Preconceitos, Discriminação e Homofobia: Refletindo sobre as implicações práticas da ausência do debate da diversidade sexual nas escolas de Caruaru/PE

June 1, 2017 | Autor: Cleyton Feitosa | Categoria: Educação, Diversidade Sexual, Cotidiano Escolar
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XXI EPENN Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste Período: 10 a 13 de novembro de 2013. UFPE Internacionalização da Educação e Desenvolvimento Regional: implicações para a pós-graduação

GT 23 – Gênero, Sexualidade e Educação PRECONCEITOS, DISCRIMINAÇÃO E HOMOFOBIA: REFLETINDO SOBRE AS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DA AUSÊNCIA DO DEBATE DA DIVERSIDADE SEXUAL NAS ESCOLAS DE CARUARU/PERNAMBUCO Cleyton Feitosa Pereira – UFPE/CAA Ana Maria Tavares Duarte – UFPE/CAA Agência Financiadora: PROPESQ/UFPE

Resumo Este estudo, resultado de uma iniciação científica, buscou investigar e discutir as temáticas da diversidade sexual e da educação formal e teve como objetivo verificar se acontecia nas escolas de Caruaru, debates e apresentação de conceitos e conteúdos relativos ao campo temático da diversidade sexual e de gênero, bem como suas repercussões no cotidiano escolar. A partir de um recorte teórico fundamentado em autores e autoras do chamado Estudos Gays e Lésbicos e Queer, evocamos o pensamento de Louro (1997, 2001, 2008 e 2010), Junqueira (2009), Freire (2005), Carvalho et al. (2009), entre outros. Analisamos os dados coletados através de técnicas e métodos característicos de estudos qualitativos. Os resultados apontaram para ausências de discussão nas escolas investigadas sobre cidadania LGBT e formas diversas de sexualidade e identidades, legitimando, desta maneira, pensamentos e práticas discriminatórias e desrespeitosas na convivência entre estudantes e professores. Palavras-chave: Educação. Diversidade sexual. Cotidiano escolar

INTRODUÇÃO

Tomando a escola como instituição social responsável pela educação dos sujeitos em formação, que deverá provê-los (as) de saberes sociais, culturais e cidadãos em perspectivas conceituais, procedimentais e atitudinais é que nos dispusemos a investigar se este espaço discutia diversidade sexual, reconhecendo-a como elemento de respeito à diversidade e diferenças. 1

Pesquisas (UNESCO, 2004; ABRAMOVAY et al., 2004; CARRARA e RAMOS, 2005) apontam altos índices de discriminação escolar envolvendo estudantes e professores no que tange à violência sexista e homofóbica, o que, sabemos, contribui para a cultura de violência e insatisfação do espaço escolar, resultando em repetência e evasão, para além de impactos na subjetividade de coletividades que escapam das normas cristalizadas de gênero e sexualidade. Reconhecendo este cenário violador de cidadanias, tivemos como objetivo verificar se a escola discute e apresenta conceitos e conteúdos relativos à diversidade sexual analisando as implicações dessa discussão (ou ausência dela) na formação e escolarização dos sujeitos escolares. Para tanto, fundamentamo-nos em teóricos (as) e pesquisadores (as) que estudam as temáticas aqui abordadas, a saber: Louro (1997, 2001, 2008 e 2010), Junqueira (2009), Freire (2005) Carvalho et al. (2009) e outros. Este estudo justifica-se pelos resultados das pesquisas já mencionadas que indicam índices significativos de discriminação sexista e homofóbica no interior escolar e fora dela. Nossa hipótese é a de que a escola não trabalha adequadamente o respeito às diversidades, sobretudo sexual, contribuindo para a falta de entendimento, ignorância e desrespeito nas relações sociais.

