Práticas-Funerárias-no-Mediterrâneo-Romano.pdf

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©2016 Luciane Munhoz de Omena; Pedro Paulo A. Funari (Orgs.) Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

P9699 Práticas Funerárias no Mediterrâneo Romano/Luciane Munhoz de Omena; Pedro Paulo A. (Orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: 2016. 228 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-462-0463-2 1. Morte 2. Memória 3. Roma 4. História. I. Omena, Luciane Munhoz de. II. Funari, Pedro Paulo A.

CDD: 900 Índices para catálogo sistemático: Roma História antiga

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Aos estudiosos da arqueologia da morte

Agradecimentos Agradecemos aos autores do volume, assim como o apoio institucional do Departamento de História da Unicamp, do Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte da Unicamp, da Faculdade de História da UFG, da FAPEG\CAPES, do CNPq e da Fapesp. Sem isso, a concretização deste livro não seria possível.

Ninguém haverá que me chore depois de morto? Nem um curto momento sobreviverá a minha alma com as lágrimas da minha esposa caindo em minhas faces? Não farei recomendações? A mão amiga não fechará com o último grito meus olhos esvaecidos? Pois bem a terra estrangeira cobrirá sem funerais, sem a homenagem de um túmulo, este corpo não pranteado? (Ovídio. Tristia III, III, 1, 2, 3. Tradução de Augusto Velloso)

Sumário Apresentação

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Prefácio

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Capítulo 1 Aspectos legais do mundo funerário romano

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Capítulo 2 Monimenta mortuorum: memória e religião em dois monumentos ciceronianos

47

Capítulo 3 Tecendo o fio entre memória e morte à luz do tumulus de Otávio Augusto

69

Luciane Munhoz de Omena e Pedro Paulo A. Funari

Airton Pollini

José Remesal Rodríguez

Cláudia Beltrão da Rosa

Luciane Munhoz de Omena e Pedro P. A. Funari

Capítulo 4 Lápides funerárias e ritos de passagem entre os romanos no início do principado: o que a morte pode nos dizer sobre a vida?

105

Capítulo 5 El monumento funerario del veterano L. Poblicio (colonia s. I d.C.) y la cultura literaria de los soldados romanos en el Alto Imperio

125

Renata Senna Garraffoni

Darío N. Sánchez Vendramini

Capítulo 6 A morte no apocalipse

147

Capítulo 7 Práticas funerárias e martírio: morrendo pela fé cristã e enterramento como lugar de memória na concepção de Prudêncio

171

Capítulo 8 As relíquias dos mártires como esteio dos bispos: Melécio e o culto de Bábilas em Antioquia (séc. IV)

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Dados dos autores

225

Maria Aparecida de Andrade Almeida e Pedro P. A. Funari

Ana Teresa Marques Gonçalves

Gilvan Ventura da Silva e Érica Cristhyane Morais da Silva

Apresentação “Por que em meus versos viva após eu morrer.” “Versibus ut nostris etiam post funera uiuat.” (Catulo. Epigrama. 68, 47. Trad. João Angelo Neto)

A morte é a única certeza na vida e, segundo alguns, a preocupação com a lembrança do morto está lá no início do ser humano como espécie. O enterramento, nos primórdios do homo sapiens, seria a marca da humanidade preocupada em perenizar, de alguma forma, a vida dos que se foram. Neste volume, congregamos estudos que se utilizam da cultura material, em junção com a tradição literária, para o estudo do mundo romano. Se é verdade que o monumento funerário está nas origens mais antigas da humanidade, em Roma essa preocupação foi eternizada não só por extensa produção literária, como pela ubiquidade dos monumentos funerários, muitos deles com relevos e inscrições riquíssimos em informação. Recolhemos, aqui, alguns estudos que procuram refletir sobre esse tema, a partir de uma pesquisa de pós-doutoramento de Luciane Munhoz de Omena, com financiamento FAPEG/CAPES, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade de Campinas/UNICAMP, sob a supervisão de Pedro Paulo A. Funari, sempre na inter-relação entre as evidências materiais e literárias. A epígrafe, no início desta apresentação, sugere que os contemporâneos de Catulo apreciavam a perenidade, inclusive dos monumentos funerários, tornando evidentes, desta feita, as atitudes e aspirações de cidadãos e não cidadãos romanos, pois, assim como pressupomos, a própria localização e visibilidade dos túmulos englobavam a produção social de memória. Transformavam-se em modelos sociais, já que, de fato, os túmulos representavam um corte transversal visual não de todos os habitantes, porém de um coletivo diferenciado de indivíduos e grupos, que ressignificavam os valores sociais. Sabemos, deste modo, que muitos mortos 11

Luciane Munhoz de Omena Pedro Paulo A. Funari (Orgs.)

