PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO, PESQUISA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO SÍTIO HISTÓRICO DE JOANES

June 23, 2017 | Autor: Denise Schaan | Categoria: Public Archaeology, Marajó Island
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MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI COORDENAÇÃO DE CIÊNCIAS HUMANAS ÁREA DE ARQUEOLOGIA

PROJETO: PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO, PESQUISA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO SÍTIO HISTÓRICO DE JOANES

RELATÓRIO FINAL

Belém, setembro de 2006.

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Coordenação Geral: Fernando Tavares Marques (MPEG) Denise Pahl Schaan (UFPA) Supervisão: Maria Dorotéa de Lima (2º SR-Iphan) Financiamento do Projeto: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN Execução: Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia - FIDESA Parcerias: Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG O Museu do Marajó – Pe. Giovanni Gallo – MdM Redação do Relatório Final: Denise Pahl Schaan, Fernando Tavares Marques, Samara de Nazaré Barriga Dias, Raimundo Ney Gomes, Hannah Fernandes Nascimento e André da Silva Lima.

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Índice ÍNDICE ..................................................................................................... 3 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 4 2. A VILA DE JOANES .................................................................................... 4 3. HISTÓRICO DA PESQUISA E INTERVENÇÕES NO SÍTIO PA-JO-46: JOANES ..................... 4 4. OBJETIVOS ............................................................................................ 6 5. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .................................................... 7

5.1. Reuniões com a comunidade ....................................................................................... 7 5.2. Monitoramento da construção de anexo à escola ........................................................ 10 5.3. Delimitação do sítio................................................................................................... 10 5.4. Monitoramento de construção de cerca ...................................................................... 11 5.5. Escavações ................................................................................................................ 11 5.6. Outras ocorrências ..................................................................................................... 16 5.7. Levantamento de informações orais ........................................................................... 16 5.8. Pesquisa histórica ...................................................................................................... 18 5.9. Educação Patrimonial ................................................................................................ 19 5.10. Limpeza dos remanescentes arquitetônicos .............................................................. 20 5.11. Curadoria do material arqueológico ......................................................................... 20 5.12. Classificação e registro de material arqueológico ..................................................... 20 5.13. Doações................................................................................................................... 31 5.14. Material arqueológico com a comunidade ................................................................ 32 5.15. Projeto de sinalização turística e educativa .............................................................. 32 6. DIVULGAÇÃO ......................................................................................... 34 7. PARCERIAS............................................................................................ 34 8. EQUIPE (ORDEM ALFABÉTICA) .....................................................................34 9. CONCLUSÃO .......................................................................................... 35 10. AGRADECIMENTOS ................................................................................. 37 11. BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 37 12. ANEXOS .............................................................................................. 38

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1. INTRODUÇÃO Este relatório tem por objetivo descrever as atividades realizadas e os resultados obtidos com a execução do projeto PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO,

PESQUISA

E EDUCAÇÃO

PATRIMONIAL NO SÍTIO HISTÓRICO DE JOANES, realizado entre janeiro e julho de 2006. A realização deste projeto foi possível graças à parceria estabelecida entre Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, FIDESA - Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia, Museu Paraense Emílio Goeldi e O Museu do Marajó – Pe. Giovanni Gallo. Também foi essencial ao bom desempenho das atividades realizadas, o apoio recebido da Associação dos Moradores. O projeto constituiu-se em uma ação emergencial visando à proteção, preservação e estudo preliminar do sítio arqueológico PA-JO-46: Joanes, atividades essas que procuraram envolver a população local, assim como a Prefeitura do Município de Salvaterra, no sentido de buscar estabelecer um vínculo entre instituições públicas e privadas, pesquisadores e comunidade visando uma gestão compartilhada, a médio e longo prazos, do patrimônio arqueológico da vila de Joanes.

2. A VILA DE JOANES A vila de Joanes (coordenadas geográficas: 0º 52’ 36’’ S e 48º 30’ 36’’ W) é um distrito do município de Salvaterra, localizada a cerca de 17 km da sede. O município foi criado em 1961, quando desmembrou-se de Soure (Figura 1). A maior altitude no município é de 4 metros. A localidade de Joanes é uma vila de pescadores muito apreciada por turistas por sua natureza agreste e por ser um local pacato, com pouco movimento e construções tradicionais. A população é de cerca de 2.000 habitantes, número esse que chega a quadruplicar no mês de julho, início do verão amazônico. O acesso se dá principalmente por via fluvial, a partir de Belém. O porto mais próximo fica na foz do rio Camará, de onde é necessário tomar um transporte terrestre para chegar até a vila. A economia caracteriza-se pela pecuária, extrativismo vegetal, agricultura, pesca e turismo.

3. HISTÓRICO DA PESQUISA E INTERVENÇÕES NO SÍTIO PA-JO-46: JOANES Em 1986, quando operários construíam banheiros na Escola Reunida Ruth Passarinho, localizada em frente ao largo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário da vila de Joanes, encontraram fragmentos de cerâmica, ossos, louça e carvão.

A Prefeitura de Salvaterra

solicitou então ao Museu Paraense Emílio Goeldi que mandasse uma equipe para verificar os achados. Ao chegar ao local, Antonio Nery da Costa Neto, Fernando Luiz Tavares Marques e o técnico Raimundo Jorge Mardock recolheram os materiais encontrados e fizeram algumas

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sondagens (Figura 2), delimitando a área de dispersão do material arqueológico, que interpretaram como sendo uma área de descarte, talvez parte de um antigo lixão. Dentre o material coletado identificaram fragmentos de faiança portuguesa do século XVII, porcelana chinesa, duas moedas portuguesas cunhadas em 1753, e diversos fragmentos de cerâmica, metais e ossos. A partir desse trabalho, o sítio arqueológico foi registrado com o nome de PAJO-46: Joanes, seguindo as normas de cadastro do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O relatório produzido (Costa Neto 1986) indicava a importância histórica do local e recomendava a continuidade da pesquisa, preservação das ruínas da igreja, a montagem de uma exposição no local e o tombamento da área. Em 1998, uma outra equipe voltou na área, desta vez coordenada pelo estudante de mestrado Paulo Roberto do Canto Lopes, que realizou um levantamento topográfico e arquitetônico, registrando as estruturas de pedra ainda visíveis e mapeando a extensão do sítio pelas evidências encontradas em superfície. Além disso, estudou em laboratório o material encontrado em 1986, assim como realizou pesquisa em fontes documentais e bibliográficas. Esse trabalho resultou em um relatório de pesquisa e uma tese de mestrado foi defendida em janeiro de 1999 na PUC-RS, com o título: “A Colonização Portuguesa da Ilha de Marajó: Espaço e Contexto Arqueológico-Histórico na Missão Religiosa de Joanes” (Lopes 1999a). O relatório de pesquisa (Lopes 1999b) ressaltava a importância do sítio, afirmando que a “missão religiosa dos Padres de Santo Antônio pode ter sido a mais antiga missão religiosa implantada em Marajó”. Além disso, recomendava ações imediatas de preservação, ressaltando que as intempéries e a ação humana e de animais estavam comprometendo as estruturas visíveis e que um estudo e a preservação das ruínas deveriam ser priorizados, com sua adequada sinalização. Naquela época existia sobre a área do sítio um prédio construído pela Cia. de Energia Elétrica CELPA, assim como cataventos, que eram parte de um projeto conjunto com a UFPA destinado a gerar energia eólica; esse um projeto experimental que, entretanto, nunca chegou a produzir energia para a vila. Em 2004, chegou à 2ª Superintendência Regional do Iphan em Belém uma denúncia feita pelo Sr. Evandro Maurício da Cunha, que teria presenciado, no mês de fevereiro do mesmo ano, a uma escavação no largo para a construção de uma praça, sendo utilizada para isso uma retroescavadeira. Segundo o relato, juntamente com a terra removida apareceram vários objetos de cerâmica, tais como potes ou urnas indígenas, e moedas de cobre e prata que foram recolhidas por pessoas do local. Infelizmente, foi somente em outubro de 2004 que o Museu Paraense Emílio Goeldi tomou conhecimento do acontecido, ao ser solicitado pelo Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a ida de técnicos ao local para realização de vistoria. Após a liberação de diárias por párte do Iphan, em janeiro de 2005 a arqueóloga Denise Pahl Schaan e o técnico Wagner Fernando da Veiga e Silva visitaram o local, encontrando a praça já totalmente construída. O relatório produzido (Schaan e Silva 2005), assim como os anteriores,

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apontou os problemas constatados no sítio, agora bastante agravados: pichações sobre as paredes dos remanescentes arquitetônicos da igreja de pedra (Figura 3), propaganda política, retirada de pedras, trânsito excessivo sobre a área da igreja, assim como o tráfico de material arqueológico. Em maio de 2005, no evento “Fórum de Debates: Arqueologia e Turismo na Amazônia” promovido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi e organizado pelas arqueólogas Edithe da Silva Pereira e Denise Pahl Schaan, foi apresentado ao público e instituições presentes a situação por que passava o sítio de Joanes que, mesmo sem condições de receber turistas pela falta de preservação, proteção e sinalização adequadas, era incluído em roteiros turísticos e recebia constantemente a visita de turistas. Foram propostas no evento medidas para a proteção do sítio que incluíam a recuperação das estruturas remanescentes; estas propostas foram incluídas em uma carta aberta produzida em plenária durante o fórum. Em 21 de agosto de 2005, a pedido da comunidade de Joanes, o Procurador da República, Dr. Felício Pontes Jr. realizou com esses uma reunião, na qual a comunidade reclamou de diversos problemas envolvendo o meio ambiente e o patrimônio histórico, especialmente a existência de cataventos do projeto de geração de energia eólica já desativado (Figura 4). A partir dessa reunião o Ministério Público Federal instaurou um procedimento administrativo para apurar os fatos. Como resultado, em ofício de 02/09/2005 o Ministério Público Federal requisitou informações ao reitor da UFPA sobre o equipamento de energia eólica que teria sido instalado em parceria entre o POEMA e CELPA. A Reitoria respondeu, em ofício datado de 15/09/2005 que, segundo informação do Coordenador Geral do NUMA-POEMA, o projeto de energia eólica seria de responsabilidade da CELPA.

