Principais Nuanças do Conceito de Destino em Boécio

July 15, 2017 | Autor: Marcos Jaques | Categoria: Philosophy, Artigos acadêmcos, Destino, Boecio
Share Embed


Descrição do Produto

SUMÁRIO

Introdução 3
Boécio e sua relação com destino 3
O destino 5
Considerações finais 7
Referências 8
. Introdução

O presente trabalho tem como objetivo indicar a questão do destino na
visão Boeciana a partir do I capítulo do livro, A consolação da filosofia,
pois, o destino tem um papel de suma importância no que tange os problemas
da filosofia de Boécio, segundo o autor, quem se desvia é porque não estava
seguindo o caminho certo; o que já nos mostra uma certa preocupação com o
destino no que diz respeito a escolha da inteligência divina. Neste
trabalho, o primeiro capítulo abordará de forma consistente as indagações e
simbolizações que Boécio proferiu usando a figura da Filosofia, "a mulher
inexaurível" com quem debate as questões do mal, liberdade e destino.
Fazendo de maneira bem detalhada o percurso de Boécio na especificação, do
que, para ele consiste o destino, suas objeções referentes ao ser enquanto
individuo responsável pela sua vontade e por seus préstimos ao pensamento
de Deus.
O destino está condicionado nos mais distintos meios e é abordado por
prismas míticas, muitas vezes, o cônsul de Teodorico, visa essa relação com
este viés e assim reconhece no percorrer de sua obra a opinião quanto os
destinados. A análise far-se-á abordado a visão de Boécio quanto suas
intenções no discurso final de sua vida, onde fica claro o apreço pela
filosofia. Que ficou evidente quando Boécio fica na prisão, local onde são
refletidos os conhecimentos, que Severino passa para o papel. De maneira
irreverente e de fácil entendimento o Romano, nos instiga a pensar sobre o
destino e também nos demonstra que a qualidade de inteligência divina que é
determinada como providencia, que está presente de forma explicativa no
segundo capítulo do trabalho.
Este capítulo conta também com a explicação da relação existente entre
o destino e a providência, algo de essencial na filosofia boeciana de
finalidades e liberdade, essas questões que parecem ser apenas
contemporâneas, são evocadas desde os mais inóspitos invernos em que se foi
pensado uma finalidade para o ser humano e sua finitude; faz como que o
destino seja por excelência do pensamento racional de nosso fim e será
mesmo o ser humano destinado ou será tomado por acaso?
Para Boécio isso é claro, como o dia de céu de brigadeiro onde nenhuma
nuvem ofusca os raios solares da aurora que insurge com o canto da
natureza, que sela a passagem das trevas para a luz onde encontramos
descanso de todos as nossas vicissitudes, por mais triviais que sejam. Em
Boécio aquele que não entende o destino é vítima do mesmo. Deste modo por
que o destino é algo interessante?



