Preço da Guerra: O Custo do Armamento

Share Embed


Descrição do Produto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS FACULDADE DE DIREITO CURSO DE HABILITAÇÃO EM DIREITO DO ESTADO DISCIPLINA DE ECONOMIA POLÍTICA

PREÇO DA GUERRA: O CUSTO DO ARMAMENTO

Lui Martinez Laskowski

RESUMO Este trabalho apresenta, de forma expositiva e direcionado a leigos e/ ou pessoas distanciadas das ciências militares e estudos estratégicos, sistemas de armas com abrangência relativamente grande, e um destacado enfoque no custo de manter tais sistemas. Aborda, em ordem, armas notórias por seu papel, custo ou história; terrestres, aéreas e navais. ABSTRACT This expositive work presents, directed to people outside military sciences and strategical studies, a relatively broad scope of weapon systems, focusing on the cost of maintaining such systems. Shows, in order, weapons, famous for their part in conflict, cost or history; land-based, aerial and naval.

1 Guerra e Armamento

A guerra se manifesta, na realidade material, de muitas formas. Sua expressão carnal, violenta, refletida e aprimorada no decorrer das eras, é a prática do combate. O combate é a situação violenta em que dois adversários se encontram em situação de peso tático e estratégico, buscando atingir um objetivo estratégico, que pode ser desde conquista de territórios até aniquilação de combatentes ou populações civis, obtenção de informação ou preenchimento de objetivos econômicos. Do equipamento militar utilizado na guerra industrial e guerra moderna (guerra moderna como expressão usual que se refere à guerra empreendida desde a década de 50 do século XX, e não à guerra de pólvora do período moderno), se destaca a grande categoria do armamento. Embora não haja convenção ou concordância mundial quanto à abrangência do termo armamento (arms), chamaremos aqui de armamento todo equipamento militar que se destine a danificar efetiva e diretamente pessoal ou material, incluídos nesta as chamadas small arms (armas, de uma maneira geral, de uso individual), veículos militares de pequeno e médio porte, como carros de combate blindados de diversas atribuições e aeronaves também com diversas finalidades, navios de guerra (que chegaram, no auge da Segunda Guerra Mundial, a deslocar mais de oitenta mil toneladas 1 e a pouco mais de trezentos metros de comprimento 2), e sistemas de armas isolados, como mísseis intercontinentais ou de médio e intermediário alcance (3000 a 5000 quilômetros de raio), sistemas de defesa de ponto e área, ogivas nucleares e outros sistemas relevantes. Excluiremos do conceito de armamento – apenas para fins didáticos – veículos sem sistemas de armas, ainda que projetados para portá-los (como bombardeiros usados em funções de transporte), veículos de transporte e suporte (como caminhões para transporte de combustível) e equipamentos de

1

Encouraçados classe Iowa e Yamato; Foram planejados modelos ainda maiores, como os enormes H44 alemães e classe Montana americanos. 2 Porta aviões classe Yorktown.

suporte, detecção, camuflagem e guerra eletrônica, como radares, sensores, sonares, emissores, detectores e jammers3. O custo de equipamentos em tempo de guerra – doravante preço de guerra – difere, em muito, do encontrado, por exemplo, como preço de uma arma registrada numa loja legal em tempos de paz. Estipularemos custo como o preço que o Estado (ou poder exercido em comunidade política reconhecida ou não) despende na obtenção de uma unidade de determinado armamento. Embora nos seja conhecido e cotidiano o conceito de preço, é muito difícil calcular com precisão o preço de guerra de uma arma, pois o fenômeno bélico tem inúmeras consequências econômicas, por exemplo, nos planos fiscal e monetário, muito difíceis de serem consideradas por completo na avaliação do material, principalmente decorrido certo tempo do conflito (com inflações e taxas de câmbio no mercado mundial que se modificam com o tempo e só turvam mais a água de uma compreensão clara do custo). Subsídios e incentivos fiscais do governo para as empresas e complexos fabris, aliados a medidas decorrentes do esforço de guerra, constituem outros custos importantes, que podem ou não ser considerados no preço de uma unidade, e muitas vezes o preço é divulgado por uma ou outra fonte sem esclarecer que custos periféricos – horas de mão de obra, taxas de câmbio manipuladas (como na Alemanha pré-guerra), custos de suporte, transporte e partes extras – estão “embutidos” no preço. Naturalmente pode-se manipular esses organismos obscuros para obter números mais favoráveis a uma crítica ideológica a favor ou contra a continuidade e legitimidade de um conflito. Podem-se

