Precisamos falar sobre Kevin: de quem será a responsabilidade pelo comportamento de um psicopata?

July 18, 2017 | Autor: Rosiane Gonçalves | Categoria: Estudos Literários
Share Embed


Descrição do Produto

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR FABRA
2ª GRADUAÇÃO EM LETRAS - PORTUGUÊS










Rosiane Pereira Gonçalves Boina











FILME: PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN






















Serra/ES
2015
Rosiane Pereira Gonçalves Boina



















FILME: PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN













Resenha apresentada para a disciplina
Psicologia da Educação do curso de 2ª
Graduação em Letras-Português do Centro de
Ensino Superior Fabra.


Professora Maria Dirce Barcelos















Vitória/ES
2015

RESENHA

RAMSAY, LYNNE. FILME: PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN. 2011.


Precisamos falar sobre Kevin: de quem será a responsabilidade pelo
comportamento de um psicopata?


Estaremos aqui propondo algumas idéias e reflexões sobre o filme:
Precisamos falar sobre Kevin (We need to talk about Kevin) estreado 2011 e
baseado em um best seller que foi escrito e lançado por Lionel Shriver no
ano de 2003. O livro parece ter sido baseado em fatos verídicos que
aconteceram em uma escola de ensino médio em Columbine, EUA, em 1999,
existem semelhanças entre as duas histórias, apesar do objetivo do autor
não ter sido o de relacionar a ficção com tal fato real. A história
inspirou a cineasta escocesa Lynne Ramsay a produzir um filme que
refletisse exatamente a angústia transmitida através da leitura do livro de
Shriver.
O filme tem início com cenas onde um dos personagens centrais, Eva
(Tilda Swinton), aparece tendo recordações de um passado agradável, onde se
divertia e era realmente feliz, porém, essas imagens aparecem marcadas pela
cor vermelha, que o telespectador facilmente pode vir a conectá-las com
sangue. Eva nos transmite a imagem de uma mulher sofrida, exaurida,
visivelmente envelhecida, alguém que vem passando por um momento de
profunda tristeza. À medida que a personagem vai lembrando passagens de sua
vida, passamos a entender melhor o motivo de seu sofrimento. Quando
descobrimos que a infelicidade de Eva vem da realidade em que está vivendo,
seu filho mais velho Kevin (Jasper Newell) que ainda é um adolescente, e
está detido como responsável por um crime hediondo cometido em sua escola,
passamos a pensar como uma criança pode vir a desenvolver tal
comportamento. Aparentemente, Kevin tinha uma família bem estruturada, não
sofria violência nem abusos, mas mesmo assim apresentava comportamentos
estranhos desde que era um bebê. Durante o filme, Eva tem flashes de
lembranças de quando descobriu que estava grávida e o namorado decidiu que
deveriam se casar, claramente percebemos sua decepção, sua incapacidade de
sentir-se feliz, não era aquilo que queria para sua vida, um casamento, um
filho, para ela tudo parecia muito precoce. Rejeitou a gravidez desde o
princípio, imagens de quando participava de um curso de preparação para o
parto, nos mostram mães felizes e ansiosas para terem seus bebês enquanto
Eva não demonstrava nenhum encantamento. Sua resistência em ter o bebê
quando é chegada a hora, o sofrimento do parto e a tristeza ao ver Kevin
pela primeira vez é a confirmação, talvez, de uma depressão eminente.
Kevin era um bebê que chorava o tempo todo, isso irritava tanto a Eva,
a ponto de preferir qualquer outro tipo de barulho ao choro de seu filho,
como o som de uma britadeira em uma obra na rua. Enquanto Kevin crescia,
Eva percebia seu comportamento estranho quando estava sozinho com ela, e ao
contrário, quando estava com o pai parecia uma criança como outra qualquer,
mas evitava falar com o marido, pois ele não aceitava, para ele Kevin era
