Problemas de género n\'O Lima de Diogo Bernardes: A questão do mecenato, Veredas, 23 (2015), 127-44

June 30, 2017 | Autor: Simon Park | Categoria: Portuguese and Brazilian Literature, Renaissance Studies
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VEREDAS Revista da Associação Internacional de Lusitanistas

Associação Internacional de Lusitanistas

VEREDAS Revista da Associação Internacional de Lusitanistas

Volume 23 O Renascimento Português Desafios e Novas Linhas de Investigação

Santiago de Compostela 2015

A AIL ― Associação Internacional de Lusitanistas tem por finalidade o fomento dos estudos de língua, literatura e cultura dos países de língua portuguesa. Organiza congressos trienais dos sócios e participantes interessados, bem como copatrocina eventos científicos em escala local. Publica a revista Veredas e colabora com instituições nacionais e internacionais vinculadas à lusofonia. A sua sede localiza-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em Portugal, e seus órgãos diretivos são a Assembleia Geral dos sócios, um Conselho Diretivo um Conselho Assessor e um Conselho Fiscal, com mandato de três anos. O seu património é formado pelas quotas dos associados e subsídios, doações e patrocínios de entidades nacionais ou estrangeiras, públicas, privadas ou cooperativas. Podem ser membros da AIL docentes universitários, pesquisadores e estudiosos aceites pelo Conselho Diretivo e cuja admissão seja ratificada pela Assembleia Geral. Conselho Diretivo Presidência: Roberto Vecchi, Universidade de Bolonha [email protected] 1ª Vice-Presidência: Cláudia Pazos-Alonso, Universidade de Oxford [email protected] 2ª Vice-Presidência: Elias J. Feijó Torres, Univ. de Santiago de Compostela [email protected] Secretaria Geral: Vincenzo Russo, Universidade de Milão [email protected] Coordenação da Comissão Científica: Raquel Bello Vázquez, Centro Universitário Ritter dos Reis, [email protected] Coordenação da Comissão Editorial: Regina Zilberman, Univ. Federal de Rio Grande do Sul, [email protected] Responsável pela Área de Comunicação: Roberto Samartim, Universidade da Corunha, [email protected] Presidência do Conselho Assessor: Ettore Finazzi-Agrò (Universidade de Roma «La Sapienza») [email protected] Presidências Honorárias: Cleonice Berardinelli, UFRJ e PUCRJ; Helder Macedo, King's College London. Conselho Assessor Benjamin Abdala Junior (Universidade de São Paulo), Carlos Ascenso André (Instituto Politécnico de Macau), Manuel Brito-Semedo (Universidade de Cabo Verde), Manuel Ferro (Universidade de Coimbra), Natalia Czopek (Universidade Jaguelónica de Cracóvia), Roger Friedlein (Ruhr-Universität Bochum). Conselho Fiscal Carmen Villarino Pardo (Univ. de Santiago de Compostela), Helena Rebelo (Universidade da Madeira), Isabel Pires de Lima (Universidade do Porto).

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Veredas Revista de publicação semestral Volume 23 ― 1º semestre de 2015 O Renascimento Português – Desafios e Novas Linhas de Investigação Diretora: Raquel Bello Vázquez (Centro Universitário Ritter dos Reis, Brasil) Conselho Redatorial: Cândido Oliveira Martins (Universidade Católica Portuguesa, Portugal) Maria Aldina Bessa Ferreira Rodrigues Marques (Universidade do Minho, Portugal) Teresa Pinheiro (Technische Universität Chemnitz, Alemanha) Conselho Científico: Andrés Pociña López (Universidade de Extremadura, Espanha), Anna Maria Kalewska (Universidade de Varsóvia, Polónia), Antonio Augusto Nery (Universidade Federal do Paraná, Brasil), Axel Schönberger (Universidade de Bremen, Alemanha), Benjamin Abdala Junior (Universidade de São Paulo, Brasil), Carlos Ascenso André (Instituto Politécnico de Macau, Macau), Carmen Villarino Pardo (Universidade de Santiago de Compostela, Galiza), Clara Rowland (Universidade de Lisboa, Portugal), Cláudia Pazos-Alonso (Universidade de Oxford, Reino Unido), Cristina Robalo Cordeiro (Universidade de Coimbra, Portugal), Elias J. Feijó Torres (Universidade de Santiago de Compostela, Galiza), Ettore Finazzi-Agrò (Universidade de Roma «La Sapienza», Itália), Helder Macedo (King's College London, Reino Unido), Helena Rebelo (Universidade da Madeira, Portugal), Isabel Pires de Lima (Universidade do Porto, Portugal), Juracy Assman Saraiva (Universidade Feevale, Brasil), Laura Cavalcante Padilha (Universidade Federal Fluminense, Brasil), Manuel Brito-Semedo (Universidade de Cabo Verde, Cabo Verde), Manuel Ferro (Universidade de Coimbra, Portugal), Maria Luísa Malato Borralho (Universidade do Porto, Portugal), Natalia Czopek (Universidade Jaguelónica de Cracóvia, Polónia), Onésimo Teotónio de Almeida (Universidade de Brown, Estados Unidos), Pál Ferenc (Universidade ELTE, Hungria), Petar Petrov (Universidade do Algarve, Portugal), Regina Zilberman (Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Brasil), Rejane Pivetta de Oliveira (Centro Universitário Ritter dos Reis, Brasil), Roberto Samartim (Universidade da Corunha, Galiza), Roberto Vecchi (Universidade de Bolonha, Itália), Roger Friedlein (RuhrUniversität Bochum, Alemanha), Sebastião Tavares Pinho (Universidade de Coimbra, Portugal), Sérgio Nazar David (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil), Teresa Cristina Cerdeira da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil), Thomas Earle (Universidade de Oxford, Reino Unido), Ulisses Infante (Universidade Estadual Paulista, Brasil), Vera Lucia de Oliveira (Università degli Studi di Perugia, Itália), Vincenzo Russo (Universidade de Milão, Itália). Redação: VEREDAS: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas Endereço eletrónico: [email protected] Desenho da Capa: Campus na nube, Santiago de Compostela, Galiza. ISSN 0874-5102 AS ATIvIdAdES dA ASSoCIAção INTERNACIoNAL dE LUSITANISTAS Têm o APoIo REgULAR do INSTITUTo CAmõES