observar,

porém,

de

forma

mais

clara,

tendências

econômicas no custo de guerra de armamentos. A primeira, facilmente observável, é a redução do preço de guerra de uma unidade de armamento no decorrer de uma guerra longa, intencionalmente (medidas técnicas de redução de custo) e espontaneamente (o aumento da produção torna unidades late war naturalmente mais baratas). Cita a Unnoficial Tommy Gun Home Page: Uma M1A1 podia ser produzida em metade do tempo de um M1928A1, e a um preço muito mais baixo. Em 1939 as Thompsons custavam ao governo US$ 209 por unidade. Na primavera de 1942 mudanças no design para redução de custo reduziram-nas a US$ 70. 3

Têm por finalidade interferir em ou obstruir sinais eletromagnéticos.

Em fevereiro de 1944 a M1A1 atingiu uma baixa de US$ 45 cada, inclusos acessórios e partes de substituição; mas no final de 1944 a M1A1 foi substituída pela M3 “Engraxadeira”, de preço ainda mais baixo.

A média de preços da M3 girou em torno de US$ 22 no começo da guerra, até US$ 15 para as de produção tardia. 4 Certamente

deve-se fazer

notar que muitas vezes a qualidade apresenta modificação análoga ao custo, por exemplo nos famosos tanques Panzer VI “Tiger”, que tiveram a qualidade do aço de sua blindagem notavelmente reduzida Figura 1. M3 "Engraxadeira" no encarde distribuído à época.

com o decorrer da guerra e a captura de pontos de extração de

minério de ferro, usinas siderúrgicas e fábricas. Isso não necessariamente se passou nos países que venceram a Segunda Grande Guerra. A “blindagem tardia”, de mesma grossura e às vezes com aparatos para aumentar sua efetividade (como blindagem espaçada Schurzen), acabava por ser menos efetiva pela escassez de recursos. Para examinar condições de orçamento, produção e custo de armamentos na história recente, abordaremos em ordem os armamentos terrestres, aéreos, marítimos e outros diversos. Em cada um desses quatro pontos, trataremos primeiramente das grandes guerras industriais (Guerras Mundiais), para uma percepção do que alcança o gasto com armamentos num estado de guerra total. Será impossível abordar sistematicamente todas as categorias de armamento que podem ter sido utilizadas nestes conflitos, pois tal pretensão exigiria uma pesquisa de muitos meses e uma redação de muitas páginas que - no momento - não se mostram convenientes ao autor.

4

Carter, Gregg Lee: Guns in American Society: An Encyclopedia of History, Politics, Culture, and the Law, page 588. ABC-CLIO, 2002. O preço para 1943 era de aproximadamente 20 dólares, e a arma era tão barata que foi considerada descartável: não se comprou nenhuma peça de reposição. Era mais caro consertar do que substituir, numa das primeiras manifestações desse tipo de produção.

Assim sendo, os pontos em que nos aprofundaremos serão uma tentativa de demonstrar certos pontos, fatos e ocorrências na história em que o custo moveu mentes, conforme foi movido pela crua e material guerra. Abordaremos

também

diversos

conflitos

modernos

e

gastos

“profiláticos”, para um panorama do conflito e seu custo nos dias de hoje, num ambiente em que a guerra - confusa, entre civis, nevoenta, comum, pequena e violenta - continua a ser uma maneira antiga, violentamente eficaz e visivelmente difundida de resolver problemas políticos e estratégicos. 2 Armas na Terra -

