PRÉMIO IBEROAMERICANO DE ARQUITECTURA E URBANISMO, Candidatura do Arq. Eduardo Souto de Moura, Resumo biográfico

June 5, 2017 | Autor: Pedro Guilherme | Categoria: Prizes, Eduardo Souto De Moura
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PRÉMIO IBEROAMERICANO DE ARQUITECTURA E URBANISMO Candidatura do Arq. Eduardo Souto de Moura Resumo biográfico

A obra de Eduardo Souto Moura possui uma dimensão icónica e representativa que transcende pela sua extraordinária qualidade os paradigmas e as fronteiras da prática disciplinar da arquitetura portuguesa ou ibero-americana. Busca, serenamente e resilientemente, num contexto internacional, a recusa de um discurso normalizado, impulsionando um equilíbrio de ambiguidades, autenticidades e aparências. O reconhecimento do seu trabalho, em Portugal e no Mundo, é confirmado pelos prémios e distinções que tem obtido, das quais se destacam o Prémio Europeu de Arquitectura Pabellón Mies Van der Rohe em 2004, o prémio de carreira da Academia Nacional de Arquitectura da Sociedade de Arquitectos Mexicanos em 2007, o Prémio International Architecture Awards em 2010 e o Prémio Wolf em 2013. É o segundo português a receber o prestigiado Prémio Pritzker de Arquitectura em 2010, depois de Álvaro Siza Vieira, em 1992. É membro honorário da Ordem dos Arquitectos Portugueses, do RIBA e da AIA. Eduardo Souto de Moura nasceu no Porto em 25 de Julho de 1952, tendo começado a sua formação como estudante de artes na Escola de Belas-Artes do Porto. Em 1970 na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e graduou-se em 1980. Contudo começa a trabalhar no período revolucionário de Abril de 1974 com Noé Diniz e Fernando Távora (1923-05) no Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) fazendo parte de uma geração de jovens arquitetos que intensamente sentem a relevância da mudança política e social em Portugal. Colaborou com Álvaro Siza Vieira e Fernando Távora, entre 1974 e 1976, com quem manteve sempre uma grande amizade e proximidade profissional. Participa com Siza em concursos internacionais (Piscina de Gorlitzer Bad (Berlim, 1978) e na Habitação em Fraenkelufer (Berlim, 1979)), em projetos nacionais (Metro do Porto (1997-05)) e em exposições ("Jangada de Pedra" em Washington exibida em 2015). Na sua arquitetura observa-se a influência consciente dos mestres do movimento moderno: de Mies van der Rohe (1886-69) e Aldo Rossi (1931-97), das experiências californianas dos anos 50 e 60 de Craig Ellwood (1922-92) e Pierre Koenig (1925-04), das “case study houses” (1945-66), e da arte minimalista (Donald Judd (1928-94) e Sol Lewitt (1928-07)). Alguns autores referenciam ainda a influência de Bernardo Soares, um dos heterónimos de Fernando Pessoa (1888-35), do pensador e escritor francês Roland Barthes (1915-80), do pintor catalão Antoni Tapiès (1923-12) e do artista alemão Joseph Beuys (1921-86). As suas primeiras obras denunciam uma experimentação sobre o tempo e sobre o lugar, onde a ruína de natureza clássica (Casa Imaginária de Karl Friedrich Schinkel (Japão, 1979) e ruína no Gerês (1980-82)) ganha protagonismo. O Mercado Municipal de Braga (1980-84) e o concurso para o Centro Cultural da Secretaria de Estado da Cultura no Porto (1981-91) lançam Eduardo Souto de Moura, dentro e fora de Portugal, 1/3

