Presença da literatura portuguesa no tardofranquismo e na transição espanhola: o caso das publicações periódicas Ínsula e Triunfo

Share Embed


Descrição do Produto

MARIA DO CÉU FONSECA LACUEVA, Francisco (1832), Elementos de gramática general con relación a las lenguas orales, Madrid, Imprenta de D. ]. Espinosa. LÉVIZAC, Jean de (1822) [1797], L 'art de parleI' et d'écrire correctement la langue française, ou Grammaire phitosophique et littéraire de cette tangue, 2 vaIs., Paris, Rémont. MELo, João Crisóstomo do Couto e (1818), Gramáticafilosofica da linguagempo/1uguêza, Lisboa, Impressão Régia. SANTOS, Maria Helena Pessoa (2005), As ideias linguísticas portuguesas na centúria Oitocentos, 2 vols., Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, tese doutoramento [policopiadal. THUROT, François: (2004) [r796], Tableau des progres de la science grammatícale tJ..JISC(JU1;ç. préliminaire à l'Hermes dejames Harris), Introduction et notes d'André Joly, LllIlIU)~es, L'Harmattan. TORRES, Amadeu (1998), Gramática e linguística, Faculdade de Filosofia, Universidade Católica Portuguesa.

Presença da literatura portuguesa no tardofranquismo e na transição espanhola: o caso das publicações periódicas Ínsula e Triunfo

M. a FELISA RODRÍGUEZ PRADO CALABRA-Universidade de Santiago de Compostela

-parcialmente subsidiado pela Junta da Galiza- "Portugal e o mundo lusófono na literatura galega das últimas três décadas» (POLULIGA), que realiza o gmpo de investigação GALABRA de Estudos Culturais Galego-luso-afro-brasileirosI • No desenvolvimento dessas pesquisas concluiu-se, a determinada altura e para efeitos comparativos e de complementação, a necessidade de fazer o levantamento das presenças portuguesas -para além das galegas- nas principais publicações espanholas da altura, tanto literárias como de informação geral. Procedeu-se, portanto, a estabelecer um corpus que ficou constituído por Ínsula Ú94 6-), Papeles de San Armadáns Ú956-1979) e Camp del'Arpa Ú972-1982), na primeira categoria, e por Bl Ciervo (1951-), Destino (1937-1980), Cuadernos para el Diálogo Ú963-1978), Triunfo (19621982), Cambio I6 Ú971-) e Posible Ú975-1978), na segunda.

E

STE TRABALHO ESTÁ LIGADO AO PROJECTO

I Quero manifestar a minha dívida com os colegas investigadores de POLULIGA, muito particularmente com Roberto Samartim.

M. a FELISA RODRÍGUEZ PRADO

PRESENÇA DA LITERATURA PORTUGUESA NO TARDOFRANQUlSMO E NA TRANSIÇÃO

Partindo desse elenco de periódicos e da observação dos materiais reunidos à hora de definir este meu contributo revelou-se, por um lado, a impossibi1ida~ de de tratar a totalidade e, por outro lado, a escassa ou quase nula presença, dentro das referências a Portugal, dos aspectos linguístico-literários que nos convocam neste encontro. Optei, então, por focalizar os dez anos que vão de I9 até 1978 -período decisivo para a conformação da Espanha actual com a ração da ditadura franquista e o referendo constitucional-, considerando tratar-se de uma franja temporal suficientemente ampla e susceptível de til' a detecção da (in)existência de uma mudança significativa no relacionamento cultural hispano-luso a raiz das transformações operadas na sequência da Revolução dos Cravos portuguesa, de 1974-

a lei de imprensa de 1966, pareça ter aberto vias para desenvolver através da edição de livros e revistas projectos afastados da submissão à ditadura. Deste modo, assistiu-se ao surto de uma estratégia editorial baseada no «possibilismo», consistente, segundo definição de Francisco Umbral, em «pisar siempre la raya de la libertad hasta que el poder diga basta". Para além de outros, coincidem no uso desta estratégia tanto o editor-jornalista José Ángel Ezcurra com Triunfo como os editores de Insula -conforme constatam Fontes e Menéndez (2004: 96)-, tentando esticar até ao limite as liberdades de imprensa e expressão.

