PRODUZIR COMUM, RESISTIR E CRIAR NA UNIVERSIDADE

July 7, 2017 | Autor: E. Araújo Lima | Categoria: Estética Y Política, Politica Universitaria
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1 (invadir, ocupar, retirar-se, amar, compor, recusar, associar-se, desejar, fazer comunidade) PRODUZIR COMUM, RESISTIR E CRIAR NA UNIVERSIDADE Elizabeth M. F. Araújo Lima1

Tudo é político. Mesmo na composição da mais ínfima partícula existe uma política molecular que se reflete na própria sociedade para desmanchar as formas macroscópicas de poder JEAN-CLET MARTIN

(SE) OCUPAR (D)A UNIVERSIDADE onde se discute dois momentos em que os estudantes e suas ocupações geraram acontecimentos na Universidade de São Paulo

Foto de Renata Buelau

Em novembro de 2011, durante a madrugada de uma terça-feira, um grupo de 73 estudantes que havia ocupado a reitoria da Universidade de São Paulo (USP), foi retirado e levado ao 91º Distrito Policial por cerca de 400 policiais da tropa de choque, além de dois helicópteros águia, esquadrão antibombas, cavalaria, Grupo de Ação Tática Especial (GATE) e Comando de Operações Especiais (COE). (FEDEROWSKI et al., 2011)

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Professora do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP; coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional; orientadora no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP- Assis.

2 A ação de criminalização de um movimento político e social, bastante similar a outras que temos assistido a Polícia Militar (PM) protagonizar na cidade e no estado, teve o objetivo de colocar fim à movimentação que visava discutir e problematizar, justamente, a presença da PM no campus e seus modos de agir. A crise política instaurada por este acontecimento vem se arrastando desde então, deixando exposta a ferida aberta pela falência do diálogo no interior da USP. Ocupações pelo mundo têm invadido o noticiário político. Em 2011 houve “uma eclosão simultânea e contagiosa de movimentos sociais de protesto com reivindicações peculiares a cada região, mas com formas de luta muito assemelhadas” (CARNEIRO, 2012: 7): a primavera árabe levava àqueles países a ocupação de praças que se espalhou pelo mundo e culminou com o Ocupy Wall Street. As ocupações são nossas antigas conhecidas e remetem ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com sua prática de ocupar terras improdutivas, criando impasse político, levanto à criação de assentamentos para famílias do movimento e inserindo na agenda política a discussão da distribuição de terras no Brasil. As ocupações do MST reúnem famílias que “passam a viver nos acampamentos, nas beiras de estradas, enfrentando dificuldades no seu dia a dia para morar, dormir, descansar e comer, mas encontram um refúgio na organização coletiva de uma comunidade, onde todos enfrentam os mesmos problemas juntos”. (MST, 2009 apud PINHO, 2010, p. 5) No primeiro semestre de 2007, estudantes da USP haviam ocupado, juntamente com integrantes do MST, o prédio da Faculdade de Direito no Largo do São Francisco, na Jornada de Lutas pela Educação do MST. No final desse mesmo ano, os estudantes invadiram a reitoria da USP com o intuito de discutir decretos do governo Serra que feriam a autonomia universitária. Instalaram-se ali por mais de um mês, com festas, almoços, encontros culturais, apresentação de música e muito debate político. Invadiram, ocuparam, ensaiaram a construção de uma outra sociabilidade, de outras formas de organização, e descobriram ali uma potência que não conheciam, experimentando participar politicamente do mundo, construir um mundo comum. Existe? É possível? Embriagaram-se. E não era para se embriagar? Num mundo em que a esfera pública é cada vez mais invadida pela exibição de atividades e experiências privadas, finalmente experimentar a convivência e a existência em um espaço público não é pouca coisa. E foi assim que os estudantes nos contaminaram com sua embriaguez, levando professores e funcionários da USP a nos juntarmos a seu movimento. (LIMA et al., 2007)

