PRÁTICA PEDAGÓGICA NO USO DE TDICS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

May 26, 2017 | Autor: Mariana Abad | Categoria: Educational Technology, Higher Education, Brazil
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PRÁTICA PEDAGÓGICA NO USO DE TDIC’S NO CURSO DE TECNOLOGIAS SONORO-MUSICAIS

Mariana Beilune Abad1 Prof. Miguel Balloussier Ratton2 Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, Curitiba, PR

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo principal trazer à reflexão o processo de apropriação pedagógica do uso de TDIC’s no Curso de Especialização em Tecnologias SonoroMusicais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Câmpus Curitiba. Traz uma análise detalhada do projeto de curso utilizando o Método V de Avaliação e Planejamento de González González et al.(2004) mais especificamente no nível de superestrutura, e reforço de literatura em alguns termos específicos da área. Este trabalho, abre as portas para muitos outros estudos. Em pesquisas futuras, é necessário entender melhor os níveis de estrutura e infraestrutura, também propostos por González e ainda acompanhar de maneira mais detalhada o dia a dia da comunidade docente e discente do curso. Palavras-chave: Educação Tecnológica. Pós-graduação. Prática pedagógica.

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Formada em Licenciatura em Música pela PUCPR e especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior pela UNINTER-PR. Pós-graduanda em Tecnologias Sonoro-Musicais pela PUCPR.

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Graduado em Engenharia Eletrônica pela UFRJ, com Mestrado Profissional em Educação e Novas Tecnologias, tem mais de trinta anos de experiência profissional em tecnologias aplicadas à música, atuando como projetista, consultor e professor. Atualmente desenvolve projetos de acústica, e equipamentos eletrônicos para MIDI, síntese sonora e áudio.

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1 INTRODUÇÃO Para este trabalho, levaremos o conceito de tecnologia sob o olhar de Vani Moreira Kenski. A autora define tecnologia como o: “ […] conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade […]” (2007, p.24). Portanto, pode-se concluir que a função da tecnologia é facilitar o trabalho cotidiano do ser humano, sendo eficaz na solução de problemas de forma mais rápida e qualificada. Ainda, a tecnologia de uma forma geral é considerada um padrão social de estabilidade e status, justamente por essa falta de conhecimento da população do real significado do termo. Essa falta de esclarecimento traz uma série de perdas que vão desde o uso errôneo da tecnologia até uma lentidão no desenvolvimento e invenção de novas tecnologias. É pertinente ainda a visão de Dourado (2002, p.237-238) sobre a função e compreensão da sociedade em relação às tecnologias: [...] é fundamental compreendê-las [as tecnologias] como ferramentas produzidas e apropriadas socialmente, uma vez que as novas tecnologias incorporam e disseminam discursos sociais e políticos, cuja análise e interpretação não são uniformes ou padronizadas, o que exige métodos de análise e críticas capazes de articular sua inserção na economia política e nas relações sociais em que são criadas, veiculadas e recebidas.

Ainda nessa linha de pensamento, Santos (2006, p.15) defende que ensinar com tecnologia “será um ato revolucionário se for acompanhado de uma postura docente também inovadora”.

Com a globalização em ascensão, os processos comunicativos da sociedade se desenvolveram dando espaço para a "revolução digital", ocasionando diversas mudanças no comportamento das pessoas, principalmente no que se refere às facilidades de comunicação e compartilhamento de informações

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Ao longo das últimas décadas, a popularização de recursos tecnológicos tem contribuído para a incorporação de novos recursos e ferramentas digitais, como o uso didático destes na educação formal e informal (Ferreira; Ventura, 2008). Nessa linha de pensamento, Santos (2006, p.15) defende que ensinar com tecnologia “será um ato revolucionário se for acompanhado de uma postura docente também inovadora”. Segundo Kenski (2001), as tecnologias devem ser inseridas na sala de aula como meio de proporcionar a produção e a divulgação de conhecimentos de forma criativa. Entende-se, então, que para a inclusão das tecnologias na educação, não basta apenas facilitar o acesso a elas. São necessárias mudanças estruturais e sistemáticas na comunidade docente e na sociedade como um todo, que promovam o uso consciente dessas tecnologias em sala de aula.