A seguir, julguei oportuno centrar a análise apenas em duas publicações, uma das generalistas e outra das literárias. A escolha recaiu, entre as primeiras, em Triunfo, tendo em conta o muito que a revista se significou nesse período decisivo da transformação espanhola, bem como o facto de ter sido maciçamente lida e o de logo depois ter deixado de existir, e em Ínsula, entre segundas, uma espécie de jornal cultural especializado no âmbito das letras e, nesse sentido, bastante minoritário mas já de longo curso nos anos sessenta e ainda vivo na actualidade.

Triunfo, que nasce como revista de cinema e espectáculos em 1946 em Valencia e em Fevereiro de 1961 muda para Madrid, é desde o ano seguinte um semanário de informação geral e opinião, vivendo sob os auspícios da companhia Movierecord até 1970, altura em que se produz a falência. A partir desse momento, sempre dirigida por um dos seus promotores originais, José Ángel Ezcurra, trabalha numa linha independente para dar voz ao progressismo espanhol. Depois de se ter escindido em I978, dando lugar à aparição do breve La Calle, o seu feche definitivo acontece em 1982. O papel de Triunfo na erosão do sistema dentro dele tem muito a ver com o que Ezcurra chama de «triunfo de las luces", com certeza relacionado com o amplo conteúdo cultural e ideológico da revista e com «el papel de órgano cómplice de la reconstrucción de la razón democrática de Espana después del asalto a la razón perpetrado por las hordas franquistas en 1936" que Montalbán\ um dos seus mais destacados colaboradores, lhe atribuiu. A revista é (re)conhecida como espaço aglutinador da opinião pública de esquerda, principalmente associada ao Partido Comunista de Espanha, com o qual a maior parte das suas figuras basilares mantém ligações. Várias vezes sancionada e sofrendo suspensões, destacava o seu compromisso com os temas políticos e, de facto, a maior difusão dela coincide com os' momentos de maior transcendência política, nomeadamente em 1968 e depois entre 1975 e 1977, tendo atingido o ponto mais alto em 1976, com perto de 9°. 000 exemplares (Cabello, 1999:II4).

CONTEXTUALIZAÇÃO

O fim dos anos sessenta e a década de 70 são, no conjunto do Estado Espanhol e também em Portugal, um momento decisivo de transformações, pois perante a expectativa de desaparição das ditaduras assiste-se a um acúmulo do que Even-Zohar denomina energia, produzindo-se uma «geração de energia» (2002:48) que se traduz como tomada de posições e adopção de responsabilidades dos diversos grupos, definindo novos projectos com as suas alternativas. O maior grau de liberalização económica capitalista e abertura nas relações internacionais da Espanha, ao mesmo tempo que facilitava um rápido desenvolvimento, tinha gerado uma sociedade em clara contradição com o sistema político, dando lugar a um desfasamento que, conforme se agudiza, acelera o desenho e a configuração de alternativas político-culturais ao regime franquista. Em palavras do jornalista e escritor Vázquez Montalbán, «es una Espana en la que ha tenido lugar un salto económico, han aparecido algunhas nuevas capas medias, con una voluntad de homologación de la que seda su base social y su base económica con las formas políticas y culturales» (García Rico, 2002:38). Para se conseguir essa homologação será preciso aguardar até à transição, mesmo que a liberalização cultural do regime, datada de 1962 e confirmada com

As

PUBLICAÇÔES

OS livros e a literatura são objecto de estudo e divulgação em Ínsula, surgida em 1946 como Revista bibliográfica de ciencias y letras3 da livraria do mesmo

2 É citado por Ezcurra na recente apresentação de Triunfo Digital, iniciativa que supõe a reaparição pública da revista que, no dizer do seu fundamental animador, ,fue símbolo de la resistencia intelectual ai franquismo". A publicação está disponibilizada em www.triunfodigital.com. J É uma hipótese colocada por José María Maltínez Cachero -e citada por Javier Suso López na Semblanza de Enrique Canito (afrancesado, francófilo, jilántropoJ em www.ugr.es/~jsuso/publications/