3 Com aquela ocupação os jovens abriam espaço para novas formas de luta e para a invenção de uma nova política, ao instaurarem um verdadeiro acontecimento na universidade. Acontecimento que, como diz Deleuze, não se explica pelos estados de coisa que o suscita, mas também não se esgota naquilo em que torna a cair. (DELEUZE, 2006) Eles se elevaram por um instante, produziram novas maneiras de sentir, de se encontrar; experimentaram novas formas de agir. É este brilho que é preciso agarrar. É a ele que é preciso estar atento. Qual o mundo que temos construído na Universidade de São Paulo? Que universidade pública é esta que reproduz em seu interior as desigualdades da economia de mercado e na qual os estudantes de Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Fonoaudiologia durante 15 anos assistiram aulas em um barracão provisório. Barracão que só foi possível deixar no início de 2012, quando foi finalizada a construção do nosso bloco didático. E é preciso não esquecer que a construção desse prédio foi resultado do movimento de 2007: esta era uma das pautas negociadas pelos estudantes da USP para a desocupação da reitoria e dizia respeito às condições impróprias de aula para os Cursos de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional e a urgente necessidade de construção de um prédio com salas de aulas apropriadas para esse conjunto de alunos e professores. O movimento de 2007 terminou com muitas conquistas, mas o grande ganho desse movimento foi ter colocado em questão a própria estrutura de poder da USP. Abriu-se, assim, a possibilidade de vislumbrarmos uma nova democracia no interior da universidade, de questionar feudos e espaços encastelados de poder, de discutir de forma aberta e coletiva à democratização do acesso e as diferentes experiências de ações afirmativas que têm sido criadas em outras universidades públicas em nosso país. No entanto o desafio de construir efetuações para o campo de possíveis que foi enunciado com aquele acontecimento, ainda é o nosso hoje. A criação de dispositivos e de formas de organização que possam encarnar este possível que começamos a entrever, ainda está por ser feito, pois passado o calor dos acontecimentos, voltamos todos à nossas salas, aos nossos computadores, à nossa angústia sem fim por estarmos sempre aquém daquilo que supostamente deveríamos ser e fazer. E a discussão sobre a presença da PM no campus - que levou à ocupação da reitoria em 2011 e culminou com a ação policial e a prisão dos estudantes -, encontrou uma comunidade universitária em marasmo. Comunidade que, em seu conjunto, parecia indiferente à presença, cada vez mais ostensiva, da polícia e a suas ações intimidadoras e discriminatórias, como a revista de estudantes na porta de bibliotecas.

4 Da mesma forma, a discussão de um novo estatuto para a USP esfriou num contexto em que os professores, cada um a seu modo, buscam sobreviver e insistem no trabalho na universidade pública, muitas vezes sem se dar conta que este trabalho tem se tornado cada vez mais privado. Privado não somente no que diz respeito às formas e critérios de financiamento das pesquisas, ou ao espaço cada vez maior ocupado pelas fundações; mas privado, sobretudo, no sentido que lhe dá Hannah Arendt (2000), destituídos que estamos, cada vez mais, de ligarmo-nos e separarmo-nos uns dos outros por um mundo comum e de realizar algo mais permanente que a vida de cada um. Ficamos privados do mundo comum quando nossas ações e nossos discursos ao invés de construírem a teia das relações entre os homens, são cada vez mais reduzidos a um labor voltado à manutenção da sobrevivência individual - presente na tão propalada expressão “publish or perish” -, e à produção de conhecimentos a serem rapidamente consumidos no mercado das publicações, que com a mesma rapidez se tornam obsoletos. Os estudantes estão perdidos, os professores também. As tentativas de ação política caem no vazio, mesmo que compartilhemos um acúmulo de insatisfações que vão, desde inquietações mais gerais com o modo de vida que nos atravessa a todos, e que passa com certeza pelo tratamento dado às questões da educação pública de caráter, cada vez mais administrativo-burocrático, chegando à experiência cotidiana numa universidade marcada por desigualdades, burocracia, estruturas hierárquicas. As forças de modelização se mostram mais fortes hoje, quando parece que já “entendemos” do que se trata o trabalho universitário e estamos mais ajustados à engrenagem da produção de conhecimento. Neste contexto, a ocupação da reitoria acabou na delegacia. Estamos anestesiados. Jeanne Marie Gagnebin (2008) em sua conferência no seminário “Vida Coletiva”, da 27ª. Bienal de São Paulo, utiliza-se das análises do sociólogo alemão Georg Simmel, para dizer que o excesso de estímulos, demandas e exigências leva o homem moderno a desenvolver mecanismos para se proteger da quantidade imensa de informações a que é submetido diariamente e não sucumbir física e intelectualmente. Esses mecanismos de proteção tomam a forma de uma atitude de indiferença e frieza, e dão lugar a uma sociabilidade marcada pela indiferença em relação ao outro. Uma indiferença que muitas vezes torna-se o primeiro grau de um sentimento de hostilidade para com o outro. É preciso nos darmos conta de que a indiferença diante do que acontece em nosso próprio território, com nossos colegas, nossos estudantes, é uma faceta da indiferença mais geral, que nos anestesia e que desenvolvemos para poder continuar.

