade em Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI. O caso de estudo em análise é a praça que dá nome ao título, segundo as lógicas de apropriação do espaço público e as formas de comportamento, constituindo-se como o principal objectivo desta dissertação. Problemáticas que, dentro do tema, me têm acompanhado enquanto indivíduo, ainda que não pela objectividade do arquitecto. A observação, a análise e a crítica do espaço que me rodeia, sempre fizeram parte de uma inquietação pessoal com tendência a questionar o porquê de cada caso, para logo procurar uma justificação e uma nova lógica ou alternativa por via a minimizar e ou melhorar cada detalhe identificado. Nesse sentido o tema que me proponho investigar sustenta um conjunto de objectivos que asseguram uma motivação extra nesta senda. O espaço público urbano terá, ao longo da história, a sua representação máxima na configuração da praça, como elemento congregador de pessoas e actividades, sendo entre outras lógicas um lugar de encontro, negociação, lazer e afirmação. Passado todo um processo de transformação, a praça da cidade do século XXI adquire um conjunto de características resultantes de inúmeros factores culturais, sociais, económicos, de planeamento urbano e ou arquitectónico, determinando os percursos e formas de ocupação de todo o indivíduo que através de diversas actividades nesse espaço interage, em permanente mutação. O século XXI, estreitamente ligado à revolução digital, tem no mundo virtual uma janela aberta para o desenvolvimento de uma nova realidade da vida urbana, relegando para segundo plano o dia-a-dia na cidade física. O acesso ao Google Earth já permite ao comum utilizador deambular pelas ruas e identificar lojas em ambiente 3D tendendo para novas lógicas da realidade. No ponto em que estamos, esta nova realidade tenderá necessariamente a repercutir-se na estrutura que até então conhecemos da cidade, provocando alterações profundas nos hábitos e modos de vida, levando a questionar a funcionalidade e habitabilidade dos actuais espaços públicos, porventura cada vez mais desertos ou sujeitos a modos de apropriação totalmente inesperados. Neste contexto a sociedade urbana, que perde cada vez mais a noção de comunidade, em detrimento da individuação marcada pela cultura hedonista dominante, diariamente seduzida pela

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constante propaganda de marketing direccionada, terá um novo reverso. Será então que a praça enquanto elemento de centralidade e articulação da vida urbana continuará a constituir-se como um ponto de vitalidade urbana? Será que esta serve apenas como espaço de transição? Ou haverá ainda margem para o desenvolvimento de actividades que promovam a interacção entre a população? Se sim, no plano físico, de contacto imediato ou no campo virtual do mundo digital? No contexto do tema e caso de estudo aqui em análise, segundo um quadro conceitual dos modos de apropriação e ocupação do espaço público focado na praça enquanto elemento urbano, após a viragem de século e a mudança de paradigmas, parece importante perceber de que forma estes decorrem segundo as seguintes variáveis: os tempos/espaços de apropriação e sociabilidade individual ou em grupo, bem como os três grandes grupos etários (jovens, adultos e idosos), excluindo as variáveis de género e étnica por se considerar que no caso em concreto são pouco relevantes, dada a condição de que a maioria da população é natural do município ou se encontra perfeitamente integrada na sociedade. Relacionando todas as variáveis com o tipo de actividades que motivam a presença no lugar, será possível entender os diferentes tipos de apropriação do espaço. Acerca do tema e suas especificidades, importa partir de um conjunto de ideias, análises e teorias convocadas por outros autores, daí procurando interpretar e entender a praça como elemento urbano, o espaço público e as diferentes problemáticas com este relacionadas, bem como as tendências, inovadoras ou não, sugeridas pelo indivíduo em apropriação do espaço da praça. Será que a Praça da Liberdade, um espaço resultante de um plano de requalificação de uma zona expectante e consolidado no tecido urbano continua passados dezoito anos a responder às necessidades da população de Almada? Estará em processo de degradação acelerado por utilizações inesperadas? Será suficientemente

apelativa

às

práticas

comuns

de

vivência

em

espaço

público?

Especificamente importa perceber a partir de um registo fotográfico e de mapeamento de actividades de apropriação e vivência do espaço de que forma estas acontecem e quais as mais recorrentes bem como perceber os factores subjacentes. A organização do trabalho que se apresenta segue uma lógica de aproximação ao tema, partindo do geral para o particular. Estando dividido em três capítulos, dos quais o primeiro e segundo, de carácter teórico, pretendem estabelecer a relação da temática com o terceiro capítulo, que com carácter prático, se debruça sobre o objecto de estudo. O primeiro capítulo envolve uma pesquisa acerca da origem da praça e correspondente processo evolutivo, procurando nos factores sociológicos subjacentes uma relação com os modos de apropriação e vida do elemento urbano que se constitui na sua

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génese como espaço público por excelência. Numa abordagem ao tema segundo a visão contemporânea de alguns autores apresenta-se uma reflexão do espaço público que trata as diferentes problemáticas subjacentes. O segundo capítulo trata o enquadramento ao concelho de Almada, cidade em que está situado o objecto caso de estudo, segundo a evolução histórica do território e o espaço urbano. Nesta abordagem é dado enfoque ao período industrial, à expansão urbana, ao contexto da cidade na Área Metropolitana de Lisboa, à caracterização demográfica e sociocultural, fechando com uma exposição dos elementos de pesquisa acerca dos antecedentes históricos do local da Praça da Liberdade e a concepção do projecto da praça, passando à sua caracterização e contextualização com envolvente urbana. No terceiro capítulo é tratado o caso de estudo segundo a metodologia de análise realizada, onde se apresenta: o processo e forma de desenvolvimento; a síntese e relato dos dados recolhidos por observação e mapeamento dos modos de apropriação e actividades; a estrutura do inquérito; a análise e interpretação dos dados obtidos pelo inquérito. Com estes elementos procura-se estabelecer uma síntese de modo a, sempre que possível, correlacionar factos e aspectos que sobressaem, sem esquecer de encontrar pontos de ligação com a análise temática do primeiro capítulo segundo os diferentes autores, dando especial enfoque à análise do espaço público tecida por Jan Gehl (2011) quanto às actividades de ar livre. A metodologia desenvolvida no processo de análise seguiu na sua fase inicial de aproximação e enquadramento ao objecto de estudo, a Praça da Liberdade, com uma lógica de pesquisa e investigação bibliográfica ou recolha documental, tendo paralelamente procedido ao contacto com o arquitecto João Lucas, técnico da autarquia de Almada e autor do projecto do Fórum Romeu Correia, que desde logo mostrou a sua disponibilidade para conhecer os contornos desta dissertação, colaborar com a realização de uma entrevista – cuja transcrição se apresenta em apêndice [1] – bem como a apoiar com a indicação de bibliografia e cedência de elementos gráficos em formato digital do respectivo projecto e correspondente Praça da Liberdade. Estes elementos incluem um alçado, um corte e uma planta que confere o rigor ao estudo desenvolvido, servindo de base de suporte ao mapeamento dos modos de apropriação, bem como à caracterização do lugar. No aprofundar da pesquisa e em busca de elementos relativos aos antecedentes histórico-urbanísticos da Praça, após consulta do Arquivo Histórico e Museu da cidade de Almada, bem como de bibliografia específica na biblioteca municipal, escassos foram os resultados obtidos por via da pouca e avulsa informação que existe deste lugar de Almada.

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No que concerne ao trabalho de campo e análise do objecto de estudo, foram planeadas um conjunto de acções de mapeamento dos modos de apropriação e vivência do espaço a realizarem-se durante o mês de Outubro de 2014 durante a semana, à quarta-feira e durante o fim-de-semana, ao sábado. Como forma de consubstanciar a informação por observação directa, foi realizado um inquérito durante o mês de Novembro junto dos utilizadores da Praça da Liberdade. Posteriormente foi necessário proceder à análise e síntese dos dados obtidos. No desenvolvimento desta dissertação a escrita adoptada não segue o acordo ortográfico que se encontra em transição até ao presente ano e as referências bibliográficas seguem a norma American Psychological Association (APA) em 6ª edição. Todos os registos fotográficos e imagens que não apresentem indicação de fonte são referentes ao autor da presente dissertação.

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Capítulo I. A Praça e a apropriação do espaço público 1.1 A Praça, origem e evolução histórica O tema da praça tem sido amplamente debatido e estudado sob diferentes pontos de vista, em função dos paradigmas e períodos históricos das cidades, que as estruturam e suportam, desde a origem à maturidade. Alvo de metamorfoses físicas, sociais e culturais, entre outros aspectos, as características de cada praça, sejam de carácter público, administrativo ou religioso, constituem por si só definições que dificilmente se poderão equiparar de igual modo, podendo no limite constituir um tipificação única, de tal forma que chegar a um entendimento consensual de algo, aparentemente tão simples e óbvio, como a definição de praça, pode tornar-se uma tarefa laboriosa. Acerca da evolução da praça nas diferentes épocas, apresentam-se os factores que marcam o seu processo evolutivo na história

da

arquitectura

seguindo

uma

estrutura

marcada

em

cinco

períodos,

nomeadamente: Antiguidade Clássica; Idade Média; Idade Moderna; e Modernidade Contemporânea, cuja época industrial se inclui neste ponto, enquanto do século XX à actualidade se enquadra no seguinte, acerca da apropriação do espaço público. A praça constitui-se actualmente como um elemento urbano determinante na estrutura da cidade, sendo transversal a quase todas as civilizações. Na metrópole ocidental, o modelo de referência tem origem no Ágora da cidade clássica Grega. Foi então, conforme o germânico Paul Zucker (1988-1971), arquitecto, historiador e crítico de arte, em A.E.J. Morris (1994, p. 41), que a praça, com o seu carácter genuíno de espaço público, passou a ser desenvolvida, 500 anos a.C.. O planeamento da cidade, bem como o sentido colectivo de acção integrada através da construção de habitação particular já se verificava durante o terceiro milénio a.C. nos actuais territórios da Índia e Egipto, mas nunca no sentido de gerar uma forma vazia na cidade com o significado da praça que conhecemos. A mudança de paradigma que conduz à origem do Ágora na estrutura urbana da cidade, poderá encontrar explicação num factor sociológico que, como sugere Zucker (citado por Morris, 1994, p.41), apenas tem lugar numa civilização onde o indivíduo anónimo se tornou cidadão por via da democracia, o mecanismo de activação de um ponto de encontro, cuja importância se eleva à necessidade de criar uma forma espacial específica como resposta a uma função, a praça, o lugar de afirmação no espaço urbano. Simultaneamente este desenvolvimento terá sido acompanhado por um fenómeno de estética, partindo de uma consciencialização e percepção sensível da expansão espacial que passa a estar presente, por interpretação do vazio como parte integrante de um todo.

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O Ágora resulta na sua origem, conforme D’Alfonso (2006, p. 40), por consequência da escrita das leis da comunidade em 594 a.C. pelo governo oligárquico que desloca funções para os espaços de reunião abertos e perto da Acrópole, favorecidos pelos eixos viários principais de acesso a toda a região circundante. A acrópole [Figura 1] era até então o lugar onde se estabelecia o culto dos deuses e concentrava o poder e a organização da cidade-estado pelo governo aristocrático, caracterizando-se na estrutura urbana pelo seu carácter defensivo por meio da fortificação ou estratégias geomorfológicas, um modelo que viria por equivalência a ser representado mais tarde na cidadela medieval como refere Winchelsea (citado por Morris, 1994, p. 124). O Ágora surgia representada na forma de um espaço amplo cujos acessos principais convergiam, configurada desordenadamente pelos edifícios que a constituíam, nomeadamente: a Stoa, a zona civil e de reunião, na forma de um pórtico com colunatas; o Pritaneu, um edifício quadrangular destinado à actividade legislativa; e o Bouleuterion, a sala de anciãos e assembleia do povo; conferindo pelo seu conjunto uma ordem unitária.

Figura 1 - Ágora e Acrópole de Atenas. (Morris, 1994, p. 47).

No decorrer do processo civilizacional ateniense, com a reforma democrática da constituição em 508 a.C. e a consolidação do estado, o Ágora adquire, pela multiplicidade de funções uma dimensão tal que passa a disputar a centralidade da Acrópole. Contudo, não se reconhece ainda como elemento estruturante da malha urbana, embora os pórticos que a delimitavam conferissem alguma ordem, a disposição casual dos edifícios em redor do espaço público representavam ainda um factor de desencontro com a estrutura urbana, será por isso necessário chegar ao período da colonização para se encontrar os primeiros exemplos do Ágora enquanto elemento individualizado e estruturante da forma urbana segundo (D'Alfonso & Samsa, 2006, pp. 40-41). ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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A cidade de Mileto [Figura 2], surge como um dos mais importantes exemplos do planeamento urbano e arquitectónico das cidades gregas por Hipódamo, que implementa o traçado ortogonal de forma racional, estabelecendo a divisão da cidade pela distinção de funções e diferentes zonas da cidade. Entre um vasto conjunto de elementos reveladores da cidade clássica, encontra-se aqui representada a forma original do Ágora [Figura 3] enquanto espaço público estruturante da malha urbana, realçando o eixo central da cidade (D'Alfonso & Samsa, 2006).

Figura 2 - Mileto. (D'Alfonso & Samsa, 2006, p. 42).

Figura 3 - Ágora de Mileto. (Goitia, 1992, p. 50).

Com o império romano, contrariamente à característica orgânica da cidade capital, as novas cidades são desenvolvidas segundo os princípios do planeamento urbano de prática imperial, que seguia o modelo de Hipódamo, ao qual se passou a introduzir um sistema de orientação da cidade segundo o conceito de quadrata, a divisão da cidade em quatro partes. Designadamente o cardus-decumanus, em que o cardus (norte-sul) e o decumanus (este-oeste) determinavam pela sua intercepção o centro da cidade, estabelecendo uma relação com as ordens religiosas antigas, a conexão divina entre o céu e a terra, o centro do mundo ou Axis Mundi. Este ponto central dava origem a um espaço público aberto e ao primeiro edifício, o Fórum, equivalente ao Ágora grego, o centro comercial, civil e religioso, enquanto as restantes ruas se desenvolviam paralelamente a estes dois eixos principais formando uma quadrícula ao longo da qual todas as restantes edificações eram posicionadas conforme a sua hierarquia perante o sagrado, um modelo igualmente seguido pela implantação e distribuição interna dos acampamentos militares, as Castras (D'Alfonso & Samsa, 2006, pp. 64-67) e (Morris, 1994, pp. 56-57). Exemplo que se

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verifica na cidade regular de Timgad, no norte de África, actual Argélia, a cidade regular de carácter militar fundada a partir de uma castra [Figura 4].

Figura 4 - Cidade e Fórum de Timgad (Morris, 1994).

Figura 5 - Fórum de Pompeia. (Morris, 1994).

O Fórum romano [Figura 5], o sucessor do Ágora, com uma implantação de forma rectangular, é estruturado pelo Templo ou Capitólio de culto aos deuses, o edifício monumental, que posicionado num dos lados menores se constitui como elemento gerador da disposição axial da praça, favorecendo a perspectiva do espaço. Verifica-se aqui a principal diferença para as cidades gregas que detinham separadamente a função religiosa na Acrópole. Dessa forma, os edifícios que constituem o Fórum são nomeadamente: edifícios religiosos, com templos de adoração a um deus e a basílica; edifícios institucionais destinados à política, à legislação, à jurisdição; e os edifícios comerciais, como o mercado, oficinas ou tabernas. Não obstante, o Fórum tanto se encontra nas cidades antigas de estrutura orgânica como nas cidades de traçado ortogonal, com carácter expansionista ou colonial, as cidades novas de estrutura hipodamiana (D'Alfonso & Samsa, 2006, pp. 66-67) e (Morris, 1994, pp. 56-57). Na Idade Média entre o século V e XIV, segundo José Lamas (2000, pp. 151,154), o modelo urbano diverge e desenvolve-se orgânicamente sobre a estrutura urbana que o império romano havia consolidado e implementado. A malha ortogonal perde sentido e segue-se uma aparente ausência de lógica reforçada pelas novas ocupações que seguem a morfologia do terreno. Verifica-se então uma alteração da escala monumental da cidade, para uma escala de intimidade, favorecendo a organização de classes sociais. Neste período, o processo evolutivo das cidades e núcleos urbanos, sob organização feudal e agrária da sociedade, oscila em função da instabilidade gerada pelo conflitos constantes, pela doença e desastres naturais. Por sua vez, conforme Morris (1994, p. 94) a Igreja preservou na Europa uma aparente vida civilizada. Não só providenciou o núcleo de muitas cidades medievais como aplicou uma influência de persuasão restringindo quaisquer

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impulsos à margem da sua visão do mundo, num período que viria a ser designado por, idade das trevas. É neste contexto que se verifica a necessidade de defesa da cidade, a ponto de se tornar um factor condicionante da forma urbana pela imposição da muralha. O espaço público, segundo Goitia (1992, p. 14) e Lamas (2000, p. 154), passa a acontecer nas ruas, na praça do mercado e na praça da igreja onde surge uma nova centralidade marcada pelo carácter vertical da torre e sua cobertura pinacular, sem uma relação de planeamento com a cidade envolvente. O espaço público e privado relaciona-se com a noção de espaço religioso à semelhança do que se verifica na cidade islâmica. Em análise, o mercado sustenta a lógica da cidade enquanto espaço de transação de bens e serviços. O desempenho da sua função acontece geralmente em espaço aberto, adquirindo designação de praça, podendo no entanto desenvolver-se pelas ruas e estabelecer ligação com a praça da Igreja. A praça medieval, assume geometrias irregulares resultando de um vazio aberto na malha urbana. Por analogia com o Fórum romano a praça medieval perde o carácter de centralidade da estrutura urbana, contudo concentra significado e simbologia no edifício principal, a igreja, que parece substituir o edifício central do Fórum. Apresentam-se de seguida os planos urbanos de oito bastides francesas [Figura 6], cujas relações espaciais ilustram

as

variações

essênciais

tanto

na

estrutura

orgânica

como

ortogonal.

Figura 6 - A. Villréal; B. Lalinde; C. Castillonnes; D. Eymet; E. Villefranche-du-Périgord; F. Domme; G. Beaumont; H. Monflaquin. (Morris, 1994, p. 123).

Com o Renascimento, no século XV, a forma urbana da cidade é alvo das influências vitruvianas tendo como principal referência a cidade clássica. A geometria e a perspectiva rigorosa passam a constituir parte do planeamento urbano e constituem-se como factores determinantes da concepção espacial da praça enquanto elemento urbano, conferindo-lhe novas interpretações de centralidade na estrutura urbana. Contudo, conforme Wolfflin, citado por Lamas (2000, p. 170), importa distinguir o período do renascimento em dois momentos de estética cultural: um primeiro, que busca a permanência e fixação de todas as coisas, num sentido de estabilização e repouso; e um segundo, o do Barroco, que se orienta pela noção de direcção e movimento, em solicitação das emoções (Lamas, 2000, pp. 167-170). À luz do texto de Georg Simmel (1997), estabelecendo aqui uma analogia com estes dois momentos, fica a ideia de que o Barroco anuncia os estímulos nervosos da metrópole do século. XX, enquanto o Renascimento, num primeiro momento ainda se ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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mantinha próximo da natureza das coisas. Sem esquecer o tema, esta relação aqui estabelecida procura contextualizar e estabelecer relações com os desenvolvimentos que antecedem a actualidade e o futuro próximo no condicionamento de factores determinantes à forma urbana da praça e sua apropriação enquanto espaço público, a tratar no ponto dois. A praça, segundo Lamas (2000, pp. 174-176) constitui-se como elemento de configuração do planeamento urbano em combinação com o traçado rectilíneo e a quadrícula, geradores principais da composição urbana. Neste contexto, Lamas (Ibidem) menciona a distinção que alguns autores estabelecem entre “praça” e “recintos espaciais”, considerando a primeira de origem mediterrânica sob as designações de “piaza” ou “place”. Em Morris (1994, pp. 163-164), são enunciadas três categorias de espaços fechados ou recintos [Figura 8]: o espaço de tráfego, que contempla a circulação do trafego automóvel e pedonal, a circulação do espaço urbano, constituido parte integrante e geradora da rede viária, nos exemplos da Piazza del Popolo em Roma e da Place de Concorde em Paris [Figura 7]; o espaço residêncial, destinado ao tráfego local e actividades recreativas, é destacado por Morris, como sendo porventura um dos mais importantes contributos de todo o período renascentista, encontrando-se os melhores exemplos na Place des Vosges (original Place Royale) e no Convent Garden de Londres [Figura 8]; e o espaço pedonal, fechado ao tráfego rodoviário, que serve geralmente, a entrada para pontos de encontro públicos como edifícios de importância cívica, como são exemplo a Piazza de San Pietro em Roma, na sua relação com a basílica ou a Piazza de San Marco em Veneza [Figura 9].

Figura 7

Figura 8

Figura 9

Figura 7 - A. Espaço de Tráfego, Place de la Concorde, Paris. (Google Earth. 4/16/2014. Obtido em 4 de Fevereiro de 2015) Figura 8 - B. Espaço Residencial, Convent Garden Square, Londres. (Google Earth & The Geoinformation Group. 2015. Obtido em 4 de Fevereiro de 2015) Figura 9 - C. Espaço Pedonal, Piazza de San Marco, Veneza. (Google Earth. 9/22/2012. Obtido em 4 de Fevereiro de 2015)

Conforme Lamas (2000, p. 176) A praça já não é um vazio resultante da estrutura urbana, é antes o lugar público onde se passam a concentrar os edifícios e monumentos emblemáticos da cidade. No Renascimento a praça constitui-se como cenário ou elemento de enquadramento, espaço de expressão artísitica e prestígio, geralmente determinada

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pelos orgãos do poder. Ao contrário do Ágora grego e do Fórum romano, os edifícios de habitação passam a poder delimitar a praça, contudo o regresso dos obliscos, das estátuas acontece na praça onde os lagos e fontes são também elemento característico deste período. Em análise, a praça e o seu modo de apropriação passa a constituir parte do planeamento urbano, sugerindo diferentes modos de interpretação do espaço nos diferentes pontos da cidade conferindo novas centralidades na malha urbana em função de novas lógicas culturais, sociais, políticas e económicas, antecipando alguns dos paradigmas da praça do século XX. Na modernidade contemporânea, a época industrial vai representar um momento de viragem entre a continuidade da cidade clássica da primeira modernidade para a cidade do modernismo, século XX. O processo de industrialização tem um impacto tremendo na estrutura urbana, conjuntamente com a explosão demográfica, a cidade sofre alterações profundas e novos problemas se levantam. Neste contexto a praça fica relegada para segundo plano tendo ficado quase esquecida. Conforme Lamas (2000, pp. 203-206) neste período, a praça terá continuado a surgir como elemento urbano ainda durante a primeira metade do século XIX. Em toda a Europa surgiram bons exemplos em que a aplicação da malha ortogonal, a geometria, o traçado regular e a perspectiva barroca marcam presença, nomeadamente nas cidades: de Berlim; Viena; Milão; de Barcelona, pelo plano urbanístico de Cerdá [Figura 10]; de Paris com os planos de Haussman, cuja influência se estendeu a Lisboa por Ressano Garcia. A destruição das muralhas, dos limites da cidade, a construção dos Boulevards e o quarteirão marcaram no entanto todos estes processos fazendo com que a praça enquanto espaço público, reservado ao encontro e vida social, passe a resultar, também pela falta de utilização e dispersão da cidade, mais como um largo. Posteriormente surgem outros paradigmas como a dispersão e indefinição dos perímetros urbanos, a ruptura com a morfologia tradicional, acentuada ainda mais no século XX. Em Goitia (1992, pp. 156-157) o regresso ao traçado da quadrícula de Hipodamo resulta meramente dos interesses de economia utilitária, de especulação dos terrenos. E ressalva o valor da estrutura urbana grega e romana, bem como na América espanhola, cujos traçados em quadrícula monótonos e indiferenciados, encontravam um ponto de equilíbrio nos centros cívicos dominantes, tal como acontecia no Ágora, no Fórum romano e na praça maior. No século XIX esse mesmo traçado vai reforçar o carácter desolador da ortogonalidade isenta de centros dominantes e espaços livres.

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Figura 10 - Plano de Barcelona, por Ildefonso Cerdá. Sistema de Quarteirão, Sistema de Circulação, e Espaços de Cheios e Vazios. (Lamas, 2000, p. 219)

1.2. Apropriação e reflexão do espaço público Enquadrada a origem da Praça torna-se importante analisar e reflectir a forma como continua a ser implementada na estrutura urbana do século XX à actualidade, tendo em conta a função que lhe é atribuída e os modos de apropriação efectivos. Será a praça um largo? Um simples espaço aberto? Será que um campo relvado é uma praça? O que acontece na praça, e de que forma? É um conjunto de perguntas que pode resultar de uma procura da praça ideal. A praça como elemento urbano constitui-se por si só como essencial à leitura e ocupação do espaço da cidade, revelando-se um espaço público por excelência e aglutinador de acontecimentos. Existe para o indivíduo, como uma referência, um ponto de passagem e encontro, podendo tornar-se parte da sua própria vida, resta perceber como e de que forma. A cidade contemporânea incorpora todo um processo de globalização mundial, cujo desenvolvimento urbanístico se traduz na metropolização, sustentado pela evolução das tecnologias de transporte e comunicação. A vida urbana organizada num vasto espaço territorial urbanizado, descontínuo, heterogéneo e polinuclear, tem no conjunto da cidade, densa ou não, pequena ou grande, vila ou subúrbio, a formação da “Metapóle” (Ascher, 2012, p.105).

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Kevin Lynch (1918-1984), o autor de A Imagem da Cidade (1960/2008), formado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) em Planeamento Urbano, verifica que a percepção da cidade se dá como um fenómeno temporal, sendo por isso necessário encontrar estratégias que permitam compreender o todo na sua articulação com os problemas em evidência num modelo sequencial (2008, p. 162). Em busca do valor da qualidade do ambiente visual, trata a legibilidade da estrutura urbana como um aspecto fundamental no estudo da imagem visual do cidadão para a compreensão da estrutura que orienta a imagem do meio, por forma a minimizar o sentido de interferência do estado emocional e a facilitar o grau de adaptabilidade. A construção da imagem como processo de organização do mundo através de pontos focais permite relacionar a imagem do meio ambiente com uma identidade, estrutura e significado, estabelecido através da relação do observador com o objecto. Nesse sentido e porque a imagem não é estática, torna-se importante analisar os diferentes elementos que constituem a imagem da cidade, definindo layers, ao nível das vias, limites, cruzamentos, elementos marcantes, entre outros. Assim, conforme Lynch (2008, pp. 83-89) se poderá relacionar estes elementos ao nível da imagem mutável salientando a importância da sua cumplicidade. A relevância do lugar poderá encontrar-se nos pontos focais que conforme Lynch, representam um aspecto fundamental, bem como o reforço e singularidade da imagem da cidade, por entre toda a sua complexidade, destacando a importância da estrutura geológica e as características naturais para a obtenção de boas referências no plano da boa imagem da cidade. Um objectivo maior visa a adaptação das fontes naturais aos propósitos do homem, enquanto a adaptação do ambiente ao modelo perceptual será fundamental no processo simbólico do ser humano. Acerca da organização da imagem da vida contemporânea, a noção de deslocação e velocidade representam uma nova escala nas construções contemporâneas, bem como as relações de ambiência através do design e da planificação, ou projecto racional e consciente (2008, pp. 121-122). Jane Jacobs (1916-2006), enquanto activista do urbanismo faz uma crítica directa às teorias do urbanismo moderno ortodoxo que sustentaram o planeamento urbano das grandes cidades americanas na primeira metade do século XX, as mesmas que serviram de modelo e contribuíram para o dito estilo internacional. Defende que todo o planeamento urbano e ou requalificação carece de uma análise profunda de um vasto conjunto de variáveis a que esteja subjacente uma investigação do mundo real, com o objectivo de desmontar o lado oculto dos reflexos urbanos. Tal como a importância de revitalizar ou reconstruir como alternativa à visão ortodoxa do projecto de requalificação em abstracção da cidade, por forma a evitar a consequente padronização e transformação em subúrbio. A requalificação apenas serve para destruir a cidade e as suas estruturas sociais, alienando o ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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sentido identitário do lugar e correlação entre os usuários e o espaço arquitectónico. Partindo de uma observação de proximidade, isenta de expectativas, deve procurar-se no lado comum da vida urbana, os significados e correlações da cidade real, aquela que é vivida além do que existe em papel. A reflexão e compreensão da complexa ordem social e económica sob a aparente desordem das cidades, deve dirigida para as áreas internas das grandes cidades por serem estas, conforme Jacobs (1961/2000), as mais negligenciadas nas teorias do urbanismo. Uma cidade saudável deve proporcionar uma diversidade de usos complexa, densa e constante, complementando diferentes componentes de sustentação tanto económica como social. Conforme a autora, essa diversidade não existe por si só, implica condições que a promovam, daí a importância do planeamento urbano enquanto factor determinante à vitalidade urbana através de estímulos por indução. Nesse sentido o planeamento e o desenho urbano devem actuar com carácter científico e a arte de catalisar e sustentar as relações funcionais densas, partindo da análise de um conjunto de princípios essenciais, nomeadamente: a importância do comportamento social urbano, o bom desempenho económico das cidades; a utilização real da cidade com base no comportamento da população; identificação e discussão dos problemas que se apresentam nas cidades, ao nível de mudanças práticas, seja ao nível da habitação, do trânsito, do projecto, do planeamento e administração urbana (Jacobs, 2000, pp. 157-158). Estabelecendo correspondência com o tema da apropriação do espaço público, a segurança nas cidades constitui para Jacobs (2000), um factor essencial ao bem-estar das pessoas. Encontra na diversidade de habitação, comércio e serviços a garantia de melhores índices de segurança relativamente aos lugares que apenas albergam um tipo de uso em espaços dispersos e isolados. A monotonia da cidade ao nível dos usos únicos de grandes proporções constitui uma barreira ao bom funcionamento da vida urbana, propiciando a decadência dos espaços e zonas de fronteira. São disso exemplo os enormes parques de estacionamento ou linhas férreas, que provocam divisões sociais e comportamentos adversos através da sua imposição na malha urbana. Jan Gehl (n.1936), arquitecto e professor de design urbano na Escola de Arquitectura da Royal Danish Academy of Fine Arts em Copenhaga, destaca a expansão intensiva da cidade como factor condicionante da qualidade dos espaços públicos, contudo a vida entre os edifícios altera-se conforme a condição social. Por sua vez, as perturbações do espaço público revelam-se também condição fundamental para aquilo que é a experiência física do indivíduo no lugar face às diferentes situações.

