Profissões em extinção: o caso do fotógrafo lambe-lambe

June 30, 2017 | Autor: Marcelo Horta | Categoria: Patrimonio Cultural
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M ARCELO H ORTA M ESSIAS F RANCO

P ROFISSÕES EM EXTINÇÃO : O CASO DO FOTÓGRAFO

L AMBE - LAMBE

FFFoootttooo::: M M Maaarrrccceeelllooo FFFrrraaannncccooo

Belo Horizonte 2004

M ARCELO H ORTA M ESSIAS F RANCO

P ROFISSÕES EM EXTINÇÃO : O CASO DO FOTÓGRAFO

L AMBE - LAMBE M ONOGRAFIA

APRE SENTADA

D E P A RT A M EN T O A N T RO PO LO G IA F I LO SO F IA

E

DE

S O CIO LO G IA

P A RA

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C IÊN CI A S H U MA N A S

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F A CU LD A D E

DA

U N IV E RS I D A D E F ED E RA L G E RA IS

AO

DO

M IN A S P A RC IA L

T Í TU LO

DE

C IÊN CIA S S O CIA I S

Belo Horizonte 2004

2

3

Agradecimentos Aos meus pais, José Mauro e Vera Lúcia em primeiríssimo lugar, pelo amor incondicional, bom exemplo de conduta e alegria pelo que são; à minha Ju, com muito amor a toda sua família; aos irmãos para sempre Daniel e Ana Cristina e, aos tantos outros que agente vai ganhando pela vida: José, Cristiano, Letícia, Guilherme, Leandro, Pablo, Renato e todo mundo (“galera”), a todos os primos, tios e tias do coração; aos ami gos da minha primeira e inesquecível turma na UFMG, Marina, Guilherme, Beatriz, Rosana, M árcio, Cristiano, Pedro, Bira e Jade; aos que mudaram no meio do caminho..., que tão cedo partiram, Juan, e também Júlio(in memorian), pelo tempo de convívio e aprendizado mútuo. Aos amigos da publicidade, aos colegas de música, aos bares dessa cidade e a todo(a)s colegas de estágio. Aos amigos Maurício de Jesus, Neuzinha Santos e Beth (PBHRegional Noroeste), a todos os amigos do Parque, René Vilela, Marietta Maciel, à Ana Beltrão, Tatiane, Iolanda, Conceição, S.M anoel e todos mais. A ‘Tia’ Hélvia Vorcaro pelo apoio na revisão, e ao Léo, Bela, Nininha e “Sô Miguel”(in memorian); À eterna amiga,especialmente, vó Hildette pela convivência, seus conselhos, nossas conversas, almoços, cestas e festas, será sempre lembrada com muita alegria e bastante saudade... Ao Centro de Referencia em Áudio Visual, da Secretaria Municipal de Cultura, e à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, à Glória Amarante, Severino Júnior e a Daniela do CRAV, E, principalmente, aos Lambe-lambe, amigos e conhecidos, ao Chico Manco, Tomazinho, e ao seu pai, Camargos, ao José Marcos, Sr. Severino, Bentão, Wagner, D. Zita, Xavier, Tavinho e todos mais, com todo o respeito e devida consideração, esse trabalho é dedicado a preservação de sua memória.

4

Dedicatória

Em memória do meu avô materno Sr. Hélio Teles Horta, “andarilho” por tantos anos pelas praças e parques do centro de Belo Horizonte, intrigado observador da condição humana, meu amor e minha admiração. 5

Sumário Introdução...........................................................................................7 1. Histórico, organização e o "mapa da extinção" do Lambe-lambe na cidade de Belo Horizonte......................................................................9 1.1.Breve nota sobre a origem do ‘Lambe-lambe’...............................21 2. No rastro da extinção: o Lambe-lambe em algumas praças pelo Brasil........................................................................................ 25 3. "Metamorfose Ambulante": Lambe-lambe - de profissional artístico a subempregado....................................................................................36 Considerações sobre o trabalho de campo...........................................44 Conclusão.............................................................................................47 ANEXO I - Sistema de rodízio dos lambe-lambes do Parque Municipal Américo Renné Gianetti....................................................50 ANEXO II - Fotos...............................................................................51 ANEXO III - Documentos..................................................................54 ANEXO IV - Entrevista informal com o fotógrafo José

Marcos.................................................................................... 61

Bibliografia..........................................................................................62

6

Introdução

Refletir sobre o antigo e sobre o novo, investigar os rastros do passado, tão óbvios no presente e, a partir destes ir reconstruindo os fatos, a ponto de compreendê-los em sua de forma mais ampliada é al go que sempre fascina; é como entrar num casarão anti go e a partir daquela mobília, e de seus traços particulares, simplesmente se perguntar: qual a sua idade? Tudo aquilo teve sua época, tudo aquilo teve alguma função. O que um dia esteve no auge, um outro dia caiu em desuso, apesar de ter persistido, uma vez estando ali. O presente trabalho tem como objetivo focar a atividade do fotógrafo ambulante, popular “Lambe-lambe”, profissional informal que vem labutando nos jardins, praças e parques públicos do início ao fim do século XX, persistindo ao século XXI, muito embora já sem o seu velho equipamento, a máquina Bernardi, trazida da Itália no final do século XIX e hoje praticamente obsoleta. Ele fora motivado pela curiosidade acerca do modo como se mantêm esses profissionais, inseridos na tão aclamada ‘era digital’, onde a cada dia se alcançam novos recordes de produção e consumo da mais ampla variedade de preços e modelos de aparelhos fotográficos. Trata-se de uma monografia final para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Sociais que dessa forma pretende contribuir com um aproach sociológico (mais especificamente o da área da sociologia do trabalho) sobre a situação dessa categoria profissional, analisando as transformações nela ocorridas durante as últimas oito décadas. A pesquisa teve início no final do ano de 2001, início de 2002, quando

me

ocupava

em

entrevistar

os

trabalhadores

ambulantes

concessionários do Parque M unicipal Américo René Gianetti, a fim de produzir um diagnóstico das condições de trabalho dos mesmos, tendo em 7

vista o aprimoramento das relações entre eles e a diretoria daquele Parque, pela qual estagiei por dois anos. À produção desse diagnóstico coincidira o período em que a socióloga Glória Amarante realizava algumas de suas entrevistas que iriam vir a compor o trabalho “História Social de Belo Horizonte: O Olhar dos Fotógrafos Lambe-lambes”, pela lei municipal de incentivo à cultura, sendo que dessa forma a curiosidade sobre os ambulantes do Parque Municipal, se redirecionou ao trabalho dos fotógrafos Lambelambes, tanto de dentro como de fora do Parque. Na primeira parte do trabalho estão concentradas as informações sobre os Lambe-lambes das praças de Belo Horizonte, seu histórico a partir de relatos orais, sua localização bem como aspectos de sua organização interna. Em seguida irá uma nota sobre as origens do nome “Lambe-lambe”, utilizado para designar os fotógrafos de praças e jardins públicos; o segundo capítulo traz a situação da referida categoria profissional em algumas praças pelo Brasil, a partir de matérias de jornais e outros arti gos, de modo a se ensaiar um estudo comparativo. No terceiro capítulo é inserida a problemática cara a sociologia do trabalho que é a da extinção das profissões, apresentando também um quadro da trajetória profissional dos Lambe-lambes de Belo Horizonte, no intuito de discutir até que ponto o conceito de profissional artístico e tradicional vem mascarando a real condição dessa categoria de trabalhador informal. Há ainda uma parte dedicada às considerações sobre o trabalho de campo, tão importante no contexto da pesquisa, interessada diretamente nesses trabalhadores “da rua”, melhor dizendo, das praças, jardins e locais públicos. O trabalho se encerra com as conclusões, em aberto, na confiança em se ter contribuído intelectualmente com a cultura da cidade de Belo Horizonte, ao exercer com a devida humildade, tão agradável exercício de Sociologia aplicada.

8

1. Histórico, organização, e o "mapa da extinção" do Lambelambe na cidade de Belo Horizonte

A origem do fotó grafo ambulante na cidade de Belo Horizonte é um assunto inexistente em registros ou documentos oficiais, tendo que ser resgatada através dos relatos orais. Todavia, nos remete ela, às três primeiras décadas a partir da inauguração da capital planejada, décadas de afirmação econômica e ocupação populacional. Se por um lado, as atividades culturais na nova sede não encontraram dificuldades em desde o início se firmar (LE VEIN, 1977), a economia por outro, centralizada nos ga nhos do funcionalismo público, veio a se potencializar e se diversificar somente a partir da expansão da malha ferroviária estadual nos idos de 1922 1, a qual facilitou o deslocamento de novos fluxos migratórios. Não é por acaso que a primeira leva de fotógrafos de rua atuantes em Belo Horizonte era toda composta por imigrantes. Vinham da Europa já com a técnica de se fotografar e de revelar fotografias ao ar livre, se estabelecendo, prioritariamente, no Rio de Janeiro e na região portuária do estado de São Paulo, e se interiorizando com a chegada das ferrovias. A Praça da Estação (onde hoje ainda permanecem seis fotógrafos Lambe-lambes), era a porta de che gada a Belo Horizonte, e a Avenida do Comércio,

atual

Santos

Dumont,

lugar

onde

se

concentravam

os

principais estabelecimentos comerciais e também de lazer. Não longe dali, margeando o Rio Arrudas, fica o Parque Municipal, naquela época com o triplo da área que tem hoje. O Sr. José Ferreira de Camargos, ex-fotógrafo e também expresidente

da

hoje

extinta

Associação

dos

Comerciantes

e

Concessionários do Parque Municipal Américo René Gianetti, juntamente

1

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO . Omnibus: uma história dos transportes coletivos em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais. Belo Horizonte,1996. 9

com seu filho Alinto Thomas Neto, La mbe-lambe do referido Parque Municipal, puderam confirmar, em recente entrevista 2 a hipótese da existência de quatro gerações de fotógrafos Lambe-lambe em Belo Horizonte. Segundo documento da referida associação dos comerciantes do parque, datado de 11 de março de 1993 3, então

criada

(e

hoje

extinta)

assinado pelos membros da

“Comissão

Consultiva

do

Parque

Municipal”, fora em 1922 que começaram a trabalhar na cidade os primeiros fotógrafos ambulantes. O perfil dessa primeira geração é o de profissionais liberais, com ganhos relativamente bons dentro dos padrões da época. Eram eles, em sua maioria, estrangeiros, mais precisamente sírios e espanhóis, havendo ainda um norte-americano. São citados na entrevista com o Sr. Camargos como pioneiros em Belo Horizonte, os seguintes nomes: (a) Luiz Fernandes, espanhol, o qual vendera posteriormente seu ponto ao próprio José Ferreira de Camargos, (b)‘João Burro’, de origem síria, que se chamava Armando, o qual, segundo o Sr.Isaac Requeijo (CRAV,2002) lhe vendera o ponto em 1950, (c)Salomão José, também de ori gem Síria, muito amigo do Sr.Camargos (se pôde notar, durante a entrevista, a comoção de José Camargos ao falar do velho ami go), e o último da sua geração a deixar o trabalho (segundo Thomas somente no ano de 1972), (d) Joanin Coelho, o norte-americano que entrara

por volta de 1930, e também o fotógrafo de nome (e)