5 Essa marca de indiferença e frieza também esteve presente no entorno da universidade, na relação que este ambiente estabeleceu com o movimento dos estudantes. A ocupação de 2011 foi tratada pela mídia como ação de uma minoria de baderneiros que se consideravam dignos de tratamento diferenciado. Quando a polícia entrou em cena foi sob aprovação dos meios de comunicação que faziam coro à declaração do governador Geraldo Alckmin de que “a lei é para todos”. Mas, como diz Raquel Rolnik (2011) “Vale lembrar ao governador (e à imprensa) que nossa legalidade não é feita apenas de infrações penais, mas também de direitos. Isso vale dentro e fora da USP. Ou seja, são inaceitáveis, igualmente, as desocupações violentas em favelas, os despejos forçados de milhares de pessoas sem teto e sem terra, as abordagens humilhantes a moradores de rua, as execuções sumárias, entre tantas outras situações cujos agentes são a mesma PM que está hoje na universidade.” O enfoque da imprensa banalizou as ações da polícia, invertendo o sentido da luta dos estudantes. Estes estavam problematizando a presença e os modos de ação da PM em todos os espaços sociais, começando pela violência vivida em seu cotidiano. Ao colocar em foco o estado policial em que vivemos, buscavam desnaturalizar a força policial como solução para todos os conflitos, nas periferias das cidades, nos acampamentos de trabalhadores sem terra, nas invasões de prédios abandonados no centro da cidade, na criminalização dos movimentos sociais. A leitura da situação veiculada pela mídia cria uma imagem falsa da universidade como um espaço isolado, oásis de privilégios. No entanto, o que esses acontecimentos nos mostram é que a universidade é e sempre foi uma instituição, entre outras; como toda instituição social, realiza e exprime a sociedade da qual faz parte; expressa e constitui um modo de vida. Como nos ensina Marilena Chauí (2001), nossa universidade é parte integrante e constitutiva do tecido social oligárquico e autoritário que marca a sociedade brasileira e sempre trabalhou em íntima associação com os modos de produção que organizam a sociedade a cada momento. Em outubro de 2011, um mês antes da ocupação que acabou na delegacia, Vladimir Safatle falou, a pedido dos estudantes da USP que estavam reunidos no Vale do Anhagabaú participando do movimento Ocupa Sampa. Disse que as pessoas ali reunidas eram parte de uma engrenagem montada inesperadamente em várias partes do mundo, em torno de uma noção central: “nossa democracia não existe ainda, nossa democracia ainda não chegou, nós ainda esperamos uma democracia por vir”. (SAFATLE, 2012: 47)

A MÁQUINA UNIVERSITÁRIA onde se discute a universidade como uma maquinaria de produção de subjetividade

6 Knowledge Gerald Raunig (2003) nos fala Em seu texto Modulation Mode: Factories of Knowledge, de um desenho satírico dos anos 1970, do artista alemão Gerhard Seyfried, no qual a universidade recebe os estudantes com um “Bem-vindos “Bem à máquina!”. O autor acrescenta que na visão aqui veiculada de universidade como fábrica não é somente o conhecimento que se torna uma mercadoria, mas também os modos de subjetivação dos produtores do conhecimento.

Desenho de Gerhard Seyfried

A ideia principal deste desenho, segundo Raunig, é simples: a universidade-fábrica universidade é uma máquina monstruosa, na qual estudantes, diversos e diferentes ao início do processo, são transformados em pessoas uniformes adequadas para a exploração numa sociedade uniforme. uniforme Para o autor, em tempos de mercantilização e comodificação do conhecimento e de transformações econômicas que colocam as universidades na lógica do mercado e da homogeneização, essa metáfora da universidade como uma fábrica parece mais adequada do que nunca, mas não vai suficientemente longe. No contexto do capitalismo contemporâneo - que alguns chamam de capitalismo cognitivo ou de semiocapitalismo -, a aquisição de conhecimento e a formação permanente, aparecem como obrigação de cada um e conduzem à produção de uma subjetividade e um modo de vida que se encaixa bem na estrutura do mercado globalizado. Uma auto-disciplina auto permanente é um componente central de uma formação continuada ao longo da vida, vida que aparece mais como um imperativo e um aprisionamento aprisionam que como possibilidade de emancipação ou veículo para a ascensão social.