Nota introdutória Este novo número da revista Veredas (23) recolhe os resultados científicos do Colóquio O Renascimento Português –Desafios e Novas Linhas de Investigação, ccelebrado no St. Peter’s College da Universidade de Oxford em junho de 2013. Organizado pela Associação Internacional de Lusitanistas, a Universidade de Oxford, e o King's College-London, sob coordenação do professor Thomas Earle e da professora Catarina Fouto, o encontro se propôs analisar recentes abordagens metodológicas, e identificar novas áreas de investigação, partindo de uma perspectiva comparativa e multidisciplinar, com o foco colocado no período renascentista, no sentido lato do termo. Seguindo o modelo aplicado noutros Colóquios promovidos pela Associação Internacional de Lusitanistas, nomeadamente os de Budapeste 2012, 2013 e 2015, o encontro contou com uma seleção de especialistas relevantes no âmbito do estudo do período renascentista em Portugal, junto com investigadores e investigadoras que acudiram à chamada para trabalhos publicada pela organização do Colóquio. Posteriormente, as pessoas participantes foram convidadas a submeterem os seus textos para a preparação de um número temático da revista Veredas. As propostas agora recolhidas neste especial mostram os contributos dos Estudos Literários, da História, da Geografia e da Sociologia para uma melhor compreensão dos processos que levaram não apenas à produção literária que hoje identificamos como a própria do Renascimento português, mas também para compreender as utilidades e funções que consumidores e consumidoras da época davam a esses textos. Assuntos trazidos nos artigos aqui selecionados mostram a necessidade de estu dar profundamente não apenas a produção, mas também a reconstrução da narrativa sobre a produção renascentista através das histórias literárias, com incidência não apenas na pesquisa, mas também na docência e na divulgação de resultados. Raquel Bello Vázquez Diretora da Revista Veredasc

Sumário

Aude Plagnard Geografias épicas nas obras de Jerónimo Corte-Real, Alonso de Ercilla e Luís de Camões ..................................................................................................................................9 Elisa Nunes Esteves Relendo Anrique da Mota .................................................................................................................27 Hélio J. S. Alves A propósito dum 10 de Junho: avisos à investigação em literatura portuguesa da expansão ..................................................39 José Cândido de Oliveira Martins Tópica do exílio em O Lima de Diogo Bernardes .......................................................................49 Marcia Arruda Franco Para Ler a História dos Pais de D. Sebastião em Louvores e Lamentos Quinhentistas Palavras Iniciais ..................................................................................................................................65 Pedro Madeira O símile épico em Camões: Touros, cães e infidelidade ............................................................77 Roberto Samartim Bases de dados relacionais para o estudo empírico dos campos culturais renascentistas ..............................................................................................95 Roger Friedlein Encenações Cosmográficas: A Epopeia Renascentista, Espaço Autorreflexivo (Camões, Corte-Real) ..............................111 Simon Park Problemas de Género em O Lima (1596) de Diogo Bernardes: A Questão do Mecenato ..................................................................................................................127 Thomas F. Earle Desafios e novos caminhos nos estudos vicentinos: o Auto da Lusitânia............................145

VEREDAS 23 (Santiago de Compostela, 2015), p. 127-144.

Problemas de Género n'O Lima ((1596) de Diogo Bernardes: A Questão do Mecenato SIMON PARK

[email protected] Worcester College, University of Oxford (Reino Unido)

Resumo: Considerando a importância atribuída à questão do mecenato nas cartas de Diogo Bernardes e a quase ausência desta mesma questão nas epístolas poéticas de outros poetas portugueses do século XVI, torna-se necessário proporcionar uma contextualização literária mais profunda da sua obra. Neste artigo vamos examinar vários tratados sobre a redação de cartas e a abordagem deste assunto em obras de Horácio, Marcial, Erasmo, Vives e Castiglione, a fim de explicar o tratamento do tema do mecenato n’O Lima.. Além disso, este estudo demonstra como as cartas de Bernardes imitam os aspectos formais de cartas em prosa e revelam um carácter literário extraordinariamente flexível – dois elementos importantes no contexto dos pedidos de apoio aos seus patronos que figuram na sua obra. Palavras Chave: Diogo Bernardes; mecenato, cartas em verso; género; D. Cristóvão de Moura; D. Francisco de Sá de Meneses. Abstract: Given the interest in questions of patronage in the verse epistles of Diogo Bernardes and its relative absence in the poetic letters of other sixteenth-century Portuguese poets additional contextual information must be provided for Bernardes’s work. By considering Classical and Renaissance treatises on letter writing and the dicussion of patronage in works by Horace, Martial, Erasmus, Vives, and Castiglione, this article aims to explain further Bernardes’s treatment of this theme. Additionally, this study shows how his poems evoke the formal characteristics of prose letters and demonstrate a literary personality that is remarkably adaptable – elements that are important given Bernardes’s attempts to request financial support from the figures to whom his poems are addressed. Keywords: Diogo Bernardes; patronage, poetic letters; genre; D. Cristóvão de Moura; D. Francisco de Sá de Meneses.

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SImon Park Data de receção: 01/12/2014 Data de aceitação: 29/05/2015

Quando pensamos nos maiores expoentes da carta poética no Portugal de quinhentos, pensamos muito provavelmente nas cartas de Sá de Miranda e de António Ferreira. Esperamos desses autores um austero moralismo que nasce das lições estóicas de Cícero e de Horácio, como demonstram, entre outros, os estudos de T. F. Earle (1995) e Maria Vitalina Leal de Matos. Nas mãos de Ferreira e Sá de Miranda, a carta poética torna-se numa missiva edificante dirigida aos famosos “bons ingenhos”, altas personalidades da vida política e intelectual de Portugal. As suas cartas esforçam-se por revelar os vícios da sociedade e por louvar as virtudes de nobres e reis. Duma certa maneira, esta concepção é também pertinente para o estudo das cartas de outros poetas da época, tais como André Falcão de Resende e Pêro de Andrade Caminha, que compõem epístolas que se inserem mais ou menos dentro desta tradição moralizante. Quanto a Diogo Bernardes, contudo, observamos que em vários momentos, este moralismo cede a uma preocupação com o quotidiano que é quase ausente das obras de Ferreira e Sá de Miranda. Mais notável ainda é a obsessão temática das cartas d’O Lima. (1596) pelo dinheiro e pelos favores. Embora muitos críticos destaquem que Bernardes lamenta “o peso da miséria” a que está atado e que pede frequen temente favores aos seus “senhores”, resta demonstrar as possíveis fontes textuais deste interesse no mecenato, e como isto concorda com – ou até desestabiliza – o nosso “horizonte de espectativas” do género da epístola poética quinhentista.1 Basta um rápido olhar na fortuna crítica da carta em verso na península ibérica para ver que se trata de um género em que confluem influências de diversas fontes, uma tapeçaria densa de fios intertextuais que se originam na sátira, no capitolo .italiano, na elegia, e na carta em prosa, para citar alguns dos mais importantes. Dentro desta tradição, portanto, as cartas de Bernardes distinguem-se pela sua preocupação com mecenas e pelo seu distanciamento do ideal moralizante da poesia adoptado pelos seus antecedentes. Nas suas cartas, o poeta frequentemente pede e agradece favores, ou debate a importância de ter um patrono. Levando em conta os estudos extensivos de Andrea Lower e Bartolomé Pozuelo Calero que tentam determinar o “repertório” do género da epístola poética num contexto espanhol, e o livro de Maria do Céu Fraga que trata dos géneros líricos em Portugal, podemos concluir que a obra de Bernardes é bastante excepcional. Nenhum dos subgéneros apresentados nas tipologias de Lower, de Sánchez Robanya, ou de Fraga releva a mesma preocupação com o mecenato. Os apelos diretos

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Para uma discussão mais profunda deste conceito, ver Jauss (79).