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Para Gehl (2011, pp. 9-14), as actividades de ar livre e todas as condições físicas que as influenciam merecem especial destaque no tratamento do espaço publico. Em análise, sintetiza as actividades de ar livre em três categorias com diferentes exigências no ambiente físico como sendo: as actividades necessárias, como ir para a escola ou trabalho; as actividades opcionais, como o lazer, apanhar ar ou passear; e as actividades sociais que se estabelecem por via das duas anteriores na relação entre as pessoas. Nesse contexto se inserem as actividades de caminhar, permanecer em pé, e sentar, tendo na sua relação com o espaço exterior, alguns aspectos determinantes naquilo que respeita às qualidades do espaço. Tais como, a necessidade de criar descontinuidades cujo carácter qualitativo potencie diferentes categorias de actividades sob penalização de estas desaparecerem por via da má qualidade destes mesmos espaços. As acções no espaço físico de caminhada determinam física e psicologicamente o trafego pedonal, sendo por isso importante perceber os níveis de tolerância às interferências. Assim sendo e focando os grupos etários, entende que as acções a tomar devem ser dirigidas aos adultos e idosos, considerando que por si só favorecem directamente as actividades das crianças no espaço público. As actividades de permanência em pé, compreendem uma paragem, um olhar para, ou parar para conversar, sendo por isso actividades de natureza funcional. Acerca dos espaços que melhor respondem a este tipo de actividade o autor destaca a importância das fachadas dos edifícios e as suas reentrâncias bem como elementos urbanos de pequena escala como colunas, cantos, árvores, na relação de protecção do indivíduo face ao espaço aberto traduzindo este conceito em exemplos por fotografia. Considerando que o desenho dos pequenos detalhes articulam com vasto conjunto de possibilidades para este tipo de actividade (Gehl, 2011, pp. 145-154). No campo das actividades de sentar, denota o carácter selectivo deste tipo de actividade, com o sentido de protecção, como no estar em pé, e conforto. Nesse sentido, os espaços abertos e vazios, são uma vez mais pouco atractivos, ao que os limites de um determinado espaço se devem potenciar através da distribuição de equipamento que promova a actividade de sentar. A orientação e vista, é também para Gehl algo a considerar neste plano de actividade bem como o tipo de assento. Por fim estrutura esta actividade em dois níveis, um primário, que consiste no assento convencional numa cadeira ou banco, e um secundário, que se traduz em elementos alternativos como os degraus de uma escada ou equipamento desenhado e potenciado para o efeito de sentar (Gehl, 2011, pp. 145-154). Gordon Cullen (1914-1994), arquitecto e designer urbano, de origem britânica, trata na sua obra Paisagem Urbana (2008) a paisagem urbana e a forma como esta é captada pelas pessoas. Cullen descreve a importância do todo como elemento de análise e

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observação para chegar ao particular do ponto de vista da interacção estabelecido nos diferentes momentos e formas espaciais. Como se verá em Lynch na sua Boa Forma da Cidade, a interacção entre o sujeito e a forma para o apuramento das condições de adequação, esta Paisagem Urbana é também aqui sinónimo de conjunto não se podendo dissociar de qualquer um dos elementos no processo de análise porque eles tem uma função de contraponto e ligação, aquela que é designada de Arte do Relacionamento. Neste caso porém, com o objectivo de estabilizar uma reunião de elementos constituintes de um ambiente, tais como a edifícios, ruas, vegetação, formas de tráfego e elementos naturais entre outros, tudo o que possa provocar o campo dos estímulos e emoções. A partir da conjugação de todos esses elementos se poderá determinar o grau de habitabilidade e vivência do espaço urbano quanto à sua organização funcional e qualitativa, do ponto de vista da viabilidade e saúde gerada. Nesta abordagem é rejeitada toda e qualquer solução técnico-científica com carácter vinculativo, sendo pelo contrário necessário estabelecer um contraponto e em combinação com soluções de carácter flexível buscando os limites da tolerância. Em Cullen o sentido da vista é determinante leitura do espaço urbano para chegar ao planeamento racionalizado, justificado e flexibilizado (2008, pp. 9-10). No desenvolvimento do seu conceito, Cullen apresenta três pontos essenciais: a óptica, constituída pela percepção sequencial do espaço ao longo de um percurso, onde se vão captando diferentes experiências e pontos de vista, trata-se da visão serial onde o jogo das emoções é activado; o local, que lida com a posição no espaço, também entendido pelo sentido de orientação, numa noção clara entre o dentro o fora, o aqui e ali, fechado e liberto; por fim o conteúdo que se relaciona com a constituição da cidade nas suas diferentes características: cor, textura, escala, estilo, a linguagem arquitectónica ou carácter individual de cada um dos elementos que lhe pertencem (2008, pp. 11-14). Na teoria da Boa Forma da Cidade (2007, pp. 109-223), Kevin Lynch trata a interrelação da forma com a acção no espaço e circuitos de comportamento na dimensão de adequação. Uma das sete dimensões básicas de execução, essenciais na estratégia de resposta ao programa de planeamento, nomeadamente: vitalidade; sentido; adequação; acesso; controlo; eficiência; e justiça. A estas dimensões de execução precedem um conjunto de características fundamentais na orientação de todo o processo, estando directamente relacionadas a forma do lugar, a cultura, a natureza do ser humano; a noção de generalidade; e o carácter evolutivo de todos factores. Sem relativizar as características das dimensões de execução, objectivamente interessa, com base na análise de Lynch, estabelecer uma passagem à apropriação do espaço público na dimensão de adequação. Sabendo que a qualidade de um local deriva do efeito de inter-relação com a sociedade que o ocupa, torna-se importante perceber de que modo determinado espaço cumpre a sua ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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função, tendo em conta os objectivos e condicionantes que o determinaram, e modo como se estabelece a sua apropriação. A adequação, é um termo que sugere conforto, satisfação e eficácia, significados que variam conforme a expectativa. Por outro lado o termo conforto não é sinónimo de saúde, logo tal como a saúde, quando em ausência, a adequação, mais facilmente é sentida. Ligada às características do corpo humano e dos sistemas físicos em geral, tais como a gravidade, inércia, propagação da luz e relações de dimensão, entre outras, a adequação está igualmente dependente da cultura cujo modo de vida e sua especificidade é variável, sendo tanto mais evidente quando duas ou mais culturas se interrelacionam. Analisando a adequação segundo os aspectos de quantidade e qualidade, algumas questões se levantam. Quando colocada em questão a existência: de espaços públicos suficientes com a qualidade padrão; de ruas e espaços pedonais suficientes; de espaço suficiente para a construção de uma praça pedonal; logo surge a necessidade de uma base qualitativa da quantidade, sendo porém um aspecto frequentemente alienado. A dimensão de uma praça está por isso sujeita a um padrão de qualidade, fazendo com que a sua dimensão seja variável sob a perspectiva da sua utilização e densidade por forma a proporcionar uma adequação comportamental. Nesse sentido se alerta para a necessidade de ir mais além da facilidade dos dados de quantidade, procurando observar na adequação a acção das pessoas num local, para verificar como se estabelece essa inter-relação. Correspondentemente importa observar: a liberdade de movimentos e acções; as inadaptações e situações de desconforto; bem como os usos e formas de apropriação à margem da função ou programa espacial; seja por registo fotográfico, vídeo ou áudio. O método de questionário com vista a determinar uma medida de ajustamento de um local pode igualmente ser útil no processo de observação, procurando uma apreciação do utilizador quanto ao funcionamento do espaço, identificação de problemas e dificuldades. Especificamente, a adequação tem a ver com o local e a acção do comportamento real, consciente e desejado, sendo que devem adaptar-se ao outro (Lynch, 2007, pp. 145-151). Estabelecendo um ponto de comparação, surge novamente a ideia de Jane Jacobs (2000) quanto à necessidade de analisar o mundo real para melhor projectar. A adequação resume-se na sua generalidade como uma medida ao nível da congruência entre uma rotina de comportamentos com o ambiente espacial. Poderá ser alcançada por meio da modificação do local, do comportamento e de ambos, procurando minimizando os conflitos entre os diferentes intervenientes, com vista a alcançar uma estabilidade. Proceder à compartimentação do espaço e do tempo, ao controlo do utilizador, a uma programação, supervisão e afinação atentas são meios transversais a um processo constante e actualizado de adequação. Quanto à adequação futura exigem-se critérios com ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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carácter genérico. Contudo são identificadas duas regras mais limitadas: a capacidade de manipulação, quanto ao nível da alteração da utilização e a forma, de acordo com a sustentabilidade destas na relação directa de custo-tempo. Regras estas que representam dois pontos essenciais ao planeamento, são nomeadamente, a capacidade de resposta e a capacidade de recuperação. No limite das boas práticas a adequação está presente ao nível da análise, do planeamento, da concepção, da gestão, controlo e avaliação (Lynch, 2007, pp. 176-177). A Praça enquanto espaço público, conforme Luiz Cunha (2001, p. 237), tem perdido relevância na estrutura urbana, distanciando-se daquelas que precedem o período industrial, cujas relações geradas ou pensadas se estabeleciam, segundo factores urbanos e ou históricos determinantes. O espaço da praça no movimento moderno, traduzido por espaços vazios, atravessados por corredores de circulação e ou resultantes de grandes áreas pavimentadas, segundo pretensiosas representações de arte urbana, enquadrando os novos blocos habitacionais com os centros comerciais, culturais e ou, administrativos, não resiste às boas intenções que estão na base do seu projecto e a apropriação por aqueles a quem se destinavam não se verificou conforme o esperado. Com a lógica capitalista a tomar conta da metrópole, o espaço público é útil se for rentável, logo inútil se estiver vazio. Nesse sentido o espaço público fica subjugado a todo um processo de rentabilização que anula a ideia de espaço livre, verificando-se uma subversão da praça, ainda que os modernistas a tenham concebido como tal. Por fim, Cunha (2001, p. 238) identifica uma terceira razão essencial na descaracterização do sentido da praça, o fenómeno da comunicação interpessoal por meios electrónicos e ou digitais, relegando para segundo plano a necessidade de os indivíduos estabelecerem contacto presencialmente, sendo essa uma condição elementar à apropriação da praça na cidade pré-industrial. Em Luiz Cunha a vida em sociedade no meio urbano tem (2001, p. 238) uma importância que determina o sentido e a razão da existência da praça pública como suporte à vida humana em sociedade, questionando-se, se continuará a fazer sentido promover e implementar os princípios que lhe estão subjacentes na metrópole cuja uma realidade urbana está orientada para um apelo ao individualismo. Contudo sai em defesa da praça como sendo um dos elementos constituintes da vida urbana que se deve sobrepor a qualquer interesse meramente economicista favorecendo a relação com e entre os indivíduos. Em Ascher (2012, p. 68) esta visão negativa perde dimensão e contrariamente vai antes valorizar a dinâmica que se gera na metrópole, assumindo as novas tecnologias e a impessoalidade da comunicação. Nesse sentido considera importante o conjunto de actividades que a própria metrópole suscita.

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A desintegração do espaço público em função da lógica da automobilidade é uma questão incontornável a este tema. Espaços públicos há, que têm sido cedidos para o automóvel seja em circulação seja em estacionamento. O espaço público pedonal necessita de barreiras de protecção e raramente tem uso exclusivo, sendo frequentemente atravessado por rodovias. Esta é uma realidade transversal a todo o período da modernidade. Verificou-se uma consciencialização do problema, algumas medidas foram tomadas, mas a metrópole actual coloca em evidência o domínio do automóvel sobre o espaço público, sem se perspectivarem novas formas de alterar o paradigma. No artigo de jornal The City and the Car (Sheller & Urry, 2004), Mimi Sheller socióloga norte-americana (nascida em 1967) & John Urry sociólogo britânico (nascido em 1946) apontam a arquitectura urbana como parte de uma função de movimento, condicionada pela malha apertada das infra-estruturas viárias da mobilidade. Citando Richard Sennett, sociólogo e historiador norte-americano (n. 1943) relativamente à arquitectura urbana clássica, mostram como esta era pensada em função do ponto de vista pedonal através da perspectiva, guiando o utilizador por pórticos, praças, por obeliscos e enquadramentos paisagísticos. Por sua vez, passando a citar Robert Venturi arquitecto norte-americano (nascido em 1925) e Peter Freund, físico teórico romeno e professor na universidade de Chicago (n. 1925) a arquitectura pós-moderna da sinalética de leitura imediata e das superfícies assinaladas, surge em parte da experiência de conduzir, pelos painéis de informação e pela assimilação dos néons de Las Vegas (Sheller & Urry, 2004, p. 204). Conforme Sheller e Urry a mobilidade nunca foi ignorada pelos estudos urbanos, de tal modo que sempre se reconheceu o seu contributo para a densificação dos estímulos sociais. Porém, o excesso de mobilidade trouxe consigo sérios problemas urbanos, acelerando o colapso entre os movimentos públicos e privados, tornando o automóvel como forma de exercício do direito ao espaço público (2004, pp. 205-206). Idealizando uma reestruturação da cidade da automobilidade numa visão de futuro, Sheller e Urry apontam a necessidade de alteração ou minimização do paradigma, através daquilo que chamam a destradicionalização do transporte urbano pela criação de sistemas de integração do transporte público e privado e ou veículos semiprivados. Para isso torna-se necessário apostar no redimensionamento das viaturas, criando micro-carros para as cidades de maior densidade. Ou promover a desprivatização parcial de automóveis citadinos num conceito de uso por smart-card e pagamento de tarifas de transporte. Bem como introduzir rotas flexíveis ao transporte de crianças e família ou carrinhas de transporte colectivo. Por sua vez a aposta em ruas de velocidade limitada, em vias cicláveis, de micro-carros e pedestres continuariam a constituir-se como parte da solução, entre outras medidas cuja referência seria demasiado extensa (2004, pp. 214-217) .

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Acerca da interacção no espaço público, Pedro Brandão (n.1950) arquitecto pela ESBAL e doutorado em espaço público e regeneração em pela Universidade de Barcelona, na sua obra O Sentido da Cidade - Ensaios Sobre o mito da Imagem como Arquitectura, tece questões do ponto de vista do crescimento urbano e da mobilidade que lhe está inerente. Com efeito, identifica ao nível dos municípios, a necessidade de se estabelecerem perspectivas de planeamento a longo prazo. A cumplicidade e integração entre as diferentes governações, por forma a consolidar uma estrutura urbana coerente e equilibrada como um corpo único, são essenciais no combate às assimetrias centro-periferia, perspectivando no subúrbio, um potencial subaproveitado. O espaço público é defendido no seu discurso como a resposta à necessidade de socialização e à representação da cidadania. Porém verifica o quanto erradamente este é confundido como produto ou equipamento urbano, ou ainda, traduzido em infra-estrutura. Lamentavelmente a restruturação do espaço público no centro da cidade, deixou cair a noção de espaço igualitário e aberto às formas de socialização. A lógica passa agora pelo espaço simbólico como forma de afirmação da própria cidade ao nível competitivo, dos fluxos sociais e económicos globais e turísticos (2011, pp. 131-132). A rua é em primeira instância espaço público e traduz uma identidade própria na interacção estabelecida com os seus utilizadores. Contudo, conforme Brandão (2011, pp. 133-134) a rua evoluiu e passou a relacionar-se com novas infra-estruturas. São disso exemplo as rodovias, os estacionamentos e vias pedonais. Ao nível do subsolo verifica-se uma multiplicidade de solicitações, tanto para infra-estruturas de saneamento, comunicação e energia, como para o desnivelamento de funções como o metropolitano, estacionamentos, atravessamentos, túneis, etc. No limite da sobreposição ou cruzamento de todos estes elementos estabelece-se como “espaço interface”. A rua, praça e estação passam a estar congregados num só elemento, onde se inclui ainda o centro de comércio, cultura, negócios e serviços. O uso da bicicleta conotado actualmente com a mobilidade urbana sustentável é questionado por Brandão (2011, pp. 134-135), quanto à sua genuinidade, abrindo possibilidade de se tratar antes de um gadget contemporâneo. Porém a utilização da bicicleta representa igualmente um estilo de vida. Ainda que seja uma forma de mobilidade pouco atractiva em muitas sociedades ditas de primeiro mundo, tem vindo a conquistar adeptos, sendo cada vez mais alvo do planeamento urbano na articulação com as diferentes redes de transportes por meio da distribuição de bicicletas de aluguer em pontos estratégicos como os já referidos “espaços interface”. Citando Marc Augé (n. 1935), antropólogo e etnólogo, directamente da sua obra L’Eloge de la bicyclette, Brandão (2011, p. 135) destaca um parágrafo de Augé, que traduz a noção de partilha do momento entre os ciclistas a partir de um bem comum a todos, a bicicleta. A actividade social gerada nos ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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utilizadores, que de repente vivem experiências semelhantes e as podem dividir num mesmo espaço potencia a reconquista das relações e da interacção no espaço público. A acessibilidade no espaço público enquanto condição determinante aos modos de apropriação constituiu-se como um factor essencial no tratamento do espaço. Verifica-se desde logo com o “direito à cidade” que a acessibilidade deve garantir a mobilidade de pessoas e bens. Nesse sentido Ascher (2012, pp. 133-137) propõe uma reformulação no campo do serviço público no domínio do transporte por forma a desenvolver o conceito de «serviço público da acessibilidade urbana». Todavia verifica-se que ainda existe uma visão distorcida e errónea nesta matéria, sendo frequentemente relacionada com os termos deficiência ou invalidez, geralmente até com sentido pejorativo. Procuram-se soluções avulsas e dedicadas a uma minoria quando a revolução passará por garantir a acessibilidade de igual modo a todos os utilizadores. O condicionamento da mobilidade pode verificar-se quando transportamos um troley mas o pavimento não é o mais adequado, quando o carrinho de bebé não cabe no passeio, ou mesmo quando o chapéu-de-chuva não passa entre a sinalização vertical e o posto de transformação. A todas estas condicionantes se exige a adequação de Lynch anteriormente referida, uma qualidade no planeamento urbano. Porém, quando a metrópole contemporânea suscita a utilização de percursos e distâncias cada vez maiores, à acessibilidade acrescem, a necessidade de conforto, segurança e velocidade, alienando positivamente a diminuição física do ser humano. Para a resolução do problema, será necessário melhorar a legislação e as práticas por forma a alcançar uma aprendizagem cultural quanto à mobilidade condicionada e à acessibilidade. No contexto dos transportes e do urbanismo, os diminuídos físicos deverão ser tratados de igual modo, sendo por isso necessário que a concepção do espaço, de equipamentos e serviços, se verifique em função do uso, que poderá naturalmente ser realizado por indivíduos cuja mobilidade está condicionada temporária ou permanentemente. A mudança de paradigma quanto a este tema poderá conduzir a uma nova lógica de serviços públicos direccionados às pessoas, contrariamente à tendente distribuição de equipamentos. Por isso torna-se importante devolver as condições de individuação, libertação e autonomia às pessoas diminuídas fisicamente, concedendo-lhes o direito à igualdade, à condição urbana. A implementação sistemática de equipamento adequado bem como de uma nova política agilizada e direccionada para as diferentes necessidades, por meio da disponibilidade de serviços, definem por fim a proposta de Ascher (2012, pp. 135-137). A Central de Mobilidade, uma designação que Ascher (2012, pp. 142-144) usa para apontar uma possibilidade futura nos grandes centros urbanos. Uma noção que detém ainda

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algumas indefinições, todavia orienta para a implementação de um dispositivo urbano de informação em tempo real sobre toda a rede de transportes e modalidades disponíveis para a realizar uma deslocação. Essa possibilidade, tecnicamente é já possível de se realizar, por meio de um smartphone em cruzamento de dados com uma qualquer central de dados. O problema que se levanta passa principalmente pela partilha de informação entre os diferentes prestadores de serviços, desde o transporte marítimo, ao ferroviário, rodoviário, aéreo, subterrâneo, às plataformas de estacionamento e transição de serviços. Uma questão que necessita de ultrapassar alguns obstáculos burocráticos e institucionais. A central de mobilidade poderia configurar-se como um instrumento importante no “serviço público da mobilidade e da acessibilidade urbana”. Esta solução permite consolidar e sustentar a intermodalidade baseada na articulação de todas as redes de transportes disponíveis, através da troca de dados ao nível dos horários, combinação de trajectos ou circuitos, tudo em tempo real, por forma a agendar as multitarefas do indivíduo urbano. Uma coordenação planeada e responsável requer no entanto um sentido de controlo público, partilhado com o serviço privado. Do mesmo modo que uma vez mais as diferentes governanças municipais se devem colocar em linha com um processo de interesses comuns. Analisando esta ideia de Ascher (2012, pp. 142-144), depreende-se, que o caminho das acessibilidades urbanas, em perspectiva se insere na dimensão da rede mundial de hipermédia. Aliás, como quase tudo neste momento, ou não estaríamos no processo da revolução digital. Relativamente ao mundo virtual este está, agora mais do que nunca, presente na vida urbana. Acessível ao toque de um qualquer ecrã digital, de smartphone, tablet, portátil ou tv, são disponibilizadas plataformas interactivas e um sem fim de aplicações especificamente definidas para responder a determinada necessidade como, visualizar as condições meteorológicas, consultar um jornal, visitar um monumento, fazer compras, etc. Viajar e caminhar pelo streetview, do Google Earth, numa lógica designada por realidade aumentada, traduz parte daquilo que se adivinha para o futuro. Os videojogos começaram por trazer de uma forma lúdica este ambiente virtual. Passo a passo, por intermédio dos diferentes dispositivos digitais permanentemente ligados online, combinando a informação virtual com o mundo real, irá tornar-se comum na vida urbana (Fitzgerald, et al., 2012). Qual deverá ser o papel do arquitecto num cenário em que apropriação do espaço público físico, perde lugar para uma nova lógica em que o real é combinado com o virtual?

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Capítulo II. Almada: Evolução do Espaço Urbano 2.1 Enquadramento geográfico e histórico A cidade de Almada pertence à área metropolitana de Lisboa e situa-se na península de Setúbal, um vasto território delimitado a Norte pelo estuário do rio Tejo, a Sudeste pelo estuário do rio Sado e a Sul e Oeste pelo Oceano Atlântico [Figuras 11 e 12]. Área geográfica em que se inserem também os municípios do Seixal, Barreiro, Moita, Montijo, Alcochete, Sesimbra, Palmela e Setúbal. Localizada no extremo noroeste da península, zona em que as margens do Tejo fazem uma reaproximação, Almada estabelece uma relação privilegiada a Norte com a cidade de Lisboa, um factor que ao longo dos anos tem sustentado o termo Margem Sul, designado para enquadrar todo o território a sul do Tejo (Cruz, 1973, p. 54).

Figura 12 - [Em Cima] Localização de Almada em Imagem Satélite da Área Metropolitana de Lisboa. (USGS/ESA 05/09/2013 9:08am. Lisbon, Portugal. [ID 296608]. Obtido em 2 de Fevereiro de 2015, de European Space Agency: http:www.esa.int/spaceinimages/Images/2013/09/Lisbon_Portugal . Adaptado, 2015) Figura 12 - [Direita] Localização da Área Metropolitana de Lisboa. Mapa de Portugal. (Obtido em 20 de Janeiro de 2015, de Wikimedia: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/48/Portugal_location_map.svg .png . Adaptado, 2015)

Este é um lugar onde os primeiros vestígios da actividade humana surgem no período Paleolítico, dando mais tarde origem às primeiras formas de ocupação e fixação dos povos do Neolítico. Verificando-se ao longo da história que a área conhecida actualmente pelo concelho de Almada atravessa diversos períodos e formas de ocupação. Beneficiando da combinação de um conjunto importante de atributos de ordem natural e geográfica, este território terá tido no clima, na topografia e nos recursos naturais os principais factores de apelo à instalação dos primeiros povoados. Por sua vez o factor de localização terá sido

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determinante para o desenvolvimento dos factores de condição humana como o comércio, o poder governativo ou social e a religião. Um fenómeno que ganha expressão com a ocupação romana entre os séculos II a.C. e VI d.C., período em que a economia assume um papel preponderante na região, provocando alterações profundas na forma urbana e em toda a estrutura sociológica, desde as técnicas de trabalho à linguagem. Regista-se neste período a salga do peixe como uma das principais actividades desenvolvidas (Gonçalves A., 2002, pp. 65-66) & (Morris, 1994, pp. 4-12). A ocupação árabe entre os séculos VIII e XI teve também um papel determinante na história deste sítio sendo-lhe atribuída a origem toponímica de Almada que deriva da palavra árabe Al-madan, mina, devido à exploração de uma mina de ouro na margem do Tejo. Uma actividade que terá justificado a sua defesa com a construção do Castelo da Mina. Em 1147 com a conquista de Lisboa pelo rei D. Afonso Henriques, Almada viria a ser tomada aos Árabes e a reger-se pelo sistema da coroa de Portugal (Atkins; Partnership, Richard Rogers; Santa-Rita Arquitectos, 2006, p. 42). No período Medieval, D. Afonso Henriques concede em 1170 protecção régia a Almada e trinta anos mais tarde, em 1190, D. Sancho I faz a atribuição do primeiro foral (Gonçalves A. , 2002, p. 66) & (Almada C. M., 2009b). Do ponto de vista urbano este território pouco mais se desenvolveu do que um pequeno aglomerado de habitações junto da muralha do Castelo delineando a rua direita que dá origem ao actual centro histórico com o nome da rua Capitão Leitão e para além deste núcleo urbano desenvolvia-se a exploração agrícola cuja exploração dos campos predominava a paisagem. Nestes tempos a agricultura e a pesca proporcionavam uma oferta variada de produtos. A centralidade da vila potenciou o comércio contribuindo para a chegada de mais pessoas com origem nas regiões a sul, bem como para estimulação da rota comercial com Lisboa, logo do outro lado do rio Tejo, estabelecendo-se a ligação a partir de Cacilhas, o ponto mais favorável pela proximidade (Atkins et. al., 2006, p.43) & (Cruz, 1973, p. 24). A seu tempo o processo de ocupação que que se verificou por toda a margem Sul vê-se sujeito a um sistema de doações régias no contexto da Reconquista, com directrizes muito específicas e de carácter latifundiário. Os impactos no ordenamento do território surgem por toda a parte, com excepção da vila de Almada, devido ao seu carácter de preexistência que lhe conferia a autonomia e importância suficientes para estabelecer a organização dos campos em redor, onde ficou a predominar a pequena propriedade, não tendo por isso sido integrada nesse controlo directo (Cruz, 1973). Entre uma multiplicidade de acontecimentos, no contexto urbano, viriam a surgir mais tarde, no decorrer das Guerras da Restauração, a reedificação e construção de várias fortalezas entre Cacilhas e o Bugio, para protecção da cidade de Lisboa e estuário do Tejo, marcando profundamente toda esta extensão de território [Figura 13] (Gonçalves A. , 2002, p. 66). ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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Figura 13 - Carta Topográfica Militar de Almada do séc. XVIII. A Malha Urbana Existente e as Fortalezas. (Costa, J., 1902. Carta Topográfica Militar do Terreno da Península de Setúbal. Corpo do Estado Maior do Exército, IGeoE)

Figura 14 - Estrutura de Quintas em Almada. (Atkins et. al., 2006, p.46)

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As quintas no concelho de Almada constituem igualmente um factor determinante na forma da cidade devido à sua forte presença e complexa estrutura em redor das zonas polarizadoras da actividade económica [Figura 15]. Entre algumas destas, destacam-se as que ainda persistem, como a Quinta de São Paulo, a Quinta do Almaraz e a Quinta da Alegria, apenas em vestígios. Com um carácter de relevo entre estas, existe ainda a Quinta do Alfeite referenciada em 1385, actualmente pertencente ao complexo do Arsenal do Alfeite. Do ponto de vista da sua distribuição pelo território, as quintas encontram-se distribuídas segundo a condição morfológica do terreno, composta por quatro zonas: uma relativa às encostas a Norte onde se inserem a de Almaraz, Serras até à quinta de S. Pedro; a segunda pelas encostas a sul desde a Quinta do Conde ao Pombal e Ramalha; a terceira na frente ribeinha do mar da palha, com as Quintas da Vinha Horta à Margueira e ArmeiroMor; e a quarta referente à encostas das Barrocas onde incluem as Quintas da Piedade ao Outeiro [Figura 14] (Atkins et. al., 2006, p.47). Estas quintas constituiam-se, para além dos seus terrenos, por diversas edificações com diferentes ocupações, desde a habitação ao armazenamento e processamento, podendo incluir funções recreativas ou área de lazer como jardins e miradouros. Era ainda comum a existência de capelas particulares que se poderiam abrir a festividades de carácter religioso (Gonçalves & Silva, 2012, pp. 37-40).

