Praxe Académica da Universidade de Coimbra

September 13, 2017 | Autor: Rita Sá Marta | Categoria: Patrimonio cultural inmaterial
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Ver convenção no site http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf acedido no dia 5 de Janeiro de 2011. Ver igualmente decreto de lei aprovado pelo Conselho de Ministros em http://bo.io.gov.mo/bo/i/98/38/decretolei49.asp?printer=1 acedido no dia 9 de Janeiro de 2011.
Esta lei poderá ser visualizada no seguinte interesse: http://www.dgarq.gov.pt/files/2008/10/107_2001.pdf acedido no dia 11 de Janeiro de 2011.
Professor de História e História da Arte.
Designação de Professor Universitário no âmbito académico.
Designação de Pessoas não pertencentes à Academia de Coimbra

Segundo o actual CPUC artigo 248º e a carta de alforria é um documento redigido em latim macarrónico pelo qual o MCV exime um caloiro das sanções da Praxe a que possa estar sujeito. O Artigo 250º do mesmo código diz que a carta de alforria só pode ser concedida a caloiros que tenham prestado relevantes serviços à Academia.
Ver imagem do símbolo do MCV em Anexos
Ver em anexos alguns cartazes da Queima das Fitas
A palmatória foi o mais importante instrumento punitivo usado pelos Veteranos da Universidade de Coimbra até à Revolução de 1910. Intimamente associada às imagens disciplinares do ensino da gramática e primeiras letras pelos mestres, a chibata e a palmatória em formato de espátula ocorrem na iconografia medieval como símbolos de um dos saberes das Artes Liberais, a Grammatica.
Artigo 97 do Actual Código da Praxe
Ver artigo 267º do actual código da Praxe
Ver artigo 269º do actual Código da Praxe
Estatutos da Universidade de Coimbra (1653), edição fac-similada, Coimbra: por ordem da Universidade, 1987, pág. 139. Também citado por António Nunes, "Subsídio para o estudo genético-evolutivo do Hábito Talar na Universidade de Coimbra" (in Universidade(s) - História, Memória, Perspectivas, vol.3, Coimbra, 1991, págs. 399-419), pág. 407; e por Alberto Sousa Lamy, A Academia de Coimbra, pág. 649 e seg.
C.P.A.C 1957 artigo 16º
Idem artigo 275º
Idem artigo 73º
Palito Métrico" é uma colectânea de poemas, cartas e recomendações escritas em latim macarrônico, assinado por António Duarte Ferrão, pseudónimo atribuído a um presbítero secular, o padre João da Silva Rebello (1710-1790), doutor em Teologia ou Cânones pela Universidade de Coimbra
Os caloiros são enfreiados e albardados, montados por diversos Veteranos esporeados nos flancos, chicoteados, devendo zurrar, atirar pinotes, trotar.
Os caloiros são pintados com bigodaças, ornados com chifres e toureados com farpas (mocas, palmatórias), passes de capas, devendo raspar as mãos no chão, mugir ruidosamente e mastigar a palha ou erva.
Os caloiros são alvo de troças chocarreiras, insultos alusivos a familiares, traços fisionómicos, vestuário, penteado, eventuais defeitos físicos, sendo no fim mimoseado com uma alcunha que o passava a identificar ao longo de todo o seu percurso académico
A república é o conjunto de estudantes- um número variável entre 8 a 12 elementos que vivem em comunidade doméstica. Pelo código da Praxe Académica de Coimbra, as Reais-Republicas podiam ser não oficializadas, as que não estavam autorizadas a usar o nome de república, e oficializadas, as que tinham existência reconhecida pela Praxe.
Caloiro é o aluno que frequenta pela primeira vez o primeiro ano de qualquer Faculdade de Coimbra, para o filólogo Dr. João Ribeiro o vocábulo caloiro teria origem na expressão vem cá, loiro que mais tarde deu origem a caloiro, o loiro era um pássaro ou papagaio verde da tradição. O caloiro não pode usar pasta da Praxe ou qualquer outro modelo, se a usasse seria capturada e ser-lhe-ia aplicada uma sanção de unhas.
Artigo 203º h) do Código da Praxe da Universidade de Coimbra de 2007
Caixão funerário
Artigo 223º do Código da Praxe da Universidade de Coimbra de 2007
Artigo 228º Código da Praxe da Universidade de Coimbra de2007
Artigo 229º Código da Praxe da Universidade de Coimbra de2007
Maria Eduarda Cruzeiro, ob.cit,837, nota 107.
Artigo 157º b) do Código da Praxe da Universidade de Coimbra de 2007
Artigo 89º do Código da Praxe da Universidade de Coimbra de 2007
Aos Veteranos e só a estes, é permitido mobilizarem para trabalhos domésticos, se estes se efectuarem em suas casas e em proveito próprio
Era dado o nome de "Decano"
Para alguns autores primeiro livro de caricaturas tem a data de 11 de Junho de 1903, ano dum folheto contendo 10 caricaturas de quartanistas da faculdade de direito entre quais Alberto António da Silva Costa, O Pad Zé, outros afirmam que o primeiro livro só apareceu em 27 de Maio de 1925, e foi lançado pelo curso do 4º ano médico de 1924/1925.
Natural de Albergaria-a-Velha, era um estudante bastante popular que era conhecido pelo seu diminutivo de Xandre, formou-se em direito, quando se deu a implantação da República, foi demitido de contador de Relações de Lisboa. Foi presidente da Câmara Municipal de Estarreja e bateu-se em duelo com Afonso Costa
Ver imagens em Anexos
Cavalo robusto, de marca pequena.
Conflito que se travou, em 1º lugar, entre os estudantes e a polícia, depois entre os estudantes e os futricas e, finalmente, entre os estudantes e a Guarda Nacional Republicana. Tudo começou quando a policia, às ordens do comissário Floro Henriques, agrediu académicos, que se defenderam, no Teatro Avenida, num espectáculo efectuado na noite de Sábado, 24 de Maio. Na tarde de 28 de Maio veio a dar-se o acontecimento que havia de designar este grave conflito de Maio de 1913. Sucedeu que o tenente que comandava a G.N.R. foi almoçar a um restaurante da Alta, deixando o boné da farda pendurado num bengaleiro. O estudante madeirense Sebastião Fernandes não esteve com meias medidas e, sub-repticiamente, apoderou-se do dito boné, conquista de que teve conhecimento imediato a Academia. Foi o delírio! Por toda a noite do dia 28, e no da seguinte, Quinta-feira, os apupos e as troças dos estudantes à G.N.R. choveram por todos os lados.

As Latadas surgiram com o objectivo de enervar e aborrecer os colegas estudiosos. Os estudantes da Faculdade de Direito e de Teologia terminavam mais cedo as aulas e levavam a cabo festejos ruidosos no dia do ponto, de noite apos o ultimo toque da cabra, até de madrugada, com o objectivo de arreliar os académicos das outras faculdades( Medicina, Matemática e Filosofia) que ainda não tinham terminado o seu ano académico e precisavam de estudar. Arrastavam baldes, banheiras, bidés, caçarolas, latas, latinhas ou latões, tachos, chocalhos, tambores, cornetas e durante três noites sucessivas. No dia 27 de Maio efectuava-se a tradicional Queima das fitas, e a Festa das latas era durante essa tarde. Os caloiros eram aparelhados a uma lata que estava ligada por um arame, apareciam na porta férrea ao principio da tarde. Partiam daí numa carreira vertiginosa pela rua Larga até ao largo Miguel Bombarda. Durante este percurso, os doutores que tinham bengalas, batiam nas latas, se esta caísse o caloiro ficava sujeito ás Praxes que regiam os caloiros até ao fim do ano lectivo.
Elísio de Azevedo e Moura (Braga, 30 de Agosto de 1877 — 18 de Junho de 1977 (99 anos) foi um médico psiquiatra português e primeiro bastonário da Ordem dos Médicos. Elísio de Moura notabilizou-se no ensino e investigação da Psiquiatria e Neurologia, tendo contribuído, no início da República, para a manutenção do ensino da Medicina na Universidade de Coimbra, que estava em risco de passar para as novas Universidades de Lisboa e Porto.

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Ana Rita Rigueira Montezuma de Sá Marta



Património Mundial
A Praxe Académica da Universidade de Coimbra










Trabalho elaborado no âmbito do Seminário de Instrumentos Jurídicos e Financeiros – Doutora Matilde Lavouras

Mestrado de Política Cultural Autárquica
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra 2010/2011


Agradecimentos
Embora este trabalho, pela sua finalidade académica seja um trabalho de carácter individual, há auxílios de natureza diversa que não podem nem devem deixar de ser destacados. Por essa razão, desejo expressar os meus sinceros agradecimentos:
Ao Doutor Reis Torgal e ao Doutor Elísio Estanque, pelas conversas que tiveram comigo sobre este tema e pelo material cedido.
Ao Doutor António Nunes, pelo auxílio dado, ao longo destes meses, nas nossas diversas trocas de correio electrónico.
Ao Magnum Concilium Veteranorum – MCV da Universidade de Coimbra, nomeadamente ao Dux Veteranorum, por me ter cedido um pouco do seu tempo. Ao Micael Correia Roque membro do Senatus Praxis do Magnum Concilium Veteranorum – MCV da Universidade de Coimbra,e ao Vítor Ferreira pela ajuda e apoio na realização deste trabalho.