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para granjear favores do tipo que figuram nas cartas de Bernardes, não parecem surgir na tradição espanhola e, na sua tese, Lower cita só um exemplo de uma carta de pedido: quando Cetina pede um quadro de Ticiano ao seu senhor, Hurtado de Mendoza. Sendo assim, a presença de pedidos aos seus patronos nas cartas de Bernardes juntamente com a sua preocupação mais geral com o mecenato, levam-nos a alinhar as cartas d’O Lima. muito mais com a epístola em prosa de que com a carta em verso “canónica” ou “moral”, divulgada por Sá de Miranda e o seu círculo em Portugal, ou por Garcilaso, Boscan e outros em Espanha. Por causa desse interesse temático mesmo a ‘carta natural en verso’ ou a carta ‘informativa’, novas categorias da epístola poética propostas respectivamente por Pozuelo Calero (82) e por Lower (4) não parecem ser adequadas para um estudo das cartas d’O Lima.. Neste artigo vamos analisar a questão do mecenato nas cartas de Bernardes para tentarmos dar algumas conclusões sobre o carácter literário das cartas d’O Lima. e a sua relação com a literatura clássica e renascentista. Num interessante estudo da carta em verso no Portugal de quinhentos, Saulo Neiva propõe que o modelo principal para as “lettres au mécène” é Horácio (122). Contudo, nas suas epístolas Horácio evita discutir as realidades da sua relação com o seu patrono, Maecenas, mesmo se fala muito mais francamente destas “realidades” quando se trata dos assuntos de outras pessoas. Na Epístola 1.17, por exemplo, Horácio aconselha que Saeva busque “uma mesa rica” se ele quer tratar generosamente os seus amigos: “si prodesse tuis pauloque benignius ipsum / te tractare voles, accedes siccus ad unctum” (vv. 11-12)2. Na mesma epístola, Horácio propõe estratégias a serem utilizadas na procura de favores, sugerindo que o cliente se comporte com modéstia a fim de captar as boas graças do seu mestre: “Coram rege sua de paupertate tacentes / plus poscente ferent: distat, sumasne pudenter / an rapias” (vv. 43-45) 3. Todavia, é preciso buscar outros paradigmas literários para explicar e dar contexto à obra de Bernardes. Como um dos tratados mais influentes sobre a redação de cartas no século XVI, o De Conscribendis Epistolis. (1522) de Erasmo serve como um bom ponto de partida para uma exploração da obra de Bernardes. O facto de que Erasmo cita não só cartas em prosa, mas também epístolas em verso, faz com que a sua obra tenha grande relevância para o nosso estudo. No De Conscribendis Epistolis,. Erasmo propõe várias cartas de Cícero como exemplos de cartas de pedido, porém, nem estas cartas se aproximam daquelas de Bernardes. Os exemplos da boa carta-pedido, que Erasmo tira principalmente das cartas familiares de Cícero, não incluem pedidos diretos de apoio 2 3

"Se quiseres ajudar os teus amigos e tratar-te um pouco mais generosamente, buscarás uma mesa rica quando estiveres com fome." (A tradução é minha). "Os que não falam das suas necessidades na presença do seu patrono receberão mais do que os que mendigam." (A tradução é minha).

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financeiro, mas são antes pedidos de conselho (e.g. Letters to Friends 3.2) ou pedidos de ajuda em manter a sua posição política (e.g. Letters to Friends 5.4). Na obra de Erasmo, a carta de recomendação está ligada à carta-pedido, e há vários exemplos citados das cartas familiares de Cícero e de Petrarca, mas é importante constatar que pedir algo em nome de outrem requer menos audácia de que fazer um pedido para si mesmo como Bernardes faz em vários momentos. À luz disso, os pedidos diretos de Bernardes tornam-se surpreendentes. Nem as cartas de grandes autores portugueses e espanhóis nem outros tratados da época parecem evidenciar a atitude “de mão estendida” do autor do Lima. Aliás, mesmo se Saulo Nei va identifica doze das cartas d’O Lima .como “lettres au mécène”, este crítico subestima a importância temática do mecenato nas cartas de Bernardes (122). Para dar um exemplo, visto que a carta XXXII dirigida a João Roiz de Sá de Meneses apresenta-se explicitamente como poema encomendado (v. 1), surpreende-nos que Neiva exclua esta carta da sua lista de “lettres au mécène”. Os membros da família Sá de Meneses foram certa mente conhecidos como patronos importantes, não admira pois que esta carta evoque tais relações clientelares. Duma maneira mais oblíqua, a carta a Pêro de Lemos referese a proteção que a Marquesa de Alcanisas lhe proporciona e como Lemos celebrará a sua patrona em verso. A Carta XIV a António de Castilho solicita a intervenção de Castilho no estabelecimento de uma relação mecenática entre Bernardes e “o senhor do nosso Gouro”4. Até o estóico António Ferreira acaba por ecoar os sentimentos de Bernardes, quando lamenta o facto de que depende de outros para a sua subsistência. A frase de Bernardes, “Que confesso de mim que tenho inveja / A quem de seus bens vive e não d'alheios” (Carta XII, vv. 104-5)5 apresenta algumas semelhanças com os seguintes versos de Ferreira, que aparecem na sua resposta à carta de Bernardes: S’eu pudesse, Bernardes, s’eu pudesse Ser senhor de mim, voaria, Onde do vulgo mais longe estivesse. (I.12, vv. 43-45)

A questão do mecenato, de uma forma ou outra, encontra-se na maioria das cartas d’O Lima.. Contudo, os manuais de cortesãos e guias de redação de cartas mais influentes do século XVI, mostram uma certa reserva no que se refere aos pedidos diretos. Erasmo recomenda uma abordagem indireta neste assunto porque “pedir um empréstimo ou algo indigno”. são “coisas que fazem o requerente corar de vergonha” (De. conscribendis epistolis 172 – tradução minha). Do mesmo modo, Federico em Il libro del. cortigiano. (1528) aconselha que “[r]arissime volte o quasi mai non domanderà al signore cosa alcuna per se stesso“ (126), o que quer dizer que os pedidos diretos de apoio

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Para uma discussão desta figura, ver a tese de Ana Filipa Gomes Ferreira (2008, p. 81). Referências a O Lima .dão o número da carta e os versos citados segundo a edição de J. Cândido Martins (2009).