“É preciso que os formadores de professores favoreçam a tomada de consciência dos professores em formação sobre como se aprende e como se ensina; que os levem a compreender a própria prática e transformá-la em prol de seu desenvolvimento pessoal e profissional, e em benefício do desenvolvimento de seu aluno. ” (Almeida, 2000, p.23)

É possível perceber que atualmente a sociedade lida com uma falha no processo pedagógico em que as instituições educacionais não contextualizam e nem dão significado ao uso das tecnologias na vida acadêmica, muito menos observam a necessidade de dar a devida orientação aos estudantes e professores sobre o uso e descoberta dessas TDIC’s, muitas vezes “criminalizando” o uso em sala de aula, quando na realidade deveriam ensinar priorizando o objetivo da educação superior que é suprir as exigências quanto ao indivíduo para o mercado de trabalho, como destaca Silva Filho (2001, p.98). “Para se integrar no contexto da época atual e exercer eficazmente um papel na atividade econômica, o indivíduo tem que, no mínimo, saber ler, interpretar a realidade, expressar-se adequadamente, lidar com conceitos científicos e matemáticos abstratos, trabalhar em grupos na resolução de problemas relativamente complexos, entender e usufruir das potencialidades tecnológicas do mundo que nos cerca. E, principalmente, precisa aprender a aprender, condição indispensável para poder acompanhar as mudanças e avanços cada vez mais rápidos que caracterizam o ritmo da sociedade moderna. ”

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Falando ainda sobre o contexto universitário, é importante ressaltar que, segundo o Censo da Educação Superior (2014), a idade média de professores nas instituições públicas e particulares é, respectivamente, 37 e 35 anos de idade. São, em sua maioria, homens; nas universidades públicas são em maioria doutores, e nas instituições particulares são mestres. Esses dados indicam que, em sua maioria os professores universitários são Imigrantes Digitais o que dificulta ainda mais a adaptação da comunidade acadêmica às novas tecnologias, já que os próprios professores não passaram pela adaptação tecnológica. Considerando esse cenário, o objetivo desta pesquisa é analisar a eficácia e o processo de apropriação tecnológica no Curso de Especialização em Tecnologias Sonoro-Musicais na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba. Neste artigo, o foco é apresentar uma análise do nível de Superestrutura apresentado pelo Método V de Avaliação e Planejamento de González González et al. (2004), refletindo sobre o planejamento e projeto de Curso, com relação às suas matérias e objetivos propostos pela universidade. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O QUE SÃO TDIC’S À medida que a sociedade foi se desenvolvendo, passamos por várias mudanças na forma com que a informação é tratada e passada adiante. A princípio esse tratamento de informação passou por três etapas: a manual, a mecânica e a automática. O tratamento manual se deu pelo uso da escrita alfabética, o tratamento mecânico ocorreu quando a imprensa surgiu em 1439 e o automático com o surgimento dos computadores.

“Quando os primeiros computadores começaram a ser instalados nas escolas de vários países, na década de 1970, começou-se a fazer referência a eles e a seus usos como computadores na educação. Acompanhando os computadores, chegaram às escolas os periféricos, ou seja, as impressoras, drivers externos, scanners e as primeiras câmeras fotográficas digitais. O conjunto composto por todos esses equipamentos passou a ser identificado como tecnologia de informação, ou TI. Quando a Internet chegou às escolas, junto com computadores em rede, a World Wide Web, o e-mail e as ferramentas de busca, uma nova expressão foi cunhada: TICs, as iniciais de

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tecnologias de informação e comunicação, referente à pluralidade de tecnologias (equipamentos e funções) que permitem criar, capturar, interpretar, armazenar, receber e transmitir informações (Anderson, 2010).” (LEITE; RIBEIRO, 2011, p.3)

Com o passar do tempo e o desenvolvimento tecnológico, as instituições educacionais de todos os níveis sentiram necessidade de adicionar mais uma letra à sigla, para que o recorte de equipamentos se torne cada vez mais específico. Então, as TDIC's a que nos referimos são as Tecnologia Digitais de Informação e Comunicação sendo que digital, nesse contexto, significa tudo que se mostra por uma tela ou ecrã e que diz respeito a aparelhos eletrônicos, portáteis - ou não - e que tenham

conexão

com

a

internet.

