PRÉ-COBERTURA DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES DO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO – ENSAIO MIDIÁTICO PARA A COPA DO MUNDO BRASIL/2014

July 26, 2017 | Autor: Lafaiete Junior | Categoria: Futebol, Mídia, Copa Do Mundo
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PRÉ-COBERTURA DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES DO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO –
ENSAIO MIDIÁTICO PARA A COPA DO MUNDO BRASIL/2014[1]
ALESSANDRA FERNANDES FELTES[2]; LAFAIETE LUIZ DE OLIVEIRA JUNIOR[3];
GUSTAVO ROESE SANFELICE[4], NORBERTO KUHN JÚNIOR[5]; JOAQUÍN MARÍN
MONTÍN[6].



RESUMO
A PRESENTE PESQUISA CARACTERIZA-SE COMO
DESCRITIVA/QUANTITATIVA/QUALITATIVA, TENDO COMO CORPUS O JORNAL FOLHA DE
SÃO PAULO ANALISADO DURANTE OS DIAS 1 DE MARÇO AO DIA 15 DE JUNHO EM TODO O
SEU EXEMPLAR. O OBJETIVO DESTE TRABALHO FOI IDENTIFICAR E INTERPRETAR A
PRODUÇÃO DE SENTIDO ESTABELECIDA PELO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO/BRASIL,
SOBRE A PRÉ-COBERTURA DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES/BRASIL/2013. FORAM
ANALISADAS 107 EDIÇÕES DO JORNAL, COM O OBJETIVO DE ANALISAR E INTERPRETAR
O AGENDAMENTO E O VIÉS REALIZADO PELO JORNAL, RELACIONANDO ÀS INFERÊNCIAS
AS CATEGORIAS CONSIDERANDO TEXTOS, IMAGENS, EDITORIAIS, MATÉRIAS, PAINÉIS,
OUTROS CANAIS E PUBLICIDADES; A PARTIR DAS UNIDADES DE SIGNIFICADOS
CHEGAMOS AS SEGUINTES CATEGORIAS: ESPORTE RESULTADO; ESPORTE ECONOMIA;
INFRAESTRUTURA; QUESTÕES POLÍTICAS E SOCIAIS E PUBLICIDADE. CONCLUÍMOS QUE
O JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO TEM O DIREITO DE ESCOLHER AQUILO QUE PARA ELA É
MAIS RELEVANTE NO CONTEXTO DA SOCIEDADE, ATRAIR PODEROSOS PATROCINADORES AO
INVÉS DE CENTRALIZAR SEUS CADERNOS NA DISCUSSÃO DE ALAVANCAR O PAÍS EM SEU
DESENVOLVIMENTO OU DISPOR INFORMAÇÕES CONSTRUTIVAS PARA UMA SOCIEDADE NÃO
CRÍTICA.

PALAVRAS-CHAVES: Mídia. Futebol. Copa das Confederações


PRE-COVERAGE OF CONFEDERATIONS CUP IN THE NEWSPAPER FOLHA DE SÃO PAULO
– A MEDIATIC TRIAL FOR THE BRAZIL 2014 WORLD CUP


ABSTRACT
THE PRESENT DESCRIPTIVE, QUALITATIVE AND QUANTITATIVE STUDY ANALYZED A
CORPUS COMPRISING ISSUES FROM THE BRAZILIAN NEWSPAPER FOLHA DE SÃO PAULO
PUBLISHED FROM MARCH 1 TO JUNE 15, 2013, WHICH WERE READ IN FULL. THE AIM
OF THIS PAPER WAS TO IDENTIFY AND INTERPRET THE PRODUCTION OF MEANING
ESTABLISHED BY FOLHA DE SÃO PAULO IN THE PRE-COVERAGE OF BRAZIL 2013
CONFEDERATIONS CUP. A TOTAL OF 107 ISSUES OF THE NEWSPAPER WERE ASSESSED TO
ANALYZE AND INTERPRET THE AGENDA AND THE BIAS ADOPTED BY THE NEWSPAPER,
CONSIDERING TEXTS, IMAGES, EDITORIALS, REPORTS, PANELS, OTHER ONLINE
CHANNELS, AND ADVERTISEMENTS. BASED ON THE UNITS OF MEANING, WE OBTAINED
THE FOLLOWING CATEGORIES: SPORT RESULT; SPORT ECONOMY; INFRASTRUCTURE;
POLITICAL AND SOCIAL ISSUES, AND PUBLICITY. WE CONCLUDED THAT THE NEWSPAPER
FOLHA DE SÃO PAULO HAS THE RIGHT TO CHOOSE WHICH, IN ITS POINT OF VIEW, IS
MORE RELEVANT FOR THE SOCIETY: ATTRACTING POWERFUL SPONSORS OR FOCUSING ON
DISCUSSING HOW TO STIMULATE THE DEVELOPMENT OF THE COUNTRY AND PROVIDING
CONSTRUCTIVE INFORMATION TO A NON-CRITICAL SOCIETY.