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financeiro foram considerados indecorosos. Ao contrário, no seu influente tratado também intitulado De Conscribendis Epistolis. (1534), o humanista Luis Vives apresenta a carta-pedido como essencial para a sociedade cortesã: “um sábio pede um meio de vida a um homem poderoso ou a um príncipe para apoiar as suas atividades literárias, porque se não lho pede, quem lho fornecerá, alfaiates ou cocheiros?” (43). Vives recorre à concepção estóica dos bens materiais que reconhecidamente não considera o dinheiro como uma virtude, mas, não obstante, não o categoriza como vício – é neutro e talvez até “preferível” à pobreza (41). Deste modo, Vives afasta-se da reserva do seu modelo, Erasmo: um ponto de divergência entre os dois autores negligenciado pela maioria dos críticos que não se interessam pela questão do mecenato nestas duas obras. Todavia, esta diferença pode explicar-se pelo valor moral que Vives atribui à literatura. Quando Vives sugere que os nobres devem sustentar os poetas, refere-se evidentemente a uma concepção da vida contemplativa altamente moral. No entanto, esta ideia da literatura, curiosamente, não corresponde exatamente com o tipo de poesia praticada por Bernardes nas sua cartas. Se saímos dos espaços mais conhecidos do mundo literário renascentista e investigamos os recantos mais obscuros ou mais distantes do campo literário português da época, pode encontrar-se traços dispersos dos mesmos problemas que preocupam Diogo Bernardes na sua poesia. A “Epistola a Dom Françisco de Meneses” da autoria de André Falcão de Resende fala nas “mercês” que recebeu de D. Francisco (1: 423); Pêro de Andrade Caminha queixa-se da “dessossegada dança” da corte (2: 913); e numa elegia latina Jerónimo Cardoso debate a relação entre poeta e Mecenas (228). No Cancioneiro geral .também se afiguram vários poemas que podem ser classificados por versos mecenáticos. É bem conhecido que Bernardes era grande admirador da cultura italiana e a influência de vários autores italianos lê-se nas páginas d'O Lima. (ver, por exemplo, a lista de autores italianos citados na Carta XXVIII, vv. 88-99). Curiosamente, é de notar que a tradição da epístola em verso em Itália abrangeu uma diversidade de temas não manifestada neste gênero no contexto ibérico. Nas palavras de Lauro Martines, “such letters broached just about any ordinary topic, such as love, taxes, officeholding, marketing, scraps of gossip, domestic matters, travel, moral advice, and outright nonsense. Written, generally speaking, to a friend, acquaintance, or patron, the verse letter was the most constructed type of missive and nearly always intended for someone in the real world” (11-12). Adicionalmente, o mecenato não representava um tema alheio da poesia em Itália mas um interesse fulcral. Por exemplo, uma quantidade surpreendente dos poemas impressos de Torquato Tasso tratam de pedir e agradecer favores (ver Brand 155-161). A obra de Bernardes resta algo fora do comum, em termos da preponderância de poemas mecenáticos incluídos nos seus livros, mas isto não quer

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dizer que fosse completamente isolado no panorama literário de quinhentos. Alargando a nossa investigação através da história, uma última fonte possível da atitude intrigante adoptada por Bernardes pode encontrar-se nos epigramas de Marcial. Este último escreve vários poemas sobre o problema de faltar-lhe um mecenas; um tema que é igualmente muito caro ao nosso poeta. Com efeito, as queixas de Marcial são frequentemente do mesmo género de as de Bernardes. Por exemplo, no epigrama XI.3 Marcial diz que não serve de nada o seu livro ser lido pelo império inteiro quando a sua bolsa não conhece nenhum benefício deste facto ("quid prodest? Nescit sacculus ista meus”, v. 6). A sugestão que o poeta não recebe nada dos seus esforços ecoa na carta V onde Bernardes lamenta: “Que val por derradeiro um bom ingenho / Que val cantar d'amor o fogo, as setas, / Se sempre com as mãos vazias venho?” (vv. 25-27). Um outro escritor da idade de prata latina, Juvenal, também fala sobre assuntos parecidos na sua terceira sátira. Tal como Marcial, Bernardes não se acobarda perante os seus patronos, mas declara esperar o apoio deles, e até os critica por não serem “Mecenas às Musas”. Na sua carta a D. Cristóvão de Moura, Bernardes pergunta: Quem haverá, senhor, que não s'espante De não serdes às Musas um Mecenas, Se no mais, com mor rei, ides avante? (XXIX, vv.55-57)

Neste poema (que vamos considerar em mais detalhe abaixo) Bernardes incorre na contradição frequente entre o que defende e o que pratica: o poeta evoca uma ideia humanista do poeta e o dever dos príncipes de apoiar financeiramente os escritores, mas as suas cartas não representam um exemplo poético deste ideal moralizante. De facto, Bernardes não minimiza as vantagens sociais e económicas a que pretende. Como confessa na carta a D. Fernando Álvarez de Castro, a necessidade obriga-o a ser direto: …pois Janeiro Vem pôr novo freio à cortesia, Quero-vos de senhor fartar primeiro’ (XXIII, vv.1-3).

Nesta carta Bernardes também debate a vaidade de formas de tratamento excessivamente aduladoras. Bernardes rejeita a cortesia em vários momentos quando a necessidade exige que deixe de lado as cordialidades e faça pedidos diretos. Como Solino, o cortesão empobrecido em Corte na Aldeia. (1619) de Rodrigues Lobo, o dinheiro tem maior importância de que a cortesia: “a cortesia não satisfaz mais que a vaidade e a. largueza acode ao principal da vida” (253). Duma maneira interessante, nesta frase Solino transfere a responsabilidade do bem-estar dos cortesãos aos patronos que devem mostrar a sua generosidade: para ele a cortesia fica completamente inútil sem a generosidade dos mecenas. Para Bernardes, é claro que a cortesia – ou seja um atitude deferente – às vezes não representa a estratégia adequada para fazer um pedido: o poeta