Índice

Agradecimentos 2
Índice 3
Praxe e o Património Mundial 5
O Património Imaterial e a Praxe 9
O sentido do Objecto/ definições 10
O Magnum Concilium Veteranorum – Conselho de Veteranos de Universidade de Coimbra 12
Insígnias Pessoas e da Praxe 12
A Moca, A Colher e a Tesoura 12
O Grelo e as Fitas 13
A Pasta 15
Uso da Capa e Batina 15
A inexistência de uniforme obrigatório séc. XVII 15
A capa e a Loba Eclesiástica Século XVIII 16
Capa e Batina e a Praxe 17
As Origens 17
As Investidas 17
Caçoada, troça 19
Vários Costumes e Tradições 19
Canelão 19
A Pastada 20
O Grau 20
O Julgamento 20
A Tourada ao Lente 20
A Patente 21
As Trupes 22
Serviços domésticos 23
Discursos 23
As Soiças/Pega de Rabo 23
Codificação da Praxe 23
Festividades 26
Enterro do Grau 1905 26
Centenário da Sebenta 28
A Queima das Fitas 30
Venda da Pasta e Verbena 31
Garraiada 32
Queima do Grelo 33
Cortejo alegórico [dos quartanistas] da Queima das Fitas 33
A Serenata Monumental 33
Bênção das Pastas 34
O Baile de Gala da Queima ou das Faculdades 34
Récita de Despedida dos Quintanistas 34
A Praxe e o futuro 34
Conclusão 35
Anexos 37
Bibliografia 40




Praxe e o Património Mundial
A primeira Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural aparece em Paris, em 1972. Foi organizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura. Desta convenção podemos retirar a noção de Património Mundial.
São considerados como Património cultural (Artº. 1 da Convenção de 1972):
Os monumentos – Obras arquitectónicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
Os conjuntos – Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
Os locais de interesse – Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. (Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural, 1972)
Presentemente, existe uma única série de dez critérios de classificação do objecto a Património. Os critérios são:
Representar uma obra-prima do génio criador humano.
Testemunhar uma troca de influências considerável durante um dado período ou numa área cultural determinada, sobre o desenvolvimento da arquitectura, ou da tecnologia das artes monumentais, da planificação das cidades ou da criação de paisagens.
Fornecer um testemunho único ou excepcional sobre uma tradição cultural ou uma civilização viva ou desaparecida.
Oferecer um exemplo excepcional de um tipo de construção ou de conjunto arquitectónico ou tecnológico ou de paisagem ilustrando um ou vários períodos significativos da história humana.
Constituir um exemplo excepcional de fixação humana ou de ocupação dos territórios tradicionais representativos de uma cultura (ou de várias culturas), sobretudo quando o mesmo se torna vulnerável sob o efeito de mutações irreversíveis.
Estar directa ou materialmente associado a acontecimentos ou a tradições vivas, a ideias, a crenças, ou a obras artísticas e literárias com um significado universal excepcional.
Serem exemplos excepcionais representativos dos grandes estádios da história da terra, incluindo o testemunho da vida, de processos geológicos em curso no desenvolvimento das formas terrestres ou de elementos geomórficos ou fisiográficos de grande significado.
Serem exemplos excepcionais representativos de processos ecológicos e biológicos em curso na evolução e no desenvolvimento de ecossistemas e de comunidades de plantas e de animais terrestres, aquáticos, costeiros e marinhos.
Representarem fenómenos naturais ou áreas de uma beleza natural e de uma importância estética excepcional.
Conter os habitats naturais mais representativos e mais importantes para a conservação in situ da diversidade biológica, incluindo aqueles onde sobrevivem espécies ameaçadas que tenham um valor universal excepcional do ponto de vista da ciência ou da conservação.
Na minha opinião, a Praxe Académica de Coimbra pode estar incluída no ponto vi, uma vez que esta é considerada como o conjunto das Tradições Académicas da Universidade de Coimbra, fruto de uma vivência especial e diferente, concebida e desenvolvida em Coimbra, ao longo dos séculos e das gerações que por lá passaram.
A Academia de Coimbra é um protótipo de uma cultura única, que não se traduz em folclore ou nas memórias dos homens ilustres desta nação, mas que vincula as gerações que os anos escolares não conseguem limitar. (Associação Académica de Coimbra, 2009)
Em Coimbra, a acção patrimonial organizada iniciou-se há cerca de quinze anos. Está incluída no prolongamento de um conjunto de regulamentos nacionais e internacionais. A partir de dia 18 de Abril de 1979, o Conselho de Ministros Português aprovou a Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural. (Frias, 2000)
Até a 30ª sessão do Comité do Património Mundial, em Julho de 2006, eram 13 os sítios ou conjuntos de sítios considerados Património Mundial, em Portugal. Portugal é um dos países com maior número de monumentos, no mundo, classificados como Património da Humanidade, o que demonstra a amplitude da sua actuação mundial. Os monumentos portugueses podem ser encontrados por todo o mundo, o que mostra bem a dimensão e influência da presença portuguesa, a uma escala global.
As Praxes são práticas sociais consideradas expressão privilegiada de uma tradição destinadas especialmente em manter essa tradição. Deste modo é-lhes inerente uma função de conservação institucional poder-se-á ser mais claro que um defensor disse, da Praxe ao dizer numa excelente síntese " sem Praxe morrerá a tradição" (Cruzeiro, 1979)
Segundo Elísio Estanque, são atribuídas três funções fundamentais, a Universidade de Coimbra, entre elas, uma função de produção cultural e dentro dessa, podemos incluir a cultura popular, em destaque na vida boémia dos estudantes, ligada as práticas da Praxe Académica de Coimbra. A forma como os estudantes vivem e sentem o seu dia-a-dia na cidade, conduz a uma identidade cultural própria, cujas determinantes têm origens em causas muito diversas e complexas. Admite-se até mesmo que o seu modo de estar perante a vida académica e perante a cidade dê origem a subculturas diferentes. Mas ainda assim, o global das práticas estudantis em Coimbra, enquadra-se no processo de reprodução das suas tradições e rituais que ao longo da história lhe conferiu a imagem de cidade dos estudantes. Por esta razão os rituais académicos e a Praxe Académica de Coimbra estão desde há muito tempo inscritos nos roteiros turísticos. (Estanque E. , 1989/90)
A Praxe é um modus vivendi característico dos estudantes, enriquecendo a cultura lusitana com tradições, criadas e desenvolvidas, anteriores ao uso da Capa e Batina, é uma cultura herdada que nos compete preservar e transmitir as próximas gerações, é importante nunca esquecer o propósito da Praxe no de ajudar os recém-chegados na integração no ambiente universitário, na criação de amizades e na formação de laços de sólida camaradagem. É através da Praxe que o estudante desenvolve um amor pela instituição que frequenta, e se prepara para a sua vida futura. (Frias, 2000).
A Universidade de Coimbra está neste momento a preparar a sua candidatura a Património da UNESCO, e foi envolvida na lista da Comissão Nacional da UNESCO, segundo um parecer proferido no dia 14 de Maio de 2004. O parágrafo seguinte sintetiza em linhas gerais, a razão pela qual esta universidade foi incluída neste grupo reduzido onde constam sete candidaturas - Universidade de Coimbra, Buçaco, Arrábida, Baixa Pombalina de Lisboa, Costa Sudoeste e Palácio, Convento e Tapada de Mafra.
"A Universidade de Coimbra, situada na parte alta de Coimbra, é constituída por um complexo de edifícios, ligados à produção e transmissão de conhecimento, que cresceu e evoluiu ao longo de mais sete séculos, formando sem qualquer dúvida, uma área urbana nobre e bem delimitada na cidade de Coimbra. A par com a existência física de Património construído, em muitos casos notável e verdadeiramente excepcional, e com a sua história, que faz dela uma das mais antigas Universidades Europeias, a Universidade possui um conjunto de tradições e de cultura da própria instituição que lhes confere uma identidade particularmente forte com simbolismo a nível nacional e internacional. A sua história confunde-se com o da Universidade Portuguesa".
(In proposta de inscrição na lista indicativa do Património mundial elaborada pela comissão nacional da Unesco)
Ao longo dos anos a Praxe tem vindo a perder a importância mas mesmo assim grande parte da comunidade estudantil ainda se identifica com estes rituais e tradições, o quadro que se segue mostra a importância atribuída as festas e aos rituais académicos em percentagem
Festas/Rituais
Repúblicas
Outros
Total
Bênção da Pasta
8,6
56,9
55,9
Praxe académica aos caloiros
20,6
44,8
44,3
Garraiada
8,6
20,5
20,3
Noites do Parque
31,0
62,6
62,0
Cortejo da latada
34,5
66,0
65,4
Cortejo da Queima das Fitas
36,2
79,5
78,5
Queima do Grelo
8,6
56,3
55,4
Seguir o Carro no Cortejo
15,5
60,4
59,5
Baile de Gala
6,9
34,5
34,0
Usar o traje Académico
14,1
72,9
71,7
Fonte: inquérito a estudantes da Universidade de Coimbra (Estanque e Bebiano, 2007)
Esta análise baseia-se nos dados recolhidos através de um questionário aos estudantes da UC, a partir de uma amostra de 2.862, e foi retirada do artigo (Estanque E. , 2008)
Apesar de haver alguma discrepância de valores devido a alguns estudantes serem mais a favor da Praxe do que outros, este quadro constitui uma prova como a Praxe ainda tem muita importância na comunidade estudantil e que os estudantes ainda se interessam e valorizam as tradições académicas. Vejamos ó o Cortejo da Queima das Fitas tem um valor de 78% e o uso do traje académico 71%.