Moamed, mais conhecido entre os colegas como o “cara de gato”, também de ori gem árabe. Segundo o Sr. Isaac Requeijo, fotógrafo que, aos sete anos de idade já acompanhava o pai fotógrafo, isto por volta de 1933 (pois ele nascera em 1926) , naquela época: - “(...) Tinha meu pai, que era espanhol, tinha o meu tio, que era espanhol, teve um primo meu também, que era espanhol, 2

Realizada na tarde do dia 05 de novembro de 2004 na residência de Alinto Thomas Neto, filho de Camargos; 3 Documento em anexo 10

tinha um… Seu Fariñas também, que era espanhol, que eu me lembro esse era espanhol. Agora, turco acho que teve uns quatro ou cinco também...” Conta ainda o Sr.Requeijo, que seu pai, quando veio para o Brasil, trabalhou de calceteiro na antiga Feira de Amostras:

“É onde hoje é a Rodoviária. Tinha o cinema Paissandu ali… Então, em volta dali ele trabalhou de calceteiro. Depois não deu certo, ele foi trabalhar no sul de Minas com martelete, furar

pedra,

trabalhar

em

pedreira.

Depois

de



ele

desentendeu com o patrício dele, que era um espanhol, o encarregado, então ele veio aqui pra Belo Horizonte e tinha um primo dele, que já era fotógrafo no Parque, então ele ensinou ele, mas nos anos lá de mil e novecentos e vinte e poucos, eu não estava aqui no Brasil, eu estava na Espanha, né. E ele ficou trabalhando. Quando foi na ocasião que ia estourar a revolução aqui, ele correu, foi embora pra Espanha.”

Fala esta que elucida bem a trajetória profissional de um imigrante espanhol da década de 1920, além de sustentar a hipótese de que os Lambe-lambes são uma categoria que transita de um a outro serviço informal, idéia mais explorada no capítulo 3.

Organização A primeira lei que regulamenta o funcionamento do sistema de rodízio dos fotógrafos do parque data de 29 de novembro de 1935 4. Nessa época eram contabilizados oito profissionais, que a partir de então passaram a ter que pagar uma taxa anual à Prefeitura Municipal através de seu Departamento de Parques Jardins e Arborização.

4

Idem 11

Em 1946, um novo decreto (decreto nº 175 de 2 de maio de 1946DPJA/PBH), fixa em 10 o número de fotógrafos com licença para atuar no parque e em 1968 esse número é fix ado em 14, o qual perdura até 1992, quando então cai para treze. O sistema de rodízio, seguido não só pelos lambe-lambes, mas por todos os ambulantes em atividade no Parque Municipal (cada cate goria com o seu rodízio), funciona de modo muito simples. Como é de consenso da classe que há os melhores pontos para se trabalhar, ou seja, aqueles em que o trabalho é mais rentável, eles movem para o ponto seguinte, no sentido horário, a cada semana, permanecendo naquele ponto por uma semana de trabalho. Há o sistema de rodízio também na Praça Rio Branco em Belo Horizonte e, apenas a título de comparação, vale mencionar a descrição desse mesmo sistema no Parque Jardim da Luz na cidade de São Paulo, no ano de 1981: “(...) Até hoje esse processo é seguido, O fotógrafo permanece em cada área por uma semana, cobrindo todas as partes: as mais povoadas e as mais desertas, dando a todos a chance de faturar.”

5

A permissão aos pontos, a princípio livre como vimos, a partir de 1935 se tornou licenciada, sendo que a única maneira de se conseguir uma vaga era esperando por ela. O candidato, dessa forma, tinha que se credenciar no Departamento de Parques e Jardins, e quando a vaga surgisse apenas provar que estava habilitado para o serviço. Conta o Sr.Severino (CRAV, 2002), fotógrafo ingresso em 1949, que só conseguiu definitivamente a sua vaga depois que falecera um fotógrafo mais antigo, conhecido

como

Rosa.

Severino,

entretanto



trabalhava

como

fornecedor de material fotográfico para o pessoal do Parque, e fora através de um fotógrafo espanhol (provavelmente Luiz Fernandes) para o qual vendia material, ele se informava sobre a situação das vagas. 5

Em: PERSICHETTI, Simonetta. Lambe-Lambe: a câmera automática no lugar da velha caixa. In Revista Íris foto n.334, 1981.

12

Também nessa época conta o Sr. Severino que viajou bastante com os colegas foto grafando festas reli giosas pelo interior de Minas Gerais, trabalho que rendia um bom dinheiro. Por aí se nota a rentabilidade do trabalho na época (década de 1940), o qual conheceu o seu auge mesmo a partir do ano de 1958, período considerado por al guns Lambe-lambes como o da “febre do 3x4”. O período do 3x4, talvez o “período de ouro”, para os Lambelambes pode ser explicado pela conversão de dois fatores. P or um lado um estado altamente burocratizado que exige fotografia para todo tipo de documentação, como: título de eleitor, carteira profissional, carteira de identidade, carteira de saúde, de reservista e a licença de motorista entre outros e os Lambe-lambes, sem medo da concorrência, já que eram os únicos no mercado a entregar a foto em 20 minutos ou menos no método anti go com a chapa de vidro e seca gem ao ar livre suprindo muito bem toda essa demanda. A “febre do 3x4” também foi observada na capital Vitória (FREITAS,2001:17,),

sendo

mencionados

como

documentos

que

necessitavam de fotos, além do título de eleitor, as carteiras do INPS, as fichas de empregos e as carteiras escolares. Se gundo Vilaça, “a década de

50

assinala

a

passagem

definitiva

do

Lambe-lambe

para

o

6

3x4(p.17)” , afirmando ainda que, naquela época, enquanto os estúdios pediam três a quatro dias para entregar o material os ambulantes entregavam na hora. Segundo o Sr. Isaac Requeijo (CRAV, 2002): “(...) pelos anos de mil e novecentos e quarenta e poucos, a gente tirava muito pouco retrato pra carteira, não tirava muito retrato pra carteira profissional, nem pra carteira de identidade, a freguesia não era muita, não. Às vezes ficava dois ou três dias sem bater uma chapa. Mas no decorrer dos 6

FREITAS, Adilson Vilaça; BICALHO, Leonardo Os lambe-lambes do Parque Moscoso. 3. ed. Vitoria : Secretaria Municipal de Cultura, 2001. 32 p

13

anos, acho que foi evoluindo, etc, e houve a exigência, todo mundo tinha que trabalhar fichado tinha que ter a carteira profissional, e tinha que ter a carteira de identidade, e por aí… Foi vindo e o povo corria tudo pro Parque, porque os fotos tiravam fotografia, mas só entregavam no outro dia – eles tiravam o retrato retocado e nós tirávamos instantâneo, era na hora, com 20 minutos. Mas às vezes não era vinte minutos nada, porque às vezes juntava cinco, dez fregueses, então era 20 minutos pra cada um, era… (risos). Ia tapeando e descia”. A fase do três por quatro, perdurou dessa forma, até final da década de 1960, período em que os fotógrafos ainda faziam muitas festas religiosas, ou ‘Jubileus’, pelo interior de Minas Gerais. Outro tipo de produto oferecido pelo Lambe-lambe durante algum tempo foram as fotos coloridas artificialmente. Nesse caso o fotógrafo Lambe-lambe era ajudado por um outro profissional, que cuidava somente de colorir as chapas em preto e branco. Esse período durou de 1964 a 1977 aproximadamente, e seu término está relacionado à chegada no mercado do filme colorido. Não se pode esquecer também da fase dos chamados ‘monóculos’, pequeno cilindro plástico onde a foto em miniatura é visualizada contra a luz, também muito em voga até o final da década de 1980, estando sua decadência relacionada bem mais ao fim da disponibilidade desse tipo de material nos grandes fornecedores que à vontade do fotógrafo ambulante de continuar oferecendo o serviço. O ano de 1983 é marcado por uma polêmica entre a categoria, com a introdução por Camargos de seu “Mini laboratório”. Desde o início da era do filme colorido, os Lambe-Lambes passaram a depender totalmente dos laboratórios externos para revelarem seu material. O ‘Minilab’ dos Camargos os tornava independentes ao mesmo tempo em que os permitiam revelar seu material em menos de trinta minutos, e por um custo ainda mais baixo. Esse fato novo, ao tecnicamente se atribui o termo “inovação tecnológica” gerou muita revolta entre os companheiros de trabalho 14

diário, os quais encaminharam ao diretor de do Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura um abaixo assinado 7, apoiado por doze dos quatorze fotógrafos do Parque Municipal Américo René Gianetti. Conta o Sr. Camargos ter observado a nova tecnologia em viagem ao P araguai, tentando, por quatro anos, ele e seu filho Thomas desenvolver o mini laboratório na oficina em sua casa. Apesar dos protestos, ainda hoje os Minilabs (três máquinas) funcionam dentro daquele Parque Municipal. “M apa da extinção” Fi gura 1.

* Soma de t odas as re ferências colhidas para os anos entre 1973 a 1999; 7

Documento em anexo 15

Fi g ur a 2.

Olhando então para o que chamamos aqui de “mapa da extinção” do Lambe-lambe na cidade de Belo Horizonte, podemos notar significava redução no número de profissionais. Se antes eles eram 49, (número que representa a soma das referências colhidas para todos os anos antes de 2004), no último ano passaram a ser 19. Poderíamos, além disso, apontar aqui, levantando a hipótese da “desigualdade de condições” 8

que o número de fotógrafos do Parque

decaiu em proporções bem menores que em lugares como a Praça da 8

Me refiro à diferença de condições entre os fotógrafos atuantes no interior do Parque Municipal Américo René Gianetti e os que estão fora dele. Esta hipótese será novamente explorada no capítulo final – “Considerações finais” 16

Rodoviária ou Praça Primeiro de Maio. Se na Praça da rodoviária, até o ano de 1999 atuavam 9 fotó grafos, onde hoje atua apenas um 9, no Parque Municipal sua base foi mantida. Outro aspecto marcante é sobre a presença de Lambe-lambes nas Praças Raul Soares e Hugo Wernek, locais que também fazem parte do circuito ‘serviços’ de toda a região central 10, hoje “hipercentro” da cidade, a praça Raul Soares, mais ligada ao lazer principalmente até a década de 1960, e, a Praça Hugo Wernek, aos serviços, se localizando na região hospitalar, ponto de trânsito de pessoas de várias regiões da cidade e também do estado, muito embora o fim do Lambe-lambe neste local tenha sido por proibição direta do poder público municipal, diferentemente de na Praça Raul Soares e na própria Praça Primeiro de Maio, onde o motivo da extinção do Lambe-lambe está bem mais associado a um processo de descaracterização 11 daquelas regiões a partir da década de 1970. Os fotógrafos da Praça Rio Branco, (P.da Estação), reclamam bem mais das condições de seu local de trabalho do que os do Parque Municipal 12:

“Nossa Senhora, essa Praça aqui podia dizer que era a melhor e a mais bela praça de Belo Horizonte. Hoje é a… pior pra se conviver dentro dela. Isso aqui é um verdadeiro banheiro

público,

né?

