Pressupostos da Didática do Violino - Concentração, Relaxamento e Postura no Método de Estudo e de Ensino do Violino

June 6, 2017 | Autor: Gonçalo Sousa | Categoria: Music Education, Violin Pedagogy, Violin, Música, Violin performance practice
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Instituto Politécnico de Castelo Branco Escola Superior de Artes Aplicadas Mestrado em Ensino de Música – Instrumento e Música de Conjunto

Pressupostos da Didática do Violino Concentração, Relaxamento e Postura no Método de Estudo e de Ensino do Violino

Realizado por: Gonçalo Sousa – 32011017

Trabalho realizado no âmbito da Unidade Curricular de Didática do Instrumento I Sob Orientação do Professor António Miranda Junho de 2015

Índice: 1.

Introdução .................................................................................................................................................. 3

2.

Exercícios de relaxamento e concentração ................................................................................................ 4 2.1.

2.1.1.

Técnica de respiração profunda: .................................................................................................. 4

2.1.2.

Técnica de relaxamento muscular:............................................................................................... 4

2.2. 3.

Exercícios de relaxamento mental ................................................................................................... 4

Exercícios de concentração ............................................................................................................... 4

Contribuições dos principais pedagogos do séc. XX ................................................................................. 5 3.1.

Carl Flesch ......................................................................................................................................... 6

3.2.

Ivan Galamian ................................................................................................................................... 7

3.3.

Simon Fischer .................................................................................................................................... 7

3.4.

Kato Havas ......................................................................................................................................... 7

3.5.

Yehudi Menuhin ................................................................................................................................ 8

4.

Alongamentos e prevenção de lesões ........................................................................................................ 9

5.

Conclusão ................................................................................................................................................. 11

6.

Bibliografia .............................................................................................................................................. 12

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1. Introdução A concentração é a capacidade de um indivíduo abstrair-se num ponto, focar um alvo e mantê-lo pelo tempo que desejar. Por isso é uma tarefa muito difícil que exige muito controle mental. A concentração revela-se especialmente importante no processo de ensino-aprendizagem do instrumento e no estudo individual. Manter o nível de atenção e concentração alto é essencial para um estudo meticuloso e com resultados positivos. Para que este se mantenha elevado, será necessário que o sujeito realize exercícios de relaxamento para o corpo pré-estudo; organize o seu estudo em sessões de curta duração, mas de alto rendimento, nas quais oriente a sua concentração para os aspetos específicos da técnica do violino e de cada peça; realize exercícios de alongamentos e prevenção de lesões no final de cada sessão de estudo; descanse, através de pausas regulares entre cada sessão; e mantenha, dentro do possível, um estilo de vida saudável, através de uma alimentação saudável, prática de exercício físico e horas de sono recomendadas. Descreveram-se, assim, as necessidades mentais e físicas para um bom método de estudo. Na iniciação ao ensino do violino, o professor tem que transmitir um conjunto de noções, conceitos e atividades motoras inerentes a uma boa execução e manipulação do instrumento. A forma intuitiva de abordar os conceitos básicos no ensino do instrumento leva a que possam ser cometidos erros na formação inicial dos alunos, já que o saber fazer não implica saber transmitir esse conhecimento de uma forma correta. Isso faz com que, muitas vezes, seja preciso uma reeducação do movimento físico, sendo esta uma tarefa que exige conhecimentos específicos mas essenciais. O estabelecer bons hábitos de postura e de manipulação do instrumento é fundamental para todo o desenvolvimento técnico subsequente. Nas pesquisas realizadas sobre os principais pedagogos do século XX, constata-se uma vasta abordagem dos aspetos técnicos do violino. As obras de Carl Flesch, Galamian, Kato Havas, Yehudi Menuhin e Simon Fischer são fundamentais para a compreensão da técnica geral do instrumento, constituído um manancial de informação pertinente na moderna pedagogia do ensino das cordas incorporando informações importantes sobre fisiologia, psicologia, técnica e interpretação (Stowell,2008). A partir do conhecimento das várias pedagogias e abordagens, cabe aos professores de instrumento a adaptação e aplicação, ou mesmo fusão, das diferentes ideias, consoante as características de cada aluno.