O Património Imaterial e a Praxe
Após a aceitação da Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural, em 1972, alguns Estados-membros manifestaram interesse em ver criado um instrumento de protecção do património imaterial. Em 1989, a UNESCO adoptou a Recomendação para a Salvaguarda da Cultura Tradicional e do Folclore.
Em 1999, o Conselho Executivo da Organização decidiu criar uma distinção internacional intitulada Proclamação das Obras-primas do Património Oral e Imaterial da Humanidade, para distinguir os exemplos mais notáveis de espaços culturais, ou formas de expressão popular e tradicional, tais como, as línguas, a literatura oral, a música, a dança, os jogos, a mitologia, rituais, costumes, artesanato, arquitectura e outras artes, bem como formas tradicionais de comunicação e informação. Foram realizadas três edições de Proclamações em 2001, 2003 e 2005. (UNESCO C. N.)
Na Edição de 2001, o Património Imaterial é definido como;
"Para efeitos da presente lei, integram o património cultural as realidades que, tendo ou não suporte em coisas móveis ou imóveis, representem testemunhos etnográficos ou antropológicos com valor de civilização ou de cultura com significado para a identidade e memória colectivas." (nº 1 do art. 91º da Lei nº 107/2001)
Na convenção de 2003 o património cultural imaterial é definido como:
Entende-se por "património cultural imaterial" as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objectos, artefactos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu património cultural. Este património cultural, imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interacção com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Para os fins da presente Convenção, será levado em conta apenas o património cultural imaterial que seja compatível com os instrumentos internacionais de direitos humanos existentes e com os imperativos de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, e do Desenvolvimento sustentável." (artigo nº2 da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, Paris, 17 de Outubro de 2003)
O regime jurídico, de salvaguarda do património cultural imaterial, encontra-se estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 139/2009, de 15 de Junho. Este diploma amplia o anteriormente disposto na Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro, designadamente nos seus Art.os 91.º e 92.º, de harmonia com o direito internacional, nomeadamente com a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (adoptada na 32.ª Sessão da Conferência Geral da Unesco, em Paris, a 17 de Outubro de 2003). A Convenção encontra-se em vigor, em Portugal, desde Agosto de 2008, em consequência da sua ratificação, conforme Resolução da Assembleia da República n.º 12/2008, de 24 de Janeiro, e respectivo Decreto do Presidente da República n.º 28/2008, de 26 de Março de 2008. (Património Cultural Imaterial)
A terceira componente da candidatura, da Universidade de Coimbra, passa pela valorização do Património imaterial. Neste aspecto, o Reitor da Universidade encara que "não poderemos esquecer as actividades sociais e estudantis e a tradição académica, que a vivência própria de uma cidade universitária tanto incentiva, como segunda escola de formação dos estudantes de Coimbra, e do relevo que assume neste contexto a chamada Canção de Coimbra". "Almejar a classificação da Universidade de Coimbra como Património Mundial não se limita a uma mera pretensão contemplativa", afirmou Seabra Santos, declarando que, pelo contrário, significa um desejo de transformação do espaço físico e valorização do Património intocável e uma profunda determinação na mudança das mentalidades e atitudes". (UNESCO C. )
O sentido do Objecto/ definições
A palavra Praxe advém do Grego Práxis, ou seja, acção, pelo latim Praxe "prática". Tem como significado "aquilo que se pratica habitualmente; rotina, procedimento costumeiro, prática; sistema; uso estabelecido; regra; etiqueta; execução; realização". Existe ainda a expressão Praxe académica que irei abordar neste trabalho, que são "costumes e convenções usadas por estudantes mais velhos de uma instituição do ensino superior de forma a permitir a integração dos mais novos no meio académico" (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, 2010).
O Código da Praxe Académica da Universidade de Coimbra de 2007, no seu primeiro artigo, define a Praxe como, o conjunto de usos e costumes tradicionalmente existentes entre os estudantes da Universidade de Coimbra, e todos os que forem decretados pelo Magnum Concilium Veteranorum – Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra. Existem várias definições para o termo Praxe, segundo Manuel João Vaz "(…)a Praxe compõe-se numa sinopse de usos, costumes e tradições que dizem respeito a todos os intervenientes no palco académico que é a Universidade de Coimbra(..). (MCV, 2007). António Rodrigues Lopes, entende que a Praxe é o "(…)conjunto de regras ou normas de conduta coactivamente impostas, com vista a regular ou garantir os usos e costumes tradicionais na Academia Coimbrã". (Lopes, 1982)
De acordo com a opinião de Doutor Aníbal Frias, "A Praxe Académica é uma expressão genérica que engloba uma multiplicidade de comportamentos e de estatutos, de rituais e de cerimónias, mais ou menos codificados, de objectos e de insígnias, cortejos carnavalescos, um traje académico, trupes nocturnas coercivas e grupos musicais, poemas e biografias de antigos, " fados de Coimbra", episódios ligados à história académica, gritos estereotipados, hinos, emblemas, ritmos temporais, sinais sonoros. A Praxe é uma dimensão importante que integra a vida associativa estudantil." (Frias, 2000)
O Professor António Nunes define a Praxe como um conjunto de normas criadas e vivenciadas pelos estudantes, que regulam as relações entre os novatos/caloiros e os alunos dos anos mais avançados (doutores), e ainda as relações entre os estudantes, lentes, e futricas. Neste sentido, a Praxe é sinónimo de estilos ou leis que instituem as diversas hierarquias internas, os rituais de iniciação e de passagem, como usar o Traje Académico, os objectos e espaços interditos, e também o regime de sanções disciplinares e de emancipações. Instituindo sanções físicas, psicológicas e económicas, proibindo o uso de determinados bens simbólicos, sancionando tabus, premiando e distribuindo reforços positivos. A Praxe comporta(va) uma dimensão axiológico-normativa que está(va) longe de significar violência discricionária. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005).


Tendo em conta estes exercícios de definição, o meu trabalho vai abordar todos estes campos, desde o início da Praxe, quando existiam apenas as caçoadas e as investidas, as trupes, a codificação, o uso das insígnias, as cerimónias que antecederam a Queima das Fitas, a própria Queima das Fitas e as suas actividades tradicionais – o Baile de Gala das Faculdades, a Récita dos Fitados, o Cortejo dos Carros de Faculdade, a Venda da Pasta, a Verbena, a Garraiada, entre outras. Com recurso ás seguintes praxes e tradições pretende-se justificar o porquê da Praxe ser considerado património.
O Magnum Concilium Veteranorum – Conselho de Veteranos de Universidade de Coimbra
Segundo o Código da Praxe da Universidade de Coimbra (CPUC), de 2007, O Magnum Concilium Veteranorum – Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra (MCV) é uma assembleia constituída unicamente por Veteranos, com o número mínimo de nove elementos. O MCV reúne mediante Convocatio afixado na porta principal da Associação Académica de Coimbra, com pelo menos 48 horas de antecedência, devendo ser escrita em latim macarrónico e assinada pelo Dux Veteranorum. As deliberações tomadas são tornadas públicas em Decretus. O MCV toma decisões relacionadas com a Praxe, como por exemplo: legislar nos casos omissos, eleição do Dux-veteranorum, redacção de cartas de alforria, suspensão temporária da Praxe nos casos necessários, autoriza a conversão de caloiros estrangeiros em caloiros nacionais. (Lamy, 1990, p. 471)
É uma autoridade praxista, detém o poder de decisão e interpretação da Praxe Académica de Coimbra. O MCV é actualmente presidido por João Luís do Espírito Santo Jesus, cuja função é presidir todos os movimentos que têm por objectivo salvaguardar o prestígio da Praxe Académica Coimbrã. O Dux Veteranorum é eleito pelo MCV.
Insígnias Pessoas e da Praxe
A Moca, A Colher e a Tesoura
No declínio da primeira década do século XXI, existem códigos de Praxe em praticamente todos os estabelecimentos de ensino superior, universitários e politécnicos, na maior parte dos casos, plagiados do esqueleto e conteúdo do Código da Praxe da Universidade de Coimbra. Os articulados dessas codificações consagram colheres, mocas e tesouras, sem que neles conste expressa menção ao fenómeno de imitação e apropriação da criação simbólica e patrimonial dos estudantes da Universidade de Coimbra (UC), ao invés do que recomendam a UNESCO, e as leis de protecção do Património material e imaterial. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
As chamadas "insígnias da Praxe Académica" ocupam um lugar de relevo na cultura estudantil universitária conimbricense, e povoam diversos campos do imaginário simbólico e da identidade visual escolar. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005) Quem consultar os cartazes da Queima das Fitas, os rostos das edições dos códigos da Praxe e do palito métrico, os brasões de armas das repúblicas de estudantes ou até mesmo o próprio emblema oficial do MCV, verá que estas insígnias estão sempre presentes. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
Estas insígnias podem ter tamanho variável, a Colher de Pau, que veio a substituir a palmatória, deve ter obrigatoriamente escrito na parte interior: Dura Praxis Sed Praxis (a Praxe é dura mas é Praxe), podendo ter, adicionalmente, qualquer desenho que seja alusivo a vida académica. As sanções de unhas são geralmente aplicadas com ela mas não havendo a colher, e sendo Veterano aquele que se propõe a aplicar a sanção, é permitido a sua aplicação usando um sapato. A colher pode atingir medidas invulgares. (Lamy, 1990, p. 389)
A Moca, também de pau, não pode ter saliências na cabeça e pode ser substituída por um pau de fósforo com a cabeça por queimar, no caso da formação de uma Trupe. As mocas tiveram grande utilidade aquando das caças aos gatos e para partir os arames que ligavam as latas nas latadas emancipadoras de caloiros. (Lamy, 1990)
Finalmente, a Tesoura, que não pode ser de bicos nem desmontável. A trupe só se considerava legitimamente chefiada quando além de outros requisitos, o seu chefe for portador das Insígnias (Lamy, 1990)
O Grelo e as Fitas
As Insígnias Pessoais só podem ser usadas estando os seus portadores na PRAXE.
Só os estudantes que estejam em condições de acabar o 1º ciclo nesse ano lectivo, podem usar Insígnias Pessoais. No entanto os Veteranos, podem voltar a usar as suas Fitas, no dia da Serenata Monumental da Queima das Fitas. As insígnias pessoais são o Grelo e as Fitas, estas são da cor da Faculdade do seu portador, desde do dia de Imposição de Insígnias, geralmente, na Festa das Latas, até a Bênção das Pastas. O estudante que se apresenta, na Praxe, a exame final de curso, oral ou escrito, é-lhe permitido usar nesse, e só nesse dia, as suas Fitas, até a se formar.
Actualmente as cores das faculdades são as seguintes:
Medicina
Amarelo
Direito
Vermelho
Ciências e Tecnologia
Azul claro (licenciaturas)
Azul claro e branco (engenharias, curso de matemática e arquitectura)
 Letras
Azul Escuro
 Farmácia
Roxo
 Economia
Vermelho e Branco
Psicologia e Ciências da Educação
Laranja
Ciências do Desporto e Educação Física
Castanho terra e branco