O Ministério Público então oficiou ao

Diretor da Rede CELPA, em 16/09/2005, solicitando esclarecimentos, tendo em vista o estado de conservação e os riscos que envolviam os equipamentos no local. Em 28/09/2005 a CELPA respondeu, comprometendo-se a remover, no prazo de 30 dias, os equipamentos instalados em Joanes, liberando a área para a Prefeitura de Salvaterra, o que foi efetivamente feito. Os cataventos foram retirados, assim como os equipamentos do prédio, ficando, no entanto, o prédio e os suportes de concreto nos quais os cataventos eram fixados. Sensibilizado pela situação, ao final de 2005 o Iphan disponibilizou uma verba para a realização de uma ação emergencial no sítio, objeto deste relatório.

4. OBJETIVOS O projeto teve como objetivos: 

Delimitação da área do sítio arqueológico;



Realização de pesquisa arqueológica preliminar;

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Realização de pesquisa em fontes documentais e bibliográficas;



Início de ação de educação patrimonial;



Levantamento de informações orais com os moradores;



Limpeza dos remanescentes arquitetônicos;



Produção e colocação de placas de sinalização;



Produção de material informativo e educativo;



Pré-estruturação de espaço expositivo.

5. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 5.1. Reuniões com a comunidade O desenvolvimento do projeto foi norteado por decisões tomadas em conjunto pelas instituições participantes e a comunidade (Figura 5). Relata-se a seguir as principais reuniões havidas desde o planejamento da ação. Houve inicialmente uma primeira reunião no Iphan, em novembro de 2005, convocada pela superintendente Maria Dorotéa de Lima, à qual estiveram presentes os diretores de O Museu do Marajó – Pe. Giovanni Gallo, Srs. Carlos Alberto da Silva Leão e Antônio Maria Smith, assim como os arqueólogos do Museu Paraense Emílio Goeldi Fernando Luiz Tavares Marques e Denise Pahl Schaan. Nesta reunião ficou acordada a parceria entre as instituições presentes para a realização do trabalho, para o qual seria também convidada a Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia - FIDESA para realizar a gestão do projeto. A superintendente solicitou aos arqueólogos a elaboração do plano de trabalho, que foi entregue alguns dias depois. Posteriormente o Sr. Antônio Smith, de O Museu do Marajó – Pe. Giovanni Gallo esteve em Joanes relatando em uma reunião com a comunidade que estaria sendo estabelecida uma parceria para realizar o trabalho e sondando a comunidade sobre seu interesse na realização do trabalho. Posteriormente realizou-se outra reunião em Joanes, à qual esteve presente a arqueóloga Denise Pahl Schaan e várias pessoas da comunidade e vereadores. Nesta reunião formou-se uma comissão de pessoas da comunidade que teria a função de organizar e representar a comunidade quando necessário. A comissão foi formada pela Profª Maria do Carmo Rodrigues Neves (diretora da escola e presidente da comissão), Joseana, Lucidéa, Marise, Edinéia e Priscila. Nesta ocasião, dona Neide ofereceu uma casa para pernoite da equipe. A prof. Maria Cremilda Penante Nascimento entregou solenemente uma monografia de sua autoria sobre a vila, intitulada “A Perspectiva do Ecoturismo numa Comunidade Ribeirinha – Vila de Joanes, Salvaterra, PA”, apresentado no Curso de Especialização em Ecoturismo do NUMA-UFPA, em

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2002 (cópia em CD anexo). Foi feita apresentação do projeto, histórico do sítio no que tange às ações do Museu Paraense Emílio Goeldi (1986, 1998), comentou-se sobre a construção da praça, sobre a importância do patrimônio, a ação do Iphan, e o plano de trabalho. Os moradores manifestaram seu desejo de que o material arqueológico ficasse na vila. Conforme ata que reproduzimos a seguir, no dia 19 de dezembro de 2005 foi realizada uma reunião na sede da 2ª Superintendência Regional do IPHAN, onde estiveram presentes pelo IPHAN, Maria Dorotéa de Lima - Superintendente Regional da 2ª SR/IPHAN e Philipe Sidartha Razeira – Chefe da Divisão Técnica da 2ª SR/IPHAN; pela Prefeitura de Salvaterra, José Maria Gomes Araújo - Prefeito Municipal de Salvaterra e Dário Pedrosa - Secretário Municipal de Cultura de Salvaterra; pela Escola local, Maria do Carmo Rodrigues Neves - Diretora da Escola Municipal de E. M. F. de Joanes; pela comunidade local, Maria Cremilda P. Nascimento; pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, Denise Pahl Schaan - Arqueóloga e Fernando Marques – Arqueólogo; pela FIDESA, Odília Solange Salbe Rodrigues – Gerente Geral da FIDESA e Mara Rodrigues. Inicialmente foi feita a apresentação de todos os participantes, bem como identificados os problemas detectados no sítio arqueológico; quando questionado sobre a construção da praça de Joanes sobre o sítio, o secretário municipal de cultura informou que a mesma foi construída na gestão anterior em local orientado pela Prefeitura. A Superintendente Maria Dorotéa sugeriu à Prefeitura Municipal de Salvaterra a criação de uma Lei Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural. Foi informado pela Diretora da Escola que fica localizada sobre o sítio, a situação precária das instalações sanitárias e que a escola havia recebido apoio financeiro de uma instituição internacional para melhorar as instalações e contruir uma cozinha, sendo a solicitação protocolada neste instituto para realizar o serviço. Ficou decidido que o Iphan iria solicitar apoio da área de Arqueologia do Museu Goeldi para deslocar equipe até Joanes a fim de acompanhar as escavações do baldrame para ampliação da escola. A Prefeitura de Salvaterra ficou responsável em disponibilizar ferragens e operários para as escavações, bem como o local para armazenar o material retirado durante as escavações. O Sr. Dário Pedrosa informou também que o SEBRAE estava implementando o Projeto Pólo Turístico em Joanes e que seria interessante o Iphan contatá-lo para orientações. Em cada uma das etapas de campo que sucederam ao monitoramento da construção dos banheiros na escola foram feitas diversas reuniões com os moradores, sempre visando dar conhecimento sobre o andamento do trabalho e tomar as decisões pertinentes. O trabalho de delimitação do sítio foi iniciado em 15 de janeiro, tendo-se realizado reuniões em 16 e 19 de janeiro. Na reunião dia 16/01/2006, à noite, na escola, estiveram presentes 23 pessoas, entre equipe de trabalho e comunidade. Nesta reunião foi apresentado o projeto e seus objetivos, assim como apresentada a equipe. Foi discutida a necessidade de haver uma pessoa para vigiar a área do sítio e um local para a guarda do material arqueológico. No dia 18 de janeiro os arqueólogos coordenadores do projeto estiveram no campus da UFPA em Soure dando palestras

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sobre arqueologia e turismo, e apresentando o projeto.

No dia 19 de janeiro houve uma

reunião na escola em Joanes quando estiveram presentes a comunidade e os estudantes de turismo de Soure, totalizando 77 pessoas. Nesta reunião discutiu-se a questão da guarda do material arqueológico. Durante todo o processo de trabalho realizaram-se reuniões abertas com a comunidade, sendo que o número de pessoas variou entre 20 e 70 pessoas presentes. Na reunião do dia 24/03/2006 estiveram presentes 89 pessoas, entre comunidade, Iphan, equipe de trabalho do projeto, Prefeitura de Salvaterra e Sebrae/PA. Nesta reunião foi realizada uma apresentação em datashow sobre o projeto, com os resultados obtidos até então, e discutida com a comunidade a questão da guarda do material arqueológico e a construção de espaço expositivo. Além disso, debateu-se a questão da demolição do prédio da Celpa ainda sobre a área do sítio, e a localização inadequada de um coreto não utilizado, que fica em frente à igreja prejudicando a visão da igreja e das ruínas (Figura 6). Foi apresentada a proposta de desapropriação ou negociação com o proprietário de uma casa e um terreno localizados próximos às ruínas que poderiam servir de espaço para a construção do memorial. A prefeitura se comprometeu a fornecer tijolos para a construção caso quisessem utilizar o terreno. Além disso, comprometeram-se a fornecer operários para a limpeza das ruínas e segurança, além de verificar junto ao Departamento de Patrimônio do Município sobre a situação da casa e do terreno em questão. Sobre o coreto foram apresentadas duas sugestões, uma de sua demolição e outra de sua remoção para outro local. Isso não ficou decidido, pois se avaliou que apenas após o resultado de prospecções e estudos na área do largo seria decidido o que fazer nessa área. Após a reunião do dia 24/03/2006, a equipe deixou Joanes, levando apenas as moedas e material cerâmico para Belém para serem analisados, e comprometendo-se a retornar para a entrega das placas de sinalização, do material informativo e do relatório final. Durante a etapa de março estivemos também em contato com o Sebrae e moradores, pois o Sebrae estava desenvolvendo um projeto de roteirização turística da vila de Joanes. Nos foi solicitado tanto pelos moradores quanto pelo Sebrae que fornecêssemos no menor tempo possível informações sobre o histórico do local para que pudessem organizar o roteiro turístico informando sobre o histórico de seus pontos de atração. Em abril enviamos ao Sebrae o que tínhamos já levantado sobre o histórico. Voltando a Joanes em 02/07/2006, Denise Schaan teve outra reunião com algumas pessoas da comissão, que tinham várias queixas quanto ao descaso da Prefeitura com relação ao sítio. Nesta reunião estiveram presentes João Francisco Rauber Toffoli (o João Gaúcho), Maricleide Lisboa Gomes, Manoel Afonso Marques Lobato e Evandro Maurício da Cunha. Segundo eles ainda permanecia na comissão a profª Maria do Carmo e Edinéia Conceição dos Santos, mas

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informaram que as outras pessoas já não se interessavam mais pelo assunto.

As pessoas

presentes manifestaram sua preocupação quanto à falta de limpeza das ruínas, pela necessidade de construírem um estacionamento, pela falta de perspectiva com relação à construção do memorial, pela iluminação no sítio, limpeza dos poços, demolição da casa da Celpa e a construção de barracas para uma festa que estava programada para acontecer nos dias 6 a 9 de julho. Nos foi entregue, ainda, uma lista de problemas, elaborada pelo Sebrae/PA, que seriam itens a serem solucionados para que o roteiro turístico pudesse ser implementado, a qual teria sido apresentada à prefeitura. Em 03//07/2006 o Iphan foi comunicado sobre a reunião e as demandas da comunidade. Uma planta do estacionamento elaborada por pessoas da comunidade, que envolve um dos poços de pedra, foi entregue ao Iphan, tendo sido encaminhada pela superintendente à área técnica para estudo. A Prefeitura teria se comprometido a construir o estacionamento, aproveitando o material de construção proveniente da demolição da casa da CELPA junto às ruínas. O Sr. Evandro relatou que iria construir cercas ou portões junto ao Salão Paroquial para impedir a entrada de búfalos e cavalos na área das ruínas.