(...).

Está

abandonada,

não

tem

fiscalização, antigamente a Prefeitura tinha fiscal, né? (... ) 9

Sr. Wilson Piazza, CRAV,2002; Ainda sobre esse “comércio sobrevivente” olhar ANDRADE,1999 (pag153). Ela fala sobre um comércio tradicional, testemunho de outros tempos, e que ainda permanece no seu lugar de origem, sobrevivendo à fugacidade, “às conseqüências da produção do espaço urbano cada vez mais veloz”. 11 Chamo aqui de descaracterização o processo de mudança na ocupação na região, devido às conseqüências de um intenso processo de ocupação experimentado pela cidade a partir da década de setenta, para ver mais em LEMOS, Celina Borges: “Determinações do espaço urbano: a evolução econômica, urbanística e simbólica do centro de Belo Horizonte”, UFMG 1988. 12 De fat o , s e no s b as earmo s excl u s i vam ent e nas en t revi s t as fei t as p el a s o ci ól o ga Gl ó ri a A marant e co ns t at aremo s qu e aq uel es pr o fi s si on ai s q ue es t ão l ocal i zado s fora d o P arq ue Mun i ci pal es t ão “con den ado s a ext i n ção ”, po i s el es se qu ei xara m s i s t emati cament e de p rob l emas como fal t a d e cl i en t es e i mpo s si bi l i dad e d e pagarem t axas co mo a de ho s pe d ag em em l ocal pró xi mo (a p refei t u ra n ão o ferece n ada) ou mesmo a t a xa p el o po nt o . 10

17

Mas hoje não tem mais quem olha, hoje isso aí é abandonado. Eles vêm cá, de vez em quando, faz uma limpeza, tira o mato e pronto” 13.

Apesar de toda dificuldade que enfrentam os atuais Lambe-lambes, principalmente aqueles que trabalham fora do Parque, eles conseguem manter uma certa coesão interna, sendo que, apesar de haver certa proximidade espacial (vide mapa) e também, ligações de afinidade, por vizinhança e mesmo parentesco (José M arcos, da Praça Rui Barbosa, por exemplo, tem dois filhos que trabalham no Parque Municipal) não se comunicam ou formam associação entre si. Os Lambe-lambes da Praça Rui Barbosa (Praça da Estação) possuem uma dinâmica de trabalho diferente dos do P arque,e bem semelhante ao que foi a dinâmica dos da 1º de maio e Rodoviária, hoje solitários (Wilson na rodoviária e João Gomes na 1º de maio). Levam para o local de trabalho, além da velha máquina Bernardi, apenas como mostruário, um caixote, o qual além de servir de assento, serve para guardar seus pertences e material de trabalho. No Parque Municipal, eles não usam a velha Bernardi, nem como mostruário; cada um possui um carrinho de rodinhas, semelhante a um carrinho de pipoqueiro, onde fazem mostruários, além de banquinho, burrinhos de madeira e outros, para fotos de crianças. Ao contrário dos que estão na rua, os do parque deixam todo o material de trabalho nas dependências do mesmo; os da Praça da Estação, por exemplo, contam com comerciantes próximos para guardarem seu material de trabalho, a maioria deles pagando uma taxa por isso.

“(...)Mas o sistema é esse: a máquina, o caixotinho pra sentar, pode ter o carrinho, igual no parque tem os carrinhos, pra guardar as coisas, mas como é a dificuldade de guardar as coisas aqui, ninguém gosta de guardar, se eu guardar na caixinha, fica dependendo de favor pra guardar 13

Trecho do d ep oi m en t o d o f o t ó g r a f o A u gu s t o ( C R A V , 2 0 0 2 ) , d a P r a ç a R i o B r a n c o . 18

as coisas. ..

(...)porque os outros têm as caixas deles, que

eles arrumam a caixa, tem ali. Mas eu não coloco lá, eu não confio. Já foi arrombado algumas vezes lá, eu guardo aqui na casa de jogo ali há muitos anos, o pessoal é muito meu amigo, então quando precisa de mim eu estou lá dando uma força, então eles guardam pra mim.”

Sr. Augusto, Praça da Estação, (CRAV,2002)

O que se pôde notar sobre o trabalho em praças e jardins públicos em geral fora o seu aspecto aparentemente tranqüilo, onde o dia “parece passar mais devagar”, um contraponto à rotina de trabalho dos que estão em escritórios ou no trânsito diário. A isso se junta o fato de esses profissionais, principalmente os mais antigos, não sentirem necessidade de abandonar sua ocupação – eles parecem estar satisfeitos – de fato, a maior parte deles possui mais de quarenta anos de idade, muitos têm a sua aposentadoria, outros ainda possuem outra ocupação além de ser Lambe-lambe 14.

Os Lambe-lambes do Parque Municipal consideram ser o seu ambiente

de

trabalho

bastante

prazeroso,

de

ritmo

agradável 15,

completamente diferente do da maioria dos trabalhos modernos; chega a 14

Ver em CRAV, 2002 – “História Social de Belo Horizonte, o olhar dos fotógrafos Lambe-lambes”; Diagnóstico da situação e condições de trabalho dos ambulantes do Parque Municipal Américo René Gianetti, administração do Parque – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento Urbano, Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, coordenadora: Socióloga Ana Maria das Graças Beltrão, fevereiro de 2002. Foram nove fotógrafos entrevistados, todos do Parque Municipal em fevereiro de 2002, apenas dois responderam que não estavam satisfeitos com o trabalho, sendo que com isso estavam se referindo aos baixos ganhos e não ao clima aprazível do mesmo. Ainda sobre esse diagnóstico que visava nada menos que diagnosticar a situação dos ambulantes do Parque o que não se fazia anos,destaca-se que entre os entrevistados, nove, nenhum respondeu estar a menos de dez anos trabalhando no local. O mais velho entrevistado nascera no ano de 1936 e o mais novo nessa enquête em 1953, Rinaldo, há vinte anos no Parque. O primeiro a ser entrevistado foi o fotógrafo Tavinho, isso registrado no dia 17 de janeiro de 2002, sendo perguntado informalmente sobre os pontos dentro do Parque, sobre o sistema de rodízio de pontos acordado entre a categoria, satisfação com o próprio negócio, tempo na atividade, tudo de modo bem sintético, seguindo um roteiro de trabalho. 19 15

nos dar mesmo a impressão de que o modo de trabalho do Lambe-lambe do Parque Municipal , e do trabalhador informal que de um modo geral ali trabalha se assemelha um pouco ao estilo de um aposentado ou mesmo o desempre gado; longe de afirmar que não trabalham ou pouco trabalham, pois há uma rotina diária, preocupações com dívidas etc. como em qualquer outro tipo de ocupação profissional. Dentro

do

que

poderíamos

chamar

de

“corredores

da

informalidade” na região do hipercentro de Belo Horizonte, o Parque Municipal é de fato uma região privilegiada, já que é onde ocorre dispersão populacional dentro de uma área de alta concentração de pessoas por área, sendo um local também considerado relativamente tranquilo se comparado com as ruas do hipercentro. Sobre as novas gerações de Lambe-lambes, se pôde observar que de fato não está havendo renovação, e tão pouco procura para preencher os pontos, e, são poucos os jovens que acompanham os Lambe-lambes na função de ajudantes. O fotógrafo Chico Manco chega a brincar “somos dinossauros aqui dentro do Parque”; o seu filho, que tem dezoito anos e que eventualmente trabalha como seu ajudante, já não está mais tão interessado

em ir

ao

parque, segundo

o fotógrafo

porque, “está

interessado em outras coisas” como, ingressar na universidade.

20

1.1.Breve nota sobre a origem do ‘Lambe-lambe’

“O La mb e- La mb e é o s egu i n t e: n ós t o mamo s o n ome d o La mbe- La mb e pel a a nt i gui d ad e, p or qu e eu s ou a nt i g o mas a nt es d e mi m t em o ut r o s muit o ma i s a nt i g o s, j á mo r r er a m. Há 1 50 an o s at r á s exi s t ia La mb e-La mb e.

E nt ã o

es ses

an t i g ões ,

mui t o

mai s

a nt i g os d o qu e eu , t i n ha m a mo da de ba t er a ch ap a p ret o -e-b ra n co e a s s op r ar o n eg a t i vo pr a ca l o ri a d o n os s o a r d a b oca, n é , a j u da r a secar . Aí o p es so a l p as s ava , ol ha va a ss i m: ‘ó é o l a mb e – l a mbe, el e es t á l a mben do o f i l me! el e es t á l a mben do ! , a í co l ou .” 16

Segundo

o

historiador

da

fotografia,

Boris

Kosso y

(KOSSOY,1980), a origem do termo ‘La mbe-lambe’ está associada a uma nova fase da expansão da indústria fotográfica no Brasil, sendo o momento em que os fotógrafos saem dos estúdios e ganham as ruas, dando

assim

importante

passo

rumo

ao

irreversível

processo

de

popularização da linguagem das imagens. Foi justamente nessa ‘saída para as ruas’, que o público batizou o fotógrafo de “Lambe-lambe”. Uma vez o fotógrafo trabalhando na rua, o público acompanhava o processo de produção daquelas imagens: “Nos estúdios, eles também lambiam, só que ninguém via” (VILAÇA: 14,2001). O termo ‘Lambe-lambe’ se refere a um teste que se faz para verificar de que lado estava a emulsão de uma chapa, filme ou papel sensível. Para evitar o erro de colocar a chapa com a emulsão voltada para o fundo do chassi, o que deixaria fora do plano focal e portanto, com falta de nitidez, costumava-se, (não só o fotógrafo lambe-lambe, mas como qualquer outro fotógrafo que utilizava câmeras de grande formato), molhar com saliva a ponta do indicador e do polegar e fazer pressão com 16

Sr.José Marcos, Lambe-lambe da Praça Rui Barbosa, entrevista à Glória Amarante em 20/02/2002 21

esses dois dedos sobre a superfície do material sensível num dos cantos para

evitar

manchas.