700

M. a

FELISA RODRÍGUEZ PRADO

nome, especializada na importação de livros estrangeiros e fundada três anos antes por Enrique Canito Barrera, sob inspiraçã~ dos jornais literários que abundavam na França e desmarcando-se das existentes na Espanha por se afastar de quaisquer directrizes de partido. Canito, catedrático de liceu em francês, foi mais um dos que, como ele próprio afirmou, tendo ficado do lado vencido, depois da guerra civil se viram obrigados a iniciar uma nova vida. Passou de estar pronto a iniciar o doutoramento a ser afastado da docência sob acusação de «excessiva honradez laica», de modo que construiu um projecto à volta do livro e da ideia de Universltas: uma revista literária independente, de inegável importância enquanto possibilitadora do «alargamento cultural» roto pela ditadura. Baseando o seu labor na liberdade intelectual e no exercício do pensamento, mereceu a designação de «ilha de tolerância» e de «casa da resistência cultural» e trabalhou para afirmar a união da Espanha literária e intelectual, sem programa expresso mas visando a projecção das letras espanholas e do hispanismo, a conexão dos transterrados, a promoção de escritores novos, a recuperação da memória literária e a divulgação da actualidade e da modernidade. Tudo isto, num contexto desfavorável, em que o jornalista ou escritor se acha atrapado entre o uso do eufemismo ou a suspensão, em contraste com «la amplia libertad de crítica de que disfruta el escritor en la Europa de occidente» (Ínsula, 335, Out. 1974, p.2).

PRESENÇA(S) PORTUGUESA(S)

PRESENÇA DA LITERATURA PORruGUESA NO TARDOFRANQUISMO E NA TRANSIÇÃO

As referências portuguesas, que ultrapassam a centena de textos nesta publicação, concentram-se no ano da Revolução dos Cravos e no seguinte, pertencendo a prática totalidade das notícias ao âmbito da política. Relativamente à literatura, é também 1974 o ano mais fértil, com pouco mais de uma dúzia de ocorrências, que, mesmo sem marcarem uma presença muito abundante, praticamente duplica a soma de todas as anteriores e posteriores. Confrontando o político e o cultural, porém, detecta-se uma fortíssima decalagem entre ambos temas no ano 1975, que sendo o de maior número de informações sobre Portugal, dedica atenção aos aspectos literários apenas numa entrevista do omnipresente José Monleón ao dramaturgo Santareno e o crítico teatral Carlos Porto. Isto apesar de chamadas de atenção como a que fazia Juan E. Zúniga em Julho de 1974 ao afirmar que «los últimos acontecimientos de Portugal obligan -entre tantas apresuradas reflexiones- a una atenta consideración de las obras literarias aparecidas bajo el anterior Régimen, especialmente aquellas que tendían a reflejar las circunstancias del país». O valor e a função orientadora da publicação foram, de facto, imediatamente reconhecidos, conforme se depreende do elogio que merece em Ínsula (310, Set. 1972, p.2), onde se afirma que «desempena interinamente (. .. ) un montón de cometidos que van desde la orientación política a la religiosa» e a secção «Artes, letras, espectáculos» é caracterizada como sendo «seguramente la más inteligente, sólida y rigurosa del país». Porque Triunfo oferecia ao leitor, entre outras coisas, «ll11a crítica de livros hecha desde bien entendidos criterios progresistas, ensenanzas sobre teatro revolucionario, el ideal de unas artes comprometidas con el cambio social» (Plata Parga, 1999:91).

Triunfo, que privilegia os conteúdos ligados a uma opção política de esquerda, vai passando, no período delimitado, do exercício do «possibilismo» -que Fontes e Menéndez (20°4:58) identificam como feito pela revista «extrayendo moralejas nacionales de sucesos internacionales,>- a entrar em confronto mais directo com o regime, sendo mais explícita e combativa. Nesse sentido, o relacionamento com os homológos da oposição portuguesa data dos anos sessenta, a partir da aparição na fronteira de Badajoz do cadáver de Humberto Delgado, líder da esquerda que apresentara candidatura à presidência do país em 1958; o episódio foi relembrado pelo durante anos secretário geral da redacção da revista, Eduardo García Rico (2002:159-160), que se deslocou até Lisboa e através de jornalistas progressistas contactou com Mário Soares, na altura advogado da viúva.

Em Ínsula, reflectindo as correntes culturais do estrangeiro, predomina o talante liberal, aberto, europeu e a vontade de plasmar um fim de universalidade que se consubstancia, por exemplo, nos números dedicados à apresentação e divulgação de diversas literaturas nacionais, como a venezuelana ou a cubana. Apesar da especialização no terreno do hispanismo, o habitual número duplo de Julho e Agosto aparece, em 1971, consagrado a Portugal, num monográfico sobre as «Letras portuguesas» que Álvarez-Ude (1999:16) afirma ter tido amplo eco entre os escritores espanhóis 4 , até ao ponto de que «influyó decisivamente en el futuro desarrollo que el conocimiento de las letras, y la cultura en general, de nuestro país vecino tuvo entre nuestros escritores». Do que não cabe dúvida é de que, conforme reconhecem gratos na segunda página, se estabeleceu contacto em Portugal com a revista O tempo e modo, primeiro

enrique%canito-2.pdf (Consulta 16.12.2006)- que a designação da revista como científica tenha sido um estratagema para enganar a censura, para, desta forma, apressarem os trâmites e. correrem menos riscos de exame rigoroso.