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2. Exercícios de relaxamento e concentração Para despertar a mente para o esforço mental necessário para manter a concentração durante o estudo, é necessário que o sujeito se encontre relaxado. Com esse intuito, realizou-se uma pesquisa de alguns exercícios de relaxamento e concentração. 2.1. Exercícios de relaxamento mental É recomendado executar estas técnicas em um lugar calmo, ou que pelo menos tenha poucas distrações e interrupções. Numa fase inicial, é aconselhado meditar por períodos curtos, de 10 a 30 minutos, e finalizar a sessão enquanto a mente e o corpo ainda estiverem tranquilos e dispostos. A melhor postura será deitado ou sentado com as pernas estendidas, as costas retas e relaxadas, como se as vértebras fossem uma pilha de moedas. O maxilar, boca e lábios devem ser relaxados e dentes ligeiramente afastados. A ponta da língua deve tocar no palato. Isso reduz o fluxo de saliva e a necessidade de engolir. 2.1.1. Técnica de respiração profunda: Segundo um artigo da Bolsa de Mulher Saúde, uma correta respiração é o primeiro passo para chegar a um estado de completo relaxamento. Neste mesmo artigo, são apresentados os seguintes exercícios: “Sente-se em uma cadeira confortável com as costas retas e apoie uma mão sobre o peito e a outra sobre o estômago. Respire profundamente pelo nariz, e a mão que está sobre seu estômago deve mover-se enquanto a que está no peito não. Exale o ar pela boca, empurrando tudo o que você puder enquanto contrai os músculos abdominais e a mão que está no estômago desce.”

(http://www.bolsademulher.com/medicina-alternativa/367/tecnicas-de-relaxamento-mental) 2.1.2. Técnica de relaxamento muscular: “Para executar esta técnica você terá que entrar em um estado de relaxamento mental, ficando confortável e meditando durante uns minutos, criando um clima de serenidade e harmonia. Quando estamos prontos para começar a focalizar nossa concentração em um ponto do nosso corpo; por exemplo, comece pelo pé esquerdo, até sentir umas pequenas vibrações que irá subindo pela sua perna e assim chegará a todo seu corpo, limpandoo de tensões.”

(http://www.bolsademulher.com/medicina-alternativa/367/tecnicas-de-relaxamento-mental) 2.2. Exercícios de concentração Exercício 1: contagem mental de 1 até 10, juntando dois números extremos. 4

Exemplo: 1 e 10; 2 e 9; 3 e 8; 4 e 7; 5 e 6; 6 e 5; 7 e 4; 8 e 3; 9 e 2 e finalmente 10 e 1. Aumentar a sequência 1 até 20 e chegar de 1 até 100. Tentar fazer algumas posições com o corpo que exijam equilíbrio, estimulando a concentração. Exercício 2: sentar no escuro a olhar para uma vela acesa durante mais ou menos um minuto. Depois fechar os olhos e manter a imagem da vela na mente, tente concentrando-se nesta imagem e para que esta se mantenha e não desapareça. “Retenção da imagem: Relaxe, acalme sua mente, e olhe para uma vela ou lâmpada. Coloque essa luz a sua frente, a alguns pés de distância, e observe-a fixamente durante um minuto ou dois. Feche os olhos e concentrese na pós-imagem que isso gerará atrás de suas pálpebras fechadas. Tente e mantenha a visão dela durante o maior tempo possível. Use a perceção da respiração para manter a mente limpa, enquanto faz isso. Tente e faça a imagem crescer, ao invés de desaparecer.” (http://www.espiritualismo.info/tec01.html)

Exercício 3: Fixar um ponto: Escolher um ponto na parede e olhar para ele. Limpar a mente de todos os pensamentos e mantê-la forçosamente vazia. Concentrar-se na perceção da respiração enquanto se executa o exercício. Manter o exercício durante o máximo de tempo possível.