METODOLOGIA

Para realização deste estudo, utilizamos a abordagem qualitativa de pesquisa (MINAYO, 2008; GONSALVES, 2003) por ser mais adequada ao problema e aos objetivos pretendidos. A fim de coletar os dados, lançamos mão de técnicas que consideramos pertinentes ao nosso estudo como as técnicas de observação participante, entrevistas informais (GIL, 2008) e diário de campo (MINAYO, 2008). Para o tratamento e análise dos dados coletados, utilizamos a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2001). Como campo empírico, pesquisamos duas escolas municipais de Caruaru, pelas quais trataremos por nome fictício (Escola Guacira Louro e Escola Michel Foucault). Os sujeitos pesquisados foram três estudantes (A1, A2 e A3) do 5° ano do Ensino Fundamental e a docente desta mesma turma (D1) da escola Guacira Louro e três estudantes (B1, B2, B3) do 9° ano do Ensino Fundamental e um docente desta turma (D2) da escola Michel Foucault.

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RESULTADOS

Em nossa coleta de dados, obtivemos resultados que confirmaram nossa hipótese de que a escola reproduz formas ilegítimas de cidadania e diversidade sexual, corroborando para a violência homofóbica e sexista vivenciada há anos. Ratifica as pesquisas apresentadas ao não problematizar determinadas injustiças sociais. Ignora os conceitos de gênero e sexualidade como ferramentas analíticas que regem relações sociais contraditórias. No 5° ano, encontramos falas como o que é diversidade sexual? (A1, Diário de Campo, 05/12/2011), eles são muito novinhos para discutir assunto de homossexualismo (D1, Diário de Campo, 09/12/2011), acho que Carlos (nome fictício) quer ser menina e isso é pecado (A2, Diário de Campo, 13/12/2011), Renatinha (nome fictício) só gosta de brincar com os meninos e por isso não gosto dela (A3, Diário de Campo, 15/12/2011) demonstram a dificuldade e os desafios que a escola tem para fazer-se inclusiva e de boa qualidade. Na turma do 9° ano obtivemos os seguintes resultados: Os estudantes tratam-se por expressões ofensivas, muitas destas expressões relacionam-se à diversidade sexual de maneira pejorativa, abjeta, como fresco, bicha, veado (Trecho de Diário de Campo, 20/02/2012), esse assunto é matéria de Biologia, não da minha disciplina (D2, Diário de Campo, 15/03/2012), não tem gays nessa escola (B1, Diário de Campo, 27/03/2012), na escola aprendemos sexualidade no ano passado, na parte de sistema reprodutivo (B2, Diário de Campo, 10/04/2012), acho que lugar pra falar dessas coisas é com a família e a escola é para aprendermos assuntos do vestibular, de concurso, entendeu? (B3, Diário de Campo, 17/04/2012). No pôster do encontro, pretendemos apresentar tais resultados através de um quadro sinótico.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

Os dados coletados possibilitam uma interpretação que apontam lacunas educativas que não devem ser vistas apenas como um processo presente na sala de aula, mas no todo complexo pedagógico que influencia nas práticas pedagógicas e relações no cotidiano escolar. São necessárias formações (inicial e continuada) mais qualitativas no campo do gênero e da sexualidade que problematizem e introduzam esses conceitos nos currículos de Instituições de Ensino Superior, ao mesmo tempo, políticas curriculares que enfoquem direitos humanos e diversidade na escola e na educação básica. 3

Os dados apontaram também para a ausência de discussões mais esclarecedoras e respeitosas acerca da diversidade sexual e seus desdobramentos. Não que a temática de sexualidade não seja tratada, pelo contrário, formas legítimas de preconceito e discriminação emergem das falas dos sujeitos assim como o tratamento da sexualidade é dada em sala de aula: silenciada, com tabus, inadequada, que não correspondem às expectativas sociais da escola. Ainda é necessário avaliar as políticas educacionais que versam sobre direitos humanos e diversidade e o impacto delas na base, se esses programas chegam onde deveriam chegar, se são construídos e entendidos pelos (as) profissionais da educação em sua prática cotidiana e se os (as) mesmos (as) os absorvem de maneira positiva, que de fato os (as) ajudem a lidar com esses conhecimentos que ainda são vistas como “matérias de Biologia”, indo de encontro a uma série de documentos e Planos nacionais que preveem atuação justo à escola