O

lado

em

que

estivesse

a

emulsão

seria

identificado ao produzir uma leve impressão de "colagem" no dedo. Segundo a pesquisadora Maria Rita da Silva Lubatti (LUBATTI, 1982), o termo ‘Lambe-lambe’ provém do costume de se colocar a chapa de vidro que continha o formato da fotografia a ser batida, entre os lábios, de modo que o fotógrafo, na hora de bater a fotografia, reconhecesse facilmente o verso e o anverso da mesma, já que, no método anti go, a chapa tinha que ser colocada na máquina com o lado sensível para frente da pessoa que ia ser fotografada. Afirma ainda Boris Kossoy, que " a origem do termo lambe-lambe é controvertida. Segundo alguns lambia-se a placa de vidro para saber qual era o lado da emulsão o que explicaria o nome. Tal fato, porém, parece pouco viável, pois o simples tato, ou a observação da chapa em local escuro mostra qual o lado da película sensível. Há quem diga que se lambia a chapa para fixá-la, porém a origem mais viável parece estar ligada ainda ao antigo processo da ferrotipia. Este processo envolvia uma camada de asfalto sobre uma chapa de ferro de mais ou menos 1mm sobre a qual era aplicada a emulsão. Após a revelação com sulfato de ferro, o fotógrafo lambia a chapa, fazendo com que a imagem se destacasse do fundo preto asfáltico pela ação do cloreto de sódio existente na saliva"(KOSS OY,1974). Talvez tenha sido D. Zita (CRAV, 2002), pioneira do sexo feminino na profissão, quem tenha dado a explicação mais precisa, exatamente por descrever todo o processo, como ela trabalhava com a máquina Bernardi:

“(... ) O “real la mbe- lambe” é justame nte o lambe-lambe da máquina do tripé, é aquele lambe-lambe que fazia a revelação aqui, na hora. Normalmente, ele marcava 15 minutos depois que tirava a foto, era fot o preto-e-branco, e quando a gente revelava a foto e colocava ela no fixador, que estava prontinha e tirava ela do fixador e lavava, aí a gente passava ela assim na boca né, que 22

era pra secar a foto, pra não ficar muito molhada pra f azer a cópia. (.. . ) Lambia m mesmo, né. A ch apa er a lambida pra … não se i se pra clarear, pra ti rar o excesso de água, é, da chapa. Er a pr a tirar o excesso. E por isso é que chamava “lambe-lambe(.. ) Mas com o tempo isso foi assim acabando (...) a gent e fazia um foguinho, um fogarei rinho com álcool, e secava a chapa no fogareiro. Aí passou e foi esquecendo de dar a lambida na chapa. Mas muitos continuar am ainda …”

A jornalista Margareth Grillo, para o jornal nordestino “O Foco” 17, conta que, naquela região, além da terminologia ‘Lambe-lambe’ são usadas as seguintes para distinguir a categoria: Ventania, Mão-nosaco e Bufete. Ventania vem do fato de o ofício se dar em campo aberto, e obviamente, ficar exposto ao vento. Mão-no-saco vem de a câmera ser o próprio laboratório improvisado; na hora de revelar, o fotógrafo enfia a mão dentro da câmera para fazer a revelação, através de aberturas, como sacos ou meias, que impedem a entrada de luz, e Bufete, segundo ela, vem do movimento que o fotógrafo faz enquanto está revelando com a mão, com o seu braço enfiado na câmera, através do saco ou meia. O cliente fica sentado em frente a câmera, parecendo que vai levar um soco. O modelo

de

máquina inicialmente

utilizado

(posteriormente

copiado e recopiado) foi o de Francisco Bernardi, introduzido no Brasil, aproximadamente no ano de 1915. Francisco Bernardi era em italiano que, na cidade de Bolonha, trabalhava como fabricante de acessórios fotográficos. Como também era fotógrafo e precisava se deslocar,tentou incorporar o laboratório à própria máquina. Desta idéia, resultou a primeira máquina de jardim que permitia atender encomendas em vários lugares e atuar como ambulante. Era nada mais que o modelo da caixa escura, ou câmara escura, o qual al guns dos Lambe Lambes entrevistados neste trabalho concordaram ser muito fácil reproduzir, não sendo, todavia o de Bernardi exatamente o único, tão somente o mais conhecido. Ainda 17

Jornal O Foco: “Lambe-lambe, a profissão que a tecnologia desbancou”, por Margareth Grillo http://www.ofoco.natalrn.net/Lambe.htm, visitado em 30/10/2003.

23

no século X, no oriente médio, um inventor de nome Aihazen, já havia feito uma descrição de como se observava um eclipse solar no interior de uma câmara escura 18, que era nada mais que um quarto sem nenhuma luz, mas com um orifício numa de suas paredes o qual permitia projetar na parede oposta uma determinada imagem na posição invertida. Tal método era muito popular na Itália dos séculos XV e XVI entre figuras como Leonardo da Vinci como recurso para melhor reproduzirem a realidade em seus desenhos e em sua pintura.

18

SENAC. DN. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. / Rose Zuanetti; Elizabeth Real, Nelson Martins et al. Rio de Janeiro: Ed.Senac Nacional,2002. 192p.

24

2. No rastro da extinção: o Lambe-lambe em algumas praças pelo Brasil

O Lambe-lambe como profissional das ruas em cidades de médio e grande porte pelo Brasil vem despertando o interesse de jornalistas e pesquisadores de diversas áreas das ciências humanas, devido ao fato de sua atividade passar a ser tida como “em extinção” e sua figura considerada como a se um “sobrevivente”, frente à expansão da grande indústria fotográfica mundialmente, a qual não cessa de lançar máquinas fotográficas a preços populares, o que, teoricamente, “quebrou” o tradicional Lambe-lambe. Ao fazer um levantamento de matérias de jornais, trabalhos acadêmicos ou mesmo governamentais (FREITAS, 2001) cujo tema é especificamente o trabalho do fotógrafo Lambe-lambe, entre 1981 a 2004, pudemos constatar alguns problemas enfrentados por eles, de um modo geral, bem como, de modo comparativo, compreender porque a situação vem se tornando desfavorável aos que querem se manter no ofício. O objetivo do presente capítulo é dessa forma traçar um panorama, ou seja, traçar em termos bem gerais, a situação do Lambe-lambe pelo Brasil. As matérias aqui comentadas trataram em geral do Lambe-lambe como fenômeno em extinção, a maioria delas relacionando o fato à decadência das praças a jardins públicos em que atuam. Outras irão relacionar o fim do Lambe-lambe ao advento de novas tecnologias em fotografia, barateamento e conseqüentemente popularização do aparelho fotográfico, o que fez com que a clientela certo modo não precisasse mais do Lambe-lambe. Outros fatores são também recorrentes, ilustrados nas próprias falas dos fotógrafos, como “a chegada do filme colorido” ou “essa praça hoje está uma sujeira”.

25

Vitória Em “Os lambe-lambes do Parque Moscoso”, livro publicado pela secretaria de cultura do município de Vitória-ES destaca-se a semelhança no modo como seus autores o tratam aquele Parque Municipal com o modo como também é descrito o Parque Municipal Américo René Gianetti em Belo Horizonte: “Ilha Verde no coração da capital”, “aprisionada entre prédios e avenidas”, “sobrevivendo a uma era moderna em que as pessoas não o valorizam como antes” etc. Os Lambe –Lambes são colocados como testemunhos oculares do processo

de

modernização

mal

planejada

a

qual

resultou

em

de

descaracterização do centro urbano, que antes, segundo o estudo, era muito bem freqüentado contendo salas de cinema e espaço de lazer para a população. O livro, que fora lançado no ano em que aquela capital completava

seus

450

anos

traz

a

preocupação

com

projetos

de

revitalização e melhoria e é editado juntamente com a re-inauguração de um parque recém reformado. Os fotógrafos do Parque foram então, na ocasião, entrevistados, mais uma vez no espírito nostál gico daqueles que insistem em falar sobre: “Aquele tempo bom que não mais volta...”. Os Lambe-lambes do Parque Moscoso falaram sobre sua história ali naquele ambiente tranqüilo de parque público, bem como de suas dificuldades principalmente nas últimas décadas em conseguirem se manter na

profissão

hoje

tão

desvalorizada.

Seu

autor

conta ter

encontrado 6 deles onde em outra época haviam 36; colhera diversas declarações e lamentos do tipo: “As lojas tiram fotografia na hora, e coloridas. (...) No tempo antigo só o Lambe- Lambe entregava foto na hora”

26

“Hoje

em

dia

qualquer

um

pode

comprar

máquina

fotográfica”, “Lambe-Lambe é uma coisa que já passou, mas, ele contribuiu muito e teve um papel importante para a sociedade”, entre outras. Outra

semelhança

dos

entrevistados

de

Vilaça

com

os

que

entrevistamos no Parque Municipal Américo René Gianetti é o tempo de serviço como fotógrafo de rua – ninguém com menos de dez anos. De seis entrevistados por ele dois têm mais de sessenta anos de idade, um tem 30 anos de Parque Moscoso, e o mais novo deles tem mais de 40 anos de idade. O P arque Moscoso foi inau gurado em 29 de maio de 1912. Assim como o Parque de Belo Horizonte, inaugurado em 1896 19, o Parque Moscoso também era um parque aberto inicialmente que foi gradeado na década de 1970. Os primeiros Lambe-lambes daquele parque iniciaram suas atividades na década de 1930.

Região Nordeste

Margareth Grilo20, em reportagem para o jornal O Foco, especializado em fotografia, disse que na cidade de Recife chegaram a existir 60 lambe-lambes, e hoje há apenas quatro deles. Em Campina Grande, dos dez existentes até os anos 90, só resta um. Em Natal, “a figura do lambe-lambe já está em extinção há mais de quinze anos”, conta a repórter. Em João Pessoa, dos 40 lambe-lambes que existiam restam apenas nove. E destes nove, segundo ela, apenas um usa o processo instantâneo, sendo que os

19

Ver em CVRD. Companhia Vale do Rio Doce: Parque Municipal - Crônica de um século. Belo Horizonte: CVRD, 1992. 20

Jornal O Foco – Lambe-lambe, a profissão que a tecnologia desbancou, por Margareth Grillo - http://www.ofoco.natalrn.net/Lambe.htm, visitado em 30/10/2003.

27

demais usam as antigas câmeras “apenas como fachada” para chamar atenção da clientela.

