PRÁTICA INVESTIGATIVA EM ARTES VISUAIS: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE PINTURA E O ARTISTA PROFESSOR

June 8, 2017 | Autor: Jociele Lampert | Categoria: Arts-Based Educational Research
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Neste caso entende-se como ateliê.
PRÁTICA INVESTIGATIVA EM ARTES VISUAIS:
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE PINTURA E O ARTISTA PROFESSOR

Jociele Lampert
(Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC)

Como professora de Graduação e Pós-Graduação em Universidade pública no Brasil, tenho me questionado: como desenvolver um estudo prático e teórico sobre o ensino na pintura? Ou ainda, onde está a Arte na Arte Educação? Partindo destas questões ancora-se o projeto de pesquisa que venho desenvolvendo, intitulado: "Arte Educação pela pintura: a produção artística do artista professor", que surgiu da necessidade de aprofundar e compartilhar processo criativo e construção de conhecimento em Arte e sobre Arte, tendo como eixo o gerador o processo pictórico na produção plástica do sujeito artista professor. Desta forma, tenho compreendido a articulação entre formação artística para professores e formação pedagógica para artista, ou mesmo do trânsito compartilhado entre o produzir e ensinar Arte, até a compreensão sobre o espaço tempo do ateliê e da aula/sala de Artes Visuais.
O projeto de pesquisa derivou da investigação como professora visitante no Teachers College da Columbia University, onde tive a oportunidade em ser Bolsista Fulbright (2013), e desenvolvi o estudo intitulado: "Artist's diary and professor's diary: roamings about painting education", e desde então, meu olhar como artista professora, volta-se ao ensino de pintura e sua prática.
O diário que escrevi está dividido em duas partes: na primeira, há uma conversa (troca de emails) entre eu e outra professora, que geram comentários e reflexões sobre textos relevantes sobre a pintura; também constam nesse primeiro item, escritos sobre leituras que fiz dos diários de artistas (Diário de Paul Klee, Diário de Frida Kahlo e Cartas a Theo de Van Gogh), onde por meio destas leituras, reativei reflexões e ações sobre produção. Na segunda parte do diário é apresentado um caderno de viagem (vivi o verão de 2013 em New York - EUA); onde apresento um 'coisário', relatando impressões sobre as aulas e formas metodológicas observadas no contexto americano, e por fim, apresento relato da Residência artística que desenvolvi no Vermont Studio Center (Vermont, norte dos EUA) tendo como tema a realização de um projeto de pintura (paisagem).
Na introdução do diário consta narrativa e relato de minhas experiências como professora no Ensino Superior, desde o afastamento da prática artística, por conta de trabalhos burocráticos e de disciplinas que exigiam aprofundamentos teóricos, até o inicio de uma nova deambulação e retomada de fato, do contexto do ateliê de pintura como eixo para o ensino/aprendizagem. Desta forma, compreendendo que toda a experiência, conforme Dewey (2010) começa com uma impulsão, a narrativa do diário é um norte, um rumo, um caminho específico para deambular em um projeto que versa sobre o ensino de pintura, construído a partir de exercícios e projetos práticos sobre o meu próprio processo pictórico, tendo como um dos pontos bases a observação no ensino de arte.

Pesquisa realizada como Professora Visitante no Teacher College na Columbia University em NY/EUA como Bolsista Fulbright (2013).

Quando retornei em 2014 ao trabalho na Universidade, voltei tendo outras perspectivas e desejos de pesquisa. Desta forma, nasceram outros projetos que até então realizo, junto aos estudantes de Pós-Graduação e Graduação m Artes Visuais, no contexto de ensino/pesquisa/extensão e concordo com Luiz Caminitzer (2009), não há verdadeira Educação sem Arte, nem verdadeira Arte sem Educação.
Seguindo esta perspectiva, evidenciando os procedimentos metodológicos e pedagógicos instaurados no espaço/tempo/lugar do ateliê, bem como, das possibilidades de potência e articulação com o saber/fazer e o ser professor artista, criei por meio de projeto de pesquisa, a formação do Grupo de Estudos (UDESC) 'Estúdio de Pintura Apotheke'.
Neste espaço questões sobre Arte como experiência, ou ainda, sobre o lugar de quem produz e de quem ensina Arte ou simplesmente de um saber/fazer competente ao artista, surgem constantemente e evocam a investigação sobre o modo como o ensino/aprendizagem no espaço do ateliê influenciam atitudes, crenças, valores, bem como, estudos e produções artísticas dos sujeitos (artistas professores) pesquisadores, envolvidos com o grupo. Propõe-se investigar a educação em um viés do espaço/tempo, e das articulações cartográficas, entre o professor e o ser artista professor, com a clave sobre a prática artística. De acordo com o projeto de pesquisa "Arte Educação pela pintura: a produção artística do artista professor",constata que:

O grupo de estudos Estúdio de Pintura Apotheke surge do Projeto de pesquisa "Arte Educação pela pintura: a produção artística do artista professor". Este apresenta uma tessitura coerente ao contexto do ensino de arte contemporâneo. Pois, deriva da articulação possível entre teoria e prática, assim como, pode abordar questões pertinente a quem ensina e produz Arte. Ou seja, a escolha da articulação entre Arte Educação e pintura, em meio as questões que permeiam a construção do conhecimento do artista/professor/pesquisador, decorre da busca permanente por amplo repertório de quem ensina e produz e pesquisa no contexto pictórico. (Lampert, 2013, p. 3)

Neste projeto, o estudo da linguagem pictórica decorre em duas vertentes:
1 - o pressuposto prático: a pintura e seus procedimentos específicos que envolvam temáticas como o estudo de paisagem, natureza morta, figura humana e abstratos. Assim como, o estudo de técnicas específicas de pintura. Pesquisa prática de: massas tonais, planos de cor, composição, contrastes, estudos de paletas de diferentes artistas/estilos, uso de pigmentos, fatura de tintas, exploração de técnicas de encáustica e monotipias (raras em programas de ensino nas Universidades) e práticas similares ao uso de pintura óleo, acrílico e/ou uso de ceras, ou ainda, uso de aquarela e têmpera.
2 - o pressuposto teórico: a pintura e o contexto contemporâneo, estudos de diferentes artistas, estilos e técnicas que envolvam o contexto da produção pictórica. Leitura e discussão de manuais de artistas. Pesquisa de vídeos e registros sobre história de pintores e uso de técnicas e diferentes faturas. Leitura de diários de artistas. Articulação da experiência dos membros do grupo em consonância ao ensino de arte na contemporaneidade e estudos sobre o espaço/tempo do ateliê e da sala de aula.
Tais vertentes evidenciam o tratamento de conteúdos de pintura referente ao fazer do artista ou professor ou pesquisador. Ou seja, trata-se de ampliar o olhar, o repertório e o saber artístico, tendo a pintura como eixo gerador. Espera-se não somente a formação de um grupo participante, mas também, o desenvolvimento de uma articulação para o estudo do campo pictórico e seus possíveis desdobramentos, representações ou interlocuções.
A exemplo de Paulo Pasta (2012), em seu livro, resultado de sua Tese de Doutorado na ECA/USP, intitulado 'A educação pela pintura', onde o autor compila diversos textos, sobre outros artistas de referência e apresenta o seu próprio contexto de produção plástica, situando-se como pintor que produz e ensina reflexões sobre a pintura, como forma e/ou possibilidade para investigação plástica e procedimentos metodológicos, tanto para o ensino de arte, quanto para a prática artística. A exemplo deste artista professor, foram propostas prática de pesquisa para o membros do Grupo de Estudos, que envolviam a práxis, bem como a reflexão sobre.
Realizamos encontros de estudos semanais, na Universidade e fora da Universidade, em ateliês dos membros, e convidamos outros exemplos de professores artistas para dialogar conosco, por meio de oficinas e conversas sobre a produção artística e o ensino. Até julho de 2014 foram realizados vinte e um encontros:

Apotheke encontro 1 - introdução a técnica de monotipia
Apotheke encontro 2 - introdução a técnica de encáustica
Apotheke encontro 4 - estudo de técnica suminagashi
Apotheke encontro 5 - fatura de tinta óleo
Apotheke encontro 6 - filme Alex Katz
Apotheke encontro 7 - video aula de Paulo Frade
Apotheke encontro 8 - estudo de aquarela com modelo vivo
Apotheke encontro 9 - mergulho na paisagem (plein air painting)
Apotheke encontro 10 - "Drinking and Drawing", realizado no ateliê da casa de vidro
Apotheke encontro 11 - estudo de "still life"
Apotheke encontro 12"- estudo de monotipia e paisagem usando grade
Apotheke encontro 13 - estudo de colagens (artista referência Marco Giannotti)
Apotheke encontro 14 - proposição baseada no artista Hugh O'Donnell
apotheke encontro 15 - aula aberta e oficina "pintura sobre pintura"com o artista Fernando Augusto (artista professor na UFES)
Apotheke encontro 16 - encolagem para preparo tela
Apotheke encontro 17 - fatura de tinta óleo
Apotheke encontro 18 - introdução a teoria das cores
Apotheke encontro 19 - Café da manhã com Hopper (vídeo)
Apotheke encontro 20 - introdução a têmpera ovo
Apotheke encontro 21 - estudo de textos (Dewey)