4 Nesse sentido, cita as traduções de Pessoa feitas por Ángel Crespo e o resgate de autores lusitanos pouco conhecidos, como Antero de Quental da mão do romancista e tradutor Juan Eduardo Zúfiiga.

°

M. a

702

FELISA RODRÍGUEZ PRADO

associada à oposição católica progressista e mais tarde a movimentos de extrema-esquerda, de que receberam materiais para o especial. Antonio Gallego Morell refere Ínsula em qualidade de «rompeolas cultural de todos los docentes espanoles»5, isto é, como meio de contactar com as novidades literárias: criações ou reflexões críticas sobretudo em espanhol e -por causa da vocação hispanística e dos contactos franceses facilitados especialidade e a biografia do fundador e director6-, mas também não faltavam em inglês. Estas, e nessa ordem, são as línguas predominantes nas obras induíl das nas grandes listagens de selecção de livros, nas quais pode observar-se entre I968 e I978 a presença -embora mais ocasional e desequilibrada- de numerosas obras em alemão e em italiano. Quanto ao português e relativamente ao âmbi~ to lusitano, cumpre destacar a escasseza de referências nessas selecções: na de livros recebidos -com predomínio da narrativa e das traduções (Vergílio Ferreira e Fernando Namora), bem como das revistas- nem chegam à dúzia e na de bibliografia estrangeira detectei assunto português em apenas meia dúzia de obras, com a particularidade de que nenhuma delas focaliza a narrativa nem procede de Portugal, dado que tratam a poesia ou o teatro e se encontram três em italiano -uma de Tabucchi e duas da responsabilidade de Tavani-, mais duas em francês e uma outra em castelhano. À vista destes dados, desenha-se um panorama de recepção da literatura lusa marcado pelo raquitismo e peIa dependência quer da tradução, quer do conhecimento forjado fora do espaço peninsular. Da observação da ingente quantidade de informação contida nas pequenas secções ou colaborações sem assinar não se tiram conclusões muito diferentes, embora convenha assinalar duas particularidades. A primeira é que a metade das oito mini-recensões detectadas em «AI correr de los libros» aparecem em I975 e I976, não são obras literárias e referem questões políticas ligadas à actualidade revolucionária do país. A segunda diz respeito à secção de revistas, onde cOm relativa frequência se dá conta da recepção -que parece ser regular, na medida em que as censuras de um e outro lado da raia permitem- de Vértice, veículo fundamental de dif~são do neorealismo, alguns de cujos trabalhos são publicitados 7 . De facto, obras e produtores ligados a este movimento literário cobram

A designação encontra-se citada no já referido trabalho de Suso López. Canito ocupou um leitorado de espanhol na Universidade de Toulouse, para onde foi em 1929, tendo feito amizade com Suzanne Brau, sempre importante nexo com a vida intelectual francesa e divulgadora de Ínsula na França. 7 Assim, entre o posto em destaque no número de Vértice para Março-Abril de 1976 figura a tradução para português da obra de Alfonso Sastre História de uma boneca abandonada (Ínsula. 356-357. ]ul.-Ago. 1976. p. 36). 5