5.2. Monitoramento da construção de anexo à escola Ao ser realizada uma primeira reunião no Iphan onde estiveram presentes representantes do Museu Goeldi, Museu do Marajó, Fidesa, Prefeitura de Salvaterra e comunidade de Joanes, tomou-se conhecimento, através da Diretora da Escola, de que havia uma obra já planejada para acontecer nos fundos da escola, onde seria construído um anexo, com banheiros. Pelo fato de a escola localizar-se na área do sítio arqueológico, o Iphan solicitou que fizéssemos um monitoramento do trabalho. Esse consistiu em acompanhar o trabalho de escavações para a colocação dos alicerces, assim como a escavação para a fossa (Figura 7). Durante esse trabalho foram coletados fragmentos de cerâmica, faiança, vidro e metais. Concluiu-se que esta área dos fundos da escola era uma área de descarte de lixo da vila, pois não encontrou-se nenhuma estrutura intacta e o material estava bastante misturado.

5.3. Delimitação do sítio O trabalho de delimitação do sítio teve como meta estabelecer a área de dispersão do material arqueológico em sub-superfície, produzindo informações que viessem a subsidiar a colocação de sinalização para proteção do sítio, limitar a construção de novas instalações e prédios, assim como indicar locais onde devessem ser feitas investigações no futuro (Figura 8). Em levantamento realizado em 1998, Lopes (1999) aponta uma grande área que engloba a praça, os poços e os acessos como fazendo parte do sítio arqueológico colonial e pré-colonial.

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Apesar de sabermos que toda a área foi habitada no passado, e possivelmente conteria ainda em subsolo testemunhos importantes, não seria possível tratar toda a área da mesma maneira, ou seja, restringir por completo o acesso ao sítio. Por isso entendemos ser importante conhecer melhor a distribuição de material arqueológico em subsolo (durante sua pesquisa, Lopes não fez escavações ou tradagens) para podermos propor uma estratégia de sinalização e proteção que efetivamente protegesse áreas importantes do sítio e liberasse áreas menos críticas para o acesso de pessoas e veículos. Para a realização das tradagens estipulamos linhas de sentido Sul/Norte, sobre as quais foram realizadas tradagens a cada 30 metros, iniciando-se pela linha 900N que teve como ponto de referência o canto esquerdo da igreja nova. As tradagens foram controladas a cada 20 cm, o que significa que a cada 20 cm era examinado o solo e coletado material arqueológico separadamente se fosse o caso. As observações feitas foram anotadas em fichas- padrão onde foi observada a cor e textura do solo (Tabela 1 em anexo). As tradagens foram feitas até uma profundidade de 90 a 120 cm em cada ponto investigado. Foi encontrada uma quantidade maior de material arqueológico e terra preta arqueológica na área do largo, onde foi construída a praça em 2004. Não foi encontrado material na via que vai do salão paroquial até o comércio do João Gaúcho. As tradagens em frente ao salão paroquial produziram bastante material arqueológico, incluindo fragmentos grandes de cerâmica, alguns dos quais ficaram nas paredes internas dos buracos. Foram feitas tradagens também junto ao poço retangular (chamado poço 2 por Lopes, 1999b) (Figura 9), que também produziram material arqueológico. Foi produzido um mapa da área para a plotagem das tradagens e para corrigir algumas incorreções do mapa disponível produzido por Lopes (1999). Na planta da figura 10 pode-se observar a área de maior concentração de material arqueológico.

5.4. Monitoramento de construção de cerca Aproveitando nossa estada na vila em janeiro, o Sr. Agnaldo nos solicitou que acompanhássemos a colocação de esteios para uma cerca, em terreno localizado próximo ao salão paroquial (Figura 11). Durante esse monitoramento foram encontrados fragmentos de cerâmica, faiança, vidro, metal e material construtivo.

5.5. Escavações A

pesquisa

arqueológica

preliminar

buscou

investigar

algumas

áreas

pontuais

pertencentes ao interior da igreja de pedra. As escavações ocorreram no período de 16/02 a 21/02/2006.

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Foram abertas três escavações de 1 x 4 metros, conforme mostra a figura 12. Além disso, ao realizar-se a limpeza da área da frente da torre, um dos ajudantes, Marcelo, acabou encontrando por acaso um crucifixo e o piso em frente à torre, que então foi limpo, medido, desenhado e fotografado (Figura 19). Para o controle das profundidades das escavações, utilizou-se um datum comum a todas as unidades escavadas, convencionado em 1000 cm, o que permitiu conhecer as diferentes alturas de piso existentes. Esse datum foi localizado na parede da igreja nova. Todo o terreno do entorno das ruínas estava coberto por grama, que foi retirada para as escavações e conservada, para ser colocada novamente, juntamente com o sedimento peneirado, sobre uma lona plástica, após o encerramento das escavações. As estruturas encontradas, tais como alicerces e pisos foram protegidas pela lona plástica, que foi furada e coberta por solo e depois por grama.

Descrição das escavações Escavação 1 A escavação 1 foi realizada na parte frontal do terreno, onde estaria localizado o átrio ou hall de entrada da igreja, conforme se observa da iconografia de Alexandre Rodrigues Ferreira, de 1783 (Figuras 13 e 14). A intenção desta escavação era a de justamente encontrar os alicerces deste átrio e o piso da entrada da igreja, verificando se haveria também algum desnível entre esta área e a nave central da igreja. Para isso foi delimitada uma área a ser escavada de 1 x 4 metros, escavando-se as unidades 1x1 m, aos pares. A escavação 1 inicia-se pela unidade de coordenada 894N 4000L, de onde foi retirada uma primeira camada de grama que variava entre 5 a 10 cm de espessura. O primeiro nível foi escavado até 20 cm, ficando a 925-905 cm de profundidade. O solo apresentava cor marrom escuro (10YR 3/3). Entre o material coletado constam telhas, argamassa, vidro, azulejo, faiança, louça, pregos, conchas e um botão. Neste nível foi encontrada uma tijoleira (alicerce) que pode ter sido parte de um contrapiso para o hall de entrada da igreja. No nível 905-895 cm o solo apresentava cor marrom amarelado de leitura 10YR 3/4. Neste nível também foi encontrado um maciço de pedras que pode ser a continuação do contrapiso citado no nível anterior e que pôde definir o retângulo do hall, de acordo com a iconografia. Foram coletados faiança decorada, tijolos, telhas, metal (pregos), vidros, material construtivo, argamassa e tijoleira. Foi encontrado carvão, mas não coletado por estar próximo à superfície. A quadrícula B apresenta por coordenada 894N 4001L; nesta também foi retirada uma camada de grama variando de 5 a 10 cm, que não foi peneirada. Nivelada a 20 cm, com 925905 cm de profundidade. Na leitura do Munsell tínhamos um solo 10YR 3/3, ou seja, marrom escuro. Neste solo achou-se um prolongamento do contrapiso da sondagem A, o que pode comprovar a parede do hall para a igreja. Foram coletados faiança, pregos, cerâmica não

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torneada, vidro, cerâmica torneada, argamassa e telha, além da presença de um fragmento de vasilha, na parede deste nível, que foi retirada. No nível 905-895 cm, o solo não apresentou alteração. Tivemos a continuação do contrapiso, presença de cal, o que supõe ser parte da argamassa da estrutura. Nas laterais, as pedras do que poderia ser o contrapiso foram arrancadas, uma vez que não aparentavam ser originalmente do local, já que estava misturada com outros materiais como fragmentos telhas. Neste nível, registrou-se a presença de material de construção junto com argamassa, além de metal (pregos), vidro, telha e a base de uma vasilha em cerâmica torneada. No último nível a 895-885 cm de profundidade, as pedras continuaram a ser retiradas, com presença de argamassa, barro e cal. O solo apresenta certa variação em sua leitura, indicando 10YR 4/4. Com relação ao material coletado, listam-se principalmente materiais de construção como telhas, tijoleiras e argamassa, além de cerâmica não-torneada. Após isto, demos inicio à abertura da quadricula C de coordenadas 894N 4002L, em que a primeira camada apresentava leitura de solo 10YR 3/3. Além de muitas pedras, foram encontrados vários materiais diferentes, como vidro, faiança, metais (uma tranca de porta em ferro), pedaço do reboco da parede com pintura amarela e tijoleiras (Figura 15). Decidiu-se descer mais 10 cm toda escavação 1, sendo o terceiro nível 895-885 cm, iniciado na unidade 894N 4001L. A quadricula 894N 4002L, também teve seu terceiro nível em 895-885 cm, na presença de um solo marrom intenso/forte. Entre o material coletado temos telhas, tijoleira, metal, cerâmica torneada, vidro e argamassa. A figura 16 mostra a base da escavação.

Escavação 2 A escavação 2 localizou-se na lateral esquerda da igreja, onde pretendíamos encontrar os alicerces da parede lateral, em linha com a torre. A escavação 2 foi iniciada a partir da quadricula D de coordenadas 885N 4009L, de onde retirou-se uma primeira camada de grama que variava de 11 a 15 cm de espessura, a qual não foi peneirada. Neste primeiro nível que atingiu leitura de 850-830 cm, depois de escavado 20 cm, o solo apresentou coloração marrom escuro (7.5YR3/3). Neste nível tivemos a incidência de cerâmica, azulejo, louça e ferro (prego). No segundo nível desta quadricula a uma profundidade de 830-810 cm o solo apresentava-se com coloração marrom, de leitura 7.5YR4/4 na escala Munsell. Percebemos a constante presença de pedras, contando também a incidência de material cerâmico, vidros, um cravo e uma rocha calcária. Iniciando a escavação do terceiro nível, no qual não observamos mudanças nas características que foram observadas no nível anterior, no que diz respeito a coloração do solo. Contudo, esta terceira sondagem foi nivelada em 810-790 cm. A incidência de cerâmica reduziu consideravelmente, bem como a incidência de outros materiais de coleta.