3. Contribuições dos principais pedagogos do séc. XX Dentro dos pressupostos anteriormente apresentados, e para uma melhor eficácia no ensino do instrumento, relembra-se a importância dos movimentos naturais humanos, já que a aprendizagem de um instrumentou pressupõe a aquisição de uma determinada destreza técnica, que permite ao intérprete expressar emoções através da música. Esta destreza não deixa de ser, no entanto, habilidades motoras altamente especializadas. Os movimentos cinestésicos e propriocetivos são atualmente uma parte importante da didática específica do instrumento, sendo da maior importância os professores munirem-se de métodos e técnicas que utilizem os conceitos de movimento aplicados á didática do instrumento (Medoff, 1999; Palac, 1992, cit. Leão, 2011:27). Alguns destes movimentos podem ser óbvios e fáceis de aprender, enquanto outros poderão ser mais subtis e difíceis, cabendo ao pedagogo, tendo em conta as características individuais de cada aluno, no que diz respeito a estilos de aprendizagem próprios, temperamento emocional e psicológico, fisiologia, habilidades e limitações físicas, de adaptar métodos, metodologias e estratégias para que cada aluno consiga dominar estes movimentos de uma forma natural e livre de tensões (Galamian, 1962).

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A produção de um som bonito e agradável está relacionado com os movimentos fluidos da condução do arco sobre as cordas o que engloba macro e micro movimentos flexíveis do braço, antebraço direito, pulso e dedos (Galamian, 1962). Um dos aspetos a ter em conta na prática pedagógica de um professor de violino é o conjunto das características físicas de cada aluno. Não existem regras rígidas nem fórmulas mágicas de ensinar a tocar um instrumento, o que se deve ter em conta é a naturalidade e o conforto na manipulação do mesmo. A partir do conhecimento, que o pedagogo deve ter das regras de funcionamento do corpo e dos movimentos físicos para executar uma determinada técnica ou passagem, haverá uma adaptação às características físicas de cada aluno (Flesch, 2000; Galamian, 1962). Segundo Ivan Galamian, o professor deve ter em conta que cada aluno é um indivíduo único, com a sua própria personalidade, as suas próprias características físicas e mentais, e a sua própria aproximação ao instrumento e à música (Galamian, 1962). O aluno deve sentir-se física e mentalmente confortável na manipulação do seu instrumento. O conhecimento e a compreensão das várias influências contemporâneas e históricas da pedagogia e da didática do violino, assim como os novos desenvolvimentos nestas matérias, permitem ao pedagogo adotar e combinar diversas estratégias de forma a compensar as dificuldades individuais de cada aluno. O instrumento deve ser encarado como uma extensão do corpo e não como um objeto estranho e de difícil manipulação. Alguns dos principais pedagogos do violino do século XX, investigaram e incorporam nos seus métodos de ensino muitas dos conceitos referidos anteriormente, reforçando a importância das dimensões mentais (como a concentração) e motoras (relaxamento, movimentos naturais, etc.). 3.1. Carl Flesch Pedagogo de origem húngara, é reconhecido como um dos grandes professores do século XX. Teve uma predominância e influência na “Escola de Berlim” depois da Primeira Guerra Mundial, assim como em toda a Europa e Estados Unidos (Leão, 2011:14). Juntamente com o seu sistema de escalas e exercícios técnicos, a sua obra mais conhecida é “The art of violin playing” (Flesch, 2000), constituindo esta um dos pilares da moderna pedagogia do violino, ao analisar e sistematizar os princípios técnicos, propondo ainda formas de eliminar os obstáculos físicos e psíquicos na execução do instrumento em níveis de aprendizagem avançados (Porta, 2000: 175, cit. Leão, 14). Uma das contribuições de Flesch para a pedagogia do violino foi o uso dos movimentos da parte superior do braço direito, na técnica do arco, utilizando os princípios basilares postulados na obra didático-

