PRÁTICA PEDAGÓGICA: EXPLICITAR O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM PARA ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

May 24, 2017 | Autor: F. Batista Silva | Categoria: Prática pedagógica, Deficiência Intelectual, Ensino Aprendizagem
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PRÁTICA PEDAGÓGICA: EXPLICITANDO O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM PARA ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Creyd Santos Batista Francimar Batista Silva Magno Pinheiro de Almeida Patrícia Lima Domingos Vera Lucia Gomes

Eixo temático: DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Categoria: PÔSTER

RESUMO A inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular tem provocado nas escolas públicas mudanças estruturais, atitudinais e pedagógicas. Uma das maiores dificuldades enfrentadas pela escola é atender com qualidade as necessidades educacionais dos estudantes com deficiência, em especial daqueles com deficiência intelectual - DI. O presente estudo tem por objetivo compreender o processo de aprendizagem desses estudantes em escolas que ainda utilizam práticas tradicionalistas e homogeneízam o processo de aprendizagem, com conteúdo prontos e avaliações que focam na classificação, sem considerar as características, ritmos e potencialidades existentes. A pesquisa utilizou abordagem qualitativa e pesquisa bibliográfica como natureza das fontes. Concluiu-se que para ocorrer a aprendizagem do aluno com DI, o professor tem papel central e deve ser mediador, orientando-o na busca de novas descobertas, com didática diferenciada, recursos e instrumentos específicos. Um instrumento importante encontrado é o Plano Educacional Individual, elaborado de acordo com a especificidade do estudante e com propostas curriculares diferenciadas. Outro atendimento que auxilia na aprendizagem desse estudante é o atendimento educacional especializado em sala de recursos multifuncionais, com estratégias e recursos que eliminem as barreiras para sua participação com autonomia e independência na escola. A pesquisa demonstra a importância do envolvimento de todos na inclusão e aprendizagem do aluno com DI, sendo as práticas pedagógicas e as adaptações essenciais para atingir o objetivo da educação inclusiva, o acesso, a permanência e a aprendizagem de todos os estudantes.

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Palavras-chave: Deficiência Intelectual, Ensino e Aprendizagem, Prática Pedagógica.

Introdução A educação escolar pode ser definida como o conjunto de saberes e práticas que não contemplam somente a promoção da aprendizagem, mas abrange também a convivência humana. Dentro desse contexto surge a diversidade humana e a compreensão de que cada um possui suas singularidades, implicando automaticamente no âmbito escolar, como também na necessidade de práticas de ensino e de inclusão que sejam tanto pluralizadas quanto individuais. Assim, a educação inclusiva é uma ação social e política que envolve a todos e traz a responsabilidade de abarcar métodos e reflexões que possam garantir a qualquer aluno, independentemente de sua condição social econômica, cultural, religiosa, étnica, física, entre outras, o direito à educação formal (escolar). O aluno que possui deficiência intelectual - DI é contemplado no mesmo sentido, mesmo que suas características impeçam a aquisição apropriada dos conteúdos propostos pelos programas curriculares. Segundo a Associação Americana sobre Deficiência Intelectual do Desenvolvimento (AAIDD, 2002), considera-se deficiência intelectual aquelas que se caracterizam por um funcionamento intelectual inferior à média (QI), associado a limitações adaptativas em pelo menos duas áreas de habilidades (comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho), que ocorrem antes dos 18 anos de idade (AAIDD, 2002).

Ao pensar no processo de ensino e aprendizagem e na prática pedagógica com esses alunos, o profissional depara-se com o desafio de adaptar um currículo que consiga abranger todas as suas necessidades e amplie suas potencialidades, buscando equilibrar os conteúdos curriculares prédefinidos e o conhecimento e experiência de mundo que são as habilidades de vida diária e vocacionais que são essenciais para o desenvolvimento humano. Tratando-se do processo da aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual, é necessário considerar que alguns apresentam dificuldades no