KEYWORDS: Media. Football. Confederations Cup


COBERTURA PREVIA A LA COPA DE LAS CONFEDERAÇÕES EN EL PERIÓDICO FOLHA
DE SÃO PAULO – ENSAYO MEDIÁTICO PARA EL MUNDIAL DE FÚTBOL DE BRASIL EN 2014


RESUMeN
LA PRESENTE INVESTIGACIÓN, CARACTERIZADA COMO
DESCRIPTIVA/CUANTITATIVA/CUALITATIVA, TIENE COMO CORPUS LAS EDICIONES DEL
PERIÓDICO BRASILEÑO FOLHA DE SÃO PAULO PUBLICADAS DEL 1 DE MARZO A 15 DE
JUNIO DE 2013, QUE FUERON LEÍDOS INTEGRALMENTE. EL OBJETIVO DE ESTE TRABAJO
FUE IDENTIFICAR E INTERPRETAR LA PRODUCCIÓN DE SENTIDO ESTABLECIDA POR
FOLHA DE SÃO PAULO EN LA COBERTURA PREVIA A LA COPA DE LAS CONFEDERACIONES
DE BRASIL EN 2013. SE ANALIZARON 107 EDICIONES DEL PERIÓDICO, CON EL
OBJETIVO DE ANALIZAR E INTERPRETAR LA AGENDA Y EL SESGO ADOPTADO POR EL
PERIÓDICO, CONSIDERANDO TEXTOS, IMÁGENES, EDITORIALES, MATERIALES, PANELES,
OTROS CANALES EN LÍNEA, Y PUBLICIDADES. A PARTIR DE LAS UNIDADES DE
SIGNIFICADO, SE OBTUVIERON LAS SIGUIENTES CATEGORÍAS: DEPORTE RESULTADO;
DEPORTE ECONOMÍA; INFRAESTRUCTURA; CUESTIONES POLÍTICAS Y SOCIALES, Y
PUBLICIDAD. CONCLUIMOS QUE EL PERIÓDICO FOLHA DE SÃO PAULO TIENE EL DERECHO
DE ELEGIR LO QUE CONSIDERA MÁS RELEVANTE PARA LA SOCIEDAD: ATRAER PODEROSOS
PATROCINADORES O ENFOCAR LA DISCUSIÓN DE CÓMO FOMENTAR EL DESARROLLO DEL
PAÍS Y PROVEER INFORMACIONES CONSTRUCTIVAS UNA SOCIEDAD NO CRÍTICA.