7 Podemos somar a este quadro, o incentivo exponencialmente crescente à produção acadêmica por parte da engrenagem universitária, que se expressa em infindáveis concursos, nas formas de avaliação dos programas de pós-graduação e no rankeamento das universidades pelo mundo, introduzindo e acirrando a lógica da competição entre pesquisadores e universidades. Este incentivo é acompanhado de um aumento significativo dos programas de pósgraduação que, associados à formação permanente, buscam criar um mercado consumidor para a quantidade impressionante de papers e pesquisas que são produzidos a cada ano. De fato, a grande questão da sociedade atual, na qual os processos de produção se aceleram em ritmo alucinante, não é produzir, mas destinar essa produção; em nosso caso, inventar um mercado consumidor para artigos, dissertações e teses. No fim das contas, num capitalismo de sobre-produção (DELEUZE, 2000), trata-se sempre do problema de saber o que fazer com o lixo que produzimos. Em relação à sobreprodução semiótica, quando uma quantidade excessiva de signos circula em nosso meio saturando nossa atenção e nossa sensibilidade, não é diferente. Como diz Tom Zé (2013), “e o lixo lógico cresce, cresce, cresce. Que fazer com tanto lixo lógico?” E a questão se desdobra: como discriminar aquilo que não é lixo em todo esse lixo? A invasão do trabalho de pesquisa por processos burocráticos infindáveis preenchimento de formulários, currículos, relatórios de produtividade – é acompanhada por um gerenciamento empresarial da produção acadêmica, do tempo de trabalho e do tempo da produção de professores e estudantes, e invade os espaços do pensamento. Como afirma Nicolau Sevcenko, O professor ideal agora é um híbrido de cientista e corretor de valores. Grande parte de seu tempo deve ser dedicado a preencher relatórios, alimentar estatísticas, levantar verbas e promover visibilidade para si e seu departamento. O campus vai se configurando num imenso pregão. O gerenciamento, de meio acabou se tornando fim na universidade. A ideia é que todos se empenhem, no limite de suas forças... (SEVCENKO, 2000, p.7) Neste contexto a sujeição social do trabalhador do conhecimento aparece conjuntamente com modos de subjetivação de escravidão maquínica. A adaptação forçada ao internamento institucional, e o controle do tempo em contratos de “regime de dedicação exclusiva” são acompanhados por novos modos de governo de si em um meio totalmente transparente e aberto no qual a disciplina – através de vigilância e punição, e, não nos esqueçamos, da presença da polícia – se associa a visadas liberais de um auto-controle voluntário. E, mesmo que o tempo do trabalho possa ser interrompido, tenha sua

8 intermitência, a produção tornou-se temporalmente sem fim, ilimitada – abrange todo o tempo de nossa vida. Assim, nós - professores, estudantes e funcionário de universidades -, somos parte de um amálgama de repressão e auto-governo, num contexto em que controle e disciplina caminham de mãos dadas numa combinação sinistra. Aqui, como em muitos outros lugares do contemporâneo, tornam-se visíveis e experimentáveis as palavras de Italo Calvino, com as quais uma colega e amiga, Isabel Ghirardi, um dia me presenteou: O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço. (CALVINO, 1990: 150) Para reconhecer o que não é inferno e preservá-lo, temos que saber ver o inferno: ficar atentos ao tipo de maquinaria que está operando para bloquear a composição de planos que sustentem o fluxo de afetos, de desejo, de criação; e saber perceber a presença das máquinas de desejo, micromáquinas moleculares, incrustadas nas grandes máquinas sociais. (ADAIME, 2007).

COMUNIDADES DE PRÁTICAS, COMUNIDADES DE EXPERIÊNCIA, COMUNIDADES EXPRESSIVAS: POLÍTICA DA AMIZADE E PRODUÇÃO DO COMUM NA UNIVERSIDADE no qual se aborda formas a produção de comunidade na universidade através do relato de duas experiências

É esta a atitude ética que queremos cultivar: reconhecer em meio a engrenagens que fazem proliferar a competição, o excesso, a repetição serializante, o controle e a violência, aquilo que é composição, justeza, criação, liberdade e delicadeza; e cuidar desses espaçosmomentos-acontecimentos, preservá-los, fazê-los viver, dar-lhes um lugar. Assim é com muitos habitantes desse mundo esquisito e ao mesmo tempo tão igual aos outros, que é a universidade. Queremos problematizar nossa ação, procurar qual o conhecimento realmente necessário para aqueles envolvidos numa pesquisa e como compartilhá-lo de modo que interesse a este coletivo e a outros que possam dele se beneficiar, e não apenas àqueles que financiam as pesquisas, aos fatores de impacto dos

