Preconceito Ideológico

June 15, 2017 | Autor: J. Ferreira Gonça... | Categoria: Sustainable Transportation, Shipping/ Transport Logistics
Share Embed


Descrição do Produto

PRECONCEITO IDEOLÓGICO

I – CONTEXTO

Segundo Fernando Henrique Cardoso, por "preconceito ideológico" os investimentos em infraestrutura no País ficaram parados desde que o petista Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência. Foi o que a Folha de São Paulo publicou em 30 de novembro de 2013: "Pararam dez anos os investimentos em infraestrutura no Brasil por preconceito ideológico", disse literalmente FHC, em relação às concessões e privatizações. Segundo o ex-presidente, as recentes concessões de aeroportos e estradas foram um importante passo para o País. "[…] Mas o mais importante é fazer bem feito, com transparência", completou. Não é propósito nosso discutir aqui quem foi melhor presidente, se FHC, se Lula; tampouco debater se as afirmações refletem o clima pré-eleitoral, numa eleição em que, depois de várias, Fernando Henrique tem mostrado disposição para atuar na linha de frente, antessignano entre os tucanos todos, como Lula tem sido nas eleições petistas. Interessa-nos aqui espreitar a extensão do que um eventual preconceito ideológico de um governo pode alcançar. São muitas as ideologias, sem dúvida, mas, como tais, podem ser agrupadas e divididas claramente entre ideologias de esquerda e de direita. Quando se trata de pessoas ou grupos, encontramos basicamente os alie-nados (que não se declaram nem de direita nem de esquerda, às vezes se dizem apolíticos, mas invariavelmente têm posições de direita); os radicais (de um e outro lado) e os moderados. Mas não existe propriamente um centro, existem sim os centro-esquerdistas e os centro-direitistas, por me-nor que seja o pendor para um e outro lado. De uma maneira resumida, podemos afirmar que a ideologia de direita prega o investimento governamental naquilo que traga o crescimento eco-nômico direto, como o investimento em empresas, por exemplo. A ideolo-gia de esquerda prega investimentos governamentais diretamente nos pro-blemas da população e no combate à desigualdade. O primeiro convive bem com o conceito de Estado mínimo, o se-gundo tem viés estatizante. Quem está certo? Eis uma resposta difícil. Embora pessoalmente sempre mantive uma tendência social, uma preocu-pação com as camadas mais carentes e há

décadas eu seja um ambientalista, num ambiente de esquerda por excelência, devo admitir que a direita tem bem fundamentadas suas razões e os avanços econômicos são mais comuns nos períodos em que os países democráticos estão regidos por gru-pos mais ligados à direita. Mas no Brasil recente não foi assim. O governo Lula, que esteve niti-damente à esquerda do governo FHC, obteve resultados muito melhores no crescimento econômico. Certo, mas são muitas as variáveis e não seria sensato dizer que crescemos durante o governo Lula por causa do Bolsa-Família, por exemplo. Além dos êxitos da equipe do governo petista houve um cenário externo muito mais favorável, e a aplicação de fundamentos econômicos herdados do governo anterior.

II – PRECONCEITO

O mais notório e abalizado dicionarista que tivemos, Antônio Houaiss, na primeira acepção do verbete, descreve preconceito como: “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico”. Ora, se nosso Presidente tiver razão, se a falta de investimento em infraestrutura no Brasil estiver ligado a um preconceito ideológico, toda a nação estará sub-metida a uma ação política hedionda. Claro está que não podemos tomar essa afirmação como uma verda-de, não podemos perder de vista a disputa por espaço político, nem nos olvidarmos de que a principal crítica da qual o governo FHC teve de se defender foi aquela referente às privatizações, já que, se tivemos privatiza-ções necessárias e exitosas, como a da telefonia, e outras polêmicas, especi-almente a da Vale do Rio Doce, inclusive com indícios de ser viciosa a licitação e objeto de corrupção como um todo, já que havia avaliações de até 93 bilhões e a privatização se deu por 3,3 bilhões. Mas as 107 ações impetra-das na justiça contra o leilão nunca provaram essas acusações. Também não podemos, contudo, tomar a afirmação de nosso ex-presidente sociólogo como falaciosa de pronto, o que significaria um pre-conceito, uma opinião sem o necessário exame crítico. A julgar pelo históri-co do partido que ocupa o poder, sempre houve um claro discurso contrá-rio a qualquer tipo de privatização, já que isso diminuiria o Estado e, portan-to, a capacidade pública de ações sociais. Ao final de seu governo, mais

de uma vez o Presidente Lula jactou-se de ter feito um bom governo, de ter feito crescer a economia sem privatizar, ainda que seus adversários digam que ele privatizou. Afinal, Lula privatizou ou não? A querela sobre esta questão se dá porque Lula assinou concessões, como a de aeroportos. Aí fica a disputa para saber se concessão é ou não é privatização. O que você acha? O que importa é saber se a não privatização se dá como fruto de es-tudos técnicos que apontam que ela seja desnecessária, visto que o governo tem condições de manter os investimentos, ou se é o resultado de um preconceito, de uma opinião a priori. Fato é que a infraestrutura do Brasil depende da intermodalidade: o trem, o caminhão, o barco, o duto e até o avião sendo usados em conjunto, no interesse da redução de custos, da menor emissão de gases de efeito estufa, da diminuição de acidentes e de doenças causadas pela poluição oriunda do trânsito. E esses são assuntos demasiadamente importantes para serem tratados com preconceito, seja de uma ou de outra agremiação política.  

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.