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abandona a cortesia numa tentativa de evitar as acusações de que ele anda com duas faces, uma invectiva frequente na literatura da época. A aversão de Erasmo e de Federico em Il Cortigiano .a respeito de pedidos diretos de apoio sugere que Bernardes incorpora temas impróprios para a poesia na sua obra. Mais do que isso, a ausência deste tipo de cartas nas obras em prosa de Cícero, Petrarca, Guevara e outros, implica que, mais do que escritores de cartas familiares em prosa, Bernardes incorpora nas suas cartas poéticas as preocupações da vida quotidiana que se confinam normalmente ao domínio privado. Com efeito, do ponto de vista formal, as cartas de Bernardes aproximam-se às cartas privadas. Registamos, por exemplo, aspectos formais nas cartas d’O Lima. que conformam à concepção da carta (privada) ao mecenas elaborada por Paul McLean no seu estudo The Art of the Network: Strategic Interaction and Patronage in Renaissance. Florence.. As conclusões das cartas de Bernardes, por exemplo, evocam particularmente as formulas de cortesia usadas nas cartas discutidas por McLean. Em duas cartas (XXIV e XXVII) Bernardes até cita uma formula italiana usada, por exemplo, por Bembo nas suas cartas em prosa, estabelecendo uma ligação intertextual com uma tradição epistolar italiana e dando, assim, um ar cosmopolita a estas cartas. 6 Os sobrescritos de Bernardes também mostram-se muito mais conscientemente modeladas na carta em prosa do que as de Ferreira, por exemplo, dando frequentemente o lugar do destinário ou o do poeta. Se as cartas de Bernardes são conscientemente modeladas nas cartas privadas em prosa, apresentando o poeta como um tipo de parasita, parece-nos muito estranho que tenha decidido publicá-las.7 Pedir favores em privado é substancialmente diferente de fazê-lo publicamente numa obra impressa. Dado que Bernardes foi muito provavelmente responsável pela organização d’O Lima., esta particularidade da sua obra torna-se ainda mais curiosa. Talvez Bernardes só fosse o primeiro a editar as suas cartas-pedido mas circulavam muitas outras deste género na corte. N’O Lima. Bernardes aborda muitos temas da vida cortesã evocados por Castiglione e Rodrigues Lobo, assim poderíamos apresentar O Lima. também como uma forma de guia de cortesia? O que é notável na recepção da sua obra é que as cartas normalmente não recebem muita atenção: alusões específicas à sua obra no século XVII, por exemplo, normalmente só mencionam as suas éclogas.8 Será que as cartas não suscitaram grande interesse a outros poetas? Com efeito, nas suas próprias cartas Bernardes alude frequentemente às 6 7 8

Na carta XXIX Bernardes usa a frase "State sano, caro patron mio" no fim do seu poema e na carta XXVII aparece uma frase semelhante ("State sano, a Dio vi ricomando"). A formula italiana ‘State sano’ usa-se por Bembo nas suas cartas em prosa, por exemplo na carta a M. Vicenzo Quirino (239). A carta dedicatória ao Duque de Aveiro incluído na primeira edição d’O Lima e a organização estrutural da obra proporcionam evidência suficiente para afirmar o papel do poeta na preparação da obra. Para uma discussão elaborada deste problema, ver Ana Filipa Gomes Ferreira (2008, 10-13). Ver, por exemplo, Manuel de Severim e Faria (93) e Lope de Vega (239).

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suas éclogas e à sua poesia amorosa de maneira que é possível inferir que concebeu as suas cartas como acompanhamento à sua poesia propriamente dita 9. Atualmente não é possível confirmar – ou rejeitar – estes hipóteses; contudo, a nosso ver, é todavia necessário discuti-los quando examinamos a questão do mecenato n’O Lima.. Um outro aspecto interessante das cartas d’O Lima. são as múltiplas personalidades adoptadas por Bernardes a fim de emular a mundividência do seu interlocutor. Podemos observar uma mutação camaleónica da sua personalidade literária que muda de tom, de audácia, de humor, a cada carta que lemos, o que sugere que Bernardes tenta imitar a personalidade do seu recipiente. Se voltamos à ideia do mecenato, é interessante constatar que Shoemaker associa a cortesia com o mecenato exatamente com base nestes motivos: “Castiglione describes conversation as an art of the particular: because no two men are totally alike, rhetoric [when seeking patronage] becomes a matter of improvisation and constant adjustment to the uniqueness of one's interlocutor” (22). Além disso, em Corte na Aldeia, Lobo avança que ‘o pretendente’ representa o paradigma da cortesia, querendo satisfazer a todos na esperança de receber favores (267-268): uma máscara que adopta Bernardes com engenho e brio. Nas suas próprias palavras, Bernardes afirma que nas suas relações na corte “pudera converter-me / em mais diversas formas que Proteio” (Carta XXXI, vv. 10-11) e “sei mostrar rosto fengido” (Carta XI, v. 57). Esta alusão a Proteu não é despicienda. Revelar tal insinceridade não teria sido fa cilmente aceite por todos os leitores dos poemas de Bernardes, como demostram outros poemas nos quais Bernardes tenta provar que “Qual é meu coração, tal é meu rosto” (Ec XVI, v. 26). Como demostram os versos seguintes d’Os Lusíadas., a figura de Proteu não foi sempre interpretada duma maneira positiva: Nenhum ambicioso, que quisesse Subir a grandes cargos, cantarei, Só por poder com torpes exercícios Usar mais largamente de seus vícios; Nenhum que use de seu poder bastante, Para servir a seu desejo feio, E que, por comprazer ao vulgo errante, Se muda em mais figuras que Proteio. (Camões VII.84.5 –VII.85.4)

Mesmo se Proteu é invocado em várias obras literárias do renascimento como exemplo da destreza humana perante situações diversas, Erasmo lembra-nos que se deve

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Citamos como justificação: a carta IX, escrita por Frei Agostinho da Cruz, em que o irmão de Bernardes alude a uma "écloga antiga" deste (vv. 67-69); a carta VII que fala sobretudo da poesia amorosa; vários poemas que referem aos pseudónimos bucólicos das éclogas (Cartas XVII, XVIII, e XIX) e outro poema (Carta V, vv. 76-78) que sugere que Bernardes teria enviado outros poemas, como se a carta os devesse acompanhar, tendo posteriormente mudado de opinião.

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combinar a agilidade com firmeza moral. No seu provérbio sobre o pólipo, Erasmo declara que as mutações do pólipo “aconselham-nos [...] a adaptar-nos a cada contingência da vida, desempenhando o papel de Proteu e transformando-nos em qualquer forma que a situação requer [... Contudo, espero] que ninguém pense que este provérbio ensina um tipo repugnante de lisonja, que aquiesce a tudo em todos, ou uma inconstância imprópria no comportamento” (Adages. 133-4 – tradução minha). Uma tensão parecida encontra-se nos emblemas de Alciato onde a lisonja é considerada necessária mas também repreensível10. Como João de Barros ensina no seu Diálogo com dois filhos seus sobre preceitos morais em modo de jogo. (1563), é necessário encontrar um equilíbrio entre o adulatio e o contentio a fim de atingir a virtude de affabilitas.. No entanto, a atitude de Bernardes revela-se mais pragmática do que moral: sabe que é necessário adaptar-se para sobreviver. Como na carta XXXI já citada Bernardes até confessa o seu comportamento camaleónico (e o insucesso que resulta disso) para captar as boas graças do seu senhor, o que, ironicamente, constitui mais uma transformação cortesã. Com efeito, Bernardes foge ao conceito moral da poesia. O nosso poeta quer ganhar a sua vida pelos seus versos e assim não pode aderir às regras morais severas de outros poetas. Na sua carta XIV dirigida a António de Castilho, Bernardes declara: Se os escritores não culparam Nero, Quem pudera saber sua crueldade? Eneias pode ser que foi mais fero. Das musas o rigor ou amizade De fama escura ou clara nos faz dignos, Ou seja com mentira ou com verdade, Oh ditosos espritos peregrinos, Quem vos não ama e teme, não entende Que podeis dos mortais fazer divinos. Com força que do tempo se defende, Uns pondes no inferno, outros no céu; O vosso poder só tanto s’estende. (Carta XIV, vv. 85-96)

É evidente que Bernardes acredita no poder da poesia para alterar a nossa percepção de eventos históricos, mas isto não implica forçosamente que a poesia deva dizer a verdade. Este ideia não é, contudo, completamente original porque há um subtexto nestes versos. Bernardes imita alguns estrofes de Orlando furioso. onde Ariosto sugere, pela voz de S. João, que a decisão de comemorar uma personagem em verso depende inteiramente do salário que recebe o poeta: 10 Ver os emblemas ‘Contra los aduladores’ e ‘De el que no sabe lisongear’.

