PROCESSOS DE CRIAÇÃO COLETIVA A PARTIR DA CANÇÃO BRASILEIRA

June 3, 2017 | Autor: S. Igayara-Souza | Categoria: Music Education, Action Research, Brazilian Music, Canção Popular Brasileira, Processos Criativos
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PROCESSOS DE CRIAÇÃO COLETIVA A PARTIR DA CANÇÃO BRASILEIRA Maria Rita Brandão Machado/ Susana Cecilia Igayara Sabemos que é necessário libertar a educação e o ensino artísticos de métodos obtusos, que ainda oprimem nossos jovens e esmagam neles o que possuem de melhor. A fadiga e a monotonia de exercícios conduzem à mecanização tanto dos professores quanto dos discípulos. Não é a rotina que governará os ‘Seminários’, mas sim o espírito de pesquisa e investigação, pois é indispensável que, em todo ensino artístico, sinta-se o alento da criação. (H.-J. Koellreutter)

INTRODUÇÃO

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho é resultado de uma pesquisa de iniciação científica na qual pudemos integrar os conhecimentos adquiridos no curso de Licenciatura em música com experiências em situações de ensino e aprendizagem, utilizando a interação entre as linguagens da música e da dança. Tratou-se de uma pesquisa-ação que investigou processos de criação coletiva de arranjos vocais para obras do cancioneiro popular brasileiro em ambientes de aprendizagem musical.

Tratou-se de uma pesquisa-ação, em que a reflexão teórica está em constante diálogo com a prática. A pesquisa tem caráter qualitativo e sua “metodologia permite condições de investigar, a um só tempo, a própria prática docente, os processos criativos artístico-pedagógicos e o processo de aprendizagem, de modo crítico-reflexivo” (LATORRE, 2014, p. 8). Caráter de estudo de caso: analisamos a atuação junto ao grupo vocal Vozeiral, na condução do processo de criação de um arranjo vocal.

Objetivo geral: Discutir processos de criação coletiva de arranjos vocais para obras do cancioneiro popular brasileiro, a partir de atividades práticas e analíticas. Objetivos específicos: Levantar no universo da canção, obras que apresentem em seu conteúdo características relacionadas à tradição oral e à interação entre linguagens; Discutir e analisar procedimentos de ensino e aprendizagem em processos criativos, a partir da participação em atividades práticas e analíticas de bibliografia especializada; Apresentar propostas de exercícios envolvendo a interação entre linguagens e processos de criação coletiva; Produzir arranjos vocais para canções brasileiras a partir da criação coletiva, da interação entre linguagens e de procedimentos ligados à música e à educação musical do século XX

ESTUDO SOBRE A CANÇÃO BRASILEIRA Canção como mediadora do processo de ensino e aprendizado vocal; reconhecer o gesto cotidiano da fala e distendêlo ao canto. Levamos em consideração os seguintes aspectos: processos entoativos da fala na canção (Luiz Tatit); conceito de vocalidade (Paul Zumthor); relação com a oralidade. A partir de analise desses parâmetros, localizamos na obra de Dorival Caymmi uma série de canções que contemplavam nossas necessidades. “tem um quê de folclore, de canção de roda, de samba, sempre muito simples e despojado, com o mínimo de letra e com a melodia fortemente centralizada em apenas alguns motivos” (TATIT, 2002).

Nesse processo, levamos em consideração as ações do pesquisador enquanto educador durante os ensaios do grupo, no período de março a maio de 2014 e as participações como aluno em oficinas, workshops e cursos relativos a processos criativos e interação entre linguagens. Pesquisa bibliográfica nas áreas de educação musical, canção popular, processos criativos, arranjo vocal, práticas corais, dança contemporânea e eutonia, de onde tiramos os principais conceitos relativos a processos criativos e ensinoaprendizagem vocal e musical. Foram realizadas duas entrevistas semi-estruturadas, com Marcelo Gama (sobre a técnica dos Six Viewpoints) e com Beth Amin (sobre improvisação e técnica vocal). A coleta de dados dessas atividades foi feita a partir de registros em áudio, vídeo e de anotações pessoais.

