PRODUTIVIDADE DA CULTURA DE CENOURA EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO NAS CONDIÇÕES AGROECOLÓGICAS DO POSTO ADMINISTRATIVO DE UNANGO

PRODUTIVIDADE DA CULTURA DE CENOURA EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO NAS CONDIÇÕES AGROECOLÓGICAS DO POSTO ADMINISTRATIVO DE UNANGO Custódio Efraim Matavel1; Trindade dos Santos Celestino 2 RESUMO As propostas de espaçamento e densidade de plantio, para as culturas em geral, têm procurado atender às necessidades específicas dos tratos culturais e a melhoria da produtividade, dado que alterações em espaçamento e densidade induzem uma série de modificações no crescimento e no desenvolvimento das plantas. O presente trabalho foi realizado no campus Universitário da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Lúrio, no distrito de Sanga, posto administrativo de Unango, com o objectivo de avaliar a produtividade da cultura de cenoura em diferentes densidades de plantio. Foi montado um experimento cujo Delineamento foi em Blocos Completamente Casualizados com cinco (5) tratamentos (T1:30x5cm, T2:25x8cm, T3:25x5cm, T4:20x8cm e T5:20x5cm) e 6 (seis) repetições. Foram analisadas 6 variáveis nomeadamente: Diâmetro da raiz, número de folhas por planta, altura das plantas, comprimento da raiz, peso médio da raiz, massa de matéria seca da parte aérea e rendimento por unidade de área. A análise estatística foi feita com auxílio do pacote estatístico Sisvar, onde se fez a Análise de Variância (ANOVA) e a comparação de médias pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. Os resultados revelaram não haver diferenças significativas para as variáveis número de folhas por plantas, altura das plantas e comprimento da raiz, para as variáveis diâmetro da raiz, rendimento e peso da raiz apresentaram diferenças significativas entre as médias. Com o estudo conclui-se que o com o aumento da população de cenouras ocorre um incremento na produtividade total de raízes, porém poderá se diminuir a massa média de raízes.

Palavras-chave: Rendimento, Desenvolvimento radicular, densidade

1 2

Faculdade de Ciencias Agrárias da Universidade Lúrio, Departamento de Engenharia Rural Licenciando na Faculdade de Ciencias Agrárias da Universidade Lúrio, Curso de Desenvolvimento Rural

1. INTRODUÇÃO A cenoura (Daucus carota L.) é uma hortaliça pertencente a família Apiaceae, cuja parte comestível são as raízes e é uma das culturas de maior valor comercial. Esta é uma planta bianual, embora seja cultivada como anual, de raiz fusiforme, grossa e carnuda de cor normalmente alaranjada e de sabor adocicado. Actualmente, a China é o maior produtor dessa cultura no mundo, seguido pela Rússia e pelos Estados Unidos (Galleta, 1990). Vários factores influenciam o desempenho agronómico da cenoura. Tais factores são: variedades adaptadas ao sistema de cultivo comercial, dinâmica de crescimento, nutrição mineral, densidade de plantio, entre outros. (Lopes et al., 2008). Para o tamanho de raiz, por exemplo, o emprego de densidades menores propicia, em geral, a obtenção de raízes maiores, com alta frequência de deformações, e consequente redução da qualidade e produtividade. Ademais, o período mais quente do ano proporciona a obtenção de raízes mais curtas em relação ao cultivo dessa cultura durante o período mais frio do ano (Alves et al., 2010). Um dos factores que contribui para o baixo rendimento da cenoura decorre da escolha da densidade e melhor compasso para a produtividade desta cultura. Segundo Grangeiro (1997), referindo-se ao rendimento por unidade de área, uma densidade menor de plantas é menos produtiva do que uma de maior densidade. O uso de espaçamento e densidade de plantio ideais, para as culturas em geral, tem vista a atenção às necessidades específicas dos tratos culturais e a melhoria da produtividade. Todavia, alterações em espaçamento e densidade induzem uma série de modificações no crescimento e no desenvolvimento das plantas e necessitam de melhores esclarecimentos (Teófilo, 2006). No Posto administrativo de Unango a produção da cenoura ainda não é uma pratica comum dados fracos rendimentos obtidos, aliados ao não uso de densidades adequadas. Com presente estudo objectivou-se em avaliar o efeito da densidade no desempenho produtivo da cultura de cenoura nas condições agro-ecológicas do Posto administrativo de Unango.

2. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado no campus universitário da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Lúrio, localizado no posto administrativo de Unango ( figura 1), centro do distrito de Sanga, Provincia do Niassa a Norte de Moçambique nas coordenadas 12°52′46″S 35°24′23″E.

Figura 1: Localização da área do estudo. O distrito de Sanga está sob a influência da zona de convergência intertropical que origina duas estações bem definidas, a estação quente e chuvosa que vai de Dezembro a Março, com Abril como mês de transição e, a estação seca e fria de Maio a Outubro, com o mês de Novembro como de transição (MAE, 2005). Os solos desta região são predominantemente argilosos, vermelhos, profundos e bem drenados, associados a climas húmidos e sub-húmidos. Para a realização deste experimento, foi montado um ensaio com o uso do delineamento em Blocos Casualizados com 5 (cinco) tratamentos e 6 (seis) repetições onde o tratamento testemunha é T1 (30x5). Os tratamentos estão descritos na tabela a seguir:

Tabela 1: Descrição dos tratamentos usados no ensaio. Tratamento

Descrição

T1

30x5cm

T2

25x8cm

T3

25x5cm

T4

20x8cm

T5

20x5cm

Foram feitas a lavoura e gradagem do terreno no dia 20 de Fevereiro de 2015 e no dia 29 do mesmo mês, fez-se a demarcação da área e das parcelas de 3x2m. A área total do campo foi de 246.5 m2. A sementeira foi feita com uma densidade média de 3 sementes por covacho e três semanas após a emergência foi feito o desbaste deixando se as plantas mais vigorosas. Ainda no acto da sementeira foi feita uma adubação inorgânica, usando-se o composto NPK, na proporção 12-2412 e a quantidade usada foi de 500g/parcela. Foi usada a variedade Kuroda, proveniente da África do Sul. Efectuou-se no total duas (2) sachas, com o auxílio de enxadas, com o objectivo de eliminar as ervas daninhas existentes no campo de modo a evitar a competição com a cultura em termos de nutrientes, luz solar e água, A primeira sacha foi realizada 15 dias após a emergência e a segunda 5 semanas após a emergência. A rega era feita uma vez por dia em períodos alternados, no período de manha das 5 horas as 6 horas e no período de tarde era feita das 16 e 30 minutos as 17 e 30, só em casos de necessidade, uma vez que o ensaio decorreu no período chuvoso. Aos 40 dias após emergência, mediu-se a altura das plantas com auxilio de uma régua graduada em centímetros. Também foi feita a contagem do número de folhas por planta. Após a colheita, as foram feitas medições da altura média de plantas a partir do nível do solo até a extremidade das folhas mais altas. A massa de matéria seca da parte aérea foi determinada após a secagem em estufa, a uma temperatura de 55 °C, até atingir massa constante e expressa em g/planta. Foi medido o comprimento da raiz, usando-se a régua graduada em cm, mediu-se também o diâmetro da raiz com o uso de um paquímetro e por fim mediu-se o peso médio da raiz e o rendimento por tratamento com auxílio de uma balança. Após a colecta de dados, os mesmos foram submetidos aos testes de normalidade dos resíduos (shapiro-wilks) e de homogeneidade das variâncias (teste de Levene). Uma vez que os dados seguiam os pressupostos da normalidade

e homogeneidade, foi feita Analise de Variância (ANOVA) e as médias foram comparadas com o teste de Tukey a 5% de significância, usando-se o pacote estatístico Sisvar.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES No geral, para todos os tratamentos, os resultados mostraram que as plantas tiveram um bom desenvolvimento, pois de acordo com a Análise de Variância não se observou diferenças significativas para as variáveis número de folhas por plantas e altura das plantas (figura 2). Contudo, resultados contrários foram obtidos por Oliva et al. (1988), que observaram aumento da altura das plantas com o aumento da densidade de plantio.