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Non sì pietoso Enea, né forte Achille fu, come è fama, né sì fiero Ettorre; e ne son stati e mille a mille e mille che lor si puon con verità anteporre: ma i donati palazzi e le gran ville dai descendenti lor, gli ha fatto porre in questi senza fin sublimi onori da l’onorate man degli scrittori. Non fu sì santo né benigno Augusto come la tuba di Virgilio suona. L’aver avuto in poesia buon gusto la proscrizion iniqua gli perdona. Nessun sapria se Neron fosse ingiusto, né sua fama saria forse men buona, avesse avuto e terra e ciel nimici, se gli scrittor sapea tenersi amici. Omero Agamennòn vittorioso, e fe’ i Troian parer vili ed inerti; e che Penelopea fida al suo sposo dai Prochi mille oltraggi avea sofferti. E se tu vuoi che ’l ver non ti sia ascoso, tutta al contrario l’istoria converti: che i Greci rotti, e che Troia vittrice, e che Penelopea fu meretrice. Da l’altra parte odi che fama lascia Elissa, ch’ebbe il cor tanto pudico; che riputata viene una bagascia, solo perché Maron non le fu amico. Non ti maravigliar ch’io n’abbia ambascia, e se di ciò diffusamente io dico. Gli scrittori amo, e fo il debito mio; ch’al vostro mondo fui scrittore anch’io. (Orlando Furioso, XXXV, xxv-xxviii)

Bernardes reutiliza no seu poema as imagens de Nero e Eneias provenientes de Orlando Furioso., mas elabora o texto-base de Ariosto, acrescentando o seu próprio exemplo de Júpiter e Plutão a fim de dar enfâse à ideia de que a característica mais im portante para um herói é “largas mãos” (XIV, vv. 97-100). Além disso, a frase “seja com mentira ou com verdade” parece-nos extremamente direta e questiona a autonomia da poesia como portadora de verdades universais e como texto edificante; uma concepção sustentada por outros poetas quinhentistas (Earle 1996, p. 12). Bernardes celebraria quem quisesse financiá-lo, mesmo se tivesse de mentir. Para elaborar a ideia de que Bernardes adapta os seus poemas a quem os leia, vamos considerar agora duas cartas d’O Lima.. D. Cristóvão de Moura e D. Francisco de Sá de Meneses são duas figuras frequentemente mencionadas na obra de Diogo Bernardes. São ambas apresentados como patro-

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nos do nosso poeta, e até aparecem na Écloga XVI como um par de protetores benévolos. Este poema data de entre o regresso de Bernardes de Marrocos (depois da batalha Alcácer-Quibir em 1578) e a morte de D. Francisco no 6 de dezembro 1582 (FardIlha 2003, p. 203). O poema também se refere a alguns outros poemas escritos “por Maio e por Abril” e a um casamento “proveitoso” que podem ajudar-nos a datar o poema com maior exatidão. Os sonetos de Bernardes dirigidos a D. Francisco nas Várias Rimas. Flores do Lima (1597) datam de entre dezembro 1580 quando D. Francisco foi nomeado conde de Matosinhos e 1582 quando ele morreu e poderiam ser os poemas aos quais Bernardes alude. O casamento aqui referido poderia ser o casamento de D. Cristóvão de Moura a D. Margarida Corte Real em 1581 (Martínez Hernández, p. 84). Estes detalhes sugerem uma data de composição para a Écloga entre 1581 e 1582. Neste caso, os ‘maus dias’ evocados por Bernardes devem referir-se à “miseranda situação do reino” (ueIroz Velloso, p. 5) depois da morte de D. Sebastião e durante o reinado do Car deal-Rei D. Henrique, um período de transição e apreensão em Portugal. A écloga constitui uma declaração de intenções ("vou à cidade, / E levo pés nas mãos; vou em maus dias, / Forçado da mais má necessidade” (vv. 7-9)) sendo assim uma alusão – entre muitas na sua obra – às dificuldades financeiras de Bernardes e os problemas (pessoais e económicos) enfrentados pelo poeta quando não reside em Lisboa. Contudo, este poema contém também vários louvores dos seus patronos. Na verdade, o diálogo da écloga trabalha por revelar as identidades, inicialmente dissimuladas, dos patronos para que estes sejam reconhecidos como mecenas – um aspecto do mecenato frequentemente sublinhado como importante (Shoemaker, p. 27). Naquela altura, Bernardes não poderia ter escolhido duas figuras mais importantes na vida política de Portugal. D. Francisco de Sá de Meneses foi um dos cinco governadores nomeados por D. Henrique para governarem o reino e decidirem o futuro rei do país. Conheceu uma trajetória exemplar na sociedade portuguesa e foi considerado ao longo da sua carreira como grande cortesão. Era rico e conhecido como poeta, assim como patrono de poetas. D. Cristóvão não foi menos influente: atingiu o zénite da vida pública espanhola como favorito de D. Joana (a mãe de D. Sebastião) e depois como “valido” e “amigo” do rei D. Felipe II. Conforme nota Santiago Martínez Hernández, D. Cristóvão teve grandes recursos financeiros e adquiriu uma fazenda enorme durante a sua vida (72). Como todos sabem, durante a crise da sucessão, D. Cristóvão foi o responsável pelas negociações sucessórias em nome de D. Felipe II, e segundo a maioria de historiadores foi devido à suas ações que D. Felipe pôde assumir a coroa portuguesa. No entanto, o seu protagonismo nestas negociações mancharam a sua imagem em Portugal. Martínez Hernández nota que desde o século XVII quase até os nossos dias,