2.2 Período Industrial O período pré-industrial ficaria marcado pelo terramoto de 1755 que teve também em Almada um efeito devastador. A perda irreparável do tecido urbano medieval conduziu a um longo processo de reconstrução que se estende por todo o século XIX. Altura em que começam a surgir as primeiras indústrias transformadoras, que se estabelecem por toda a linha costeira, nomeadamente: a Trafaria, o Gingal, Cacilhas, Margueira, Mutela, Romeira e o Alfeite (Atkins et. al., 2006, p.48). Conforme Luís Milheiro, para além dos efeitos progressivos da Revolução Industrial que se tinha repercutido por toda a Europa, pelo facto de a cidade de Lisboa no século XIX se encontrar com a sua frente ribeirinha em ruptura provocada pela expansão desordenada, numa altura em que as relações comerciais ainda tinham predominância por via marítima ou fluvial, Almada uma vez mais, devido ao seu posicionamento priviligeado de proximidade com Lisboa, beneficiou dos efeitos imediatos do desenvolvimento industrial. Não menos importante neste processo seria o envolvimento de uma representação significativa de empresários ingleses que se encontrava instalada por estas paragens desde o início do século (2009, p.47-48). A actividade industrial em Almada desenvolve neste período um percurso intenso de expansão, especialmente na área da transformação, como a indústria conserveira, aliada

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ao peso histórico da exploração desta actividade pelos romanos, como na indústria de moagem, da corticeira, vinícula, alimentar, fiação, metalurgia do ferro, do carvão e indústria naval, entre outras (Atkins et. al., 2006, p.48) & (Milheiro, 2009, pp. 64-65). Para além das profundas alterações no plano económico e sociocultural subjacente a toda a região, as elevadas expectativas laborais da industrialização, um pouco como aconteceu por todo o mundo, originaram fluxos crescentes de populações que aqui acorrem vindos de todo o interior do país, conforme atestam Gonçalves & Silva (2012, p. 71), desde as Beiras, ao Alentejo e Algarve. Com este fenómeno viria a surgir o problema da habitação, a par de um crescimento urbanístico descontrolado, alterando definitivamente o paradigma da ruralidade que por tanto tempo caracterizou este território. É então atravessado um período em que a habitação da classe operária se resume por vezes a um pequeno espaço compartimentado dentro da própria fábrica ou armazém (Silva & Vieira, 1995, p. 1). Uma realidade que viria a ser apontada quase um século depois pelo arquitecto urbanista Étiènne de Gröer, de origem polaca e nacionalidade francesa, ao serviço do Estado Português por convite de Duarte Pacheco, citado por Luís Milheiro (2009, pp. 71-72), acerca do relatório para o Plano de Urbanização do Concelho de Almada (PUCA) em 1948, referindo-se à precariedade e insalubridade da habitação operária, um dos resultados do desenvolvimento abrupto da indústria na região, verificando-se a par deste processo uma forte especulação imobiliária que no limite parcelava uma qualquer área ao mais ínfimo espaço possível, por forma a atingir o poder de compra da população operária. Um fenómeno que teve especial incidência nas zonas em redor dos polos industriais absorvendo as quintas mais próximas que davam lugar a bairros e vilas, armazéns e anexos sobrelotados (Ibidem, 2009, pp. 7172). No último quartel do século XIX surgem as primeiras intenções de estabelecer uma ligação física entre as duas margens do Tejo. Algumas propostas inovadoras se concretizaram, todavia sem efeitos imediatos, conduzindo anos mais tarde à construção da Ponte 25 de Abril (Atkins et. al., 2006, p.53). A construção do primeiro navio com casco em aço, em Portugal, acontece nos Estaleiros Parry & Son no Ginjal em 1961, um marco importante para a indústria naval em Almada. Por sua vez, os frequentes incêndios nas fábricas - especialmente da indústria corticeira - que colocavam em risco as populações e habitações, foi determinante para criação do primeiro corpo de bombeiros, um serviço que até então era prestado pela corporação de Lisboa. Por via do crescimento industrial alguns factos inovadores iam ocorrendo, do mesmo modo que se verificavam quedas na indústria, com o encerramento de fábricas e logo a abertura de outras actividades ou reaberturas com novos investimentos, como por exemplo a construção de silos em betão para a indústria de moagem, reduzindo o referido risco de incêndio, entre outros (Milheiro, 2009, pp. 56-60). Verifica-se assim uma

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sucessão de altos e baixos que acompanham os períodos das duas Grandes Guerras Mundiais sendo que a oscilação positiva da indústria coincidia ironicamente com os anos de conflito, como foi exemplo a crise dos anos 20 e 30 na indústria da moagem e corticeira reflectindo-se no quadro urbanístico (Gonçalves A. , 2002). Seria a actividade de reparação naval promovida pela Associação de Pesca Portuguesa, que constroi os estaleiros do Olho de Boi em 1920, no local das instalações de uma extinta fábrica de fiação e tinturaria de algodão, a perspectivar um novo período na indústria em Almada. Daí à abertura de novas unidades de construção e reparação naval passariam vinte anos, quando surgem os Estaleiros Navais do Alfeite e da Parry & Son, em 1939 e 1940 respectivamente, um período que viria a definir o perfil da classe operária em Almada, reforçado pela abertura do grande estaleiro naval da LISNAVE em 1961, estendendo-se até à viragem do milénio (Milheiro, 2009, pp. 60-65) & (Gonçalves A. , 2002, p. 67). Enquanto o processo de desenvolvimento da indústria naval estava em crescente, a evolução do sector terciário na Área Metropolita de Lisboa (AML) - na qual Almada está inserida - viria por outro lado contribuir para a diversificação sectorial. Detentora de uma capacidade de gestão e autonomia próprias, mantem-se no entanto dependente de Lisboa, algo que se traduz nos fluxos pendulares da mobilidade urbana, recordando ainda a presença do rio Tejo como principal condicionante natural que determinava a dependência do transporte fluvial (Gonçalves A. , 2002, p. 67).

2.3 Expansão Urbana A expansão urbana de Almada verifica-se a partir de 1940, por via dos fenómenos resultantes da industrialização, com o fenómeno da suburbanização, conforme Cristina Cavaco (2011, p. 271). Porém, seria com a política urbanística levada a cabo pelo Estado, sob a tutela do Eng.º Duarte Pacheco, que surgiam as primeiras intervenções urbanísticas planeadas com carácter estruturante e flexível, determinando um traçado que se tem vindo a adaptar aos diferentes tipos de intensidades e utilizações, sendo exemplos disso mesmo a “linha de metropolitano de superfície” e os equipamentos do “Fórum Municipal Romeu Correia, do Jardim Comandante Júlio Ferraz, da Praça da Liberdade e o Teatro Municipal Joaquim Benite”, qualificando a imagem, a dinâmica e morfologia das áreas centrais (Ibidem, 2011, p. 271) [Figura 15]. Em 1948, por via do relatório para o PUCA realizado em 1948 por Étiènne de Gröer, anteriormente citado, revela-se a realidade urbana resultante da Revolução Industrial (Milheiro, 2009, pp. 71-72).

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A B C Figura 15 - Fotografias aéreas de Almada em 1958, 1967 e 1990, com localização da actual Praça da Liberdade. (Atkins et. al., 2006, p.74-75, Adaptado, 2015)

No desenvolvimento deste processo verificam-se dois momentos importantes. O primeiro com Duarte Pacheco, em que o aparelho do Estado, condicionando a iniciativa privada, toma parte nos processos de gestão do território e agiliza a execução de diversas operações, criando condições à concretização e sucesso dos planos nas suas diferentes fases. Contrariamente, o segundo momento, entre 1955 e 1960, sem Duarte Pacheco e já com a perspectiva da construção da ponte sobre o Tejo, caracteriza-se pela divergência entre o modelo organizativo do espaço urbano e os meios administrativos necessários à concretização dos diferentes planos. O denominado Aglomerado Leste, compunha vários Estudos e Planos Parciais de Urbanização (PPU) correspondentes a zonas como Almada Leste ou Feijó. Entre os diferentes estudos, independentemente da sua complexidade, os princípios a seguir revestiam-se de inovação, conhecimento e tecnologia fazendo aplicar as boas condutas do planeamento urbano. Porém a condição política altera-se e é atribuída prioridade à conjuntura do mercado em função da pressão demográfica (Cavaco, 2011, pp. 272-273). A figura que se apresenta com um dos PPU de Almada [Figura 16], trata a localização do centro cívico, onde surgem a Praça da Renovação (actual MFA), a Praça do Comércio e a Praça Gabriel Pedro. O desenho desta última sugere já a intenção de promover uma nova centralidade e o espaço público, determinando uma configuração generosa para a praça. Interpretando o projecto no seu conjunto, verificavam-se aqui alguns dos princípios da Cidade Jardim, pela predominância e distribuição dos espaços verdes ao longo das ruas de carácter residencial e com baixa densidade (Lamas, 2000, p. 311). Tomando por comparação a situação existente [Figura 17] à proposta do PPU é possível perceber como resultaram as diferenças e semelhanças do estudo face ao executado. Resulta ainda nesta breve passagem do texto, um facto não menos importante, que tem a ver precisamente com a distribuição do espaço público nesta zona central da

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cidade por seis Praças, qualquer uma delas com elevada referência na identidade da cidade como se verá adiante. São nomeadamente: no eixo central, da esquerda para direita, a Praça S. João Baptista, a Praça do MFA (antiga Praça da Renovação) e Praça Gil Vicente; na extremidade das ruas de configuração em V, à esquerda a Praça Gabriel Pedro e à Direita a Praça do Comércio; por fim em baixo e esquerda, a Praça da Liberdade.

Figura 16 - Plano Parcial de Urbanização de Almada. (Cavaco, 2011, p. 272)

Figura 17 - Zona Correspondente ao PPU de Almada na Figura 16. Vista Satélite do Existente em 23 de Junho de 2007. (Google Earth. 6/23/2007. Obtido em 6 de Fevereiro de 2015)

A inauguração da Ponte Salazar em 1966, a par do arranque da LISNAVE, viria provocar profundas alterações na estrutura organizativa de toda a região da margem sul do Tejo. Em Almada, o sistema de infra-estruturas rodoviárias, o sistema de transportes e o crescimento abrupto da construção estarão entre os principais factores de desenvolvimento com maior impacto no tecido urbano (Atkins et. al., 2006, p.56-57). A par da pressão da habitação surge o Plano Integrado de Almada (PIA) e um conjunto de medidas para o sector no início dos anos 70. A faixa de território entre Almada e a Trafaria viria a ser sujeita em toda a sua extensão, numa área com cerca de 13000ha, a um processo caracterizado por uma forte componente legislativa com poderes de expropriação de terras e veto de direitos aos proprietários por via do termo da “declaração de utilidade pública”. O plano concentrava

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três áreas centrais: “integração social, integração ambiental e complementaridade territorial”. Do plano das ideias à prática pouco viria a restar depois da Revolução do 25 de Abril (Cavaco, 2011, p. 273). Do ponto de vista das concretizações, a realização do Plano Parcial de Almada e do eixo central da cidade, que estabelece a ligação de Cacilhas com o Centro Sul ao longo das avenidas principais, seria determinante na relação interna da cidade e na activação do crescimento urbano nas décadas de 70 e 80 (Atkins et. al., 2006, p.57). O Plano Parcial de Almada constituído pela faixa de território que liga o Pragal ao Feijó, entre a A2 e o centro consolidado de Almada a nascente, representa a principal área de expansão da cidade no final da década de 70 [Anexo 2]. Um plano que aliás ainda se encontra em vigor, nomeadamente no que diz respeito à concretização do corredor norte (entre o nó da A2 com IC20 e o Pragal). Correspondentemente ao Plano em referência, destaca-se o seu carácter estruturante através do reordenamento da rede viária que estabelece a ligação do nó do IC20 com a A2 e correspondentes articulações, bem como o enquadramento à cidade por via da relação com o exterior, estabelecida pela zona administrativa do Pragal e pelo corredor verde do Parque da Paz. No conjunto estes dois constituem o melhor resultado deste plano, conferindo uma maior exposição da cidade e reforço da sua identidade, enquanto ao nível dos serviços de relação externa o centro administrativo se articula com a rede de infra-estruturas rodoviárias e transportes (Cavaco, 2011, pp. 276-277). Na última década do século XX, verificam-se as iniciativas de activação de espaços, consolidação e requalificação, bem como na construção de novos equipamentos, como são exemplo o complexo do Fórum Romeu Correia e do Parque Urbano Júlio Ferraz ou o Parque da Paz, contribuindo desse modo na consolidação da estrutura da cidade. A par destes acontecimentos de valorização do espaço urbano, do sentido identitário e cultural da cidade, verifica-se simultaneamente a quebra no sector da indústria, com as corticeiras, a moagem e os estaleiros de construção e reparação naval, que antes desencadearam o crescimento da cidade e o aumento da população, a entrarem em declínio. Este processo conduziria ao abandono de grandes áreas de frente ribeirinha, resultando numa mancha significativa do território em condição expectante, correspondente aos principais núcleos históricos do Caramujo e Mutela, como acabaria mais tarde por suceder com o igual encerramento dos estaleiros da LISNAVE em 2001. Empresa que passa a laborar nas instalações da SETNAVE em Setúbal (Atkins et. al., 2006, p.57) & (Milheiro, 2009, p. 63).

2.4 Almada na Zona Metropolitana de Lisboa No declínio de um período, outro se ergue e Almada passa a focar-se noutros desafios, entre os quais a prioridade da estratégia urbana para o seu desenvolvimento

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sustentável na potenciação de novas perspectivas de futuro a par de um território que já não se resume apenas ao território do seu próprio município, mas ao da grande metrópole que é toda a área em redor de Lisboa, a Área Metropolitana de Lisboa (AML). Aliás, importa referir que no processo histórico que se estende da origem à actualidade da cidade, Almada se desenrola uma longa relação com Lisboa, mesmo a nível militar, algo que sucede na conquista aos mouros, nas guerras da restauração e por aí em diante, assim sucedendo com outras cidades em redor. Esta longa relação com a capital não fica por isso indiferente em qualquer um dos períodos evolutivos da Grande Lisboa (Tenedório, 2003, p. 26). Assim, enquanto Almada se desenvolvia na viragem do século XIX, também Lisboa passava por uma fase de desenvolvimento industrial, urbano e económico em grande ritmo, registando um crescimento demográfico da população de 7% em 1900, altura em que duplica o índice populacional em apenas 50 anos. No panorama da Margem Sul este fenómeno em acompanhamento da Capital apenas se verificou em alguns concelhos polarizadores das principais actividades, tais como Almada, Barreiro, Sesimbra e Setúbal. Um cenário que durante o século XX se viria a alterar por completo, com a crescente explosão demográfica que se verificava por quase todos os municípios em redor da Capital, chegando a duplicar ou mesmo quadruplicar as suas populações, com excepção de Lisboa que havia abrandado o ritmo. Desde então, e ainda mais com a evolução da rede de transportes, a construção da Ponte Vasco da Gama, o alargamento da Ponte 25 e a travessia ferroviária no Tejo, que a noção de metrópole tem ganho consistência neste vasto território, cuja leitura do espaço dificilmente se poderá estabelecer de forma isolada (Tenedório, 2003, p. 19). Com o quadro dos desenvolvimentos que se apresentam no início do século XXI, a queda do sector industrial, o aumento do desemprego e os problemas sociais que lhe estão inerentes no plano da urbanidade (Gonçalves A. , 2002, p. 68), novos desafios e planos estratégicos se colocam, entre outros, porém importa neste caso a análise ao tratamento do tecido urbano e espaço público para chegar ao elemento da Praça. Respondendo às contingências e desafios impostos pela metrópole do século XXI, a cidade tem vindo a dar continuidade, a realizar e desenvolver diversos projectos e programas de intervenção no tecido urbano. Alguns dos quais o Plano Parcial de Almada, o Metro Ligeiro de Superfície da Margem Sul do Tejo, o Polis da Costa da Caparica, as Áreas de Reabilitação Urbana, o Plano de Pormenor de Cacilhas e o Plano de Urbanização de Almada Nascente (Almada C. M., 2011 [Revisão de Agosto 2012]). Entre as concretizações e inserido no Plano de Parcial de Cacilhas, o Parque da Paz resulta de um processo do final dos anos 70, já aqui referenciado, e iniciado em 1995 pela autoria de Sidónio Pardal, assume enorme protagonismo na entrada da cidade

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consolidada, numa lógica de encerramento do negativismo da carga tornando o Parque numa extensão da cidade e polarizador de novas centralidades, pese embora o facto de ainda estar em resolução o estrangulamento marcado pelos principais eixos rodoviários (Pardal, 1997, pp. 27-30). O Metro Ligeiro de Superfície, um projecto intermunicipal, envolve os municípios do Seixal, Moita e Barreiro e enquadra-se com o plano do arco ribeirinho Sul, por forma a estabelecer ligação entre estes, em articulação com os diferentes interfaces de transportes. Concretizado o troço de Almada em 2008, ficaram estabelecidas as ligações CacilhasUniversidade e a partir do eixo do centro Sul até Corroios com interface ao comboio e barco (Gonçalves A. , 2002, p. 68). Subjacente ao meio de transporte, este projecto integrou em toda a sua extensão a requalificação dos eixos viários e espaço público, promovendo novos hábitos e formas de apropriação do espaço. Com estas intervenções as praças referentes ao principal eixo viário, onde se localizam as estações de metro, seriam também alvo de uma transformação não menos importante [Figura 18], em que um dos objectivos principais passou por atribuir o espaço à mobilidade pedonal, colocando para segundo plano a apropriação do automóvel (Gonçalves J. , 2003, pp. 67-69). Todavia, face à condição da pré-existência [Figura 17] e segundo a classificação das três categorias espaciais da praça definidas por Morris (1994, pp. 163-164), no essencial estas mantêm-se em qualquer um dos casos, uma vez que: tanto a Praça Gil Vicente como a Praça do MFA se apresentam como espaço de tráfego, cujo automóvel partilha o espaço pedonal, variando aqui uma intenção de prioridades; enquanto a Praça S. João Baptista apresenta uma funcionalidade quase que ao inverso das anteriores, numa lógica de espaço pedonal que é apesar disso delimitada por ruas de tráfego ainda que condicionado à velocidade.

Praça Gil Vicente

Praça MFA

Praça S. João Baptista

Figura 18 - Projectos das Praças do Eixo Principal de Almada. (Gonçalves J. , 2003, pp. 67-68)

Em desenvolvimento, o Plano de Urbanização de Almada Nascente, que teve início em 2002, compreende toda a área absorvida pela indústria durante os séculos XIX e XX, entre Cacilhas e a Cova da Piedade. Um território que ficou em suspenso após o

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encerramento dos estaleiros navais da LISNAVE em 2001. Este plano com enquadramento local e regional, no âmbito da AML, visa a requalificação da frente ribeirinha como uma forma de estratégia. Verifica-se aqui, para além da importância do carácter qualitativo, que pode trazer à cidade a potencialidade de conciliar o diálogo das duas margens beneficiando uma vez mais dos curtos 2 km de rio que se interpõem com o centro de Lisboa. No contexto desta dissertação, torna-se importante sublinhar o carácter expectante das novas possibilidades de relacionar e potenciar o espaço público existente com as novas propostas que se apresentam segundo o projecto desenvolvido pelo Consórcio WS ATKINS - Santa Rita Arquitectos & Richard Rogers Partnership (WSA, SRA, RRP), onde se apresentam os traços gerais das áreas de espaço público e suas relações espaciais. Ficando expressa a proximidade com a Praça da Liberdade e o Largo 5 de Outubro, bem como um eventual papel a desempenhar neste discurso [Figura 19] (Atkins et. al., 2006, p. 115,143) & (Almada C. M., 2011, pp. 27-32). Igualmente em desenvolvimento, o Plano de Pormenor de Cacilhas visa a requalificação urbana da área que compreende o Terminal Intermodal, o Núcleo Histórico e o Morro de Cacilhas. Sendo um espaço de referência pela relação privilegiada que estabelece com Lisboa, onde as populações se cruzam e interagem diariamente. Este é um Plano que detém uma importância ímpar do ponto de vista da revitalização do espaço público de recreio e lazer. Concretamente importa destacar a Praça Alfredo Diniz como principal elo de articulação entre as múltiplas vivências que se geram neste lugar, estando sujeita a um difícil exercício de conciliação dos espaços entre os diferentes tipos de usos e modos de apropriação [Anexo 4] (Almada C. M., 2011, pp. 44-47).

Figura 19 - Distribuição do Espaço Público para Almada Nascente e a Relação com o Existente. Segundo a Proposta em Vigor. (Atkins et. al., 2006, p. 143)

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2.5 Caracterização Demográfica e Sociocultural A distribuição das freguesias do concelho de Almada foi como no resto país, alvo do processo de reorganização administrativa do território das freguesias em 2013. Nesse processo foram criadas as seguintes freguesias por agregação: União das Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas; União das Freguesias de Caparica e Trafaria; União de Freguesias da Charneca da Caparica e Sobreda; União de Freguesias de Laranjeiro e Feijó; e Freguesia da Costa da Caparica [Figura 20] (Almada C. M., Juntas de Freguesia, 2009a).

RIO TEJO

RIO TEJO ALMADA PRAGAL

TRAFARIA

CAPARICA

ALMADA

CACILHAS

COVA DA PIEDADE

PRAGAL CAPARICA

TRAFARIA

LARANJEIRO

LARANJEIRO

FEIJÓ

FEIJÓ

SOBREDA

SOBREDA

|União das Freguesias| Almada Cova da Piedade Pragal Cacilhas

COSTA DA CAPARICA

CACILHAS

COVA DA PIEDADE

COSTA DA CAPARICA

|União das Freguesias| Laranjeiro e Feijó

OCEANO ATLÂNTICO

CHARNECA DA CAPARICA

|União das Freguesias| Caparica Trafaria |União das Freguesias| Charneca da Caparica Sobreda

Densidade Populacional (hab/Km2) | 2011

|Freguesia| Costa da Caparica

Figura 21 - Mapa do Concelho e Freguesias de Almada. (Criado por Autor sobre Imagem. Almada, 2011, p. 146)

CHARNECA DA CAPARICA

OCEANO ATLÂNTICO

993,4 1000,0 2500,0 5000,0 10000,0

a a a a a

999,99 2499,9 4999,9 9999,9 13984,0

Figura 21 - Densidade Populacional de Almada por Freguesia em 2011(Recriado por Autor sobre Imagem. Almada, 2014, p. 30)

Do ponto de vista da evolução demográfica em Almada teve até 1970 um crescimento derivado à imigração interna de êxodo rural. Ficando marcada pelo aumento avassalador da população entre os anos 30 e 70, que varia de 23694 habitantes para 147690. Em 1990 segundo dados do PDM verificava-se que somente 13% da população seria natural do concelho. Uma década em que a população tem um crescente de 9 mil habitantes atingindo os 160825 em 2001. Nesse processo a origem dos munícipes altera e passa ter um carácter essencialmente intra-metropolitano. Fase em que as facilidades na aquisição de habitação relativamente a Lisboa eram substancialmente consideráveis, o que aliado aos factores proximidade e acessibilidade, a opção recaía sobre o concelho de Almada. Um fenómeno que terá contribuído igualmente para a diversidade dos sectores de ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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actividade económica que até então estava centralizada no sector da indústria. Associado a isso verifica-se uma variação nos níveis de formação da população, algo que se traduz numa maior diversidade sociocultural. Chegando a 2011, com os novos censos, verifica-se que Almada continua a ser o município da Península de Setúbal com maior número de habitantes fixando-se nos 173298 indivíduos. Com estes dados, Almada tem na primeira década do século XXI um crescimento populacional significativo [Figura 22] (Gonçalves A. , 2002) & (Almada C. M., 2011, p. 3).

Figura 22 - Evolução Demográfica no Concelho de Almada de 1801 a 2011. Fonte: INE (Almada C. M., 2011, p. 9)

Do ponto de vista da ocupação do território, as freguesias com ocupação mais antiga verificaram

uma

diminuição,

de

alguma

forma

associada

ao

envelhecimento

e

condicionalismos estruturantes do tecido urbano consolidado que perde no apelo à população, para as áreas com ocupação recente e em desenvolvimento. Ainda assim as freguesias que apresentam maior número de habitantes continua a ser o núcleo nascente composto pela União de Freguesias de Cacilhas, Almada, Pragal e Cova da Piedade, seguindo-se do Feijó e Laranjeiro [Figura 21]. Do ponto de vista dos grupos etários, apesar de a variação da população ter seguido em ascendente na década de 90, não se evitou uma redução na faixa etária dos 0 aos 14 anos, bem como na dos 15 aos 24 anos. Verificando-se por isso um crescente envelhecimento da população em Almada neste período, que apesar de tudo já em 2011 viria a dar sinais de recuperação nas faixas etárias mais baixas, ainda que ligeira [Figura 23] (Almada C. M., 2011, pp. 8-9). O movimento associativo em Almada tem merecido o reconhecimento da autarquia desde há longos anos, estando identificado como um factor determinante na construção de hábitos e padrões de vida com os quais se torna indispensável à formação de uma estrutura identitária e cultural ímpares. Começando por se desenvolver em meados do século XIX, teve nas primeiras colectividades e associações um carácter essencialmente recreativo, passando mais tarde por contornos políticos e em substituição de apoios ou estruturas sociais negligenciadas pelo Estado. Na fase pós 25 de Abril de 1974, assumem-se diversas

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associações e movimentos cívicos imprimindo uma dinâmica tal que na década de 90 o número de associados se aproximava do número de munícipes. Um facto que por si só explica o enorme envolvimento entre as diferentes entidades associativas e a autarquia na dotação e construção de apoios e equipamentos por toda a cidade. Analisando os números, Almada tinha em 2005 um total de 169 associações activas, das quais, em primeiro lugar, 29 se centravam na freguesia de Almada enquanto a Cova da Piedade, logo a seguir, detinha 27 contra 5 no Pragal, a freguesia com menos expressão associativa, valores que ilustram o envolvimento da população na vida social e urbana (Almada M. d., Outubro de 2006 [Julho de 2007]).

Figura 23 - População Residente, Segundo os Grupos Etários no Concelho de Almada – 2001 e 2011 (Almada C. M., 2014, p. 15)

Nos últimos 20 anos verifica-se que o crescimento da população ficou a dever-se à imigração. Dos PALOP’S continuam a aparecer algumas pessoas, mas em decrescente. Enquanto a origem Brasileira tem ganho protagonismo, bem como as populações de origem asiática, do leste da Europa, eslavos e ou da América Latina. No plano da habitação, estes indivíduos chegam e entram no mercado, alugando apartamentos ou optando por, numa modalidade económica, juntarem-se com amigos ou familiares, caindo o sistema de autoconstrução dos anos 70 e 80 (Costa, 2010).

Figura 24 - População Residente com Nacionalidade Estrangeira segundo o País de Origem. Almada - 2011. (Almada C. M., 2014, p. 54)

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2.6 Caracterização do Espaço da Praça da Liberdade No final do século XX, Almada, ao contrário de outras cidades suas congéneres, tanto em Portugal como na Europa, não dispunha nos seus núcleos históricos fundacionais do elemento Praça ou Largo, aquele espaço público, cujo processo de consolidação urbana tenha sustentado na sua contemporaneidade um carácter de centralidade na vida urbana, o lugar onde tudo acontece. Como são exemplo a Praça do Rossio em Lisboa, do Geraldo em Évora, a Plaza de San Francisco em Sevilha e a Place Bellecour em Lyon. Por vezes no processo de expansão das cidades, verifica-se uma restruturação destes espaços que se adaptam e funcionam como elemento charneira entre as diferentes épocas, um caso mais comum na passagem do período medieval. Todavia, trata-se aqui daquele lugar, que sujeito aos desafios do modernismo, se vê em disputa com novas centralidades, que mesmo cedendo parte do seu magnetismo, encontra na requalificação urbana uma nova chama para continuar uma vez mais a promover a vida pública (Dias M. G., 2004, pp. 75-79).

Praça Gil Vicente. Largo Gabriel Pedro

Praça do Comércio Praça do MFA. Praça da Liberdade

A (Original)

B (Adaptado por Autor, 2015)

Figura 25 - A. Mapa de Almada em 1902. B. Mapa de Almada em 1902 com Localização do Principal eixo Rodoviário e Praças. Adaptado por Autor. (IGeoE – Corpo do Estado Maior do Exército. Carta dos Arredores de Lisboa – 1 Detalhe. Obtido em 25 de Janeiro de 2015, de Almada Virtual Museum: http://almada-virtual-museum.blogspot.pt)

Face à ocupação urbana, disputada entre a indústria e o mundo rural, que caracterizava Almada no início do século passado, [Figura 25], o desenvolvimento explosivo da malha urbana no início na década de 40, sob um processo de expansão confuso e sensível à especulação, viria acentuar o desencontro com o passado, conforme verificado no terceiro ponto deste capítulo, facto que faz de Almada uma cidade nova. Todavia e no que respeita ao tema, a falta de espaços públicos com origem e identidade histórica de ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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relevo, catalisadores de uma centralidade da vida pública, potenciou a construção de um novo espaço, a Praça da Liberdade. Um projecto que nasce da responsabilidade e sensibilidade de João Lucas Dias, arquitecto e técnico do departamento de Obras Municipais, autor do projecto (Dias M. G., 2004, pp. 75-77). Acerca da história do sítio que corresponde actualmente à Praça da Liberdade e Fórum Romeu Correia, poucas mais referências se encontram que as relativas à toponímia do lugar da Azinhaga de Mata-Cães. Conforme Pereira de Sousa (2003, pp. 160-161), uma designação popular para a Azinhaga das Courelas, do lugar que no século XIX e até à viragem do século XX começava na Rua José Fontana. Este nome surge relacionado com um proprietário conhecido por Mata-cães da Mutela, que terá vivido em Almada antes de 1682, «apodo» cuja atribuição seria mais tarde reconhecida a uma outra pessoa no século XIX, sem que qualquer relação se possa estabelecer em concreto. Verifica-se no entanto que em 1857 esta designação aparece relacionada, com a compra de “uma Quinta chamada S. Luís, vulgo Matacães, próximo da Mutela“, cuja localização seria correspondente à zona da Rua Luís de Queiróz. Veja-se o esquema da estrutura de quintas elaborada por Atkins et, al. (2006, p. 46) [Figura 14], cuja localização é indicada entre as quintas das Serras, Armeiro, Caranguejais e S. Sebastião de Baixo; ou o mapa de Almada em 1902, onde a zona correspondente a este lugar revela um enorme vazio delimitado por um polígono de quatro ruas ou caminhos, cuja configuração se manteve até à actualidade, muito próxima daquela que representam o traçado da Av. Dom Nuno Álvares Pereira, com a Rua Luíz de Queiróz, a Av. Rainha D. Leonor e a Rua Padre António Vieria. A primeira intervenção urbana nestes terrenos corresponde à construção do edifício da Secção de Almada do Liceu D. João de Castro em 1965, cuja implantação aparece identificada na fotografia aérea de 1967, no local correspondente à actual Praça da Liberdade [Figura 15]. Sob a reforma de Veiga Simão, na altura Ministro da Educação Nacional, em 1973, estas instalações dariam lugar ao Liceu Nacional de Almada, que por sua vez passa a albergar a Escola Técnica Comercial Anselmo de Andrade, de ensino de vocação, nos pavilhões pré-fabricados até ao início da década de 80 [Figura 26] (Andrade, 2011) , (Pinto, 2015) & (Navarro, 2015). A origem da Praça da Liberdade teve início em 1995, altura em que a administração da Câmara Municipal de Almada solicita a João Lucas Dias, arquitecto e técnico da autarquia, o estudo para o edifício da biblioteca numa zona central da cidade. A sua experiência profissional em autarquias e uma profunda consciência da realidade da cidade, aliados à disciplina da arquitectura, conduziriam à escolha do local, o terreno expectante do antigo Liceu de Almada, cujas características geomorfológicas em jeito de miradouro lhe

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conferem singularidade. No desenvolvimento do estudo, o edifício da biblioteca surge orientado a nascente fazendo adivinhar o diálogo com um espaço amplo. Porém, nesse processo, a falta de condições – do foro administrativo – para avançar daria tempo e maturidade ao projecto. Orientado pela sua determinação e sensibilidade para a análise da escala urbana, J.L. Dias chegaria a uma solução que, para além do edifício da biblioteca que se pretendia baixo, passa a apresentar a nascente, uma praça ampla e minimalista em platô, delimitada por uma galeria comercial por forma a criar um espaço público livre de obstáculos e capaz de gerar usos diversos, servindo de cobertura a um estacionamento vertical subterrâneo (Dias J. L., 2014) & (Dias M. G., 2004, pp. 77-78).