“Na tentativa de resgatar um pouco da história do fotógrafo instantâneo, a equipe d’O Foco esteve em João Pessoa e se deparou com uma infeliz realidade. Dos 40 lambelambes que existiram nessa cidade, há bem pouco tempo, restam apenas nove. E destes nove, apenas um usa o processo instantâneo” Reportagem do Jornal O Foco

Ainda em João Pessoa, na Paraíba, o Lambe-lambe Manuel Antônio Batista foi entrevistado pela equipe do Jornal O Norte 21. Manoel faz parte de um grupo de oito fotógrafos, que atua na Praça Pedro Américo, centro daquela cidade. Eles fazem fotos 3X4 ao preço de R$ 5,00 o pacote com oito, segundo a matéria. "Tem dia que a gente não faz nenhuma foto. Mas, isto é raro, porém vem acontecendo. Com essa tecnologia avançada a procura por este tipo de fotografia, como a que a gente faz aqui, vem caindo". " Não adianta a gente ficar só fotografando em preto e branco, porque as pessoas pedem foto colorida. Mas, ainda tem gente que quer do modelo antigo, só que às vezes também falta material". 21

Jornal O Norte,edição on-line, 19 de agosto de 2004, “Modernidade versus tradição”, http://www.jornalonorte.com.br/paraiba/?35257 , visitado em 29/09/2004.

28

Manuel,

segundo

a

reportagem,

tem

84

anos

de

idade,

e

aproximadamente 60 como fotógrafo. " Ainda tem gente batendo foto como a gente em muitos locais. No Rio de Janeiro tem fotógrafo como a gente, por exemplo. Acho que isso aqui não acaba nem tão cedo" - disse M anoel que “criou os filhos na Praça Pedro Américo”, e que, um deles, o mais velho, também trabalha na Praça. Contou ainda que “antes as pessoas faziam até filas para tirar fotografia na Praça Pedro Américo”. E que muito político já passou pelo banco de fotografia e já foi clicado por ele:

" Já tirei muita foto de gente importante. Hoje,

muitos nem olham para a gente e esquecem que existimos".

São Paulo Segundo Maria Rita da silva Lubatti ( L U B A T T I, 1 9 8 2 ) : “Os

lambe-lambes

são

aposentados

sem

qualificação

profissional, descendentes de italianos e de espanhóis. Os que trabalham

com

máquinas

modernas

procedem

de

vários

estados do Brasil; há predominância de mineiros, nortistas e nordestinos. Trabalham como operários assalariados; nos fins de semana e feriados fotografam empregadas domésticas, casais de namorados e crianças que costumam passear em logradouros públicos. Alguns atendem também chamados a domicílio, para fotografar batizado, aniversário, noivado e casamento.” Ela também afirma que eles não gostam de se identificar tampouco falar sobre a profissão. E que são homens carrancudos, esquivos ao diálogo. De toda forma a pesquisadora consegui se aproximar de um 29

deles, Ângelo Morais, fotógrafo atuante no Jardim Estação da Luz cidade de São Paulo. Segundo Ângelo, nas décadas de 1930 e 1940 o Jardim da Luz e também o Parque Dom Pedro II em São Paulo “eram freqüentados por moças ricas da Avenida Paulista e Jardim Europa” e a gora, conta (o artigo foi publicado em 1982) “só dá gente de fora, gente esquisita, às vezes, chego a ter medo de trabalhar por essas bandas, pois aqui tem um vaivém terrível; gente que namora, que toca violão e canta debaixo das árvores, largada no gramado ou sobre os banquinhos. Outros trazem crianças e animais para brincar e passear – há marreteiros que vendem tudo fazendo uma gritaria dos diabos – mas o problema é que fomos esquecidos, desde que surgiram os jovens com as máquinas fotográficas e as lojas. As lojas, essas sim são nossas concorrentes e tiram o pão da boca da gente – foram elas que liquidaram com o lambe-lambe, pode crer” 22. Lubatti, que nessa época, identificou 10 fotógrafos nos jardins públicos de São Paulo, conta que seu entrevistado também atuava como fotógrafo fora dali, cobrindo festas e casamentos. Observa ainda, que seus fregueses eram “pessoas humildes ou provenientes das cidades interioranas empregadas domésticas, elementos da classe operária, moradores dos subúrbios ali a passeio ou a trabalho”. Boris Kossoy (KOSSOY,1974) conta que na década de 20, trinta fotógrafos atuavam no Jardim da Luz na e que, entre 1915 e 1955, 50 fotógrafos atuaram no Parque D. Pedro II e outros 50 nas praças públicas de S ão Paulo, e que em 1974,

apenas 15 fotógrafos ainda atuavam na

cidade, sendo que segundo ele, 8 deles no Jardim da Luz. Simonetta Persichetti 23 contou nove no Jardim da Luz em 1981, segundo ela “os últimos remanescentes dos folclóricos lambe-lambes”. Persichetti, entrevistando Zé Garcia, um veterano, naquela época com 30 anos de Jardim da Luz, observa que ele e seus colega s não mais 22

LUBA TTI , M ari a Ri t a d a Si l v a. Vend edo r amb u l ant e, p ro fi ss ão fol cl ó ri ca: pes qu i s a n as ru as, p arq u es e j ardi n s d e São P au l o. Es co l a d e Fo l cl ore: Secret ári a de Es t ado d a Cu l t u ra, 19 82 23

PERSICHETTI, Simonetta. Lambe-Lambe: a câmera automática no lugar da velha caixa. In Revista Íris foto n.334, 1981

30

utilizavam a máquina ‘Bernardi’ ou máquina ‘Caixote’, tradicional Lambe-Lambe para fotografar, permanecendo com ela apenas como forma de chamar a atenção do cliente, bem como para mostruário. Utilizavam, já

na

época,

uma

máquina

comum,

recorrendo

aos

laboratórios

convencionais para revelarem suas fotos. Garcia que antes de ser lambelambe havia trabalhado como sapateiro, conta que quando começou (depois de ter feito um curso especializado para fotógrafos de jardim), havia 18 colegas trabalhando com ele no Jardim da Luz. Contou que eles eram divididos em pontos e faziam rodízio, permanecendo uma semana em cada ponto, de modo a todos pudessem usufruir dos melhores locais . O fotó grafo Fefé do Parque da Luz entrevistado pela equipe do jornal virtual Sampa Centro 24 conta que aquele parque nas décadas de 40 e 50 era desprovido de grades, como o Moscoso de Vitória e o Municipal de Belo Horizonte, ambos gradeados na década de 1970. A referida reporta gem, do ano de 2001, conta o fotógrafo Fefé como o último remanescente no Parque da Luz.

Aparecida do Norte Em Aparecida do Norte, pólo do turismo religioso no estado de São Paulo, a reporta gem do jornal Notícias de Itaquera 25 colheu informações daquele que seria o último Lambe-lambe de Aparecida, SR.Antonio Monair. Segundo a reportagem, Sr. Moanir, aos 68 anos de idade, trabalhava ali, perto da igreja (Igreja Velha de Nossa Senhora Aparecida) há 45 anos, chegando a ter 80 companheiros de ofício. Conta que muitos de seus colegas mais recentes passaram a trabalhar com a câmera Polaroid,

tecnologi a

que

ele

então

passará

também

a

adotar,

argumentando que por tiras fotos instantâneas coloridas, a Polaroid é mais vantajosa de se trabalhar do que a velha Lambe-lambe, também instantânea, porém preto e branco.

24

http://sampacentro.terra.com.br/textos.asp?id=430&ph=17, visitado em 08 de2004 Jornal Virtual Noticias de Itaquera - Ano XXIV,Edição nº 821, outubro de 2003, em www.notíciasdeitaquera.com.br, visitado em 01/10/2004; 31 25

“As câmeras lambe-lambe fazem três fotos iguais e em preto e branco(...)Todo mundo que vem aqui pergunta se a foto é colorida, como não é, perco muito serviço ”

Santos Segundo o escritor Narciso de Andrade, ao contar a história de famosa praça pública da cidade de Santos, a Praça dos Andradas, datada de 1822 26, e que mais tarde ficou conhecida como “Praça dos Fotógrafos”, justamente por ter se tornado local de trabalho de fotógrafos de rua, pioneiros, em sua época e sucessores, segundo o autor de fotó grafos europeus que ali chegaram no final do século XIX, os Lambe-lambes não mais existem, perdendo assim o sentido de aquela praça se chamar “P raça dos Fotógrafos” “Conhecidos como lambe-lambes, em função de sua técnica de reaproveitamento das chapas fotográficas nas máquinas tipo caixão, os fotógrafos de rua de Santos

acabaram

se

concentrando

na

Praça

dos

Andradas, até desaparecerem na década final do século XX” O escritor associa a decadência do Lambe Lambes naquela praça pública à própria decadência do local, que a partir da segunda metade do século XX sofreu um processo de descaracterização.

“Durante o dia, os lambe-lambes ainda teimavam em exercer ali a sua profissão, geralmente único meio de subsistência, ao lado de ciganas leitoras da sorte, alguns engraxates tradicionais, bancas de livros e 26

Jornal A Tribuna. Texto publicado na edição de 7 de junho de 1998 do caderno AT Especial. 32

revistas usados e algum ocasional camelô demonstrando seus produtos com truques circenses para atrair o público”.

Ainda nessa matéria o escritor Narciso cita matéria da

jornalista

Leda Mondin, que, em 3 de março de 1983, ao enfocar o Centro, citava: " Santos está perdendo mais um pouco da sua tradição: só restam dois dos tradicionais fotógrafos que retrataram a praça e os visitantes que a ela acorriam nos últimos 60 anos. Sabe-se lá quanto tempo mais esses dois últimos vão resistir" . Em 2001, conta Narciso, apraça foi reformada e revitalizada, e ganhou gradeamento em seu perímetro, e que não haviam lá os fotógrafos depois dessa última reforma.

Porto Alegre

Na reportagem para o Jornal Já de Porto Alegre Sinara Sandri e Carlos Carvalho 27 a linha é a mesma: “O destino dos fotógrafos ambulantes não é exceção em Porto Alegre. Assim como aconteceu em várias

outras

capitais

e

cidades

brasileiras,

a

profissão

está

praticamente extinta...”. Eles entrevistaram o fotógrafo Varceli Freitas (reportagem consultada em setembro de 2004) o qual afirma ser o último em atividade naquela cidade. Varceli atua na Praça XV, centro da capital, desde aos dez anos de idade, e, conta que na década de 1970, existiam 25 Lambe-lambes trabalhando ali também. Começou como ajudante do Pai, também Lambe-lambe, quando lavava as cópias que ele fazia; outros três irmãos também ajudavam.A reportagem destaca ainda o processo de descaracterização que sofreu aquela praça ao longo dos anos apontando 27

Jornal virtual ‘JornalJá’, “O último lambe-lambe de Porto Alegre”,por Sinara Sandri e Carlos Carvalho http://www.jornalja.com.br/detalhe_fotografia.asp?fid=5, visitado em 22/10/2004.