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raciocínio lógico, na aprendizagem de conceitos abstratos, na generalização, na memorização, na atenção e na resolução de problemas, necessitando assim de um período mais longo de mediação e da utilização de recursos pedagógicos diferenciados que facilitem a aquisição de conhecimentos e transforme sua vida. Segundo Padilha (2005), a construção do conhecimento necessita pautar-se numa prática de ensino que corresponda “à necessidade educacional” do estudante, uma vez que as transformações acontecem por meio das relações concretas de vida. Com base nas premissas apontadas acima, percebe-se a necessidade de oferecer recursos e serviços de acessibilidade que oportunizem a aprendizagem do aluno com DI a partir da avaliação e identificação de suas necessidades educacionais especiais. Nesse sentido foi realizado o seguinte questionamento: que prática de ensino corresponde com a necessidade de aprendizagem do aluno com deficiência intelectual levando em conta suas potencialidades e interesses? O processo de construção da prática pedagógica direcionada para o aluno com DI leva o professor a analisar e avaliar sua metodologia de ensino, buscando recursos, serviços e formação continuada que o habilite na construção de estratégias e procedimentos que concretizem a aprendizagem desses estudantes.

Objetivos Explicitar e compreender o processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual. Identificar

atendimento

educacional, metodologias

e

estratégias

utilizadas para garantir a aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual.

Metodologia O presente trabalho justifica-se pela necessidade de buscar informações sobre o processo de ensino e aprendizagem do aluno com DI e compreender seu desenvolvimento no aspecto cognitivo, levando em consideração as experiências vividas nas relações sociais, pautadas nas concepções de Padilha

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(1991), Vygotsky (1997) e Glat & Plestch (2009), e, também identificar o atendimento educacional especializado e as estratégias que proporcionam e facilitam o desenvolvimento acadêmico do aluno. Assim, a escolha por este tema se deu a partir de experiência como educadora em uma instituição de educação especial a qual possui proposta curricular pautada na LDB 9394/96 e Decretos 3.298/99 e 3.956/01.Os conteúdos são organizados em projetos exclusivamente voltados para as necessidades especiais e interesses do público estudado, respeitando seu ritmo, buscando sua independência e autonomia, possibilitando a progressão do processo de aprendizagem. A pesquisa foi realizada utilizando abordagem qualitativa, com caráter exploratório, realizando levantamento de dados bibliográficos que segundo Gil (2008) é aquela desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos em livros, páginas eletrônicas e revistas acadêmicas.

Resultados Parciais

Considerando que a escola tem a função de habilitar o aluno para transformar sua realidade a partir dos conhecimentos e aprendizagem adquirida, com o aluno com DI, essa função é ampliada, pois a independência, autonomia e socialização também fazem parte. Diante disso, compreende-se a importância e responsabilidade da comunidade escolar e principalmente do professor na condução do processo de aprendizagem desse aluno. Os conhecimentos que são transmitidos na escola são produtos de uma construção dinâmica que se opera na interação constante entre o saber escolar e os demais saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que traz para a escola, num processo contínuo e permanente de aquisição, no qual interferem fatores sociais, e culturais e psicológicos (Vygotsky, 1988, p. 67) No processo de conhecimento é preciso considerar que entre sujeito e objeto do conhecimento se estabelecem relações que requerem um elemento

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mediador. Nesse sentido o professor, precisa desenvolver ações de ensino que incidam nas dimensões ativas e interativas, orientando os caminhos de busca de informações, para que sejam desenvolvidas as estratégias de estudo, pesquisa e socialização. Esta conduta do professor contribui para uma estratégica metodológica de interação e construção do conhecimento. Vygotsky (1988) aponta que o educador desempenha um papel ativo dentro da classe e propõe uma escola que "puxe" pelo aluno, que faça avançar e traça claramente o papel do professor como condutor do processo, como um animador e apresentador de exemplos para as descobertas que os alunos realizam à medida que atingem as sucessivas fases do desenvolvimento. O professor conduz suas funções e pode utilizar como estratégia o meio que o aluno vive por meio de suas experiências e relações interativas. Nesse sentido, é necessário acreditar no aprendizado desse aluno e elaborar um planejamento que permite adaptação às suas necessidades, avaliar diariamente sua prática pedagógica, estabelecer metas adequadas que o ajude no processo de construção do conhecimento, promover meios de comunicação entre professor/aluno, aluno/aluno, propiciar condições de avaliação de acordo com as capacidades e potencialidades sem focar somente na deficiência. As estratégias e mediações utilizadas pelo professor, provocará resultados positivos junto aos alunos com necessidades educacionais especiais, entretanto, podemos citar também, como instrumento auxiliativo o Plano Educacional Individual – PEI, que considera as necessidades educacionais especiais - NEE do estudante, possibilitando reflexão acerca de suas possibilidades e dificuldades com a implementação de propostas curriculares diferenciadas que contemplem suas especificidades e é visto como, [...] um recurso para orquestrar, de forma mais efetiva, propostas pedagógicas que contemplem as demandas de cada aluno, a partir de objetivos gerais elaborados para cada turma, é uma alternativa promissora, na medida em que oferecer parâmetros mais claros a serem atingidos, sem negar os objetivos gerais colocados pelas propostas curriculares. (GLAT & PLETSCH, 2009, p. 22).