PALABRAS-CLAVES: Media. Fútbol. Copa de las Confederaciones


INTRODUÇãO
Os Megaeventos Esportivos se tornaram uma notável fonte de estudos
científicos nos últimos anos, utilizando como base o volume de inferências
midiáticas relacionadas à sociedade contemporânea. Isto é, seu destaque
resulta em grande parte da cobertura da mídia, "por sua capacidade de
construir sentidos e signi cados no interior de cada cultura" (MEZZAROBA;
PIRES, 2011, p. 338).
Estes grandes eventos, envolvem ao seu redor um conjunto de pessoas e
fatores, movimentando países, governos e suas economias (TAFFAREL; SANTOS
JUNIOR; SILVA, 2013). Especificamente no Brasil, a partir de 2007 com os
Jogos Pan-Americanos, prosseguindo com a sede da Copa do Mundo FIFA Brasil
2014 e encerrando com os Jogos Olímpicos em 2016, o país vive a década do
esporte. Instigando os investidores a aplicarem sua renda e patrocinarem
estes acontecimentos, por sua habilidade em atrair espectadores de todas as
idades e classes sociais, tornando-se assim uma fonte interminável de lucro
e noticias (MEZZAROBA; PIRES, 2011).
Ao mencionarmos a Copa do Mundo, articulamos este espetáculo e
despertamos em nós um sentimento de Magia, seja a Magia da Copa, da
seleção, dos dribles, do jogo, dos torcedores, ou cronistas, ela está
envolvida (DAMO, 2006). Conforme os autores Leoncini e Terra da Silva
(2005) o futebol nacional por si só, sem envolver algum Megaevento
Esportivo, gera 300 mil empregos e 30 Milhões de praticantes, atingindo
mais que 10% da população. São 580 Estádios, 9 Milhões de chuteiras
compradas por ano no país, 6 Milhões de bolas, e nada menos que 32 Milhões
de camisetas.
Esses dados deixam de lado os milhares que jogam sem chuteira, as
outras tantas bolas de jornal, garrafas pet ou até mesmo de meia calça,
esquecem todas as camisetas customizadas em casa e ignora os milhões de
estádios que tem como goleiras os portões de casa e como linha lateral o
calçamento. Mas deixa evidente, o quão vantajoso é ter uma Copa do Mundo de
Futebol em terras tupiniquins.
"A Copa das Confederações, ainda que, segundo a definição de alguns
autores, não se enquadre nos parâmetros de um megaevento, é sim um evento
prévio, utilizado também pelo campo da mídia no agendamento da Copa do
Mundo de Futebol FIFA" (MÜLLER et al, 2013, p. 87). De certo modo, este
evento que é realizado um ano antes da Copa, têm servido também para que a
FIFA exerça uma relativa "pressão", principalmente em países não
desenvolvidos sobre a cobrança dos detalhes finais para o Megaevento.
Portanto, é entendível o interesse da comunidade científica em
realizar profundas reflexões, críticas e perspectivações dos chamados
megaeventos esportivos (TAVARES, 2011), além de investigar às políticas
públicas estabelecidas à adequação das necessidades estruturais para
organização de tais eventos no território brasileiro" (DALONSO; LOURENÇO,
2011, p. 519).
Nesse contexto, a presente pesquisa caracteriza-se como
descritiva/quantitativa/qualitativa, tendo como corpus o jornal Folha de
São Paulo analisado durante os dias 1 de Março ao dia 15 de junho em todo o
seu exemplar, categorizando a pré-cobertura da Copa das Confederações/2013.
Foram analisadas 107 edições do jornal, com o objetivo de analisar e
interpretar o agendamento e o viés realizado pelo jornal, relacionando às
inferências as categorias considerando textos, imagens, editoriais,
matérias, painéis, outros canais e publicidades.
Portanto, a partir das unidades de significados analisamos os textos,
imagens, publicidade, editoriais, painéis, matérias, títulos, linha de
apoio e outros canais, tudo que sistemicamente esteja relacionado à Copa do
Mundo 2014 e/ou Copa das Confederações/2013, aproximando-se das categorias
descritas abaixo:
1. Esporte Resultado: corresponde a características relativas à disputa
do esporte em si, considerando aspectos técnicos, táticos e físicos.
2. Esporte Economia: representa o esporte enquanto negócio, discutindo
investimentos, patrocinadores, licitações e despesas relativas ao
futebol/ Copa do Mundo e Copa das Confederações.
3. Infraestrutura: apresenta aspectos relativos à sobre criação,
restauração e aumento de aeroportos, estádios, vias, hotéis, como
demanda de verba, financiamento, projetos de reforma ou de construção,
etc. para a Copa das Confederações e Copa do Mundo de futebol.
4. Questões Políticas e Sociais: discute aspectos relativos à política e
manifestações sociais ocorridas no Brasil, vinculadas a Copa das
Confederações e Copa do Mundo de Futebol.
5. Publicidade: retrata as publicidades veiculadas nos jornais com
motivação da Copa das Confederações ou Copa do Mundo de Futebol e
desmembra-se nos financiadores do evento esportivo e também dos
apoiadores da Folha de São Paulo.
No próximo tópico realizamos as análises a partir das categorias
analíticas estabelecidas para a presente pesquisa.