Complexos Industriais Soviéticos na Segunda Guerra Mundial As Guerras Mundiais do século XX são vistas por muitos estudiosos do

fenômeno bélico como o apogeu da chamada guerra industrial. O contexto histórico e político do período - da primeira metade do século XIX até o início da Era Atômica - permitiu que os Estados Nacionais se instituíssem, e num contexto

pós-revolução

industrial

esses

Estados

puderam

pesquisar

tecnologias, produzir material e treinar pessoal de forma a criar e equipar exércitos muito numerosos. O desenrolar de uma guerra industrial em estado de guerra total - ou em intensidade suficiente para mobilizar esforço de guerra - era sempre acompanhado por intensa atividade industrial para reequipar e aumentar a qualidade, os números e a força bruta das forças armadas beligerantes. No contexto da segunda guerra mundial, a União Soviética - que passava por intensas modificações políticas sob Stalin - surpreendeu toda a Europa ao ser capaz de colocar em campo, por exemplo, mais de sessenta mil carros de combate blindados5. Adolf Hitler, numa conversa com o então chefe do conselho de defesa finlandês Carl Gustaf Mannerheim, demonstrou sua incredulidade frente à monstruosa máquina industrial soviética. “Nós destruímos - até agora - mais de 34.000 tanques. Se alguém me dissesse, eu responderia: Você!... se um de meus generais me dissesse que qualquer nação tem 35.000 tanques, eu teria dito: Você, senhor, você vê tudo dez ou vinte vezes mais. Você é louco; você vê 5

Tanques leves (14.508), T-34 (25.119), T-34-85 (29.430), KV e KV-85 (4.581), IS (3.854), SU-76 (12.671), SU-85 (2,050), SU-100 (1.675), SU-122 (1.148), SU-152 (4.779). Walter S. Dunn, Jr. Stalin's keys to victory : the rebirth of the Red Army. Mechanicsburg, Stackpole Books, 2007.

fantasmas". Isso eu teria negado ser possível. Eu te disse mais cedo que encontramos fábricas, uma delas em Kramatorskaya, por exemplo. Dois anos atrás eles eram apenas uns duzentos [tanques]. Não sabíamos de nada. Hoje, há uma planta de tanques, aonde durante o primeiro turno pouco mais de 30.000, e depois pouco mais de 60.000, trabalhariam - uma única planta! Uma fábrica gigantesca! Massas de trabalhadores que certamente viviam como animais e[...]. Na área de Donets. Era inacreditável.”

Essa enorme máquina emergiu de um país que poucos anos antes não passava de um império agrícola devastado pela guerra, má administração e revolta. A proeza do desenvolvimento industrial extremo pode-se explicar pela política stalinista de dar prioridade quase doentia à produção e ao coletivo, ao “do povo” em detrimento do povo em si, de forma que as condições de trabalho eram pouco consideradas. Isso se soma a massivos investimentos diretos na indústria, que numa nação declaradamente anticapitalista se caracterizavam como deslocamentos enormes de recursos crus.

As fábricas podiam

rapidamente alternar entre produção de tratores e tanques, de forma a acelerar a produção agrícola e de guerra conforme fosse necessário. Eram verdadeiras linhas de produção, nas quais ficou famoso o ícone da produção numerosa na imagem dos blindados deixando as fábricas já armados, municiados e tripulados. Após o início da guerra, com a invasão alemã, a URSS perpetrou ato ainda mais impressionante ao transportar todo seu parque industrial da Europa para as regiões do leste da República Socialista Soviética Russa, mais de cinco mil quilômetros por terra. Isso impediu que os alemães capturassem as maiores fábricas, que no final da guerra haviam produzido até seis mil tanques cada. O transporte pesado e rápido de todo esse material se deu por um empreendimento logístico de proporções leviatânicas que desconsiderou, além das condições materiais, o custo em vidas humanas. O custo monetário é dificilmente perceptível num país socialista na primeira metade do século XX, mas cada tanque T-34 pesava 31 toneladas de aço, mais tecnologia agregada, materiais de comunicação e armamento, e horas de trabalho. -

