Presentes e mais presentes

Presentes e mais presentes! Autor: Def Yuri | 09/08/2004 | Seção: Def Yuri

Estava preparando dois artigos e pretendia escolher qual aquele que mais se adequava ao momento. Estava percebendo uma necessidade de escrever algo não tão sangrento ou que retratasse de maneira crua a realidade daqueles que vivem na cidade do Rio de Janeiro. Porém, querer literalmente não é poder. Mal cheguei no trabalho e após cumprir minhas rotinas para iniciar o dia recebo uma mensagem do meu grande camarada José Junior que informava da morte do Lorenzo Zanetti, para a maioria apenas Lorenzo, um cara muito sangue bom que incentivou muita gente boa a realizar na prática os seus planos. Na mente veio a lembrança do dia em que o conheci dentro do metrô, e quem nos apresentou foi justamente o Junior. Logo na hora do rush pude ter uma prosa memorável e que ficou (e sempre estará) arquivada em minha mente juntamente com todo o meu respeito. E no meio de uma profunda reflexão sobre perdas e/ou desaparecimentos sou despertado por uma pergunta de uma amiga – você já está sabendo? Por pensar que se tratava do mesmo assunto disse que sim. De pronto veio mais uma bomba – "Yuri. O Rivan e o Juca morreram!" A notícia foi pior que qualquer soco na boca do estômago e o rumo se perdeu de vez. Puta que pariu! Para se ter uma idéia, recentemente escrevi um artigo sobre um lutador de boxe do projeto Luta pela Paz, chamado João Batista e seu árduo processo de ascensão e também a nossa convivência. Pois bem, Rivan e Juca também pertenceram ao projeto no mesmo período. No caso do Rivan, este chegou a ser reconhecido como um lutador com grande potencial chegando a obter várias vitórias, e se tornando uma grande revelação do boxe carioca. Seus passos sempre foram seguidos pelo irmão mais novo Juca. Estes dois ao contrário de muitos outros jovens tiveram a possibilidade de escolher um caminho menos complicado. E sou testemunha do suporte que lhes foi oferecido. Tiveram além do esporte, trabalho, estudos, contatos com as mais diferentes pessoas e uma interação com um mundo bem diferente daqueles em que viviam. É isso, tiveram de tudo para ampliar os seus horizontes e meios para que pudessem contrariar todos os prognósticos, que pesam e recaem sobre os jovens que são oriundos das favelas e bairros pobres cariocas. Tudo posto de lado por uma escolha que na opinião deles pode ter sido certa (na minha opinião muito errada) e que os arremessou de vez para o mundo do deslumbramento: poder, armas, mulherada, status...Para o mundo do crime e como dizem o crime não é o creme! E esses autênticos kamikazes cariocas acabaram por encontrar o fim da pior maneira ou seria da maneira mais espetacular? Será que encontraram o que buscaram? Perseguição, carro roubado, armas, execuções... Não sei. Quando jovens como eles entenderão que a pseudo-revolta a serviço do crime apenas os colocam à mercê do sistema? Eles estão literalmente fazendo o que o sistema deseja... dando mais gás no próprio genocídio e tirando a bunda dos mentores desse estado de merda da reta. Mesmo achando que “quem tá na chuva tá pra se molhar” ou “quem procura acha”, não queria que o script fosse seguido à risca. Torcia para um outro desfecho e no momento só tenho a certeza que as respostas para essas perguntas e dúvidas são muitas. "Perseguição na Avenida Brasil termina com quatro mortes

Uma perseguição policial na pista lateral de descida da Avenida Brasil a um Honda Fit prata que tinha acabado de ser roubado terminou com quatro mortes na madrugada desta quinta-feira. A perseguição começou quando o veículo ocupado por quatro jovens furou uma blitz do Grupamento Especial Tático-Móvel na altura de Costa Barros. Houve troca de tiros em vários momentos e na altura de Bonsucesso, no acesso ao viaduto da Ilha do Governador, quando 20 carros da PM já estavam mobilizados, o Honda totalmente perfurado acabou batendo contra uma mureta. Dois baleados foram levados para o Hospital Geral de Bonsucesso, onde morreram. Com eles, foram aprendidos um revólver 38 e uma espingarda calibre 12. Os outros dois feridos tentaram fugir, mas caíram mortos na Rua Teixeira de Castro, em Bonsucesso. O caso está sendo investigado pela 21ª DP (Bonsucesso)." Essa merda de episódio deve ser avaliada de muitas formas. Não cabe um único ponto de vista. Repito: a vida é feita de escolhas todo o tempo, então cabe principalmente aos jovens o exercício e a possibilidade da escolha certa (ou menos errada) e também arcarem com as conseqüências positivas ou negativas dos seus atos. Ao restante da sociedade também cabe assumir suas responsabilidades e tentar mudar de fato essa triste rotina que ceifa diariamente a vida de inúmeros jovens. Um dos primeiros passos poderia ser o de não estimular ou mesmo dar suporte financeiro para a destruição. Afinal, na minha opinião o pior fascista é aquele que extrai prazer desse tipo de situação e segue o curso da sua vida achando que não contribui em nada e enquanto se perde no seu vil prazer vidas se esvaem para suprir o maquinário e principalmente essa merda de status quo. Fico com a lembrança dessa dupla de irmãos na cabeça, ciente que o mais velho sempre foi firme nas suas decisões, já o mais novo... Não quero pensar se esses antes de morrer fizeram alguma vítima, não me importa tanto, afinal todos agora são apenas números da imbecilidade que contamina a geração “Racumim”. Que este triste fato pelo menos sirva para que os outros jovens que orbitam sobre o Luta pela Paz, que estes consigam refletir todos os dias sobre as oportunidades dadas ou conquistadas. Que tenham a capacidade de escolher e fazer a opção mais sensata...Ou então que se preparem para os tiros, dor e principalmente para o vírus da banalidade que arremessa suas vidas para o esgoto da sociedade. E estes foram alguns dos presentes para o dia 6 de agosto. Data do meu nascimento são tantas alegrias e tristezas ao longo dos últimos 33 anos que nem sei... Asé para todos e que um dia consigamos mudar essa merda de quadro. “Não quero flores em memória” Eduardo – Facção Central Dicas: www.fase.org.br www.lutapelapaz.org.br