Boécio e sua relação com destino

A questão do destino é algo de interesse da grande maioria dos seres
humanos, alguns acreditam nele e outros no acaso. O destino é algo muito
antigo e desde os primórdios do pensamento filosófico já se encontra nas
pautas de garbo e elegância, que são as qualidades inerentes a condições
que exigem de seus detentores do pensamento filosófico. E nesses conceitos,
uma das definições de destino é: ação que o mundo exerce sobre o homem
singular, que faz com que ele sinta necessidade em grande parte
desconhecida, que o define como parte do mundo em sua totalidade, também
está sujeito a sua condição adaptativa como ele se identifica com seu local
de existência e tem como produto a consciência, levando-o a dar-se com
parte de uma engrenagem no todo onde ele está inserido[1].
Boécio, no seu papel de filósofo indagou a questão referente ao destino em
contraste com a providência divina, por isso, é de indubitável importância
a relação entre essas, para que assim, o entendimento sobre o que Boécio
compartilhou com relação ao destino possa ser conhecido em nossas
demasiadas e frívolas vidas. Na obra usada para esta análise, vale
ressaltar o contexto de sua construção, A consolação da filosofia, no
latim: De Consolatione Philosophiae. Foi erigida em um contexto bucólico de
oposição entre morte e consolo, está como sentença e aquele como exilio e
refúgio. Nos primeiros verbos o Romano condenado à morte por prezar a
justiça, demonstra sua infelicidade pelo destino que o fadará neste
momento, entretanto mostra-nos o quanto já era maduro para compreender, que
aquilo era sua condição, com um olhar cheio de consolo para seus feitos
enquanto jovem; Severino reconhece que a velhice trouxe consigo mazelas e
como ela é cruel ao ignorar questões emocionais. Boécio lembra que se
tivesse se rendido aos galanteios que a Fortuna o fizera, teria sido sua
queda fatídica neste passo o autor complementa: "Quem se desvia é porque
não estava no caminho certo"[2].
Na prisão o cônsul de Teodorico, relata que teve uma experiência
inexaurível, onde se deparou com uma mulher de exuberância incomparável e
que emanava conhecimento ao ponto de não parecer da época, nem humana, pois
sua estatura mudava constantemente e por vezes ela desaparecia aos olhares
humanos. O autor infere que conversou com está mulher e ela contou-lhe
sobre seus dotes de costura perfeitos e que tinha costurado sua veste,
porém suas roupas foram rasgadas e assim ela ficou separada tornando-se
duas. Boécio continua a descrever a mulher com livros na mão direita e um
cetro na esquerda — nota-se que Boécio é um simbólico por excelência — essa
mulher que obsidia o autor continua suas peripécias quando lança insultos
as artes poéticas e assim deixa claro seu desprezo a arte de versar sobre
sentimentos e defende seu ponto de vista, argumentando que apenas serviriam
como veneno ao seu apreciador, que o fazem se despir da razão em prol do
consentimento das dores da alma. Neste passo ela assume o cuidado do tido
como doente e prisioneiro que a admirava. O estudante de Atenas, declara
que ela tinha muita autoridade nas palavras e por isso ele ficou perplexo e
ansioso por cada uma das palavras destinadas a ele que ela proferia, que
eram em sua maioria de consolo, pela situação que ele se encontrará no
momento. Essas palavras ressaltavam aspectos da personalidade de Boécio que
subvertia sua própria consciência e um discurso cheio de simbolismo e
autoconhecimento, voltando para a natureza as explicações do seu destino, e
com ajuda da mulher misteriosa fica claro o momento em que ela o lembra
disso e onde ele reconhece os seus pensamentos e suas atitudes em um
delírio "racional" fazendo com que, seu prisma aponte para um destino,
cujo fora submetido e que outrora fora instaurado de maneira divina e
intrínseco, isto está condicionado a sua beldade e que faz companhia na
fase de aflição onde ele se encontra. Que em dado momento questiona Boécio
sobre sua aflição, uma vez que ela já o fornecerá subsídios para que ele
travasse essa batalha de forma tênue e sem muito sofrimento, neste sentido
supõe que essas armas faram subtraídas pela vergonha e o abatimento que o
oprimiram. E com um espírito virtuoso a mulher oferece a Boécio um
subterfúgio para este fardo que o lastima e o entristece, a razão.
A razão começa a tomar forma e Boécio começa a ficar lucido e assim há
lembrar de forma sistemática as condições climáticas e outras atribuições
que estavam sob a céus de sua cidade, a iluminação de ideias que se iniciam
tomam conta de Boécio e ele principia sua reflexão, neste momento se depara
com a lembrança de quem era aquela esplendorosa mulher que tinha conhecido
mais cedo, deste modo as palavras que ela tinha dito, tomaram forma no
momento que Boécio menciona: "Mal dirigi o olhar a ela, reconheci minha
antiga nutriz, que desde a adolescência frequentava minha mente: era a
Filosofia"[3]. Em conseguinte o autor confronta a Filosofia, sobre seus
motivos de estar ali em seu exilio e qual foi ato que o tornou culpado de
tudo que o tinham caluniado ao ponto da mãe de todas as ciências estar em
sua companhia; a boa senhora Filosofia entende o lamento de Boécio e o
lembra que ele é um de seus discípulos, desde modo ela sente o dever em
ampará-lo e lhe mostrar que não é a censura ou medo que farão com que ela
"lave as mãos" a respeito, uma vez que essa não é a primeira vez que ela
fica em cheque quanto a sabedoria e das ações maléficas do homo sapiens;
quanto a isso ela o lembra sobre a injustiça que Platão descreveu na,
Apologia de Sócrates, onde observamos o inocente sendo conduzido ao leito
de morte sem nenhum tipo de resistência a lei, além disso a Filosofia fala
sobre vários outros exemplos de filósofos que enfrentaram algum tipo de
adversidade em sua busca incessante pelo bem do pensamento humano,
referentes a todas as áreas que o homem ainda encontra dificuldade em
entender. — Em vista dessa explanação que Boécio faz por meio da fala da
Filosofia ele demostra um exímio conhecimento da filosofia pré-socrática e
socrática — com este viés a Filosofia envolve a Fortuna[4] em seu argumento
algo que remete as críticas deferidas a Boécio, originadas por homens que
apenas buscam a crítica como sua intervenção, isto em guisas repletas de
ignorância a respeito dos termos tratados por esses nomes dados pela
Filosofia. A relação destino e Fortuna é evidente em Boécio.