absolutamente normal. Claramente vemos a implicância dele com a mãe, como
se tudo que fizesse fosse para provocá-la. Eva sentia uma mistura de
sentimentos: amor, rejeição e culpa. Nada que fizesse para se redimir (de
sua rejeição e impaciência) era capaz de mudar o comportamento de seu
filho.
Eva engravida pela segunda vez, o que pensou que talvez fosse bom para
o desenvolvimento de Kevin, ao contrário, após o nascimento de Celia, as
coisas só se agravaram, pois o menino percebia o quanto a irmã foi desejada
pela mãe, enquanto que a ele tinha sempre rejeitado. Enquanto Kevin cresce,
Eva continua a perceber a maldade em seu olhar, ao mesmo tempo em que seu
esposo apenas enxerga o filho como um menino perfeitamente normal. Tem uma
cena que nos chama muito a atenção que é quando o menino passa mal e a mãe,
pela primeira vez o trata com carinho e atenção e esse sentimento é
recíproco, tanto que Kevin ignora o pai para ficar com a mãe, até nos faz
pensar se não é mesmo a mãe responsável pela personalidade difícil do
menino. Kevin chega à adolescência, mais dissimulado e perverso do que
nunca, um menino agressivo, capaz de maldades como matar o hamster da irmã
no triturador da pia da cozinha e deixar um produto químico ao alcance da
menina para que pudesse lhe fazer mal. Eva tentava se aproximar dele, mas
parecia impossível qualquer tipo de comunicação entre eles. Enquanto isso,
o pai o estimulava na prática de arco e flecha, o que parecia chamar muito
a atenção do menino desde muito pequeno. Até que um dia foi capaz de
planejar um massacre na escola em que estudava, além de assassinar seu pai
e sua irmã, tudo com aquela arma que parecia ser a única coisa pela qual
tinha interesse. O seu olhar de dentro da viatura policial nos faz perceber
que seu único objetivo era o de afetar sua mãe, fazê-la sofrer.
Toda essa trama que gira em torno do desenvolvimento de uma criança que
foi rejeitada pela mãe, e que no futuro se torna um psicopata capaz de
planejar friamente um crime horrível nos faz avaliar se uma pessoa nasce ou
se torna assim devido a fatores externos, como no caso de Kevin, a rejeição
de sua mãe. Acredito que o relacionamento familiar tem sim fundamental
importância no desenvolvimento de uma criança, que a índole de um ser
humano se define principalmente baseada na educação e na participação ativa
dos pais na vida de seus filhos, mas será que nesse caso, o fato da mãe o
ter rejeitado foi suficiente para o menino tornar-se um ser tão perverso?
Penso que tenha faltado por parte da família mais diálogo, da mãe encarar o
comportamento do filho como um problema real, e tentar influenciar de
alguma forma. Quando ela percebeu que o filho tinha problemas, era ainda
cedo, era tempo de se arrepender de seus atos e pensamentos, conversar
abertamente e sem medo com o marido e tentar salvar a criança do tormento
em que vivia, talvez tivesse sido necessário um tratamento psicológico
tanto para a mãe quanto para o filho. No entanto, sabemos que na maioria
das vezes as famílias se negam a encarar um problema como esse e preferem
deixar os fatos escondidos esperando que tudo se resolva por si só. De
qualquer forma o objetivo do escritor, acredito que não tenha sido o de
procurar um culpado pelos acontecimentos e sim o de refletirmos sobre
questões familiares e desenvolver o nosso próprio julgamento. Concluímos
então, que não é só necessário que se fale sobre Kevin, mas que também se
fale com Kevin, com Franklin, com Eva, é necessário o diálogo entre as
pessoas da família e não que se escondam os problemas com medo de encará-
los de frente e tentar resolvê-los da melhor forma possível.


Referência Bibliográfica
SHRIVER, Lionel. Precisamos falar sobre Kevin. Editora Intrínseca, 2007
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.