Figura 26 - Pavilhões Pré-Fabricados do Liceu Nacional de Almada. (10 de Abril de 2012. Obtido em 10 de Fevereiro de 2015, de Facebook, Liceu Nacional de Almada – Antigos Alunos: https://www.facebook.com/LNA.ESFMP.AntigosAlunos/photos/a.360751267301941.78421.1787 87148831688/360751273968607/?type=1&theater)

A Praça da Liberdade está delimitada a Norte pela Rua Dom Francisco Xavier de Noronha, fazendo enquadramento com a Praça São João Baptista, que sendo mais pequena funciona como um espaço antecâmara em mediação com o principal eixo viário da cidade, a Avenida Dom Nuno Álvares Pereira, onde proporciona um efeito de descompressão e estabelece a ligação com a rede de transportes [Figura 28]. A Sul, a Praça da Liberdade estabelece na escada e rampa de acesso ao piso dois do bloco comercial e na pérgula de sombreamento em madeira, suportada por uma estrutura minimalista com pilares metálicos, os elementos de fecho e enquadramento com o cenário paisagístico do Parque Urbano Júlio Ferraz, que se desenvolve num declive de plano inferior, deixando à vista, de quem está sentado nos bancos de madeira, as copas dos álamos que entrecortam a paisagem distante, do rio Tejo à Serra da Arrábida. A Nascente, a arcada do bloco comercial, com linguagem contemporânea, delimita a praça estabelecendose a comunicação com a esplanada e restaurante do McDonald’s, bem como com as unidades comerciais a este nível que se encontram encerradas e para aluguer. A Poente, o edifício do Fórum Romeu Correia estabelece o encerramento da praça, delimitado pela ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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fachada em vidro que marca a sua entrada, pela projecção do plano de cobertura apoiada num pilar e pelo plano vertical do painel de azulejos, da autoria do artista plástico Rogério Ribeiro (1930-2008), que dilui a massa do edifício, numa referência ao Pavilhão de Barcelona (1929) de Mies van der Rhoe (1886-1969), constituindo-se como o elemento representativo da arte pública [Figura 27]. “É um pouco essa a leitura que eu pretendo, isto em relação ao edifício. Como se ele fosse quase como um pavilhão. Nós quando olhamos para ele parece um edifício baixo. Depois como se relaciona com um espaço público com uma dimensão generosa, faz-lhe baixar ainda mais a escala. No entanto, quando entramos surpreendemo-nos porque ele tem duplo pé direito. Portanto, essa ambiguidade, digamos, foi intencional também, mas o painel… justifica por si só, associado ao edifício, uma função relacionada com a praça. Porque quem estiver ali sentado, ou na esplanada, tem como pano de fundo uma pintura.” (Dias J. L., 2014)

Figura 27 - Praça da Liberdade e Fórum Romeu Correia. (2014)

O espaço central da Praça da Liberdade com cerca de 5000m2 é caracterizado por uma linguagem minimalista e livre de constrangimentos, com uma superfície lisa em lajetas de granito, convidativa à circulação pedonal e às actividades rolantes como o skate ou patinagem, animadas pelo elemento água contido num plano composto por um sistema de repuxos dinâmico [Figura 27]. Articulando a zona de acessos por escadaria a sul, o corpo do restaurante Nagoya proporciona um

desequilíbrio positivo no espaço da praça

estabelecendo ainda uma composição por sobreposição com o espelho de água. Abaixo da praça, tirando partido da morfologia do terreno, desenvolve-se o parque de estacionamento da Bragaparques, em três pisos, com capacidade para 700 lugares, tendo uma entrada a Norte pela Rua Dom Francisco Xavier de Noronha e uma entrada/saída a Nascente pelo piso -2 na Rua Garcia de Horta, comunicando no piso -1, via pedonal, com o Parque Urbano e duas unidades comerciais importantes neste conjunto, o supermercado Pingo Doce e o restaurante Batikanos, respectivamente (Dias J. L., 2014) & (Dias M. G., 2004, pp. 78-79).

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Figura 28 - Implantação da Praça da Liberdade. (Google Earth. 6/23/2007. Obtido em 21 de Fevereiro de 2015)

A tectónica da Praça da Liberdade segue um desenho rigoroso, buscando a qualidade no pormenor construtivo e nos materiais, uma aposta de J.L. Dias, que justifica a durabilidade do espaço quanto ao desgaste natural e por acção da actividade pública (Dias J. L., 2014). No conjunto, a materialidade do espaço cinge-se: ao granito em pavimentos e muros na zona da praça; ao calcário em pavimentos e paredes na zona da arcada do bloco comercial ou nos elementos verticais do conjunto do edificado da praça; à madeira nos elementos de conforto e contacto humano, como os bancos e a pérgula de ensombramento, surgindo excepcionalmente na rampa de acesso ao primeiro piso do bloco comercial; ao metal em elementos estruturais como os pilares da pérgula, a estrutura do equipamento e mobiliário urbano como banco e caixotes de lixo ou guardas de protecção [Apêndice 5]. Do ponto de vista da apropriação e carácter de centralidade da Praça da Liberdade, importa referir que este é um espaço que beneficia das iniciativas promovidas em agenda cultural pelo município, sendo frequente alvo da realização de iniciativas diversas, desde festas, a eventos desportivos, concertos de música, feiras, exposições ou actividades de promoção e divulgação de projectos nas diferentes áreas, entre outros, em constante dinamização da vida na praça.

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LEGENDA 1. Fórum Romeu Correia

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2. Bloco Comercial 3. Edifício Restaurante “Nagoya”

11

4. Praça da Liberdade |Centro|

5 10 15

5. Esplanada “McDonald’s” 6. Espelho de Água 7. Repuxos 8. Pérgula de Sombreamento 9. Zona de Bancos em Madeira

14

4

9

10. Escada e Rampa da Pérgula |Acesso Piso 1| 11. Zona de Acessos Verticais do Bloco Comercial

8

12. Entrada Viaturas Parque Estacionamento

13

13. Entrada Pedonal no Parque Estacionamento

7

14. Lado Norte da Praça |Entrada Principal|

6

12

15. Escada Sudeste

3

16. Escada Sudoeste

16

17. Entrada da Praça para Fórum Romeu Correia

17

1

Figura 29 - Planta da Praça da Liberdade, Almada. (Desenho de Dias J.L., Adaptada, 2015)

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Quanto ao papel da Praça da Liberdade e o seu contributo para o plano de mobilidade da cidade, verifica-se que se constitui como parte do itinerário da maioria dos percursos pedonais que se estabelecem nesta área [Figura 30], com centralidade na rede de transportes na estação/paragem S. João Baptista. Aqui se estabelecem a distribuição Norte e Sul dos principais fluxos entre o Tribunal, o Mercado, o comércio local, as escolas Emídio Navarro e Dom António da Costa, o Teatro Municipal Joaquim Benite e a zona habitacional da Cova da Piedade (Almada C. M., 2011 [Revisão de Agosto 2012], p. 26).

Figura 30 - Mapa dos principais fluxos pedonais do centro de Almada. (Almada, Revisão do PDM de Almada, Estudos de Caracterização do Território Municipal, Caderno 5 - Sistema Urbano, 2011, p. 26)

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Na relação com os diferentes espaços públicos na forma de praças ou largos, por serem os principais elementos urbanos que disputam utilizadores e semelhantes tipos de apropriação, pretende-se fazer aqui uma relação entre estes, identificando as distâncias num raio de acção de aproximadamente 10 minutos em deslocação pedonal. Quanto às escolas, por concentrarem um número considerável de crianças e jovens, geralmente associadas a fluxos pedonais diários, procura-se perceber igualmente a sua relação espacial na malha urbana com referência à Praça da Liberdade [Figura 31]. Espaços Públicos em Praças ou Largos Escolas

Figura 31 - Relação espacial da Praça da Liberdade. (Obtido em 19 de Janeiro de 2015, de OpenStreetMap contributors, http://www.openstreetmap.org/copyright: http://www.openstreetmap.org/. Disponível em ODbL. Adaptado, 2015)

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Capítulo III. Praça da Liberdade: Apropriação e Vida O presente capítulo trata o caso de estudo, sobre o qual se constituiu a análise dos modos de apropriação e vida do espaço público, a Praça da Liberdade. No primeiro momento é feito o enquadramento à escolha do tema e objecto de estudo bem como aos objectivos subjacentes. No segundo é apresentada a metodologia seguida em todo o processo de análise. Num terceiro momento será tratado o trabalho de campo que implica o processo de mapeamento de percursos e actividades, passando à decomposição e interpretação dos dados recolhidos por observação e registo vídeo/fotográfico. Por último será tratado o processo de análise do inquérito cuja decomposição, leitura e interpretação dos dados recolhidos permitirá partir para a caracterização dos modos de apropriação e vida da Praça da Liberdade.

3.1 Enquadramento ao caso de estudo A origem do tema desta dissertação e da escolha do objecto de estudo está directamente relacionada com um trabalho realizado para a unidade curricular de Teorias do Espaço I do segundo semestre do quarto ano do curso, no ano lectivo de 2012-13, que visava a escolha de um objecto arquitectónico do século XX, com vista à realização de uma experiência aberta. O objecto escolhido foi o edifício do Fórum Romeu Correia em Almada, que alberga a biblioteca e auditório municipais, contudo o processo de desenvolvimento do exercício estimulou, para além de um registo fotográfico, a criação de um vídeo (Gonçalves L. , 2013) de aproximação ao complexo cultural do Fórum, composto pelo edifício da biblioteca e auditório, o edifício de serviços e comércio, o parque de estacionamento vertical subterrâneo e pela Praça da Liberdade, que estabelece a relação com todos estes elementos, marcando também a relação com a Praça S. João Baptista e o Parque Urbano Comandante Júlio Ferraz (Parque Urbano J.F.). No contexto deste exercício, a Praça da Liberdade revelou-se um elemento urbano singular, cujas vivências lembravam a importância do espaço público para o pulsar da cidade [Figura 32]. Na fase de definição da linha de investigação a seguir, a par dos estímulos gerados por esta experiência, foi determinante a consulta da bibliografia do estado da arte, de autores como Jane Jacobs, Kevin Lynch ou Jan Ghel, tanto na reflexão como na construção do conhecimento acerca de um tema que facilmente se expande. Formalizada a vontade de perceber como acontece a relação das pessoas com a ordem espacial e funcional da praça, procura-se compreender como se processam os modos de apropriação e vivência intrapraça e inter-praça.

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Figura 32 - Percursos e modos de apropriação do espaço na Praça da Liberdade, 24 de Abril de 2013, entre as 20h00 e as 20h10. Sobreposição de fotografias. Almada. (Autor, 2013).

Após a análise e interpretação dos dados recolhidos serão porventura desmontados constrangimentos e referências dos gestos e pensamentos de carácter arquitectónico, bem como colocados em evidência aspectos e factores de planeamento urbano ou âmbito sociocultural. Nesse sentido algumas questões poderão ter resposta, como tantas outras se poderão levantar. Todavia tendo consciência de que um exemplo ou caso de estudo se confina à sua própria realidade e contexto, fica a importância da discussão do tema. O apelo à reflexão acerca da importância da praça como espaço congregador de pessoas na vida pública na cidade para que futuros projectos possam ter sempre em linha de conta tanto este como outros, marcantes ou não.

3.2 Metodologia e Programação O trabalho de campo relativo ao mapeamento dos modos de apropriação e vivência do espaço na Praça da Liberdade tem por referência o filme The Social Life of Small Urban Spaces (1979) de William White e a obra bibliográfica de Jan Ghel, Life Between Buildings Using Public Space (2011), o que proporcionou uma perspectiva composta da vida no espaço público por forma a melhor estruturar e sintetizar a análise. Configuradas as necessidades, foram escolhidas duas ferramentas de análise: a primeira, por observação directa no local, pelo mapeamento de actividades e vida pública com recurso ao registo gráfico em papel, à fotografia e vídeo, como apoio de memória, minimizando as limitações

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inerentes ao facto de este processo ter sido realizado individualmente, sem recurso a terceiros, caracterizando-se por uma forte componente experimental e descritiva; a segunda, por inquérito, como forma de consubstanciar a estrutura desta dissertação e a conferir um suporte fidedigno daquela que é a experiência das pessoas, enquanto utilizadores da Praça da Liberdade. Definido o método de análise, a programação e calendarização das acções de mapeamento e inquéritos teve em linha de conta o arranque das rotinas da cidade, correspondente ao início do novo ano lectivo. Desse modo, não foi indiferente o facto de a Praça da Liberdade ter uma forte relação de proximidade com os diversos agrupamentos de escolas públicas e privadas, bem como com a rede e eixo principal de transportes da cidade. Assim sendo, o enquadramento natural deste processo apontou o mês de Outubro de 2014 como janela temporal de estudo e análise deste espaço urbano, ao nível da observação e mapeamento das actividades. Enquanto a fase de inquéritos se realizaria durante o mês seguinte em Novembro. Consequentemente a fase de ensaio ficaria apontada para o final do mês de Setembro nos dias 24 e 27, com a realização de três acções de observação e mapeamento de actividades [Apêndice 3.2], procurando-se dias e períodos da semana que tivessem relevância do ponto de vista da frequência de utilização, optando aqui por não fazer registos nocturnos ou em períodos do dia em que a actividade na praça fosse potencialmente menor. Dessa forma a opção escolhida foi a seguinte: um dia de fim-de-semana, o sábado, no período da tarde entre as 16h00 e as 17h00, com quatro registos correspondentes a cada quarto de hora; o outro, foi um dia de semana, a quarta-feira, por dois períodos, o primeiro de manhã, em hora de ponta das 8h00 às 9h00 e o segundo no período do almoço, das 13h00 às 14h00 tendo-se procedido ao registo com igual frequência, a cada quarto de hora. A realização da fase de análise seguiria a estrutura geral da fase de ensaio, mantendo os dias da semana e correspondentes períodos, uma vez que a frequência de utilizadores se verificou ser regular em todos os momentos. Contudo foi necessário proceder à alteração dos tempos e frequências de registo, ou seja: os períodos de tempo em análise passaram de quarenta e cinco minutos, para meia hora, sendo que essa análise passaria a ser feita de modo contínuo em todo esse tempo, deixando cair a fórmula de registo momentânea a cada quarto de hora. Desse modo a programação e calendarização resultante, passou a indicar os seguintes períodos: o primeiro, relativo às primeiras horas do dia cujas actividades da hora de ponta se encontram em alta, seria realizado durante todas as Quartas-feiras entre as 8h30 e as 9h00, nos dias 1, 8, 15, 22 e 29 de Outubro respectivamente; o segundo, correspondente à passagem do meio-dia, ainda em horário de

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almoço, seria também nos mesmos dias de quarta-feira entre as 13h30 e as 14h00; enquanto o terceiro período, durante a tarde de sábado, um dia de fim-de-semana com intuito de captar as actividades em grupo e família, se realizaria entre as 16h30 e as 17h00, nos dias 4, 11, 18, e 25 do mesmo mês. A elaboração do inquérito teve um momento de investigação com enfoque na estruturação e definição de questões por forma a melhor dirigir os objectivos desta análise. Como referência foram consultados dois inquéritos realizados em duas dissertações de mestrado de diferentes áreas: uma de Gonçalo Bento (2014), onde trata a apropriação e vida do espaço público no Jardim da Quinta dos Sete Castelos em Santo Amaro de Oeiras; outra de António Gonçalves (2002) uma dissertação de mestrado para a Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa – editada em livro em que trata – “O recreio e lazer na reabilitação urbana” em Almada Velha. No primeiro, estando enquadrado com o mesmo grupo de investigação, por se considerar essencial, retirou-se parte da estrutura e algumas questões de carácter genérico. Contudo, evitando as questões de resposta aberta, procurou-se nesse campo o exemplo de António Gonçalves (2002), dirigindo as respostas para alíneas de resposta fechada e uma apenas de resposta livre. A própria experiência adquirida nas acções de mapeamento das actividades viria a proporcionar uma maior objectividade no tipo de actividades apontadas no inquérito, porque estas resultavam directamente do conhecimento in loco. Na programação e calendarização da acção de inquérito aos utilizadores da Praça da Liberdade, ficaria determinado que esta se realizaria durante todo o mês de Novembro, ao longo dos dias da semana, com excepção de domingo, por forma a garantir o preenchimento de cinquenta testemunhos, um número que, sem esquecer o tempo útil de realização desta dissertação, se julga razoável para obtenção e análise de uma base de dados demonstrativa dos modos de apropriação e vivência na Praça da Liberdade. O tempo estimado para a realização de cada inquérito foi de cinco minutos, por se considerar essencial captar a atenção das pessoas para algo breve e apelativo, evitando provocar qualquer tipo de transtorno aos utilizadores da praça. Desse modo, sempre que possível os inquéritos foram efectuados em dia da semana e período de tempo correspondente à fase de mapeamento. Contudo, para não criar condicionantes à sua concretização no tempo previsto, terá sido necessário, sem prejudicar a credibilidade desta análise, realizar inquéritos em diferentes dias e horários da semana. Todavia, regista-se a importância de corroborar pela via do inquérito, os registos de mapeamento dos modos de apropriação, buscando entre os utilizadores da Praça da Liberdade, testemunhos na primeira pessoa que traduzam a sua experiência, opiniões e sugestões, bem como uma escala de satisfação e qualidade da Praça da Liberdade enquanto espaço público. ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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Por forma a ampliar a informação obtida serão consideradas algumas observações dos utilizadores que, no contexto de preenchimento do inquérito, tiveram necessidade de transmitir. Embora não enquadradas com os campos de preenchimento, essas observações, registadas posteriormente à realização do inquérito, representam um conjunto de ideias e opiniões potencialmente enriquecedoras do conteúdo desta dissertação e análise de caso de estudo, abrindo diferentes perspectivas na abordagem a outros trabalhos enquadrados com esta temática. Quanto à análise de resultados e respectivas conclusões, estes irão suceder às acções de inquérito através do registo textual, de elementos gráficos e fotográficos, ilustrativos dos dados obtidos. Espera-se assim obter uma caracterização ou padrão de apropriação dos utilizadores no espaço da Praça da Liberdade, na expectativa de compreender as condições inerentes às diferentes formas de utilização bem como perceber de que forma o espaço arquitectónico configura ou determina a acção do indivíduo.

3.3 Ensaio do Mapeamento de Percursos e Apropriação do Espaço A fase de ensaio, realizada conforme programada, teve por objectivo preparar o trabalho das acções que se seguiriam durante a fase de análise. Contando com condições meteorológicas favoráveis, do ponto de vista prático da realização da observação, procurouse perceber a exequibilidade da planificação prevista tanto nos tempos e correspondentes períodos de observação, como nos métodos de registo do mapeamento de actividades e apropriação. Quanto aos períodos de tempo e frequência dos registos de actividades programados verificou-se que a opção de fazer registos momentâneos, a cada quarto de hora num período de 45 minutos, proporcionava escassos resultados e igualmente complexos de sintetizar pelo excesso de fragmentação dos dados. O simples registo de um percurso realizado por um determinado indivíduo em atravessamento da praça, revelou que seria necessário considerar o tempo necessário para a sua deslocação, que se verificou ser aproximadamente entre 30 a 90 segundos, conforme a distância e capacidade de locomoção. Posteriormente com a sintetização de dados, o resultado gráfico e respectivo conteúdo deixaria em evidência uma fraca leitura do que realmente acontecia nesses períodos. Relativamente ao processo de registo gráfico das actividades observadas em suporte de papel, esta fase foi determinante para perceber a diversidade de situações que estavam a decorrer neste período de tempo, o que para efeitos de mapeamento suscitou diferentes possibilidades, tendo sido necessário criar uma simbologia – cores, linhas de fluxo, setas direccionais, numeração para contagem de tráfego pedonal, formas geométricas ou letras do alfabeto para identificação de actividades – que pudesse abarcar um conjunto

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diverso de variáveis e por outro lado permitisse o registo e respectiva legibilidade num suporte de formato A4 com a planta da Praça da Liberdade à escala 1:500. Do ponto de vista da apropriação e vivência do espaço, foi possível perceber que no período da manhã, mesmo em hora de ponta, a praça parecia deserta. No entanto verificaram-se algumas travessias regulares, correspondentes às actividades necessárias do grupo dos três tipos de actividades de ar livre designado por Jan Ghel (2011, p. 9), as que caracterizam aqui aos percursos casa-trabalho, casa-escola ou transportes-trabalho. Todavia não se registaram muitas formas de apropriação em permanência, o que levou a ponderar a realização da análise durante este período do dia. Ainda assim considerou-se importante destacar algumas actividades inesperadas como o passeio matinal de uma ou outra pessoa idosa, o passeio do cão, a deslocação dos jovens e crianças para a escola, muitas vezes acompanhados por amigos ou familiares. Durante o período de início de tarde, além da condição de travessia, do ponto de vista da utilização de permanência, foi possível perceber um conjunto de actividades que completavam o quadro das restantes actividades de ar livre (Gehl, 2011, p. 9), nomeadamente as opcionais e sociais. Sob um sol esplendido e com uma temperatura de 23ºC geraram-se formas de apropriação da praça como: a de um senhor que se sentou para descansar num banco virado para a praça à sombra da pérgula; ou de um grupo de oito jovens que se sentou no chão para conversar à sombra do Fórum Romeu Correia [Figura 33]. Entre outras, estas actividades e formas de apropriação, para além de uma simples condição meteorológica favorável encontraram neste espaço algo de apelativo e confirmariam a importância de fazer a análise de mapeamento durante este período do dia.

Figura 33 - Grupo de jovens sentado e em pé, a conversar à sombra do Fórum Romeu Correia. Praça da Liberdade, Almada. (2015)

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No dia de fim-de-semana, sábado 27 de Setembro, a chegada à Praça da Liberdade fica marcada pelo som do domínio da actividade dos skaters entre o silêncio da cidade – característico dos dias com menos trânsito automóvel – ainda antes de se poder alcançar visualmente o espaço desta. Durante este período, apesar de se terem registado algumas actividades como o passeio ou atravessamento pela praça ou através desta, para além de duas crianças que ainda circularam de bicicleta, foi a actividade do skate que prevaleceu, ocupando toda a área da praça, sendo executadas manobras com recurso tanto de equipamentos alternativos, como de elementos arquitectónicos – muros e degraus – ou mobiliário urbano. Conclusivamente durante os momentos com mais movimento, registou-se ainda a dificuldade de abarcar, a partir de um único ponto de observação, todas as actividades na Praça da Liberdade, tendo ficado claro que seria importante por opção, não incluir na análise as actividades de pessoas que se desenvolvessem paralelamente à praça, bem como a entrada e saída do parque de estacionamento tanto pela via automóvel como pedonal, por passarem facilmente despercebidas no processo de observação e registo. Por outro lado, todas as actividades que se verificaram na esplanada do restaurante McDonald’s por serem de difícil percepção e de alguma forma respeitantes a um espaço semi-privado serão reduzidas a uma percentagem de ocupação indicada nas plantas de mapeamento das actividades e formas de apropriação do espaço.

3.4 Síntese do Mapeamento de Percursos e Apropriação do Espaço A síntese das acções de mapeamento dos percursos e modos de apropriação na Praça da Liberdade traduz a sobreposição de cada uma das plantas diárias de mapeamento registadas no local da observação [Apêndice 2, 2.4 a 2.6], agrupadas pelo respectivo período de análise. Temos assim a síntese dos seguintes períodos: o primeiro com cinco registos em planta, relativo às manhãs de quarta-feira, dia útil, entre as 08h30 e as 09h00; o segundo com cinco registos em planta, correspondente ao mesmo dia do primeiro período, mas ao início de tarde, entre as 13h30 e as 14h00; e o terceiro período com 4 registos, relativos às tardes de sábado, dia de fim-de-semana, entre as 16h30 e as 17h00. No total contabilizam-se 14 plantas diárias de mapeamento que, agrupadas pelos períodos de análise correspondentes, dão origem a três plantas síntese [Apêndice 2.3], que por sua vez e para uma leitura mais clara, cada um dos períodos em síntese se apresenta aqui decomposto por outras duas plantas, onde numa se destacam os percursos [Figuras 36, 39 e 43] e noutra as actividades [Figuras 37, 40 e 44].

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Objectivamente, simplificada a representação de percursos e actividades em planta síntese, poderemos assim, com recurso à legenda da simbologia, convencionada para o efeito [Figura 35], estabelecer uma leitura desses processos de apropriação do espaço a dois níveis: primeiro quanto aos diferentes percursos tomados pelos utilizadores da praça e suas preferências ou necessidades; segundo quanto às formas de apropriação e zona em que estas ocorrem, com maior ou menor concentração de utilizadores, podendo colocar-se em evidência as zonas de constrangimento dos utilizadores da Praça da Liberdade. Quanto às acções de mapeamento, pela forma como foram sintetizadas graficamente nas plantas, poderemos de imediato colocar em evidência as diferentes categorias de actividades de ar livre classificadas por Ghel (2011, pp. 9-11), conforme tem vindo a ser referenciado, destacando-se entre as diferentes exigências no ambiente físico: as actividades necessárias, como ir para a escola ou trabalho; as actividades opcionais, como o lazer, apanhar ar ou passear; e as actividades sociais que se estabelecem por via das duas anteriores na relação entre as pessoas, como caminhar, permanecer em pé e sentar. Desse modo será então possível relacionar a qualidade do espaço com a ocorrência das actividades, sendo que tanto quanto mais forem as opcionais mais actividades sociais se poderão verificar [Figura 34]. Assim, do ponto de vista do registo de percursos, houve especial incidência nas zonas de atravessamento e nas relações interior-exterior, tendo como elementos polarizadores destes movimentos os serviços e comércio sediados nos edifícios que formalizam e delimitam o espaço da Praça. Relativamente aos modos de apropriação e respectivas actividades, focou-se o tipo de actividade, a frequência, a localização das ocorrências e os grupos sociais ou etários, como os skaters, as famílias e os idosos. Importa ainda referir que no decorrer desta fase, as condições meteorológicas foram geralmente de sol e a condição de chuva apenas se verificou, por breves instantes, em duas ocasiões no período matinal, enquanto as temperaturas variaram entre os 20ºC e os 27ºC. Neste contexto verifica-se que as condições foram as mais favoráveis à realização do trabalho, todavia fica determinantemente enquadrado com este tipo de condição meteorológica, ficando por conhecer os processos analisados em condições adversas. Qualidade do Espaço Físico Mau Bom Actividades Necessárias Actividades Opcionais Actividades “Resultantes” (Actividades Sociais) Figura 34 - Gráfico de Representação da Relação de Qualidade dos Espaços de Ar Livre e a Ocorrência de Actividades. (Gehl, 2011, p. 11. Adaptado e traduzido)

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Mapeamento dos Percursos e Modos de Apropriação do Espaço

Figura 35 - Legenda de Apoio e Interpretação do Sistema de Símbolos. (2015)

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3.4.1 Síntese dos Dias Úteis da Semana - Manhã

Figura 36 - Planta síntese de percursos nos dias úteis de manhã. (2015)

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Figura 37 - Planta síntese de actividades nos dias úteis de manhã. (2015)

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Em análise às plantas síntese de mapeamento dos percursos e apropriação do espaço em dias de semana no período da manhã [Figuras 36 e 37], verifica-se que os movimentos de travessia têm maior frequência do que os de relação interna da praça, algo que se torna mais evidente no processo de observação local. Colocados em evidência os percursos de travessia percebe-se que os fluxos principais se distribuem de norte para sul, sentido Praça S. João Baptista - Parque Urbano, com destaque para o percurso paralelo à fachada do Fórum Romeu Correia com movimentações idênticas nos dois sentidos, enquanto outra artéria com origem na zona da rampa e acesso pedonal ao parque de estacionamento se junta a esta, dividindo simultaneamente a frequência de pessoas com o percurso paralelo ao espelho de água em direcção à escadaria paralela à pérgula – que passará a ser designada por escadaria sudeste – que conduz ao Parque Urbano e supermercado Pingo Doce. Caracterizando os utilizadores que estabelecem estes percursos verifica-se neste período do dia que são essencialmente pessoas em rotina de casa-emprego ou casaescola, estabelecendo relação com a rede de transportes pela Praça S. João Baptista e com as escolas em redor. Registam-se no entanto, na utilização dos percursos norte-sul que conduzem para a escada junto do Fórum Romeu Correia em direcção ao Parque Urbano, alguns aspectos interessantes como a frequência regular de pessoas a acompanhar as crianças à escola, tanto pais como avós e de igual modo se registaram passagens de adolescentes sozinhos ou acompanhados por colegas em direcção à escola. Relativamente aos percursos de relação intra-praça, neste período do dia, verificase que são muito ocasionais tendo uma frequência aproximada de duas passagens com excepção do percurso vindo da rampa junto do McDonald’s em direcção ao acesso vertical, por escada ou elevador, do edifício comercial traduzindo essencialmente o acesso de funcionários das lojas, escola de condução e dentista, nomeadamente, bem como alguns utentes destes serviços. Os restantes percursos traduzem os poucos movimentos de apropriação que se registam na praça a esta hora do dia, contudo é interessante que depois do acesso ao edifício comercial pela zona do elevador, se verificaram alguns acessos alternativos a este, pela escada e rampa da pérgula, um elemento arquitectónico que pela sua localização na praça proporciona um campo de visão amplamente considerável sobre boa parte da cidade, a Base Naval do Alfeite e a Serra da Arrábida. Do ponto de vista dos modos de apropriação do espaço e actividades, quem por aqui circula e realiza os percursos de travessia, apresenta uma relativa calma. As pessoas passam frequentemente junto dos repuxos e do espelho de água, talvez porque se configure uma experiência sensorial diferente de qualquer outro lugar da cidade, principalmente a esta

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hora com menos movimento, porque o som da água em repuxo se ouve mais nitidamente. Interpretando o mapeamento de actividades, verifica-se que algumas se encontram inseridas nos percursos de travessia com menor expressão, como passeio do cão [Figura 38], ocupando a zona central da praça, geralmente em direcção ao Parque Urbano para depois voltar pela escada ou acesso contrário. Quanto às actividades de permanência, as poucas que se registaram, para além de duas pessoas que se sentaram a olhar em redor na esplanada vazia do McDonald’s – que estava encerrado – foram essencialmente as que se dirigiram à zona dos bancos, por debaixo da pérgula, onde se limitaram a permanecer de pé, a olhar em redor, ou sentados, a observar a paisagem. Conforme observado, eram geralmente adultos que tomavam esta zona da praça revelando alguma disponibilidade de tempo, tendo sido registado um caso de alguém que simplesmente divagava pela praça.