Antigamente as cores eram diferentes, a Branca era para a Faculdade de Teologia que já foi extinta, o Branco e vermelho era da faculdade de Psicologia e Ciências da educação, a Laranja para a faculdade de Economia, e a verde para os Cânones que também já foi extinta. Existe uma simbologia para estas cores Para Teixeira de Pascoaes " o vermelho simboliza o direito porque é conquistado a facada, o amarelo a medicina porque é a cor dos enfermos, o branco a teologia simboliza a castidade dos sacerdotes, o azul a mecânica celeste. (Lamy, 1990, p. 394)
O Grelo é uma fita única estreita em algodão, de 3,5 cm de largura e 20cm de comprimento, circundando a pasta e terminado em laço pendente para a frente que só pode ter, no máximo, três nós. No grelo pode escrever-se o dia em que o portador o foi buscar, o dia da latada da sua imposição, e um ponto de interrogação. Se o laço do grelo se desfizer quando puxado por uma das pontas poderá ser aplicada a sanção de unhas. Só são Veteranos os que, tendo sido caloiros nacionais e tenham na universidade de Coimbra um número de matrículas igual ou superior Às necessárias para tirar normalmente o curso os que tenha usado grelo durante três dias, seguidos ou não. A Praxe desta forma castigava o estudante que se forma sem perder um ano, que nunca poderá chegar a veterano. (Lamy, 1990, p. 393)
As insígnias pessoais dos fitados são constituídas por 8 fitas de seda de 7,5cm de largura 40m de comprimento, presas em volta da pasta que poderão ser assinadas, após as Férias da Páscoa, pelos professores, pais, noiva, noivo, mulher ou marido, colegas, amigos, parentes próximos, irmãos e colegas de curso. Na falta de uma das fitas na pasta, ser-lhe-á aplicada sanção de unhas. (Lamy, 1990)
A Pasta
Só os doutores podem usar a pasta da Praxe, de cor negra, sendo vedado o seu uso aos caloiros, bichos e futricas. Os caloiros não podem pegar na pasta da Praxe, a não ser que interponham entre ela e as suas mãos qualquer peça do seu vestuário. Os Semi-Putos e os Pastranos podem usar a pasta da Praxe, na mão tendo o braço completamente estendido, sendo lhes vedado dobrar a pasta, virar a abertura para cima ou usar monograma. Os Putos podem ter monograma na pasta, dobrá-la em espiral e virar a sua abertura para cima. Os Candieiros podem dobrar a pasta de modo a que as suas abas se inclinem para dentro. É na Pasta da Praxe que se usam as Insígnias Pessoais, o Grelo e as Fitas. O uso da Pasta da Praxe é um ritual próprio da Academia de Coimbra, mais propriamente, dos estudantes da Universidade de Coimbra, pois pelo modo como os estudantes a transportam se pode "descobrir" qual o ano que frequentam (Lamy, 1990)
Uso da Capa e Batina
A inexistência de uniforme obrigatório séc. XVII
Antigamente os estudantes da Universidade de Coimbra não eram obrigados a trajar um uniforme próprio. A Ordenança para os estudantes da Universidade de Coimbra, de D.João III, de 14 de Janeiro de 1539, determinou quanto aos trajos que os académicos usavam. (Lamy, 1990)
Os Estatutos Velhos de 1598 confirmados por D.João IV e que prevaleceram até a reforma pombalina de 1772 dispunham que os "…1º-Os estudantes andarão honestamente vestidos, sem seda alguma: mas poderão trazer os chapéus e barretes forrados, e colares dos mantéus e guarnições de sotainas por dentro: e nas camisas não trarão abanos, senão colares chãos sem feitio de rendas, nem bicos, nem trancinhas, nem de outras guarnições semelhantes, sob pena de dous mil reais, pagos da cadeia, a metade para a Confraria, e a outra para quem o acusar. E não trarão em nenhum vestido de sotaina, calças ou pelotes, as cores aqui declaradas: amarelo, vermelho, encarnado, verde, laranjado, sob pena de perderem os ditos vestidos [...] E porém debaixo das sotainas poderão trazer gibões, ou jaquetas de panos de cores, para sua saúde: contanto que os colares não sejam mais altos que os das sotainas, nem as mangas mais compridas: e poderão outrossim, debaixo das botas ou borzeguins trazer meias calças de cores bem cobertas: e em casa, ou pelas ruas, onde pousarem, poderão trazer roupões de cores, contanto que não sejam das acima proibidas [...] 2º-Não poderão trazer barretes de outra feição, senão redondos, ou de cantos; nem carapuças, senão os que trouxerem dó, no tempo limitado, ou pelas pessoas que o podem trazer [...] E os mantéus, que houverem de trazer, serão compridos, ao menos até ao artelho. 3º-Não trarão capas de capelo cerrado, e trarão mantéus de colar ou de capelos abertos. Porém os criados de estudantes poderão ir ouvir às Escolas com pelotes e ferragoulos, e chapéus, e colares de abanos nas camisas, chãos, que não passem de dous dedos. E os estudantes pobres poderão trazer o mesmo trajo: tirando os colares das camisas de abanos.4º-Não trarão golpes, nem entretalhos que se vejam em algum vestido, nem piques, golpes, botões ou fitas em botas, ou sapatos [...]"
A capa e a Loba Eclesiástica Século XVIII
Uma lei de 1674 proibiu o uso do barrete e da capa pela cabeça, obrigando ao uso do chapéu porque desta forma evitava-se que os criminosos se disfarçassem. (Lamy, 1990)
Por outro lado, a Universidade estava intimamente ligada à Igreja, era efectivamente uma instituição eclesiástica, e uma grande parte dos estudantes e mestres eram clérigos. É pois natural que os universitários adoptassem uma maneira de vestir eclesiástica. Desta forma, no seu início, o objectivo principal do Traje Académico, não era, como muitas vezes se diz, igualizar os estudantes, mas antes fazer distinguir os académicos na sociedade. A igualização entre estudantes acontecia (até certo ponto) porque, vindo estes de estatutos sociais diversificados, deviam convergir na posição académica. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
Com a República foi abolida a obrigatoriedade do uso de Capa e Batina uma vez que esta era uma herança no passado ultramarino e que seu uso era deprimente por se assemelhar ao trajo jesuíta. Mas apesar de tudo muitos estudantes da Universidade de Coimbra continuaram a utilizar a Capa e Batina na descrição que se segue mostra a indumentária estudantil na altura de Trindade Coelho.
"No meu tempo, ainda a quase totalidade dos estudantes andava sempre de Capa e Batina. O gorro era já raro pelas costas abaixo, ou caído em cima da orelha. A maior parte andava em cabelo; alguns traziam um pequeno boné preto como os de viagem, e as batinas já não eram as antigas lobas, que chegavam ao meio das canelas, mas umas batininhas que só chegavam aos joelhos (mais um casaco afogado do que outra coisa) – e a respeito de meia preta e volta de padre, sónos actos, e a volta às vezes era de papel, e as meias de algum teólogo!" (Coelho, 1902)
Capa e Batina e a Praxe
O CPUC, de 1957, reservou exclusivamente aos estudantes universitários e aos bichos o uso do traje académico, os futricas estão é-lhes vedado o uso.
Em contrapartida, os antigos estudantes que continuassem em Órgãos Académicos podiam, e podem, usar a Capa e Batina, mas unicamente no decurso das suas actividades ou em ocasiões festivas.
Entre 1953-1958, para estarem na Praxe, os doutores, deviam ter sapatos ou botas pretas e meias pretas, calças pretas, com ou sem porta: colete preto não de abas ou cerimónia; batina que não fosse de modelo eclesiástico, camisa branca e lisa, com colarinho de modelo comum, gomado ou não e com ou sem punhos; gravata preta e lisa: capa preta, com ou sem cortes na parte inferior, e com ou sem distintivos na parte interior. Não deviam ter distintivos na lapela e lenço visível no bolso do peito e não deviam usar luvas nem pulseiras nem boinas. Os rasgões na parte inferior da capa têm vários significados, isto é, os do lado esquerdo, rasgões de família, os do lado direito, os de amigos e ao meio o rasgão da noiva ou namorada. Os emblemas, na parte inferior esquerda da capa não podem ficar visíveis quando a capa estiver traçada ou aos ombros. Os estudantes só podem usar as suas insígnias pessoais, estando de Capa e Batina. A capa, colocando-a aos ombros de alguma pessoa, serve para homenageá-la, o mesmo acontece, colocando-a no caminho dessa pessoa. (Lamy, 1990)
As Origens
As Investidas
O termo Praxe para Maria Eduarda Cruzeiro só aparece na segunda metade do século XIX. As práticas usuais na altura eram chamadas de Investidas (até aos finais do século XVIII) (Cruzeiro, 1979) (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005) (Lamy, 1990). No texto de uma sentença de condenação a um estudante, Teófilo Braga relata o evento de uma investida (Braga, 1892-1902)
«Mostra-se outrossim que, entrando em casa de uns novatos, cinco homens, quatro mascarados, era o quinto réu sem máscara, e buscando positivamente a um novato […] o mandaram despir nu, e lhe deram muitos açoites com umas disciplinas, de que correra sangue, e muita palmatoada, e lhe cortaram o cabelo rente pelo casco :[…]»
O Palito Métrico também nos dá uma ideia do que eram as investidas:
Tal sucede ao Novato, que indeciso
Deixando-se ficar no chão prostado
Observa a seu pesar de grande riso,
Com que o seu toureador é festejado:
Assim que se levanta, de improviso
De um rústico Beirão se vê montado,
Que a repetidos golpes de um chicote,
Por toda a sala o faz correr de trote. (Ferrão, 1912)
Estas investidas eram bastante violentas. Em Fevereiro de 1726, uma das investidas feitas a um novato terá causado a morte dum estudante, e por consequência desse evento em Janeiro de 1727 D. João V proíbe estas mesmas investidas e aplica sanções aos infractores. (Cruzeiro, 1979) (Lamy, 1990)
«Hey por bem e mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos e fique o Conservador da Universidade obrigado a tomar em segredo as denunciações a este respeito se lhe fizerem.»
No entanto apesar de proibidas as investidas continuam, mas menos violentas, são testemunhadas nos próximos dois séculos. A investida incluía a picaria, a tourada, insultos, patente e troças.
Caçoada, troça
A caçoada e a troça surgem na primeira metade do século XIX. Mas ao contrário da investida, a violência já é menor. A caçoada pode ir até ao insulto ou incluir mesmo cenas de picaria e de tourada. A troça aos lentes, aos camaradas e aos futricas, que já existia, aparece na 2ª metade do século XIX. No dia 3 de Maio de 1873, pelas 18h, junto ao Castelo foi cortado o cabelo à força a um estudante, que assim que se viu livre dos seus agressores, atirou-lhes uma pedra e feriu mortalmente um deles. No século XIX a troça fora dos recintos resumia-se a manter o caloiro no meio de uma roda, fazê-lo cantar, dançar e ser tosquiado de um lado barbeado do outro, e cortar o cabelo na diagonal. (Lamy, 1990). Estas troças podiam ser realizadas nas ruas, nos cafés mas sobretudo nas repúblicas, que era o local para onde os caloiros eram mobilizados, e eram muitas vezes sujeitos a julgamentos, o caloiro servia à mesa e limpava os sapatos aos Veteranos (Prata, 1993)
Vários Costumes e Tradições
Nos primeiros dias de aulas, os estudantes eram sujeitos a diversos tipos de rituais entre eles:
Canelão
Os alunos eram aguardados à Porta Férrea pelos quintanistas que se agrupavam em duas filas, simulando a descida aos Infernos e as margens do Rio Estígio. Á medida que entravam eram espancados com palmadas, empurrões e pontapés nas canelas (daí a origem da palavra canelão) Mas podiam ser protegidos por quintanistas fitados, que eram as Barcas do Caronte. Este ritual já se praticava antes de 1640 e durou até 1908. António Nobre (Direito-1888/1890) relatou a Augusto Castro, numa carta datada de 18 de Outubro de 1888, o que foi a sua passagem pela Porta Férrea:
"Ontem, foi a abertura das aulas e, como sabes, é o dia dos grandes estúpidos da Universidade: à Porta Férrea aglomerava-se uma multidão ansiosa por canelas de novato. Ligeiramente trémulo, talvez pálido, mas sorrindo, eu passei sob um pálido colorido de pastas, de todo incólume, ouvindo apenas uns zumbidos dessas abelhas-díscipulas, e debaixo destas palavras altas: É poeta" É poeta"E Reformador" (Lamy, 1990)
Posteriormente o Canelão vai ser substituído pela Pastada na década de 1920 (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
A Pastada
A pastada era exercida nos Gerais e à Porta Férrea. Pelas Praxes académicas de Coimbra (1925), à saída das aulas os caloiros estavam sujeitos á pastada, ficavam isentos de pastados todos os caloiros que se fizessem acompanhar dum oficial, duma senhora ou dum quintanista, devendo este, com as fitas cobrir-lhe a cabeça com o significado de protecção. O oficial e a senhora e o quintanista podiam proteger apenas dois caloiros; um quintanista de Medicina podia proteger cinco caloiros; um por um: mas o veterano não podia proteger a pastada. Os quintanistas que protegiam muitos caloiros à Porta Férrea eram designados por barca ou barca de passagem.
O Grau
Era uma paródia à cerimónia de doutoramento, o caloiro era fechado numa sala e tinha que defender uma tese ridícula perante um júri. Após os discursos do padrinho era-lhe colocado um penico na cabeça. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
O Julgamento
Ritual iniciático-punitivo realizado em cenários macabros, parecidos aos rituais das lojas maçónicas. Com um ambiente escuro. Códigos secretos, objectos de tortura, castiçais armados sobre caveiras, carrascos, réus, rostos embuçados. O banco dos réus era um penico cheio de água. No século XIX existem referências a penalidades com encarceramento em ataúde, sovas tosura ad libitum, "salto mortal" com os olhos vendados, "fuzilamento" com batatas, "degolação", "sangria", suplicio da gota, depilação, selagem com cera quente. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
A Tourada ao Lente
A Tourada ao Lente é a recepção feita, pela Academia, ao professor universitário, doutorado ou não, nacional ou estrangeiro, no momento em que este se disponha a dar, em Coimbra, a sua primeira aula teórica, a alunos Universitários.
Era formada uma comissão de recepção que era constituída por cinco caloiros, cujo objectivo era elaborar um tema, em latim macarrónico, para a tese que o lente toureano, iria defender perante o auditório, que no decurso da cerimónia seria tratado como animal. A comissão de recepção deveria brindar o animal com o farto pasto de erva. A cerimónia terminava quando um fitado apadrinhasse o toureado, colocando-lhe a pasta sobre a cabeça. Às touradas podiam também assistir os caloiros que constituem a comissão de Recepção, os Doutores que estiverem de Capa e Batina, Veteranos mesmo que estejam a Futrica, e os alunos do professor Á Futrica. Após a cerimónia, todos os doutores presentes deviam felicitar o professor. Esta Praxe segunda a opinião de Maria Eduarda Cruzeiro poderá estar intimamente relacionada com um elemento do cerimonial académico do doutoramento fixado nos Estatutos Manuelinos, seguindo o qual se prescreve que, após a discussão de o novo doutor se dirigir a receber o grau e respectivas insígnias, um homem honrado louvará em latim letras e costumes do graduado e em Linguagem por palavras honestas dirá alguns defeitos para folgar que não sejam de sentirá - Notícias Chronológicas, (Lamy, 1990) (Cruzeiro, 1979). É intitulada tourada porque se equipara a situação embaraçosa do professor a um touro perseguido em arena pelos toureiros, neste caso os toureiros eram os estudantes.
Armando Sampaio, estudante universitário descreveu uma tourada «Aqueles que nunca viram um espectáculo desta natureza ficará elucidada com esta simples narrativa: uma sala cheia de malta sem o menor respeito pelo Mestre, insultando-o por todas as formas e feitios! Por mim, fiquei banzado! Mal o senhor pretendia falar dirigiam-lhe piadas e insultos, mais ou menos deste género:
-Cale a boca sua besta
-Não sabes o que dizes, meu alarve!
-Coitado! Está aflito….Dêem-lhe um pouco de água.
E esta frase serviu para um dos presentes, que estava de pé junto da secretária colocar sobre ela um escarrador!... (Lamy, 1990)
A Patente
Era uma sanção pecuniária, era mais utilizada nas Universidades espanholas, baseava-se no pagamento de doces conventuais, abundantes ceias e bebidas aos Veteranos. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
As Trupes
As trupes constituíam e ainda constituem uma parte importante da Praxe. Eram formadas por um grupo de estudantes embuçados nas capas, para não serem reconhecidos, eram compostos por "semi-putos","pés de banco" e Veteranos. A noite andavam a ver se algum "caloiro" ou bicho" aparecia pelas ruas, no caso de o caloiro ser apanhado fora de casa após o toque vespertino da Cabra, podia ter como sanção uma tosquia parcial ou completa e palmatoadas (bolas) nas mãos. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005) (Prata, 1993) (Calisto, 1950) Antepassados das trupes terão sido os ranchos de triste memória do século XVIII e inícios do século XIX- O Rancho da Carqueja (1720-1721), o Racho dos Doze (1737), o Novo Rancho ou Súcia (1803)
A trupe tinha que estar legitimamente chefiada (por dois putos de faculdades diferentes, um dos quais, pelo menos de Medicina ou Direito, ou por quartanista ou doutor de hierarquia superior); ter todos os seus elementos na Praxe e não serem visíveis os colarinhos nem quaisquer emblemas interiores da capa; ter o seu chefe as insígnias da Praxe, ter sido constituída na porta da AAC, à Porta Férrea ou à porta de uma republica oficializada; terem-se os seus elementos conservado, sem interrupções, de capa traçada após ter sido constituída; e ter o chefe, no acto da formação dela dado três pancadas com a moca ou colher em qualquer das portas referidas ao mesmo tempo que dizia- In Nomen soleníssima praxis trupe formata est. (Lamy, 1990) (MCV, 2007)
As trupes não se podiam deslocar em veículos, motorizados ou não, com a excepção se a viatura fosse de transporte colectivo e visasse a perseguição dum infractor da Praxe que nele se deslocasse. Existiam dois tipos de trupes as ordinárias e as extraordinárias, as ordinárias, acontecem espontaneamente e não necessitam de autorização expressa por parte do MCV, as trupes extraordinárias, eram aquelas que se propunham executar durante o dia, sentença de algum tribunal de republicas ou decisão do MCV e estas só se podiam constituir após o terceiro toque matutino da cabra e duravam até ao inicio da hora do caloiro ( a meia hora que antecede ao toque vespertino da cabra) (Lamy, 1990) (MCV, 2007)
Existiam algumas protecções para o caloiro se livrar das trupes, uma delas era a protecção de uma senhora que tenha a cabeça coberta por chapéu ou lenço e traga meias, . Diamantino Calisto no seu livro relata como facilmente se livrou das trupes
"(…)eram 10 horas da noite, ia eu para casa, na rua Oriental de Montarroio, quando vejo dirigir-se a mim uma troupe. Olhei em volta e, felizmente, vi duas Senhoras, que soube depois serem mãe e filha. Dei um salto e meti-me no meio delas, e cumprimentei-as em voz alta para ser ouvidos pelos da troupe: disse-lhes a seguir que me desculpassem o atrevimento e pedi-lhes licença para as acompanhar até casa a fim de assim me salvar da troupe, que já vinha a seguir-me. Como as Senhoras e as pessoas de respeitabilidade podiam proteger, lá me livrei de"colheradas" e do corte de cabelo (…)" (Calisto, 1950)
Serviços domésticos
Os Veteranos tinham o direito de mobilizar os seus caloiros para compras, limpezas domésticas, serviços de mesa, recados, idas à caça nos arredores da cidade, escovagem de cavalos, transporte de bagagens. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
Discursos
Improvisação de um discurso sobre um tema ridículo, do género "qual nasceu primeiro, o ovo ou a galinha" (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
As Soiças/Pega de Rabo
Cortejos burlescos de passagens ligados à celebração do fim de ano escolar e a emancipação ritual dos caloiros. Estas festividades eram muito próximas das festas dos burros, festas dos rapazes, charivaris de carnaval, enterro do bacalhau, queima do judas, a partir do século XIX passam a ser designadas por latadas, festa das latas e festa do ponto. Com a Pega de Rabo, o último ritual que celebrava o fim do ano escolar, suspendia-se momentaneamente o tempo, exorcizando a morte do ano velho, fazendo paródias aos professores e aos políticos. (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
Codificação da Praxe
A Praxe viu o seu conteúdo modificado ao longo dos tempos mas mesmo assim os estudantes continuam a participar. Apesar de se ter caído no tradicionalismo, é necessário preservar a tradição, e compreender a codificação ou mesmo de "fabricar" aquilo que é designado como memória colectiva, é necessário entender uma codificação dos comportamentos. (Frias, 2000)
A Praxe surge pela primeira vez numa obra, em 1863, reforçada pelo adjectivo velho, em sentido muito indefinido e ligado a lei. " Em casos tais é costume herdado de longos tempos e, como tal, lei académica para os que ainda prezam em seguir Praxes velhas" (Cruzeiro, 1979) O uso do termo Praxe é fortalecido a partir do final do século XIX, e a troça que já teria destronado a caçoada, acaba por desaparecer. No caso da sua aplicação aos costumes relativos aos caloiros, só superficialmente o termo Praxe pode constituir com investida, caçoada e troça uma série histórica de sinónimos. (Cruzeiro, 1979) (Lamy, 1990)
A hierarquia da Praxe, nessa altura seria a seguinte:
Caloiros. Estudantes dos preparatórios
Depois denominados bichos ou caloiros do Pátio
Novatos. Os do 1º ano (os juniores medievais)
Semi-Putos. Os segundanistas
Pés-de-banco. Os terceiranistas ou putos
(O 3º ano era intitulado o da ponte dos asnos)
Candeeiro, pé de candeeiro ou doutor de m….
Quintanista, caronte ou m…. de doutor
O Palito Métrico foi um documento publicado em 1746, foi considerado erradamente como o Código da Praxe Académica, o Palito Métrico é um conjunto de quadros do viver académico, feitos deliberadamente com o objectivo de fixar os seus traços característicos. (Cruzeiro, 1979) O texto que se segue é um relato de uns estudantes, que na altura não eram os melhores, o estudante da Universidade de Coimbra faz relatos sobre os animais inconvenientes que habitam o seu quarto.
" O seu móvel constará, enquanto a trastes de madeira, de uma barra, uma banca com gaveta e sua chave, uma cadeira até duas, se a janela não tiver poias, um cabide e uma papagaio para pôr o candieiro. Quanto a trastes de barro, de um pote, de um púcaro, um tigelão de lavar as mãos, uma sopeira, um prato grande e meia dúzia de pequenos e, além disto, um vaso destes de pôr debaixo da cama. Trastes de metal, o candieiro unicamente, móveis de vidro, três garrafas e um copo. Alfaias de ferro, faca colher e garfo, canivete, tesoura e fusil. Quinquilharias miúdas, penas, papel, obreiras, isca, mechas e algodão para as torcidas. Alguns costumam ter arca em que arrecadam a sua roupa, mas eu sempre me remediei com a minha mala. Cabide e costas da cadeira" (Ferrão, 1912) pp 392-393.
A primeira grande codificação da Praxe, surgiu em 1957, anteriormente os costumes eram comunicados oralmente, que eram passados aos mais novos através dos Veteranos, de antigos estudantes para filhos e de futricas para caloiros, onde imiscuíam-se também os barbeiros, alfaiates, taberneiros, engomadeiras, criadas domésticas, funcionários da Universidade de Coimbra e proprietárias dos bordéis. É importante mencionar que na maior parte das casas comerciais onde se vendia a "Capa e Batina", os donos aconselhavam os estudantes sobre a "maneira correcta de trajar" (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
Segundo o código da Praxe de 1957 a hierarquia praxista compreende 16 graus
Bichos
Paraquedistas
Caloiros
Caloiros Estrangeiros
Pastranos
Semi-putos
Putos
Quartanistas
Quartanistas grelados
Quartanistas grelados de Medicina
Quintanistas
Quintanistas fitados
Quintanistas fitados de medicina
Duplo quintanistas
Veteranos
Dux-Veteranorum
O actual código da Praxe de 2007, tem a seguinte hierarquia pelo seu artigo nº3
Bicho
Paraquedista
Caloiro Nacional
Caloiro Estrangeiro
Novato
Caloiro Pastrano
Semi-Puto
Puto
Candieiro
Candieiro Grelado
Candieiro Fitado
Duplo Candieiro
Bacharel
Bolognez
Marquez
Veterano
Dux Veteranorum
Festividades
Enterro do Grau 1905
O grau de bacharel era um título científico conferido solenemente pela Universidade até 1905, obtida a aprovação no penúltimo ano (em Direito, concluído o 4º ano) depois do exame de aprovação de cadeiras do curso. (Lamy, 1990, p. 168) O estudante que fosse aprovado era convidado a tomar o grau pelo Secretário da Universidade. Reentrava, então, na sala onde antes onde prestara os actos, com as pessoas que desejassem assistir à cerimónia. (Lamy, 1990, p. 168) Segundo Diamantino Calisto tomar o grau de bacharel consistia no seguinte " O mais antigo dos professores ia para os Actos de borla e capelo e sentava-se na "Cátedra", sentando-se os outros a uma mesa que ficava ao lado e um pouco mais abaixo.(..) Nos actos Grandes era obrigatório: o copo de agua sobre a mesa, a ornamentação da "Sala" dos capelos" com colchas de damasco de cor da respectiva faculdade e a "chamarela" que, no fim de cada interrogatório, quer o examinando andasse bem ou mal, tocava uma espécie de musica no género das ultra-modernas." (Calisto, 1950, p. 162)
O Lente mais antigo estava presente nesta cerimónia, sentado de pequeno púlpito, a cátedra, revestido das insígnias doutorais- a capa, capelo e borla. O Lente cobria-se com a borla doutoral e o candidato ajoelhava-se a seus peés e seguia-se este diálogo em latim
-Quid Petis?- Dizia o Lente
-Gradum baccalaureatus in preclara..- respondia o bacharelato designando a faculdade a que pertencia (Lamy, 1990, p. 169)
A Reforma de 1901 dos cursos universitários (decreto lei nº4 de 24 de Dezembro), acaba com a distinção entre bacharel e bacharel formado, sendo assim o grau de bacharel passa a ser dado no último ano, e este foi o motivo para a realização do enterro do grau. Em Abril foi afixado o cartaz anunciador das festas que se vieram a realizar de dia 31 de Maio e 1 de Junho. No dia 31 de Maio foi representada uma farsa em verso do Auto do Grau, e no dia 1 de Junho, teve lugar o cortejo fúnebre, com mais de uma dúzia de carros alegóricos, destacando-se entre eles o ataúde do grau. Foi divulgado o Hino do Enterro do "Grau"
Coro
Requiescat in pace,
Nas sempiternas alturas,
Velho Cabo Tormentoso
Das antigas formaturas
Voz
Caia o pranto derradeiro
Na sepultura do Grau
Morreu mais triste e mais seco
Do que um seco bacalhau
É neste evento que aparece o livro dos quartanistas, com 136 caricaturas de todas as faculdades. E em Agosto de 1945 foi suprimido o grau de bacharel na Faculdade de Direito e todos os alunos podiam fazer exames de licenciatura se fossem aprovados no 4º ano qualquer que tivesse sido a sua nota. (Lamy, 1990)
Centenário da Sebenta
A reforma pombalina impunha aos lentes a obrigação de elaborar compêndios sobre as matérias leccionadas. Mas poucos eram os que cumpriam com essa obrigação. Assim, na sua falta, nas Faculdades de Teologia, Cânones e Leis (depois de 1836, Direito) reinava a sebenta. São inúmeras as crónicas que falam dela como elemento de atrofia mental para o estudante e manifestação do carácter rotineiro e déspota do ensino dos lentes. (Cruzeiro, 1979)
O excerto que se seque é do Livro In illo Tempore, de Trindade Coelho, em que ele descreve a sebenta:
« (…)No tempo em que eu andava em Coimbra, ainda a boa e imortal sebenta reinava em todo o seu esplendor! Eu nem fazia sequer ideia, ao chegar a Coimbra, do que vinha a ser isso da sebenta; mas, industriado logo a tal respeito, vim a saber que era uma espécie de folhinha litografada, formato 8.°, que saía todos os dias compendiando a explicação do lente; que se chamava sebenteiro: o que a redigia; que custava sete tostões por mês cada uma; que eram três em cada ano, visto as cadeiras em cada ano serem três; e, finalmente, que, enquanto o lente explicava a lição para o dia seguinte, só o sebenteiro ouvia o lente, e que os mais, todos, e eu portanto, podiam muito bem ler o seu romance, fazer o seu bilhetinho e passá-lo, ou comentar os que vinham dos outros – ou então, se o preferíssemos, dormir ou fazer versos! (…)» (Coelho, 1902)
Os estudantes não apreciavam sebenta e muitos deles até escreviam versos e orações de forma satirizada; Esta oração é da autoria de Mário Monteiro
«Sebenta» Nossa
Sebenta nossa que estais no Inferno; maldito seja o vosso nome: longe de nós o vosso Reino; caiam por terra as vossas doutrinas, assim na Universidade como no Inferno, as doze páginas do costume não nos dai hoje: perdoai-nos as nossas dívidas À Sebentaria, assim como nós perdoamos aos nossos credores; não nos deixeis dar estenderete, mas livrai-nos no Acto Ámen (Calisto, 1950)