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científica “Die Physiologie Der Bogenfuhrung” de Steinhausen (Porta, 2000). Flesch salienta também a importância do uso de um bom balanço do corpo na execução do violino. (Flesch, 2000: 3, 34) Carl Flesch teve uma grande influência em Paul Rolland que utilizou o seu trabalho para fundamentar as suas teorias sobre movimento, considerando que Flesch foi um dos primeiros pedagogos a incluir e enfatizar a importância dos movimentos do corpo na pedagogia das cordas (Rolland,1971:10). 3.2. Ivan Galamian Segundo Leão (2011:15) Galamian é considerado um dos mais influentes pedagogos da segunda metade do século XX. Arménio de nascença, estudou com Konstantin Mostras em Moscovo, continuando os seus estudos em Paris com Lucien Capet entre 1922 e 1923. Para Galamian a chave da técnica do violino encontra-se no controle da mente sobre os movimentos físicos. Os alunos devem encontrar uma correlação intuitiva entre o domínio dos recursos técnicos assimilados durante o estudo e a sua aplicação nos aspetos interpretativos durante a performance. O mais importante na arte de ensinar é que o professor promova o máximo desenvolvimento musical e técnico consoante as características físicas e mentais de cada aluno. 3.3. Simon Fischer Simon Fischer estudou violino em Londres com Yfrah Neaman, que foi aluno de Carl Flesch e Max Rostal, e na Julliard School com Dorothy DeLay, aluna e mais tarde assistente de Ivan Galamian. Atualmente é professor na Guildhall School of Music, desde 1982, e professor na Yehudi Menuhin School desde 1997. Estudou também “Técnica Alexander” durante oito anos incorporando elementos e princípios desta técnica na sua forma de ensinar (Leão, 2011:16). O seu livro “Basics” (Fischer, 1997, cit. Leão, 2011:16) é uma coleção de estudos e exercícios que abarcam todos os aspetos da técnica do violino, estando dividido em sete seções. Inicialmente muitos destes exercícios e estudos foram publicados na revista “Strad”, onde Fischer é colunista desde 1991. Segundo Fischer, os 300 estudos e exercícios do “Basics” podem ser usados por alunos e profissionais de qualquer nível, funcionando como um léxico onde se podem encontrar aproximações e soluções para várias e diferentes dificuldades técnicas. 3.4. Kato Havas Kato Havas nasceu em Kolozsvar, Transilvânia, Hungria, em 1920. Começou a estudar violino com 5 anos de idade com Paula Kouba e, com 7 anos, foi ouvida por Emil Telmanyi, violinista e Diretor da Real Academia Húngara “Frans Liszt”, que, ficando impressionado com o seu talento, lhe arranjou uma bolsa de estudos para trabalhar com Imre Waldbauer nesta mesma academia. Estudou durante 10 anos com Waldbauer, sendo influenciada pelas ideias inovadoras deste pedagogo (Leão, 2011:17). 7