Figura 38 - Senhora a passear os cães e falar ao telemóvel despreocupadamente. Praça da Liberdade, Almada. (2014)

Talvez o pormenor de apropriação mais interessante, do ponto de vista espacial e relativamente ao posicionamento privilegiado que tem em relação à luz solar nascente, foi o que se verificou num pequeno espaço coberto por detrás do restaurante Nagoya onde dois jovens se sentaram para conversar e contemplar a paisagem, algo que podiam fazer em completo recato. Terá sido por essa razão, pelo posicionamento estratégico deste espaço, que não foi possível obter mais registos neste contexto. De referir que se trata de um espaço que se encontra algo vandalizado por tags nas paredes e pastilhas elásticas no chão que dão uma primeira impressão de sujidade, enquanto a pedra de forra dos muros se encontra lascada em vários pontos, um sinal de desconforto que à partida é desconsiderado pelos jovens, não os impedido de se instalarem neste espaço.

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3.4.2 Síntese dos Dias Úteis da Semana - Início de Tarde

Figura 39 - Planta síntese de percursos nos dias úteis ao início de tarde. (2015)

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Figura 40 - Planta síntese de actividades nos dias úteis ao início de tarde. (2015)

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Em análise ao período do início de tarde [Figuras 21 e 22], quanto aos movimentos de travessia, verifica-se que em comparação com o período da manhã perdem intensidade para os de relação intra-praça. Continuam a verificar-se os principais percursos de travessia, um junto do Fórum Romeu Correia e o outro junto do espelho de água com continuidade pela escada sudeste. Percebe-se que este último, regista tendencialmente um fluxo maior no sentido sul, ou seja, no sentido descendente da escada para o Parque Urbano, enquanto o percurso paralelo ao Fórum continua, também neste período do dia, a manter os fluxos equilibrados quer num, quer noutro sentido. Em desequilíbrio temos a artéria que desvia deste percurso para junto da rampa e entrada pedonal do parque de estacionamento, onde curiosamente se regista um número de passagens superior no sentido sul-norte, apontando uma direcção em diagonal pela Praça S. João Baptista. No geral verifica-se uma maior intensidade nos fluxos de travessia Sul-Norte sugerindo uma afluência ao centro a partir da parte baixa da cidade, passando pelo Parque Urbano e Praça da Liberdade. Quanto aos percursos intra-praça fica em evidência a adesão dos utilizadores de permanência, relativamente aos que estão de passagem, ainda que a razão principal desta afluência se verifique pela necessidade básica das refeições de almoço dominadas pelo restaurante do McDonlad’s. Estabelecem-se assim quatro percursos essenciais que, revelam uma confluência a partir dos pontos mais extremos da Praça relativamente ao McDonald’s sugerindo uma adesão de pessoas a partir das mais variadas direcções. Caracterizando estes utilizadores, verificou-se em observação no local que, são essencialmente jovens adolescentes e crianças, todos com origem nas muitas escolas em redor da Praça da Liberdade. Deslocam-se a pé e geralmente aos pares ou em grupos, conversando pela Praça [Figura 41] e quando passam junto dos repuxos aproveitam para fazer uma brincadeira chegando por vezes a parar neste local. Curiosamente registam-se cerca de três percursos dirigidos ao Fórum Romeu Correia que evidenciam a objectividade de quem aqui vem, não se distraindo em passar noutras zonas da praça. Do ponto de vista dos percursos intra-praça que se estabelecem, para além dos serviços e comércio disponíveis, verifica-se uma adesão a partir de qualquer parte, ou seja, todas as vias de acesso são uma possibilidade em aberto, algo que é traduzido pela aparente aleatoriedade de percursos aparentemente vagos e com pouca objectividade. Sugerindo de alguma forma uma postura despreocupada e livre por parte de quem utiliza este espaço. Enquanto isso, verifica-se um conjunto de percursos que tomando os acessos horizontais e verticais entre o bloco comercial e a zona da pérgula, apresentam relações de apropriação e movimentos pendulares constantes, ficando demonstrada uma forte atracção dos utilizadores que procuram sucessivamente este espaço para estar e socializar completando o quadro de actividades de ar livre de Ghel (2011).

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Figura 41 - Grupo de jovens em conversa a sair do “McDonald’s”, enquanto outros socializam sentados num banco debaixo da pérgula. Praça da Liberdade, Almada. (2014)

Relativamente aos modos de apropriação do espaço e actividades neste período do dia, ficam fortemente caracterizados pela população jovem que toma conta da praça convivendo naturalmente com alguns adultos que, em trabalho ou lazer, estabelecem as suas rotinas semanais com passagem e permanência neste espaço de grande centralidade na cidade. As actividades registadas são muito variadas tendo especial concentração em toda a zona da pérgula, onde os bancos, a sombra e a vista panorâmica que se tem deste lugar parecem cativar a presença das pessoas. Neste espaço os bancos vão tendo alguma rotatividade de utilizadores, seja por jovens, adultos ou idosos. Sublinhando, com base na observação local, é o principal local onde se registam as ocorrências de apropriação por parte dos idosos. Assim sendo, verifica-se que as principais actividades com ocorrência nesta zona são geralmente concretizadas nos bancos, onde as pessoas se sentam isoladamente ou acompanhadas. Por vezes os jovens formam grupos pequenos de três a quatro elementos, aproveitando para olhar em volta, conversar e apreciar a paisagem. À margem destas actividades, verificou-se por duas vezes que uma senhora recorria a este sítio para se sentar a almoçar e aproveitava ainda para descansar e dormir. Mais tarde recusaria responder ao inquérito. Com um carácter mais disperso na praça, mas em locais muito específicos, verificaram-se formas de apropriação, maioritariamente com jovens, que tomavam a opção de permanecer em pé ou sentados nos muros ou degraus de escada para conversarem uns com os outros e ou apreciar a paisagem. Os locais em que essas situações ocorreram com maior regularidade são: a escada da pérgula; a secção de muro mais próxima; o canto do bloco de serviços em suspenso (oposto ao McDonald’s), talvez por proporcionar sombra, uma vista e perspectivas ambíguas do espaço; a escada do núcleo central de acessos verticais do bloco comercial, um espaço confinado ao lance de escada onde alguns jovens em grupo gostam de permanecer, em pé ou sentados nos degraus a conversar e a observar o que se passa na praça; o já referido espaço – no período da manhã – por detrás do restaurante Nagoya, que com a sua vista para o Parque Urbano regista uma frequência regular de jovens em grupo ou aos pares, a conversar ou por vezes onde alguns namorados ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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optam por ficar; outro espaço que é procurado como permanência e socialização é a zona da pala de entrada do Fórum Romeu Correia, que algumas pessoas usam como ponto de encontro. Actividades que vão além da permanência em pé ou sentado, em conversa ou observação, verificam-se neste período do dia situações em que alguém ouve música, fala ao telemóvel, actividades que decorrem normalmente junto edifício comercial à margem da confusão do restaurante ou na passagem entre o Nagoya e o Fórum Romeu Correia ou na zona do triângulo entre a pérgula, o espelho de água e o muro com vista panorâmica Sul. O muro junto da entrada pedonal do parque de estacionamento é também um local que para além de ser procurado por alguns jovens que aproveitam para se sentar e conversar, é tomado pelos skaters, isoladamente ou em grupo, que como se poderá verificar, escolhem este sítio para se instalarem enquanto estão na Praça a praticar skate por toda a parte. Neste contexto, com a esplanada do restaurante McDonald’s a funcionar a 40%, a única na praça, todas as actividades decorrem de modo geral com normalidade, isto é, sem que se perceba qualquer tipo de desconforto ou inibição entre as suas diferentes relações que se estabelecem, havendo uma naturalidade e tranquilidade que parecem resultar de um bem-estar assegurado por quem frequenta a Praça da Liberdade. Mas é importante notar que estes cenários apesar de acontecerem com alguma regularidade têm uma frequência relativamente baixa. Veja-se um momento registado neste período do dia para se perceber a leitura do espaço na praça enquanto uma jovem realiza o seu percurso [Figura 42].

Figura 42 - Imagem de leitura da Praça da Liberdade ao início da tarde, com sol, quando apenas circula uma pessoa na zona central. Almada. (2014)

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3.4.3 Síntese do Dia de Fim-de-Semana

Figura 43 - Planta síntese de percursos no dia de fim-de-semana pela tarde. (2015)

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Figura 44 - Planta síntese de actividades no dia de fim-de-semana pela tarde. (2015)

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Em análise às plantas síntese de fim-de-semana, correspondentes às acções diárias de mapeamento realizadas nos quatro sábados de Outubro de 2014, entre as 16h30 e as 17h00 [Figuras 43 e 44], importa começar por destacar o facto de se terem registado dois eventos organizados, com realização ao ar livre em plena Praça da Liberdade, tendo correspondentemente sido apurado no local que: o primeiro evento, realizado no dia quatro pelo grupo desportivo Beira Mar Atlético Clube de Almada [Figura 45], promovia as actividades desportivas, culturais e sociais na abertura do novo ano 2014-15 desta instituição, uma iniciativa que não deixou claro se estava enquadrada no programa de eventos municipal; e a segunda, realizada no dia vinte e cinco pelo clube desportivo Ginásio Clube do Sul, que promovia as suas actividades desportivas, enquadrado no programa municipal com a designação Almada Mexe Comigo. No contexto do primeiro evento, que contou com uma assistência de aproximadamente 150 pessoas durante todo o período de observação e mapeamento, as movimentações de pessoas eram constantes e diversificadas, havendo chegadas e saídas frequentes pelos diferentes acessos à praça, facto pelo qual se tornou impossível tomar nota dos percursos e fluxos que estavam a ocorrer, verificando-se por isso na planta síntese o apontamento de percursos sem número de fluxo que são apenas os possíveis para traduzir algumas trajectórias principais. Porém, o segundo evento não teve tanta adesão do público e desenrolou-se com muito poucas pessoas a assistir não revelando sequer impacto no mapa de percursos.

Figura 45 - Panorâmica de evento do Beira Mar Atlético Clube na Praça da Liberdade. Almada. (2014)

Enquadrada a análise realizada neste período, verifica-se quanto aos percursos de travessia com maior expressão que a preferência dos utilizadores de fim-de-semana é semelhante à traduzida dos períodos semanais, embora com menor fluxo relativamente ao período de início de tarde, notando-se porventura um desequilíbrio na afluência no sentido Sul-Norte pelo percurso junto do Fórum Romeu Correia a partir do Parque Urbano. Por sua vez surgem novos percursos de travessia, de forma mais livre pela zona central da praça articulados com a passagem pela escada sudeste. Os percursos intra-praça, por revelarem homogeneidade quanto aos fluxos, foram representados sem qualquer expressão na ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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representação de síntese. Assim verifica-se que havendo uma circulação generalizada pela praça, seja de fora pra dentro, como ao invés, também os percursos de relação com os diferentes serviços acontecem sem que se destaquem uns relativamente a outros. Contudo é importante sublinhar que, conforme constatado no local por observação, durante este período, no Fórum Romeu Correia, decorriam actividades agendadas do programa cultural municipal, que terminavam geralmente pouco depois das 17h00, altura em que se verificava a saída desse público directamente para a Praça parando junto dos repuxos para uma conversa breve e brincadeiras antes de abandonarem o local. Entende-se porém que à entrada para os eventos, embora que de forma gradual, os percursos e fluxos apresentem uma expressão consideravelmente diferente do que aqui se apresenta. Importa no entanto com isto sublinhar a importância das actividades culturais na captação de público à Praça da Liberdade, que existindo conseguem efectivamente trazer público. Acerca dos modos de apropriação, a realização de um evento traduz uma experiência diferente, algo que importa ter em conta numa primeira leitura da planta síntese. Assim, verifica-se que o local escolhido para centralizar o espectáculo ou demostração é a zona mais próxima da escada da pérgula, onde todo o equipamento necessário é montado e se instalam os responsáveis da instituição em representação. Com uma assistência de 150 pessoas disposta em ferradura, estava formada uma plateia que disfrutava do sol de tarde enquanto assistiam às demonstrações das diferentes modalidades desportivas. Nesta moldura humana estavam representados os diferentes grupos etários, ficando também registada a imagem de várias famílias com bebés, crianças e jovens, que claramente passeavam e se detinham para assistir às actividades que se desenrolavam [Figura 46], havendo naturalmente pessoas que demonstravam ser familiares de alguns participantes.

Figura 46 - Assistência no evento do Beira Mar Atlético Clube com representação de diversas famílias. Praça da Liberdade. Almada. ( 2014)

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No decorrer de um evento, para além do papel de assistente, o público utilizador quando em família dividia a atenção com as crianças que aproveitam para brincar livremente, a correr ou jogar à bola, de bicicleta, patins ou skate, um pouco por toda a parte. Outras pessoas mais isoladas, dispunham-se em redor e iam-se fixando próximo da pérgula, nos bancos ou no muro Sul (junto da pérgula e escada Sudeste) onde por vezes também se sentavam. Com toda a actividade a desenrolar-se era frequente as famílias ao dispersaremse passarem pela zona dos repuxos, onde se divertiam com as crianças. Sendo não menos interessante o facto de que no decorrer do evento se encontravam dois grupos de skaters com cerca de dez e oito elementos a circular pela praça, tomando essencialmente duas linhas

de

actividade,

uma

longitudinalmente

no

lado

norte

da

praça

e

outra

transversalmente, paralela ao espelho de água, à margem da assistência. Nesse cenário outras pessoas usavam os equipamentos alternativos dos skaters – paletes de madeira – dispostos no centro da praça para se sentarem, sem que isso parecesse constituir alguma perturbação para qualquer uma das posições enquanto utilizadores do espaço [Figura 47].

Figura 47 - Evento do Beira Mar Atlético Clube e a interacção de diferentes modos de apropriação do espaço. Praça da Liberdade. Almada. (2014)

Nos dias em que não se verificaram eventos, a Praça da Liberdade era literalmente, como já foi referido, tomada pelos skaters registando-se a actividade de dois grupos que se instalavam junto do muro da entrada pedonal do estacionamento e no espaço por detrás do restaurante Nagoya com vista para o Parque Urbano. Geralmente compostos por jovens entre os 16 e 24 anos, estes grupos e outros jovens isoladamente, enquanto faziam skate, tinham os seus pertences amontoados no chão ou nos muros, olhavam para o que se passava em redor, conversavam, comiam, divertiam-se fazendo manobras de skate usando muros, degraus até algum mobiliário urbano que se vai apresentando cada vez mais degradado, não havendo quase nenhum sítio que não tenha vestígios de desgaste. Foram observadas situações mais extremadas como circular com o skate em cima do muro Sul, junto da pérgula, e usar bancos de madeira para fazer manobras. Esta actividade

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desenvolve-se assim por toda a praça de forma regular, percebendo-se que alguns jovens marcam presença assídua, o que também traduz uma relação estreita com o lugar, desenvolvendo também iniciativas mais profundas, como registos fotográficos ou filmagens com carácter profissional – talvez para revistas ou publicações online – enquanto realizam manobras, como saltar em comprimento sobre uma rampa pedonal, buscando uma forma diferente de projectar a imagem e a vida na Praça da Liberdade. À parte da actividade dominante dos skaters, a presença de outros jovens não se faz sentir tanto quanto seria de esperar. Aparecem por vezes isoladamente, aos pares, em pequenos grupos, para conversar nos bancos e muros – ou degraus – andar de bicicleta, ir até ao restaurante do McDonald’s ou mesmo para ir ao Fórum Romeu Correia à biblioteca ou auditório [Figura 30]. As famílias com crianças constituem presença regular na praça embora com alguma cadência, fazem a rotina dos repuxos, do espelho de água, trazem bicicleta ou patins para as crianças, jogam à bola no meio da praça ou simplesmente passeiam. Os pais participam nas brincadeiras ou observam, geralmente de pé ou sentados, por vezes na esplanada do MacDonlad’s, contribuindo para os 15% de utilizadores deste espaço, um número reduzido face ao período semanal de início de tarde. Os idosos também aparecem, mas timidamente usam a zona dos bancos para repousar e passar o tempo. Por vezes as suas travessias, pelo meio dos skaters, constituem uma imagem de tensão para quem observava, se bem que na prática nada de mais se tenha registado senão a continuação das actividades. Outros utilizadores se verifica que discretamente se sentam no muro da entrada de viaturas do estacionamento em conversa, encontrando-se com amigos e partindo daqui para outro lugar, bem como aqueles que apenas param para consultar a agenda cultural nos painéis informativos.

Figura 48 - Crianças de bicicleta na Praça da Liberdade. Almada. (2014)

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3.5 Inquéritos A realização da acção de inquérito aos utilizadores da Praça da Liberdade desenrolou-se entre os dias 1 de Novembro e 4 de Dezembro de 2014, de forma presencial no próprio local do caso de estudo, um período de tempo que não obstante da programação prevista excedeu em mais uma semana o tempo determinado para esta fase. O procedimento seguido consistiu na leitura acompanhada das questões junto dos inquiridos e preenchimento das respostas pelo inquiridor, de forma a simplificar e abreviar o processo. Estabelecida uma abordagem inicial de enquadramento ao inquérito proposto e fazendo referência ao teor académico da investigação, as pessoas aderiram de modo geral muito positivamente e de pronto se disponibilizavam para colaborar, evoluindo o seu entusiamo e interesse durante os cerca de cinco minutos que durava o questionário.

3.5.1 Estrutura do Inquérito Apresentando o inquérito realizado indica-se de seguida a sua estrutura com as respectivas questões e correspondente explicação dos objectivos subjacentes a estas: Cabeçalho do Inquérito Indica-se o destinatário do inquérito e o campo de registo da numeração para efeito de ordenação e gestão de dados. No grupo de identificação e caracterização do inquirido solicita-se o nome, idade, sexo, nacionalidade e profissão por forma a obter um enquadramento sociológico. Questão 1. Reside no concelho de Almada? Pretende-se apurar quais os grupos de munícipes que mais utilizam a praça, estabelecendo através da indicação de freguesia de residência uma relação de distância, optando por não seguir a reorganização administrativa das freguesias para uma leitura mais clara do processo. Por outro lado, determinar qual a zona de residência dos não munícipes. Questão 2. Costuma frequentar a Praça da Liberdade? Questão 2.1. Se respondeu “SIM” à pergunta 2, qual a frequência? Questão 2.2. Se respondeu “SIM” à pergunta 2, indique quais as razões que o levam a frequentar a Praça. Questão 2.3. Se respondeu “SIM” à pergunta 2, indique as actividades que costuma praticar na Praça. Procura-se uma caracterização do tipo de apropriação que os utilizadores da Praça da Liberdade estabelecem diariamente, pela sistematização dos padrões de utilização,

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através dos dados de frequência e respectivos motivos, bem como a identificação do tipo de actividades geralmente praticadas aquando da vivência da Praça, sejam estas com carácter de passagem ou permanência. Nesse sentido, torna-se importante sublinhar que as diferentes possibilidades de resposta, tanto as razões como as actividades, resultam da percepção obtida pela análise do mapeamento dos modos de apropriação e vivência, sendo por isso apontadas aquelas que se revelaram ser as mais recorrentes no contexto do trabalho de campo realizado. Contudo, ao nível das razões de frequência será importante configurar a primeira coluna numa vivência do espaço com carácter transitório ou de passagem. Enquanto a segunda, mais relacionada com a frequência da Praça para acesso aos serviços de comércio e cultura, tem antes um carácter polarizador, accionado por diferentes possibilidades de utilização, ainda que sujeitas a um período de tempo determinado pelo horário de funcionamento dos serviços. Dessa forma será possível partir para uma análise sobre a categorização das actividades de ar livre, conforme determina Jan Ghel (2011), em referência no primeiro capítulo desta dissertação, em que surgem nomeadamente: as actividades necessárias, as actividades opcionais e as actividades sociais. Por fim é reservado um campo em aberto para outras possibilidades que os utilizadores possam indicar. Questão 3. Se respondeu “NÃO” à pergunta 2, indique a razão/motivos pelos quais não frequenta a Praça. Pretende-se conhecer as razões e motivos apresentados pelos indivíduos que em primeira experiência ou isoladamente se encontram na Praça da Liberdade, bem como abrir caminho para as questões que se seguem, procurando apurar as suas impressões acerca da breve experiência que possuem do espaço. Questão 4. Identifica-se com a Praça da Liberdade? Buscando nos utilizadores o campo das sensações e ou emoções, sobre a experiência que têm na Praça da Liberdade, breve ou não, em atravessamento ou permanência, pretende-se saber se estão em identificação com este espaço, pedindo que o traduzam em três palavras o que mais gostam, para apurar quais as características mais ou menos valorizadas. Questão 5. Classifique a utilidade e quantidade do mobiliário urbano (bancos, caixotes de lixo, outros) existente na Praça da Liberdade. Procura-se conhecer uma opinião fechada sobre cada um dos pontos em questão, quanto à adequação ou inadequação e suficiência ou insuficiência para apurar, ao nível do

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mobiliário urbano, a sua eficácia para o fim a que se propõe e a satisfação das necessidades do utilizador. Questão 6. Classifique o estado de conservação do espaço da Praça da Liberdade. Pretende-se obter um grau de satisfação quanto ao estado de conservação da praça por forma a apontar uma eventual necessidade de manutenção. Questão 7. No contexto da cidade de Almada, considera que a Praça da Liberdade é um espaço: Frequência de Pessoas; Vivência e Apropriação; e Relevância. Sem esquecer o contexto da cidade, procura-se a opinião dos utilizadores relativamente a este espaço e como o entendem: quanto ao nível da frequência, se é muito ou pouco frequentado; acerca da vivência e apropriação, se é mais de passagem ou permanência; e quanto à relevância, se é importante ou insignificante. No sentido de perceber qual é a noção de ocupação que estes têm do espaço e a sua relevância. Questão 8. Se pudesse alterar/intervir alguma coisa na Praça da Liberdade o que faria? Esta é uma questão de resposta aberta, que pretende dar oportunidade aos utilizadores de expressarem a sua opinião relativamente ao carácter formal e funcional da Praça da Liberdade, podendo apresentar medidas que destaquem aspectos determinantes para a manutenção ou melhoria da qualidade de vida pública neste espaço. Por outro lado permitirá alertar para alguns pontos da apropriação e vivência no espaço da Praça que tenham passado despercebidos à análise e trabalho de campo. Questão 9. Como se sente quando frequenta este espaço (Praça da Liberdade)? Pretende-se saber qual o grau de satisfação e bem-estar dos utilizadores, um dado que estabelece relação directa com a regularidade e frequência do espaço bem como a diversidade de actividades que praticam, podendo assim obter uma escala de qualidade da vivência e apropriação na Praça da Liberdade. Questão 10. Frequenta outros espaços públicos próximos da Praça da Liberdade? Questão 10.1. Se respondeu “SIM” à pergunta 10, quais os espaços públicos que frequenta? Procura-se perceber se os utilizadores têm por hábito experienciar outros espaços públicos, revelando uma disponibilidade para a apropriação e vivência destes. Por outro lado relacionando este ponto com a questão 4, será possível verificar preferências e ou afinidades, para com outros espaços em geral, ou se isso acontece apenas para com a

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Praça da Liberdade. Por oposição poderá revelar-se até, um completo desinteresse pela vivência do espaço público.

3.5.2 Análise dos Inquéritos O inquérito que se apresenta em análise foi realizado para um universo de cinquenta pessoas, cujos resultados foram decompostos e sujeitos a uma tabela de cálculo, por forma a obter um conjunto de resultados e percentagens, que permitam uma leitura e interpretação esclarecidas dos dados obtidos junto dos utilizadores da Praça da Liberdade. Os resultados percentuais que se apresentam são brutos e sem recurso a métodos estatísticos. Em caracterização do universo de utilizadores inquiridos verifica-se uma paridade quanto ao género [Gráfico 1], que se distribui pelos diferentes grupos etários, tendo especial destaque os indivíduos adultos em idade activa com idades entre os 25 e 64 anos que perfazem metade do número de inquiridos. O segundo grupo com maior expressão é o dos adolescentes e jovens com idades entre os 16 e os 25 anos que representam 34% dos inquiridos. Os idosos, pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, são o terceiro grupo, logo depois de uma pequena representação detida pelo grupo das crianças e préadolescentes enquadrados no período dos 0 aos 15 anos [Gráfico 2]. Este último não é no entanto demonstrativo do número de crianças que frequentam a Praça da Liberdade, porque geralmente os inquiridos eram os seus familiares ou acompanhantes mais directos sendo que, aqueles que aqui se inserem, tinham ainda assim 14 anos e estavam acompanhados por amigos do grupo etário acima.

Gráfico 1 - Género dos Inquiridos. (2015)

Gráfico 2 - Grupos Etários dos Inquiridos. (2015)

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A nacionalidade dos inquiridos é maioritariamente portuguesa, verificando-se um segundo grupo que é representado por indivíduos de origem brasileira, seguido da nacionalidade cabo-verdiana. Os inquiridos que detêm duas nacionalidades surgem aqui para enquadrar esta realidade e o carácter sociocultural da população envolvida no contexto da Praça da Liberdade [Gráfico 3]. O caso que se apresenta com nacionalidade germânica resulta de uma abordagem no período de almoço a uma turista que, acompanhada de uma amiga, se encontrava sentada num banco a apanhar sol e apreciar a paisagem panorâmica do Parque Urbano ao Alfeite e Arrábida. Quando questionada relativamente à sua presença na praça, justificou que apenas prolongou a travessia do Tejo Lisboa-Almada, decidindo divagar por Almada dentro até se deparar com a Praça da Liberdade.

Gráfico 3 - Nacionalidade dos Inquiridos. (2015)

Questão 1. Reside no concelho de Almada? No universo dos utilizadores da Praça da Liberdade, que responderam a esta questão, 90% são residentes no concelho de Almada [Gráfico 4]. Correspondendo apenas 12% aos que vêm de outros municípios nomeadamente e por proximidade: Seixal, Lisboa e Amadora. Neste cenário subentende-se que os fluxos e modos de apropriação que decorrem na praça são essencialmente da população residente no município, sendo residual o impacto daqueles que vêm de fora. Quanto à freguesia de residência dos que são munícipes, os dados distribuem-se primeiro pela freguesia de Almada com a maior percentagem, 43%, seguindo-se a Cova da Piedade com 18% e Cacilhas com 14% respectivamente. Estão claramente representadas as freguesias mais próximas, sendo que as mais distantes dividem entre si os restantes 25% de utilizadores da Praça da Liberdade [Gráfico 5].

