PROFESSOR NA FRANÇA TEM QUE TER MESTRADO

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PROFESSOR NA FRANÇA TEM QUE TER MESTRADO1

Itamar Freitas

Não estou tratando do ensino superior! O professor do ensino primário e secundário na França tem que possuir o diploma de mestre, obtido em curso de dois anos. A decisão, de 2008, foi implantada em julho de 2010. Para alguns, a iniciativa deve-se ao péssimo desempenho dos Institutos Superiores de Formação de Mestres (IUFM), na função desde 1990. Para outros, trata-se de orientação da União Europeia – a mastérisation dos professores. Juliette Vincente e Céline Martelet, por outro lado, revelam a possibilidade de o governo ter economizado 30.000 vagas de estágio docente remunerado, ocupadas por egressos dos IUFM (http://www.rmc.fr/editorial/49853/sarkozy-enterre-liufm/). Quem tem razão não sabemos – quem sabe todos? Mas entre os que comemoram a “extinção branca” dos IUFM estão as universidades clássicas. Elas perdem um concorrente e saboreiam a vitória dos seus cursos tipicamente acadêmicos – predominantemente carregados com material produzido pela pesquisa de ponta que pode encontrar correspondente direto ou indireto nas disciplinas escolares da educação básica. (No Brasil, e para o curso de História, poderíamos citar as matérias “epistemológicas” – Teoria da História, Metodologia da Pesquisa – e as “de conteúdo” – História do Brasil e História da América). Como ficou então a formação docente depois de 2010? O percurso agora caracteriza-se por uma licenciatura de três anos e o master dois anos. No IUFM de Paris (I, IV, VII – 2012/2013) o master de História e Geografia é ofertado mediante conférences mutualisées e cours magistraux (conferências proferidas por vários professores e aulas expositivas) sobre Geografia geral, da França e dos conflitos, Ensino e Aprendizagem da História e da Geografia, Epistemologia da História e da Geografia, Novas Tecnologias e História e Geografia, Orientações sobre os conteúdos do exame nacional de admissão à carreira docente, módulos opcionais sobre História da Arte, e Estágios de prática docente e de observação da prática docente,

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FREITAS, Itamar. Professor na França tem que ter mestrado. In: MAYNARD, Dilton. GETEMPO: memórias de uma coluna na Internet. São Cristóvão: Multifoco, 2014. P. 81-83. ISBN: 9798584730780.

desenvolvidos durante duas semanas, em cada ano do mestrado. (Cf. http://portail.paris.iufm.fr/). Este programa é suficiente para melhor qualificar o professor francês? Para Ptrick Rayou (2011), professor de ciências da educação da Universidade Paris-VIII, a mastérisation separa ainda mais as possibilidades de diálogo entre os saberes acadêmicos e os saberes profissionais específicos da docência – adquiridos via pesquisa educacional e prática de ensino no interior das escolas. Ele sentencia: “A justaposição de uma lógica de concurso e de uma lógica de pesquisa amplia ainda mais a carga de trabalho dos candidatos sem criar condições para a circulação entre os universos da teoria e da prática”. Sabemos que a França está bem longe daqui e a sequenciação licenciaturamestrado-exame não se reproduz entre nós. No entanto, as experiências narradas estimulam a refletirmos sobre a função e a natureza dos nossos mestrados profissionais, o uso das 400 horas de estágio de prática ensino e os desdobramentos do futuro Exame Nacional da Carreira Docente sobre a formação inicial. Os mestrados profissionais são embrionários. Na UFS, por exemplo, não há um mestrado voltado para o ensino. Algumas iniciativas fora de Sergipe, infelizmente, tentam reproduzir o desenho do mestrado acadêmico, mantendo a hegemonia da pesquisa de ponta e a olímpica distância com o universo da escola. As 400 horas para a prática docente (2001) são um estorvo para formadores públicos, uma vez que todo tipo de argumento é aventado para o seu não cumprimento: os alunos trabalham tempo integral, escolas não oferecem vagas, os formadores são incompetentes para a função, estágio não dá prestígio, etc. Quanto ao Exame Nacional da Carreira Docente (ENCD), o governo ensaia lançá-lo há três anos. Se sair no governo Dilma, se “pegar”, como “pegou” o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), se equilibrar os componentes da formação, se houver muita nota baixa e, ainda, se Jornal Nacional puser em manchete os resultados – “Exclusivo: a formação inicial nas universidades brasileiras não ensina a ensinar!” –, é provável que soframos uma pressão por parte dos graduandos, pais de alunos e, até, dos sindicatos de professores no sentido de reformular os desenhos curriculares, pondo em diálogo os saberes acadêmicos e os saberes e fazeres necessários à ação docente no cotidiano das salas de aula.

...Mas é muito “SE” para aguardar. Não acham?

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