Sobre

o

uso

dessas

tecnologias

na

prática pedagógica, Almeida e Silva (2011, p.5) afirma:

“[...] A escola, que se constitui como um espaço de desenvolvimento de práticas sociais se encontra envolvida na rede e é desafiada a conviver com as transformações que as tecnologias e mídias digitais provocam na sociedade e na cultura, e que são trazidas para dentro das escolas pelos alunos, costumeiramente pouco orientados sobre a forma de se relacionar educacionalmente com esses artefatos culturais que permeiam suas práticas cotidianas. “

Conforme a tecnologia foi evoluindo, pudemos perceber um movimento quase natural

de

campanhas

de

acessibilidade

idealizadas

por

organizações

governamentais e grandes empresas que visam facilitar o acesso às tecnologias e ensinar a população a utilizá-las. Em consequência às campanhas, o acesso às tecnologias foi facilitado até que atualmente é comum o uso de dispositivos móveis por pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais, inclusive na sala de aula. No período entre 2005 e 2011, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística fez uma pesquisa por amostra de domicílio no Brasil e concluiu que o uso pessoal de aparelhos celulares por pessoas maiores de dez anos cresceu 107,2%. Nesse mesmo período também cresceu o número de acessos à internet, com uma taxa de 143,8% de aumento (IBGE, 2013). Nesse contexto desarticulado, as instituições de grande porte adquirem muitas tecnologias, tentando se adaptar a este novo cenário, porém não forma nenhum profissional qualificado para utilizá-las ou supervisionar o uso para que os alunos e a

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comunidade possam aproveitar seu máximo potencial de produção. Ainda sobre o mesmo tema, Valente (2005, p.23) questiona: “E a questão fundamental é recorrente: sem o conhecimento técnico será possível implantar soluções pedagógicas inovadoras e vice-versa; sem o pedagógico, os recursos técnicos disponíveis serão adequadamente utilizados? ”

2.2 EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA Para este artigo, chamaremos de educação superior todos os cursos ministrados em universidades os quais podem ser de graduação (nas habilitações de bacharelado e licenciatura), pós-graduação (especializações, mestrado e doutorado) e de extensão. As Instituições Educacionais (IEs) que oferecem os cursos citados anteriormente são divididas em particulares (87,4%) e públicas (12,6%). Em 20143, foram mais de 7,8 milhões de matrículas na graduação e no ensino sequencial, sendo que desse total, 74,9% são das instituições privadas. Ainda nesse mesmo ano, em comparação

com

2013,

a

matrícula

em

cursos

à

distância

aumentou

16,3%. Considerando esse contexto, o art. 43 da Lei 9.394 de 1996 prevê os objetivos do ensino superior para a sociedade:

“I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;

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BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo da Educação Superior 2014 – Notas Estatísticas. Disponível em: . Acesso em: 20 abr.2017.

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V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização de pesquisas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº 13.174, de 2015) “

O número de matrículas nos cursos de bacharelado mantém predominância (67,6%) sobre os cursos de licenciatura. Nesses, o público feminino se destaca na atividade discente e o público masculino na docente. A média de idade de admissão nos cursos presenciais é de 21 anos, enquanto na educação à distância é de 32 anos. Falando em educação a distância, ainda em 2014, o Brasil atingiu uma marca onde 17,8% de todas as matrículas no ensino superior foram na modalidade à distância. O que justifica uma demanda maior de sistemas inovadores de aprendizagem e que mantenham o interesse do aluno evitando assim a evasão escolar. Ao falar sobre o aluno moderno é interessante nos focarmos em duas classificações que falam muito sobre o contexto discente no mundo acadêmico. Ainda, é importante considerar, Mattar (2010) defende que nosso sistema educacional não foi projetado para esse novo modelo social. Nesse sentido, Mark Prensky (2007) propõe que, na atualidade, podemos dividir a população em duas classificações segundo sua relação com a tecnologia. Prensky classifica como Nativos Digitais as pessoas nascidas após o advento das tecnologias digitais e que muitas vezes substituem o uso do papel em suas atividades cotidianas. Essa geração tem algumas características próprias que podem ser observadas, como, grande facilidade na utilização de ferramentas digitais, um bom desenvolvimento de raciocínio lógico e processamento de informações (as quais não são necessariamente aprendidas em modo linear). Ainda, podemos perceber que são pessoas visuais, conectivas e muito ativas.

