Produção de oclusivas em ouvintes e surdos

June 8, 2017 | Autor: Joana Sevilha | Categoria: Linguistica, Surdos, Oclusivas, Raymond Nickerson
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Linguística Forense: Pistas Sonoras na Identificação do Falante






Produção de oclusivas em ouvintes e surdos












Docente: Fernando Martins
Discente: Joana Sevilha
Número: 41139








Agradecimentos

Gostaria de agradecer à Associação Portuguesa de Surdos pela ajuda, em especial, à Susana, que autorizou as gravações e se mostrou bastante disponível e prestável, e ainda à Helena e ao Jorge pela paciência durante as gravações.











Índice

Agradecimentos 2
Índice 3
Introdução 4
Metodologia 5
Characteristics of the Speech of Deaf Perfones, Raymond Nickerson 6
Comparação [p] vs. [b] 7
Comparação [t] vs. [d] 9
Comparação [k] vs [g] 11
Comparação rapaz surdo vs. rapariga surda 13
Conclusão 15
Referªencias 16












Introdução

O objectivo deste trabalho é demonstrar, através de espectrogramas, a diferença com que pessoas surdas e ouvintes produzem consoantes oclusivas. Vou-me basear no artigo de Raymond Nickerson (1975), que explica haver cinco tópicos específicos nas características da fala de pessoas surdas. Embora no seu texto Nickerson especifique quais os fones mais difíceis de articular para pessoas surdas, este não mostra exemplos dos mesmos.
As gravações são realizadas com consoantes oclusivas seguidas de vogais, para que melhor se perceba no espectrograma se tais fones são produzidos de uma forma constante por pessoas surdas ou se mudam consoante a vogal que os segue. Este trabalho não vai tratar do triângulo das vogais, apenas das consoantes oclusivas ([p], [t], [k], [b], [d], [g]).
Espero com este trabalho provar a existência de uma diferença na articulação do vozeamento das oclusivas por surdos e por ouvintes, mostrando que consoantes vozeadas produzidas por pessoas surdas, não só soam, como também aparecem no espectrograma de maneira igual (o fone [b] é igual ao fone [p], etc).
















Metodologia

Neste trabalho vou apenas trabalhar com gravações de uma rapariga surda, uma rapariga ouvinte e um rapaz surdo. As duas raparigas têm idade compreendida entre os 22 e 26 anos e o rapaz tem 34 anos. Estes falantes são todos naturais de Lisboa, de maneira que não houve problemas de regionalismos e dialectos na produção dos fones. A grande diferença entre os dois informantes surdos é o facto da rapariga não ter nascido surda, por motivos de doença ficou surda aos 2 anos. Enquanto o rapaz já nasceu surdo.
As gravações dos três informantes foram feitas a partir de um computador pessoal com o programa PRAAT. Pedi a cada informante que articulasse os fones [p], [t], [k], [b], [d] e [g] seguidos das vogais (ex: [pa], [pe], [bi], [bo], etc). Pedi também que eles repetissem o mesmo fone três vezes em cada gravação para melhor interpretação durante o processo de visualização. As figuras retiradas do espectograma utilizadas para a comparação são as que os informantes mais facilidade tiveram em produzir, sem qualquer esforço e com a maior naturalidade. No entanto, apenas as consoantes seguidas da vogal [a] foram utilizadas para a análise deste trabalho, pois a articulação das consoantes (oclusivas) é a mesma seguida das vogais [a], [e], [i], [o] e [u].
Irei começar por comparar as gravações da falante A (rapariga ouvinte) e da falante B (rapariga surda). No fim irei comparar as gravações da falante A e do falante C (rapaz surdo).











Characteristics of the Speech of Deaf Persons, Raymond Nickerson (1975)

Segundo o artigo de Raymond Nickerson, existem cinco tópicos principais nas características da fala de pessoas surdas (Nickerson, p.342). São estas tempo e ritmo (timing and rhythm), tom e entoação (pitch and intonation), controlo velar (velar control), articulação (articulation) e qualidade de voz (voice quality).
Nickerson escreve que já foram identificadas falhas na produção de certos fones, como por exemplo, a não distinção entre fones e a substituição de um fone por outro (Nickerson, 1975, p.351). Porém, ele afirma ainda não haver nenhum estudo profundo nesta área, daí nada estar devidamente catalogado e determinado ("No large-sample study has been conducted for the express purpose of cataloging the various articulatory problems that are found in the speech of the deaf (...)", Nickerson, p.351). "Failure to distinguish between voiced and voiceless consonants is another problem" (Nickerson, p.352). O autor parafraseia Calvert e Mangan, escrevendo sobre "surdsonant error", o que provoca que oclusivas vozeadas sejam percebidas como surdas, ou vice-versa.
O objectivo deste trabalho é dar início a esta catalogação, e talvez ser mais uma base de um futuro estudo sobre este tema.







Comparação [p] vs. [b]

A fig. 1 demonstra os fones [pa] e [ba] produzidos pela informante A. No sombreado do lado esquerdo apercebemo-nos do fone [p], seguido do fone [a] caracterizado pelo F1 abaixo de 1000Hz e do F2 perto dos 2000Hz. No sombreado do lado direito notamos uma clara diferença no primeiro fone. O informante articulou o fone [b], pois este é caracterizado pelo preenchimento mais à esquerda (vozeamento).