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Iniciamos a escavação da quadricula C de coordenadas 883N 4009L, retiramos uma camada de grama de espessura 10 cm. A quadrícula foi nivelada em 840-830 cm, apresentando um solo de coloração marrom escuro (7.5 YR3/3). Na coleta do material, tivemos a presença de muitas pedras (não mais coletadas), cerâmica (telha), faiança, vidro, metal e na parede norte a existência de maciço de pedras – o que supomos ser a possível continuação do alicerce da torre (Figura 18). No nível seguinte, de leitura 830-820 cm de profundidade, apresenta um solo de coloração marrom intenso (7.5 YR 4/6) conforme o Munsell. Foi realizada coleta de cerâmica e o detalhamento do maciço de pedra. A terceira e última camada da quadricula C foi nivelada em 820-810 cm de profundidade, apresentando um solo de coloração marrom escuro amarelado de leitura 10YR3/4. A presença de telhas foi constante na coleta do material e a continuação da tijoleira. A quadricula A é a terceira a ser escavada, tem por coordenada 885N 4009L. Sendo um dos pontos mais elevados do conjunto de quadriculas, retiramos 10 cm de espessura de grama. O primeiro nível tem por leitura 860-850 cm de profundidade, com um solo de coloração marrom intenso (7.5YR4/6). Na coleta de material tivemos a presença de muitas telhas, alguns fragmentos de lajota, vidro e argamassa. A camada seguinte foi nivelada em 850-840 cm. A coloração do solo apresenta mudança, temos um solo marrom (7.5YR4/4) na presença de telhas, pedras e na base da quadricula algumas tijoleiras. Baixamos mais 10 cm nesse nível, tivemos uma leitura de 840-820 cm de profundidade, com um solo marrom intenso (7.5YR5/8) ainda com ocorrência de cerâmica, telhas e maciços de pedras concentrados no canto norte seguindo até a parede oeste e sul. A última quadrícula a ser aberta no conjunto foi a B, que teve por coordenadas 884N 4009L. Retirou-se uma camada de grama que variava de 5 a 10 cm de espessura. Na leitura do Munsell temos um solo 7.5YR4/4. Essa camada atingiu seu nível em 860-850 cm, percebemos a continuação do maciço de pedra – continuação das quadriculas A e C – além da presença de cerâmica, louça e um cravo. A escavação da quadricula B encerrou-se em 850-840 cm, uma vez que definimos o maciço de pedras. A coloração do solo não apresentou variação. Contudo, apesar de pouca profundidade, ainda tivemos a presença de cerâmica e um caco de azulejo. Interrompemos a escavação e realizamos o desenho e a fotografia da sondagem (Figura 17).

Escavação 3 A terceira escavação foi realizada entre uma das aberturas da elevação posterior das ruínas, que pensávamos ser uma porta (Figura 18). A escavação revelou ser aquela uma janela. Da quadrícula de coordenadas 894N 4030L, foram retirados 5 a 7cm de grama. Partimos assim, de um nível 880 para 870. Nesses primeiros centímetros, apresentou-se um solo de leitura

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7,5YR 3/2, isto é, marrom escuro. Recolhemos materiais como cerâmica, louça, azulejo e vidro. Destaca-se que o nível apresentava significativa incidência de pedras. Concomitantemente foi realizada escavação da quadra que tinha por coordenadas 894N 4033L, retirando-se uma camada de grama que variava de 10 a 15 cm, tivemos um nível de 870840 cm. Tivemos uma leitura de solo de 7,5YR 3/3 (marrom escuro) na escala Munsell. Encontrou-se cerâmica, tijoleira, azulejo, vidros e cravos, além de uma concentração de telhas e um alicerce em alvenaria de pedra e argamassa. No segundo nível da primeira unidade, contamos com uma leitura de 870-860 cm de profundidade. Com relação ao solo, não tivemos surpresa. Segundo o Munsell o solo apresentase marrom escuro, de leitura 7,5YR 3/2. Foi possível coletar cerâmica, ferro, vidro, louça, grês e argamassa. No nível 860-850 de profundidade, a primeira leitura do solo permaneceu invariável de tom marrom escuro. Contudo, na base o solo apresentou pequena variação tendo a leitura 7,5YR 4/3, ou seja, marrom. Como material, coletamos telha, vidro, azulejo, louça e ferro. No que concerne à unidade 894N 4033L, a segunda camada foi nivelada em 840-830 cm, o solo apresentou-se marrom escuro de leitura 10YR 3/3. Sendo coletado vidro, uma dobradiça, prego e cerâmica. No nível 830-820 cm de profundidade o solo apresenta-se marrom com leitura 7YR 4/3. Nesta camada, na parede oeste chegamos ao piso e nas paredes sul e leste observamos a presença de ossos e um fragmento de vasilha. Por fim, no nível 820-810 cm de profundidade o solo apresenta certa variação, tendo leitura 7,5YR 5/6 de cor marrom intenso/forte. Neste nível, ainda contamos com a presença de ossos, telhas e pedras. Na quadra de coordenadas 894N 4031L, retiramos 10 cm de grama, onde o primeiro nível foi determinado em 892-870 cm. Com um solo marrom escuro de leitura 10YR 3/3. Nesta camada tivemos significativa incidência de telhas e pedras, sendo coletados apenas vidro, lajotas, ossos, cerâmica e metal. Na camada seguinte, com 860-850 cm de profundidade, o solo apresentava-se marrom amarelado com leitura 10YR 3/4. O material coletado assemelha-se ao do nível anterior. No nível 860-850 cm, com um solo marrom amarelado, foi possível coletar telhas, tijoleira, ossos, vidro, cerâmica e louça. Na camada seguinte, que teve seu nível em 850-840 cm, o solo apresentava-se marrom (7,5YR 4/3) e pouco foi o material coletado, somente alguns vidros, cerâmicas e louças. A quadra com coordenadas 894N 4032L mostrou os limites do que foi uma possível janela (Figura 18). Na parede oeste, em todo o nível, desde a superfície, encontraram-se telhas, tijolieras e reboco. Com o solo muito perturbado, coletamos lajota, metal e louça. No nível 892-870 cm o solo marrom escuro, apresenta leitura 10YR 3/3. Coletamos cerâmica, vidro, lajota e metal. Na camada 870-860 cm de profundidade o solo tem certa variação, apresentando-se marrom amarelado (10YR 3/4). Entre o material coletado lista-se vidro e

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louça. A uns 10 cm da base da janela descemos ao nível a 808 cm, onde se localizou uma tijoleira, o que acreditamos ser o nível do piso.

Piso em frente à torre Em um trabalho de limpeza ao redor da torre, foi aberta uma quadricula de coordenada 883N 4001L. A quadricula alcançou até as duas pontas extremas da torre. Tivemos um nível de 872-867 cm de profundidade até o piso de tijoleira (Figura 19). Coletamos ali um crucifixo de metal.

5.6. Outras ocorrências Foi identificada a ocorrência de material arqueológico no cemitério da vila. Através de entrevistas com moradores percebemos que é comum encontrarem material arqueológico nos quintais das casas e na praia. Este material é geralmente faiança, faiança fina, cerâmica e, mais raramente, moedas.

5.7. Levantamento de informações orais A arqueologia, por ser interdisciplinar, usa de várias técnicas de outras ciências, sendo a história oral mais um destes métodos. No caso da arqueologia histórica, se fundamenta no fornecimento de informações relativas à preparação e uso de objetos, localização de sítios, além de caracterizar os aspectos da vida cotidiana da população atual que é significativa para a compreensão global da área estudada pelo arqueólogo (Marques 2005). Há alguns anos a história oral vem sendo empregada na pesquisa arqueológica, principalmente por pesquisadores norte americanos que vêem nesse procedimento uma complementação das informações obtidas nas escavações. Charles Orser Júnior (1992), um dos defensores dessa técnica, afirma ser útil nos estudos arqueológicos em sítios que foram ocupados em tempos ainda presentes na memória de testemunhas, permitindo conhecer a história do sítio após seu uso pelo povo que o construiu e usou. Estes dados poderão ser utilizados como complemento e suplemento à informação arqueológica e histórica, mas também como fornecedores de informação nova. Pode-se considerar que a união da história oral com a arqueologia é muito frutífera e suas possibilidades múltiplas. A valorização dada à memória local como mais uma fonte de conhecimentos passados e contemporâneos, assim como o retorno dos resultados da pesquisa aos informantes e comunidades são de importância fundamental neste tipo de abordagem (Nascimento 2006).

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Tendo em vista estas questões, foi desenvolvido um trabalho de coleta de informações junto aos moradores mais antigos da comunidade, visando levantar dados que auxiliassem na reconstrução da história recente da vila, especialmente no que tange às construções mais antigas que poderiam ainda ter sido vistas por estes moradores mais velhos. Este trabalho foi feito pela estudante de Antropologia da UFPA Hannah Nascimento, supervisionada por Fernando Marques. Nas três etapas de campo foram entrevistados seis moradores da Vila: Evandro da Costa (55 anos), Manoel Monteiro (67 anos), Maria dos Santos Moraes - Dª Maricota (91 anos), Edimir Barbosa Moraes - Sr°. Mimi (74 anos), Valentim de Castro Nunes (80 anos) e Anézia Gonçalves - Dª. Nenê (81 anos) (Figura 20). Nessas entrevistas foram coletadas informações sobre estruturas e objetos arqueológicos, mudanças estruturais na Vila de Joanes e atividades cotidianas e práticas culturais num passado recente de mais ou menos 60 anos. Sobre novas estruturas arqueológicas, além da ruína visível da igreja, Sr. Evandro e Dª. Maricota se reportaram a outras edificações nos seguintes locais: 1) alicerce de uma antiga construção, localizado na segunda rua entre a segunda travessa e a rua principal; 2) onde hoje está a praça principal; 3) próximo ao farol e em ambos os lados da ruína da igreja, também havia casas, algumas construídas em barro e coberta com palha e outras de pedra e cal. No imaginário local, na época da cabanagem o igarapé do Limão era a área onde os moradores antigos e com “posses” jogavam fora objetos valiosos como moedas e utensílios domésticos, para que não fossem roubados pelo governo local com quem a revolta da cabanagem lutava. É a maneira como explicam o fato de que muitos objetos antigos são encontrados nestes locais. Nas estórias que circulam entre os moradores mais antigos, sempre há referências à Cabanagem e muitos achados e acontecimentos são às vezes confundidos com eventos da época da Cabanagem. Segundo Bezerra Neto (2001), a cabanagem foi recordada pelas elites brancas nas duas décadas que a sucederam (1840-1850) como uma época de anarquia. Cinco anos após seu término, marcas de balas e a destruição provocada por canhões ainda eram visíveis em vários prédios de Belém. O grande impacto social da Cabanagem, que repercutiu em todas as camadas da população pode explicar porquê, mais de um século e meio depois, em várias regiões do estado as pessoas ainda têm uma memória coletiva que relaciona objetos antigos com a época da Revolta dos Cabanos. O Sr. Valentim descreveu que a Vila de Joanes era constituída por poucas casas, em sua maioria construídas de barro e cobertas com palha de inajá, sendo pouquíssimas as de pedra e cal cobertas com telha de cerâmica capa e canal e assoalhadas com cimento. As ruas eram estreitos caminhos que ligavam as residências ao largo central, à praia e aos poços. Com relação aos poços são dois os referido nas entrevistas: o do Genipapo e o do Largo, este sem utilização pela população e o primeiro sendo o que fornecia água para os afazeres