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Já os Imigrantes Digitais, nascidos na geração anterior às tecnologias digitais, ainda resistem um pouco ao uso da tecnologia. Essa geração viu de perto a invenção e evolução dessas tecnologias, mas só teve acesso a elas durante a fase adulta. Sendo assim, a grande maioria apresenta leve dificuldade em se adaptar ao mundo tecnológico. Nas universidades, como visto anteriormente nos dados do Censo de Educação Superior, é comum o professor se deparar com as duas realidades unidas em uma só sala de aula e que muitas vezes ainda é diferente da realidade do próprio professor, o que pode dificultar ou enriquecer o trabalho do docente conforme sua criatividade e habilidade de planejar algo levando em consideração os mais diversos perfis em sala. 2.3 APROPRIAÇÃO TECNOLÓGICA A educação brasileira como um todo está passando pelos processos de apropriação pedagógica das TDIC’s. É importante para a comunidade escolar analisar cada uma das etapas que formam esse processo e reconhecer em qual delas sua comunidade acadêmica está inserida. Conforme Sandholtz, Ringstaff e Dwyer (1997), os processos de apropriação tecnológica são:



EXPOSIÇÃO: A exposição diz respeito a adaptações de infraestrutura, na

gestão e organização do espaço físico. •

ADOÇÃO: Nessa etapa, a preocupação é incluir as tecnologias aos planos

educacionais já existentes e o corpo docente tira suas conclusões conforme os resultados tirados da experiência. •

ADAPTAÇÃO: Os alunos nessa fase começam a ficar mais interessados e o

nível de fixação do aprendizado e de produtividade vai aumentando conforme o uso das tecnologias se torna mais frequente. •

APROPRIAÇÃO: O professor já consegue, nesse período reconhecer quais

tecnologias são mais apropriadas ao seu uso e já utiliza ferramentas sem muita dificuldade.

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INOVAÇÃO: No fim do percurso, o professor já é capaz de criar sozinho novos

padrões educacionais baseando-se nas tecnologias disponíveis para isso. Já para Sánchez (2002) a apropriação ocorre em três níveis. No primeiro o professor deve aprender sobre as TDIC’S (no geral), o segundo nível diz respeito a utilizar a tecnologia em alguma atividade, mas sem uma intencionalidade quanto a aprendizagem e o terceiro nível é onde as TDIC’S já se encaixam no currículo num formato onde os objetivos de incluí-la são bem entendidos por toda a comunidade educacional. Toda mudança no âmbito educacional cria uma demanda de transformação no currículo. No caso da educação superior, percebe-se uma independência maior das IE’s o que permite que elas trabalhem com mais liberdade seus conteúdos. 2.4 MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA E AVALIAÇÃO EM TECNOLOGIA A mediação pedagógica para uso das tecnologias no ensino superior visa identificar elementos para o planejamento levando em consideração o objetivo de toda a disciplina e aprendizagem, além do objetivo universal do nível educacional em que se encontra. Nessa classificação, segundo Tajra (2002), temos as tecnologias físicas (livros, mapas, cartazes, computadores), as tecnologias simbólicas que significa que a aprendizagem será a partir da utilização de mídias diversas (escrita, pictórica, oral e etc.), as tecnologias organizadoras são as dinâmicas que promovem a aprendizagem (estratégias utilizadas) e as tecnologias assistivas (voltadas às pessoas com necessidades especiais). Uma das marcas registradas do ensino superior é a infraestrutura que as instituições oferecem aos seus alunos, isso se dá graças ao Inc.III do artigo 43 da lei 9.394 de 1996 que ressalta o incentivo a pesquisa, a investigação científica e o desenvolvimento da ciência e tecnologia dentro das universidades. Com base nesse contexto, podemos imaginar que na educação superior, o uso de tecnologias que podem ajudar no desenvolvimento científico deve ser monitorado para ser atualizado conforme as necessidades do ambiente educacional e a evolução