A Sebenta era a cópia escrita da dissertação do lente, era litografada em papel ordinário e daí o seu nome, o litógrafo era o Manuel das Barbas e a principal distribuidora era a servente «Marrafa», a sua distribuição era feita por duas vezes. (Calisto, 1950)
No final do século XIX, surgiram as comemorações centenárias, entre elas, a Morte de Camões (1880), Morte de Marquês de Pombal (1882), Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia (1898), e um grupo de académicos resolveu fazer uma comemoração em Coimbra de um centenário, e escolheram a Sebenta. Alexandre Albuquerque foi a alma do Centenário da Sebenta. O Centenário da Sebenta, decorreu a 28, 29 e 30 de Abril de 1899, foi anunciado ao país em medalhas da Santa, bilhetes e selos postas. Foi servido um grande Banquete, foram impostas insígnias da Ordem da Santa Sebenta ao Manuel das Barbas e à Maria Marrafa, e foi também colocada uma lápide na casa onde esta residia, na Rua das Matemáticas, que ficou a ser chamada de Rua da Marrafa. Perto da Meia-noite foi o sarau de gala que só terminou às quatro da manhã, ouviu-se o Hino da Sebenta com a Letra de Mário de Oliveira e música de Luís Pinto Albuquerque Stockler, entravam muitos estudantes em palcos e toda a plateia depois. Este hino foi repetido e muito aclamado. (Calisto, 1950) (Coelho, 1902)
Chegou o dia extraordinário
Ó gentes de Portugal,
Em que passa o Centenário
Duma Coisa Colossal!
---
Vamos pintar o demónio,
Fazer um chinfrin danado!
D. Henrique e Santo António
Vão ficar de cara ao lado.