33

também a mudança da característica do público freqüentador.A exemplo do Parque Municipal em Belo Horizonte, Parque M oscoso em Vitória ou da estação da Luz em São Paulo, é descrita, como um lugar “bem freqüentado” no passado e que se descaracterizou em uma etapa mais recente. O “Chalé da Praça XV”, tipicamente um local no centro urbano que sofreu um processo de desvalorização. O curioso é vê-lo descrito em mais de uma vez como o “local onde ainda se encontram os últimos Lambelambes”: “Construç ão de 1874 em estilo Romântico normando e traços art-noveau, feita com estrutura de aço desmontável inglesa adquirida na f eira int ernacional de Bu enos Aires em 19 15. Era um

restaurante

tradicional

do

centro

de

Porto

Alegre,

freqüentado pela alta sociedade e posteriormente por boêmios e intelectuais. Tombado como patri mônio histórico em 1998. Atualmente foi resta urado e reaberto , em 1999 como um restaurante

escola

do

SENAC, especializado

na

culinária

gaúcha, mantendo até hoje os i lustres ladrilhos originais. Nel e se concentram os últi mos fotógrafos Lambe -La mbe.” 28

Reclama Varceli: “Olho em volta e está tudo desfigurado. Só tem vagabundo. Quem vai vir até aqui para bater fotografia?”

Brasília Reportagem do Jornal Correio Brasiliense 29 de 2001, trata da “fidelidade” de profissionais como o alfaiate, sapateiro, relojoeiro e Lambe-lambe, aos seus ofícios “cada vez mais raros”; entrevistado pelo 28

http://www.citybrazil.com.br/rs/portoalegre/turismo.htm, visitado em 27 09 2004 Jornal Correio Brasiliense, domingo 29 de agosto de 2001, “Como http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-08-26/mat_10256.htm, visitado em 17/08/2004 29

antigamente”,

34

referido jornal, o fotógrafo Geci Amaro de 62 anos, afirma que já tem 54 como fotógrafo. Ele conta que aprendeu a fotografar com a tradicional Lambe-lambe, com apenas oito anos de idade. Trabalha na praça do relógio desde 1965; “Aqui ser Lambe Lambe só serve de chamarisco, mas quando vou ao Rio de Janeiro a história é diferente” Geci contou que trabalha de tempos em tempos na Praça Tiradentes, cidade do Rio de Janeiro, onde segundo ele ainda encontra material para fotografar no método antigo, bem como clientes interessados em fazer fotografias no autentico Lambe-lambe, ou seja, em preto e branco e na chapa de vidro. Conta ainda Geci que para sobreviver no mercado ele adquiriu uma Polaroid sem a qual “não acompanharia a dinâmica atual”: “O Lambe-Lambe aqui de Brasília que não comprou uma máquina moderna está morrendo de fome”

35

3. "Metamorfose Ambulante": Lambe-lambe - de profissional artístico a subempregado

“Todas as grandes descobertas técnicas são,

sempre,origem

catástrofes.

Os

de velhos

crises

e

ofícios

desaparecem e surgem outros novos. Em todo caso, o seu nascimento significa processo , mesmo se as atividades por eles

ameaçadas

estão

condenadas

a

sucumbir ” 30

Neste capítulo, além de se colocar em questão a “queda de status” sofrida pelo Lambe-lambe durante décadas, há também o objetivo de se questionar o próprio conceito de ‘profissional artístico’ a ele atribuído. A figura do Lambe-lambe como um profissional tradicional, ou seja, aquele cujo ofício é passado de pai para filho, é perfeitamente questionável, isto se levadas em consideração as informações sobre a trajetória profissional da atual geração de Lambe-lambes de Belo Horizonte. A

Sociolo gia

das

Profissões(LEITE&SILVA,

1996),

de

uma

maneira geral, se preocupa com o modo pelo qual transformações na estrutura produtiva de uma sociedade incidem sobre como vivem as pessoas que dela fazem parte, se inserindo direta ou indiretamente em setores de sua economia, se firmando, como uma disciplina que busca reflexos estruturais para condições de surgimento ou desaparecimento das diversas atividades econômicas. O

fotógrafo

Lambe-lambe,

como

vimos,

é

uma

categoria

profissional que veio enfrentando no decorrer dos anos, vários tipos de 30

FREUND, Gisèle. Fotografia e sociedade.Lisboa: Ed.Vega, 1974

36

problemas: as praças onde trabalha hoje atraem outro tipo de público, a anti ga máquina caixote se tornou obsoleta, e o termo “Lambe-lambe”, de certa forma pejorativo. Ele assistiu ao que sociologicamente se pode chamar de uma “queda de status”. Se, na década de 1940, a sua renda o enquadrava nos padrões de um profissional liberal, hoje em dia ele é mais um no setor informal. Recorrentes são, como vimos no capítulo 2, as matérias e artigos que enquadram o Lambe-lambe como categoria profissional em extinção, ou até já extinta, costumando, al gumas delas associá-los aos profissionais de uma era pré-industrial ou artesanal, na qual o comum era a transmissão de um saber profissional de geração a geração.

Francis

Rose, por exemplo, em matéria para o jornal o Estado de Minas 31 cita como profissões tradicionais que estão em fase de extinção: o datilógrafo (e

conseqüentemente

o

trabalhador

ou

técnico

especializado

na

manutenção desse tipo de equipamento), o alfaiate, o carpinteiro de aeronaves, o lanterninha de cinema, o ferreiro, e o tipógrafo. O documentarista Cao Guimarães em seu vídeo sobre profissões em extinção 32,cita:

a

parteira,

o

benzedor,

o

relojoeiro,

ascensorista,

lanterninha, faroleiro, engrax ate, amolador de facas, recarregador de isqueiros, um funcionário de uma ferrovia desativada e até um ‘maestro’ de galos, todos eles considerados profissionais em extinção. O filme de Cao Guimarães, assim como a reportagem de Francis Rose,

deixam

transparecer

o

quanto

esses

“sobreviventes”

estão

associados a uma época de crise do trabalho 33, explosão do setor informal e de falta de oportunidades típicos de uma época pós-industrial e de capitalismo global. Em tal contexto, parece não haver espaço para o profissional artístico, não havendo também espaço (ou tempo) para a

31

Jornal Estado de Minas, domingo, 23 de fevereiro de 2003, página 25, edição empressa. “O fim do sem fim” de Beto Magalhães, Cao Guimarães, e Lucas Bambozzi - Brasil 2000, 93 min 33 “(...)O trabalho torna-se cada vez mais raro em nossa sociedade. A desvairada competição que se instala 4

entre os trabalhadores e entre as nações gera uma grave deterioração nas relações entre as pessoas, e a microeletrônica representa uma ameaça para a sociedade.”(AWED,1999:5)- ver também em KRISIS, Grupo, Manifesto contra o trabalho, São Paulo.1999, e também em HOBSBAWM, E. Mundos do trabalho. Rio de Janeiro. Ed. Paz e Terra, 1987. 37

transmissão dos “saberes tradicionais” aos quais se refere à pesquisadora Jerusa Ferreira, segundo a qual: “Um mestre de um ofício é sempre um sabedor, alguém bastante diferente que encarna um semideus, um pactuante com o sobrenatural, um detentor de um tipo de

liderança,

sobretudo

por

ser

ele

aquele

que

transforma, que inaugura um novo estado cultural. É da sua

memória

que

se

projeta

a

construção

do

mundo(...)” ( FERR EIR A,19 9 6: 1 03 ).

Entre

os

relacionados, transformar,

ofícios

alguns devido

tradicionais

estão ao

em

condenados

processo

de

vias a

de

extinção

sucumbir,

‘modernização’

outros (CBO

acima a

se

2002

Ministério do Trabalho e Emprego) forçando o trabalhador a se adaptar ou simplesmente migrar para outro tipo de serviço. Um exemplo: quem foi datiló grafo se transformou em digitador, mas isso somente porque restava demanda por aquele tipo de serviço; também o alfaiate e o sapateiro, profissões tradicionais, são forçadas a adaptações, a medida que se expande a indústria de confecções. Em todo caso, para esse tipo de profissional há a opção de ser aquele que oferece um tipo de serviço diferenciado, e por isso valorizado.

Para Bernadete W.Aued(AUED.1999:7), “A aceleração do processo de extermínio de profissões marca com ferro e brasa os profissionais do século em questão. A profissão de perfurador de cartões, em alta nos anos 70 do século XX, não encontra guarida no mercado de trabalho nos anos 90; ou seja, dentro de uma mesma geração. Ferramenteiros, temporariamente afastados para exercer mandato sindical, ao retornarem, encontram a fábrica metamorfoseada. A ferramentaria deste final de 38

milênio

é

uma

sala

ocupada

por

engenheiros

e

seus

computadores. Em quase nada lembra o tempo social em que os

ferramenteiros

tinham

importância

decisiva

na

fábrica(...)” Essa autora introduz o conceito de metamorfose 34 para dizer que nenhuma profissão está imune a crises, à probabilidade de um dia também sucumbir, pois

a “é

a própria sociedade que está em

constante

movimento”. Ela propõe desse modo uma reflexão histórica acerca das “metamorfoses sofridas pelas profissões”. A extinção de profissões, desse modo, evidencia uma sociedade em movimento, uma sociedade em período de transição AUED (1997:9). Ao conceito de metamorfose social, se junta o de “época social” 35, segundo o qual “uma época social sucede a outra, cada uma levando com si go hábitos e costumes, bem como atividades relacionadas a seu respectivo modo de produção”. O

Lambe-lambe

dessa

forma,

pertencente

ao

quadro

dos

“resistentes” é mais um que também se adaptou, seja aprimorando o modo como presta o seu serviço, seja contando com novas parcerias (Projetos de lei que incentivam a cultura e o turismo, etc. como veremos em ‘Conclusão’). O romantismo que sua figura inspira, todavia parece não ter se abalado, pois é geralmente associado a momentos de lazer e relaxamento, bem como a toda magia em torno do fenômeno da fotografia. Notório é, dentro da pouca literatura existente sobre o fotógrafo

Lambe-lambe

(MESQUITA,

2000)

(FERNANDES,

1998)