Fig.1 (Espectrograma dos fones [pa] e [ba] produzidos pela informante A)

A fig. 2, que tem gravado exactamente os mesmos fones (reparar apenas na selecção a vermelho) produzidos pela informante B, mostra apenas a imagem esperada para o fone [pa]. Note-se que embora a informante B, na sua consciência, esteja a dizer os fones [pa] e [ba], apenas articula o fone [pa], demonstrando uma falha no vozeamento durante a articulação da oclusiva [b].


Fig.2 (Espectrograma dos fones [pa] e [ba] produzidos pela informante B)










Comparação [t] vs. [d]

A fig. 3 mostra os fones [ta] e [da] produzidos pela informante A. A imagem do lado esquerdo mostra mais preenchimento ao início (comparando com o fone [p]) No lado direito, há mais preenchimento no início do fone [d] que marca o vozeamento da consoante.


Fig.3 (Espectrograma dos fones [ta] e [da] produzidos pela informante A)

No entanto, as fig. 4 e 5 já são mais difíceis de distinguir. Estes fones foram gravados pela informante B. Para além de se notar a prolongamento do fone da vogal (característica do discurso de uma pessoa surda), não se consegue distinguir o fone [t] do [d]. Aliás, o [t] da fig. 4 não parece um [t] normal, pois a informante B produz o [t] quase como se fosse um [ts].


Fig.4 (Espectrograma do fone [ta] produzido pela informante B)


Fig.5 (Espectrograma do fone [da] produzido pela informante B)

Comparação [k] vs [g]

Na fig. 6, estão representados os fones [ka] e [ga] produzidos pela informante A. O fone [k] é facilmente distinguível. Este tem uma maior explosão que [p] e [t]. Assim como o fone [g] com um claro vozeamento, demonstrando-se, assim, que a informante A articula as oclusivas (surda e vozeada) da forma esperada.



Fig.6 (Espectrograma dos fones [ka] e [ga] produzidos pela informante A)

No entanto, o espectrograma mais fora do comum é o da fig. 7 com os fones [ka] e [ga] produzidos pela informante B. O [ka] produzido por esta informante tem uma imagem no espectrograma muito similar à do fone [R]. Na própria gravação, o [ka] é perceptivamente idêntico ao [Ra]. Já o fone [g], no espectrograma parece-se mais a um [k]. Tal como as outras consoantes vozeadas produzidas pela informante B, este não mostra sinal de vozeamento.

Fig.7 (Espectrograma dos fones [ka] e [ga] produzidos pela informante B)










Comparação rapaz surdo vs. rapariga surda

A fig. 8 é o espectrograma dos fones [pa] e [ba] produzidos pelo informante C. Podemos afirmar que a fig.8 é quase uma cópia da fig. 2. Tanto o fone [p] como o fone [b] são articulados da mesma maneira, tal como está apresentado.


Fig.8 (Espectrograma dos fones [pa] e [ba] produzidos pelo informante C)

Na fig.9, estão representados os fones [ta] e [da] ditos pelo informante C. Tal como se pode reparar nas fig. 4 e 5, não há diferença entre o [t] e o [d]. Embora nas fig. 4 e 5 a informante B prolongue mais os fones, não há qualquer diferença nessas figuras e na fig. 9 na articulação das duas consoantes.


Fig.9 (Espectrograma dos fones [ta] e [da] produzidos pelo informante C)

A fig.10 representa os fones [ka] e [ga] ditos pelo informante C. Tal como na fig. 7, estes fones são articulados da mesma maneira, tanto pela informante B como pelo informante C. Mais uma vez, o informante C não articula a consoante vozeada.


Fig.10 (Espectrograma dos fones [ka] e [ga] produzidos pelo informante C)

Conclusão

Ao fazer este trabalho verifiquei que há, de facto, dificuldades na articulação do vozeamento das consoantes pelos informantes surdos, segundo escrevem Raymond, Thirumalai e Gayathri.
Os informante surdos (baseando-me apenas nos informante surdos cuja voz gravei) não têm qualquer dificuldade na articulação dos fones, no entanto não são capazes de produzir o vozeamento das consoantes oclusivas. Ao contrário da informante B, que apenas aos 2 anos, devido a uma doença, ficou surda, o informante C nasceu surdo. Poder-se-ia afirmar que a articulação da informante B seria melhor, pois esta falou até aos 2 anos. No entanto, não é isso que se verifica. Tanto a informante B como o informante C produzem as oclusivas surdas e vozeadas da mesma maneira, com as mesmas falhas.
Desta maneira e com estas provas, podemos concluir que devido a falhas na produção do vozeamento não há nada que indique que as pessoas surdas conseguem produzir as consoante oclusivas vozeadas.








Referências

Nickerson, Raymond S., (1975) Characteristics of the Speech of Deaf Perfones, Pp. 342-358.
Osberger, Mary Joe and McGarr, Nancy S., Speech Production Characteristics of the Hearing Impaired, http://www.haskins.yale.edu/sr/sr069/sr069_13.pdf
(consultado a 13/01/14).
Thirumalai, M. S. and Gayathri, S. G., (2004) Speech of the Hearing Impaired, Chap. 3, http://www.ciil-ebooks.net/html/speech/chapter3.html (consultado a 13/01/14).
PRAAT, http://www.praat.org






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