O destino

O destino tem relação direta com a fortuna para Boécio, pois, capacita o
homem para seguir uma vida reta e com regras, com o auxílio do destino é
que se pode conseguir identificar os dois lados da fortuna, quem consegue
reconhecer em seu discernimento o destino passa a tolher os acontecimentos
da vida de forma produtiva, sabendo como desenvencilhar-se de seus desejos
ignominiosos. Nesse passo Boécio já demonstra sua influência Platônica,
quando discorre sobre os motivos de sua interversão nas questões políticas,
onde os governantes deveriam prezar pela sabedoria e os cidadãos teriam que
aprouver os políticos a exercerem seus papeis e impedir que inescrupulosos
assumissem cargos políticos. Foi por meio dessas ideias, que Boécio se
apeteceu no intuito de agir no meio social para promover o bem comum,
entretanto quando estava na política foi que sentiu os devaneios de forma
mais envolvente, o autor relata sua indignação quanto as ações de alguns
políticos e descreve sua infelicidade em saber disso. Além disso Boécio
comenta quantas foram suas ações em busca de uma política que tinha como
manancial a justiça, o autor demarca ações políticas que tinha como
finalidade o bem da sua comunidade e fizeram com que ele fosse acusado
injustamente de esconder documentos que comprometeriam o Senado e de
peculato, isto fez com que ele fosse condenado ao exilio. Em busca de
lograr-se inocente o estudante de Atenas, escreve na prisão como forma de
registrar as injustiças acometidas a ele para posterioridade. Em meio a
acusações e muitas críticas Boécio fortalece sua relação com Deus, que
seria o governador de todas as coisas derivadas do mundo e Ele prevalecerá
a injustiça sofrida pelo autor, com esse apego o Romano, indica que não
acredita que um universo que é ordenado de forma tão maestra que não
haveria possibilidade de acaso. Nas palavras de Boécio: "(...) Seria
impossível crer que um universo tão bem ordenado fosse movido pelo cego
acaso: sei que Deus preside aos destinados à Sua obra, e nunca me
desapegarei dessa verdade"[5]. Deus como providencia no destino é ótimo,
pois, se Ele é o provedor de todas as coisas e exerce controle sobre elas,
não a necessidade de temores e aflições quantos os cominhos que a vida
perpassa, por maior que seja os intemperes não há motivos que exprimam a
qualidade de finalidade nas ações que despendem de Deus de para sua
realidade; isso fica claro com a afirmação encontrada no livro, História da
Filosofia Cristã: Agora bem, se o fim de todas as coisas é Deus, então não
há o que temer[6]. Deus com princípio ordenador faz com que os infortúnios
da vida sejam tratados de forma compreensiva pertinente. No entanto nos
deparamos com um problema na providência, uma vez que ela existe a
liberdade é ilusória a medida em que o indivíduo está sujeito a Deus.
Isso se explica, partindo do princípio que todos seres racionais são
livres, pois, exercem o poder de escolha, escolher exige julgamento de bom
e mau, além disso o julgamento consiste em escolher com referência, do que
o ser acha que é bom para ele ou evitando o que é mau para o mesmo. Boécio
ponderando esses princípios, sustenta que, o homem é dono de seus atos e
escolhas e isso dar-se-á apenas no momento em que o homem esquecer as
coisas terrenas e for guiado somente pela razão, além disso deve-se estar
em unidade a Desus. Para isso, a necessidade de conformar sua vontade com a
vontade de Deus, no conceito do termo vontade seria o apetite racional ou
compatível com a razão, que se distingue do apetite sensível (desejo)[7],
para Boécio a felicidade suprema é Deus, querer o que Deus quer, fazer tudo
o que Deus intuir e assim encontrar a felicidade na providência de Deus,
isso fica evidente quando o cônsul de Teodorico objeta: "Longe de se
excluírem, a Providência de Deus e a liberdade do homem se completam
harmoniosamente"[8].
Os sujeitos criados e o mundo se movimentam, de alguma forma, a causa disso
para Boécio é Deus quem ordena e estabiliza as atividades do mundo, sendo
assim, ele é a causa de todas as coisas; ao tomar isso como consciência nos
deparamos com inteligência divina e essa leva o nome de providência. Ao
considerar que Deus governa todas as coisas e que suas decisões são eternas
isso é nomeado como destino. A relação entre destino e providência é
inevitável, pois a realização do destino só é observada em sintonia ao da
providência. A relação dessas por ser observada no exemplo de como um
escultor inicia uma obra, em sua mente ela já existe, porém ela vai tomando
forma física gradualmente, deste modo a providência divina é fixa e o
destino cumpre no espaço-tempo aquilo que a divina providência instaurou na
eternidade sendo assim o destino é a representação do divino na
multiplicidade e pluralidades das relações universais. No entanto o destino
pode ser "modificado' na medida em que estiver mais próximo da inteligência
divina, pois, o destino está sob o governo da providência divina, mas
também podem ser reféns do destino na medida em se afastarem de Deus.
Porquanto os que se aproximam de Deus, inteligência divina, se tornaram
imóveis e não sentem a mão pesada do destino.