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Gráfico 4 - Inquiridos Residentes no Município de Almada. (2015)

Gráfico 5 - Munícipes de Almada Inquiridos, Distribuídos pela Freguesia de Residência. (2015)

Questão 2. Costuma frequentar a Praça da Liberdade? Questão 2.1. Se respondeu “SIM” à pergunta 2, qual a frequência? Quanto à frequência na Praça da Liberdade, 92% dos inquiridos revela que o faz, dividindo-se em dois grandes grupos com proporção idêntica de periodicidade diária e semanal, representando 38% e 32% respectivamente, enquanto 16% admitem frequentar a praça ocasionalmente, sobrando apenas 6% dos que o fazem mensalmente [Gráfico 6]. Os 8% de indivíduos que não frequentam, correspondem apesar de tudo a uma primeira ou rara presença, à data do inquérito, onde se inserem quase todos os não residentes no município. Em análise, fica a ideia de que quem frequenta este espaço o faz de forma recorrente, relacionando inevitavelmente este elemento urbano com a sua vida e forma de estar. Não lhe ficando indiferente ao ponto de se poder gerar, muito além de uma simples forma de apropriação, um sentimento de posse ou algo de bairrismo. Questão 2.2. Se respondeu “SIM” à pergunta 2, indique quais as razões que o levam a frequentar a Praça. As principais razões que levam as pessoas a deslocaram-se à Praça da Liberdade, são diversas, o que curiosamente revela a sua importância e carácter quanto aos modos de apropriação e vida [Gráfico 7]. Distribuem-se por cinco pontos essenciais nomeadamente: os estabelecimentos de comércio e serviços; o Fórum Romeu Correia, com a biblioteca e auditório; a proximidade da residência; a necessidade básica de tomar uma refeição; e

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outras opções, apontadas pelos inquiridos, que representam uns consideráveis 12%, correspondentes ao facto de a praça se estabelecer como um local de passagem com centralidade favorável ao convívio, um espaço com condições apelativas à prática do skate. E logo depois, não menos importantes, são o acesso ao Parque Urbano e aos transportes públicos, dividindo entre si 14% das razões de frequência, enquanto a proximidade do local de trabalho e da escola surgem como motivos menos expressivos. Todavia, o parque de estacionamento que surge com apenas 3% não estará bem enquadrado, porque como foi possível observar no local, durante as diferentes acções de análise, muitas vezes quem estaciona no parque utiliza os acessos internos e saídas directas para o exterior da praça evitando a travessia superior pela praça.

Gráfico 6 - Frequência dos Inquiridos na Praça da Liberdade. (2015)

Razões de Frequência Outra

12%

Almoçar/Lanchar/Jantar

14%

Estabelecimentos de Comércio e Serviços Parque de estacionamento

17% 3%

Fórum Romeu Correia

15%

Acesso Parque Urbano Cmdt. Júlio Ferraz

7%

Acesso aos transportes públicos Proximidade do local de trabalho Proximidade da escola Proximidade da residência

7% 5% 5% 14%

Gráfico 7 - Razões que Motivam à Frequência da Praça da Liberdade. (2015)

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Questão 2.3. Se respondeu “SIM” à pergunta 2, indique as actividades que costuma praticar na Praça. Como já foi referido na estrutura do inquérito, as actividades sugeridas nesta questão têm suporte nas acções de observação e mapeamento dos modos de apropriação, para que os inquiridos pudessem responder contextualmente ao que se pretendia apurar. Resulta que a actividade de navegar na internet ou estabelecer acesso Wi-Fi foi isoladamente proposta, para se entender qual o grau de envolvência que esta relação sociotecnológica, passe-se a expressão, tem actualmente no contexto da Praça da Liberdade. Curiosamente não houve nenhum utilizador que tenha indicado a realização deste tipo de actividade, um dado se revela apesar disso interessante para esta análise. Porém, as duas actividades que mais utilizadores dizem praticar são as de caminhar e conversar, características de actividades necessárias, bem como de socialização referidas em Jan Gehl (2011, p. 9). Seguindo-se um grupo de cinco actividades que disputam 4% entre si, nomeadamente: a de sentar nos bancos, muros ou degraus; encontrar pessoas e amigos; estar na esplanada; assistir a eventos, ver e contemplar a paisagem; e passear ou brincar com a família. Um conjunto de actividades que compõe um resultado interessante no quadro das actividades de socialização e traduz a importância da praça na vida urbana [Gráfico 8]. Por fim revelam-se as actividades do skate, patins e bicicleta com 5%, seguidas da diversão nos repuxos, falar ao telemóvel e outras actividades, em que se referiu a consulta da agenda cultural e os estudos (ao ar livre). O passeio do cão revelou-se um resultado pouco expressivo com menos de 1%, talvez por ser uma actividade realizada com maior frequência no período da manhã, altura em que não se apostou muito na abordagem de inquéritos por coincidir com a hora ponta, período que as pessoas revelaram menos disponibilidade.

Actividades Praticadas Outra Falar ao telemóvel Divertir-se na Água/Repuxos Andar de Skate/Patins/Bicicleta Encontrar pessoas/amigos Estar na Esplanada Sentar nos bancos/muros/degraus Navegar Internet/Acesso Wi-Fi Assisitr a Eventos Passear o cão Passear/Brincar com a família Ver/Contemplar Paisagem Conversar Caminhar

2% 2% 2% 5% 11% 11% 12% 0% 10% 0% 8% 9% 14% 15%

Gráfico 8 - Actividades Praticadas pelos Utilizadores da Praça da Liberdade. (2015)

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Questão 3. Se respondeu “NÃO” à pergunta 2, indique a razão/motivos pelos quais não frequenta a Praça. As principais razões para a não frequência da praça correspondem a 8% do universo inquirido que justificou com o facto de não ser residente no município e por isso mesmo se encontrava excepcionalmente na praça durante a ocasião do inquérito. Houve quem tenha apenas referido esta opção por entender que a sua travessia ocasional da praça não constituía qualquer significado que justifica-se uma resposta de frequência. Questão 4. Identifica-se com a Praça da Liberdade? A maioria dos inquiridos diz identificar-se com o espaço, evidenciando a forte relação gerada entre as pessoas e este espaço, bem como a importância de um olhar atento para a qualidade do espaço urbano defendida por Gehl (2011) e Lynch (2007). Enquanto os 6% que abriram um ponto extra ao inquérito sem formar opinião, traduzem em parte os que não frequentam. Relativamente aos expressivos 10% que não se identificam com a praça, importa referir que não se contendo por uma palavra apenas, em desabafo ao inquiridor como que na esperança de ver divulgada a sua opinião junto de quem tem as competências para resolver - expressaram o seu desencanto para com a Praça da Liberdade, quanto a uma perda na qualidade de vida pública que se tem verificado nos últimos anos. Relacionando a sua posição com os problemas de uma premente crise económica que levou ao encerramento de diversos espaços comerciais e, por outro lado, com algumas medidas autárquicas resultantes do plano de acessibilidades e transportes que tem vindo a ser implementado na cidade. Reveladas as preocupações deste grupo, fica porém a ideia de que ainda assim se possa estabelecer um elo de identificação pela via do desencanto, uma forma e interesse por algo, que é neste caso a praça.

Gráfico 9 - Inquiridos que Revelam Identificar-se com a Praça da Liberdade. (2015)

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Numa questão de resposta livre, as palavras que traduzem os gostos e o carácter de identificação das pessoas com a Praça da Liberdade incidem curiosamente em aspectos essenciais a esta análise, são nomeadamente: espaço, paisagem e amplitude. Surgem depois outras opiniões que apontam outros aspectos positivos como o ambiente, os repuxos, a vista, a calma ou sossego, o restaurante “McDonald’s”, o espelho-de-água, os serviços e as condições favoráveis ao convívio. Curiosamente enquadrado com o tema surge a palavra arquitectura, como uma característica importante e com a qual algumas pessoas também se identificam [Gráfico 10]. Quanto ao conjunto de palavras que traduzem a opinião dos 10% de inquiridos que não se identificam com o espaço, ficam em evidência as palavras: desinteressante e arquitectura austera, duas opiniões que revelam por oposição diferentes leituras de um mesmo espaço [Gráfico 11].

Gráfico 10 - Nuvem de Palavras que Traduz a Identificação dos Utilizadores com Praça da Liberdade. (Imagem elaborada pelo autor, 2015. Recurso a aplicação. Obtido em 30 de Janeiro de 2015, de Word It Out: http://worditout.com)

Gráfico 11 - Nuvem de Palavras que Traduz a Não Identificação dos Utilizadores com a Praça da Liberdade. (Imagem elaborada pelo autor, 2015. Recurso a aplicação. Obtido em 31 de Janeiro de 2015, de Word It Out: http://worditout.com)

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Questão 5. Classifique a utilidade e quantidade do mobiliário urbano (bancos, caixotes de lixo, outros) existente na Praça da Liberdade. Verifica-se quanto à utilidade [Gráfico 12] que a maioria dos utilizadores considera o mobiliário urbano e suas características favoravelmente adequados, havendo 14% que não tem a mesma opinião. Relativamente à quantidade [Gráfico 13] a opinião altera substancialmente e dos que dizem ser adequado, estabelecendo uma relação directa entre os dados, 28% consideram apesar de tudo que é insuficiente perfazendo um total de 42%, enquanto 58% consideram suficiente. Quanto a este ponto como se poderá verificar houve opiniões que, em conversa com o inquiridor, as pessoas apontavam a necessidade de mais bancos, com eventual localização perto dos repuxos ou bancos cobertos para a chuva, um pormenor que revela a condição de chuva em alguns dias de acções de inquérito, algo que não aconteceu na fase de observação e mapeamento das formas de apropriação durante o mês de Outubro. Além deste tipo de opinião aparecem duas ideias curiosas: uma que se relaciona com a questão que se segue, quanto ao desgaste e condição de conservação, fazendo referência à introdução de equipamento adequado à prática do skate por forma a mitigar o impacto abrasivo desta actividade em toda a praça e seu equipamento; enquanto outra, numa visão completamente diferenciada, sugere a introdução de um ponto de aluguer de bicicletas.

Gráfico 12 - Utilidade do Mobiliário Urbano. (2015)

Gráfico 13 - Quantidade do Mobiliário Urbano. (2015)

Questão 6. Classifique o estado de conservação do espaço da Praça da Liberdade. Quanto ao estado de conservação [Gráfico 14] com uma apreciação numa escala de cinco, desde mau a muito bom, os utilizadores dividem-se nas opiniões entendendo 44% que é razoável, o que denota o reconhecimento de alguns aspectos de degradação, não sendo contudo impeditivo de uma prática da actividade e vida pública. Os que consideram

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um bom estado de conservação representam 50%, enquanto 4% considera mesmo que é muito bom, ficando a apreciação mais pessimista com um valor residual. Relativamente a este ponto verificaram-se enquadradas com a questão 8 (a seguir apresentada) sugestões de utilizadores que apontam a necessidade de manutenção do espaço, uma opinião curiosamente lançada pela primeira vez por um jovem skater – que usa a praça diariamente, fim-de-semana inclusive – com apenas 16 anos. Além disso registe-se, um dado baseado nas declarações deste jovem enquanto respondia ao inquérito, que enquanto skater tem noção do desgaste provocado por esta actividade no espaço público, no entanto e por isso mesmo tem enquanto praticante o cuidado de já não utilizar o equipamento urbano que ainda se encontra em boas condições de utilização, referindo-se aos bancos de madeira. Enquadrado com esta posição, um outro jovem da mesma idade, encontrava-se com as amigas, sentado num muro alto enquanto comia descontraidamente, durante o período de almoço, quando em resposta ao inquérito revelou também ser skater e estar envolvido com a Associação de Skate de Almada (ASKA), referindo o envolvimento e empenho da ASKA no acompanhamento da autarquia em busca de propostas alternativas para uma prática sustentável e promotora desta actividade na cidade.

Gráfico 14 - Estado de Conservação da Praça da Liberdade em Geral. (2015)

Questão 7. No contexto da cidade de Almada, considera que a Praça da Liberdade é um espaço: Frequência de Pessoas; Vivência e Apropriação; e Relevância. Esta questão teve respostas que sugeriram a abertura de novos campos de resposta, que uma vez registados em fase de inquérito passaram a ser incluídos no tratamento de dados, resultando na análise que se apresenta em gráfico [Gráficos 15, 16 e 17]. Constatou-se alguma incerteza quanto às respostas, em parte por se tratar de questões que se pretendiam fechadas, mas como se verificou podem ser enquadradas e entendidas em diferentes contextos, conforme a lógica adoptada, se da óptica do inquirido enquanto

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utilizador ou do que este percepciona no espaço em que está inserido, a praça. Convivendo com esta ambiguidade foram aceites as respostas conforme os inquiridos entenderam. Em análise verificou-se quanto à frequência [Gráfico 15] que 70% dos inquiridos consideram a Praça da Liberdade um espaço muito frequentado, contrastando com os 28% que têm opinião contrária, enquanto numa resposta muito válida foi apontada uma sazonalidade que justifica uma maior ou menor frequência. Apesar de alguns dos inquiridos fazerem referência a um período em que houve mais pessoas a frequentar a praça, há ainda assim quem tenha uma percepção positiva. Quanto à vivência e apropriação [Gráfico 16], quando a pergunta focava os modos de apropriação em passagem ou permanência na praça, foram consideradas as duas possibilidades por 20% dos inquiridos. Todavia metade dos inquiridos identifica este espaço com as actividades de passagem e travessia, enquanto apenas 24% dos utilizadores consideram as formas de apropriação com carácter de permanência. Do ponto de vista da relevância da Praça da Liberdade para a cidade [Gráfico 17], enquanto elemento urbano que é, cujas características a tornam especial e única, 92% do universo de inquiridos não teve dúvidas em apontar a sua importância. A unanimidade da resposta quanto à questão colocada reforça o carácter determinante que um espaço público com estas características tem para a cidade. Seja residente num determinado município ou país, identifique-se ou não com as qualidades e defeitos, esteja em processo de degradação ou não, muito ou pouco frequentado, o sujeito urbano revela a necessidade de se apropriar e tornar parte do espaço público aqui representado pela Praça.

Gráfico 15 - Opinião dos Inquiridos Quanto à Frequência na Praça da Liberdade. (2015)

Gráfico 16 - Opinião dos Inquiridos Quanto à Vivência na Praça da Liberdade. (2015)

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Gráfico 17 - Opinião dos Inquiridos Quanto à Relevância da Praça da Liberdade na Cidade. (2015)

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Questão 8. Se pudesse alterar/intervir alguma coisa na Praça da Liberdade o que faria? Relativamente à exposição das respostas a esta questão, o quadro que se apresenta [Quadro 1] está desenhado e organizado tendo em conta o número de ocorrências em decrescente. Foram identificadas e isoladas cada uma das propostas ou ideias comuns no conjunto de respostas e indicado o número de ocorrências entre o universo dos inquiridos. Cada uma das propostas e sugestões indicadas revela a opinião e sensibilidade dos inquiridos relativamente ao que está em foco, constituindo-se de maior importância quando se torna uma ferramenta de análise à condição e qualidade do espaço

Propostas e Sugestões de Alteração ou Intervenção na Praça da Liberdade Indicadas pelos Inquiridos

Nº Ocorrências

urbano, por forma a melhor compreender algumas das formas de apropriação.

Nada a apontar

18

Colocaria mais vegetação |Vasos, Flores, Árvores|

6

Dinamizava o comércio

6

Manutenção |Bancos, Nivelar Juntas de Pavimento|

5

Colocaria mais bancos |Cobertos da Chuva, Perto dos Repuxos|

4

Colocaria equipamentos adequados à prática do skate para evitar degradação de equipamentos

3

Promovia mais actividades e iniciativas para atrair pessoas e movimento

3

Tirava paletes que se encontram no meio da praça |Equipamento alternativo para prática do skate|

2

Condicionava a prática do skate para se poder andar mais à vontade na Praça

2

Não sabe

2

Promovia actividades para crianças

1

Promovia a criação de um espaço para as diferentes idades

1

Dinamizava actividades culturais, música, teatro, moda, etc..

1

Faria uma cobertura semiaberta para ligação de espaços e instalava quiosques

1

Instalaria um ponto de aluguer de bicicletas

1

Colocaria máquinas de actividades

1

Melhorava a estética

1

Minimizaria a carga austera da arquitectura

1

Atenuava a excessiva actuação policial com os skaters

1

Tirava o estabelecimento do McDonald's

1

Introduzia lojas específicas e restaurantes de melhor qualidade

1

Promovia ainda a produção local e o consumo ao nível do comércio e seus estabelecimentos

1

Quadro 1 - Propostas e Sugestões de Intervenção na Praça da Liberdade Incluídas nas Respostas de Cada um dos Inquiridos. (2015)

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Em análise verifica-se que na questão que ficou aberta à crítica dos inquiridos quanto a uma possível medida de intervenção no espaço da Praça da Liberdade, dezoito pessoas revelaram que nada têm a apontar, sugerindo um conformismo ou adaptação com a realidade existente, ficando esta resposta em destaque de todas as outras, seguindo-se apenas com seis ocorrências a sugestão de colocar mais vegetação, por forma a atribuir mais cor à Praça e uma sensação de frescura nos dias quentes, a solução passaria por colocar vasos com flores ou árvores. Com igual ocorrência surge a dinamização do comércio, um aspecto que se revelou fundamental na opinião dos inquiridos, estando directamente relacionado com algum descontentamento e desencanto, bem como com a posição de quem considera a praça pouco frequentada. A manutenção apresenta-se em quarta posição, tendo sido feitas referências aos bancos degradados e desnível das juntas de pavimento. A colocação de mais bancos, considerando a protecção para a chuva ou uma localização próxima dos repuxos, traduz quatro ocorrências. Por sua vez, a preocupação com o estado de conservação da praça detém três ocorrências para a sugestão de uma análise à prática abrasiva do skate de modo a criar equipamentos adequados à realização desta actividade. Com igual número de ocorrências surge a proposta de promover iniciativas que consigam captar mais gente para a Praça da Liberdade de modo a aumentar a frequência de utilizadores do espaço público. As três propostas que se seguem obtêm duas ocorrências: a primeira quanto à recolha para vazadouro dos equipamentos alternativos, construídos com paletes de madeira; a segunda relativamente à necessidade de libertar a circulação pedonal de constrangimentos provocados pela apropriação abusiva do skate; enquanto a terceira simplesmente se traduz pelos inquiridos que não sabem ou não formaram opinião quanto a essa possibilidade. Ficando por fim com apenas uma ocorrência doze propostas ou sugestões que variam entre a promoção de actividades no espaço público e a implementação de equipamentos susceptíveis de trazer público à Praça da Liberdade. Quanto à arquitectura apontada pela carga austera e imagem inestética sugerese uma mudança subjectiva. Enquanto sugestões há quem aponte a necessidade de promover a produção e o comércio local, bem como apurar as especificidades dos serviços e produtos comerciais. No contexto das respostas que se apresentam verifica-se uma grande aceitação dos inquiridos face aos elementos constituintes da praça e ao que esta pode proporcionar enquanto espaço público de referência na cidade. Por outro lado, e talvez mais importante, são os sinais que sobressaem quanto a alguns constrangimentos que já se fazem sentir. São nomeadamente a aridez em dias de calor, um factor de desconforto que sugere a colocação de alguns elementos de vegetação; o encerramento de várias lojas, que tem visível impacto em quem circula na praça, suscita igualmente um apelo que se relaciona

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directamente com a actividade pública no espaço, seja por via de uma nova estratégia comercial ou pela relação com uma dinamização mais activa de actividades culturais no espaço público; ao nível da manutenção - dezoito anos após a inauguração da Praça da Liberdade - começam a surgir sinais importantes que revelam essa necessidade, em que as pequenas intervenções passam a ser interrompidas por um plano de acção mais complexo; a actividade do skate que estabelece um polo dinamizador em diferentes acções prementes, envolve questões transversais desde a manutenção à necessidade de equipamentos alternativos apontadas pelos inquiridos ou uma estratégia que permita mitigar os efeitos negativos desta actividade, sem esquecer a importância da praça para este grupo de utilizadores; os bancos e equipamentos, seja em reposição ou inovação, são também alguns dos factores a tomar em conta quanto aos constrangimentos que se vão gerando, ficando a ideia de que uma imagem renovada poderia constituir um papel importante na dinamização do espaço público; e a questão da arquitectura, entendida por uns como austera ou por outros como inestética, enquanto em simultâneo se apontam as suas qualidades, um dilema de longe resolvido, ao qual dificilmente serão encontradas soluções que possam nivelar as opiniões, até porque conforme o estado da arte - apresentado no primeiro capítulo desta dissertação - revela e esta análise tem vindo a corroborar, as percepções dos diferentes sujeitos inseridos num único lugar dificilmente se revelam com igual sentido espacial, podendo inclusivamente alterar-se em função do período do dia em que se estabelece a experiência do lugar. Questão 9. Como se sente quando frequenta este espaço (Praça da Liberdade)? Quanto a esta questão mais de metade dos inquiridos revela sentir bem neste espaço, seguidos de 18 % que considera sentirem-se razoavelmente, enquanto as posições mais extremadas registam 2% naqueles que revelam sentir-se mal e uns apreciáveis 14% que dizem sentir-se muito bem [Gráfico 18]. Em suma percebe-se que existe uma boa relação de apropriação e bem-estar. Questão 10. Frequenta outros espaços públicos próximos da Praça da Liberdade? Relativamente ao facto de frequentarem ou não outros espaços públicos, um indicador que pode sugerir uma necessidade de se estabelecer formas de apropriação e vivência no espaço público, 72% dos inquiridos diz que sim, enquanto os restantes 28% não tem por hábito recorrer a estes espaços. Um dado que aponta a importância dos diferentes espaços públicos no tecido urbano, tenham estes características semelhantes à Praça da Liberdade ou não [Gráfico 19].

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Questão 10.1. Se respondeu “SIM” à pergunta 10, quais os espaços públicos que frequenta? Apresenta-se o seguinte gráfico de espaços públicos que os inquiridos têm por hábito frequentar, revelando as suas preferências ou as escassas alternativas ao dispor dos utilizadores [Gráfico 20]. As palavras indicadas correspondem aos espaços públicos que dispõem de características favoráveis à apropriação e vivência de ar livre, tendo sido colocadas de parte as referências a edifícios e espaços culturais bem como de espaços comerciais com carácter semi-privado. Destacam-se assim as referências ao Parque da Paz situado a cerca de 20 minutos a pé e o Parque Urbano logo ao lado da Praça da Liberdade.

Gráfico 20 - Nuvem de Palavras que Traduz a Frequência de Outros Espaços Públicos de Ar Livre pelos Inquiridos. (Imagem elaborada pelo autor, 2015. Recurso a aplicação. Obtido em 1 de Fevereiro de 2015, de Word It Out: http://worditout.com)

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O factor proximidade ficou em parte descurado, serviu no entanto para focar a atenção dos inquiridos nos espaços em redor, evitando as referências apenas aos que estavam mais distantes e porventura mais utilizados. De modo a enquadrar as preferências gerais dos inquiridos quanto à vida e apropriação do espaço público, seja este ao ar livre ou coberto, semi-privado ou não, apresenta-se o seguinte gráfico de palavras [Gráfico 21] correspondente a este grupo de respostas, em que se incluíram as referências a edifícios, espaços culturais e comerciais inclusive. Verifica-se nesta análise que surge em destaque o Fórum Almada, um espaço comercial que absorve as múltiplas opções de se estabelecerem vivências e formas de apropriação, uma realidade a tomar em consideração.

Gráfico 21 - Nuvem de Palavras que Traduz a Frequência de Outros Espaços Públicos sejam de Ar Livre ou Não, pelos Inquiridos. (Imagem elaborada pelo autor, 2015. Recurso a aplicação. Obtido em 1 de Fevereiro de 2015, de Word It Out: http://worditout.com)

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Conclusão A praça apresenta-se na sua génese como uma forma vazia na cidade, representada na cidade clássica Grega pelo Ágora, um espaço configurado pela concentração de edifícios e equipamentos, que davam suporte às funções cívicas da cidade, o lugar de reunião e desempenho das actividades da vida cívica para onde convergiam os principais acessos. A combinação deste conjunto de elementos urbanos foi determinante na activação da vida pública, passando a constituir-se neste lugar o principal ponto de encontro e afirmação dos cidadãos. Uma mudança de paradigma na estrutura da forma urbana que viria alterar para sempre a noção de espaço público, possivelmente relacionada com um factor sociológico determinado pela instituição da democracia, que passa a reconhecer no indivíduo anónimo o direito de cidadania, em apelo à participação na vida cívica da comunidade onde se insere. Com o desenvolvimento do planeamento urbano e arquitectónico por Hipódamo, o Ágora adquire um estatuto de centralidade na malha urbana perante os outros elementos da cidade, assumindo um valor estético e simbólico. Com os romanos, os princípios do planeamento urbano de prática imperial seguiriam o modelo de Hipódamo, adaptado a um sistema de orientação segundo os pontos cardeais determinado pelo conceito de quadrata, que determinava o centro e a divisão da cidade em quatro partes, estabelecendo uma relação divina, onde seria implantado o Fórum, o equivalente ao Ágora, que passa a agregar para além das funções cívicas, as funções de mercado e religiosas. O processo aglutinador deste período deixaria um forte contributo na evolução do planeamento urbano, lançando as premissas para a constituição da praça como elemento fundamental à organização do espaço público. O processo evolutivo da praça passaria a estar relacionado com pelo menos um dos três principais factores sociológicos afectos ao espaço urbano, nomeadamente: o mercado, o poder e a religião, também estes sensíveis às dinâmicas geradas a partir do espaço público. Algo que no período Medieval seria determinado essencialmente pela função divina estreitamente ligada ao poder, representada na verticalidade da catedral, gerando a partir daí as trocas comerciais enquanto as actividades públicas se disputavam nas ruas intrincadas. Porém verificou-se neste período, principalmente nos momentos de expansão da segunda linha de muralhas, um aspecto interessante e revelador, que se prende com a localização da praça ou terreiro junto de uma das portas da cidade, que se estabelecia como lugar de chegada e transacção interior-exterior. Um espaço que no processo expansionista da cidade e na supressão das barreiras defensivas se assumia como interface das diferentes realidades da forma urbana. Ficando nesta fase, o carácter de centralidade na estrutura urbana, relegado para segundo plano. ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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De regresso ao planeamento urbano, o Renascimento procura em Vitrúvio uma nova interpretação da cidade e, com base nesta ferramenta essencial, volta a implementar a praça como elemento urbano fundamental. Segundo uma nova ordem que buscava na geometria e perspectiva a concepção espacial, a praça adquire um novo enquadramento no espaço urbano, disputando diferentes centralidades na cidade. Facto que confere à praça diferentes suportes, ou seja, os factores sociológicos que lhe estavam inerentes passam também a constituir-se e principalmente por factores de ordem artística, simbólica, de cenário ou paisagística, determinada geralmente pelos órgãos do poder, respondendo às novas lógicas do paradigma da renascença. Um processo que em termos estruturantes e relativamente ao planeamento urbano se estende pelo primeiro momento da modernidade, sendo por fim rompido com o processo da revolução industrial com severas restrições na estrutura urbana, relegando a praça para segundo plano. Todavia importa sublinhar que a disseminação da praça pelo tecido urbano, quando exposta a uma diversidade de usos, determina novas interpretações espaciais em função do tipo de apropriação, sendo por alguns autores categorizada em três tipos distintos de espaços: o espaço de tráfego, espaço residencial e espaço pedonal. Uma análise que antecipa a realidade da cidade modernista. Sendo um espaço público por excelência e aglutinador de diversos acontecimentos, a praça proporciona na sua configuração uma série de usos e modos de apropriação, aos quais estão subjacentes um conjunto de factores e qualidades espaciais que determinam a sua relevância na cidade, traduzida entre outros aspectos – que vão além desta problemática e não foram por isso tidos em conta – pela frequência de utilizadores e formas de apropriação realmente praticadas. Nesse sentido, foi feita uma pesquisa de diversos autores que no século XX abordam diversas questões e diferentes perspectivas do tema em estudo destacando-se aqui alguns dos pontos mais relevantes. A vida urbana é actualmente alvo de um processo de globalização por via da transformação da cidade descontinuada, heterogénea e polinucleada que forma a Metapóle de Ascher (2012). Como resultado, o espaço público encontra-se sujeito a um fenómeno temporal que perturba a construção da imagem do espaço urbano, sendo para isso necessário e fundamental não perder de vista as estratégias de planeamento por forma a garantir a legibilidade da estrutura urbana nos diferentes níveis e a relevância do lugar por via da sua singularidade. A análise profunda de uma vasta gama de variáveis, assente na observação de proximidade da realidade vivida em cada espaço, é determinante para a construção de uma nova visão do projecto, por forma a evitar a abstracção e padronização do lugar, eliminando o carácter identitário. Verifica-se neste ponto a importância de olhar para o tecido urbano como um sistema complexo, perspectivando a criação de uma cidade saudável, cuja vitalidade se traduz na diversidade de usos, que suportados tanto económica ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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como socialmente, devem ser acompanhados de um plano de estímulo da actividade pública para evitar a monotonia e decadência. A estruturação das actividades de ar livre por Jan Ghel (2011) é um dos pontos mais relevantes desta pesquisa, tendo proporcionado uma visão mais esclarecida na abordagem ao caso de estudo, segundo a análise das três categorias de actividades: as necessárias, as opcionais e as de socialização. Uma estrutura que quando verificado o seu pleno desempenho nos modos de apropriação diária num determinado espaço público, poderá apontar um índice positivo de utilização. Uma condição que se verifica geralmente quando estão reunidas as boas condições do espaço ao nível da qualidade, conforto e carácter identitário, isento de interferências ao livre uso. Assim verificou-se a importância da categorização das actividades que devem ser potenciadas pelas descontinuidades no espaço, por elementos urbanos que confiram escala humana e equipamentos atractivos, de modo a evitar as grandes superfícies vazias e insípidas à utilização. Digamos que o espaço público requer um grau de habitabilidade no campo dos estímulos e das emoções, sendo para isso necessário combinar soluções flexíveis que busquem os limites da tolerância. Nesse sentido a inter-relação da forma com a acção no espaço e os circuitos de comportamento na dimensão da adequação, poderão traduzir a qualidade de um local face aos modos de socialização, que por sua vez se poderá constituir como sinónimo de saúde. A escala da praça terá quanto à sua dimensão, na relação de qualidade, um efeito comportamental sobre o utilizador, que quando desenquadrada poderá gerar efeitos ou comportamentos adversos, ou por e simples a sua ausência, definhando este lugar para a cidade. Pensamentos que são transversais em Kevin Lynch, Gordon Cullen e no que respeita à importância da análise real do lugar com Jane Jacobs. O fenómeno da metropolização em Ascher (2012) encontra em Luiz Cunha (2001) uma análise negativa da praça contemporânea que enquanto espaço público se encontra sujeito a um processo de rentabilização, que determina as suas funções face aos níveis de rentabilidade económica. Uma subversão da praça que anula o princípio de espaço livre. Do mesmo modo que a importância da praça como suporte à vida humana em sociedade se encontra em confrontação com os estímulos da metrópole ao individualismo, defendendo-se aqui a importância do espaço público acima de qualquer interesse economicista. A velocidade voraz destes processos não se compadece com a evolução do espaço à escala humana. Este será porventura um ponto a considerar e analisar com outro detalhe. Encontrado esse ponto de equilíbrio talvez se consiga provar a posteriori que os benefícios económicos surgirão potenciados por uma base sólida de vivência do espaço com ganhos em maior amplitude.