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das ferramentas tecnológicas. Mas como avaliar isso? E ainda, existe alguma legislação que padronize a avaliação? No planejamento da disciplina, as instituições educacionais e comunidade docente devem sempre estar cientes do contexto social em que o aluno está inserido e levar isso para sala de aula, tanto na educação básica, quanto na superior. Nesse sentido, o professor deve reconhecer a linguagem própria dessas tecnologias para poder assim, dialogar mais facilmente com seu aluno utilizando essa comunicação para estimular o aprendizado. Segundo Silva (2000): [...] um diálogo constante entre professor-aluno, tendo como objetivo principal estimular o discente a comunicar suas sensações e experiências. A educação voltada para os meios deve – através de alguns conhecimentos básicos da linguagem imagética – contribuir para o desenvolvimento e a participação ativa da criança na sociedade.

Após definir itens de contexto social a incluir no modo como a tecnologia será utilizada, é importante que o professor reflita sobre metodologias e recursos disponíveis para sua aula. Em recursos, o professor deve analisar o que a escola dispõe de infraestrutura para sua aula e em metodologia o que o docente se sente apto a fazer com o conteúdo e seus alunos e de que forma ele fará os dois dialogarem entre si para gerar o aprendizado.

Contexto

• Onde seu aluno vive? • Ele tem acesso às TDIC's fora da sala de aula? • Com que frequência ele utiliza essas tecnologias fora da sala de aula?

• Você precisa deslocar a turma para incluir as tecnologias na sua atividade docente? • Quais equipamentos você precisa para a sua aula? Infraestrutura • Esses equipamentos estão disponíveis na instituição?

• Quanto tempo de estudo você precisa para utilizar todas as funções que a tecnologia oferece? • Quais são as novidades trazidas pela última versão? Você saberia utilizálas?

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É importante ressaltar aqui que a escola precisa se adaptar à tecnologia em todos os níveis, sendo assim, tanto a aprendizagem dos alunos e currículo dos cursos quanto a avaliação devem ser repensadas para que nativamente sejam adaptáveis às tecnologias. Sobre a avaliação, faz-se necessária a reflexão sobre seu significado e seus objetivos, sua função na comunidade acadêmica. Both (2012) traz em sua pesquisa as finalidades da avaliação, considerando que ela se preocupa com a progressão escolar: •

Explorar os caminhos que levam à aprendizagem.



Observar e perceber a qualidade de desempenho.



Facilitar a aprendizagem.



Identificar em que nível está a aprendizagem.



Colher informações a respeito do rendimento escolar.



Zelar para que a aprendizagem aconteça para todos.



Estimular os atos de ensinar e de avaliar como processo simultâneo.

Podemos caracterizá-la basicamente em dois tipos, a somativa e a formativa. [...] a avaliação formativa visa identificar o desempenho do aluno a partir de exigências educativas pedagógico-processuais, ao passo que a somativa faz uso de formalidades quali-quantitativas demonstradas por meio de instrumentos e de seus resultados estatísticos, com o propósito de identificar se o aluno está apto a dar continuidade em seus estudos ou se terá de repetilos no período seguinte. (BOTH, 2012)

Na prática pedagógica, é comum vermos sempre os mesmos modelos de avaliação. Na avaliação formativa se destacam os modelos de: observação, conselho pedagógico, estudo de caso, seminário, debate, trabalho em grupo e/ou relatório individual. Já na avaliação somativa é comum observarmos testes e instrumentos padrões que são utilizados para fins estatísticos e educacionais, geralmente de múltipla escolha. No contexto tecnológico, podemos perceber a união dessas duas formas de avaliação, tanto a somativa quanto a formativa, já que os processos de avaliação são aplicados de diferentes maneiras em um mesmo sistema e como eles são capazes de armazenar dados, os alunos não precisam necessariamente finalizar o trabalho em

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apenas uma aula. O que torna a avaliação mais funcional do ponto de vista pedagógico, porque ela pode ser utilizada como forma de acompanhamento da aprendizagem do aluno e não só um parâmetro para “medir” a fixação do conteúdo. Ainda assim, as pesquisas no campo são muito obscuras quando o assunto é inovar na aplicação e avaliação à distância ou com uso de tecnologias.