Notórias Armas de Uso Pessoal

Não se pode falar de armas pessoais num contexto amplo sem mencionar o Avtomat Kalashnikov 1947. Projetado por Mikhail Kalashnikov na Rússia soviética em 1947, baseado no Sturmgewehr 1944 (StG44) alemão, é usado e produzido em massa desde então sem modificação significativa no projeto. Uma arma relativamente leve e incrivelmente robusta (pode-se enterrálo invertido e aberto em areia ou mergulhá-lo em água ou lama, e há boa chance de funcionar normalmente após o ocorrido). Com apenas seis partes móveis e desempenho ótimo em todos os quesitos, é também uma arma extremamente barata. Nunca se patenteou o AK47, e Kalashnikov não foi gratificado além de seu salário pela URSS. Ainda que tecnicamente uma arma pessoal small arm, a AK47 matou mais que qualquer arma de destruição em massa na história. Em decorrência de acordos econômicos, um dos fuzis de assalto que mais se produziu e subsiste há mais tempo no mundo é também aquele que se considera um dos piores, senão o pior. Trata-se do M16. Estupefatos por tão atroz declaração a arma “robusta e confiável” que já há mais de 50 anos serve nações ao redor do mundo estarão alguns. Sua primeira versão, porém, o Colt M16A1, permitia apenas fogo automático, o que favorecia a infame tática “spray and pray”, era imprecisa, travava com as condições da selva vietnamita e necessitava de algo pontiagudo para ajustar a mira. Pouco robusta e com calibre na época anêmico para as táticas utilizadas (o NATO 5,56mm), era muitas vezes descartada pelos soldados americanos e trocada pelas AK47s e AKMs dos soldados do exército norte vietnamita (NVA) e guerrilheiros viet cong. -

Notórios Veículos Militares de Cavalaria Nesta categoria, mencionaremos quatro “tanques” dignos de memória: Panzerkampfwagen IV, M4 Sherman, M1 Abrams e T90. É famoso o Panzer IV como um tanque que amedrontava seus adversários. De fato, ao custo unitário (apenas aproximado, pois a Alemanha viu enormes imprecisões já mencionadas) de RM 103.462 6,

6

Conversão quase impossível. Em 1941 um dólar valia 2,5 reichsmarks. Em 1950 isso havia variado, desvalorizado e revalorizado até a marca de 4,5 reichsmarks. No período da guerra desvalorização da moeda chegou a níveis extremos. Comparar o custo de produção do Panzer IV à capacidade da Alemanha de 1940 é mais possível feito de forma menos precisa; é relativamente seguro dizer que a Alemanha gastava num Panzer IV pouco mais que um M4 Sherman, custo que se tornou maior com a

não muito caro para uma Alemanha que entrava a todo vapor num conflito que se tornaria a última guerra mundial, a superioridade técnica do Panzer foi inegável – infelizmente ao custo de números puros, que contribuíram para dar aos Aliados a vitória conforme Shermans colmatavam suas inferioridades e se mantinham a ritmos de produção muito maiores. Já o M4 Sherman tinha um approach diferente quanto à produção de guerra: atingiu, de forma bem sucedida, a supremacia, não por superioridade técnica (tinha blindagem ineficiente e silhueta alta, e uma arma que teve de ser substituída para atingir um mínimo de eficiência contra os tanques alemães), mas simplesmente por ser barato o bastante para, quando integrado em toda a máquina do esforço de guerra da guerra total, ser produzido em massa e colocado em campo até exaurir o esforço de guerra alemão. O Sherman, que teve muitas versões com produções diferentes e soluções criativas para superar suas inferioridades, custou de US$ 44.556 a US$ 49.997 7 de 1942 a 1944 (de fato, com pouca variação). Convertido para dólares de 2014, isso significaria de US$650.000 a US$710.000, um valor de fato muito baixo; compará-lo com o preço de tanques modernos seria inócuo, pois estes se tornaram mais caros

além

de

fatores

inflacionários. O

T90

e

Abrams

M1 foram

selecionados para cobrir o aspecto Figura 2. M1 Abrams

guerra

blindado

da

moderna.

O

segundo é notavelmente o considerado mais avançado blindado moderno e custa 6,21 milhões de dólares americanos de 2015 por unidade, incluindo o custo de seu caro fragilização da economia até 1945. Tanques mais pesados e caros, como o Panzer V “Panther” e o Panzer VI “Tiger” foram desde o início muito mais caros que um Sherman. Isso acabou por favorecer americanos, já que bastava, de acordo com The Chieftain, uma proporção de 2.2 – 1 para que americanos vencessem. 7 Segundo pesquisadores da enciclopédia WW2 Weapons (ww2-weapons.com).

sistema de blindagem, motor a turbina e vedação contra radiação e armas químicas. Suas maiores desvantagens são o tamanho e peso, além do enorme consumo de combustível (diz-se que um pelotão de caminhões

de

combustível tem de seguir uma coluna de

tanques

Abrams).