9 periódicos científicos ou aos rankings das universidades. Queremos, enfim, participar da construção de um mundo comum. No campo de interface entre a saúde, as artes e as trocas sócio-culturais, que é o nosso, quando pesquisamos a produção de saúde, de vida e de subjetividade que se dá em experiências clínicas e estéticas, nos defrontamos com saberes que aí se atualizam. Como falar dessas experiências? Como fazer falar a experiência? Como passar do fazer, do saber relacionado a este fazer, do conhecimento tácito (POLANYI, 1960) aí envolvido, para um conhecimento não mais silencioso, mas que possa acessar a dimensão da linguagem? Como fazer da experiência um conhecimento compartilhável? É este o sentido da produção acadêmica? Para isso que produzimos textos? Haveria outras formas de fazer falar a experiência e compartilhar o saber? Sandra Galheigo (2011) considera que as práticas e a produção de conhecimento podem ser melhor desenvolvidas de forma coletiva, através de comunidades de práticas, como sugerem alguns autores de língua inglesa. O termo foi cunhado por Wenger para quem todos nós pertencemos a comunidades de prática; elas são parte integrante de nossas vidas. Para este autor, as comunidades de prática se constituem em “grupos de pessoas que compartilham uma preocupação, um conjunto de problemas, uma paixão por determinado assunto, e que aprofundam seu conhecimento na área ao interagir regularmente”. (WENGER, MCDERMONT E SNYDER, 2002, apud GALHEIGO, 2011, p. 4) Autores de língua francesa utilizam a expressão comunidade de experiência. No âmbito dos estudos sobre juventude, migração e violência, a comunidade de experiência é entendida como algo que contribui para a construção de um sentimento de pertença a uma comunidade indizível. Ela se faz em um território que dá sentido à existência do sujeito, relacionada à vida de um bairro ou de em grupo. (BELBAHRI, 2006). Annie Tardits (1998 apud PASSOS, 2012) utiliza a mesma expressão, comunidade de experiência, para falar de uma forma de comunidade de saber na qual podemos nos comunicar, compartilhando o que sabemos fazer. Seria este um caminho para reinventar a relação com o saber na universidade? Um caminho que se coloca em confronto aberto com a privatização do saber, o incentivo à competição e o isolamento a que somos condenados no trabalho universitário. Mas será que somos mesmo condenados ao isolamento num ambiente acadêmico no qual a capacidade de trabalhar em conjunto e cooperar é uma habilidade cada vez mais requerida? Sabemos que a produção contemporânea precisa do relacionamento e da comunicação. Resta-nos pensar se haveria diferenças e quais seriam, entre a cooperação requerida pelo capitalismo cognitivo e a produção de comunidade que aqui tentamos pensar.

10 Deixemos esta questão nos acompanhar enquanto busco falar de práticas nas quais a construção de comunidades de experiências, que são também comunidades de saber, levam a invenção de comunidades expressivas, já que, no caminho que vai da experiência e do conhecimento prático à possibilidade de pensar e compartilhar o que sabemos fazer, somos levados a criar formas de expressão, linguagens, experimentamos dizer. Para isso gostaria de fazer uma apresentação breve de duas comunidades expressivas que se instalaram no interior de universidades públicas, buscando experimentar outras formas de trabalho nesses espaços: o Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional e o Coletivo Conexões: saúde coletiva e políticas da subjetividade. O Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional, é um grupo de pesquisa ligado ao Curso de Terapia Ocupacional (TO) da USP que há 15 anos vem reunindo terapeutas ocupacionais, estudantes, artistas e pesquisadores de diferentes áreas em torno de ações na interface das artes e da saúde. Falar dessa experiência é falar de um encontro para o qual somos arrastados quando estamos trilhando um percurso de vida. Ao imaginarmos e gestarmos coletivamente um Laboratório de pesquisa, um programa de extensão à comunidade, disciplinas práticas e teóricas na graduação e na pós-graduação, um curso de especialização, fomos sendo levados uns para perto dos outros no processo de realizar nossa alma. Pois a alma se faz “à estrada larga, na companhia daqueles cuja alma os leva para junto dela” (LAWRENCE apud INFORSATO, 2005, p. 60). Nossas ações no campo do ensino, envolvem o desenvolvimento de várias disciplinas no Curso de TO da USP, voltadas para a formação de profissionais para atuarem na interface da produção de saúde com as artes, a cultura e as linguagens do corpo. Paralelamente a isso, acompanhamos e desenvolvemos pesquisa junto a estudantes da graduação e da pósgraduação, que investigam essas práticas híbridas. No âmbito da extensão de serviços à comunida criamos o PACTO – Programa de Composições Artísticas e Terapia Ocupacional – que propõem e articula ações em parceria com projetos no território da cidade. Essas ações compreendem propostas grupais de atividades artísticas e corporais e o acompanhamento de pessoas em situação de vulnerabilidade social decorrente de deficiências, sofrimento psíquico, fragilidades clínicas ou sociais extremas. E assim fomos tecendo nossa rede, nos associando a um ateliê de arte em um centro de convivência, a um grupo de teatro que inova na linguagem e na composição, a um coral que canta e dança a diferença, a um coletivo de criação, a grupos que passeiam pela cidade ... Iniciativas potentes de experimentação do espaço público e da arte de viver junto.