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A desintegração do espaço público em função do automóvel caracteriza também o discurso de alguns autores que reconhecem novas exigências no tratamento das acessibilidades e transportes para fazer face a um dilema que é transversal à segunda metade do século XX com maior ou menor intensidade, conforme a evolução dos diferentes processos urbanos. O espaço público fica por isso sujeito a um excesso de mobilidade que poderá suscitar um colapso entre os movimentos públicos e privados. Um alerta que faz despertar a necessidade de novas formas de pensar a cidade e as acessibilidades promovendo um espaço igualitário e aberto às formas de socialização conforme Pedro Brandão (2011). Trata-se assim de abordar a acessibilidade como uma forma de garantia da mobilidade de pessoas e bens, sem confundir com a diminuição física. Considerando todos os indivíduos cuja mobilidade seja total, condicionada temporária ou permanente, a mudança de paradigma poderá passar pela implementação sistemática de equipamento adequado, bem como por uma política de serviços direccionada, uma visão defendida por Ascher (Ascher, 2012). A Praça da Liberdade no contexto da cidade de Almada apresenta-se como um projecto inovador que vem proporcionar uma centralidade que não existia à data da sua inauguração, em 1997, numa cidade antiga que não conhece o urbanismo do renascimento e chega à revolução industrial sob o domínio da ruralidade. O choque cultural e socioeconómico que se verificou na época foi impactante, a par do repentino crescimento demográfico que despoleta uma crise no sector da habitação. Dando então início a um processo de urbanização, na passagem à segunda metade do século XX, que não resiste à especulação imobiliária e se desenvolve por meio de interpretações distorcidas dos planos de pormenor que definiam uma cidade à imagem de Ebenezer Howard (1850-1928), autor de Garden Cities of Tomorrow. Conforme o estudo de mapeamento de percursos e apropriação do espaço, e os resultados do inquérito aos utilizadores da praça, pode dizer-se que a Praça da Liberdade apresenta nos percursos de travessia condições de circulação favoráveis, proporcionando no espelho de água, na imagem arquitectónica de conjunto, e no enquadramento paisagístico sul, os principais factores qualitativos do espaço essenciais às actividades deste tipo de percurso. Na relação intra-praça o Fórum Romeu Correia e o McDonald’s desempenham um papel importante, mobilizando grande parte dos utilizadores durante os dias de semana. Neste contexto, a população jovem tem enorme visibilidade ao nível dos modos de apropriação, principalmente os que se deslocam à zona de restauração, que acabam por tomar um pouco do seu tempo dispersos pelas zonas mais discretas da praça, como a galeria comercial, os bancos da pérgula, as escadas ou muros, evitando a zona central. O grupo etário dos idosos toma preferencialmente posição no Fórum RC onde se ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

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desloca para uma leitura na biblioteca. Os adultos disputam percursos e actividades com os jovens e idosos, apresentando uma frequência regular na travessia e na apropriação, optando na sua maioria para caminhar, conversar, contemplar a paisagem ou frequentar um dos dois edifícios de serviços e equipamentos. Confirma-se porém a realização das três categorias de actividades de ar livre, determinadas por Jan Ghel (2011): as necessárias, as opcionais e de socialização; ficando traduzida a qualidade do espaço face aos diferentes grupos etários. Os processos de socialização mais expressivos e diversificados verificam-se ao fimde-semana, quando as famílias se deslocam à praça para um passeio, onde as crianças aproveitam para andar de bicicleta ou triciclo, jogar à bola, correr e sobretudo divertirem-se no espelho de água ou repuxos, actividades que acabam por de alguma forma gerarem processos de interacção social. Os grupos de skaters representam parte da identidade do lugar tomando presença assídua e dominando por completo toda a praça, fazendo no entanto breves concessões de espaço a outras actividades e utilizadores, revelando-se uma relação de tolerância e até de respeito assinalável, muito embora os mais idosos não se sintam tão confortáveis nesta partilha do espaço. Aproveitando a amplitude da Praça da Liberdade para a realização de eventos e actividades diversas, algumas entidades ou grupos associativos tomam parte nos processos de apropriação e desenvolvem iniciativas de promoção ou divulgação das suas actividades, proporcionando momentos únicos de interacção e socialização. Na maioria das vezes tomam por enquadramento desses eventos o elemento da pérgula e a paisagem cenográfica do Alfeite à Arrábida em plano de fundo. É na ocorrência de eventos que acontecem uma multiplicidade de actividades, por vezes sem aparente relação entre si e onde se estabelecem as possibilidades de apropriação do espaço público da praça em simultâneo. Em resposta a algumas questões subjacentes na estrutura inicial desta dissertação, confirma-se a importância da praça no tecido urbano como elemento essencial à vida pública e aos modos de socialização, algo que poderá ser potenciado por equipamentos ou unidades comerciais e culturais, bem como por uma agenda de iniciativas que promovam a actividade e vida pública. Quanto à expectativa da relação do espaço público com uma apropriação ligada ao mundo digital, segundo o resultado do inquérito, neste contexto não se verifica ainda essa situação. Poderá porventura acontecer, que uma utilização cada vez mais recorrente da plataforma digital ao nível das redes sociais esteja a potenciar as relações sociais no plano virtual a partir do espaço da habitação, uma resposta possível

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para o facto de o espaço público em geral ter cada vez menos pessoas em actividades de socialização. A Praça da Liberdade apresenta-se como um lugar muito frequentado, segundo a opinião de grande parte dos inquiridos e conforme os mais de 90% tem uma relevância determinante na cidade. Todavia verifica-se um dado preocupante, quando apenas um quarto do universo de inquiridos considera a apropriação deste espaço com carácter de permanência, o que de certo modo se pode corroborar pela análise das plantas síntese, se relacionarmos os percursos de travessia com os percursos intra-praça que se estabelecem apenas com o Fórum Romeu Correia e o McDonald’s sem que daí resulte qualquer outra forma de apropriação para além da caminhada. No que se refere aos aspectos qualitativos e quantitativos do espaço e seus equipamentos, pode concluir-se que de um modo geral os diversos utilizadores, seja do ponto de vista na análise por observação directa como pelo resultado dos inquéritos, não revelam condicionalismos de maior fazendo uso e apropriação do espaço de uma forma normal e sem constrangimentos. Verifica-se no entanto que em dias de grande ocupação porventura os bancos disponíveis serão insuficientes, mas mesmo nesse caso os muros da linha mais a sul, junto da pérgula, são prontamente ocupados e desempenham bem a função. Não serão de minimizar no entanto os apontamentos que surgem relativamente ao desgaste que já se verifica nos bancos. Transversalmente, este ponto é absorvido pelo estado de conservação, que apesar de serem visíveis e apontados alguns sinais de desgaste e degradação de alguns elementos da praça, se apresenta bem classificado a nível de inquéritos. Quanto a propostas de intervenção e melhoria do espaço da Praça da Liberdade, segundo os resultados mais expressivos dos inquéritos, verifica-se: a importância de incluir alguma vegetação que minimize a sensação árida de um dia de calor, muito embora seja esse o papel do espelho de água e repuxos, acaba por não ser suficiente na dimensão da praça; a dinamização do comércio, que se relaciona de alguma forma com o drama do comércio local e a desertificação do centro da cidade em função dos grandes centros comerciais, o Fórum Almada neste caso; a manutenção de equipamentos e pavimentos surge em terceiro lugar como uma das medidas que permitirá uma melhoria significativa nas condições do espaço [Apêndice 6], podendo apelar porventura a um novo ciclo de adesão dos cidadãos à vida na praça. Por fim e incisivamente, surgem as questões relacionadas com a actividade do skate e a sua prática, por um lado em defesa, promovendo a introdução de equipamentos de apoio, para mitigar os efeitos abrasivos sobre o mobiliário urbano e os diversos elementos arquitectónicos ao nível do pavimento, como rampas, degraus, muros,

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entre outros; e por outro, no sentido de controlar ou até acabar com esta prática destruidora do espaço, a única que chega até a ser apontada pelos mais idosos como constrangedora à liberdade de movimentos. Em suma, a Praça da Liberdade, do ponto de vista do estudo que aqui se apresenta, é um espaço funcional e de grande centralidade que atrai muitas pessoas, mais que não seja, por uma qualquer força polarizadora, para apenas aqui passarem, elegendo este elemento do tecido urbano como ponto itinerante. Ao nível dos modos de apropriação e vivência do espaço, é possível identificar uma grande variedade de actividades de ar livre que apontam a boa qualidade do espaço e as condições necessárias para que se estabeleçam os processos de socialização. Todavia verifica-se pela quantidade de unidades comerciais encerradas e para aluguer, que a praça já teve melhores dias e funciona actualmente abaixo das suas potencialidades, conforme apontam algumas opiniões obtidas na informalidade de preenchimento do inquérito, corroboradas por João Lucas Dias enquanto técnico da autarquia e autor do projecto. Terá para isso contribuido um conjunto de factores que ultrapassam a própria condição da Praça da Liberdade, que conforme J.L.Dias, nem tão pouco se perspectivavam à data da inauguração. Trata-se concretamente da implantação do metropolitano ligeiro de superfície e da implementação, quase em simultâneo, do plano de acessibilidades, que acabaram por ter efeitos perversos na ocupação do espaço público, traduzindo-se no encerramento compulsivo do comércio local e na desertificação das ruas. Para agravar verifica-se um problema comum em diversas cidades que é a desertificação dos centros, a crise económica vigente e o efeito catalisador dos centros comerciais. Pode assim concluir-se por outro lado que não bastará um bom projecto para que este funcione por si só, sendo para isso determinante as condições criadas em toda a estrutura urbana e socio-económica. As principais limitações deste estudo prendem-se com o nível de rigor do mapeamento de actividades, pela dificuldade de registo a partir de um único ponto, num espaço de grande dimensão e com vários acontecimentos a decorrer em simultâneo. Relativamente ao inquérito, verifica-se que teria sido importante relacionar algumas questões por comparação com o passado recente da Praça da Liberdade, bem como outras que permitissem delinear tendências. Todavia, analisados os resultados fica a ideia de que os pressupostos definidos foram alcançados e os resultados finais não se distanciam muito da realidade. A análise do caso de estudo bem como as suas conclusões não pretendem afirmarse como verdades absolutas, mas antes um contributo para o acompanhamento do processo evolutivo da Praça da Liberdade e se possível ajudar a perceber como funciona o

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espaço e a sua inter-relação com os utilizadores ao nível dos modos de apropriação e vivência, bem como a forma como estes o entendem. Na verdade o conhecimento do espaço é algo muito particular podendo ter em cada utilizador uma percepção diferente, exigindo por isso uma abordagem ampla e isenta de certezas. O interesse pelo estudo da Praça da Liberdade permitiu uma percepção do processo evolutivo do espaço urbano na cidade de Almada, bem como entender a importância do planeamento de longo prazo, para que o tecido urbano, como parte de um processo evolutivo, se possa regenerar e adaptar de forma sustentável. No quadro do espaço público e dos modos de apropriação foi determinante a consciencialização da conjugação de diversos factores para a obtenção de um espaço de socialização. Verificouse também e com alguma satisfação que a qualidade do caso de estudo aqui apresentado permitiu confirmar um conjunto importante de factores identificados no estado da arte. Em balanço, regista-se a satisfação pela escolha do tema que teve em cada momento um novo estímulo. Ficando a vontade de continuar a ampliar a base de conhecimento desta temática e procurar resposta às questões que entretanto surgiram. Espera-se por fim que esta dissertação possa constituir um contributo para o estudo e acompanhamento do processo evolutivo da Praça da Liberdade enquanto espaço público por forma a garantir uma programação contínua de actividades que promovam a activação do espaço, algo que, como se sabe, não dependerá exclusivamente da qualidade do espaço nem da iniciativa do poder local. Fica no entanto a importância da consciencialização para o valor identitário deste lugar singular.

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APÊNDICES

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Apêndice 1 - Entrevista ao arquitecto João Lucas Dias, autor do Projecto da Praça da Liberdade (Caso de Estudo). Entrevista: Luís Gonçalves [LGonçalves] Data e Local: 2014.09.17 das 19h00 às 19h30 na Praça da Liberdade, Almada Entrevistado: Arquitecto João Lucas [JLucas], técnico do município de Almada e autor do projecto da Praça da Liberdade e Fórum Romeu Correia.

JLucas - Tenho feito vários projectos de edifícios públicos, edifícios municipais, mas em qualquer um deles aproveito para olhar sempre a escala urbana. Para que o que o edifício não só gere espaço público, como requalifique espaço público. E assim faz muito mais sentido construirmos determinadas peças arquitectónicas. E esta surgiu precisamente… com esse princípio, que é o município, a administração da câmara pediu para estudar o edifício da biblioteca, que à partida deveria ficar numa zona central da cidade. LGonçalves - A proposta é sua, o local? JLucas - Fiz a proposta à administração, que concordou e pediu para desenvolver então o estudo. E nesse estudo, ainda que não se tivessem reunido condições, nessa data… porque o edifício do Fórum foi inaugurado em 1997, portanto o projecto será de 1995, não havia condições para tratar todo o resto da área. Com isto tudo, consegui essa hipótese de criar ali um espaço público, uma praça com uma dimensão generosa, precisamente porque as cidades precisam todas desse espaço descompressão, de reunião… Achei que aqui era o sítio certo. Mais… podendo depois, construir e configurar esse espaço através de uma peça de equipamento público, que era muito importante, a biblioteca. E houve outros edifícios, que vim a propor, que fossem uma galeria comercial… e reunindo tudo até na proposta de ter o estacionamento por baixo, digamos que reunisse tudo num pacote. LGonçalves - Para si é um projecto único?! JLucas - É um projecto único. Ainda que possam ter linguagens relativamente distintas. LGonçalves - Como é que viu a relação entre, as duas praças? JLucas - Esta praça, a S. João Baptista, não existia como é agora. Tinha um outro desenho, para mim por sinal bem mais interessante do que este. Este surgiu já no… quando se fez o projecto do metro, com este espaço canal… Em que foi tratado todo o espaço público. Nestas áreas, digamos que o estudo alargava zonas como praças, como se isto fosse tudo até aqui… Penso, que ficou pior, mas de qualquer forma mantém a função que a outra praça

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tinha, que é importante como uma forma de descompressão deste grande eixo, da avenida que vai até Cacilhas… que funciona um bocado como antecâmara da outra praça. Digamos que elas se complementam, mas não se anulam uma à outra. Não retira a necessidade de aparecer uma praça como aquela de maior de dimensão. De certa forma possibilita determinados conteúdos… como

seja a questão dos concertos,

digamos… de

acontecimentos que obrigam a ter de repente uma área disponível, muito grande, para suportar centenas de pessoas. Depois cumprir apenas aquela função que é… as crianças ali a brincar, os miúdos a fazer skate. LGonçalves - Foi algo que pensou na altura do projecto? JLucas - Sim, precisamente por isso, porque eu, digamos… vivia este espaço. Vamos ver, as cidades quase todas têm a sua praça de referência. Todas estas cidades mediterrânicas, muito pelo seu clima, pelo seu uso… pedem mesmo, que as cidades tenham espaços onde possa usufruir e ter este tipo de vivência. E Almada não tinha, efectivamente. Digamos, que foi a tal oportunidade… são oportunidades únicas, portanto surgem… O projecto poderia ser diferente, poderia ter concebido a biblioteca ali a meio… Isto é, precisamente porque eu digo que… abordo sempre qualquer projecto, primeiro pela leitura e visão da escala urbana, e só depois é que chego à peça arquitectónica. Por isso digamos, surgiu esta ideia de ter aqui este espaço. LGonçalves - Ao abordar pela escala urbana, sentiu necessidade de ir buscar algo de Lisboa, pela proximidade que tem? JLucas - Não, em termos de desenho não. LGonçalves - Não só o espaço, mas a nível sociocultural?! JLucas - Por exemplo, todas as cidades tradicionais têm este tipo de vivência de espaço urbano. Claro que depois há nuances que têm a ver um pouco com toda a envolvência do próprio espaço da própria praça. Se tiver determinado tipo de comércio terá de ter uma vivência com mais esplanadas... Se fosse outro tipo de edifícios que a configurassem teria outro. Mas, portanto a galeria comercial surgiu também, um bocado para se poder complementar com os tais espaços de restauração, que permitisse o surgimento das esplanadas. Isso também prolonga muito, digamos que a vida da própria praça. Não podemos acreditar que, um espaço destes, mesmo de grande de dimensão, esteja sempre com pessoas e animação. Tem que haver algo que as suporte, daí o papel dos edifícios que a configuram. Agora em termos de desenho, claro que acaba por ser uma praça concebida nesta época, tem que ter um desenho mais contemporâneo.

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LGonçalves - Quais foram as principais condicionantes que sentiu nesta fase inicial do projecto? JLucas - A esse nível não tive… foi apenas conseguir gerir os timings com a administração da câmara. Isto é, a ideia base era esta, com o tal desenho urbano. E foi conseguir, ganhar os eleitos da câmara para ir concretizando esse estudo. E essa concretização passou depois para o concurso público, para o parque de estacionamento. Também, diga-se que era importante para a cidade… poder ter nesta zona uma capacidade de parqueamento considerável. Existindo parque de estacionamento por baixo, muito naturalmente surge a ideia depois do espaço público que será a cobertura do edifício do parque, permitindo que as coisas comecem a encadear por esta via. LGonçalves - Como é que vê esta obra hoje, passados 17 anos? JLucas - À pouco por acaso estava a olhar um pouco com esse sentido crítico. Tem a ver com várias facetas. Uma tem a ver com, para mim é extremamente importante, tem a ver com a qualidade do desenho, da qualidade do pormenor construtivo, do material e isso reflecte-se na durabilidade do próprio edifício, como tanto para a peça arquitectónica como para o espaço público. Depois temos, para lá da questão do desenho, que é fundamental, é evidente que cada vez que projecto, penso num desenho actual, contemporâneo, que se possível faça história, quero eu dizer, que acrescente mais qualquer coisa, que não seja um edifício banal, digo eu. Mas ponho muito em cima de uma premissa importante a questão do pormenor construtivo, da durabilidade dos materiais. Foi um factor importante, a escolha do material, do granito, um material de revestimento do pavimento para poder durar. Estava realmente a olhar para isso, porque passados efectivamente 17 anos, percebe-se que resiste. Claro que ali há muito vandalismo, o uso é agressivo, mas imagino que se fosse outro tipo de material estaria totalmente destruído. Só que isso também tem, esta parte possivelmente tem a ver com a minha formação é lógico, mas com o facto de eu trabalhar em câmaras desde que me formei em 81. Em todo o lado é muito premente, porque nós construímos e depois temos que dar a cara, portanto isto só para o situar, não vejo o meu exercício à cidade apenas pelo lado mais “Pop” que é só a defender o desenho pelo desenho. LGonçalves - E relativamente aos modos de apropriação, há alguma coisa que o tenha surpreendido, era aquilo que esperava? Pela positiva e pela negativa. JLucas - Não houve surpresa digamos, não estou a dizer isto com ar pretensioso. Eu conhecia efectivamente bem a cidade… e apercebi-me que poderia ter este tipo de utilização. Aqui neste espaço sempre houve determinado tipo de espectáculos, que tem a ver com o 25 de Abril, o 24 de Julho que é a festa da cidade, a noite de S. João. Sempre

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aconteceram grandes iniciativas e espectáculos nesta área da cidade, portanto era de esperar que dando condições para um espaço com maior dimensão continua-se a ser utilizado dessa forma. Depois surgiram muito naturalmente iniciativas da câmara de ordem cultural… durante o ano há uma programação já relativamente documentada, as feiras, as exposições, são coisas que vêm sempre dar a justificação para a obra que se fez. Mas era espectável, digamos que eu quando imaginei o espaço, imaginei realmente este tipo de apropriação. LGonçalves - Outro dos aspectos que vou procurar, estando muito referenciado no filme de William White, que se foca na vida urbana, no espaço público e sua apropriação. Serão alguns dos aspectos que irei procurar. Visto o filme e fazendo a relação com esta praça, verifica-se que as situações estão lá e parece que poderão também aqui ser estudadas. JLucas - Falando em termos do uso, efectivamente sentia que se fosse um espaço praticamente neutro, já implicando com o desenho, algo que não cria-se obstáculos, daí este ar mais minimalista. Poderia ser tentada uma peça, mas quando pegamos no projecto e queremos dar muita importância, tudo o que nós temos… começam a surgir outros projectos dentro do projecto. Aqui tentei mesmo, digamos que a ideia mais pura possível. Apenas os elementos que surgem, são elementos que vêm configurar o espaço. Por exemplo que é o caso da pérgula, que precisava de um fecho… que por um lado, ia tirar partido da situação geográfica que é, termos ali um miradouro natural... o estuário do Tejo com a Arrábida, digamos que é um enquadramento muito apetecível e integrado. Não queria que fosse tão roto assim, apenas delimitado por dois edifícios lateralmente e completamente aberto para a zona sul… Queria que se sentisse que era quase como o Partenon… em que temos ali um platô que estamos sobre… parte da cidade, sobre a zona verde que está lá em baixo, com a tal vista para paisagem, mas queria ali uma zona de fecho mas que fosse quase tão etérea como se não existisse. Portanto aqueles pilares metálicos, quase que não têm expressão, mas demarcam ali um fecho. E ao mesmo tempo é uma zona de abrigo, de uma estadia, para sentar nos banquinhos… qualquer velhote pode ficar ali, cria ali um ensombramento… tem essa dupla função, a tal necessidade de criar algum fecho… o tal abrigo, dado que uma grande limitação que eu tinha aqui, era não poder verde, de grande porte, árvores… Era complicado conciliar isso com o parque de estacionamento. Não era impossível, mas era muito muito complicado. Existiu ali apenas criando, uma forma mais artificial, uma pérgula… LGonçalves - Entende que as espectativas foram conseguidas? JLucas - Sim, é natural, porque em qualquer obra somos confrontados com surpresas, às vezes até positivas. Acontece que aqui, a não ser a utilização que eu pensei que pudesse existir, os skates, os patins… daí também por a praça ser completamente lisa.

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LGonçalves - Vi em tempos uma frase escrita numa parede aqui perto que dizia, “Skate não é crime” e de repente aqui é oferecido um espaço. JLucas - Mas é uma actividade agressiva e destruidora, é pena. LGonçalves - Mas quando trazem os equipamentos acaba por ser mais positiva. JLucas - Quando utilizam o mobiliário urbano, como aqueles bancos de madeira... Aí verifica-se uma surpresa negativa, porque eu pensei dar condições ao nível piso. Não pensei, fiquei surpreendido depois com a utilização abusiva. Todos aqueles capeamentos quando sujeitos aos deslizes do Skate foram-se destruindo. LGonçalves - Daí que trazer o equipamento poderá ser um aspecto positivo. JLucas - Sim, sim. Percebo o comentário de há pouco, e realmente, fazendo pequenos flashes sobre o que você teceu, acredito que sim, a praça é muito fotogénica nesse ponto de vista. Porque, por um lado há situações neste projecto… porque já tinha concebido realmente no fórum, aquele painel de azulejos do Rogério Ribeiro, do pintor Rogério Ribeiro. Ele funciona não só… digamos, justifica-se pela leitura que fazemos da peça arquitectónica. É a parede de entrada, onde assenta a laje. Um pouco à imagem do Mies Van Der Rhoe, como se fosse o pavilhão, em que a construção é gerada por planos verticais e horizontais. É um pouco essa a leitura que eu pretendo, isto em relação ao edifício. Como se ele fosse quase como um pavilhão. Nós quando olhamos para ele parece um edifício baixo. Depois como se relaciona com um espaço público com uma dimensão generosa, faz-lhe baixar ainda mais a escala. No entanto, quando entramos surpreendemo-nos porque ele tem duplo pé direito. Portanto, essa ambiguidade, digamos, foi intencional também, mas o painel… justifica por si só, associado ao edifício, uma função relacionada com a praça. Porque quem estiver ali sentado, ou na esplanada, tem como pano de fundo uma pintura. LGonçalves - Dilui também aquela massa… JLucas - Por isso é que eu digo, tem as tais situações fotogénicas. Posso dizer, por que tem esse lado mais construído, e depois tem as tais situações em que… como é receptáculo de vida urbana, em que se pretendia que fosse muito intensa, tem todas essas constatações que podemos fazer, determinados grupos sociais… tem esse lado também interessante. Tentámos aqui associar o que é usado, desde o reformado no banquinho, que passa aqui algumas horas do dia, às famílias que trazem as crianças, a um espaço realmente apetecível, sem grande perigo, com a bicicleta, os patins, etc. Tem esse lado, digamos também interessante, mais sociológico se quisermos. Mas, penso que apetecível analisar por esse ponto de vista. Os tais flashes de imagem que podem surgir.

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LGonçalves - Faria alguma coisa para melhorar a praça? Se calhar já é uma pergunta redundante. JLucas - Sim, mas… tentado para já condicionar a utilização do skate, era determinante. O resto compete para já à câmara, continuar a alimentar com iniciativas interessantes, como actividades culturais que possam continuar a chamar as pessoas e criem o hábito na população, em vir até este espaço. Mas isso geralmente passa pela câmara, pelo departamento de cultura, tentar ter uma programação constante e de qualidade. LGonçalves - Esta é uma zona que se estabelece como que um interface entre a parte alta da cidade e a parte baixa, cria muitos trajectos de transição, algo que faz parte da minha análise. JLucas - Pois, nós estamos a focar-nos mais sobre, digamos o espaço em si, da parte mais alta. Mas é um dado importante porque, o estudo urbano engloba toda a parte, também do espaço ajardinado em baixo. E achei que era importante, na altura não existia, criar uma ligação pedonal, que é aquela que passa na parte de baixo no “Pingo Doce”, onde tem a escadaria. LGonçalves - Penso que esta é uma praça, pelo menos segundo aquilo que vi até agora, que funciona com um caracter de transição, não tanto como espaço de estar, mas como um espaço de encontro e transição, não sei se o entende assim. JLucas - Sim, e esta dimensão que eu estava a dar, para além de criar o tal espaço de estadia, que era aproveitar esta oportunidade para criar uma outra via na cidade. Isso é importante, a tal visão, mais de longe, mais de cima… faltava um percurso que liga-se aquela rua que vem do teatro municipal, para a outra Rua Luís Queiroz e que atravessa para o outro lado. Faltava aquela ligação, que mesmo sendo pedonal é importante. Foi interessante, já referi também numa entrevista, que era perceber a capacidade de regeneração das cidades, é algo muito interessante, e nós arquitectos e urbanistas somos realmente responsáveis por isso. Fizemos a tal operação… e dá um certo prazer, depois ver que a cidade se apropria. É como algo comparativo ao corpo humano, quer dizer, é muito interessante ver depois o sangue a fluir. Foi um pouco o que senti aqui, ao criar aquela ligação, que de repente parecia já… que sempre tinha existido. Foi perfeitamente, logo apropriado pelas pessoas… Foi a parte que me deu mais gozo, digamos, como projectista, perceber que essas premissas de projecto resultaram correctas. Neste momento sobre isso, não tenho realmente dúvidas.

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LGonçalves - Como vê actualmente os resultados desta intervenção de infra-estruturas e acessibilidades nesta área da cidade? Neste momento já será possível tirar algumas conclusões. JLucas - Pronto aí já começa a ser possível fazer outro tipo de abordagem, não tem a ver propriamente com a intervenção aqui mas com todo o projecto que a câmara achou por bem avançar. Há o plano da câmara que tem a ver com as acessibilidades, em que… digamos, definiu determinados conceitos, que com o aparecimento, ou a possibilidade de se criar o corredor do metro, criando um transporte público interessante, de certa forma veio obrigar a repensar a questão da acessibilidade de uma forma global. Veio de certa forma introduzir e mudar muito desta cidade. Também já passaram uns anos, neste momento está a haver alguns recuos por parte da câmara, ou seja, portanto… definiram-se zonas que seriam pedonais, sem a hipótese de haver trânsito automóvel… E neste momento, não só por isto, mas também, originou uma situação que é muito penalizadora para a cidade. Há determinadas áreas da cidade que morreram totalmente. Nós vemos este eixo, e a praça do MFA, toda esta zona… o comércio foi fechando, claro que não tem a ver exclusivamente com a questão do aparecimento do metro e o fecho ao automóvel… tem a ver sobretudo com o aparecimento do centro comercial. Não é só um problema desta cidade, mas infelizmente também das outras. Talvez Almada tenha sido das cidades, a nível do país, cidades em que apareceram a concorrência de grandes centros comerciais… é capaz de ser a cidade onde se sentiu mais este efeito perverso. Também já era espectável, mas o que é facto é que acelerou imenso a decadência de todo o comércio que existia neste eixo. E posso dizer que, quando comecei a pensar neste espaço público, ainda não se pensava, não havia, digamos, a decisão de se avançar com o metro. O certo, quando pensei neste espaço, pensei que pudéssemos estender esta apropriação para o peão, para que pudéssemos alargar para espaços limítrofes, que foi efectivamente o que aconteceu. Acabámos por ter aí zonas só pedonais, ou mistas… Que actualmente, tenho que me render e tenho que dizer não foi a melhor decisão. Daí estar neste momento a câmara a fazer algum recuo, a abrir zonas que já eram utilizadas, por causa de o resultado não ter sido exactamente o que se esperava. De qualquer forma este espaço vive por si, digamos, cria aqui uma ilha. Não temos o automóvel, o que permite uma utilização que de outra forma não se conseguia. Percebemos que o espaço que tenha um contacto permanente do automóvel nunca gera este tipo de utilização e de vivência. De certa forma ele está excêntrico.