M1 Para

percorrer o alcance operacional 426km8, 1900

de consome

litros

Figura 3. T90

de

combustível (que pode ser gasolina, diesel ou combustível aeronáutico). Foram produzidos para os militares americanos 8367 M1, ao custo total aproximado de 50 bilhões de dólares. O T90 é a contraparte russa do M1. Ao custo unitário de aproximadamente metade de um M1 e sem grandes programas de desenvolvimento (o T90 é de fato uma atualização high-tech do T-72 da Guerra Fria). Críticos militares observam as muitas capacidades do T90 (dez toneladas métricas mais leve que o M1) e concluem: não resiste a um embate com um M1, mas não foi feito para fazê-lo. É 80% da solução a 50% do preço, e a Federação Russa tira do programa T90 discutivelmente números maiores e maior rendimento (a exportação é muito superior à do M1, que não foi feito para ser compartilhado).

3 Armas no Ar -

O F35 O F35 é o mais moderno sistema de caça-interceptor no mundo. É

“invisível” ao radar, extremamente veloz e capaz de decolagem vertical, e como caça de superioridade aérea ou suporte ao solo é incomparável a qualquer outro sistema no mundo.

8

Foss, Chris. Jane's Armour and Artillery 2005–2006.

O ponto que iremos abordar aqui é o que já foi certamente muito criticado na sociedade americana; o custo de desenvolvimento do caça mais avançado do mundo. O programa de desenvolvimento tecnológico do F-35 Joint Strike Fighter é, pura e simplesmente, o programa militar mais caro da história humana, a ser completado em poucos meses ou anos. Em

desenvolvimento



aproximadamente 15 anos a um preço final estimado total de US$400 bilhões para manutenção e compra de 2.500 aviões, o custo total do programa de pesquisa e desenvolvimento é de fato assustador: US$ 1,5 trilhão de dólares americanos9, pequenos

quantia

atrasos

e

atingida problemas

com de

Figura 4. Imagem irônica de um F35 JSF decolando verticalmente ao expelir dólares. Next Big Future.

software que o tornaram mais caro. Prevê-se que desenvolver e manter o F-35 por sua vida útil de aproximadamente 50 anos custou e custará mais que o produto interno bruto da Austrália10.

4 Guerra no Mar 

O Caráter Econômico da Guerra no Mar É interessante aqui destacar o aspecto quase totalmente econômico da

guerra no mar. Enquanto o conceito de “supremacia do ar” ou air superiority se aplica ao espaço aéreo disputado, e principalmente para possibilitar operações militares nesse espaço, o conceito análogo de domínio do mar tem um viés diferente: ainda que unicamente um conceito in bello, grande parte da superfície do mundo são águas internacionais. Esse fato, aliado à impossibilidade de “capturar ou adquirir território” no mar nos leva ao aspecto de certa forma singular que é o centro da guerra naval: comboios mercantes e de transporte.

9

Quantia divulgada. Departamento de Defesa dos EUA, 2015 PIB da Austrália flutua em torno de 1,56 trilhões, quantia que o programa F-35 parece ter ultrapassado, como criticado pela CNN, Julho de 2015. 10

De fato, o catálogo de termos militares do Pentágono identifica operações militares como dependentes de dois fatores: avenidas de aproximação e linhas de comunicação marítimas. Esperamos que em outra parte deste trabalho se aborde mais detalhadamente as questões logísticas de transporte marítimo, porém é fato que navios de transporte de equipamentos, recursos e tropas são, por sua enorme capacidade logística, um alvo em potencial. Domínio do mar significa que as forças navais de uma nação atingiram um estado de constante possibilidade de utilização e escolta bem-sucedida de seus próprios comboios de transporte logístico e econômico, além de “prender” os comboios inimigos a constante ameaça e as forças navais militares inimigas aos próprios portos ou à constante desvantagem. -