Além dos encontros semanais para pesquisa, realizamos oficinas abertas (monotipia, suminagashi, demostrarão de tinta artesanal), dentre outras, também com foco especificamente para os professores das séries iniciais. Também realizamos visitas em ateliês de artistas professores que vivem e trabalham na cidade de Florianópolis - SC.
O Estúdio de Pintura Apotheke também desenvolve projeto de uma revista (publicação), bem como, realização de um Edital para Residência Artística. Para o projeto da revista (publicação), temos entrevistado artistas professores, com base no questionário elaborado por Joe Fig do livro Inside The Studio (2009), onde compreende-se que as questões, bem como, as imagens geradas pelo questionário, venha a dar conta da reflexão sobre uma prática de estúdio (seus procedimentos e métodos). As questões que Fig aponta são:

Quando foi que você se considerou um artista profissional, e quando se sentiu capaz de se dedicar em tempo integral à arte?
E então, quanto tempo você tem estado em estúdio?
Quando você começou a trabalhar neste espaço?
A localização do seu estúdio influenciou seu trabalho de alguma forma?
Você pode descrever um dia típico em sua vida? Seja bem específico, com horários e seus procedimentos.
Você costuma ouvir música, rádio, TV quando está trabalhando, e isso afeta o seu trabalho?
Que tipo de tintas que você usa?
Fale-me um pouco sobre sua paleta de pintura ?
Existem objetos específicos (no ateliê) que têm um significado importante para você?
Você tem ferramentas que são exclusivas para o seu processo criativo?
Você trabalha em uma pintura (gravura ou projetos) de cada vez ou várias ao mesmo tempo?
Quantas vezes você limpa seu estúdio, e qual o efeito sobre seu trabalho?
Quando você está pensando em seu trabalho, onde você costuma se sentar ou ficar?
Como é que você escolhe ou cria os títulos?
Você tem assistentes?
Alguma vez você trabalhou para outro artista?
Como um artista, você tem um lema ou credo?
Que conselho você daria a um jovem artista que estão começando?

Já o projeto para o projeto em realizar uma chamada para umaResidência artística em pintura (em andamento) o Grupo de Estudos 'Estúdio de Pintura Apotheke', propõe uma convocatória aberta para artistas professores. O objetivo é oportunizar o desenvolvimento de projetos que versem sobre a prática artística em pintura e seu ensino, utilizando o espaço do ateliê da Universidade e seu entorno como núcleo gerador para diálogos entre o artista professor proponente e o público (estudantes da Universidade).
Desta forma, percebe-se no processo pictórico e diferentes formas de representações e interlocuções na contemporaneidade, e isto estende-se ao ensino de arte. Por outro lado, além do objeto pintura como temática para este estudo, ancora-se a reflexões sobre quem é o artista/professor, conforme o pensamento de Almeida, 2010, pág. 36:

ser artista, ser professor – os motivos que levam um artista a ser professor, o gostar e o não gostar de ser professor, as relações entre criar e ensinar – o artista na instituição – os prós e os contras de ser professor de arte numa instituição, a pesquisa em arte, a carreira acadêmica e a avaliação da produtividade do artista – o ensino de arte – concepções e procedimentos referentes ao ensino de arte.