Durante estas festividades houve também um cortejo, formada por um grupo de campinos, que saíram da Porta Férrea montados em garranos. Alberto Sousa Lamy descreve este evento:
«Abrem o cortejo quatro estudantes vestidos de campinos, com enormes pampilhos, montando garranos arreados à alentejana. Seguem três batedores e uma amazona, montados em burros, aqueles vestidos de fato cinzento e chapéu alto, empunhando lanças de folha com bandeiras. Segue o regimento de «hússares» de Cernache dos Alhos, em número de trinta, montados emburros. Vestem fardas azuis, calças vermelhas e trazem barretinas e grandes espadas. À frente, dois tocam cometa. Segue a burra de Balaão, carregada desebentas, montada por um estudante. Depois, o carro da Marrafa, puxado por um cavalo, armado com verdura, tendo ao centro um portal e cortina enfeitados de rosas, e onde assoma o estudante Aguilar, vestido de tricana.» (Coelho, 1902)
A Queima das Fitas
A Queima das Fitas teve a sua origem nos dois programas anteriores de festas, o Enterro do Grau e no Centenário da Sebenta. Mais especialmente, ao Enterro do grau (1905). Os alunos do IV Ano de Direito começaram a queimar as fitas que usavam para atar os livros, e por isso esta festa tradicional da Academia ficou a ser conhecida por Queima das Fitas, embora o que na realidade se queima, não são as fitas mas sim o grelo (Lamy, 1990).
A primeira Queima das Fitas surgiu pela primeira vez em 1918 por iniciativa dos Quartanistas de Direito e de Medicina, em 1919, os estudantes do 4º ano jurídico realizou pela primeira vez, o cortejo dos quartanistas de todas as faculdades. Esta sim foi a primeira Queima das Fitas e ainda pela primeira vez, o cortejo realizou-se no dia 27 de Maio, data do célebre conflito do Olha o boné! Em Maio de 1913. (Lamy, 1990)
Até aos anos 20 as latadas, incluíam-se neste programa da queima, que se instalava por toda a Alta de Coimbra. Mas os festejos da queima tinham a sua representação:
-Na Serenata Monumental
- Venda da Pasta
- Sarau
- Garraiada
- no acto da "queima" do grelo
- Desfile dos quintanistas, grelados e caloiros
(Lopes, 1982) (Lamy, 1990)
António Nunes contesta estes festejos não os considerando como Praxe em sentido estrito mas dizendo que a Praxe é as normas que regulamento a boa exercitação cíclica destas tradições (Nunes, Blogue da Guitarra de Coimbra I, As praxes académicas de Coimbra, 2005)
A "Queima das Fitas, a Saudosíssima "festa da queima" era a culminada repetida actualmente da Praxe académica. Muita gente vinha a Coimbra só para assistir. As ruas estavam sempre cheias, os hotéis superlotados-
Venda da Pasta e Verbena
Foi o curso médico de 1931/1932, que deu inicio a esta venda da pasta a favor do Asilo de Infância Desvalida, que era uma obra patrocinada pelo Professor Elísio de Moura. Era vendida uma pasta em miniatura no dia do Quintanista, pelos quintanistas que eram acompanhados por duas crianças daquele Asilo. A primeira miniatura surgiu em 1904 e continha a recita do sonho à realidade, de Gustavo Martins de carvalho do V ano teológico-jurídico. (Lamy, 1990) (Lopes, 1982). A Verbena consiste num lanche organizado pela Queima das Fitas destinado inicialmente às crianças da Casa de Infância Doutor Elysio de Moura que participaram na Venda da Pasta, actualmente, é aberta a todas as crianças das casas de solidariedade social de Coimbra. Para além do lanche, é oferecido, ás crianças, um pequeno espectáculo.
Garraiada
No dia 26 de Maio de 1929, teve lugar na Praça de Santa clare, na parte norte do local onde actualmente está localizado o Portugal dos Pequeninos, a primeira garraiada da queima, que foi promovida pelo Orfeon Académico e para qual a Real republica Ribatejana, forneceu grande parte dos diestros. Uma vez que a praça de Santa Clara ardeu em Abril de 1935 a garraiada foi transferida para a figueira da foz.
A Garraiada da Queima das Fitas é constituída por três momentos. Tem início com a Parada dos Fitados pela Arena, onde estes abanam orgulhosamente as suas fitas, seguida de uma Tourada e por fim a tão esperada Garraiada.
" (…) Á Garraiada na Figueira deslocava-se Coimbra em peso, em automóvel, em caminonete, em comboios especiais. Era um êxodo! O David Ribeiro Teles que frequentava a Escola Agrária, era, no meu tempo um dos poucos que participava com conhecimento e com arte. Outros ribatejanos notabilizavam «pegas» de estrondo. Mas a grande massa dos «diestros» para gáudio de todos, era improvisada pela valentia, a superar a ignorância nas «lides». Como me lembro do Zé Portugal a lidar sucessivamente com a capa, e depois a batina, e depois ainda com calças, pois o bicho tudo levava vez apos vez, dependuradas dos cornos todas as peças com que o Zé levava a cabo os seus magistrais «passes de peito» Como me lembro bem do Pika, de braço partido ao peito, a assar sardinhas no centro da praça e a fintar o animal com as suas correrias de atleta de circo!!. Como me vem à memória o Mani, a fazer o pino nos cornos do garraio! Era uma festa de arromba, com algumas pisaduras ou ferimentos, mas que festa, que gargalhadas que alegria"
(Costa, 1975)
Queima do Grelo
A queima do grelo realizava-se no Largo da Feira, Pelas Praxes Académicas 1925, num altar copiosamente ornamentado, erguia-se um bacio( penico) cheio de brasas, dentro do qual o quartanista lançava o seu grelo . Depois o padrinho um quintanista abraçava o afilhado ao mesmo tempo que lhe colocava a pasta de luxo sobre a cabeça. A Queima das Fitas é apenas uma das cerimónias contudo é a mais importante, o que se queima na realidade não são as fitas mas sim o grelo.
Cortejo alegórico [dos quartanistas] da Queima das Fitas