O Encouraçado Ao discorrermos - ainda que a pena livre - sobre a economia e os custos

da guerra e de armamentos na guerra, se torna indispensável dedicar alguns parágrafos à arma que foi considerada “um ultraje ao esforço diário de todo um povo” devido a seus custos e dimensões

colossais;

o

prático

um

encouraçado. Não

é

desenvolvimento histórico do encouraçado aqui, mas se encoraja buscá-lo. O fato é que os maiores veículos de combate já feitos, com até 250 metros de comprimento e Figura 5. Famosa imagem aérea de um disparo lateral do USS Iowa em 1984.

imensos canhões capazes de atingir

alvos

a

45km,

se

tornaram obsoletos no período entre guerras. Na Segunda Guerra Mundial o avião já era a arma naval por excelência, e os encouraçados eram escolta, e agora apenas raramente lideravam seus grupos de combate. O Brasil teve um renomado encouraçado, o Minas Geraes, que à época destacou a marinha brasileira. Desativado e desmontado nos anos 50, assim como a maior parte desses colossos navais, a proeminência militar americana

permitiu que mantivesse seus encouraçados classe Iowa modernizados na reserva da Marinha até 2006, tendo operado em combate na Guerra do Golfo. O preço encontrado de um encouraçado Iowa, 100 milhões de dólares por unidade para 1942, se converteria para 1,5 bilhão em 2015 (conversão baseada em estatística do Labor Bureau), embora este custo seja impreciso e não fique claro se incluía ou não o preço dos 9 canhões de 16 polegadas. A manutenção de um encouraçado e os custos de reativação e modernização, hoje em dia, seriam completamente insanos. -

Guerra Moderna no Mar A guerra no mar, com o fim da Guerra Fria e a nova ordem mundial, não

abandonou de forma alguma seu caráter econômico. As vias marítimas de comunicação e transporte têm ainda papel extremamente importante, e hoje a guerra naval se centra em três tipos de marinha: água marrom, água verde e água azul. A primeira se trata de basicamente barcos de patrulha fluvial. A segunda possui navios capazes de operar na costa e guardar o mar territorial, como corvetas e fragatas. A terceira têm navios com deslocamentos capazes de operar em outros oceanos, em mar aberto e por toda água internacional. Mais do que nunca centrada no porta-aviões, apresentaremos a classe Nimitz de “super porta-aviões”, a classe em construção Queen Elizabeth e o brasileiro São Paulo, classe Clemenceau. O Nimitz e outros navios de sua classe são os maiores navios de combate já construídos e considerados quase invulneráveis por sua defesa direta e indireta. Custam em torno de 4,5 bilhões de dólares por unidade. A Marinha americana possui doze, sem contar custos de manutenção e escolta (muito caros quando se trata de navios). O Queen Elizabeth se trata de uma classe britânica em construção. A marinha britânica opera apenas com porta-aviões mirins há muitos anos, e essa classe se comparará ao Nimitz quando completada. O orçamento do projeto é 3,1 bilhões de libras esterlinas por navio. Dois navios estão previstos e em construção. O NAe São Paulo, classe Clemenceau, é um porta aviões brasileiro comprado da França em 2000 por 12 milhões de dólares. O preço se justifica pela idade do equipamento (construído nos anos 1960), porém sua possessão ainda significa que a marinha brasileira é uma das únicas do mundo a operar

com porta-aviões, o que concede-nos considerável poder de dissuasão. Críticas podem ser feitas no sentido de que possuir tal arma seria mais eficiente se ela passasse menos tempo na base aeronaval do Rio de Janeiro e mais tempo operando, embora tal operação fosse incorrer, obviamente, em maiores gastos. 5 Miscelânea -

Armas de longo alcance e/ou destruição em massa Vilãs da ‘moderação’ e dos conflitos de baixa intensidade modernos e

heroínas da estabilidade mundial nos conturbados anos da Guerra Fria, não poderíamos deixar de mencionar armas de longo alcance. Aqui ‘longo alcance’ é atribuído aos seus significados estratégicos em contexto intercontinental: distâncias atingidas por mísseis em trajetória suborbital ou estratosférica, até 8000km ou mais.