11 Atuando neste programa fomos recebendo, acolhendo e acompanhando pessoas e grupos que, nas palavras de Eliane Dias de Castro (2001), vivenciam situações limites e desse lugar encontram um fio que articula fragmentos de suas histórias a momentos criativos. Encontrar e acolher essas pessoas, implicou em acolher em cada um de nós a emergência de uma descontinuidade em nossa experiência, para que, a partir da nova sensibilidade que o encontro com o outro instaura, fosse possível construir uma nova relação e sustentar o desenvolvimento de seus mundos possíveis. No acompanhamento desses processos de invenção e reinvenção da vida individual e coletiva, encontramos uma força subjetiva, coletiva da qual nos fala Toni Negri (2001), capaz de resistência diante de um modelo universal que se caracteriza por excluir massas inteiras de uma pretensa universalidade inclusiva. A partir desse cruzamento de linhas de vidas, muitos encontros se deram: com diferentes matérias expressivas e práticas estéticas, com os usuários do programa, com os alunos, estagiários e bolsistas, com outros profissionais, com os projetos parceiros, que foram atravessando e se compondo com nosso trabalho, produzindo uma alegria que, entrelaçada com cansaço, excesso de exigências, frustrações e trabalho duro, tem sustentado nossa passagem pela universidade. Esses encontros forjaram a criação de um coletivo que se arriscou a desenhar com consistência, força e vitalidade uma terapia ocupacional voltada para o intensivo, ao mesmo tempo em que produzia uma ampliação da vida, da sensibilidade e da potência de cada um dos envolvidos, de agir e de ser afetado pelo mundo. Nesse processo, criação, pensamento, pesquisa, cuidado e convivência, em íntima conexão, engendraram experimentações estéticas, mestrados, esculturas, monografias, filmes, doutorados, fotografias, diários de campo, posters, artigos, manchas de cor, traços sobre o papel, lençóis bordados, corpos, formas de vida, de encontro, de troca, de enriquecimento mútuo. Produções que buscam fazer corpo com um acontecimento, em configurações semióticas que são ao mesmo tempo produção de território existencial e produção de um mundo comum. Elas instauraram uma obra coletiva, marcada por uma associação particular entre pesquisa, arte, saúde, terapia ocupacional e vida, na qual conhecimentos são produzidos em íntima conexão com exercícios de cuidado e compartilhamento de saberes. (LIMA et al., 2011). Outra experiência que gostaria de trazer aqui é a de um coletivo transdisciplinar composto por pesquisadores e estudantes de diferentes universidades – UNICAMP, USP, UNIFESP, UNESP -, e por profissionais da rede de saúde e do campo das artes, que tem se reunido para experimentar formas de diferenciar e diferir do e no modo hegemônico de

12 pensar, ensinar e compartilhar saber. Experimentamos, assim, um agenciamento - coletivo pensante, afetivo, conectivo - que sustenta e dá passagem a uma variedade de trajetórias singulares, configurando para elas e com elas, terras, moradas, abrigos. O Coletivo Conexões: saúde coletiva e políticas da subjetividade surgiu a partir de um interesse comum em fazer atravessarem-se saúde coletiva, filosofia da diferença, corpo e arte. Nos encontros há espaços para discussões teóricas, compartilhamento de práticas clínicas, estéticas, institucionais, de gestão, e também para experiências grupais com diferentes linguagens artísticas, como performance, grafite, música, entre outras. Não poderia deixar de mencionar os banquetes nos quais filósofos e pensadores de todos os tempos e lugares “baixam” nos corpos dos participantes do coletivo, que assim fazem passar idéias e proposições inesperadas, experimentando “pensar diferentemente”. Neste coletivo, a construção de uma comunidade ou de um plano comum de questões e inquietações é ela mesma objetivo dos encontros e dos processos de pesquisa que ali são engendrados. Neste percurso, o problema da expressão ocupou um lugar de destaque, no desafio de construir espaços em que situações clínicas pudessem ser pensadas, pesquisadas e ganhar visibilidade e dizibilidade à altura do que acontece. As experiências performáticas no grupo tornaram-se procedimento de estudo e têm funcionado como dispositivos de provocação, a partir dos quais somos levados a explorar linguagens diferentes daquela mais usualmente acadêmica, e a inventar diferentes formas de pesquisar e de compartilhar nossas práticas e saberes. E talvez mais que isto, diferentes formas de construir nossos percursos na universidade, à medida que vamos experimentando uma política da amizade. Essa contaminação artístico-afetiva se dá no sentido de realçar na pesquisa, na clínica e no ensino, as dimensões criativas que atravessam esses campos, instalando-os na perspectiva de um paradigma estético. Isto porque, como nos explica Guattari (1992), se a arte não detém o monopólio da criação, ela leva ao extremo uma capacidade de invenção de qualidades de ser inéditas, afirmando os processos de criação como fonte existencial e máquinas autopoiéticas. A tentativa de criar uma intercessão entre arte e pesquisa está, portanto, no bojo de um conjunto de ações que buscam fazer com que as práticas de pesquisa possam “se constituir em acontecimentos que reinauguram processos coletivos, subjetivos e sensíveis”. (CARVALHO et alli, 2012). Para onde essas experimentações apontam? Não sabemos. Muitos desdobramentos são possíveis, incluindo a produção de artigos e a elaboração de projetos de pesquisa coletivos. Mas, se podemos ter um projeto de pesquisa como produto desses encontros,