Este cortejo, era o número maior da Queima das Fitas, era organizado no pátio da Universidade e, depois de descer a avenida Sá da Bandeira terminava na portagem. Branquino da Fonseca relatou este cortejo da seguinte forma
"(..) O cortejo tinha começado a andar lentamente e os carros iam saindo da porta férrea, como levados sobre a turba maciça e pasmada. Seguiam muito lentos pela Rua Larga, de janelas engalanadas com colchas de seda e apinhadas de gente, para o Largo da Feira onde estava armado um estrado, ao meio da grande praça coalhada de uma multidão tumultuosa. Em toda a volta do largo, as janelas e varandas tinham um ar garrido e festivo como as suas colgaduras de todas as cores penduradas a revestir as paredes. Os quartanistas iam jutar-se sobre o palanque e os quintanistas que lhes cediam as pastas de fitas largas subiam os degraus e juntavam-se. Estes depositavam, dentro do bacio, o grelo a fita estreita que durante o ano haviam trazido na pasta. Por fim lançavam fogo a essas fitas que estavam dentro do vaso. E os quintanistas entregavam aos novos colegas as pastas que tinham usado até aí dando-lhes um abraço fraterno. Muitos estudantes andavam já embriagados e as bandas de músicas continuavam a atroar aos ares com as suas marchas vibrantes"
A Serenata Monumental
A Serenata Monumental, ao cimo das escadarias, marca o início da Queima das Fitas. Esta serenata, integrada nas actividades da Queima das Fitas, aparece pela primeira vez em 1949. a Serenata Monumental é a consagração dos guitarristas e cantores que nela participam. É Praxe, na Serenata não se baterem palmas e o publico manter-se em silêncio até ao final. Os estudantes devem estar com a capa traçada e com as insígnias recolhidas. Este momento é repleto de emoção tanto para os estudantes que traçam a capa pela primeira vez com para aqueles que se preparam para deixar a sua vida académica, muitos são os que choram ao ouvir a balada de despedida desse ano, fruto dos cultores da Canção de Matriz Coimbrã. (Lamy, 1990, p. 673)
Bênção das Pastas
Era na capela da Universidade que era feita a Consagração dos Quintanistas ao Sagrado Coração de Jesus. Havia uma missa que era proferida pelo Bispo-Conde, com a presença do Reitor e de muitos professores. Os quintanistas apresentavam as pastas ao Bispo-Conde que dava a bênção geral começando depois a desfilar perante ele, ajoelhando-se a seus pés. Após receber a bênção o quintanista deixava o seu nome no livro de ouro das consagrações. Para finalizar o Bispo-Conde dava a Bênção do Santíssimo. Terminada a cerimónia os quintanistas tiravam fotografias na escadaria central da Via Latina. (Lamy, 1990, p. 672)
O Baile de Gala da Queima ou das Faculdades
Este baile surgiu pela primeira vez em Maio de 1933, teve lugar no salão da Câmara Municipal, posteriormente eles foram realizados no Ninho dos Pequeninos, e em Maio de 1997 efectuou-se pela primeira vez no ginásio do Liceu D.João III. Geralmente tinha que se contar no orçamento o custo dos copos e talheres no orçamente porque no final da noite já tinha tudo desaparecido, Segundo o Jornal de Coimbra de 18/05/1988 dos 5000 copos de vidro que foram utilizados só sobraram 120. Os grandes beneficiários do desaparecimento das colheres e copos eram as repúblicas. (Lamy, 1990, p. 675)
Récita de Despedida dos Quintanistas
Sempre foi o palco privilegiado de apresentação das Baladas de Despedida que seriam executadas na Serenata Monumental na semana seguinte. A razão é óbvia: era a ocasião em que se congregavam os quintanistas (finalistas) dos diversos cursos da Universidade de Coimbra, servindo como apresentação e simultaneamente ensaio.