6

PRESENÇA DA LITERATURA PORTUGUESA NO TARDOFRANQUlSMO E NA TRANSiÇÃO

protagonismo -não exclusivo, pois há também resenhas de estudos sobre o período clássico- no formato mais amplo' da publicação, ao serem tratados em artigos tanto Cardoso Pires como Fernando Namora. Pondo de parte, como excepção, o monográfico, no qual se produz o 'desembarque' de um bom número de especialistas lusitanos graças aos citados como «nuestros amigos portugueses de la revista «O Tempo e o Modo»», quase todas as resenhas ou apresentações extensas detectadas estão assinadas por José Ares Montes, professor de Literatura Portuguesa da Universidade Complutense de Madrid falecido em I995 8 . Trata-se de um especialista no período barroco e no comparatismo luso-espanhol, cujo percurso parece presidido peIa vontade de «cooperar para a mútua compreensão» a fim de mudar o quadro de ausência de diálogo entre ambas as literaturas determinado por «el receIo y menosprecio de los portugueses hacia lo espanol, la incomprensión y desdén de lo portugués por parte de los espanoles», conforme desenhava na introdução da tese doutoral apresentada nessa mesma universidade e publicada como Góngora y la poesía portuguesa dei siglo XVII (Madrid, Gredos, I956). O papel de ponte entre ambas línguas e culturas patenteia-se quando, na Ínsula consagrada a Portugal, se lhe presta homenagem como estimulador e participante no projecto, para além de como responsável pela versão castelhana dos estudos e textos literários incluídos. O seu desempenho como tradutor também ficou manifesto em Dos estudios sobre literatura portuguesa (978), obra editada peIa Fundación Juan MaJ'ch 9 onde se reunem um trabalho do escritor e estudioso Mourão-Ferreira e a apresentação de Vergílio Ferreira, a partir de uma série de conferências desenhadas peIa citada instituição no quadro das actividades culturais com que, em Novembro de I977 -mais exactamente, nos dias 24 e 25-, se festejou em Madrid o 50° aniversário da aparição da Presença IO • Quanto à preocupação comparatista, manifesta na sua bibliografia, vem à superfície em muitos dos comentários que publica em Ínsula, por exemplo, apontando a influência de Rubén Darío

8 Foi homenageado com o anexo II da Revista de Filología Románica (2001), dedicado a La narrativa portuguesa de los últimos cincuenta al1os, cuja apresentação continua presidida, neste século XXI, pelo tópico de se tratar de um rico património !iteraria insuficientemente conhecido na Espanha. 9 É a primeira das actividades que a fundação apresenta, sob a epígrafe "Presencia de Portugal«, na quarta página de La literatura y el teatro, um dos monográficos de balanço de meio século publicados em 2005. Outras salientadas, já fora do período em apreço, são a comemoração do quarto centenário do falecimento de Camões, em 1980, e as jornadas dedicadas a Pessoa, no ano seguinte. A participação de especialistas de ambos os países é uma senha comum de todas elas, bem como a edição de livros ou catálogos e o facto de se contar com a colaboração de autoridades portuguesas. O monográfico pode consultar-se em www.march.es/informacion/cincuentenario/ pdf/Literaturao/o2050. pdf. 10 ]ulián Gállego, em "Hajas de otono« (Ínsula, 374-375, ]an.-Fev. 1978, p. 33), dá conta das exposições do ciclo.

M. a

FELlSA RODRÍGUEZ PIlADO

sobre Pessanha, o paralelismo existente, em termos de renovação do romance, entre O delfim de Cardoso Pires e Tiempo de silencio de Martín Santos ou a prioridade da Castro de Ferreira sobre as obras do dominico Jerónimo Bermúdez. De outra autoria são duas das análises da obra de Namora, uma de Domingo Pérez-Minik, conhecido escritor e crítico canário, na sua habitual rubrica «La novela extranjera en Espafia»n, e outra, anterior, de Ildefonso Manuel Gil Ü9I2), encarcerado e represaliado na altura da guerra civil que une a sua condição de escritor à de pesquisador e docente universitário, já desde a década de quarenta atento ao acontecer literário luso -com a publicação de Ensayos sobre poesía pot1uguesa (1948), que será seguido de Media siglo de lírica portuguesa (95 2)-, tendo sido um dos primeiros introdutores da obra de Fernando Pessoa na Espanha e autor de uma tradução de Os Lusíadas de Camões vinda a lume em 1955, ao mesmo tempo que a editora portuguesa Peninsular publicava a versão portuguesa do seu primeiro romance; conforme dados reunidos pela estudiosa Rosario HiriartI2 , consta colaboração dele no portuense Pot1ucale e no lisboeta Diário de Notícias, com o qual assinou em 1955 um contrato que permaneceu activo até 1962, quando Gil parte para os EEUU.