PROCESSOS DESENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO DE ARRANJOS VOCAIS Estudo de arranjos: introduções/ finais; tratamento de vozes nos âmbitos da estrutura e da textura; procedimentos de estilos adotados. Atividades: escolha das canções; escuta; cantar as canções; trabalho com os conteúdos elencados; processos de criação coletiva.

RESULTADOS CONCEITOS FORMULADORES DA CONCEPÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA Pedagogia aberta, docente reflexivo (FLADEM/ A. Simonovich) Conceitos de aula-ensaio, professor-aprendiz e pesquisador-criador Aprender música fazendo música; aprendizado de arte contemplando a criatividade – Schafer; Koellreutter Concepção do processo de ensino e aprendizagem ênfase no processo; autonomia do individuo; erro como caminho para o aprendizado; requalificar os julgamentos; improvisação como ferramenta; conteúdos abertos, partir do grupo; Concepção de corpo no processo de ensino e aprendizagem Interação entre linguagens: Eutonia, Klauss Vianna, Six Viewpoints.

Listagem de canções que apresentam as características levantadas na pesquisa; Listagem dos exercícios adotados, criados e/ou adaptados para o processo e discussão sobre a aplicação dos exercícios no processo; Produção de arranjo vocal coletivo, apresentado em áudio e em partitura gráfica criada coletivamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma característica desse trabalho está em objetivar o processo. O processo de aprendizagem corporal leva o tempo de cada corpo, e esse tempo não se encerra no período de uma pesquisa. Nesse caminho, observamos que o grupo estudado produziu um arranjo que refletiu seu processo de aprendizagem, explorando os conteúdos trabalhados e se apropriando criativamente dos mesmos. A pesquisa-ação mostrou-se uma metodologia de pesquisa bastante enriquecedora do processo, promovendo reflexões profundas sobre os conteúdos abordados e relacionando-os à prática. Isso refletiu em nossa atuação como pesquisador, aluno e educador, e nos estimulou a ampliar nosso repertório e abrir nossa escuta para os procedimentos estudados e adotados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTHES, Roland. O obvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: O humano como objetivo da educação musical. São Paulo: Peirópolis, 2001. DASCAL, Miriam. Eutonia: o saber do corpo. São Paulo: Editora Senac, 2008. FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De Tramas e fios: Um ensaio sobre música e educação. São Paulo: UNESP, 2008. GAINZA, Violeta Hemsy de. La Improvisación musical. Buenos Aires: Melos de Ricordi Americana, 2009. GRAMANI, José Eduardo. Rítmica.São Paulo: Perspectiva. 2004. HAUCK-SILVA, Caiti. Preparação vocal em coros comunitários: estratégias pedagógicas para construção vocal no Comunicantus: laboratório coral do departamento de Música da ECA-USP. São Paulo, 2012. 193f. Dissertação (Mestrado em Música) USP. LATORRE, Maria Consiglia Raphaela Carozzo. Sonoridades múltiplas: práticas criativas e interações poético-estéticas para uma educação sonoro-musical na contemporaneidade. Fortaleza, 2014. 222f. Tese (Doutorado em Educação Brasileira). UFC. MACHADO, Regina. A Voz na canção popular brasileira: um estudo sobre a vanguarda paulista. Campinas, 2007. 114f. Dissertação (Mestrado em Música) UNICAMP. SCHAFER, R. Murray. O Ouvido pensante. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1990. SIMONOVICH, Alejandro. Apertura, identidad y musicalización: bases para uma educación musical latinoamericana. Buenos Aires: FLADEM, 2009. TATIT, Luiz. O Cancionista. São Paulo: EDUSP, 2002. TEIXEIRA, Paulo Frederico de Andrade. Samuel Kerr: um recorte analítico para performance de seus arranjos. São Paulo, 2013. 179f. Dissertação (Mestrado em Música) USP. ZUMTHOR, Paul. Escritura e nomadismo: entrevistas e ensaios. Trad. J. P. Ferreira e S. Queiroz. Cotia: Ateliê Editorial, 2005

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