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muitos historiadores criticavam a conduta D. Cristóvão, nomeando-o “fidalgo traidor” e “renegado português” (72-79). Como consequência, a sua notoriedade lançou sombras sobre a reputação dos governadores que acabaram por aceitar as imposições de D. Felipe (ueIroz Velloso, p. 5-27). Luís de Sá Fardilha, num artigo recente (2003), discutiu as acusações de ‘filo-castelhanismo’ proferidas por Queiroz Velloso no seu O. Reinado do Cardeal D. Henrique., sugerindo que não existe indícios suficientes para corroborar esta alegação. Assim é muito curioso que Bernardes considere as duas figuras como um par. Se Queiroz Velloso propõe que D. Francisco de Sá de Meneses “era apenas cauteloso; e por isso lhe não escreveu de relações particulares entre ambos” (160), é interessante que Bernardes evoque uma amizade antiga entre os dois na carta XXIX (v. 114), e, a meu ver, tente alavancar esta amizade para obter favores de D. Cristóvão. Antes de considerarmos esta carta (e uma outra dirigida a D. Francisco de Sá de Meneses) em maior detalhe, torna-se necessário discutir a questão do “filo-catelhanismo” do próprio Bernardes. Se examinamos a lista dos destinários das cartas de Bernardes, nota-se que muitas destas personagens se associavam com Castela duma forma ou outra: Pêro de Lemos foi o secretário da Marquesa de Alanisas, D. Elvira de Almansa y Borja, membro duma família castelhana muito importante e mulher do embaixador espanhol em Lisboa, D. Juan de Borja; António de Castilho escreveu um texto jurídico em favor das reivindicações de D. Filipe II durante a crise de sucessão; e Gaspar de Sousa e D. Cristóvão de Távora foram sobrinhos de D. Cristóvão de Moura, o famoso valido de D. Felipe. Na carta XXXII Bernardes descreve sem reserva os esplendores da corte filipina. Nesta mesma carta que relata a embaixada a Madrid liderada por Pêro d’Alcáçova Carneiro – um favorito de D. Catarina – torna-se muito evidente que Bernardes fazia parte de um grupo de nobres muito ligados à Castela. Nas Rimas Várias. Flores do Lima. (1597) dedica também um soneto ao Escorial. Visto que nos poemas de Bernardes não se manifesta uma afiliação política nítida, não é possível manter a ideia de que Bernardes tenha sido abertamente ou completamente a favor da ascensão de D. Felipe ao trono português, mas é claro que a sua rede intelectual e clientelar era com posta de muitas pessoas para quem a escolha de D. Felipe como monarca traria certas vantagens e que estas pessoas mantinham ligações com Espanha. Conforme nota Anthony Disney, isto não é surpreendente porque depois da morte de D. Sebastião “many nobles were opting for Felipe, sensing greater patronage potential from a monarch already so powerful” (195) e é verdade que a situação financeira de Bernardes melhorou no tempo da monarquia dual. Ao menos podemos afirmar que Bernardes não teria querido mostrar sentimentos anticastelhanos aos seus patronos. Para voltarmos à carta XXIX, alguns versos aí presentes tornam-se particularmente interessantes tanto na óptica da relação história entre D. Francisco de Sá de Meneses e D. Cristóvão de Moura como numa consideração do carácter proteiforme das cartas

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d’O Lima.. Bernardes declara a D. Cristóvão que “aquele valeroso e douto conde / A cujo nome o seu cantado Leça / E o grão Douro, com grande amor, responde” (i.e. D. Francisco) “já ouviu de mim”. (a enfâse é nossa). Esta frase “já ouviu de mim” é curiosa porque pode ser entendida num sentido literal. Oito estrofes deste poema replicam quase inteiramente algumas estrofes da carta XVI dirigido a este “valeroso e douto conde”, D. Francisco de Sá de Meneses11. A reprodução destas estrofes estabelece mais uma conexão entre as duas figuras. Contudo, dado que D. Francisco já morrera na altura de composição do poema mais tardio – este é o sentido dos versos ("cuja luz o céu esconde / Que na terra foi vosso amigo caro”) – parece-nos que, na carta XXIX, D. Cristóvão sucedeu D. Francisco como o patrono (ou intercessor diante o rei) do nosso poeta. Em geral, os versos reproduzidos são de carácter genérico que falam do mecenato – a sua importância e as necessidades económicas que obrigam ao poeta de granjear favores. Este facto leva-nos a considerar que Bernardes podia ter reescrito estes versos se qui sesse. A repetição, pois, tem de ser intencional. Os paralelos entre os dois textos estabelecem uma ligação entre estas duas pessoas na mente do leitor e implica que as declarações repetidas devem ser igualmente aplicáveis às duas. Além disso, sugere que D. Cristóvão sabia do papel de patrono desempenhado por D. Francisco e do projeto começado por Bernardes e D. Francisco perante o rei, ao qual referem os versos, “Fazei conta, senhor, qu’el-rei m’empresta, / a mercê que por vós dele pretendo, / Porque de vida já pouco me resta” (vv. 94-96), cujos versos paralelos são nos versos 34-36 da carta XVI. A secção repetida nestas duas cartas, porém, também contém um significado mais geral. É nestes versos que Bernardes propõe a sua concepção da relação ideal entre o poeta e o patrono. Sublinha o facto de que o mecenato consiste de um intercâmbio entre duas pessoas, ou, por outras palavras, que numa relação mecenática as duas partes dão e recebem duma forma recíproca: As mercês aos serviços s’acomodem, Acudindo com tempo o pobre aflito, Qu’ao rico, a qual mais, todos acodem. (Carta XXIX, vv. 100-102)

Bernardes exprime a sua lição sobre o comportamento do patrono perfeito em termos do vocabulário habitual dos Livros da Chancelaria nos quais “serviços” são recompensados por “mercês”. O verbo aqui usado por Bernardes ("acomodar-se”) revela, por ser bastante indireta, que esta relação não é de índole transacional — o Mecenas não paga. os poemas — mas integra-se num dar e receber aristocrático de generosidade e bom gosto. 11 Comparar Carta XVI vv. 10-15, 19-21, e 34-45 e Carta XXIX vv. 94-105.