para

desconstrução

e

desestabilização

de

normas

cristalizadas

como

a

heteronormatividade e o da masculinidade hegemônica (JUNQUEIRA, 2009). Esse tratamento dado à sexualidade na escola vai à direção do que Louro reflete “na escola, pela afirmação ou pelo silenciamento, nos espaços reconhecidos e públicos ou nos cantos escondidos e privados, é exercida uma pedagogia da sexualidade, legitimando determinadas identidades e práticas sexuais, reprimindo e marginalizando outras” (LOURO, 2001, p. 31). Da mesma forma Junqueira (2009) afirma “tratamentos preconceituosos, medidas discriminatórias, ofensas, constrangimentos, ameaças e agressões físicas ou verbais têm sido uma constante na vida escolar e profissional de jovens e adultos LGBT” (JUNQUEIRA, 2009, p. 17). Ao mesmo tempo vai de encontro as teoria da educação libertadora de Freire (2005) que tem no diálogo a ferramenta fundamental para o pensamento crítico e reflexivo dos sujeitos.

CONCLUSÕES

Tivemos como principais conclusões a confirmação da nossa hipótese e a verificação de que a escola ainda não trata de maneira adequada discussões que relacionem e transversalizem diversidade sexual, cidadania, população LGBT e direitos humanos, seja nas séries iniciais e finais do Ensino Fundamental.

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Conceitos como gênero, sexismo, heteronormatividade e outros relativos às temáticas supracitadas são ignorados e invisibilizados no chão da escola e na vivência cotidiana da sala de aula. Nesta direção, recomenda-se a atenção às políticas educacionais, políticas curriculares e formação de profissionais da educação ações no âmbito da educação em direitos humanos, pautados pela discussão sobre diversidade sexual. O fato é que se tem como implicações desse cenário, manifestações diversas de violência e desrespeito às pessoas que escapam das normas pautadas na heteronormatividade, seja na escola ou fora do ambiente escolar, culminando em uma série de violações, que hoje são pautas de reivindicação de movimentos sociais organizados feministas e de minorias sexuais como o LGBT, por exemplo. Esse estudo torna-se importante à medida que visa compreender alguns dos fenômenos sociais engendrados na educação e como repercutem socialmente, além de indicar que os próximos estudos devem abordar investigações sobre a formação de professores (as) na área, as políticas educacionais que visem desestabilizar o sexismo e a homofobia na escola e suas repercussões, bem como pesquisas que enfoquem a diversidade sexual nas escolas do campo, como território ainda invisibilizado e pouco explorado por muitos dos (as) autores (as) que debruçam-se sobre estudos da diversidade sexual e educação.

REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia; SILVA, Lorena Bernadete da. Juventudes e sexualidade. Brasília: Unesco, 2004. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Relógio D’água Editores, 2001. CARRARA, Sérgio; RAMOS, Sílvia. Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT – Rio 2004. Rio de Janeiro: Cepesc, 2005. CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de; ANDRADE, Fernando Cezar Bezerra de Andrade; JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Gênero e diversidade sexual: um glossário. João Pessoa: Ed. Universitária UFPB, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. 17. Ed. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008. 6. ed. 5

GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. 3. Ed. Campinas, SP: Alínea. 2003. JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Homofobia nas escolas: um problema de todos. In: JUNQUEIRA, Rogério Diniz (Org.). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pósestruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. ______. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. ______. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. ______. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, G. L. (org.) O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 3ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. MINAYO, Maria C. S. (Org.); DESLANDES, S. F.; NETO, O. C. GOMES, R. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. 27. ed. UNESCO. O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam... São Paulo: Moderna, 2004.

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