Havas começou a ensinar em Oxford, Dorset, e mais tarde em Londres onde ficou surpreendida pelo facto de que os seus alunos apresentavam problemas físicos e tensões associados ao ato de tocar. Começou a experimentar diferentes técnicas e abordagens de ensino do violino de forma a colmatar e corrigir os problemas físicos dos seus alunos (Perkins, 1995, cit. Leão, 2011:18). Em 1961 publicou “A New Approach to Violin Playing”. As ideias expressas nesta obra foram consideradas radicais e experimentais durante os anos 60 e 70 pela maioria dos pedagogos, por incorporarem tradições e técnicas ciganas aliadas à tradição da escola europeia de Carl Flesch. Havas não procurou fundamentar a sua aproximação com os estudos em biodinâmica realizados nessa altura mas, posteriormente, os seus exercícios e posturas foram validados por vários peritos e pesquisadores do movimento humano, como por exemplo a Dr.ª F. A. Hellebrandt em "The Role of the Thumb in the New Approach to Violin Playing" na importante revista “The Strad” nº 80, de Outubro de 1969 (Perkins, 1995, cit. Leão, 2011:18). O “New Approach to Violin Playng” não é um método no verdadeiro sentido da palavra. É um sistema extremamente organizado que previne e elimina tensões e ansiedades. Salienta os aspetos físicos, mentais e sociais da performance com especial referência ao violino (no entanto estes princípios podem ser aplicados a outros instrumentos). Unifica a mente, corpo e espírito, e coordena os balanços naturais do corpo como um todo (Havas, 1989, cit. Leão, 2011:19). Consiste numa serie de exercícios para a redescoberta do balanço do corpo, da fluidez dos movimentos e consciência da ação muscular para realiza-los, de forma a libertar a mente dos problemas biomecânicos, concentrando-se somente nos impulsos musicais e artísticos (Havas,1961: 10, cit. Leão, 2011, 19). Uma das chaves principais do seu método é a conjugação da mente e do corpo. O “New Approach” não está dirigido para o ensino na iniciação ao instrumento mas sim para a deteção e cura de tensões. 3.5. Yehudi Menuhin Yehudi Menuhin (1916-1999) foi uma criança prodígio tendo sido aluno de S. Anker, L. Persinger e G. Enesco. Teve uma longa carreira como concertista e pedagogo tendo fundado a “Yehudi Menuhin School” em 1963. A abordagem de Menuhin ao movimento e ao balanço do corpo faz-se sobre o prisma do Yoga e do Tai Chi (Menuhin & Primrose, 1976). Trata-se de uma abordagem empírica baseada na sua experiência pessoal, que aplicou na escola que fundou em 1963 para crianças com elevadas aptidões musicais. Nos vídeos “ Violin: Six lessons with Yehudi Menuhin”, e no seu livro complementar com o mesmo título, aborda vários aspetos da técnica do violino e de exercícios de movimento para um nível mais avançado de aprendizagem. Os seus exercícios são complexos e 8

elaborados, pressupondo um conhecimento de Yoga e Tai Chi por parte dos professores que queiram utilizar a sua abordagem (Leão, 2011:22). 3.6. Paul Rolland Paul Rolland nasceu em Budapeste, Hungria em 1911. Iniciou os estudos musicais no Conservatório de Musica “Fodor” com a idade de 11 anos, onde foi aluno de Dezsö Rados, e com o qual aprendeu os princípios de relaxamento e os mecanismos do corpo (Smith,J. in Perkins; 1995:24m cit. Leão, 2011:33). Em 1971, Rolland prefaciou o livro de Otto Szende e de Mihaly Nemessuri,“The Physiology of Violin Playing”, escrevendo que a «considerava a mais importante obra sobre pedagogia teórica juntamente com as de Steinhausen, Trendelenburg, Flesch, Hodgson e Polnauer» (Rolland in Perkins, 1995: 32, cit. Leão, 2011:33). A importância deste livro, que suportava a maioria das ideias de Rolland, é expressa pelos conceitos nele contidos, de Gestalt no ato de tocar, no qual é tido em conta a importância de todo o corpo como um todo, e não somente os braços e as mãos, e a aplicação no ato de tocar violino, dos princípios expressos em outros campos das ciências, nomeadamente, das ciências desportivas, da neurologia, da psicologia, da medicina e da fisiologia (Perkins, 1995, cit. Leão, 2011:33). Paul Rolland, ao combinar a sua experiencia pedagógica com os estudos sobre movimento, na sua vasta obra sobre o ensino das cordas, criou a ponte entre os estudos científicos e a pedagogia. Além de serem de fácil compreensão por parte dos pedagogos, as suas obras didáticas e exercícios são compatíveis com os princípios e as regras do movimento do corpo humano.