13 muitos outros produtos emergem o tempo todo, entre eles o próprio plano comum que se engendra a cada momento. Numa conversa recente, em um dos encontros do grupo, um dos companheiros dessa viagem, Ricardo Teixeira, nos disse que via o coletivo como uma TAZ – uma zona autônoma temporária. Hakim Bey propõe pensar as TAZ como espaços que se fazem e desfazem, “evitando enredamentos com soluções permanentes” (BEY, 2003: 22), mas que pelo tempo que duram, catalisam intensidades e desejos. Sim somos temporários, essas comunidades de que estamos falando aqui também são. Mas queria evidenciar e problematizar aqui uma outra qualidade das TAZ para além de sua efemeridade: a proposta de criação de uma zona de autonomia. Zonas autônomas se movendo no interior de universidades, dependentes de muitos pontos que as sustentam; e é a variação de sua dependência que pode potencializar sua autonomia. Sim, essas comunidades de que estamos falando aqui são construídas no interior de universidades e tem fortes vínculos com elas: disciplinas de graduação e pós, diferentes engajamentos institucionais dos participantes, espaços físicos das universidades. Porém ao aliarmos esses experimentos a laços de amizade, a desejos, a práticas estético-poéticas, à alegria de encontros que aumentam nossa potência de agir, aumentamos os pontos de dependência (dependemos, para existir, de nosso desejo, de nossa alegria) e assim nos tornamos mais autônomos em relação aos entraves e às molduras institucionais, ganhamos maior liberdade de ação. Comunidades de experiência, comunidades de práticas, comunidades expressivas, esses espaços nos dizem de uma produção de comum. E se o comum foi seqüestrado, expropriado ou manipulado, também na universidade, trata-se de reinventá-lo. Nas palavras de Peter Pelbart “Por em comum o que é comum, colocar para circular o que já é patrimônio de todos, fazer proliferar o que está em todos e por toda parte” (PELBART, 2003, p. 29). Neste movimento de “por em comum”, de fazer comum, vamos experimentando abrigar uma multiplicidade de singularidades associadas em redes de afetos, instaurando uma guerrilha no/do sensível, numa exploração de veredas de um outro mundo possível. Para Deleuze (2006) partilhar alguma coisa é remar junto, é estar no mesmo barco. Nessas zonas autônomas temporárias estamos por um tempo, partilhando o mesmo barco. Acompanhamos-nos em nossa estrada larga. Praticamos uma ética ao exercer composições nas quais aqueles que estão envolvidos se mantêm diferentes, do começo ao fim da relação. (SANTANA, 2001).

14 A UNIVERSIDADE AINDA É UM CAMPO DE LUTAS POLÍTICAS onde se encerra nossa contribuição com a afirmação da importância de suscitarmos acontecimentos na universidade

Foto de Renata Buelau

O Estado, segundo Foucault (2000), é uma forma de poder político de caráter ao mesmo tempo individualizante e totalizante, que se desenvolveu desde o séc. XVI, no interior de uma dinâmica administrativa pautada na racionalidade política moderna, e que dispõe de um conjunto específico de técnicas, instituições e aparatos, entre eles, a polícia. As Universidades Públicas são ao mesmo tempo espaços públicos, regiões de experimentação e produção do comum e instituições do Estado. O embate entre a polícia e múltiplos coletivos da comunidade acadêmica evidencia a tensão entre essas forças que habitam a universidade: a polícia, os estudantes, o Estado, o mercado e as práticas de produção do comum. Em uma Economia Cognitiva, linguagem, interação, comunicação e conhecimento são elementos essenciais para a produção de riqueza, e a capacidade de trabalhar em conjunto e as habilidades de cooperação, comunicação e relacionamento, são cada vez mais requeridas. Mas o que nos é requerido no mercado globalizado da produção de conhecimento é um tipo muito específico de cooperação .... No capitalismo contemporâneo, ao serem postas em funcionamento, essas habilidades de comunicação e relacionamento são imediatamente modeladas e vampirizadas, fazendo a cooperação ser acompanhada de um sentimento profundo de isolamento. Isto porque, cooperação aqui acontece no bojo de uma avaliação permanente que acirra competições e rivalidades, e, atravessando cada um, contrapõe os indivíduos entre si e divide-os em si mesmo. (DELEUZE, 2000).