Uma proposta curricular inclusiva que atenda a todas as especificidades só será alcançada se o currículo e a prática pedagógica levarem em consideração as especificidades do processo educacional de cada aluno, e não

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no padrão homogeneidade predominantemente, ainda na maioria das escolas. (GLAT & PLESTCH, 2019, p. 45). Deste modo, uma vez que os alunos não são iguais e as condições em que o currículo é posto em prática também variam, não podemos pensar num currículo uniforme, mas, ao mesmo tempo, é importante que seja garantida uma unidade de princípios. Na escola comum, no desenvolvimento do currículo, ao professor é atribuído o ensino das áreas do conhecimento, e ao professor do atendimento educacional especializado – AEE de sala de recursos multifuncional, cabe complementar a formação do aluno com DI com conhecimentos e recursos específicos que eliminem as barreiras que impedem ou limitem sua participação com autonomia e independência nas turmas do ensino comum. Assim, o professor do AEE tem como a atribuições a, elaboração, execução e avaliação do plano de AEE do aluno; definição do cronograma e das atividades do atendimento do aluno; organização de estratégias pedagógicas e identificação e produção de recursos acessíveis; ensino e desenvolvimento das atividades próprias do AEE, tais como: Libras, Braille, orientação e mobilidade, Língua Portuguesa para alunos surdos; informática acessível; Comunicação Alternativa e Aumentativa - CAA, atividades de desenvolvimento das habilidades mentais superiores e atividades de enriquecimento curricular; acompanhamento da funcionalidade e usabilidade dos recursos de tecnologia assistiva na sala de aula comum e ambientes escolares; articulação com os professores das classes comuns, nas diferentes etapas e modalidades de ensino; orientação aos professores do ensino regular e às famílias sobre os recursos utilizados pelo aluno; interface com as áreas da saúde, assistência, trabalho e outras. (BRASIL, 2010, p.8)

O AEE é o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, destinados a formação dos alunos com deficiências no ensino comum, a partir de suas potencialidades e necessidades, onde o conhecimento se constrói sem resistência e de forma prazerosa. Esse atendimento educacional pode acontecer em espaço apropriado na própria escola, em escola mais próxima ou em Centros de Atendimento Educacional Especializado, sendo que a articulação entre os professores é item importante e essencial para identificar as dificuldades de aprendizagem do aluno com DI e criar estratégias que serão utilizadas em sala de aula e no AEE.

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Assim, o trabalho articulado entre professor do AEE e da sala de aula comum é importante para definir os processos didáticos que facilitarão a construção do conhecimento do aluno. Nessa concepção constata-se que é possível desenvolver uma didática que permita aos alunos um maior desenvolvimento a partir do seu conhecimento prévio e de suas necessidades. Portanto, a aprendizagem do aluno com DI a partir de articulação e didática apropriada pode ocorrer por meio do seu contato social com a realidade, propiciando a construção do seu próprio conhecimento, favorecendo seu desenvolvimento e autonomia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação brasileira vive um intenso processo de transformação, as guisas da efetivação da educação inclusiva, compreendida muito além do acesso proporcionado por meio da matrícula. Antes, o discurso girava em torno do direito à matrícula somente para os alunos com deficiência que conseguiam acompanhar o desenvolvimento dos alunos sem deficiência. Na maioria das vezes o acesso era negado com naturalidade ou quando aceito, os alunos tinham que se adaptar à escola, sendo seu sucesso ou fracasso escolar de sua inteira responsabilidade. A efetivação do direito à educação para todos requer uma organização eficaz no tocante às disparidades que se interpõem durante o avanço no processo de construção dos sistemas educacionais inclusivos. Para acompanhar tal avanço é necessário o envolvimento de todos os membros da escola a fim de realizar as mudanças ainda necessárias, não bastando apenas estar, mas há que se fazer parte. Assim, a deficiência não se estabelece como doença, invalidez ou impedimento de acesso à educação no ensino regular e as políticas públicas, destinadas a este grupo, não se restringem mais às ações de caráter clínico e assistencial. Atualmente, há base legal solidamente construída que garante o acesso e a adaptação de todas as escolas em suas dimensões arquitetônica, pedagógica e humana, sendo uma importante conquista dos direitos das pessoas que apresentam alguma necessidade específica. Existem também