4. Alongamentos e prevenção de lesões A equipa pedagógica do CPLEER, ESE, Universidade do Minho (2012) realizou um relatório apresentando os resultados dos estudos realizados por Campos et al, 2006 e de Moraes & Antunes, 2012, no qual enumeram as dificuldades posturais dos violinistas, os benefícios da realização de alongamentos como forma de aumentar e exercitar a flexibilidade e sugerem uma lista de alongamentos apropriados à prática do violino. As dificuldades posturais do violinista: 

O violino tem que ficar firme entre o queixo e o ombro para que a mão direita esteja livre para movimentar o arco e a esquerda para dedilhar as cordas;



O violinista que não usar almofada para segurar o instrumento fica sujeito a um esforço físico muito maior: o pescoço muito inclinado para baixo e para o lado, o ombro é elevado para compensar a inclinação pescoço para baixo e o queixo faz uma grande compressão ao instrumento. 9

Flexibilidade e alongamento: 

Capacidade de realizar os movimentos articulares da forma mais relaxada possível e na maior amplitude articular;



A flexibilidade mantém-se através da elasticidade muscular e da mobilidade articular;



O alongamento consiste na utilização de toda a amplitude de movimento do músculo, que vai atuar sobre a elasticidade muscular permitindo a manutenção da flexibilidade. Benefícios do alongamento:



Melhorar a coordenação motora, ritmo e equilíbrio;



Aumentar a flexibilidade;



Desenvolver a consciência corporal;



Atrasar o processo de perda de altura associado ao envelhecimento;



Diminuir a tensão muscular e induzir o relaxamento;



Prevenir as lesões musculosqueléticas e a dor;



Melhorar a postura e o esquema corporal;



Ativar a circulação;



Diminuir a ansiedade o stress e a fadiga;



Melhorar a atenção e a capacidade de concentração. Aspetos a considerar durante o alongamento: Respiração, que deverá ser lenta e profunda; Limites de

dor (se surgir dor indica exagero no movimento); Mobilidade, permanecer imóvel por alguns segundos com o músculo estirado, evitando movimentos de insistência; Naturalidade, a flexibilidade vai melhorando aos poucos, sem forçar; Frequência, a regularidade e o relaxamento, são fundamentais para um alongamento eficaz, que deve ser incorporado na rotina profissional, antes e depois da prática instrumental. Alongamentos: 

Coluna lombar: sentar corretamente numa cadeira, deixar cair lentamente o peso do tronco sobre as pernas, permitindo o alongamento dos músculos da região lombar.



Coluna Cervical: inclinar a cabeça para a frente e para trás, para a esquerda e para a direita, mantendo cada posição cerca de 30 segundos.



Pescoço: de pé, ou sentado com a coluna direita sem se encostar inclinar a cabeça para cada um dos lados puxando-a com a mão. Manter o outro braço e mão apoiada e em extensão.



Ombro: com os braços ao longo do corpo, executar movimentos giratórios dos ombros para a frente e para trás.



Ombro: puxar o cotovelo com a outra mão até sentir alongar a região posterior do ombro.



Punho: com os cotovelos em extensão, fazer flexão do punho com a outra mão. 10



Coluna dorso-lombar e membros inferiores:  De pé, de frente para a parede, perna direita ligeiramente fletida. Perna esquerda atrás e estendida. Pés totalmente apoiados no solo e voltados para frente. Apoiando os cotovelos na parede, direcionar o quadril para frente. Repetir com a outra perna à frente.  Agachamento, com pés afastados e totalmente apoiados no solo. Para musculatura lombar da coluna vertebral.  Sentado com pés unidos de modo que as solas se toquem. Pernas fletidas de maneira que os pés fiquem o mais próximo possível do corpo. Segurar os pés com as duas mãos de modo que os cotovelos fiquem apoiados sobre as canelas, próximos aos joelhos. Forçar as pernas para baixo com os cotovelos. Para musculatura interna das coxas (adutores).