Figiura1: Número de folhas/planta e Altura das plantas Foram observadas diferenças significativas em relação à matéria seca da parte aérea (MSPA), tendo o tratamento T1 (30x5cm), obtido melhor desempenho, com uma média de 6.82g/planta. O menor resultado foi observado no tratamento T5 (20x5cm). Resultados similares foram obtidos em um estudo feito por Lopes et al. (2008), em que o espaçamento com menos densidade, apresentou maior produção de matéria seca. O mesmo autor sustenta que o aumento da densidade populacional ocasiona a competição por recursos ambientais. Essa competição poderá ter resultado na redução da capacidade das plantas produzirem matéria seca da parte aérea da cenoura. Alves et al. (2010), salientam, dizendo que a competição intra-específica causa o aumento da pressão populacional. De acordo com os resultados da tabela 2, para o parâmetro comprimento de raiz, pôde se observar que os espaçamentos não afectaram de modo significativo, pelo teste de Tukey a um nível de significância de 5%, porém influenciaram no diâmetro médio. Os valores absolutos mostram uma tendência do tratamento T4 (25x5) em apresentar o maior comprimento médio da raiz, correspondendo a 13.08 cm. Quanto ao diâmetro médio da raiz, o tratamento 1 (30x5), apresentou melhor resultado, com um valor de 3.91 cm e o menor valor foi observado no tratamento T5, cujo valor foi de 2.54 cm. O emprego de espaçamentos maiores entre plantas,

para o tamanho de raiz, em geral, propicia a obtenção de raízes maiores, de acordo com Alves et al. (2010). Lopes et al. Obtiveram resultados similares em seu estudo sobre produtividade de cultivares de cenoura sob diferentes densidades de plantio. Estes resultados, apesar de estarem abaixo dos referenciados pela EMBRAPA (2004) para a variedade usada, mostram que as raízes obtidas no presente estudos são de comprimento e diâmetro médios de acordo com a classificação sugerida por Jairo et al. (1997). Tabela 2: Diferença de médias das variáveis estudadas entre tratamentos DMS Tratamento

DR

CR

Rendimento

MSPA

PMR

T1 (30x5)

3,91b

12,94a

24,67ab

6,82a

46,83ab

T2 (25x8)

2,72ab

12,35a

22,8a

5,41ab

38,83ab

T3 (25x5)

3,72ab

12,76a

35,03b

4,9bc

42,5ab

T4 (20x8)

2,92ab

13,08a

26,97ab

4,51bc

58,3b

T5 (20x5)

2,54a

12,04a

31,82ab

3,56 c

28,45a

CV%

23.73

21.24a

19.09

19.87

18.35

De acordo com Silva et al. (2003), o número elevado de plantas resulta em menor disponibilidade de radiação solar para as folhas localizadas na parte inferior da planta, acarretando o auto-sombreamento e a redução da taxa fotossintética por planta, resultando na formação de raízes com menor diâmetro. No entanto, até certo limite, ocorre a compensação da produção total pela elevação do número de raízes. Ainda de acordo com a tabela 2, o tratamento 4 apresentou melhor média em relação ao peso médio da raiz, cujo valor é de 58.03 g, deferindo-se apenas do tratamento 5 que apresentou um valor de 28.45 g. No entanto, plantas com maiores pesos médios das raízes foram obtidas nos espaçamentos que proporcionam menores densidades de plantio. Isso pode ser devido à competição intra-específica causada pelo aumento da pressão populacional da densidade da cenoura. Santos et al (2000) no seu estudo sobre diferentes espaçamentos no cultivo da cebola verificaram uma redução na massa do bolbo, à medida que ia aumentando o número de plantas por unidade de área. No tocante à variável rendimento, o tratamento 3 apresentou melhor média (35.03 t/ha) e o tratamento 2 teve a menor média. Larcher (1986) citado por Grangeiro (1997), referindo-se ao rendimento por unidade de área do solo, afirma que uma comunidade menos densa de plantas é

menos produtiva do que uma de maior densidade, o que pode explicar os resultados obtidos no presente estudo, uma vez que apesar do espaçamento entre linhas ser o mesmo, o tratamento 3 apresenta maior densidade pelo facto de ter um espaçamento entre plantas menor, que é de 5 cm. Siqueira (1995), em seu estudo sobre o espaçamento de plantio na produção de cenoura ‘Brasília’, nas condições de Mossoró/RN, obteve maior produtividade total e comercial quando aumentou a densidade populacional. De acordo com Barros Júnior (2004), quanto mais se aumenta a densidade populacional da cenoura, mais se aumenta a produtividade comercial. Barbedo et al, (2000), reitera que o arranjo das plantas é um factor do ambiente que afecta directamente o número de raízes comercializáveis, a produtividade e a qualidade da cenoura.