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Apesar das implicações das semelhanças entre as cartas XVI e XXIX, contudo, as diferenças entre as duas cartas são de certa forma mais relevantes para uma apreciação das máscaras cortesãs usadas por Bernardes. D. Francisco de Sá de Meneses foi conhecido como poeta, como demonstram muitos poemas louvando a sua poesia e uma anedota nos Ditos portugueses dignos de memória .(n. 914, 333). Aliás, quando lemos cartas escritas por outros poetas do século XVI e dirigidas a D. Francisco, fica muito claro que ele foi também um mecenas importante. Por exemplo, na sua “Epistola a Dom Françisco de Meneses”, André Falcão de Resende agradece D. Francisco pelas “merçes” que recebeu deste (1: 423). É claro que Bernardes adapta a sua mensagem à reputação de D. Francisco na sua carta porque o nosso poeta fala sobretudo em termos relacionados à poesia. Bernardes alude ao rio Leça, conhecido como o rio celebrado na poesia de D. Francisco, e espera que D. Francisco julgue o seu mérito “tendo respeito / A Clio, a Calíope e a Talia” (v. 17), ou seja, às Musas. Também Bernardes declara que “se deste cuidado me vir fora” (v. 64), celebrará o pai de D. Francisco, D. João Rodrigues de Sá de Meneses, recorrendo assim ao orgulho familiar do seu destinário 12. Quanto a D. Cristóvão de Moura, Bernardes devia servir-se duma estratégia diferente. Em termos do mecenato, foi difícil convencer D. Cristóvão da sua importância e mesmo Góngora não conseguiu obter favores do valido de D. Felipe (Chaffee-Sorace). Face a esta informação, é significativo que a carta XXIX contenha 60 versos mais do que carta XVI, como se fosse muito mais difícil persuadi-lo em comparação com D. Francisco. Embora a secção central do poema seja igual à da carta XVI, é evidente que Bernardes se preocupava que D. Cristóvão não reconhecesse o papel importante que os poetas desempenham na sociedade. Com efeito, inicia-se a carta XXIX falando sobre este assunto: Senhor, em todo tempo, em toda idade, Diante reis, diante emperadores, Tiveram sempre as Musas liberdade; Ou pera celebrar com seus louvores Aqueles que por seus ilustres feitos De fama vêm a ser merecedores; Ou para reprender claro defeitos Doutros qu’a torpes vícios entregaram As obras, as palavras, os conceitos. (Carta XXIX, vv. 1-9)

Aqui Bernardes evoca a função epidíctica da poesia, assim dando-se a licença de falar muito francamente durante o resto do poema. Também lembra D. Cristóvão da

12 Conforme nota Sá Fardilha, a nobreza familiar foi uma preocupação de D. João Rodrigues de Sá de Meneses (2008, p. 22-23).

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importância da poesia que ele parece ter esquecido. Em seguida, o poeta celebra durante catorze estrofes as virtudes e a preeminência pública de D. Cristóvão, mas ao chegar ao verso 55, encontramos três linhas extramente audazes: Quem haverá, senhor, que não s’espante de não serdes às Musas um Mecenas, Se no mais, com mor rei, ides avante? (Carta XXIX, vv. 55-57)

Estas linhas contêm um tipo de lisonja – é o carácter senão perfeito de D. Cristóvão que faz tão extraordinário o facto de ele não ser mecenas às Musas– mas não há ne nhuma dúvida que estes versos constituem uma critica aguda e que Bernardes aproveita da licença que se deu nas primeiras estrofes do poema para “reprender claro defeitos”. A construção retórica da carta, portanto, é tal que D. Cristóvão deve sentir uma certa vergonha em ser tão importante na vida pública mas tão mesquinho no que concerne os poetas. A referência ao “mor rei” nestes versos, pode também ler-se como menção ao patrocínio generoso dos poetas feito por D. Felipe II: torna-se mais surpreendente – e talvez mais vergonhoso – que o valido de D. Felipe não dê mercês aos poetas, se o seu monarca é tão munificente. O que é interessante, a respeito do carácter poético de Bernardes e a sua mundividência, é o facto de que Bernardes admite que não é a primeira vez que pede favores de D. Cristóvão: Confesso que muito já me tendes dado, Mas confesso também qu’inda me vejo Ao peso da miséria estar atado. (Carta XXIX, vv. 70-72)

Aqui Bernardes imita uma imagem tirada do emblema de Alciato intitulado ‘Que la pobreza impide à subir à los ingeniosos’ em que: Colgado està de la derecha mano Un canto, y la siniestra està encumbrada Con unas alasque subirme en vano Trabajan, por que tanto la pesada Carga detiene, quanto de este llano La pluma sube à la region no hallada, Que ansi estuviera aqueste ingenio en alto Si mi pobreza no impidiera el salto.

Embora o poeta sugira que os seus intentos são muito humildes (vv. 76-83), não podemos ignorar que já recebeu muito do seu patrono, como ele próprio confessa. Para concretizar, se o poema foi composto após 6 de dezembro de 1582, quando D. Francisco de Sá de Meneses faleceu, sabemos que Bernardes já tinha sido nomeado “fidalgo da Casa Real” (que lhe facultava 500 cruzados em propriedades) e já tinha tomado hábito

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na Ordem de Cristo (que lhe deu uma tença anual de 200000 réis) 13. Mesmo se D. Cristóvão não ajudou o nosso poeta nestes assuntos, resta que Bernardes estará a exagerar quando declara que lhe falta “pão e pano” (l. 83)? Pelo poema inteiro, Bernardes menciona a largueza de D. Cristóvão. Diz que é “liberal” (l. 17), que tem um “esprito generoso” (l. 45), e que “Matéria dá o céu a vosso esprito / Pera se nos mostrar tal na largueza, / qual sempre no bom feito e no bom dito” (vv. 103-105). Estas menções constituem uma estratégia retórica para incentivar D. Cristóvão para mostrar a sua largueza a Bernardes. Durante a crise de sucessão, D. Cristóvão distribuiu o dinheiro do seu monarca liberalmente em Portugal para convencer a nobreza portuguesa a apoiar D. Felipe (Cabot, p. 155; Kamen, p. 170; ueIroz Velloso, p. 159). Talvez fossem estas ações que deram a Bernardes a ideia de pedir favores a D. Cristóvão. Todavia, é significativo que à ideia de largueza não é atribuída tanta importância na carta XVI como nesta. Como já dissemos, Bernardes teve mais dificuldades em convencer D. Cristóvão do valor do mecenato da poesia e assim teve que sublinhar esta questão. Daí podemos observar uma diferença importante entre as cartas XVI e XXIX que demonstra quanto Bernardes adapta à sua mensagem ao recipiente de cada carta. No contexto do género da carta em verso quinhentista, é claro que as cartas d’O Lima. não se conformam às nossa expectativas. Dados os apelos diretos de apoio financeiro que ocupam um lugar de destaque na sua obra é importante salientar o ecletismo das fontes literárias das suas cartas e tentar compreender a mundividência ali evidenciada nos seus próprios termos. Sugerimos assim neste artigo algumas fontes textuais para lançar uma nova contextualização da obra de Bernardes. A personagem do eu nas cartas d’O Lima. mostra-se proteiforme, mesmo se, por vezes, não deseja que seja considerada como tal, porque os cortesãos e as suas estratégias de transformação de personalidade eram frequentemente criticados. As diferenças entre as cartas XVI e XXIX mostram um aspecto cortesão do poeta e sugerem que uma nova abordagem da sua obra seria possível quando tomarmos em conta o sistema de máscaras da corte quinhentista.

13 Conforme nota Ana Filipa Gomes (2011, p. 67): A 16 de outubro 1582 Bernardes recebeu um alvará concedendo 500 cruzados em propriedades (Chancelaria de D. Felipe I, liv. 10, fl. 5). Em novembro 1582 recebeu uma tença anual de 20 000 réis com o hábito da Ordem de Cristo (Chancelaria da Ordem de Cristo, liv. 5, fl. 309v).

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