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diários como comida, a lavagem de roupa e o banho; sua água não era ingerida naturalmente, pois era saloba. Nesse caso, outro poço era utilizado para beber a água, mas não conseguimos identificar sua localização. Nessa época não havia luz elétrica, apenas a claridade fornecida pelas lamparinas alimentadas com querosene. A referência a um cemitério nas proximidades da ruína também foi relatada, mas investigações futuras poderão confirmar ou não essa informação. Dona Nenê revelou ainda, que as atividades de subsistência eram a pesca artesanal e a roça de produtos como mandioca, melão, tomate, macaxeira, arroz, etc. Ocasionalmente vendia-se pescado para Belém e outros localidades próximas. Dentro dessas atividades cotidianas, temos as práticas festivas com os bailes realizados em determinados finais de semana com música de instrumentos de “pau e corda”, o conhecido violino, violão e viola; outro instrumento enfatizado foi a rabeca, na época, de fabricação local. Ressalta-se nesse levantamento de história oral a disponibilidade e cortesia com que os moradores nos recebiam e forneciam informações acerca da Vila de Joanes, assim como a satisfação percebida neles de também fazerem parte da história local e poder contá-la. Durante as reuniões com moradores foi solicitado que, caso alguém tivesse alguma foto antiga, que trouxesse para mostrar, pois as fotografias, mesmo quando a intenção é a de registrar pessoas, acabam revelando aspectos do entorno que podem ser importantes para a reconstrução histórica, como antigas casas ou paisagens que deixaram de existir. Elzete Barata da Silva apresentou uma foto antiga (muito deteriorada por fungos) onde ainda se vê o antigo farol, que hoje não existe mais (Figura 21).

5.8. Pesquisa histórica Os métodos aplicados à pesquisa com os documentos históricos foram os mesmos tradicionalmente empregados por historiadores. Basearam-se na leitura e catalogação sistemática de todos os documentos de arquivos referentes ao tema pesquisado, desde períodos mais remotos até os mais atuais, copiando e transcrevendo o texto na sua íntegra ou as partes mais importantes referentes ao assunto pesquisado. Nessa etapa foram pesquisados os arquivos disponíveis em CD-Rom do projeto “Resgate de documentação histórica BARÃO DO RIO BRANCO”, que contém os documentos referentes à Capitania do Pará de 1616 até 1833, cujos originais encontram-se em Lisboa.

19

Buscou-se todos os dados referentes a Joanes, Monforte e Marajó que tivessem informações gerais e específicas, que abarcassem o surgimento dos povoados, sua administração, economia, as relações entre indígenas, missionários e administração colonial, informações sobre habitações e sobre a igreja de pedra.

Os dados foram transcritos e

organizados em fichas de análise. Concomitantemente fez-se uma busca em fontes do Arquivo Público do Pará já publicadas em anais ou periódicos. Foi realizada ainda uma busca nas bibliografias e cartografias sobre a Ilha de Marajó desde o século XVII. Por fim, fez-se um esforço para conseguir dados novos via Internet nos sites de pesquisa e no contato com outros pesquisadores interessados no mesmo assunto. Como resultado, produziu-se um texto que sumariza os resultados da pesquisa, que encontra-se em anexo junto as fichas de análise documental usadas nesta pesquisa.

5.9. Educação Patrimonial A educação patrimonial consiste em atribuir valor ao patrimônio cultural identificado e reconhecer este como parte da vida de uma sociedade, conhecimento esse que é necessário para a formação da identidade cultural de um povo e pleno exercício de sua cidadania. De 16 a 22 de fevereiro de 2006, na segunda etapa do trabalho arqueológico que se desenvolveu em Joanes, quando se realizaram as prospecções para delimitação do sítio, iniciou-se um trabalho de educação patrimonial com os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental de Joanes, localizada em frente ao largo, sobre o sítio histórico. Esse trabalho teve continuidade também na etapa de março, quando os alunos puderam observar o trabalho de escavações. Em um primeiro momento visitou-se as salas de aula, expondo-se as várias etapas do projeto, através de uma linguagem adaptada aos diversos níveis de escolarização, oferecendo de modo didático informações sobre a arqueologia e o trabalho dos arqueólogos. A seguir os alunos foram convidados a visitar a área de escavações (Figura 22). Ali foi possível explicar e mostrar os métodos e técnicas do trabalho do arqueólogo. A receptividade foi muito boa, e as crianças participaram com entusiasmo das visitações. Na etapa de março, quando realizou-se a análise do material arqueológico, voltou-se também ao contato com a escola da vila dando continuidade ao processo de discussão acerca de Educação Patrimonial. Este trabalho seguiu com mais algumas visitas à escola e com conversas com alunos e professores. Nesta etapa o trabalho previsto visava principalmente a higienização, separação e análise do material escavado. Dando prosseguimento ao trabalho com os estudantes, improvisou-se um kit, contendo materiais escavados, além dos que se usou na análise. Este kit tinha por objetivo

20

proporcionar uma mostra da variedade do material ali encontrado, bem como sua diferença de manufatura e matéria-prima. Com o kit em mãos passou-se de sala em sala a fim de proporcionar o contato dos estudantes com o material arqueológico que eles haviam visto durante as escavações. Após uma suscinta exposição, os estudantes foram convidados a visitarem o laboratório improvisado montado perto do sítio, onde mostrou-se como se procedem à limpeza, classificação e análise do material; alguns alunos inclusive participaram deste trabalho. Consideramos este trabalho como um contato inicial, devido à escassez de tempo. Pretendendo ser continuado e ampliado em uma próxima fase do projeto.

5.10. Limpeza dos remanescentes arquitetônicos Durante a etapa de março foi realizada a limpeza das estruturas arquitetônicas remanescentes da igreja de pedra. Nesta etapa contamos com o auxílio do técnico João Santos, do Iphan (Figura 23), que instruiu trabalhadores locais para a retirada de vegetação, limpeza de musgos e limpeza de pichações. Foi dada orientação aos trabalhadores no sentido de manterem as estruturas limpas, de usarem um herbicida, de manterem o mato sempre cortado na área das estruturas.

5.11. Curadoria do material arqueológico Durante as etapas de campo de janeiro e março realizamos limpeza de material arqueológico coletado durante todas as etapas, o que foi feito inicialmente no pátio da escola e, na etapa de março, no salão paroquial (Figura 24). Os fragmentos de cerâmica, faiança e vidro foram lavados com água corrente e uso de escova de cerdas macias. Metais e ossos não foram lavados. A limpeza envolveu alguns voluntários da comunidade.

5.12. Classificação e registro de material arqueológico Durante a etapa de campo de março realizamos a triagem, classificação, numeração e registro do material arqueológico coletado nas diversas etapas anteriores: monitoramento da construção do anexo na escola, monitoramento da construção da cerca, prospecções para delimitação do sítio e escavações. Esse trabalho foi realizado no salão paroquial, onde nos foi disponibilizada uma sala com uma bancada. Apesar das condições não ideais de trabalho, consideramos importante realizar ali este trabalho pelas seguintes razões:

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a) Desde o início a comunidade mostrou-se preocupada com o destino do material arqueológico. A perspectiva de ver o material levado para Belém afigurava-se para eles como um “roubo” do material arqueológico que, em sua visão, pertence ao lugar e a eles. Desta maneira, entendemos ser importante respeitar a vontade da comunidade para conquistarmos sua confiança e estabelecer um elo entre eles e os bens arqueológicos, para que as pessoas se sentissem responsáveis por sua preservação e proteção; b)

A

manipulação

do

material

arqueológico

na

comunidade

propiciaria

uma

desmistificação do trabalho do arqueólogo; conservando as portas sempre abertas a visitantes e ajudantes, daríamos a oportunidade às pessoas de verem, fiscalizarem e vivenciarem nosso trabalho, de modo que elas sentiriam que estávamos colaborando no sentido de estudar aquele patrimônio comum, dando nossa contribuição sem substrair nada deles; c) Poderíamos nos dedicar mais intensivamente ao trabalho do que se o fizéssemos em Belém, onde teríamos forçosamente de desenvolver outras atividades. O trabalho realizado consistiu em registrar em planilha apropriada (em anexo) o material coletado, conservando-se a informação sobre sua procedência e agregando informações sobre quantidade e detalhes de tecnologia e decoração dos materiais coletados. Já em campo o material havia sido separado de acordo com procedência e tipo de artefato. No “laboratório” foi feita uma classificação e descrição deste material. Por exemplo, o material que havia sido registrado como “metal” passou a ser organizado por tipo de metal como ferro, cobre, além de especificar sua forma e/ou função: pregos, cravos, dobradiça, etc. A faiança e faiança fina foram separadas conforme técnicas e motivos decorativos; a cerâmica foi separada em cerâmica torneada e não-torneada. A cerâmica não torneada compõe-se de cerâmica indígena e cabocla, mas esta distinção ainda não foi feita naquele momento. Resolveu-se de comum acordo com a comunidade a trazer a cerâmica não-torneada para ser analisada no Museu Goeldi em Belém, onde possuímos equipamento adequado para análise, como lupas binoculares e balança. A triagem e registro do material possibilitou os seguintes dados qualitativos e quantitativos, descritos abaixo e que podem também ser consultados nas tabelas 1 a 6. Cachimbos: Foram coletados dois cachimbos fragmentados, um de cerâmica (área da praça)e outro de caulim (área da igreja). Um terceiro foi doado. Cerâmica de torno: Foram coletados 438 fragmentos de cerâmica industrializada nãovidrada, a que chamamos de cerâmica de torno. Esse material característico de fabricação local era utilizado por pessoas menos favorecidas financeiramente ou como utensílio secundários para guardar água, cozer alimentos, entre outras funções que não a de servir. Cerâmica artesanal não-torneada: Foram coletados 2.926 fragmentos e objetos de cerâmica artesanal, parte da qual é cerâmica indígena, anterior ao estabelecimento da missão,