2.5 METODOLOGIA

A pesquisa irá se basear no trabalho já concluído por Santos (2011), no qual ele faz análise de um curso de Licenciatura em Música de uma instituição pública, explorando suas necessidades e dificuldades na implementação de TDIC’s em seu método. Na análise de contexto de instituição o estudo baseia-se no Método V de Avaliação e Planejamento de González González et al. (2004) para estudo da documentação do curso. Segundo Mateiro (2009, p.58), o método se fundamenta em três níveis de análise: superestrutura (o que é esperado), estrutura (como é) e infraestrutura (condições atuais). Ainda, a autora explica: O nível da superestrutura tem como finalidade definir, delimitar e situar o referente institucional. O núcleo de um programa acadêmico deve incluir as intenções, missão, objetivos e finalidades, projeto geral de desenvolvimento, concepção do processo de ensino e aprendizagem, perfil do egresso compreendendo elementos de informação, formação e capacitação, e os resultados gerais. No nível da estrutura se analisam os aspectos estruturais do processo educativo: a forma como se organiza o processo ensino e aprendizagem, considerando professores e alunos; a relação entre programa curricular, linhas e projetos de pesquisa, ações de divulgação, extensão e vinculação; e aspectos acerca de normas e resultados do processo educativo. No nível da infraestrutura se pretende buscar a relação entre os recursos existentes com a proposta dos programas. Através da avaliação diagnóstica se espera conhecer as normas e responsáveis por elaborar, administrar, designar, distribuir e efetuar o orçamento e, ao mesmo tempo, conhecer o estado de uso, manutenção, suficiência e administração da infraestrutura. Além disso, espera-se avaliar a adequação das condições de trabalho oferecidas para o desenvolvimento das funções universitárias – docência, investigação, extensão, integração –, e o correto desempenho de seus atores – professores e estudantes.

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Essa análise detalhada dá a premissa de como o curso é organizado e assim, entender seus princípios e objetivos com mais claridade. Para completar o estudo, precisamos ainda entender a comunidade que compõe o curso. Para entrevistas com alunos e professores, serão utilizados questionários baseados nos utilizados por Santos (2011) com perguntas quantitativas com a inclusão de algumas perguntas qualitativas. Para este trabalho, analisaremos o nível de superestrutura, nos baseando em dois documentos que foram cedidos pela coordenação do curso de especialização, referente ao planejamento institucional das duas turmas do curso.

2.6 SOBRE O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO

Criado em meados de 2015, o Curso de Tecnologias Sonoro-Musicais ofertado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná no Campus Curitiba propõe: Capacitar os acadêmicos e profissionais da música, da comunicação e áreas correlatas ao uso das tecnologias sonoro-musicais; expandir e aprofundar os conhecimentos que tais acadêmicos e profissionais possuem a respeito de produção musical, desenho de som e tecnologias aplicadas à educação musical; experimentar técnicas avançadas de produção sonoro-musical, desenho de som para projetos audiovisuais e novas tecnologias aplicadas à educação musical. (PUCPR, 2015, [p.1])

A justificativa apresentada pela universidade para a criação desse curso baseia-se em um aumento significativo do mercado da área sonora, o que desencadeou várias mudanças na profissão de produtor musical e enfatizou a necessidade de capacitar tecnicamente pessoas para trabalhar nesse meio. Até a produção deste trabalho, o curso passou por duas turmas. Entre uma e outra houveram diferenças em algumas disciplinas, tanto no quadro de professores, quanto na ementa e nos modelos de avaliação. A grade curricular do curso é diversa, porém apresenta ênfase em três áreas: produção musical, desenho de som e tecnologias aplicadas à educação musical.