(LUBATTI, 1982) o tratamento superficial e às vezes romanceado a ele 34

Segundo Bernardete W. Aued, “metamorfose” é a “invenção de situações intoleráveis (...) Dela não escapa o personagem social caixeiro viajante e também a sua família. Ambos precisam conviver com a metamorfose, independentemente de vontade e de aceitação”.(AUED,1999:9) 35 O Brasil do século XVI, por exemplo, se voltava ao comércio exterior extraindo pau-brasil e trabalhando a cana de açúcar. Haviam por aqui nessa época profissionais como serradores, administradores de engenho, caçadores de índios e escravos, artesãos etc. No século dezoito,aqui já se desenvolviam as primeiras indústrias têxteis, e assim por diante até o séculos XX e XXI, entrando em cena indústrias como a automobilística e a eletrônica, surgindo como consequência profissionais tais quais, engenheiros, técnicos em mecatrônica, tecnólogos em informática etc. Profissionais como chapeleiros, alfaiates, costureira, sapateiro e o barbeiro são por ela enquadrados na época entre 1913 (época social do surgimento da indústria automobilística) e início da década de 1970, quando começa também a informatização industrial. 39

atribuído, o que pouco contribui com quem quer compreender o que significa ser trabalhador informal na conjuntura atual. Ao analisarmos a trajetória profissional (Quadro 1.) dos Lambelambes de Belo Horizonte, pudemos notar que poucos deles, de fato a minoria, se enquadra em um perfil de fotógrafo tradicional, nos termos de Jerusa Pires. De fato, o atual Lambe-lambe, passa longe de ser um mestre, ou de ter aprendizes (não que alguns não tenham sido). São pessoas provindas de famílias de não alto padrão sócio-econômico, que vieram para a capital em busca de emprego, tendo exercido ao lon go de sua trajetória outras atividades, informais ou com carteira assinada. Observou-se que, de quatorze profissionais entrevistados, apenas dois nasceram na cidade de Belo Horizonte, e que, também apenas dois (por sinal, exatamente os que aqui nasceram), tiveram como Lambe-lambe a sua primeira ocupação. Nota-se ainda que todos eles estão há mais de 20 anos na atividade de fotó grafo ambulante, sendo a sua media de idade também elevada (nenhum entrevistado tinha menos de 35 anos de idade). As atividades por eles exercidas antes de chegarem a ser Lambelambes, ocupação que em nem todos os casos foi motivada pela paixão pela fotografia ou pelo estímulo de um pai fotógrafo, independente do fato de hoje gostarem ou não de ser fotógrafos, vão, desde agricultura e pecuária, em fazendas remotas de propriedade alheia, até servente de pedreiro e carpinteiro na capital, o que nos faz associar sua trajetória profissional aos movimentos migratórios em direção aos centros urbanos a partir da década de 1960 como à dinâmica da economia informal no país. A sua atividade como autônomo e ambulante o enquadra claramente ao

chamado

“setor

informal”,

conceito

que

para

a

Organização

Internacional do Trabalho (OIT, 1972) é formado por um conjunto de características, como: (a) propriedade familiar do empreendimento, (b) origem e aporte próprio dos recursos, (c) pequena escala de produção (d) facilidade de in gresso, (e) uso intensivo do fator trabalho e de tecnologia

40

adaptada, e (f) aquisição das qualificações profissionais à parte do sistema escolar de ensino 36. Para Maria Cacciamali, o trabalhador informal é aquele que além de possuir as características acima mencionadas, “se orienta ara o mercado exercendo simultaneamente as funções de patrão e empregado” (CACCIAMA LI,2000:155), não existindo para ele separação entre as atividades de gestão e produção.

36

Em : C AC CI AM ALI , M . C. Gl o bal i zação e p rocess o d e i n formal i d ad e. Eco no mi a e So ci edade . Camp i n as , (1 4 ): 1 53 -1 74 ,j u n.2 0 00

41

Ta bel a 1. Tra jet óri a pr of is sional d e algu ns f ot ógraf os L am be-la mb es das praç as d e Bel o Hori z ont e;

Fotógrafo

Local

Ano / local de nasc.

Ano de chegada a Belo Horizonte

Augusto

Praça da estação

Patos de Minas/ M G

1966

Há quanto tempo trabalhando(ou trabalhou) como fotógrafo 34 anos

Camargo

Parque

1942

47 anos

Chico Manco

Parque

Mar tins Campos / Ibitir a / MG 1952, em Belo Horizonte MG

Isaac

Parque

1926 na Espanha

1932

João Gomes

Praça 1ºde maio

1977

João Lino

Praça da Estação

1955 em Congonhas do Norte MG 1955 em Turmalina MG

1985

19 anos

José Mar cos

Praça da Estação

1944

47 anos

José Pinto

Parque

1927 em Taquaraçu de Minas /M G 1938 Mar tim campos M G

Pedro

Praça da Estação

1949, em Turmalina MG

1982

20 anos

A g r i c u l t u r a e p e c u á r i a , s e r v en t e de pedreiro Obs:ele e o João Lino conheceram o Martins, antigo fotógrafo do Parque e vieram aprender o trabalho, que era rentável na época.

Tavinho

Parque

1936, Martin Campos M G

1959

39 anos

Trocador, sapateiro Obs: Irmão do João Pinto;

Wagner

Parque

39 anos

Obs: filho do fo tógrafo Maxi mi liano

Wi lson (“Piazza”)

Praça da rodoviária

1954, em Belo Horizonte MG 1948, em Sem Peixe / MG.

1970

30 anos

Agricultura,marcenaria, faxineiro, companhia de seguros;

Xavier

Parque

1940, em Mar tim Campos M G.

1959

40 anos

Gado/pecuária, empresa de transporte, como trocador e motorista de ônibus, SLU, sapateiro; Obs: conhecido como Totonho da dupla “Tavinho e Toronho”;

Zita

Parque

1943 Brumado dePitanguiM G

1957

23 anos

Serviço doméstico, loja de tecidos. Obs:Viúva de Lambelambe.

________

1965

--------------

Há 44 anos

De 1950 a 1989 20 anos

39 anos

Atividades antes de ser fotógrafo / Observações Fiscal de empr esa, engraxate, carregador de mala em rodoviária, vendedor, balconista em loja de fotografia; Comerciante

-----------------

---------------Vendia “ervas medicinais para calos” e “mexia com cobra na praça” Lavrador/empresa de ônibus(trocador)obs: Viajava de sua cidade para São Paulo e MG para trabalhos esporádicos em fazendas – menciona várias vezes o “setor de migração”; o b s 2: t a m b é m é b o m c a r p i n t e i r o e dá manutenção nas máquinas antigas Comércio, servidor p ú b l i c o ( a po s e n t a d o ) Carpinteiro e marceneiro obs: Confecciona os cavalinhos de outros Lambe-lambes do Parque;

42

Dessa forma, o lambe-lambe da atual geração, trabalhando com uma máquina convencional e vendendo seu produto - a foto grafia – como quem vende um saco de pipocas, pode ser associado muito mais a um trabalhador informal ou subempre gado, do que a um “mestre de ofício” pertencente a alguma tradicional família de fotógrafos, ou a um retratista de praças da década de 1940. É importante se reiterar todavia, que mesmo a atual Lambe-lambe, salvo o exemplo de São Paulo (PERSICHETTI, 1981), onde chegou a existir uma escola especializada em ensinar o ofício, tem como modo de ingressar no trabalho, o mais tradicional, que é, o pai ensinando para o filho ou, o que é até mais recorrente, um amigo, vizinho ou cunhado passando aquele saber ao seu companheiro, no intuito de inseri-lo naquela atividade comercial.

O fotógrafo Chico Manco, por exemplo;

conta que aprendeu seu ofício com o Sr. Zizi, que foi marido de D.Zita, (que por sinal assumiu seu ofício, trabalhando no P arque ainda hoje) Chico, que começou aos onze anos de idade, conta que era vizinho de Zizi, se mostrando interessado em seu ofício: “O Zizi morava perto da minha casa, no bairro Pirajá. Então ele me chamou pra ajudar aqui pra lavar retrato pra ele. Aí eu vim, me adaptei e gostei. (...) Eu trabalhei de ajudante com ele… Eu trabalhei muitos anos com ele. Até adquirir uma certa idade… Até aos 15 ou 16 anos, nessa faixa. E com ele eu aprendi a fazer as fotografias preto-ebrancas. Eu lembro até qual foto, a primeira foto que eu bati, e onde que eu bati a primeira foto aqui no Parque....”

Obs: os entrevistados de Glória também citam que realizam trabalhos extra cotidiano como festas de família, festas reli giosas, fato que impressionou a socióloga o que a fez repetir a pergunta outras vezes foi o fato de al guns deles já haviam tirado foto de “defunto”. (CRAV 2002)

43

Considerações sobre o Trabalho de Campo

Voltar a conversar com os fotógrafos do Parque Municipal, local em que estive trabalhando por dois anos , realizando atividades típicas de um estagiário de educação ambiental , no trabalho com grupos de crianças e adolescentes, não foi nada complicado, uma vez conquistada a confiança de alguns dos fotógrafos, principalmente a do Fotógrafo Chico Manco e a do Thomas , com os quais trabalhei junto na montagem de exposição em comemoração ao aniversário do Parque , exposição esta que visou valorizar o trabalho deles e de resultado muito satisfatório , dando inclusive a oportunidade de estreitarmos as relações e de eu expor para eles minha intenção de escrever sobre o trabalho deles. Em todo caso sabia das limitações advindas de uma aproximação que se restringiria a esses dois fotógrafos. S e por um lado, a convivência estreita e cotidiana nos possibilitou informações raras, por outro o que tínhamos era, para muitos assuntos, tão somente o ponto de vista daqueles fotó grafos a respeito da cate goria em geral. Ter

acesso

às

transcrições

das

entrevistas,

(bem

como

aos

pesquisadores que a realizaram), realizadas por Glória Amarante em 2002 fora de fundamental importância no sentido de se comparar o seu método de aborda gem com o meu, bem como cruzar as informações obtidas. Glória Amarante por exemplo se quer entrevistou o fotógra fo Thomas, Lambe-lambe com o qual tive mais contato. A socióloga, por outro lado teve acesso preferencial aos fotógrafos dos locais que não o Parque Municipal, enquanto dei preferência ao Parque. Entrevistou por mais tempo o fotógrafo Severino, já que o filho de Severino, Severino Júnior, historiador, fazia parte de sua equipe. De toda forma, as informações dadas pelos fotógrafos em ambas ocasiões, quando devidamente cruzadas, apresentaram semelhanças (me refiro a dois casos), e nos depoimentos daqueles dos quais não me aproximei mas acessei através do trabalho de Glória, transpareceram algumas divergências internas dos Lambe-lambe as quais, apesar de 44

notáveis em documentos pesquisados na Administração do Parque (Anexo III), não poderiam vir a tona simplesmente através de dois fotógrafos dos quais preferi me aproximar, ou seja, o trabalho só se completou ao cruzar diversas fontes. No trabalho de campo leva-se em conta, dessa forma, uma série de problemas metodológicos, como o citado acima, que diz respeito a um problema de aproximação, de interação social com os “estudados”. Se trata de refletir sobre em que condições se dá esta interação social com os

quais

se

está

estudando-

o

famoso

“problema

do

bias”