1. ANÁLISE DE DADOS


Os Megaeventos Esportivos englobam um grande contingente de público,
um mercado alvo, construções de instalações, efeitos políticos,
envolvimentos financeiro do setor público em diferentes esferas e um
impacto sobre o sistema econômico e social do local que o receberá (HALL,
apud TAVARES, 2011). Por isso, ao ser o País Sede da Copa do Mundo
FIFA/Brasil/2014 o governo brasileiro utiliza o argumento de colocar-se em
evidência global.
Assim, o país se esforça para expor o que há de melhor nele, já que
está sendo assistido mundialmente. Ou seja, com esta exibição, a imagem que
o Brasil consolidará, será a que ficará diante do mundo (OLIVER, 2012).
Para o autor Damo (2011), nos dias de hoje a Copa do Mundo também
representa outro caráter, é vista como uma mercadoria ofertada a um público
aficionado por futebol que financia este espetáculo Mundial. Considerando o
jogo como um produto, enfatizando muito mais o valor econômico do que
esportivo.
Por isso, segundo Mezzaroba, Messa e Pires (2011, p. 27) "um
megaevento esportivo é muito mais um fato social e econômico, que impacta
diferentes âmbitos da sociedade que o acolhe, do que um evento esportivo".
Complementando estes autores, Gastaldo (2009) expõe a Copa do Mundo como um
fato social de suma importância para os brasileiros, e muito pelo fato da
vinculação midiática que esse Megaevento possui. Ainda, o autor Damo (2011)
acrescenta que ela tende a criar um interesse em mais torcedores do que
normalmente o futebol encontra.
Consequentemente, a mídia se apodera da comunicação entre ela e o seu
receptor/consumidor, através de processos identitários (formas de
enquadramentos) estabelecidos pela sociedade/cultura que estes estão
inseridos, isto é, "o midiático torna-se acessível ao seu público pela
similaridade que este dá à sua forma e ao seu conteúdo" (SANFELICE, 2007,
p.15). Desta maneira, a mídia forma o esporte, como ele constitui a mídia.
A Copa do Mundo de Futebol, bem como os Jogos Olímpicos, são um referencial
da penetração nos campos sociais dos esportes como um espetáculo.
Desta maneira, durante nosso período de recorte (março, abril, maio e
junho) identificamos 817 inferências que retratavam e agendavam a Copa das
Confederações/2013 e/ou a Copa do Mundo/2014.


Gráfico 1 – Porcentagem de inferências por categorias durante o
período do recorte