5. Conclusão Como pôde ser comprovado com as afirmações de vários autores de diferentes áreas, desde os pedagogos do violino mais influentes e referenciados do século XX até aos especialistas das áreas da meditação e da medicina de prevenção de lesões, a sinergia entre a mente e o corpo é essencial para uma prática saudável do instrumento. Para exercer uma profissão tão desgastante a nível físico e mental, que exige tanta disposição mental e dedicação, é necessário que o músico esteja ciente dos seus limites e do respeito e cuidado com que deve tratar o seu corpo. Por vezes os desafios que pode encontrar levam-no a ignorar os seus limites. Quando um violinista se confronta com situações em que tem de tocar durante muitas horas seguidas, o seu corpo vai ressentir-se. Isto porque, para conseguir manter a sua concentração na obra que está a interpretar, uma sinfonia por exemplo, o foco que é necessário para manter as posturas corretas e saudáveis é reduzido em prol das exigências da música, da envolvência, da adrenalina dos concertos ou dos ensaios, da entrega ao conjunto, etc. Para conseguir aguentar este tipo de pressão durante anos e manter a sua saúde física e mental, um músico deve agir sempre no sentido da prevenção de lesões, através de um estilo de vida saudável, não sedentário, com distrações e lazer, evitando a acumulação de stress, meditação e concentração, para uma prática mais rentável e menos desgastante fisicamente, e com um aquecimento, sessões de estudo curtas, pausas e alongamentos no final. É ainda essencial referir a importância da postura na prática do instrumento, que deverá ser natural, evitando posições que causem tensões desnecessárias. Para atingir esse fim, é necessário uma consciência do relaxamento dos músculos e um esforço de concentração para que estes permaneçam relaxados durante o estudo e a performance. Só assim o músico se poderá entregar totalmente à música e desfrutar desse prazer, sem colocar em risco o seu corpo e o seu futuro. 11

Na prática da didática do violino, o professor terá a responsabilidade de introduzir estes conceitos o quanto antes aos alunos, para que eles possam desenvolver as suas capacidades musicais e apresentem os melhores resultados no menor espaço de tempo possível.

6. Bibliografia Flesch, C., Rosenblith, E., Mutter, A.S. The Art of Violin Playing. Edited by Eric Rosenblith. 2 vols. Vol. 1. New York: C. Fischer, 2000. Galamian, I. Principles of Violin Playing and Teaching. Englewood Cliffs ed. New Jersey: Prentice- Hall, Inc., 1962. Leão, J.D.E.S.P. (2011) Técnicas de Recuperação para Alunos de Violino. Dissertação de Mestrado, Departamento de Comunicação e Arte, Universidade de Aveiro, Portugal. Machado, M. M. P. [et al.] (2012). Prevenção de lesões musculosqueléticas relacionadas com a performance instrumental. In ESE-NIE - Livros de Actas / Papers in Conference Proceedings. Acedido Junho 28, 2015. Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/21665 Menuhin, Y., W. Primrose. Violin & Viola. Edited by Yehudi Menuhin. Primeira ed, Yehudi Menuhin Music Guides. Londres: Kahn & Averill, 1976. Reprint, 1991 Rolland, P. Young Strings in Action Approach to String Playing Teacher's Book. 1 vols. New York: Boosey&Hawkes, 1971. Reprint, 1985. On-line: http://www.bolsademulher.com/medicina-alternativa/367/tecnicas-de-relaxamento-mental - acedido Junho 28, 2015 http://www.espiritualismo.info/tec01.html - acedido Junho 28, 2015

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