Considerações finais

—Ah como é bom estudar filosofia! —Na primeira leitura de Boécio o que me
marcou foi a sua apologética, a forma com que as pessoas em geral são
determinadas em explicar e argumentar sobre questões referentes ao que
acreditam, me fascina, principalmente quando o que essas pessoas defendem,
são pontos de vista, que são corriqueiramente defendidos como por exemplo o
que o filólogo Friedrich Wilhelm Nietzsche quis dizer com über mensch?
Essas questões são engraçadas na medida em que são pautas de forma
incandescente no meio acadêmico, entretanto quanto se lê Boécio e percebe
quanto ele era determinado em demonstrar que o Destino é algo que advém por
consequência de Deus e está condicionado a Providência Divina, que é algo
eterno, apenas me fazem crer mais em questões infindas até hoje serão
apenas desfragmentadas com o passar dos anos e isso fica claro quando se
reescreve ou se releem coisas que são passageiras, no primeiro contato
terão um conceito, vistas de outra perspectiva quando reencontradas em um
novo contexto serão novas, o que deixa o trabalho do filósofo infinitamente
possível, na medida em que as relações históricas e sociais, moldam e
influência assim o pensamento humano.
Destarte o que Boécio intuiu no século V reverbera nos grilhões da mais
refinada definição de vontade, liberdade e destino, por mais que isso seja
feito de forma básica Boécio insere nos seus leitores uma problemática que
demarca bem seu pensamento que é a de que Deus é necessário para o
entendimento do mundo.
Boécio é categórico quando afirma que por mais que você fuja se você não se
tornar unidade de Deus o Destino não meça esforços em abocanhar essas vidas
de concupiscências oriundas da sua vontade individual e que obteve
julgamento a partir da razão. Sendo assim a busca intrínseca na felicidade
divina será a do consentimento a vontade e ordenação do onipotente.
Aquele que é o detentor das possibilidades, aquele que diz ser o alfa e o
ômega que cada ser humano busca nas suas necessidades e que são encontrados
em vários locais e endereços.





Referências

BOEHNER, Philotheus, GILSON, Etienne. História Da Filosofia Cristã: Desde
as Origens até Nicolau de Cusa. 7a ed. Trad. Raimundo Vier. Rio de Janeiro:
Vozes, 2000.

 

BOÉCIO. A Consolação da Filosofia. Trad: Willian Li. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.



ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução coordenada e revista
por Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 2000.







-----------------------
[1] Cf. "Destino" ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
[2] Cf. BOÉCIO. A Consolação da Filosofia. Trad: Willian Li. São Paulo:
MARTINS FONTES, 1998. I, 4.
[3] Cf. BOÉCIO. Op. Cit. I, 8.
[4] Cf. "Fortuna" ABBAGNANO, Nicola. Op. Cit.: No artigo se faz referência
da fortuna com a sorte, algo que se distingue do acaso.
[5] Cf. BOÉCIO. Op. Cit. I, 12.
[6] BOEHNER, GILSON. História da Filosofia Cristã. p. 217: "O Sumo Bem não
é apenas o princípio de todas as coisas, mas também seu fim último.
[7] Cf. "Vontade" ABBAGNANO, Nicola. Op. Cit.
[8] BOÉCIO. Op. Cit. V, 5.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.