Este gráfico acima representa o total de unidades de significados
(textos, imagens, publicidade, editoriais, painéis, matérias, títulos,
linha de apoio e outros canais) extraídas da Folha de São Paulo,
representado 817 inferências. Seguindo a lógica da construção da notícia,
onde o fato preponderante no período de análise do recorte é o agendamento
a Copa das Confederações/2013 diretamente ligados à construção do esporte
ser uma mercadoria, a categoria Publicidade, configura-se com 27% do total,
seguido de Esporte Resultado com 21%, 19% Infraestrutura, 17% Questões
Políticas e Sociais e por fim 16% Esporte Economia.
Porém, por mais que ser sede da Copa seja um compromisso assumido
pelo país e uma alavanca e estratégia de atração de investimentos
internacionais, outras demandas perdem seu espaço, como, por exemplo, a
saúde e educação (PORTO; CERON; ARAÚJO, 2012). Conforme Ribeiro (2008, p.
115), o legado de Megaevento Esportivo ideal seria o que contemplasse os
aspectos: esportivos, econômicos, sociais e ambientais. Consequentemente,
seguindo o pensamento do autor, o Jornal Folha de São Paulo deveria
utilizar de forma equilibrada as informações e expor para a sociedade
conhecimentos de todos os setores, apresentando variabilidade ampla.
A Copa do Mundo no Brasil é um Megaevento repleto de oscilações entre
as áreas. Por exemplo, podemos destacar nas categorias Infraestrutura e
Esporte Economia os investimentos que são realizados para a construção dos
estádios e mobilidade urbana, entretanto, sabemos que a aplicação deste
dinheiro decorre das esferas públicas, estaduais e federais, além do BNDES.
Envolvendo a categoria Questões Políticas e Sociais, tendo em vista que o
país ainda permanece em desenvolvimento e esse valor empregado é retirado
de outras áreas essenciais para a evolução nacional, tais como a saúde e a
educação (DOMINGUES, BATERELLI JUNIOR E MAGALHÃES, 2011).
Previamente à Copa das Confederações 2013 houve manifestações, onde a
população que se uniu as causas "clamou em suma por uma reforma política,
por ética, justiça social, mas também não deixou de atacar entidades
ligadas as elites financeiras mundiais. [...] e dessa forma, a própria FIFA
e a Copa das Confederações entraram no alvo das críticas" (MÜLLER et al,
2013).
Assim, já evidenciamos acima, que o Brasil sofre defasagens
importantes na construção de sua Copa, pois há dificuldades em lidar
somente com o dinheiro privado sem envolver isenções fiscais ou a
possibilidade dos Elefantes Brancos. Novamente, integrando este assunto às
categorias Infraestrutura e Esporte Resultado, pois envolve a quantidade de
sedes e a inexistência de clubes com projeção nacional presente (Cuiabá,
Brasília e Manaus). Necessitando repensar o objetivo atribuído aquela
estrutura, que provavelmente será para locação das instalações para eventos
diversos com menor expressão, causando assim um déficit econômico
(BRUGGEMANN et al, 2011).
Por fim, percebemos que todas as categorias interligam-se por ter uma
ampla capacidade de discussão e assuntos, mesmo que em número de
inferências algumas ganham maior destaque. Contudo, evidenciamos a ênfase
que a categoria Publicidade obteve, afirmando pressuposições de que a Copa
do Mundo é um Megaevento que envolve futebol, torcida, nacionalismo,
mobilidade urbana, investimentos, manifestações, mas mais que isso, é uma
mercadoria que repercute no mercado como um produto de alta qualidade e
valor.
Segundo Mezzaroba e Pires (2011) o esporte tornou-se um grande
investimento financeiro pela habilidade de atrair espectadores sendo uma
fonte interminável de notícias, de público e de lucro, oportunizando
espaços cada vez maiores para os patrocinadores. É nesse contexto que o
jornal prepara seu agendamento, pois fica eminente a partir dos dados
apresentados no gráfico anterior que assim como a FIFA, o jornal Folha
também sabe o quão vantajoso é vender a Copa do Mundo como mais que um
evento esportivo.
O autor Tavares (2011, p.19) também cita que "[...] a FIFA
desenvolveu muito pouco um discurso a respeito de valores do esporte como
uma missão a promover por meio do futebol. Parece-nos que, para ela, a Copa
do Mundo é apenas esporte competitivo e negócio". Assim, percebemos que a
lógica que se segue para a entidade organizadora, expande-se para outras
empresas que necessitam ampliar seus lucros através da magnitude que é a
Copa. Porto, Ceron e Araújo (2013) identificam o principal slogan midiático
do evento, o de que a Copa vai embora, mas o desenvolvimento irá ficar para
a nação. Porém, que desenvolvimento é esse?
Em alguns casos os Megaeventos Esportivos tornaram-se uma excelente
ferramenta carreadora de investimentos estruturais, nanceiros e
pro ssionais, cultivando a prosperidade e oportunidades para suas cidades-
sede, à exemplo da cidade de Barcelona (SILVA et al, 2011). Entretanto, não
se pode reduzir a discussão de que estamos tratando hoje, de algo mais do
que o esporte, a fidelização de patrocinadores e a busca pelo lucro
(OLIVEIRA, 2011).
Ao sediar um megaevento esportivo, "há sem dúvida uma pressão das
empresas que têm negócios no Brasil, especialmente aquelas que produzem
algo que identifique o País [...], pois o marketshare ganhará proporções
ainda maiores, e tantas outras que ainda não foram descobertas pelo mundo"
(OLIVER, 2012, p 11). Portanto, os 27% que encontramos na categoria
Publicidade, nada mais é que uma mercadoria pronta para ser vendida, seja o
Evento, a Copa do Mundo, uma Instituição, a FIFA, uma empresa, e até mesmo
quem sabe uma paixão nacional, e é através da incessante repetição que
conseguimos evidenciar isso, a imagem abaixo relata uma constante do
periódico:


Recorte 1- Imagem do Jornal da Folha de São Paulo,
Caderno Principal – Poder, A5, 02 de Junho de 2013.