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É uma luta constante, os planos devem ser sempre abertos, devem estudar o trânsito. Fazemos leituras das análises do que resultou bem do que é possível alterar, assim o processo fica muito mais dinâmico. LGonçalves - Não tendo mais questões a acrescentar, uma vez que foi muito de encontro aquilo que eu tinha a perguntar… JLucas - Se calhar, concluir só retomando a questão, que é um pouco paralelo a isto, mas que não me canso de transmitir. Que é a questão, pelo facto, por um lado de ser arquitecto municipal e o projecto ser feito no âmbito das minhas funções… Depois vai ter oportunidade de ler aqui no texto no Arquitecto Manuel Graça Dias que ele também valoriza muito isso. Nós temos tendência a desvalorizar muito o trabalho dos municípios, o trabalho técnico e isto pelo menos, penso eu, desejo que sirva como contributo para mostrar o contrário. Isto é, os técnicos de uma autarquia têm a obrigação, não é, por um lado de fazer o melhor em termos profissionais, e de se dedicarem, tirando proveito de uma situação realmente vantajosa. Porque eu se trabalho na câmara tenho os meios de acesso ao poder de decisão, ao contacto com a população e daí interpretar melhor esses sinais, perceber em que sítios é que as pessoas estão expectantes… à espera que aparece-se. Digamos que o técnico de uma câmara tem essa vantagem. Isso era um pouco do que eu gostaria que ficasse claro. LGonçalves - Sim, há muito espaço, não só para os arquitectos do “Star System” mas também para todos os outros. JLucas - Sou praticamente da geração do Graça Dias, sou um pouco mais velho do que Manuel Aires Mateus, portanto, são evidentemente pessoas com quem me relaciono, que conheço e discutimos. Mas há uma diferença enorme… porque eu fiz um percurso sempre ligado às câmaras, portanto tenho esse tipo de visão. E os tais arquitectos artistas, com quem me dou, belissimamente, reconheço o mérito do trabalho deles, mas têm mesmo uma visão… não digo que seja de encontro para as revistas, nada disso, mas uma visão mais parcelada do que deve ser, quanto a mim a intervenção do arquitecto. Portanto, cria sempre um certo atrito neste tipo de discussão. Por isso é que não me canso de reforçar esta questão. Tem a ver com um tema, quando se fala de espaço público. Para mim faz sentido que os técnicos ligados à autarquia terem uma palavra determinante. LGonçalves - Não sei se estarei muito longe do que está a dizer, mas mesmo que não se verifique, numa outra situação, a possibilidade um seu colega fazer um projecto com estas características, que o arquitecto que vem de fora o procure, nesse sentido pelo menos.

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JLucas - Penso que era importante, sim. É um pouco isso, claro que se for encomendado um projecto a um qualquer colega que tenha qualidade, fará sempre um belíssimo trabalho. Mas, mas pode faltar aqui algo.

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Apêndice 2 - Planta Geral de Implantação da Praça da Liberdade

(Almada, Setembro 2014. Adaptado por Autor, 2015)

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Apêndice 3 - Plantas de Apropriação e Vivência do Espaço 3.1 Minuta das Plantas

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3.2 Fase de Análise - Plantas Síntese Síntese de Actividades e Percursos. 08h30-09h00 | Dia Útil - Manhã|

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Síntese de Actividades e Percursos. 13h30-14h00 | Dia Útil - Início da Tarde|

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Síntese de Actividades e Percursos. 16h30-17h00 | Fim-de-Semana - Tarde|

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3.3 Fase de Análise - Plantas Diárias de Dias Úteis |Manhã| Quarta-feira 01.10.2014, 08h30-09h00

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Quarta-feira 08.10.2014, 08h30-09h00

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Quarta-feira 15.10.2014, 08h30-09h00

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Quarta-feira 22.10.2014, 08h30-09h00

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131

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Quarta-feira 29.10.2014, 08h30-09h00

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3.4 Fase de Análise - Plantas Diárias de Dias Úteis |Inicio de Tarde| Quarta-feira 01.10.2014, 13h30-14h00

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Quarta-feira 08.10.2014, 13h30-14h00

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Quarta-feira 15.10.2014, 13h30-14h00

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Quarta-feira 22.10.2014, 13h30-14h00

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Quarta-feira 29.10.2014, 13h30-14h00

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3.5 Fase de Análise - Plantas Diárias de Fim-de-Semana |Tarde| Sábado 04.10.2014, 16h30-17h00

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Sábado 11.10.2014, 16h30-17h00

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Sábado 18.10.2014, 16h30-17h00

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Sábado 25.10.2014, 16h30-17h00

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3.6 Fase de Ensaio Planta A - Quarta-feira 24.09.2014, 08h30 |Dia-Útil - Manhã|

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Planta B - Quarta-feira 24.09.2014, 08h45 |Dia Útil - Manhã|

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Planta C - Quarta-feira 24.09.2014, 09h00 |Dia Útil - Manhã|

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Planta D - Quarta-feira 24.09.2014, 09h15 |Dia Útil - Manhã|

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Planta E - Quarta-feira 24.09.2014, 13h30 |Dia Útil - Início Tarde|

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Planta F - Quarta-feira 24.09.2014, 13h45 |Dia Útil - Início Tarde|

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Planta G - Quarta-feira 24.09.2014, 14h00 |Dia Útil - Início Tarde|

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Planta H - Quarta-feira 24.09.2014, 14h15 |Dia Útil - Início Tarde|

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Planta I - Sábado 27.09.2014, 16h00 |Dia Fim-de-Semana - Tarde|

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Planta J - Sábado 27.09.2014, 16h15 |Dia Fim-de-Semana - Tarde|

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Planta K - Sábado 27.09.2014, 16h30 |Dia Fim-de-Semana - Tarde|

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Planta L - Sábado 27.09.2014, 16h45 |Dia Fim-de-Semana - Tarde|

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Apêndice 4 - Inquérito aos Utilizadores 4.1 Minuta do Inquérito

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4.2 Inquéritos Realizados (4 Exemplos Preenchidos) Inquérito 01

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Inquérito 05

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Inquérito 29

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Inquérito 45

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4.3 Inquéritos - Tratamento de Dados Tabela 1/8 Nacionalidade

Profissão

Q.1. Reside em Almada?

M

Brasileira

Publicitário

Sim

M

Portuguesa

Marítimo

Sim

16 - 24

M

Portuguesa

Militar

Sim

21

16 - 24

F

Portuguesa

Estudante

Sim

5

54

25 - 64

F

Portuguesa

Gaspideira

Sim

6

67

> 65

F

Portuguesa

Aposentada (Prof.EBásico)

Sim

7

46

25 - 64

M

Portuguesa

Desenhador

Sim

8

46

25 - 64

F

Portuguesa

Escriturária

Sim

9

23

16 - 24

F

Portuguesa

Estudante

Não

10

23

16 - 24

F

Portuguesa

Estudante

Sim

11

28

25 -64

M

Portuguesa

Consultor

Sim

12

63

25- 64

M

Portuguesa

Professor

Sim

13

45

25 - 64

M

Portuguesa

Jornalista

Sim

14

20

16 - 24

M

Portuguesa

Estudante

Sim

15

34

25 - 64

M

Portuguesa

Arquivista

Sim

16

16

16 - 24

M

Portuguesa

Estudante

Sim

17

17

16 - 24

M

Portuguesa

Estudante

Sim

18

79

> 65

M

Portuguesa

Aposentado (Proj. C.Civil)

Sim

19

40

25 - 64

F

Portuguesa

Técnica de Radiologia

Sim

20

50

25 - 64

M

Portuguesa

Funcionário Público

Sim

21

31

25 - 64

M

Portuguesa

Funcionário Público

Sim

22

NR

> 65

F

Portuguesa

NR

Sim

23

16

16 - 24

M

Portuguesa

Estudante

Sim

24

16

16 - 24

M

Cabo Verdiana

Estudante

Sim

25

16

16 - 24

M

Portuguesa

Estudante

Sim

26

15

< 15

F

Brasileira

Estudante

Sim

27

14

< 15

F

Portuguesa / Moldava

Estudante

Sim

28

29

25 - 64

F

Germânica

Capacity Planner

Não

29

32

25 - 64

F

Portuguesa

Técnica de Compras

Sim

30

33

25 - 64

F

Portuguesa

Desenhadora

Não

31

75

> 65

M

Portuguesa

Técnico Oficial de Contas

Sim

32

57

25 - 64

F

Brasileira

Médica Dentista

Sim

33

72

> 65

F

Portuguesa

Aposentada

Sim

34

40

25 - 64

M

Portuguesa

Técnico de Desporto

Sim

35

22

16 - 24

M

Portuguesa

Estudante

Sim

36

18

16 - 24

F

Portuguesa / Cabo Verdiana

Estudante

Sim

37

17

16 - 24

F

Brasileira

Estudante

Sim

38

22

16 - 24

F

Portuguesa

Estudante

Sim

39

26

25 - 64

F

Cabo Verdiana

Empregada de Limpeza

Não

40

46

25 - 64

F

Portuguesa

Educadora de Infância

Não

41

37

25 - 64

M

Portuguesa

Designer

Sim

42

57

25 - 64

F

Portuguesa

Contabilista

Sim

43

24

16 - 24

M

Portuguesa

Estudante/Téc. Informática

Sim

44

18

16 - 24

F

Cabo Verdiana

Estudante

Sim

45

22

16 - 24

M

Portuguesa

Estudante

Sim

46

25

25 - 64

M

Portuguesa

Estudante

Não

47

27

25 - 64

F

Brasileira

Empregada de Limpeza

Sim

48

41

25 - 64

F

Portuguesa

Secretária

Sim

49

34

25 - 64

F

Portuguesa

Empresária

Sim

50

35

25 - 64

M

Portuguesa

Empresário/Instr.Fitness

Sim

INQUÉRITO

Idade

Faixa Etária

Sexo

1

52

25 - 64

2

71

> 65

3

21

4

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Tabela 2/8

INQUÉRITO

Q.1 Freguesia?

Q.1 Negativo, zona?

Q.2 Costuma Frequentar a Praça da Liberdade?

Q.2.1 Qual a Frequência?

1

Almada

N/A

Sim

Semanal

2

Feijó

N/A

Sim

Semanal

3

Laranjeiro

N/A

Sim

Semanal

4

Cova da Piedade

N/A

Não

N/A

5

Cova da Piedade

N/A

Sim

Diária

6

Almada

N/A

Sim

Semanal

7

Charneca da Caparica

N/A

Sim

Ocasional

8

Cacilhas

N/A

Sim

Diária

9

N/A

Lisboa

Sim

Semanal

10

Costa da Caparica

N/A

Sim

Semanal

11

Almada

N/A

Sim

Diária

12

Almada

N/A

Sim

Semanal

13

Cova da Piedade

N/A

Sim

Semanal

14

Caparica

N/A

Não

N/A

15

Almada

N/A

Sim

Diária

16

Almada

N/A

Sim

Diária

17

Cacilhas

N/A

Sim

Diária

18

Almada

N/A

Sim

Semanal

19

Cova da Piedade

N/A

Sim

Semanal

20

Cova da Piedade

N/A

Sim

Diária

21

Feijó

N/A

Sim

Semanal

22

Almada

N/A

Sim

Semanal

23

Costa da Caparica

N/A

Sim

Ocasional

24

Cacilhas

N/A

Sim

Ocasional

25

Almada

N/A

Sim

Diária

26

Almada

N/A

Sim

Diária

27

Almada

N/A

Sim

Diária

28

N/A

Alemanha, Berlim

Não

N/A

29

Almada

N/A

Sim

Diária

30

N/A

Amadora

Sim

Ocasional

31

Almada

N/A

Sim

Diária

32

Almada

N/A

Sim

Ocasional

33

Almada

N/A

Sim

Ocasional

34

Charneca da Caparica

N/A

Sim

Mensal

35

Almada

N/A

Sim

Diária

36

Cova da Piedade

N/A

Sim

Semanal

37

Cacilhas

N/A

Sim

Semanal

38

Cova da Piedade

N/A

Sim

Ocasional

39

N/A

Seixal

Sim

Diária

40

N/A

Seixal

Sim

Diária

41

Almada

N/A

Sim

Semanal

42

Almada

N/A

Sim

Diária

43

Laranjeiro

N/A

N/A

Diária

44

Almada

N/A

Sim

Diária

45

Trafaria

N/A

Sim

Diária

46

N/A

Lisboa

Não

N/A

47

Cova da Piedade

N/A

Sim

Semanal

48

Charneca da Caparica

N/A

Sim

Ocasional

49

Cacilhas

N/A

Sim

Mensal

50

Cacilhas

N/A

Sim

Mensal

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

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x

Local de Passagem x

N/A

5

x

6

x

x

7

Local de Passagem e Cinema

x

Local de Passagem

8

x

9

x

10

x

11

x

12

x

Biblioteca x

x

x

Biblioteca x

x

13 14

Q.2.2.9.

x

3

Q.2.2.10. OUTRA. QUAL?

Local de Passagem

2 4

Q.2.2.8.

x

Q.2.2.7.

x

Q.2.2.6.

Q.2.3.5.

Q.2.2.3.

Q.2.2.2.

x

Q.2.3.4.

1

Q.2.2.1.

NQUÉRITO

Q.2.2 RAZÕES?

Tabela 3/8

x

Prática do Skate

N/A

15

x

16

x

x

x

17

x

x

18

x

x

x x x x

x

x

x

19

Espaço para prática do Skate

x

20

x

21 22

x

x

x

x

x

23

x

x

x

x

Centralidade

x x

x

x

x

24

x

x

25

x

x

Convívio

26

x

x

x

Convívio

27

x

x

x

Convívio

x

x

28

N/A

29

x

x

30

x

x

31

x

32

x

x

x

x

x

x

x Passear

33

x

34

x x

Cinema e Skate (Filho)

35

x

x

36

x

x

x

x

37

x

x

x

x

x

x

x

x

x

38 39

x

40

x

x

x

x

x

41

x

x

x

x

42

x

x

x

x

x

x

x

x

43

x

44

x

45 46

Biblioteca

x

x

x

x

x

x

x

Centro Comercial M. Bica

N/A

47

x

48

x

x x

49

x

x

x

Prática do Skate e Patins

50

x

x

x

Prática do Skate e Patins

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

162

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Luís Gonçalves

Q.2.3.12.

x x

x

x x x

x

x

x

Q.2.3.13.

Q.2.3.11.

x x

Q.2.3.10.

x x x x x x x x

Q.2.3.9.

x x

Q.2.3.8.

Q.2.3.4.

x

Q.2.3.7.

Q.2.3.3.

x

Q.2.3.6.

Q.2.3.2.

x x x

Q.2.3.5.

Q.2.3.1.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50

Q.2.3.

INQUÉRITO

ACTIVIDADES

Tabela 4/8 Q.2.3.14. OUTRA. QUAL?

x

N/A

x x

x x

x

x Consultar cartaz cultural

x x x x

x x

x

x x x

x

x

x

Estudar Estudar x x

x x

x

x x x

x x

N/A

x x x x

x x x

x x

x

x

x x

x x x x

x x x

x x x

x x x

x x x

x x

x

x

x

x x x

x x x x

x x x x x x

x x x

x

N/A

x x

x

x

x

x x

x x x x

x x x x x

x x

x x x x x x x x

x

x

x

x

x

x x x

x

x

x

x x x

x

x

x

x x

x x x x

x x

x x x

x x x x

x x

x x

x x x

x x

x x

x x

x x

x x

x Atravessar a Praça

x x

x x

x

x

N/A

x x x

x

x x x

x

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

x x x

x x x

163

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Luís Gonçalves

Tabela 5/8

INQUÉRITO

Q.3 Razões porque não frequenta?

Q.4 Identifica-se com a Praça?

Q.4 Positivo Primeira

Q.4 Positivo Segunda

Q.4 Positivo Terceira

1

N/A

Sim

2

N/A

Sim

Espaço

Eventos

Comércio

Espaço

Convívio

3

N/A

4

Estuda Fora

Sim

Calmo

Localização

Sim

Espaço

5 6

N/A

Sim

Calmo

Asseio

N/A

Não

N/A

N/A

7

N/A

Sim

Amplitude

8

N/A

Sim

Espelho Água

9

N/A

Sim

Repuxos

Calmo

10

N/A

Sim

Bem Frequentada

Repuxos

Calmo

11

N/A

Sim

Amplitude

Restauração

Comércio

12

N/A

Sim

Paisagem

13

N/A

Sim

Amplitude

14

Dist. Residência

Sim

Arquitectura

15

N/A

Sim

Paisagem

Vista

Repuxos

16

N/A

Sim

Espaço

Dimensão

Pavimento

17

N/A

Sim

Espaço

Dimensão

Pavimento

18

N/A

Sim

Vista

Paisagem

(Rio e Jardim)

19

N/A

Sim

Esplanadas

Espaço

20

N/A

Sim

Emblemática

Carisma

21

N/A

Não

N/A

N/A

N/A

22

N/A

Sim

Amplitude

Paisagem

Vista

23

N/A

Não

N/A

N/A

N/A

24

N/A

Sim

Mcdonald's

25

N/A

Sim

Convívio

Ambiente

Mcdonald's

26

N/A

Sim

Ambiente

Mcdonald's

27

N/A

Sim

Ambiente

Mcdonald's

28

Turista

Sim

Vista

Paisagem

Sol

29

N/A

Sim

Amplitude

Espaço

Luz

30

N/A

Sim

Repuxos

Amplitude

Paisagem

31

N/A

Não

N/A

N/A

N/A

32

N/A

Sim

Paisagem

33

Cruzar a Praça

Sim

Liberdade

Espaço

Espelho Água

34

N/A

Sim

Espaço

Paisagem

Perspectiva

35

N/A

Não Formou Opinião

N/A

N/A

N/A

36

N/A

Sim

Serviços

Convívio

Ambiente

37

N/A

Sim

Paisagem

Ambiente

Serviços

38

N/A

Sim

Amplitude

Espaço

39

N/A

Sim

Sossego

Asseio

Paisagem

40

N/A

Sim

Paisagem

41

N/A

Sim

Espaço

Paisagem

Local

42

N/A

Sim

Espaço

43

N/A

Não Formou Opinião

N/A

N/A

N/A

44

N/A

Sim

Movimento Serviços

Repuxos

N/A

Espaço

Arquitectura

Central

45

N/A

Sim

Movimento

Espaço

46

Não Residente

Não Formou Opinião

N/A

N/A

N/A

47

N/A

Sim

Espaço

Amplitude

Espelho de Água

48

N/A

Não

N/A

N/A

N/A

49

N/A

Sim

Espaço

Amplitude

50

N/A

Sim

Amplitude

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164

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

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Tabela 6/8

INQUÉRITO

Q.5 C.Mob.Urbano Utilidade

Q.5 C.Mob.Urbano Quantidade

Q.6 Classifique o estado de conservação

Q.7.1 Considera: Frequência

1

Adequado

Insuficiente

Bom

Muito Frequentado

2

Adequado

Insuficiente

Razoável

Pouco Frequentado

3

Adequado

Insuficiente

Bom

Pouco Frequentado

4

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

5

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

6

Inadequado

Insuficiente

Razoável

Pouco Frequentado

7

Adequado

Insuficiente

Bom

Muito Frequentado

8

Adequado

Suficiente

Razoável

Pouco Frequentado

9

Adequado

Suficiente

Bom

Pouco Frequentado

10

Adequado

Suficiente

Bom

Pouco Frequentado

11

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

12

Adequado

Suficiente

Razoável

Pouco Frequentado

13

Adequado

Insuficiente

Razoável

Muito Frequentado

14

Adequado

Suficiente

Razoável

Muito Frequentado

15

Adequado

Suficiente

Razoável

Muito Frequentado

16

Adequado

Suficiente

Razoável

Muito Frequentado

17

Adequado

Suficiente

Razoável

Muito Frequentado

18

Adequado

Suficiente

Razoável

Muito Frequentado

19

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

20

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

21

Inadequado

Insuficiente

Razoável

Muito Frequentado

22

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

23

Adequado

Insuficiente

Bom

Muito Frequentado

24

Inadequado

Insuficiente

Razoável

Muito Frequentado

25

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

26

Adequado

Insuficiente

Razoável

Muito Frequentado

27

Adequado

Insuficiente

Razoável

Muito Frequentado

28

Adequado

Suficiente

Razoável

Pouco Frequentado Muito Frequentado

29

Adequado

Suficiente

Bom

30

Inadequado

Insuficiente

Razoável

Muito Frequentado

31

Inadequado

Insuficiente

Bom

Pouco Frequentado

32

Adequado

Suficiente

Bom

Pouco Frequentado

33

Adequado

Suficiente

Razoável

Muito Frequentado

34

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

35

Adequado

Insuficiente

Razoável

Muito Frequentado

36

Adequado

Insuficiente

Bom

Muito Frequentado

37

Adequado

Insuficiente

Bom

Muito Frequentado

38

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

39

Adequado

Suficiente

Muito Bom

Muito Frequentado

40

Adequado

Insuficiente

Razoável

Muito Frequentado

41

Adequado

Insuficiente

Razoável

Pouco Frequentado

42

Adequado

Insuficiente

Razoável

Ambos (Sazonal)

43

Adequado

Suficiente

Bom

Pouco Frequentado

44

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

45

Adequado

Suficiente

Muito Bom

Muito Frequentado

46

Adequado

Suficiente

Bom

Pouco Frequentado

47

Inadequado

Insuficiente

Bom

Muito Frequentado

48

Inadequado

Insuficiente

Mau

Pouco Frequentado

49

Adequado

Suficiente

Bom

Muito Frequentado

50

Adequado

Suficiente

Razoável

Muito Frequentado

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165

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Luís Gonçalves

Tabela 7/8

INQUÉRITO

Q.7.2 Considera: Vivência e Apropriação

Q.7.3 Considera: Relevância

Q.8 Se pudesse alterar/intervir na Praça da Liberdade o que faria?

1

Ambos

Importante

Faria cobertura semi-aberta p/ ligação de espaços e instalava quiosques

2

Ambos

Importante

Nada a apontar

3

Passagem

Importante

Colocava mais bancos e perto dos repuxos

4

Passagem

Importante

Nada a apontar

5

Permanência

Importante

Nada a apontar

6

Passagem

Importante

Dinamizava o comércio, actividades p/ crianças, melhorava estética, iniciativas p/ atrair pessoas

7

Ambos

Importante

Nada a apontar

8

Passagem

Importante

Colocava mais vegetação

9

Passagem

Importante

Tirava paletes (do skate) que se encontram no meio da praça

10

Passagem

Importante

Tirava paletes (do skate) do meio da praça e colocava mais vegetação (flores, árvores)

11

Passagem

Importante

Dinamizava o comércio

12

Passagem

Importante

Dinamizava o comércio

13

Permanência

Importante

Atenuar excessiva actuação policial com os skaters

14

Passagem

Insignificante

Nada a apontar

15

Passagem

Importante

Colocava mais vegetação (verde, árvores)

16

Ambos

Importante

Manutenção

17

Ambos

Importante

Nada a apontar

18

Permanência

Insignificante

Dinamizava actividades culturais, música, teatro, moda, etc..

19

Passagem

Importante

Nada a apontar

20

Passagem

Importante

Nada a apontar

21

Passagem

Importante

Nada a apontar

22

Permanência

Importante

Não sabe

23

Passagem

Não Sabe

Nada a apontar

24

Passagem

Não Sabe

Nada a apontar

25

Permanência

Importante

Manutenção, colocaria equipamento p/ Skate p/ evitar desgaste/destruição mobiliário urbano

26

Permanência

Importante

Colocaria mais bancos sob protecção da chuva, adicionaria mais bancos à praça.

27

Permanência

Importante

Colocaria mais bancos

28

Permanência

Importante

Colocaria mais vegetação (Vasos, flores)

29

Permanência

Importante

Condicionava a prática do skate para se poder andar mais à vontade na Praça

30

Ambos

Importante

Manutenção, confinava prática do skate a um espaço e promovia espaço p/ diferentes idades

31

Não Considera

Importante

Dinamizava o comércio e actividades que trouxessem alegria e movimento, promovendo região

32

Passagem

Importante

Colocaria mais vegetação (Vasos)

33

Passagem

Importante

Não sabe

34

Ambos

Importante

Tirava o estabelecimento do McDonald's

35

Passagem

Importante

Nada a apontar

36

Passagem

Importante

Nada a apontar

37

Passagem

Importante

Colocaria mais bancos e Dinamizava o comércio para abrir as lojas vazias

38

Passagem

Importante

Nada a apontar

39

Permanência

Importante

Nada a apontar

40

Passagem

Importante

Mais infra-estruturas p/ skate p/ evitar a degradação do mobiliário urbano (bancos muros...)

41

Ambos

Importante

Mais bancos, sombras e máquinas de actividades. Minimizaria a carga austera da arquitectura

42

Ambos

Importante

Colocaria mais vegetação

43

Passagem

Importante

Nada a apontar

44

Ambas

Importante

Nada a apontar

45

Permanência

Importante

Nada a apontar

46

Não Sabe

Importante

Instalaria um ponto de aluguer de bicicletas

47

Permanência

Importante

Colocaria equipamentos adequados à prática do skate p/ evitar degradação de equipamentos

48

Passagem

Importante

Dinamizava comércio e actividades, introduzindo lojas especificas e restaurantes

49

Passagem

Importante

Tratava as juntas do pavimento para o tornar mais liso e melhor para a prática do skate e patins.

50

Passagem

Importante

Faria manutenção para nivelar o pavimento

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166

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Luís Gonçalves

Tabela 8/8 Q.10 Frequenta outros espaços públicos?

Q.10.1 Quais?

Bem

Sim

Parque da Paz, Praça Camilo Castelo Branco (Parque das Bicicletas)

Bem

Não

N/A

3

Bem

Não

N/A

4

Bem

Sim

Parque da Paz e Centro Sul

5

Muito Bem

Sim

Cacilhas e Parque da Paz

6

Razoável

Sim

Jardim Júlio Ferraz

7

Bem

Sim

Parque da Paz

8

Bem

Não

N/A

9

Bem

Sim

Praça Movimento das Forças Armadas

10

Bem

Sim

Praça Movimento das Forças Armadas e Fórum Almada

11

Bem

Sim

Parque Júlio Ferraz e Centro Comercial M.Bica

12

Razoável

Não

N/A

13

Bem

Sim

Parque Municipal da Juventude, Largo Gabriel Pedro e o Parque Júlio Ferraz

14

Razoável

Sim

Fórum Almada

15

Razoável

Sim

Praça Movimento das Forças Armadas e Almada Velha

16

Bem

Sim

Skate Parque

17

Bem

Sim

Skate Parque

18

Bem

Sim

Parque Municipal da Juventude, Cacilhas, Zona Ribeirnha Cacilhas

19

Bem

Sim

Parque Infantil do Parque da Juventude e Jardim Júlio Ferraz

20

Bem

Sim

Praça Movimento das Forças Armadas

21

Bem

Não

N/A

22

Muito Bem

Não

N/A

23

Bem

Não

N/A

24

Bem

Não

N/A

25

Muito Bem

Sim

Skate Parque, Largo Gabriel Pedro e Almada Velha

26

Muito Bem

Não

N/A

27

Bem

Sim

Fórum Almada

28

Bem

Não

N/A

29

Bem

Sim

Cacilhas e Parque da Paz

30

Bem

Sim

Museu da Cidade e Fórum Almada

31

Mal

Sim

Fórum Almada

32

Bem

Sim

Parque Júlio Ferraz

33

Bem

Não

N/A

34

Bem

Sim

Largo Gabriel Pedro

35

Bem

Sim

Parque Júlio Ferraz e Praça S. João Baptista

36

Bem

Sim

Cacilhas e Parque da Paz

37

Bem

Sim

Cacilhas, Centro Sul e Parque da Paz Almada Velha, Teatro Azul e Parque da Paz

INQUÉRITO

Q.9 Como sente neste espaço?

1 2

38

Bem

Sim

39

Muito Bem

Não

N/A

40

Razoável

Sim

Biblioteca, Oficina da Cultura e o Teatro Joaquim Benite

41

Razoável

Sim

Parque da Paz, Jardim do Castelo e Skate Parque

42

Razoável

Sim

N/R

43

Bem

Não

N/A

44

Muito Bem

Sim

N/R N/R

45

Bem

Sim

46

Razoável

Não

N/A

47

Muito Bem

Sim

Parque da Paz

48

Razoável

Sim

Parque Júlio Ferraz e Fórum Romeu Correia

49

Bem

Sim

Parque da Paz

50

Bem

Sim

Parque da Paz

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

167

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Apêndice 5 - Registo Fotográfico 5.1 Série 1 | Praça da Liberdade |

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

168

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

5.2 Série 2 | Zonas de Acesso |

5.3 Série 3 | Percursos |

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

169

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

5.4 Série 4 | Modos de Ocupação e Actividades |

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

170

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

5.5 Série 5 | Tectónicas |

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171

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

5.6 Série 6 | Pontos de Degradação |

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

172

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

ANEXOS

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173

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Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Anexo 1 - Planta dos Núcleos Pré-históricos de Almada

(Atkins et. al., 2006, p.40)

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

174

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Anexo 2 - Plano Parcial de Almada PP7/PP9 Esquemas de Distribuição Viária e Ordenamento por Zonas, Fevereiro de 1979

(Cavaco, 2011, p. 276)

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

175

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Anexo 3 - Unidades de Ocupação Urbana do Concelho de Almada

(Almada C. M., 2011 [Revisão de Agosto 2012], p. 183)

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

176

Luís Gonçalves

Praça da Liberdade, Almada – Apropriação e vida da praça no século XXI

Anexo 4 - Plano de Pormenor de Cacilhas Maquete Virtual da Zona de Intervenção pela equipa do Atelier Cidade Aberta

(Almada, 2011, p. 47)

ECATI / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

177

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