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2.7 ANÁLISE DE ASPECTOS – SUPERESTRUTURA

O primeiro aspecto a ser analisado são os objetivos apresentados pelo curso. Segundo o parecer C.E.Su (Capes, 1965), os cursos de especialização e aperfeiçoamento: Tem objetivo técnico profissional específico sem abranger o campo total do saber em que se insere a especialidade. São cursos destinados ao treinamento nas partes de que se compõe um ramo profissional ou científico. Sua meta, [...] é o domínio científico e técnico de uma certa e limitada área do saber ou da profissão, para formar o profissional especializado. (BRASIL, 1965, p.4)

Infelizmente, o único arquivo disponível que declara exatamente o que deveriam ser os objetivos do curso de pós-graduação é de 1965, citado acima. Sabendo dos objetivos fundamentais garantidos por lei para a especialização em conjunto com a proposta da universidade para o curso de Tecnologias SonoroMusicais (citada no capítulo anterior), é possível analisar detalhadamente o quadro geral de matérias do curso. Durante a análise, pudemos notar uma discrepância entre as três áreas de atuação da especialização. Em primeiro lugar, temos as matérias com ênfase em Produção Musical que totalizam 144 horas, em seguida, Desenho de Som que totalizam 136 horas e por último Tecnologias Educacionais, com apenas 32 horas. Como no gráfico a seguir:

HORAS POR ÁREA Produção Musical

Desenho de Som

Tecnologias Educacionais

29%

33%

7%

31%

Conhecimentos Gerais

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Ainda, é importante fazer referência a um detalhe mostrado na próxima tabela, que indica que três disciplinas da grade fazem um intermédio entre Produção Musical e Desenho de Som. No projeto de curso, essas matérias já foram formuladas para aderir tanto uma área quanto a outra. DISCIPLINAS ESPECÍFICAS Fundamentos de Áudio Psicoacústica e Elementos da Música Tecnologia em Produção Musical Desenvolvimento da Produção Musical Tecnologias de Som Direto e Produção de Efeitos Sonoros Tecnologias Aplicadas à Educação Musical Aspectos Narrativos do Som Engenharia de Som e Mixagem Audiovisual

ÁREAS Produção Musical / Desenho de Som Produção Musical / Desenho de Som

DURAÇÃO (em horas) 24 24

Produção Musical

40

Produção Musical

24

Desenho de Som

32

Tecnologias na Educação

32

Desenho de Som

24

Produção Musical / Desenho de Som

32

Total

232 Além das disciplinas específicas do curso, a universidade tem ainda um

conjunto de disciplinas obrigatórias e que não necessariamente são específicas da área de formação. Seriam disciplinas de área comum da escola onde o curso está inserido, no caso, a Escola de Comunicação e Artes e as disciplinas de área comum dos cursos de pós-graduação, no caso, Pesquisa e Ética. DISCIPLINAS GERAIS Planejamento Estratégico Pesquisa em Comunicação e Artes Seminários Avançados Mostra Ética Total TOTAL GERAL DE HORAS

DURAÇÃO (em horas) 24 24 57 8 15 128 360

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a análise do programa acadêmico, a pesquisa trazida neste artigo, chama a comunidade acadêmica a pesquisar os outros níveis propostos no Método de González que estudariam os níveis de estrutura e infraestrutura do curso. Passando por planejamentos dos professores, infraestrutura cedida pela universidade para o uso durante as disciplinas do curso. Neste artigo, não conseguimos abranger o contexto dos alunos e professores do curso. Sendo necessária ainda uma entrevista com os envolvidos para que possamos entender melhor como se deu a apropriação pedagógica no curso de especialização. Ainda, é importante ressaltar que essa pesquisa tem seu escopo em diversas áreas do conhecimento e é possível analisa-la de várias formas diferentes.

REFERÊNCIAS

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celular,

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Tecnologias

Sonoro-Musicais.

Projeto

de

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Especialização

em

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Tecnologias

Sonoro-Musicais.

Projeto

de

curso:

Especialização

em

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