como um dos mais importantes arquitetos de uma nova geração. Define uma prática identitária de confronto entre a história (identificada no pré-existente) e o rigor conceptual e construtivo, de planta livre (com aparente influência Miesiana) de profunda pureza construtiva, muitas vezes em projetos de escala mais reduzida (habitações e pequenos equipamentos) permitindo uma investigação formal, tipológica e construtiva na praxis. O contexto, a história e a condição moderna sistematizam sistemas operativos para a sustentação do projeto. O seu reconhecimento internacional viria a reforçar-se com a conquista do primeiro lugar no concurso para o projeto de um hotel na zona histórica de Salzburgo (Áustria, 1987 Concurso e 1989 Projecto), numa encenação sóbria de composição urbana com a cidade e uma lógica rigorosa construtiva e material que irá explorar ao longo de uma série longa de projetos (Concurso para o Banco ideal “Olivetti” (s. l., 1993), Departamento de Geociências (Universidade de Aveiro, 1990-94) e a Torre Burgo (Porto, fase 1em 1991-95; Fase 2 em 2003-04; Construção 2007)). A investigação inicial na ‘casa’ permitiu a Eduardo Souto de Moura a construção da sua própria identidade e o domínio construtivo e de detalhe. Ao longo de uma série, designada por muitos como ‘caixas’, constrói e reinterpreta o conceito da habitação moderna portuguesa, alicerçando-a numa nova tectónica e tecnologia, manipulando os sistemas construtivos tradicionais e a autenticidade material, convocando a ideia e a imagem como recurso compositivo. A adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986 e os anos de convergência económica entre 1992 e 1998 possibilitam a Eduardo Souto de Moura oportunidades para explorar novos programas. O país sofre um processo de transformação muito acelerado e Eduardo Souto de Moura desenvolve um trabalho notável de reconversão e restauro do património classificado sugerindo uma nova forma de intervir do arquiteto com a Reconversão do Convento de Stª. Maria do Bouro numa Pousada (Amares, 1989-97) e a Remodelação e Valorização do Museu Grão Vasco (Viseu, 1993-04). Os grandes eventos, como a Expo Internacional de Lisboa (1988), o Porto Capital da Cultura Europeia (2001) e finalmente o Campeonato Europeu de Futebol (2004), abrem novas oportunidades aos arquitectos portugueses. Eduardo Souto de Moura aproveitando uma antiga pedreira escava o Estádio de Braga (2000-03), moldando a relação deste com a natureza. Na Casa das Histórias Paula Rêgo (Cascais, 2005-09) introduz novamente o local e as referências à arquitetura vernacular (de Raul Lino) rompendo com os arquétipos e as recorrentes referências tipológicas e materiais, sistematizando uma aproximação fragmentada mas hierarquizada, ora doméstica ora monumental, adequada a um programa cultural de profundas ligações locais e internacionais. As experiencias de Eduardo Souto de Moura em altura (Torre Burgo (Porto, 1991-07), Torres La Pallaresa (Barcelona, 2004-11), Torres Shengzhou (China, 2011) e Vivendas ‘City Life’ (Milão, 2012)) assumem uma investigação e reflexão sobre a própria condição do edifício em altura, sobre a precisão e a abstração da pele que mascara o número de pisos num mix híbrido entre tradição e modernidade, monumentalidade e decepção. Ao longo da sua prática profissional desenha também mobiliário e peças de design, intervindo com práticas artísticas e instalações (pavilhão efémero da Serpentine Gallery (Londres, 2005) com Álvaro Siza Vieira, Royal Academy of Arts (Londres, 2014) e instalação “Jangada de Pedra” com Álvaro Siza Vieira para o John F. Kennedy Center for the Performing Arts (Washington, 2015)) em várias cidades. Ao longo de pouco mais de 4 décadas Eduardo Souto de Moura assume a sua condição ética de arquiteto, numa prática profissional verdadeira e coerente, para quem a oportunidade de “não morrer 1 virgem!” significa uma aposta na inovação e na experiência do que é novo. A inovação, tanto 2/3

tecnológica como conceptual, acontece naturalmente “…porque sai da rotina e é um conjunto de 1 circunstâncias para mim completamente desconhecidas, de que nunca ouvi falar.” Eduardo Souto de Moura não é de um só lugar, é capaz de se reinventar, mantendo-se o mesmo e sendo diferente, ao mesmo tempo, numa atitude camaleónica local a local, mais do que obra a obra. “A criatividade de um arquitecto consiste justamente em compreender e resolver tais contradições. Na nossa profissão nós enfrenta-mo-nos constantemente com problemas que há que resolver, com erros e adversidades; a grandeza e a genialidade de um bom arquitecto residem na capacidade de 2 gerir as contrariedades e as adversidades.” Na relação entre obras procura a continuidade com inovação, na relação entre locais, Eduardo Souto de Moura procura a sua identidade nesse lugar e a partir dai nasce a sua obra.

Resumo biográfico escrito por Pedro Guilherme, Doutorado em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa com a tese “O Concurso Internacional de Arquitectura como Processo de Internacionalização e Investigação na Arquitectura de Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura”, defendida em Janeiro de 2016.

1

Eduardo Souto de Moura, em entrevista com Pedro Guilherme, 9 de Janeiro, 2015.

2

MOURA, E. S. DE, NUFRIO, A. (2008) - Eduardo Souto de Moura: conversas com estudantes. Barcelona: Gustavo Gili, 2008. 3/3

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