A Praxe e o futuro
A praxe de há cem anos atrás não tem nada a ver com a que existe agora, a praxe desde que ela existe, sempre evoluiu e se adaptou ao contexto sócio cultural da época. Aquilo que há cem anos atrás fazia sentido, actualmente já não faz e por isso é que a praxe evoluiu e surgiram outras, como o exemplo do uso do cartola que surgiu por acaso e tornou-se tradição e foi codificado passado mais de cinquenta anos de ter surgido. Há sempre qualquer coisa nova, é a maneira como os estudantes pegam e o perpetuam e é isso que faz a tradição. A praxe. No futuro enquanto as pessoas se identificarem e acharem que existe algo especial em Coimbra vai existir praxe e tradição, a tradição faz parte da própria universidade. A identidade de uma instituição não se apaga da noite para o dia, as tradições estão tão enraizadas, fazem parte da própria essência da Universidade, que muito dificilmente vão desaparecer, a maneira como serão vividas é que irá evoluir. Há uns anos atrás a praxe não era sazonal, era vivida intensamente mas com a evolução passou a ser sazonal, mas é vivida intensamente cada momento.
Acabar com a Praxe era a acabar com a Universidade de Coimbra e a Universidade deixaria de ser uma referência como ícone em termos culturais. Enquanto existir Universidade vai existir praxe, porque já faz parte da própria estrutura. (Jesus, 2011)

Conclusão
O património imaterial é resultante da universidade enquanto instituição altamente prestigiante e que projectou a nova cidade. O património é a preservação da historio e projectar essa capacidade no presente valorizando o passado. Esta inseparável ligação e deve-se ao facto de ambas serem património.
Segundo Elísio Estanque, historia é fundamental para promoção e reforço de uma identidade colectiva e de uma dada comunidade académica ou urbana onde essa universidade esta inserida, a identidade forja-se ao logo da história e quando uma instituição uma universidade. Por esse motivo ao longo do meu trabalho referi elementos históricos, quando uma Universidade não tem história precisa de estimular essa construção porque só dessa maneira consegue reforçar a sua própria identidade. As restantes Universidades portuguesas copiam a tradição da Universidade de Coimbra, a Universidade de Coimbra transporta um simbolismo único que se justifica através da sua história e das suas tradições. Deste modo como falei anteriormente a praxe Académica de Coimbra integrasse no ponto IV do Artigo 1 da Convenção de 1972
iii. Fornecer um testemunho único ou excepcional sobre uma tradição cultural
A praxe é um testemunho único e vivida intensamente pelos estudantes que passam pela Universidade que se identificam com ela. O que poderá acontecer se a Universidade de Coimbra for considerada como Património? A Universidade de Coimbra tem perdido o protagonismo ao longo destes últimos trinta anos, esta perda de protagonismo deve-se ao facto de se terem multiplicado o número de universidades, existem mesmo algumas tensões entre Coimbra e as outras universidades. O objectivo desta candidatura a património é o de reconhecimento pelas instituições legais e a importância da Universidade enquanto Património. Se a candidatura for aceite, Coimbra ficará novamente no mapa e voltará a ser uma das cidades mais importantes do país como já o foi anteriormente.


Anexos




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A Cabra
Fonte; http://ipt.olhares.com/data/big/139/1392290.jpg


Prisão Académica da Universidade
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_LPKiUIBcZPE/RgU6v_BiwI/AAAAAAAACeY/KN_mkl4ApAo/s1600/Pris%C3%83%C2%B5es%2BAcad%C3%83%C2%A9micas%2Bde%2Bfora%2B1%2Bem%2B19-3-2007.jpg



Pormenor de uma gravura holandesa (de George Braun & Franz Hogenborg) de 1572, sobre Coimbra. Parece representar dois escolares – estudantes ou professores. Será o único documento iconográfico sobre o traje académico de Coimbra no século XVI. (Extraído de António Correia, "Subsídios para o estudo do trajo dos estudantes de Coimbra", Rua Larga, n.º 5 (16/10/1957), pág. 133).


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www.2009.queimadasfitas.org/fly/garraiada_web450.jpg


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