Prefacio do Livro \"Educação Crítica em Língua Inglesa: neoliberalismo, globalização e novos letramentos\", de Daniel de Mello Ferraz

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O texto que a leitora e o leitor têm em mãos não poderia ter sido apresentado aos professores de línguas e pesquisadores do campo da linguagem em momento mais oportuno de nosso cenário educacional nacional e internacional. Diante dos efeitos deletérios que o zeitgeist atual tem na educação, pautar o neoliberalismo na discussão sobre ensino de línguas e educação técnica/tecnológica tensiona as naturalizações que vivenciamos cotidianamente em nossa insistência por uma educação humanista e que se mostre vetorial para a justiça social. É na longa trajetória de Daniel de Mello Ferraz no ofício de ensinar inglês e na práxis acadêmica em que sempre se propõe a embarcar que este trabalho se inscreve, tematizando a educação técnica e tecnológica no contexto neoliberal perturbador, cujas mazelas são também produzidas e exacerbadas pela globalização. Daniel Ferraz justifica sua tomada de posição, afirmando que " discutir o neoliberalismo significa problematizar essa lógica que tem aprisionado o mundo com garras potentes e [que] tem naturalizado disparidades sociais e práticas educacionais. " (p.45) Percorrendo campos diversos a fim de construir diálogos, ora na filosofia da linguagem, na Educação, ora nos Estudos Pós-Coloniais e Estudos Culturais, Daniel Ferraz leva o leitor a reconhecer os impasses que a vida social nos convoca a enfrentar no campo educacional. O campo de batalha em que se tornou o currículo é assunto abordado pelo autor, que traz a seguinte afirmação de Apple (2010): " Estimulada em grande parte por denúncias neoliberais sobre a difusão de conhecimentos 'economicamente inúteis', por lamentos neoconservadores sobre a suposta perda da disciplina e da 'falta de conhecimento real', e por ataques religiosos autoritários e implacáveis às escolas pela sua suposta perda de valores tradicionais dados por Deus, as discussões sobre como e o quê deverá ser ensinado nas escolas são mais controversas do que em qualquer outro momento da nossa história. " São justamente o utilitarismo, racionalismo e a comoditização da educação denunciados por Apple e amplamente debatidos por Daniel Ferraz que se atualizam década a década, seja através das macropolíticas educacionais cujas implementações testemunhamos (a exemplo da Base Nacional Comum Curricular que este livro certamente contribuirá para problematizar), seja nos interstícios de nossas atividades, eventos, interações e discursos na vida institucional. Não espere o leitor encontrar neste livro um relato de " resultados " de pesquisa " detectados " com o rigor esquálido das metodologias afeitas a empirias, à moda naturalista. Valendo-se de um repertório de perspectivas, técnicas e instrumentos para observar o ambiente que se propôs a investigar, o autor ousa partir dos problemas percebidos em sua vivência no espaço pedagógico, em seu diálogo com atores do cotidiano institucional e, na medida em que se desdobra diante do leitor a intensa e muitas vezes perturbadora reflexão que o autor experimenta, emergem insights e o reconhecimento da instituição educacional como produto da doxa neoliberal. Eis nessa constatação a convocação para teorizar a educação levando em conta sua natureza política. Sua declarada sensação de inacabamento enquanto pesquisador e honestidade seduzem o leitor quando ele nos lembra de sua condição de sujeito educado em um sistema
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