PROBLEMAS DE SEDIMENTOLOGIA DAS PRAIAS DO LITORAL DE ANGOLA (entre a foz do rio Coporolo e o Lobito) segundo Gaspar Soares de Carvalho. Breves apontamentos.

July 9, 2017 | Autor: I. Santo | Categoria: Fluvial Sedimentology
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PROBLEMAS DE SEDIMENTOLOGIA DAS PRAIAS DO LITORAL DE ANGOLA segundo GASPAR SOARES DE CARVALHO

Isaac Simão Santo ([email protected])

RESUMO O presente apontamento faz parte de um conjunto de textos geocientíficos acerca das províncias de Benguela e Namibe, num total de 150, recolhidos, analisados e catalogados conforme a Classificação Decimal Universal (BN, 2005) e citados de acordo com a Norma Portuguesa 405-1 (IPQ, 1995) na dissertação de que resultou a obtenção do grau académico de mestre em Ambiente e Ordenamento pela Universidade de Coimbra (FCTUC1) no ano de 2013. Apesar de ter tido como base o escrito por Soares de Carvalho, o seu autor não se coibiu de parte uma profunda reflexão e interpretação do texto original, completo de novidade científica desconhecida da grande maioria dos estudantes de Geografia no Ensino Superior, já que não se ensina. Assim, a sua publicação visa aclarar as formas pelas quais foi e é possível estudar esta parte do litoral angolano com destaque para as plataformas de acumulação e abrasão, assim como as suas fontes de alimentação, com realce para os rios Catumbela (no município da Catumbela), Cavaco (no município de Benguela, ao centro) e Coporolo (a sul da província, município da Baía-Farta, região do Dombe-Grande), respectivamente.

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O presente artigo é também uma forma de agradecimento à FCTUC, na pessoa dos Professores Doutores Alexandre Tavares e Alcides Pereira, orientadores da dissertação e de todo o pessoal de apoio afecto ao Departamento de Ciências da Terra da FCTUC.

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INTRODUÇÃO No presente trabalho sobre “Problemas de sedimentologia das praias do litoral de Angola (entre a foz do rio Coporolo e Lobito)”, Soares de Carvalho , baseou-se em três processos de análise, designadamente: Amostragem; Técnicas de análise e Parâmetros Página | 2 granulométricos, os quais são explicados no decurso do texto original. Não sendo, para já, chamados para o presente artigo, notamos que foram importantes na interpretação dos resultados da área investigada. SECTORES ESTUDADOS Para cumprimento das metas de investigação, Carvalho dividiu esta região em dois sectores: 1. Entre a foz do rio Coporolo e a Baía-Farta e 2. Entre as arribas a sudeste do farol do sombreiro e o Lobito. Não considera, entretanto, a zona entre a BaíaFarta e o sombreiro onde, segundo descreve, “além de arribas modeladas em formações cenozóicas, há também praias arenosas como as que envolvem os locais por si designados por «praia Azul» e «praia da Caota»”. A morfologia do sector estudado é regulada por dois níveis de terraços representados por duas plataformas distintas. A primeira é denominada plataformas de acumulação e a segunda plataforma de abrasão (as quais possuem diferentes alturas e com material detrítico disperso, plataformas essas separadas por vales secos na maior parte do ano). Para sul da Baía-Farta (1.ª zona), os depósitos areno-argilosos parecem, na sua opinião, constituir pequenos deltas (que têm na sua extremidade cordões arenosos semelhantes aos do litoral Benguela-Lobito) e estão ligados aos cursos anteriores que, segundo supõe, “teriam corrido nos vales do rio Pima (em geral, seco na actualidade) e em pequenos vales que se abrem nos arredores daspescarias vizinhas da Macaca” (Carvalho, 1963: 298). Depressões fechadas com solos do tipo solontchalk - nos quais foram instaladas salinas, encontram-se no meio dos cordões acima citados (a que insere na fase final, regressiva do Flandriano, ou no limite entre a zona dos depósitos areno-argilosos, deltaicos e os