CONCLUSÕES

Os anos 60 e 70 são um período de forte ascendente social de ideias e doutrinas progressistas e avançadas, que respondem a correntes internacionais e ditam a abertura a uma rica cultura política que também incluía valores e estéticas (Plata Parga, 1999:21). Em termos de imprensa, a última década da ditadura foi a do chamado «possibilismo», quer dizer, aproveitamento para a realização de determinados fins ou ideais das possibilidades existentes em doutrinas, instituições ou circunstâncias, embora não fossem afins a eles. Realça-se, assim, o protagonismo da política -ficando relegados a temas secundários a economia, a sociedade ou a religião-, de modo que numa publicação informativa como Triunfo a presença das letras e dos produtores literários portugueses, em formato de artigo amplo, geralmente, se revela fortemente ligada -ou mesmo

II É também o título da obra editada em 1973 como informe sobre o romance de França, Inglaterra, Alemanha, Áustria, Suíça, URSS e Estados Unidos, especialmente valorizada na ,Nota de lectura .. que Rodríguez Padrón lhe dedica na própria Ínsula (326, Jan. 1974, p. 6). 12 As referências estão tiradas da parte final do trabalho Un poeta en el tiempo: Ildefonso-Manuel Gil, Zaragoza, Diputación Provincial, 1981. Aí consta, também, a recepção da obra literária dele no Correio do Minho bracarense --em 1946 e 1947, da pena de A. Jacinto Junior e em 1951 da de 'l'aborda de Vasconcelos-, em trabalho de António Quadros datado de 1948 no Diário Popular de Lisboa e na revista Brotéria, em 1951, da mão de João Maica. Conforme Hiriart, em 1954 foi eleito Académico Correspondente do Instituto Conimbricense, a proposta do poeta Campos de Figueiredo.

PRESENÇA DA LITERATURA PORTUGUESA NO TARDOFRANQUISMO E NA TRANSIÇÃO

ditada- pela actualidade política: resulta uma notabilíssima concentração das referências no ano 1974, da Revolução dos Cravos; porém, a autoria é que é bastante plural; apesar dessa variedade de vozes, detecta-se uma unidade que deriva de um tratamento dos assuntos em que se muito se patenteia a dimensão ideológica. No caso de Ínsula, no entanto, a definição como folha literária determina a falta de (maior) vivacidade na informação e nos comentários de actualidade e a ausência de elementos para atender melhor a actualidade jornalística -eram estes os defeitos que José Luis Cano e Canito, respectivamente, apontavam em 1970, aquando do 25° aniversário da revista (Núfiez, 1970:26). Detecta-se, pelo contrário, uma fortíssima concentração da autoria dos textos na mão do especialista universitário José Ares Montes, combinando a abordagem da novidade literária -em língua original ou na recente versão castelhana- que permite reflectir a respeito do seu contexto sócio-histórico, com o comentário de manuais ou obras de crítica literária. Em ambas as publicações encontram-se idênticas ou semelhantes considerações a respeito de figuras como Vergílio Ferreira, Fernando Namora e José Cardoso Pires, produtores de uma literatura em que são salientados tanto aspectos técnicos inovadores como, de modo especial, a vontade de participação actuante sobre a situação política e social do país, na linha da arte útil e comprometida e da visão do artista como peça decisiva na transformação da sociedade. Usando de forma bastante comum o recurso à comparação de fenómenos e temática, reiteram-se os votos para alargar o número de produtores e obras vertidas para castelhano, ao mesmo tempo que se insiste na qualidade -e sobretudo em Triunfo, também na quantidade- dos romancistas lusos e na falta de eco na Espanha, cuja explicação é apenas adiantada por Alonso de los Ríos ao afirmar que aqui «las gentes del oficio o los lectores están sólo atentos a cieltas literaturas más «prestigiadas» y no siempre de mayor interés» (Triunfo, 588, 5 Jan. 1974, P-45). Mesmo havendo consciência de que este não é um caso isolado, manifesta-se no estudado desconexão cultural entre os dois países a um nível dificilmente tolerável em vista não apenas da vizinhança geográfica mas também dos aspectos ou problemáticas comuns.

BIBLIOGRAFIA

ÁLvAREZ-UDE, Carlos (1999), «El significado de Ínsula en la literatura espaíiola contemporánea», Tintero, 2 (Madrid 1999), pp. 13-20 (Também disponível em www.adesasoc.org/pdfs/agosto99.pdf. Consultado 20.12.2006).