eram jogados em valas comuns, por não estarem relacionados ao modelo do collegium, às associações com suporte financeiro, que estimulavam, em termos efetivos, patronos ricos e chefes de famílias numerosas a encorajar o enterro de seus membros servis ou libertos em columbários, como, por exemplo, o Columbarium de Pomponius Hylas, em Roma. As leis romanas tentavam regularizar os funerais e as inscrições para a cidade de Roma, tal como Lucius Sentius, filho de Caius, pretor, regulamentou, por decreto do Senado, a localização das sepulturas (Cil 1, 839 apud Hope, 2007: 131), sugerindo, dessa forma, que as leis existiam para evitar que as pessoas jogassem cadáveres nas ruas e, igualmente, para proteger áreas suburbanas a serem usadas para esse fim; ademais, as leis destinavam-se à proteção de proprietários de terras que, como informa Rodríguez (ver nessa coletânea, 2016), poderiam sofrer a ação de um inumador fraudulento que, em função da sacralidade da tumba, quisesse beneficiar-se. Nota-se, portanto, que o direito pontificial prescrevia o enterramento dos cadáveres apenas em espaços autorizados e, com isso, havia a tentativa de coibir a ação ilegal de enterradores. Como se percebe, os sepultamentos e seus monumentos funerários não representavam, em sua totalidade, a população completa das cidades; entretanto, a experiência social da morte e suas respectivas simbologias exigem do pesquisador um arcabouço disciplinar envolvendo, deste modo, a inter-relação com o Digesto, atribuído a Apiano, com os testemunhos dos edifícios funerários, os epigráficos, as pinturas parietais, a presença de mosaicos de chão e de parede, tal como se verifica em alguns túmulos localizados na Isola Sacra, em Óstia; bem como com os diversos gêneros textuais, a exemplo de Catulo, Prudêncio, Tácito, Sêneca, entre outros, que exploram a temática mortuária associando-a aos aspectos filosóficos, religiosos e políticos. Isso se torna significativo à medida que Sêneca, por exemplo, como supomos, construiu imagens da morte a partir da condição do cidadão aristocrático na aula romana, que morre em termos simbólicos, já que deixa 12

Práticas Funerárias no Mediterrâneo Romano

de participar da vida em coletividade. Passa, em outras palavras, a não compartilhar das coisas comuns à comunidade. Na percepção de Sêneca, a morte social estaria vinculada às práticas de exílio, aos latrocínios públicos, às guerras, à morte voluntária e, em especial, à ausência dos rituais fúnebres e à exacerbação do luto prolongado (Sêneca. Ad Marciam de Consolatione; Ad Helviam de Consolatione). O falecimento de Metílio, filho de Márcia, aristocrata romana, seria uma mors opportuna, pois, segundo a argumentação do filósofo Sêneca, mesmo o considerando jovem, a morte precoce o livrou dos malefícios da política imperial (Sêneca. Ad Marciam de Consolatione XX, 5 ou XXIV, 2, 3). Partindo dessas premissas, a morte social vinculava-se ao temor de destruição que, de fato, reduziria o indivíduo ao esquecimento. Por isso, a produção de memória social associava-se à divulgação de imagens, ou mesmo à destruição da reputação de um cidadão ocorrida, por exemplo, com a remoção de estátuas e imagens, à exclusão do nome nas inscrições públicas, à proibição do luto e à exposição da imagem do condenado à damnatio memoriae em futuros funerais da família. É interessante notar que a morte social relacionava-se ao discurso filosófico que, aliado à conduta do cidadão, produziria exempla direcionados à construção da comunidade cívica. Concordamos, deste modo, em especial, com o artigo de Ana Teresa Marques Gonçalves, denominado “Práticas funerárias e martírio: morrendo pela fé cristã e enterramento como lugar de memória na concepção de Prudêncio”, presente nesta coletânea, ao relatar que nos textos de Prudêncio há uma necessidade de vincular a morte aos exempla de condutas sociais dos mártires. A morte do mártir, ao enfrentar qualquer suplício, o colocava na condição de testemunha heróica e, por consequência, divulgador da fé cristã. Cria-se, então, a partir do discurso filosófico, tanto na cultura latina quanto na cultura cristã, a morte como modelo exemplar de conduta social. Posto isto, as análises sobre representações mortuárias e suas simbologias na sociedade romana são recentes, pois, como temos percebido, a historiografia brasileira centra-se, em grande parte, nas pesquisas sobre as representações da morte em outros períodos históricos, sendo os estudos sobre a Antiguidade representados, 13

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em grande parte, pela historiografia inglesa, norte-americana, francesa, italiana, espanhola e alemã. Além do pouco interesse, a nosso ver, no que se refere aos Estudos Clássicos no Brasil, a morte e suas simbologias associam-se às análises da História Cultural com ênfase na História dos Imaginários e seus sistemas simbólicos, que, produzidos socialmente, constroem identidades ligadas ao gênero, ao status, às idades, às riquezas, entre outros. Além disso, o estudo vincula-se à História das Sensibilidades, já que a materialidade do corpo contribui para criar significados individuais e coletivos, pois, tal como propõe Grahan (2011: 24-29), o corpo passa por alterações detectáveis, como o processo de putrefação; com isso, apresenta um significado ao tratamento do corpo que reconceitualiza a identidade da vida, à medida que o corpo sofre alterações detectáveis e afetam os sentimentos dos vivos. Assim, entendemos que o cuidado com o corpo e a associação com as funções do funeral estariam correlacionadas ao processo de reintegração dos enlutados e, em especial, atuavam na separação entre os vivos e os mortos. Tal percepção nos permite supor que os rituais reuniam diferentes grupos da sociedade e reforçavam os papéis sociais na exploração de uma identidade compartilhada entre seus membros, que, embora apresentassem motivações e interesses distintos, demonstravam a relevância social dos valores e das crenças atribuídas à simbologia da morte. Guiando-se, então, por este raciocínio, a produção da coletânea intitulada Práticas funerárias no mediterrâneo romano tornou possível o diálogo entre pesquisadores de instituições nacionais e internacionais. Assim, como já esperado, a partir de reflexões críticas e atualizadas, brindaremos o público com as belíssimas paisagens mortuárias da sociedade romana. Luciane Munhoz de Omena Pedro Paulo A. Funari

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