Nas 107 edições, aparece 98 vezes a imagem do patrocinador acima,
sempre da mesma forma: o produto centralizado e um logotipo alusivo a Copa
do Mundo/FIFA/Brasil/2014, no Caderno Principal, na sessão Poder. Ainda
existem publicidades da mesma empresa em outras páginas do periódico
(Veículos), com a mesma construção de alinhamento e design.
À vista disso, percebemos o quão sutil essa fixação pode ser, a ponto
de nem nos darmos conta do quão forte ela é, realizando uma associação com
o que realmente deveria importar em um Megaevento Esportivo, além das
questões de rendimento esportivo, as questões de Infraestrutura,
desenvolvimento econômico ou viés político/social. Somente a marca Hyundai
no tempo do recorte obteve 222 inferências, enquanto todas as inferências
relacionadas às questões de Infraestrutura não passaram de 152 menções, que
nem podemos dizer, serem honrosas.
Pensando no período do recorte, a tendência era de que as questões de
Infraestrutura se sobressaíssem perante as outras, afinal de contas
estávamos em um período de entrega de obras, estádios, aeroportos, mas
mesmo assim, optamos por deixar essas questões de lado, até porque a
criação de uma identificação do torcedor com os patrocinadores é mais
importante do que o desenvolvimento urbano do país sede.


Considerações Finais


As representações sociais em síntese, são produzidas na vida
cotidiana, sejam nos processos de interação social, de comunicação,
trabalho, cultura, etc. São formas de interpretar, compreender,
categorizar, sentir e ler o mundo. Se o mundo pensa e agenda-se a partir
dos Megaeventos Esportivos, especificamente a Copa do Mundo e seu evento
teste, a Copa das Confederações, podemos considerá-las uma representação
social, pois elas tornaram-se expressões de um grupo em um momento
histórico específico.
Assim, as mídias somente procuram estabelecer relações com a sociedade
discutindo aquilo que ela acredita ser mais significativo para o leitor,
incorporando e refletindo os valores comuns objetivando alcançar um sucesso
lucrativo. O autor Traquina (2004) já citava que os jornalistas têm uma
importante influência sobre o que é notícia. Tanto a seleção das
ocorrências e/ou das questões que constituirão a agenda, como a seleção dos
enquadramentos para interpretar essas ocorrências e/ou questões são poderes
importantes do campo jornalístico e os seus profissionais.
A partir do objetivo de identificar e interpretar a produção de
sentido estabelecida pelo Jornal da Folha de São Paulo sobre a pré-
cobertura da Copa das Confederações/Brasil/2013 conseguimos compreender que
o periódico opta por expor de forma constante e ampla seus apoiadores, que
por coincidência, ou não, também são patrocinadores da Copa do Mundo de
Futebol FIFA/Brasil/2014 e por vezes ainda são financiadores da Seleção
Brasileira de Futebol.
Dessa forma, a Folha acaba por conseguir vencer a imagem da Seleção
Nacional, o Megaevento Esportivo e junto disso, os seus patrocinadores,
obtendo assim uma lógica na construção da notícia que preza pelo viés
econômico, superando até mesmo os fatores urbanos e esportivos. Portanto,
se as pessoas elaboram seus conhecimentos sobre o mundo a partir daquilo
que a mídia inclui ou exclui do seu próprio conteúdo, por que a Mídia ou as
empresas que querem o lucro não tirariam proveito disso? Infelizmente, o
Jornal Folha de São Paulo tem o direito de escolher aquilo que para ela é
mais relevante no contexto da sociedade, atrair poderosos patrocinadores ao
invés de centralizar seus cadernos na discussão de alavancar o país em seu
desenvolvimento ou dispor informações construtivas para uma sociedade não
crítica.








REFERÊNCIAS


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copa) do Brasil. In: PIRES, G. L. (Org.). O Brasil na Copa, a Copa no
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[1] Projeto de pesquisa financiado pela FAPERGS
[2] Acadêmica do Curso de Educação Física e Bolsista Pesquisadora
Feevale ([email protected]);
[3]xyz –—˜¸¹ºÒÓéê [4]
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h¹_6?\?
h¹_6?]? h¹_6?h¹_6?fHqÊÿÿÿÿ Acadêmico do Curso de Educação Física
Feevale e Bolsista Pesquisador FAPERGS ([email protected]);
[5] Professor Doutor na Universidade Feevale e Coordenador da Pesquisa
([email protected]);
[6] Professor Doutor e Pesquisador na Universidade Feevale
([email protected]);
[7] Professor Doutor e Pesquisador na Universidad de Sevilla/Espanha
([email protected]).


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