M." FELISA RODRÍGUEZ PRADO CABELLO, Fernando (1999), Bl mercado de revistas en Bspaiia. Concentración informativa Barcelona, Arie!. . , EVEN-ZOHAR, Itamar (2002), "Solucións anticuadas e a industria de ideas", Anuario de estudios !itera rios galegos (Compostela 2002), pp. 39-53. FONTES, Ignacio e MENÉNDEZ, Manuel Ángel (2004), Bl parlamento de papel. Las revIstas espaíiolas en la transición democrática, Madrid, APM, 2vols. GARCÍA RIco, Eduardo (2002), Vida, pasión y muel1e de Triunfo. De cómo se apagó aque"a voz deI progresismo espaíiol, Barcelona, Flor del Viento Ediciones. NÚNEz, Antonio (970), "La pequena historia (Ínsula, 1946-1970)", Ínsula, 284-285 (Madrid 1970), pp. 24-26. PLATA PARGA, Gabriel (1999), La Razól1 romál1tica: la cultura política del progresismo espafiol a través de Triunfo Ú962-I97S), Madrid, Biblioteca Nueva.

Ensino da língua e cultura portuguesas em Espanha. Uma Resposta aos Desafios Decorrentes da Multiculturalidade

MARIA FERNANDA ANTUNES

Ex-Agregada de Educación de la Embajada POJ1uguesa en Madrid

«Educação Intercultural: educação que se empenba na criação de um meio educacional 110 qual os estudantes de diversos grupos micro-culturais têm experiência da igualdade educacional" Cortesão e Pacheco, 1991

"A Língua é o arquivo da Cultura, sendo que a Lfngua divulga a Cultura e esta última concretiza-se através da Língua« Agostinho da Silva, 1988

1.

DIREITO

À

DIVERSIDADE CULTURAL NA EUROPA COMUNITÁRIA

UESTIONA-SE MUITAS VEZES O DIREITO à diversidade cultural na Europa Comunitária. Pondera-se ainda, muitas vezes, sobre as políticas que a enformam, tendo em conta a constmção de uma Europa sem fronteiras, a livre circulação de pessoas e de ideias sem constrangimentos de qualquer tipo

Q

ÁNGEL MARCOS DE DIOS (EDITOR)

AULA IBÉRICA Actas de los congresos de Évora y Salamanca (2006-2007)

EDICIONES UNIVERSIDAD DE SALAMANCA

Índice Presentación Portugal-Espanha ~"i'~: INTEIRIREG UI A Cooperação Transfronteiriça ",,;,, Cooperación Transfronteriza IINTEIRIREG A Espana-Portugal

ÁNGEL MARCOS DE DIOS

13

ln

CONGRESO DE ÉVORA

]

INSTITUTO

CAMÕES POH'I'LJGAL

IBERDROLA

CONFERENCIA INAUGURAL:

Unamuno, paradigma de las relaciones de Espafía para con Portugal ÁNGEL MARCOS DE DIOS .................................................................... .

19

CONFERENCIA DE CLAUSURA:

AQUILAFUENTE, 123 © Ediciones Universidad de Salamanca y los autores

edición: diciembre 2007 I.S.B.N.: 978-84-7800-342-6 Depósito legal: S. 2.011 - 2007 I. a

Bons ventos e costas voltadas. Reflexões tempestivas sobre alguns lugares comuns CARLOS REIS ....................................................................................... .

La lírica espiritualista de Fernando Maristany y el saudosismo de Teixeira de Pascoaes ANTONIO SÁEZ DELGADO ..................................................................... .

43

Lusitanistas espafíoles (1940-1980) EDUARDO JAVIER ALONSO ROMO ........................................................ ..

Ediciones Universidad de Salamanca; Plaza San Benito, s/n E-37002 Salamanca (Espafía) Correo-e: [email protected]

33

53

Espafía en el actual teatro independiente português Coimbra y «a escola da noite» (para una historia inexistente) ELOÍSA ÁLVAREZ .................................................................................. .

77

Regreso aI futuro: la República Portuguesa en la obra de Ramón Gómez de la Serna y Carmen de Burgos (con Larra aI fondo)

Impreso en Espafia - Printed ln Spain Impresión y encuadernación: IMPRENTA KADMOS

Salamanca

Todos los derechos reservados. Ni la totalídad ni pal1e de este libro pueden reproducírse nl transmitirse sin permíso escrito de Edicíones Universidad de Salamanca

ELOY NAVARRO DOMÍNGUEZ ................................................................ .

Os subterrâneos peninsulares de Espronceda a Simões Dias passando por Bulhão Pato GABRIEL MAGALHÃES .......................................................................... .