O ‘custo’ dessas armas é certamente mascarado por muito mais

fatores

que

inflações,

imprecisões em períodos de guerra, subsídios e economias planificadas. O fator extremamente estratégico e Figura 6. Míssil LGM30 é lançado da Base Aérea de Vandenberg.

o poder de dirimir ofensivas com sua mera possessão cria uma

névoa de confidencialidade totalmente esperada, somada à dificuldade em desenvolver contramedidas (por muitos anos limitadas por tratados entre EUA e URSS e cujas pesquisas só procederam em 2001). No entanto, é inegável que a maior parte de seu custo está nos longos e custosos programas de desenvolvimento,

que

requerem

avanços

tecnológicos

de

ponta.

A

Encyclopedia Astronautica cita sobre o LGM-118 Peacekeeper, discutivelmente o mais avançado míssil balístico intercontinental já desenvolvido pelos Estados Unidos, desativado em 2004 por reduções no orçamento do Comando

Estratégico do Ar e tratados para evitar proliferação de armas de destruição em massa: Failures: 2. Success Rate: 96.08%. First Fail Date: 1989-0914. Last Fail Date: 2001 07 27. Launch data is: complete. Development Cost $: 10,926.800 million. Recurring Price $: 77.877 million in 1982 dollars. Flyaway Unit Cost $: 77.398 million in 1982 dollars. Guidance contractor: Boeing. Standard warhead: 3,600 kg (7,900 lb). Maximum range: 13,000 km (8,000 mi). Number Standard Warheads: 10. Standard RV: Mk. 12A. Standard warhead: W87. Warhead yield: 300 KT. Boost propulsion: solid rocket. Initial Operational Capability: 1987. Total number built: 226.

O LGM-118 custaria, portanto, 70 milhões de dólares por unidade. O LGM-30 Minuteman, o único que os EUA ainda mantêm em serviço, com alcance aproximado de 10.000km, custa um décimo disso, a 7 milhões por unidade. O custo de desenvolvimento, sem contar um programa nuclear, circunda os 5 bilhões de dólares. A isso se devem somar custos de manutenção. Naturalmente, potências nucleares mantêm frotas de no mínimo várias dezenas de mísseis. -

Private Military Contractors (PMCs) Embora o tema último deste trabalho seja a questão do custo da guerra,

e no ponto do armamento tenhamos abordado o custo para Estados e comunidades políticas beligerantes, num último ponto abordaremos também a questão de empresas militares privadas, as chamadas PMCs. Reportadamente estas empresas, às vezes chamadas de empresas de segurança (aqui somente tratamos das eminentes o bastante para atuar em conflitos internacionais que atinjam a escala de guerra ou guerra civil)

ou

pejorativamente de mercenários, prestam até mesmo serviços militares pesados em zonas de conflito. O serviço militar privado age de forma similar a exércitos regulares, porém sob a égide capitalista do lucro e sem privilégios estatais na obtenção de equipamento, esses atores beligerantes funcionam economicamente de forma muito diferente de atores estatais oficiais. Uma espingarda Mossberg

590 é comprada pelo governo dos EUA por US$ 316,00 a unidade 11, enquanto quaisquer agentes particulares pagam, em média, US$ 600,00 (conforme anunciado no site da conhecida empresa de produtos de caça e tiro Cabela’s), sem contar com taxas de no mínimo US$ 200,00. Um operador de PMC recebe em média quatro vezes mais que um militar a serviço de um estado (CNN). A área de atuação de uma PMC é muito ampla. A DynCorp, uma das maiores empresas desse tipo no mundo, nasceu como empresa de aviação comercial

para

reconhecimento,

pilotos

ex-combatentes,

inteligência,

transporte,

e

presta

emergência

apoio e

militar

principalmente

treinamento de pessoal e manutenção de equipamento militar.

Figura 7. Academi, novo nome da infame Blackwater, ás vezes criticada como 'exército particular'. Radcity.

11

de

"Department of the Army Fiscal Year (FY) 2007 Budget Estimates". US Army. 2008-02-01. pp. 278–279

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.