22

e parte é cerâmica produzida durante a época colonial. Este material ainda está sendo estudado. Na escavação 1 na área da igreja foi encontrado um cadinho (medidor) de cerâmica, de aspecto rústico. Na área da praça foi encontrado um cachimbo fragmentado e outro foi obtido através de doação. Faiança fina: Foram coletados no total 493 fragmentos de faianças finas, parte de objetos como tigelas, pratos, xícaras e pires, de técnicas e motivos decorativos comuns no século XVII e XVIII. Faiança: Foram coletados fragmentos de faiança nas áreas da escola, igreja, cerca e praça, num total de 345 fragmentos. Entre os fragmentos de faiança examinados havia faianças com decoração anelar, usadas em torno de 1880, faiança com decoração azul, usada em 18201840, com uma longa duração, sendo a grande parte proveniente de pratos e tigelas. Ferro: Foram coletados 246 peças ou fragmentos de objetos de ferro, entre eles 104 cravos e 107 pregos, além de outros como arame, arruela, chapa, gancho, tachinha, etc. Foi encontrada uma peça de ferro que fazia parte da tranca da porta frontal da igreja. Na parte posterior da igreja foi encontrado um pequeno pedaço de dobradiça. Material construtivo: Observou-se que o material construtivo utilizado na igreja foi a pedra de grês, argamassa com barro e conchas, tijoleiras e telhas de cerâmica e azulejos. Os materiais construtivos encontrados até agora indicam que a construção foi realizada com material local e de olarias próximas à ilha. Durante as escavações na área da igrejas, as pedras escavadas e que não faziam parte de alicerces (portanto eram parte das paredes que caíram) foram enterradas novamente após o final das escavações. Apenas amostras de tijoleiras que serviram como piso, telhas de cerâmica do telhado e argamassa foram coletadas, o restante sendo também colocado de volta nos buracos. Foram coletados 39 fragmentos de azulejos com decoração floral azul na áre da igreja, que deveriam ser parte do revestimento de alguma parede interna. Ao todo foram coletados 513 fragmentos de material construtivo. Metais: Foram coletados 16 peças ou fragmentos de objetos de metal não-ferroso. Estão contabilizadas aí as cinco moedas provenientes de doação, 1 anel, 1 crucifixo, 1 fragmento de placa e alguns fragmentos não identificados, todos, com exceção das moedas provenientes das escavações na área da igreja. Moedas: Não foram encontradas moedas durante as escavações. No entanto, foi feita uma doação de quatro (4) moedas por parte do Sr. Gilberto P. Souza e uma moeda por parte da Sra. Milla Gonçalves Rabelo. A Sra. Maricleide Lisboa Gomes cedeu 4 moedas para análise, mas preferiu ficar com sua guarda até que houvesse um memorial para exposição do acervo. As informações que se obteve da análise das moedas encontram-se na Tabela 8 (Figura 25). Porcelana: Foram coletados 3 fragmentos de porcelana, sendo um botão e um fragmentos dexícara da área da praça e 1 conta proveniente de doação.

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Semiporcelana: Foram coletados 38 fragmentos de semiporcelana, amaioria fragmentos de tigela, xícaras e pratos, da área da escola. Vidro: Foram coletados 426 fragmentos de vidro, a maioria partes de garrafas e copos. Além desses foram coletados ainda fragmentos de objetos de bronze, chumbo, cobre, concha, grês, latão, opalina, osso, madrepérola, plástico, rocha e semente. No total foram coletados 5.668 itens.

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TABELA 1 – Quantificação do material encontrado, por matéria-prima Material

Forma/Função

Procedência

Quant.

Sub-total 1

Sub-total 2

bronze

cravo

Área da Escola

1

1

1

caulim

cachimbo

Área da Igreja

1

1

1

Área da Praça Doação

1 1

2

Área da Igreja

1

1

Área da Escola

2529

Área da Igreja

113 3

cachimbo cadinho

cerâmica

não ident.

244

cerca

20

2921

poço 2

12

telha

poço 2

1

1

vasilha

Doação

1

1

Área da Escola

6

Área da Igreja Área da Praça

7 1

Área da Escola

344

Área da Igreja Área da Praça

26 45

não ident.

cerâmica de torno vasilha

chumbo

chapa

cobre

chapa

concha

não ident.

não ident. pires,prato,tigela

prato faiança

Área da Praça

prato,tigela

cerca

3

poço 2

6

Área da Praça

3

Área da Escola

1

Área da Praça

2

Área da Escola

1

Área da Igreja

12

Área da Escola Área da Praça

3 2

cerca

3

Área da Escola

25

Área da Escola

42

Área da Igreja Área da Praça

12 15

cerca

1

Área da Escola

219 7

Área da Escola tigela

xícara não ident.

Área da Igreja Área da Praça

2 4

cerca

1

Área da Escola

7

Área da Praça

1

Área da Igreja

1

2926

14

438 424

3

3

3

3

13

13

8 25

70

219

14

8 1

345

25

bibelô,prato

Área da Igreja

não ident.

Área da Praça

11 2

Área da Escola

10

cerca

1

pires

18

18

pires,prato

20

20

pires,prato,tigela

51

51

75

75

19 19

19

Área da Escola

pires,tigela

prato

prato,pote prato,tigela prato,tigela,xícara prato,xícara tigela

Área da Igreja Área da Praça

22 18

cerca

1

Área da Igreja

13

Área da Escola

62

Área da Igreja

3 96

96

40

40

6 1

7

Área da Escola Área da Igreja cerca Área da Escola

60

65

Área da Praça

3 1

cerca

1

arame

Área da Escola

1

1

aruela

Área da Igreja

1 12

1

Área da Escola Área da Igreja

5

14

Área da Igreja

2 1

Área da Escola

43

Área da Igreja Área da Praça

59 1

cerca

1

dobradiça

Área da Igreja

1

1

gancho

Área da Praça

1

1

11

11

compasso

cravo

não ident.

1

104

oranto

Área da Escola

1 4

1

prego

Área da Igreja

100 3

107

1

1

1

1

1

1

1

1

Área da Praça tachinha tranca tubo vasilha

Área da Igreja

Área da Escola

493

13

xícara

chapa

ferro

11

pires,pote,xícara

pires,prato,tigela,xícara

faiança fina

11 2

246

26

grés latão madrepérola

garrafa chapa botão conta

Área da Escola

18

Área da Igreja

1

20

20

Doação

1 1

1

1

4

4

Área da Igreja Área da Escola

2

argamassa azulejo

4

4

Área da Igreja

34 1

34 1

Área da Escola

1

Área da Igreja Área da Escola

6 1

Área da Escola

149

Área da Igreja Área da Praça

192 39

cal não ident. oranto

mat.construtivo telha

tijoleira

moeda crucifixo não ident. não ident. mandibula,dente osso plástico porcelana rocha

não ident.

1

513 396

cerca

10 6

Área da Escola

23

Área da Igreja

43

Área da Praça cerca

1 3

Doação

5

5

1

1

1

1

1

1

8

8 1

Área da Igreja

placa opalina

7

poço 2

anel metal

2

Área da Igreja Área da Igreja

1 1 17

70

16

1

1 173

Área da Escola

156

pente

Área da Igreja

1

botão

Área da Praça

1 1

174 1

1

conta

Doação

1

1

xícara

Área da Praça

1

1

não ident.

Área da Igreja

1

1

3 1

27

semente

não ident.

Área da Praça

1

1

não ident.

4

4

pires,xícara

3

3

13 1

13 1

11

11

cerca

5 1

6

Área da Escola

6

Área da Igreja

116

Área da Escola

10 2

prato semiporcelana

Área da Escola

tigela tigela,xícara Área da Igreja

xícara copo,garrafa copo,garrafa, vidraça frasco vidro

1

38

122 10 2 426

89 Área da Igreja

garrafa

vidraça

Área da Praça

191 8

cerca

1

Área da Escola

3

289

3

TOTAL

5668

TABELA 2 – Identificação do material arqueológico por local de procedência Área da Praça (tradagens) Procedência

Material cerâmica cerâmica de torno chumbo cobre

faiança

Área da Praça faiança fina

ferro

mat.construtivo porcelana semente

Forma/Função

Quant.

Sub-total

cachimbo

1 247

248

não ident. não ident.

1

vasilha

45

chapa

3

3 2

chapa

2

não ident.

2

prato

15

tigela

4

xícara não ident.

1 2

prato

18

xícara

1

cravo

1

gancho

1

prego

3

telha

39

tijoleira botão

1 1

xícara

1

não ident.

1

46

22

21

5

40 2 1

28

vidro

garrafa

8

TOTAL

8 398

TABELA 3 - Identificação do material arqueológico por local de procedência – Área da Igreja Procedência

Material

Forma/Função

Quant.

Sub-total

caulim

cachimbo

1

1

cadinho

1

não ident.

113

não ident.

7

vasilha

26

não ident.

12

prato

12

tigela

2

cerâmica cerâmica de torno concha faiança

faiança fina

Área da Igreja

ferro

não ident.

1

bibelô,prato

11

prato

22

prato,pote

13

prato,tigela

3

tigela

6

aruela

1

chapa

2

compasso

1

cravo

59

dobradiça

1

114 33 12 15

55

166

prego

100

tachinha

1

tranca

1

grés

garrafa

1

1

latão

chapa

1

1

mat.construtivo

metal

opalina osso

argamassa

4

azulejo

34

cal

1

não ident.

6

telha

192

tijoleira

43

anel

1

crucifixo

1

não ident.

1

placa

8

não ident.

1

mandibula,dente

1

não ident.

17

280

11

1 18

29

plástico

pente

1

1

rocha

não ident.

1

1

semi porcelana

xícara

5

5

copo,garrafa

116

garrafa

191

vidro TOTAL

307 1022

TABELA 4 - Identificação do material arqueológico por local de procedência – Área da Escola Procedência

Material

Forma/Função

Quant.

Sub-total

bronze

cravo

1

1

cerâmica

não ident.

2529

2529

não ident.

6

vasilha

1 1

cerâmica de torno cobre

chapa

344 1

concha

não ident.

1

não ident. pires,prato,tigela

3 25

prato

42

prato,tigela

faiança

Área da Escola faiança fina

tigela

219 7

xícara

7

pires

10

pires,pote,xícara

18

pires,prato

20

pires,prato,tigela

51

pires,prato,tigela,xícara

75

pires,tigela

19 19

prato prato,tigela prato,tigela,xícara

62 96

prato,xícara

40

xícara

3

arame

1 12

chapa cravo ferro

não ident. oranto

43 11

prego

1 4

tubo

1

vasilha

1

350

303

413

74

30

grés

garrafa

madrepérola

mat.construtivo

osso

semi porcelana

botão conta não ident.