113

Judeus e conversos em narrativas contemporâneas: Peregrinação de Bernabé das Índias, de Mário Cláudio, Um bicho da terra, de Agustina Bessa Luís, A noiva judia, de Pedro Paixão MAmA ANTONIETA GARCIA .................................................................. .

131

8

ÍNDICE

ÍNDICE

9

Las relaciones lexicográficas hispano-lusas

CONGRESO DE SALAMANCA

DIETER 'MESSNER ................................................................................. .

Palavras de abertura SIlvIONETIA Luz AFoNSO

153

CONFERENCIA INAUGURAL:

155

CONFERENCIA DE CLAUSURA:

ELIAS

EDUARDO LOURENÇO .......................................................................... .

195

21 9

ANTÓNIO DOS SANTOS PEREIRA ........................................................... .

373

Oliveira Martins en Salamanca. Un viaje de trabajo gozoso 399

A língua e a literatura portuguesas na configuração do campo literário galego FRANCISCO SALINAS PORTUGAL ............................................................ .

GABRIEL MAGALHÃES .......................................................................... .

La lírica espiritualista de Fernando -Maristany y el saudosismo de Teixeira de Pascoaes 243

4II

4 21

«Nem tanto ao mar nem tanto à terra" o las desmesuras deI vocabulario (una propuesta lexicográfica) HÉLDER JULIO FERREIRA MONTERO ...................................................... .

Os caminhos do Português: adequação a novos públicos e novas necessidades

433

Referências espanholas nos vocabulários madeirenses 253

(Re)leitura das Histórias Castelhanas de Domingos Monteiro

HELENA REBELO .................................................................................. .

451

Do Portugal possível na Madrid de Ruy Belo

ARMINDO MESQUITA ........................................................................... .

HUGO M. MILHANAS MACHADO .......................................................... .

Poesía y política en la prensa obrera. Las Carapuças d'O Socialista

Abel Sánchez de Miguel de Unamuno e Sedução de José Marmelo e Silva: intersecções literárias

BEATRIZ PERALTA GARCÍA .................................................................... .

As primeiras gramáticas escolares vernáculas oficiais de Espanha e Portugal

ISA SEVERINO ...................................................................................... .

281

Os Encontros Ibéricos de escritores (e escritoras): do Mar de Madrid à costa da Póvoa Continuidade e inovação na morfossintaxe do Barranquenho CLANCY CLEMENTS - PATRÍCIA AMARAL - ANA R. LUÍS .......................... .

B. MARTINHO ................................................................ .

Castela como radiografia espiritual de Espanha. Uma análise das Histórias Castelhanas, de Domingos Monteiro

Inquietante iberismo em inversa navegação

CARLOS QUIROGA ............................................................................... .

J.

FRANCISCO FIDALGO ........................................................................... .

209

Portugal en la obra de Eduardo Pondal

CARLOS ASSUNÇÃO .............................................................................. .

347

FRANCISCO COTA FAGUNDES ................................................................ .

Sobre la referencia aI castellano en la tradición gramatical del portugués

ANTONIO SOARES ................................................................................ .

TORRES FEIJÓ ........................................................................ ..

Jorge de Sena-Discípulo de Antonio Machado? Da heterogeneidade do ser e das figurações do outro na poesia seniana

A Rota dos Escritores do Século XX como ejemplo de proyecto de dinamización territorial a través de la puesta en valor del patrimonio inmaterial

ANTONIO SÁEz DELGADO .................................................................... .

J.

FERNANDO

AMPARO R!cós VIDAL ......................................................................... .

ANDRÉS JosÉ POCINA LÓPEZ ............................................................... .

335

Eugénio de Andrade e a Generaçao de 27

Espana, Portugal y el AIPI. Notas para una historia inacabada

ANA MARÍA GARCÍA MARTÍN ... , .......................................................... ..

ELENA LOSADA SOLER ......................................................................... .

Para umha cartografia da traduçom literária entre 1900 e 1930. Portugal em Espana

Unamuno e a morte (de Schopenhauer a Unamuno)

ANA BARBERO .................................................................................... .

EDUARDO JAVIER ALONso ROMO

Traducciones de Eça de Queirós en Espana Ú980-2006)

La poesía trascendente de Pessoa-Caeiro ANTONIO COLINAS .............................................................................. .

Torres Villarroel y Portugal

293

471

Un tactear inceJ10 para la voz deI sentir ISABEL SOLER ...................................................................................... .

A
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.