depósitos arenosos), depressões estas que poderão condizer às antigas lagoas de barragem pelos cordões arenosos da regressão flandriana. Como fontes naturais de alimentação considera as arribas da ponta do Sombreiro, constituídas por rochas cenozoicas, e o rio Catumbela, cuja desembocadura está a sudoeste da flecha da restinga do Lobito. Isto é, o aumento exterior da flecha (restinga) do Lobito é proporcional ao desenvolvimento da flecha arenosa do rio Catumbela, ao contrário do que acontece com a parte interior desta, bastante afectada pela acção humana (através de descargas superficiais) e pela acumulação de areia por acção dos ventos, que tais transportam tais cargas desde o exterior da flecha. De acordo com Soares de Carvalho, que se atem mais às formas de acumulação, para a região do Lobito-Benguela (2.ª zona), a plataforma mais baixa corresponde a uma planície deltaica com depósitos areno-argilosos ligados à evolução do rio Catumbela, sendo que a evolução geomorfológica recente pode ser resumida no seguinte: 1.º Durante a transgressão flandriana ter-se-á construído o delta do rio Catumbela (sul do Lobito) o qual ocupou a sua posição actual já numa fase regressiva; 2.º Durante esta fase, seguinte ao máximo da transgressão, ter-se-ão acumulado os depósitos arenosos da faixa situada atrás das praias arenosas actuais. Por outro lado, refere que actualmente2 o comportamento transgressivo deste sector do litoral aniquila aqueles depósitos arenosos, pelo menos localmente. Nesta apontamento aborda igualmente os aspectos ligados ao coeficiente de

variação da mediana e do índice de dispersão de sedimentos das praias desde o Coporolo ao Lobito. Sobre este item, apresenta dois pontos distintos, a saber: 1. Sector da foz do rio Coporolo-Baía Farta, em que podemos destacar a existência de dois máximos de variação: um a este da ponta das salinas (valores mínimos, quase constantes) e outra logo a seguir à foz do rio Dungo (com valores máximos, muito devido as descarga deste na época chuvosa).

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Recorde-se que o autor se reporta ao ano de 1963.

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2. Sector corresponde ao litoral Benguela-Lobito (sob grande influência dos rios Cavaco e Catumbela). Em geral regista-se uma variação nos sedimentos, cuja avaliação sugere que as praias para o sul do rio Cavaco e nordeste da sua foz seriam alimentadas principalmente pelas aluviões deste rio e dos sedimentos acumulados na zona da pré-praia; que as praias a nordeste da foz do rio Catumbela dependem deste e da erosão das formações situadas na zona da antepraia. Em conclusão, pondo em consideração a a) provável alimentação das praias dos arredores de Benguela pelo rio Cavaco e suas aluviões, que também influenciaram a alimentação das praias situadas a nordeste do mesmo; b) e acção do rio Catumbela, de grande responsabilidade na alimentação das praias a nordeste da sua desembocadura e da própria restinga do Lobito; c) a influência das aluviões do rio Coporolo para as praias a sudeste da Baía-Farta e d) a erosão das arribas (cenozóicas) do sombreiro, este autor realça que a alimentação das praias destas zonas são exclusivamente de origem continental, ou seja, resultam “da destruição de formações que afloram os continentes” (Carvalho, 1963: 305). Entretanto, não deixa de fora a possibilidade destas também beneficiarem de depósitos grimaldianos submersos, “situados em frente dos litorais actuais” (ibid). Existe uma descrição gráfica no texto original relativa às curvas granulométricas das areias das praias entre o rio Coporolo e a Baía-Farta; entre as praias de Benguela e da foz do rio Catumbela assim como um esquema de locais de amostragem e curvas de variação dos parâmetros granulométricos e dos minerais pesados e ainda algumas estampas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Soares de Carvalho coloca os resultados do seu trabalho de campo num contexto mais voltado para as praias arenosas do litoral Sul de Benguela (propriamente na faixa Coporolo-Lobito). Preocupado quanto às fontes de alimentação das praias desta região, Carvalho recolhe e estuda amostras dos distintos sectores, resultando daí as diversas associações mineralógicas as quais permitem um melhor conhecimento sedimentológico do litoral de Benguela. Porém, por sugerir mais trabalhos nestes sectores para possíveis discussões do que submete ao conhecimento público, é nosso entender que este apelo deva ser levado em conta quando se desenvolvem trabalhos no interesse de se conhecer a sedimentologia do litoral de Benguela, em partiocular para os estudantes e decisores políticos responsáveis pelo ordenamento do território.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, G. Gaspar – Problemas de sedimentologia das praias do litoral de Angola (entre a foz do rio Coporolo e Lobito). Garcia de Orta. Lisboa: Revista da Junta de Investigações do Ultramar. Vol. 11, n.º 2 (1963), p. 291-331.

SANTO, Isaac Santo – Análise de documentos científicos no âmbito das Geociências sobre as províncias de Benguela e Namibe (Angola.) Coimbra: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. 2013. 199 p. Dissertação de mestrado.

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