2 1

oranto

1

telha tijoleira

149 23

não ident.

156

não ident.

4

pires,xícara

3

prato

13 1

tigela tigela,xícara copo,garrafa copo,garrafa, vidraça vidro

frasco garrafa vidraça

18

18 2

4

174

156

32

11 6 10 2

110

89 3

TOTAL

4166

TABELA 5 - Identificação do material arqueológico por local de procedência – Área da cerca Procedência

Material

Forma/Função

Quant.

Sub-total

cerâmica

não ident.

20

20 3

cerâmica de torno faiança

Área da cerca

faiança fina

ferro

vasilha

3

não ident.

3

prato

1

tigela

1

pires

1

prato

1

tigela

1

xícara

1

5

4

cravo

1

telha

10

tijoleira

3

semi porcelana

xícara

1

1

vidro

garrafa

1

1

mat.construtivo

TOTAL

1 13

48

TABELA 6 - Identificação do material arqueológico por local de procedência – Tradagens na Área do poço 2

31

Procedência

Material

Forma/Função

Quant.

não ident.

12

telha

1

cerâmica de torno

vasilha

6

6

mat.construtivo

telha

6

6

cerâmica Área do Poço 2

TOTAL

Sub-total 13

25

5.13. Doações Recebemos doações de material arqueológico, num total de nove objetos, conforme descrito abaixo: Elielson Gomes Martins – Doou peça de cerâmica encontrada no barranco perto do farol. Trata-se de uma vasilha com quatro alças, fragmentada, que foi levada para ser restaurada no Museu Goeldi (Figura 26). O doador mora na 2ª Travessa, Vila Gomes. O relatório de restauração feito por Raimundo Teodório dos Santos diz o seguinte: “11 fragmentos de cerâmica para restaurar foram entregues pela Dra. Denise Pahl Schaan em 30/01/2006, tendo sido o vaso restaurado em 02/02/2006, com as medidas: altura: 11 cm, diâmetro máximo 20cm, diâmetro da boca, 14,2 cm e diâmetro de base 8,5cm. Não fizemos limpeza. Os resíduos de cola e durepóximo anteiormente usados continuam bem visíveis. Uma das quatro alças foi refeita, é cópia reproduzida no laboratório, por isso não possui a mesma estabilidade das originais”. A restauração foi tão bem feita que não se reconhece a cópia. A peça foi devolvida na viagem de campo seguinte, em fevereiro, e está sob a guarda da comunidade, na escola. Milla G. Rabelo – Doou uma moeda. Gilberto Pereira Souza – Doou quatro moedas, sendo duas encontradas no Coqueirinho e duas na Pousad Paraíso de Joanes. Ana Paula Gonçalves Amador – doou uma garrafa de grês, encontrada durante escavação de fossa em sua casa. Tabela 7 – Doações Procedência

Material

Forma/Função

Quant.

cachimbo

1

vasilha

1

grés

garrafa

metal

moeda

1 5

porcelana

conta

1

cerâmica Doação

TOTAL

Sub-total 2 1 5 1 9

32

Tabela 8 – Identificação das moedas doadas e emprestadas para análise

Nº Registro 239

Procedência Doação Sr. Gilberto P. Souza Doação Sr. Gilberto P. Souza

Origem Pousada Paraíso

Doação Sr. Gilberto P. Souza Doação Sr. Gilberto P. Souza

Pousada Paraíso

Doação Sra. Milla Gonçalves Rabelo Sra. Maricleide Lisboa Gomes Sra. Maricleide Lisboa Gomes

?

C

Sra. Maricleide Lisboa Gomes

Residência na 9ª rua

D

Sra. Maricleide Lisboa Gomes

Residência na 9ª rua

240

241 242

243

A B

Pousada Paraíso

Pousada Paraíso

Área da Praça Área da Praça

Especificação Moeda de 400 réis, em cupro-níquel (República), datada de 1927 Moeda de 100 réis, em cupro-níquel (República), data ilegível (entre 1889 e 1900) Moeda de V réis (D.Maria II), data ilegível (entre 1834-1853) Moeda de 80 réis, em cobre (D. Pedro I), data ilegível (entre 1823-1831), com carimbo de 20 Moeda de X réis (D. Maria I e D. Pedro III), data de 1785, com carimbo de escudete Moeda de 80 réis, em cobre (Pedro I), data de 1830. Moeda de valor ilegível, em cobre, data ilegível (período colonial, anterior a 1823) com carimbo de escudete, esfera armilar no verso Moeda de 80 réis, em cobre (D.Pedro I), data ilegível (entre 1823-1831), com carimbo de 20 Moeda de 20 réis, em cobre, data ilegível (entre 1823-1830), com carimbo de 10

5.14. Material arqueológico com a comunidade Algumas pessoas da comunidade nos mostraram material arqueológico que estava em seu poder, dizendo que os doariam assim que fosse construído um museu ou memorial para abrigar estes objetos. Abaixo está a relação das pessoas e as peças que trouxeram, mas ficaram em seu poder (Figura 27): Jhemison Estefe – Encontrou nove fragmentos de faiança durante a construção da praça. Priscila Calandrini – Encontrou garrafa holandesa de grés. Maricleide Lisboa Gomes – Emprestou quatro moedas para análise.

5.15. Projeto de sinalização turística e educativa O objetivo do projeto de sinalização era o de pensar o deslocamento de turistas e proporcionar informações relativas aos monumentos visíveis de forma a valorizá-los e protegêlos. Para a elaboração do projeto de Sinalização de Orientação Turística, foram observadas as

33

diretrizes do Guia Brasileiro de Sinalização Turística publicado pelo Iphan juntamente com a EMBRATUR e o DENATRAN. Foi feita uma placa interpretativa para ser colocada em frente aos remanescentes arquitetônicos da igreja, composto de um título: “Joanes – sítio arqueológico” sobre uma tarja superior de coloração marrom; do lado direito da tarja aparece a logomarca do Iphan e do Governo Federal. Como ilustrações escolheu-se a iconografia produzida durante a viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira, em 1783, onde vê-se a vila, dando-se destaque à figura da igreja. Ao lado desta figura colocou-se uma planta das ruínas e a posição em que se encontra o leitor da placa, com os dizeres “você está aqui”. Abaixo colocou-se o seguinte texto, em português: “Durante o período colonial, Marajó era chamada de “Ilha Grande de Joanes”, por ser habitada pelos índios Joanes. Sobre a aldeia indígena fundou-se a vila no século 17, onde foi erigida a igreja de pedra Nossa Senhora do Rosário, construída pelos índios e padres Capuchos de Santo Antônio. A igreja tinha três altares: um para a imagem de Nossa Senhora do Rosário, outro para o Jesus Crucificado e outro para Santo Antonio. Em 1754 a vila de Joanes passou dos missionários para a coroa portuguesa, passando a se chamar Monforte. A imagem que se vê acima da Vila de Monforte foi produzida em 1783, por ocasião da visita do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. A partir da baía avistava-se um alinhamento de casas feitas de barro e palha e algumas poucas construções de alvenaria, entre elas: 1. Igreja Matriz, o 2.Quartel do Comandante, 3. o Armazém da Vila e do Pesqueiro Real, 4. a casa do Capitão de Ordenança da Vila, 5. a casa das canoas, e 6. a canoa do Ouvidor. No século 19 Monforte foi abandonada, e o tempo se encarregou de destruir a igreja, da qual agora são visíveis a torre e algumas paredes e alicerces que restaram”. Ao lado deste texto colocou-se uma tradução simplificada para o inglês. No rodapé da placa colocou-se o seguinte texto: “O sítio PA-JO-46: Joanes faz parte do Patrimônio Cultural Brasiliero e está protegido pela Constituição Federal e pela Lei 3.924/61. A destruição ou retirada de qualquer material ou remoção de terra deste local constitui crime sujeito às penas de multa e detenção” (Figura 32). Também foram produzidas outras três placas para serem colocadas em três pontos no largo, nos locais de acesso de pessoas. A intenção destas placas seria a de sinalizar a existência do sítio arqueológico e solicitar às pessoas que deixem seus carros e aproximem-se à pé da área das ruínas. Neste sentido pode ser definida como uma placa interpertativa e direcional. O texto da placa foi:

34

“Neste local existia uma aldeia indígena antes da chegada dos portugueses e espanhóis nas Américas. Na segunda metade do século 17 instalou-se aqui uma missão franciscana, quando foi construída uma igreja de pedra em homenagem à Nossa Senhora do Rosário, em uma ponta de terra de onde avista-se toda a baía. Durante a maior parte do período colonial esta foi chamada de vila de Monforte, a sede da Capitania de Joanes. Ainda são visíveis sobre o solo restos de antigas construções, dois poços de pedra e os remanescentes da igreja construída pelos índios e pelos padres capuchos de Santo Antônio” (Figura 28). Foram produzidos também 3 banners, tamanho 1,10 x 0,90m, com informações sobre o projeto, que foram colocados em frente à escola (Figura 29 e 30). Foram produzidos 2.000 folders informativos sobre o histórico da ilha e o patrimônio arqueológico (em anexo). As placas e banners foram colocados em 25-27 de julho de 2006. Uma semana de pois tomaos conhecimento de que as placas tinham sido vandalizadas (Figura 31).

6. DIVULGAÇÃO O projeto foi amplamente divulgado na imprensa local e nacional (xerox em anexo). Além disso os resultados preliminares do trabalho foram apresentados na 25ª Reunião da Associação de Antropologia Brasileira, em Goiânia, de 11 a 14 de junho de 2006, dentro do Grupo de Trabalho “Educação Patrimonial: Perspectivas e Dilemas”, sob o título: “A Percepção do bem arqueológico e sua preservação: a experiência de intervenção acadêmica e gestão comunitária no sítio de Joanes”. Foram produzidas 1.000 camisetas do projeto, com os dizeres “Arqueologia e Educação Patrimonial, Joanes, Marajó” (Figura 32). Essas camisetas foram distribuídas na comunidade.

7. PARCERIAS Depois do início do projeto estabeleceu-se também uma parceria com o Serviço de apoio à pequena e média empresa – SEBRAE, que esteve realizando a roteirização turística da vila de Joanes. O Sebrae viabilizou a documentação fotográfica e videográfica do projeto, realizada por João Ramid. Foi produzido um DVD sobre o projeto. Além disso o Sebrae custeou a produção de 500 camisetas do projeto.

