Presente de Grego? (Estadão Noite - 29.06.15)

July 11, 2017 | Autor: Cairo Junqueira | Categoria: European Studies, European Union, Greece
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SEGUNDA-FEIRA, 29.06.2015

CAIRO GABRIEL BORGES JUNQUEIRA Presente de Grego?

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possível saída da Grécia da União Europeia (UE) ou da zona do Euro alcançou na última semana seu ponto de maior atenção. Membro do bloco desde 1981, quando entrou de maneira solitária e demonstrou um avanço para a região mais a leste do Mediterrâneo, os gregos representam apenas uma parte do grande iceberg da crise financeira iniciada em 2008 e pela qual vários outros países da Europa, incluindo Portugal e Espanha, também sentiram seus efeitos. O caso da Grécia é mais emblemático porque, além de ter enfrentado uma redução drástica no Produto Interno Bruto (PIB), produzido medidas de austeridade econômica com maior controle de gastos por parte do governo e ter aumentado exponencialmente o desemprego, o país teve que adquirir fundos da própria UE, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), seus maiores credores, e não está conseguindo reembolsá-los. É desse cenário que vem o “presente grego” para com

a integração europeia e algumas das maiores organizações financeiras internacionais. Sai ou não sai? Será ruim apenas para a Grécia ou a UE enquanto bloco cujo lema é “unida na diversidade” também sofrerá seus abalos? É desse questionamento que são esboçados os argumentos seguintes. Dois cenários são mais plausíveis: ou a Grécia sai da zona do Euro ou permanece no bloco. A saída da Grécia da UE é prejudicial não só para o país, mas para a Europa e o processo integracionista do continente que remonta aos finais da Segunda Guerra Mundial. Obviamente que autoridades ligadas às instituições econômicas supracitadas ou até mesmo das maiores economias europeias, a exemplo da Alemanha e da França, tentarão minimizar tal impacto, mas é um fato que qualquer quebra no alargamento da UE no presente momento marcará um dos maiores reveses da história do bloco regional. Segundo, a crise financeira de modo geral e a crise grega especificamente representam apenas um dos principais problemas que a UE enfrenta na atualidade. Podem-se citar as recentes falhas com a ausência de uma política imigratória institucionalizada, a crescente disparidade entre a “Europa de papel” e os mandos e desmandos econômicos do FMI e da Alemanha, o fortalecimento dos “Eurocéticos” que aumentaram suas cadeiras no Parlamento Europeu (PE) na última eleição ocorrida em 2014 e até mesmo a existência de movimentos separatistas e protodiplomáti-

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cos em alguns países a exemplo dos famosos casos da Catalunha na Espanha e de Flandres na Bélgica. Não se pode minimizar o caso grego para o futuro da integração europeia. Há rumores de um provável calote e Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, informou que irá convocar um referendo com participação da população para decidir os dias vindouros. O “presente de grego” e suas mazelas poderão partir dos gregos, propriamente ditos, a curto prazo. Todavia, a UE deve repensar suas políticas de integração para que, no longo prazo, não haja

“presentes” de outros países. A crise é, antes de tudo, financeira e econômica. Mas a União é também um processo político e quanto maior for seu escopo de atuação, maiores serão suas responsabilidades perante seus próprios membros.

CAIRO GABRIEL BORGES JUNQUEIRA É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO (UNAERP) E PESQUISADOR EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SAN TIAGO DANTAS (UNESP, UNICAMP E PUC-SP)

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