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diversas políticas públicas elaboradas e implantadas para disponibilizar recursos financeiros para investimento nas escolas públicas, em acessibilidade arquitetônica,

recursos

pedagógicos,

mobiliários

e

tecnológicos

para

implantação e implementação das salas de recursos multifuncionais e, também para a formação de professores. Diante disso, conclui-se que os sistemas de ensino estão comprometidos em receber todos, preocupando-se em proporcionar a aprendizagem, eliminando as barreiras, buscando formação para os professores, procurando erradicar qualquer forma de preconceito. A escola é o lugar onde o ensino oportuniza emancipação social individual, respeitando o tempo de cada indivíduo como sua característica/cultura própria, auxiliando na formação de suas próprias concepções em relação ao mundo existente. Assim, foi possível entender a prática pedagógica adequada ao processo de ensino aprendizagem do aluno com DI, no qual o professor é visto como a ferramenta principal e essencial, onde seu conhecimento sobre educação especial na perspectiva inclusiva é importante para reformular o olhar que tem sobre o público alvo dessa modalidade de ensino, mudar sua prática pedagógica e entender como aprendem, conseguindo assim mediar o processo de aprendizagem. Neste contexto a prática educativa deve ser transformadora e atender a todos e estar de acordo com as experiências e as necessidades de cada um, dentro de seu contexto cultural, bem como em suas inovações, mudanças e avanços diários. Portanto, espera-se que esta pesquisa contribua com os educadores que se preocupam com a real inclusão e aprendizagem dos alunos com DI, pois se sabe da importância e a diferença que o respeito, a diversidade e a eliminação de barreiras produz na vida de todo ser humano. Os alunos com deficiência precisam de um olhar diferenciado, de uma mão para guiá-lo, de acolhimento, de respeito, de dedicação, de preocupação, de compromisso, de afeto, assim, poderá voar e alcançar lugares e vivenciar situações consideradas impossíveis.

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REFERÊNCIAS AAIDD. AMERICAN ASSOCIATION ON INTELLECTUAL AND DEVELOPMENTAL DESABILITIES. Disponível em: . Acesso em 6 jun. 2016. BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em 6 jun. 2016. ________, Ministério da Educação. Decreto n. 3956 de 8 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm. Acesso em 6 jun. 2016. ________, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Manual de Orientação: Programa de Implantação de Sala de Recursos Multifuncionais. Brasília, 2010. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias =9936-manual-orientacao-programa-implantacao-salas-recursosmultifuncionais&category_slug=fevereiro-2012-pdf&Itemid=30192. Acesso em 22 abril 2016. ________, Ministério da Educação. Decreto n. 3298 de 20 de dezembro de 1999. Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm. Acesso em 22 abril 2016. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GLAT, R. & PLETSCH, M. D. Plano Educacional Individualizado (PEI): um diálogo entre práticas curriculares e processos de avaliação escolar, 2009. _______. Plano de Desenvolvimento Psicoeducacional Individualizado (PDPI): uma estratégia para fornecer o atendimento educacional especializado de aluno com deficiência mental/intelectual matriculado na escola especializada. Favo de Mel. Palestra proferida na FAETEC. Dez. 2009. PADILHA, A. M. L Possibilidades de histórias ao contrário – ou como desencaminhar o aluno da Classe Especial. São Paulo, 1991, Plexus. _______. Práticas pedagógicas na educação especial: a capacidade de significar o mundo e a inserção cultural do deficiente mental. 1. ed. Campinas, SP: Autores Associados; São Paulo: FAPESP, 2001. 194 p. (Coleção Educação Contemporânea). Paulo: Summus, 2001.

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VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1988. __________Obras Escogidas V – fundamentos de defectologia. Madri: Visor.232, 1997.

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