15 Se a produtividade do conhecimento e do trabalho afetivo é cada vez mais baseada na criatividade e autonomia para o trabalho, isto está associado a novas formas de controle e organização do trabalho que operam sobre as condições do pensamento e do comportamento. Essas formas de controle incidem dentro da cabeça e do coração, “produzindo as condições de trabalho na esfera da subjetividade” e instrumentalizando as relações sociais. As consequências disso são, segundo Akseli Virtanen (2011), novas formas de sofrimento marcadas por desordens comunicacionais diversas e estados mentais precários. A questão que se coloca, então, é a de pensar que forças estão presas e constrangidas para fins de produtividade? Como liberar o campo corpo-espaço-outro para fins de produção de outras potências de vida? (FERRACINI et al., 2013) Para Foucault, não podemos aceitar o estado de assujeitamento que nos é imposto; pelo contrário, devemos lutar contra esse empobrecimento do mundo relacional em que vivemos. Assim, para o autor, hoje, ao lado das lutas contra a dominação e contra a exploração, tornam-se cada vez mais importantes as lutas contra as formas de submissão da subjetividade. (FOUCAULT, 2000). Esta batalha contra o empobrecimento do tecido relacional se daria pela intensificação da imaginação e pela invenção de modalidades de relação que escapem, em alguma medida, ao tipo de relação que é proposto em nossa sociedade. Neste contexto uma política da amizade emerge como aposta na experimentação de outras formas de trocas entre os indivíduos e de novos modos de vida. (FOUCAULT, 2004). A amizade é, para Foucault (2010), uma questão de existência, com potência para instaurar um campo coletivo de experimentação de maneiras de ser ainda improváveis. Neste campo pulsam forças afetivas que traçam linhas diagonais no tecido social, escapando aos laços legais ou normalizadas pelas instituições. Uma política da amizade se faz também num tensionamento das diferenças e na variação contínua dos modos de relação. A cada movimento, novas composições. Cada nova relação que fazemos, um mundo de possíveis que se abre e que pede acolhimento e envolvimento para que possa ser desenvolvido. Sabendo que a efetuação de possíveis é ao mesmo tempo um processo imprevisível, aberto e arriscado. Não podemos nos furtar a este desafio. Nosso trabalho é vital e diz respeito às obras inerentes à viagem que é a nossa vida. E se a universidade revela a sociedade de que é parte, os movimentos em seu interior podem indicar novas composições das forças em jogo no panorama atual. Raunig (2003) nos propõem pensar os lugares da produção de conhecimento não apenas como lugares de transformação de conhecimento em mercadoria e de exploração da subjetividade de todos os que deles participam, mas também e especialmente como lugar de novas formas de conflito e de novas formas de luta. Num mundo em precarização e dispersão, as escolas e universidades

16 são ainda lugares onde uma concentração é possível, como foi um dia a fábrica: lugares onde há uma intensificação dos encontros e onde a valorização do trabalho e as formas de resistência estão concernidas. Pensar a dimensão política dessas práticas de produção do comum implica reinventar a idéia de ocupação: ocupar espaço, território, tempo, mas também e, sobretudo, ocupar o intensivo de acontecimentos que não se esgotam em um prédio, em uma ação, em uma praça, em um momento. Podemos, assim, vislumbrar uma ocupação que possa também ocupar o intensivo, ocupar-se do intensivo. Falamos aqui de práticas que possam inserir barricadas no tempo, invadir espaços, e ocupar um espaço-tempo intensivo do acontecimento, fazendo as intensidades afetivas atravessarem a instituição, pegá-la no contrapé. Assim, precisamos levar a sério a palavra de ordem pichada nos muros da ocupação da reitoria da USP de 2007: trata-se de ocupar permanentemente a reitoria que existe em nós. Cada um de nós tem uma reitoria, um palácio do governo, regiões de concentração de poder muitas vezes enrijecidas. É preciso ocupar essas regiões, investi-las, torná-las nítidas para nós mesmos. Mas também é preciso que experimentemos formas e momentos de esvaziá-las, desocupá-las. Desocupar abrindo espaços vazios para que a novidade que o acontecimento anuncia possa encontrar formas de expressão e de organização das novas forças em jogo. Nas palavras de Deleuze (2000: 218): Acreditar no mundo é o que mais nos falta; nós perdemos completamente o mundo, nos desapossaram dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou engendrar novos espaços-tempos, mesmo de superfície ou volume reduzidos. É ao nível de cada tentativa que se avaliam a capacidade de resistência ou, ao contrário, a submissão a um controle. Necessita-se ao mesmo tempo de criação e povo.

BIBLIOGRAFIA

(No processo de confecção desse texto arrastei comigo uma matilha de amigos, atuais e virtuais. Assim, esse processo acabou por se constituir num exercício de produção de um plano comum de enunciação, experimentado com michel e erika e renato e akseli e hanah e bel e raquel e claudinha e félix e eli e denise e ricardo e tanya e henrique e sandra e italo e jeanne marie e sergio e mariangela e ná e mi e Jean e cesar e nicolau e patrícia e renata e sabrina e tom e marilena e edu e thabata e toni e yara e vladimir e bruna e peter e gerald e flávia e rafael e gilles e ... e ... e ..... )

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