O objetivo desta proposição coincide com o que aponta Sullivan (2005), a pesquisa em Arte Educação envolve fazer perguntas e procurar respostas que permitam entender como produzir e ensinar Arte. Neste caso, o ensino da pintura configura o espaço/tempo para compreender o seu ensino/aprendizagem de forma significativa e colaborativa, em uma dinâmica contextual de uma investigação específica, a margem do contexto universitário e, não necessariamente em aulas específicas como disciplinas, mas sim, em encontros com um grupo participante de artistas professores, interessados no estudo sobre o tema da pintura.
No livro Studio Thinking, Hetland (et al, 2007), é apresentada a perspectiva da sala de aula de Artes Visuais, pensada como estúdio, não entendida como comparação, mas sim, em articulação. Sendo que em ambos os espaços (aparentemente distantes) desenvolvem-se procedimentos metodológicos semelhantes: apresentação de proposta de trabalho, onde o professor desenvolve explicação teórica, fornecendo exemplos e apresentando referências; seguindo apresenta proposta para desenvolvimento de trabalho prática individual ou coletivo; gera demostrarão e exemplos de outros trabalhos similares, por fim, há uma pausa ou elemento para a discussão pautado no fazer gerando criticidade e reflexão ao processo de trabalho e formas de ensino de arte, vinculado a prática artística.
Neste sentido, a prática de estúdio gera persistência, capacidade espacial, expressividade, capacidade de observação e reflexão e propensão para pensar além do que é concreto ou real. Surge articulação com o desenvolvimento da subjetividade ao passo da tessitura do estudo de materiais e técnicas (tidas como ferramentas). Em articulação pensa-se o espaço da sala de aula como gerador similar ao estúdio, em consonância com possibilidades para o ensino/aprendizagem em Artes Visuais.
Desta forma, Arte e Arte Educação ancoram-se sobre conjuntos de práticas que envolvem o saber fazer, a auto-reflexão, o contexto sociocultural e abordagens históricas, que envolvem a prática pedagógica e a prática artística, como procedimentos de um processo criativo evidenciado pela construção sistemática de experiências.
A formação do professor de artes visuais perpassa por um sujeito artista professor (compreendemos que a pesquisa está implícita e inerente ao trabalho docente), pensando no processo de ensino e aprendizagem cotidiano, ultrapassando o limite entre o pessoal e o profissional. A prática reflexiva diária, pode levar a procedimentos que partem deste a concepção de diários, mapas, ou investigações que investigam problemas educativos por meio da criação artística, utilizando linguagens artísticas e não apenas evidenciando estudos de caso, ou pesquisas quantitativas.
Refletir (e produzir) sobre propostas de ensino/aprendizagem que relacionem teoria e prática é relevante para conectar a subjetividade da prática docente e o próprio processo de formação docente, usando o espaço do ateliê híbrido, como eixo e cartografia como meio de metodologia ou caminho a ser percorrido como possibilidade de trabalho. Conforme Kastrup e Passos (2013), a cartografia é um modo de construir uma realidade a partir daquela que já existe usando o coletivo, os processos subjetivos e a transversalidade da própria temática e si, sendo assim, cria-se a possibilidade de estudar as relações entre a educação e o espaço/lugar/tempo do ateliê de arte. Os usos da cartografia e da narrativa, pensando a subjetividade, podem permitir agregar conceitos e perspectivas ao estudo sobre o ateliê e suas implicações pedagógicas.
A cartografia e o lugar do ateliê completam-se, compondo uma narrativa que condiz com a característica de um professor que também pensa na pesquisa e em uma produção artística, mas ambas vinculadas com a sua prática docente, seja no espaço das oficinas, laboratórios, escolas, ensino formal ou não, até as Galerias e Museus, poderá ser vista como um caminho para um ensino de arte em consonância com a contemporaneidade.
O termo artista professor foi usado inicialmente por George Wallis, em meados do século dezenove, e vem sendo construído desde então, um retrato pedagógico da identidade associado ao termo. Uma rede de empreendimentos foi desenvolvida para entender o processo de pensamento que discute o artista/professor, que é um processo conceitual de aplicar um modo artístico e estético de pensar o ensino.
Este aspecto central do artista professor pode até atrair semelhanças ao movimento em Grã Bretanha do ensino de desenho e a fundação da Bauhaus na Alemanha, no entanto, compreende-se também o formato artístico no planejamento do professor e na forma de ministrar aulas, percebemos no qual as atividades de estúdio do artista, oriundos destas Escolas, transferiam a metodologias pedagógicas e práticas, o eixo central do ensino/aprendizagem em Arte e posteriormente, tendências que estenderam-se a criação do Black Mountain College nos Estados Unidos. Tendências que perpassam a prática artística de artistas como Paul Klee, Josef Albers, Hans Hoffman até Joseph Beuys, dentre outros, em diferentes momentos e contextos históricos. No entanto, pondera-se, de acordo com Duve (2012), que Dewey baseou seus projetos na criatividade e não na tradição, assim não se trata de repetir ou usar um modelo pedagógico da Bauhaus, ou algo similar a belas artes, ou mesmo acadêmico. Mas é inevitável não negar que estes modelos contaminam-se entre si e que na grande parte dos currículos de Artes Visuais, ainda há uma evidência em transpor estes modelos. No entanto o que buscamos com o a pesquisa e os estudos do Estúdio de Pintura Apotheke, não é um ensino pautado na reprodução ou na simples competência técnica de um fazer, mas sim a desconstrução de modelos onde poderá ser possível uma invenção de outras práticas alicerçada pelo conhecimento. Neste caso o estudo de técnicas e textos teóricos, amparam reflexões sobre a prática artística, bem como, na potência de um planejamento de aula. Assim, finalmente, sobre o ensino/aprendizagem e o processo da construção do conhecimento do objeto pintura/educação, ancora-se a experiência que atravessa o sujeito, em meio a percepção de sua subjetividade, como artista professor.