4. CONCLUSÕES Após a análise dos resultados, foi possível concluir o seguinte:  No geral, as plantas tiveram um bom desenvolvimento vegetativo, em todos os tratamentos, considerando-se que não houve diferenças significativas entre os tratamentos, em relação aos parâmetros número de folhas e altura das plantas. Contudo, à medida que se aumenta a densidade de plantio, há uma diminuição na capacidade das plantas produz matéria seca suficiente, devido a competição por factores ambientais.  A densidade de plantio tem maior influência na qualidade da raiz para a cultura de cenoura, em relação ao desenvolvimento da parte aérea da planta.  O aumento na densidade de plantio na cultura de cenoura resulta num acréscimo de comprimento e diâmetro de raízes, no entanto, até certo ponto há compensação da produção total pelo aumento do número de plantas;  Como aumento da população de cenouras ocorre um incremento na produtividade total de raízes, porém poderá se diminuir a massa média de raízes.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES S. V., Negreiros M. Z. Martins C. Nunes, G. (2010). Qualidade de cenouras em diferentes densidades populacionais. Rev. Ceres, Viçosa, v. 57, n.2, p. 218-223, mar/abr. Brasil. BARBEDO ASC, CÂMARA FLA, NAKAGAWA J & BARBEDO CJ (2000) População de plantas, método de colheita e qualidade de sementes de cenoura, cultivar Brasília. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 35:1645-1652. BARROS JUNIOR, A. P. (2004). Densidades populacionais das culturas componentes no desempenho agroeconômico do consórcio cenoura e alface em bicultivo em faixa. 77p. Dissertação (Mestrado em Filotécnica) – Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Mossoró/ RN. EMBRAPA/SEDE. (2004). Qualidade e Segurança dos Alimentos. 61 p GALLETA, C.E.K. (1990). Levantamento da participação do estado de São Paulo no mercado de hortigranjeiros. Campinas, CATI, 49p. GRANGEIRO, L. C. (1997). Produção de cenoura consorciada a cultura de alface sob diferentes densidades com igual nível de adubação orgânica. JAIRO,V.V, HOMERO,B.S.V, PESSOA. MAKISHIMA (1997). Instruções técnicas da Embrapa Hortalicas-cultivo da cenoura (Daucus carota L.). JÚNIOR, C.V.M; OLIVEIRA, J.M; MOTA L.C.BM, (2004) Avaliação da qualidade e produtividade da cenoura com diferentes densidades de plantio. Uberlândia LOPES, W. A. R.; NEGREIROS, M. Z. TEÓFILO, T. M. S. ALVES, S. S. V. MARTINS, C. M. NUNES, G. H. S. GRANGEIRO, L.C. (2008). Produtividade de cultivares de cenoura sob diferentes densidades de plantio. Revista Ceres, v. 55, n. 5, p. 482-487. MAE (Ministério da Administração Estatal) (2005). Perfil do distrito de Sanga província do Niassa. República de Moçambique, Maputo: Ministério da Administração Estatal. OLIVA, R.N.; TISSAOUI, T.; BRADFORD, K.J. (1988). Relationships of plant density and harvest index to seed yield and quality in carrot. American Society for Horticultural Science Journal , Alexandria, v.113, n.4, p.532-537. SANTOS H.S, TANAKA M.T, WATANABE S.H, ARANTES P. IVONE T.T (2000) Produção de cebola em função de tamanho de muda e espaçamento. Horticultura Brasileira, 18: 556-557. SILVA JBC, VIEIRA JV, MACHADO CMM & LIMA GB (2003). Rendimento das cultivares de cenoura Alvorada e Nantes Forto cultivadas sob diferentes espaçamentos. Horticultura Brasileira, 21: Suplemento 2 SIQUEIRA, G. A. S (1995) Espaçamentos de plantio na produção de cenoura ‘Brasília’ no município de Mossoró-RN. Mossoró/ RN. ESAM 23p. (Monografia – Graduação em Agronomia) TEÓFILO, T.M (2006). Desempenho produtivo de cultivares de cenoura sob diferentes espaçamentos de plantio. UFERSA, Mossoró, RN. Brasil.