8. EQUIPE (ORDEM ALFABÉTICA)

Fizeram parte da equipe de trabalho: André da Silva Lima (Mestrando em História Social, UFPA), Antônio Estácio Netto (graduando em História – Fibra), Denise Pahl Schaan (Professora

35

UFPA), Fernando Tavares Marques (Pesquisador Museu Goeldi), Gon dos Santos (assistente de pesquisa, Scientia), Greyce Oliveira (assistente de pesquisa, Scientia), Hannah Fernandes Nascimento (Bolsista Museu Goeldi), Luiz Alexandre da Silva Barbosa (Bolsista Museu Goeldi), Mariana Pamplona Ximenes Ponte (Graduanda em Antropologia, UFPA), Paulo Israel C. Nascimento (Graduando em Turismo, UFPA), Raimundo Ney Gomes (Museólogo, Museu do Marajó), Samara de Nazaré Barriga Dias (Graduanda em Antropologia, UFPA), Tayanne Gama (Graduanda em Antropologia, UFPA), Thiago Peralta Guerra (Assistente de pesquisa, Scientia), Wagner Fernando Veiga da Silva (Museu do Marajó), Welton Igor Silva da Silva (bolsista Museu Goeldi). Pelo Iphan participaram do trabalho a arquiteta Carmem .... nos levantamentos e registro fotográfico do acompanhamento da obra da escola, a técnica de edificações Ìsis de Jesus Ribeiro no desenvolvimento do projeto para o estacionamento, o restaurador João Velozo na orientação do serviço de limpeza das pichações das ruínas e de limpeza dos poços, o arquiteto Fernando... nos

projetos

gráficos dos banners, das placas de sinalização e do folder e a

arquiteta Maria Dorotéa de Lima na supervisão dos trabalhos e nos contatos institucionais.

9. CONCLUSÃO Consideramos que o trabalho realizado na vila de Joanes atingiu seus objetivos, que eram os de iniciar um trabalho de pesquisa e educação patrimonial, assim como tomar providências referentes à preservação e proteção das estruturas arquitetônicas visíveis e do sítio como um todo. Percebemos durante a pesquisa a existência de diversas outras estruturas de pedras entre as ruínas da igreja e a baía, o que indica que outras construções faziam ainda parte do complexo. Há ainda evidências de construções na área do largo, entre o poço 1 e a igreja, área em que, acreditamos, ter-se-ia localizado o antigo quartel que é visível na iconografia de Alexandre Rodrigues Ferreira. As escavações no terreno da igreja permitiram entender melhor sua planta, asism como identificar os alicerces de paredes indicadas pela iconografia. Escavando junto à parede posterior, onde há duas aberturas, entendeu-se serem duas janelas de uma área atrás do altar. A igreja teria tido uma nave central, com corredores laterais com diversas aberturas em arco. Só restam as paredes do que seria a sacristia e a torre, além de uma pequena parte da parede do átrio, cujos alicerces do lado direito foram identificados. A igreja teria também este pequeno átrio frontal, uma espécie de ante-sala que se vê na iconografia. As escavações na área da igreja produziram principalmente material construtivo fragmentado, tais como tijoleiras (usadas no piso), telhas, pregos e cravos, uma tranca de ferro, uma dobradiça, azulejo floral azul, argamassa, reboco, reboco com pintura amarela.

36

Além disso coletamos fragmentos de louça, vidro, um cadinho de cerâmica e um crucifixo de metal. No restante das escavações surgiu o mesmo tipo de material, principalmente faiança, faiança fina, vidros e cerâmica de diversas épocas. As faianças e faianças finas pertencem aos séculos XVII a XIX. A cerâmica parece pertencer a épocas distintas de ocupação do sítio, mas seu estudo ainda não foi concluído. Ouvimos dos moradores que outros tipos de objetos haviam sido encontrados durante as escavações para a construção da praça, tais como balas de artilharia e moedas. Esse material, no entanto, não apareceu. O levantamento de informações orais foi bastante proveitoso e deve ser continuado em uma próxima etapa de trabalho. A referência à existência de um cemitério nas proximidades das ruínas faz sentido, pois geralmente os cemitérios na época colonial eram localizados junto às igrejas. Apesar dos esforços da equipe e da comunidade para a proteção do sítio, ainda há muito por fazer. Até agora não existe um vigia para a área do sítio, cuja necessidade já havia sido apontada desde as primeiras reuniões com os moradores. Percebeu-se a existência de interesses conflitantes na comunidade, que têm uma história de lutas e desavenças com o poder público municipal, principalmente. É uma comunidade carente, com acesso limitado a transporte coletivo, onde não existe uma delegacia, farmácia ou posto de saúde. Infelizmente o projeto acabou sendo utilizado pelos moradores para acentuar determinados conflitos, uma vez que uma facção da comunidade, principalmente representada pela associação de moradores apoiou a iniciativa, gerando desconfiança e despeito no outro setor. Isso acabou gerando a vandalização das placas, que, decidiu-se, serão refeitas, mas recolocadas somente quando, em uma etapa seguinte, iniciar-se um programa de educação patrimonial. A pré-estruturação do espaço expositivo também não foi possível, pois houve posições divergentes sobre qual local seria o mais aconselhável. Eu uma reunião realizada em março, a equipe técnica sugeriu utilizar-se uma casa e um terreno localizados próximo ao sítio, nos fundos do salão paroquial, onde se poderia construir provisoriamente o memorial, até obteremse recursos para uma reforma ou construção. A prefeitura comprometeu-se a verificar a possibilidade de compra do terreno (e nesse caso doaria algum material de construção) e/ou a desapropriação da casa, mas até o momento nenhuma atitude foi tomada nesse sentido; ao contrário, o sceretário de cultura e turismo, Dário Pedrosa, defendeu a idéia de utilizar-se o salão paroquial ou a antiga casa construída pelo projeto de energia eólica como espaço expositivo. A equipe técnica e parte da comunidade consideraram as alternativas inadequadas. Primeiro porque a comunidade ficaria privada de seu salão paroquial, que teria ainda que ser

37

bastante reformado para atender às necessidades do memorial. Quanto à utilização do oturo prédio, considerou-se estar o mesmo sobre a área do sítio, interferir sobre a apreensão visual deste e destoar totalmente do conjunto, devendo ser por isso demolido, para não comprometer a paisagem e possibilitar a investigação arqueológica futura no local. Com relação à identificação da área do sítio, deverá ser solicitado à prefeitura e divulgado junto á comunidade que construções e escavações nas áreas mapeadas como de provável sítio deverão ser acompanhadas pelo município e comunicadas ao Iphan, para acompanhamento.

10. AGRADECIMENTOS Gostaríamos de externar nossos agradecimentos a todos os que apoiaram o projeto, especialmente à comissão formada logo no início, e à associação de moradores, inicialmente dirigida pelo Sr. Adinelson Silva Corrêa e mais recentemente pelo Sr. Edevan Coutinho. Foi fundamental o apoio da Profº Maria do Carmo Rodrigues Neves, diretora da escola, Sr. João Francisco Rauber Toffoli (João Gaúcho), Sr. Evandro Maurício da Cunha, Sr. Manoel Afonso Marques Lobato, Edinéia da Conceição dos Santos e Oliva Coutinho. Agradecemos ainda (ordem alfabética): Agnaldo (pres. Cooperatia de artesãos), Ana Paula Gonçalves Amador, Anézia Gonçalves (dona Nenê), Edimir Barbosa Moraes (seu Mimi), Elielson Gomes Martins, Elzete Barata da Silva, Fernando José Andrade dos Santos, Geyse Adriane Gomes Neves, Gilberto P. Souza, Jaime da Silva Amador, Jhemison Estefe, João Ramid, Josilea Telis da Silveira, Lucidéia dos Santos Gonçalves, Manuel Monteiro, Marcelo Conceição, Marcelo Pereira, Maria Cremilda Penante Nascimento, Maria dos Santos Moraes (dona Maricota), Maricleide Lisboa Gomes, Milla Gonçalves Rabelo, Philipe Sidartha Razeira, Pousada Ventania, Priscila Calandrini, Vera Lúcia Barbosa, Rosana Barbosa, SEBRAE/PA, Valentim de Castro Nunes, Voluntários do Museu do Marajó.

11. BIBLIOGRAFIA Bezerra Neto, J. M. A Cabanagem: A Revolução no Pará. In: Alves Filho, A., AlvesJúnior, J., & MaiaNeto, J. (Org.). 2001. Pontos de História da Amazônia, vol. 1. Belém, Paka-Tatu, pp. 73-104, 2001. Costa Neto, Antonio Nery da. Prospecção arqueológica em Joanes, Ilha de Marajó (PA). Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi. Relatório inédito, 1986. Lopes, Paulo Roberto do Canto. A colonização Portuguesa da Ilha de Marajó: espaço e contexto arqueológico-histórico na Missão Religiosa de Joanes. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1999a.

38

______. Levantamento contextual e espacial no sítio arqueológico de Joanes - Ilha de Marajó. Relatório inédito, Museu Paraense Emílio Goeldi, 1999b. Marques, Fernando Luiz Tavares. Levantamento Arqueológico Histórico na Área de Influência da Construção das Hidrelétricas Santo Antonio e Jirau, no Alto rio Madeira, Rondônia. Relatório Final, Museu Paraense Emílio Goeldi, 2005. Nascimento, Hannah Fernandes. Por uma antropologia da arqueologia: as possibilidades e percepções do contato entre arqueólogo e moradores da Vila de Guajaraúna, Moju/PA. Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Belém, 2006. Orser Jr., Charles E. Introdução à Arqueologia Histórica. Oficina de livro: Belo Horizonte, 1992. Schaan, D. P., & Silva, W. F. d. V. e Relatório de vistoria técnica em sítios arqueológicos localizados na ilha de Marajó: PA-JO-46: Joanes, PA-JO-21: Teso dos Bichos e PA-JO-58: Araçacar. Museu Paraense Emílio Goeldi, 2004.

12. ANEXOS 12.1. Texto histórico 12.2. Exemplo de ficha utilizada na análise de documentos 12.3. Divulgação na mídia escrita 12.4. Folder 12.5.CD contendo:  Cópia do trabalho de Maria Cremilda Penante Nascimento “A Perspectiva do Ecoturismo numa Comunidade Ribeirinha – Vila de Joanes, Salvaterra, PA”, apresentado no Curso de Especialização em Ecoturismo do NUMA-UFPA, em 2002.  Arquivos Sinalização  Planilha 1 – tradagens  Planilha 2 – Listagem de Material Arqueológico

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