Deambulando o caminho metodológico


Entendo o deambular como um vaguear ou caminhar devagar, sem necessariamente ter um caminho pré definido. Gosto de pensar o deambular não como um modismo contemporâneo, mas entendo a necessidade de todos, um dia ao menos, poderem deambular. Sem ter que justificar suas escolhas, ou referências teóricas, ou ações, mas sim, dialogar e integrar de fato uma ação/reflexão (no caso de quem ensino/aprende e produz em e sobre Arte). Desta forma, compreendo o uso da cartografia como forma pedagógica para organização e invenção de deambulações, no entanto, como método busco em escritos sobre ABER (Arts-Based Educational Research) de Barone e Eisner (1997), e posteriormente nos escritos de Marín (2005), não como justificativa para minha pesquisa, mas sim como tessitura de um diálogo.
Como outro enfoque metodológico para a investigação educativa, a pesquisa baseada em Arte, ou de caráter mais "artístico", aponta para construir diferentes olhares: seja do artista professor, quem produz e ensina, ou do ponto de vista de apresentação da pesquisa, utilizando um caminho artístico, como produção de vídeo, exposição e estudos sobre a sua própria produção de sentido em relação a Arte e ao tema abordado. Neste sentido, o método investigativo serve como dispositivo para classificar e sistematizar, mas além disso, serve para apresentar um percurso e adentrar pontos, que são visualizados pelo processo criativo do pesquisador.
Para Marin, além de pesquisas qualitativas ou quantitativas, há também a pesquisa artística (esta última constitui-se de um novo modelo para a Arte Educação) ou novas formas de olhar e organizar o que fazemos, de forma a evidenciar e aprofundar mais o procedimento artístico. Para Marin (2005): "a investigação em Educação Artística é a atividade que nos leva a conhecer novas ações, idéias e teorias e a compreender com maior exatidão e profundidade o ensino aprendizagem das Artes Visuais e da Cultura Visual". Assim, o que define o percurso da pesquisa é a evidência sobre o aporte do ensino/aprendizagem, bem como, o tempo e o lugar para assuntos que permeiam o fazer artístico (temas, assuntos, problemas), ou seja, sobre o território da articulação entre o sujeito/indivíduo, coletivo/grupo, imagens e/ou objetos, evidenciados no ensino/aprendizagem e na construção do conhecimento artístico.
Barone e Eisner (1997) apontam que a ABER é elaborada para realçar significados, acrescentar e aprofundar a conversação entre política e prática educativa. Assim, ABER não aponta para uma busca por exatidão como pesquisas tradicionais, mas sim, implica em construção de metáforas, por meio de elementos do design educação e sua finalidade pode ser descrita como a intensificação de perspectivas para a investigação. Se tradicionalistas geralmente procuram assegurar explicações sólidas e prognósticos seguros, os pesquisadores baseados em Artes visam sugerir novos caminhos abertos. A ABER não oferece argumentos sobre como proceder dentro dos confins de um encontro educacional ou de um episódio de produção de políticas. Ao invés de isolar a discussão sobre as pré-suposições incorporadas dentro de um projeto de pesquisa, ela se move para ampliar e aprofundar conversações contínuas sobre a política e prática educacional chamando atenção para noções aparentemente de senso comum, tomadas como certas.
A questão sobre o lugar do artista professor, o tempo/espaço da Arte para a Educação fica evidenciada pelas práticas propostas. Também compreende-se, conforme Lampert (2009) que a Arte instaurada no âmbito universitário é diferente da Arte que circula no mercado de Arte, que por sua vez é diferenciada da Arte que trabalhamos no contexto escolar, embora nosso objeto e campo de atuação seja o mesmo (Arte), temos que perceber o tempo/espaço do contexto onde estamos, ou de onde falamos.
Barone e Eisner (1997) apontam para eixos como critérios de avaliação do estudo: habilidade de revelar o que não tinha sido percebido ou observado, distinguindo o que é significativo de modo que a consciência sobre a problemática seja aumentada; habilidade em gerar novas questões sobre o tema da pesquisa, não no sentido de evidenciar respostas, mas sim de gerar novos paradigmas (habilidade similar a da Arte Contemporânea); habilidade em ter o foco preservado sobre o saber da prática educativa na escola e sobre a escola; E por fim, a relevância do tema fora da pesquisa, para o pesquisa, ou como o tema poderá ser ampliado partindo da experiência do pesquisador.
Relevante salientar que o trabalho com o grupo tem proposições mais interrogativas do que expositivas, onde o ofício até mesmo poderá ser praticado (pintura), mas o meio pictórico necessita de questionamentos constantes.

Informações e imagens sobre o Grupo de Estudos (UDESC) Estúdio de Pintura Apotheke, disponível em: https://www.facebook.com/pages/Estúdio-de-pintura-Apotheke




Referências

ALMEIDA, Célia Maria de Castro. Ser artista, ser professor: razões e paixões do ofício. São Paulo: Editora da Unesp, 2009
Barone, T. & Eisner, E. (in press). Arts-based educational research. In Complementary Methods for Research in Education, Third Edition, Judith Green,G. Camilli, and Patricia Elmore, editors. Washington, DC: American Educational Research Association, 1997.

CAMINITZER, Luis; PÉREZ-BARREIRO, Gabriel. Educação para a arte/Arte para a educação. POA: Fundação Bienal do Mercosul, 2009.

DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

DUVE, Thierry de. Fazendo escola (ou refazendo-a?). Chapecó: Argos, 2012.

EISNER, E. Currículo sem Fronteiras, v.8, n.2, pp.5-17, Jul/Dez 2008

FIG, Joe. Inside the panter's studio. Princeton Architectural Press: New York, 2009.

HETLAND, Lois; WINNER, Ellen; VEENAMA, Shirley; SHERIDAN, Kimberly; PERKINS, David N.Studio Thinking: The Real Benefits of Visual Arts Education. Teachers College Press: New York, 2007.

LAMPERT, Jociele. Arte Educação pela pintura : a produção artística do artista professor. 2013. Projeto de Pesquisa. Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2014.

LAMPERT, Jociele. Artist's diary and professor's diary: roamings about painting education. 2013 190 f. Relatório de Pós Doutorado, realizado no Teachers College na Columbia University em New York, EUA.

LAMPERT, Jociele. Cultura Visual, Arte Contemporânea e Forma ão Docente. 2010. 159 f. Tese (Doutorado Escola de Comunicações e Artes - ECA) – Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.

KASTRUP, Virgínia; PASSOS, Eduardo. Cartografar é traçar um plano comum. Fractal: Revista de Psicologia, Niterói, v. 25, n. 2, p.263-280, Maio/Ago 2013. Quadrimestral. Disponível em: . Acesso em: 11 de maio, 2014.
MARÍN Viadel, Ricardo: "La Investigación Educativa basada en las Artes Visuales o ArteInvestigación Educativa." En Ricardo Marín Viadel (ed.) Investigación en educación artística. Universidad de Granada, Granada. 223-274. 2005.
PASTA, Paulo. A Educação pela pintura. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2012.
SULLIVAN, G. (2005). Art Practice as Research: Inquiry in Visual Arts. Thousand Oaks, CA: Sage.


Jociele Lampert:

Desenvolveu pesquisa como professora visitante no Teachers College na Columbia University na cidade de New York como Bolsista Fulbright (2013). Doutora em Artes Visuais pela ECA/USP (2009); Mestre em Educação pela UFSM (2005). Possui Graduação em Desenho e Plástica Bacharelado (Pintura) e Licenciatura na UFSM (2002). Professora Adjunta na Universidade do Estado de Santa Catarina. Atua na Pós-Graduação e Graduação em Artes Visuais UDESC. É membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Arte, Educação e Cultura UFSM/CNPq. Membro/Líder do Grupo de Pesquisa Entre Paisagem UDESC/CNPq. Coordenadora do Grupo de Estudos Estúdio de Pintura Apotheke (UDESC). Site: www.culturavisual.org



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