(BECKER,1992), segundo o qual o posicionamento do pesquisador em relação aos próprios pesquisados é fator de prejuízo (por preconceito) para o resultado final do trabalho 37, se torna necessário dessa maneira, explicitar algum registro do trabalho de campo efetuado, bem como justificar o método utilizado. “O observador tem o problema de tentar evitar ver apenas as coisas que estão de acordo com suas hipóteses implícitas ou explícitas(...) Esse tipo de bias pode ocorrer de várias maneiras. O observador, interagindo com aqueles que estuda em bases de longo prazo, acaba por conhecê-los como companheiros

seres

humanos

além

de

como

objeto

de

pesquisa; portanto é difícil para ele evitar sentimentos de amizade, lealdade e obrigação, os quais o fazem querer proteger alguns membros do grupo, e assim não ver aqueles eventos que os tornariam passíveis de crítica.” (BECKER, 1992:120) É verdadeiro que este trabalho favoreceu os relatos orais, pois partiu

37

justamente

de

um

trabalho

de

história

oral

(CRAV,2002),

A “acusação de bias”segundo Howard Becker(1992, p.31), é aqui encarada como um “problema de organização social de pesquisadores e daqueles que eles estudam”, sendo de toda forma um problema insolúvel uma vez que não está relacionado com o maior ou menor rigor metodológico ou ao fato de se abordar qualitativa ou quantitativamente o processo, mas “com o ponto de vista que parecemos estar assumindo”(BECKER, 1992: 32) 45

permeado pelo trabalho que já vinha sendo desenvolvido paralelamente junto aos ambulantes utilizando o método do survey.. Desse modo é que, a riqueza de informações que as impressões adquiridas em um dia de campo proporciona, deve se transformar em dados, alguns úteis, outros de menor relevância, sobre a estrutura organizacional

ou histórico, por exemplo deles. Já alguns fatores

internos são melhor percebidos a medida em que o poder de inserção e o fator confiança aumentam, sendo decidido que para esta pesquisa seria útil passar um dia inteiro ao lado de um fotó grafo Lambe-lambe, no caso o fotógrafo Chico Manco: “Na manhã de hoje voltei ao Parque Municipal para, como combinado anteriormente acompanhar um pouco da rotina de trabalho do já amigo meu fotógrafo Chico manco. Chico, que já trabalha no Parque Municipal desde os seus onze anos de idade, como ele mesmo o disse mais adiante em nossa conversa, estava ausente quando cheguei; já tinha ido pela primeira vez ao laboratório. Pois é mais ou menos assim que funciona a rotina de um Lambe-lambe. O Chico Manco, por exemplo: acorda todos os dias antes das cinco da manhã, pega a sua condução, as seis já está no Parque, brinca ‘chego aqui antes do vigilante’, e faz um caminhada antes de começar a trabalhar.” - Parque Municipal, 24/08/2004 -

O fato de se estar no local de trabalho, local de rotina do fotógrafo, no caso o Chico foi de extrema importância no sentido de perceber todo seu processo de trabalho, utilização de laboratório, relação com os colegas bem como com os freqüentadores do P arque, suas impressões sobre as condições atuais dentro do mesmo etc. Sendo que, muito embora nem todas as impressões terem sido transformadas em dados diretos, foram úteis posteriormente na elaboração de novas hipóteses. 46

Conclusão

“A aut enticidade de u ma coisa é a quintessê ncia de tudo o que f oi transmiti do pela tradição, a partir de sua origem, desde sua duração material até o seu testemunho

histórico.

Co mo

este

de pe nde

da

materialidade da obra quando ela se esquiva do homem através da rep rodução, também o testemunho se

perde.

Sem

dúvida,



esse

tes temunho

desaparece, mas o que desaparece com ele é a autoridade da coi sa, s eu peso tradicional.” W .Benjamim 38

A indústria fotográfica em expansão, já no final dos anos 1990 em plena “era” di gital coloca nas mãos das pessoas a oportunidade de lidar com a ima gem, que nada mais é que o produto da foto grafia, de uma maneira ainda mais ágil. Quando em 1880 o americano George Eastman desenvolveu uma máquina que continha a bobina de filme, e começou a fabricá-la em série comercializando-a por um preço bem acessível 39 (um dólar da época), já se poderia de certa forma antever o que a fotografia em pouco tempo deixaria de ser um produto de luxo.

Com a seguinte

propaganda: " Nossa câmera proporciona uma coleção dessas fotografias, e pode proporcionar uma história pictórica da vida tal como ela é vivida por você, e, cada dia que passa, ela terá mais valor”, a Kodak, se torna a primeira a comercializar a máquina de retrato em grande escala. 38

BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” in. Ed.Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 1969

A idéia do cinema,

39

SE N AC. D N. Fot ó graf o : o ol h ar, a t é cni ca e o t rab al h o . / Ro s e Zu an et t i ; El i zabet h Real , Nel s on Ma rt i ns et al . Ri o de J anei ro : Ed . Sen ac Naci on al ,2 00 2. 19 2 p . 47

Os Lambe-lambes modernos não estão alheios ao tempo das digitais como nunca deixaram de se adaptar. Da máquina tradicional original do século dezoito passaram às máquinas ópticas na era do filme colorido, aos monóculos quando imposta a nova moda retornando às ópticas quando a moda passou.

Trabalharam com a Polaroid quando foi lançada no

mercado, a utilizando enquanto lhes foi conveniente e hoje alguns já pensam em investir em equipamento digital e impressoras, se é que já não estão o fazendo. Ao se defender das acusações dos colegas de que estariam “matando o Lambe-lambe” no P arque municipal (Capítulo 1), Camargos e seu filho se basearam em lei trabalhista que permite ao autônomo inovar tecnologicamente em seu ofício, e assim seu mini laboratório instantâneo, ou melhor seus três equipamentos estão funcionando por lá até hoje. Os Lambe-lambes não têm altos ganhos, como não os têm quaisquer trabalhadores do setor informal, e se tinha há sessenta anos atrás é porque a densidade demo gráfica nos centros urbanos era bem menor , e a situação do emprego era bem menos precária. Responder a todas as questões, ir a fundo em todas as hipóteses levantadas ao longo do trabalho de modo a “resolver” o problema da extinção do tradicional Lambe-lambe, seja tentando afirmar que ele não entrará em extinção ou que, ao contrário, ele realmente está condenado, tentando o enquadrar em alguma categoria fixa dentro do sistema social, seria um grande erro. Não se pode simplesmente encerrar os fotógrafos de praças e jardins à categoria de ambulantes ou subempre gados, como está errado os classificar como “heróis da resistência” ou teimosos em demasia, uma vez não es gotada a gama de hipóteses que um trabalho como esse vem suscitar. Certamente que um estudo mais aprofundado em cima da clientela desse atual Lambe-lambe nos espaços hoje considerados descaracterizados e desvalorizados no cenário urbano, bem como um estudo sobre as transformações destes logradouros ao longo das décadas será de grande valor para a continuidade deste trabalho. Em al gum momento da pesquisa se pergunta se os Lambe-lambes estão mesmo em extinção; eles têm mercado – o sub mercado do baixo poder aquisitivo, trocas entre as pessoas de baixo poder, preços mais baixos em jogo. 48

De fato que estas e outras hipóteses ganharam força ao longo do trabalho, como a de os profissionais que atuam no Parque Municipal Américo René Gianetti em Belo Horizonte, estarem “menos em extinção” do que os de fora dela, como se constatou. Pôde-se notar um maior interesse de sua administração na melhoria das

condições

tanto

dos

fotógrafos

como

dos

ambulantes

e

concessionários que lá trabalham, através de regras rí gidas quanto ao trabalho não autorizado no seu interior. Uma outra hipótese levantada ao longo da pesquisa relacionada à “sobrevida” dos Lambe-lambes do Parque de Belo Horizonte se sustentou pelo fator “organização enquanto categoria profissional”, ao notar que aqueles fotógrafos foram os únicos a tomar tal iniciativa, juntamente com os outros ‘informais’ do parque. Todas elas precisam ser aprofundadas, de fato; problemas como os de organização interna da categoria, as projeções que poderiam ter sido feitas em relação a outros informais, ou mesmo em relação às estatísticas para o trabalho no Brasil e no Mundo, enfim, o que só vem a mostrar que o presente trabalho de pesquisa é como um leque aberto com perguntas, algumas delas com indicativos de respostas. Resta falar no projeto de lei 1073/02 (P L 1073/02) do município de Belo Horizonte que propõe “tornar patrimônio cultural de Belo Horizonte a atividade de fotógrafo ambulante”. Em fase de discussão, ele se assemelha ao PL 1783/04, este já aprovado 40, que cria “o livro específico para registro de bens culturais de natureza imaterial da cidade de Belo Horizonte” que contemplou em seu texto, festas religiosas, manifestações culturais entre outros, inclusive a atividade desenvolvida pelos Lambelambe. De acordo com o texto do referido projeto, seriam tombados como patrimônio cultural não a máquina, nem o local de trabalho, mas a modalidade de trabalho, sendo o objetivo desse tipo de lei proteger em certo sentido o que se denomina “patrimônio imemorial”.

40

J orna l Es ta do de M i na s , t erça-fei ra, 09 d e no vemb ro d e 20 0 4, “Câm ara d e BH apro va p ro j et o d e l ei par a t o mbamen t o d e b ens c u l t urai s ”, 49

ANEXO I -Sistema de rodízio dos lambe-lambes do Parque Municipal Américo RennéGianetti

Figura1: Pontos do rodízio

Tabela 1. Nome dos pontos

Fotógrafos Entrevistado: Tavinho Data: 17 /01/ 02 Pontos: 1. “Banheiro da escadaria” 2. “Coreto” ( saída Bahia) 3. “Bahia descendo” 4. “Debaixo da jaqueira” 5. “Jaqueira” 6. “Portão da Andradas” 7. “Banheirinho”( depois da roda gigante) 8. “Roda gigante” 9. “Encruzilhada” ou “Trenzinho” 10. “Tibal” ( junto aos equipamentos de ginástica ) 11. “Teatro”(Francisco Nunes) 12. “Escadaria” ( perto do teatro )

50

ANEXO II - FOTOS

1.Carrinho de um Lambe-lambe do Parque Municipal Américo René Gianetti. Foto: Marcelo Franco, 2002

2.Chico Manco em atividade no Parque Municipal Américo René Gianetti. Foto: Acervo Pessoal Chico M.

51

2.1.Chico Manco na exposição “História Social de belo Horizonte”, durante a Semana de Meio Ambiente em de Junho de 2003. Foto: Marcelo Franco, 2003

3. Fotografia tirada por Camargos com chapa de vidro na década de 1940. Foto: Acervo pessoal José Ferreira de Camargos

52

3.1. Tomas trabalhando no mecanismo do minilab, na década de 1980. Foto: Acervo pessoal José Ferreira de Camargos

4. Exposição “História social de Belo Horizonte” e do Acervo pessoal dos fotógrafos em comemoração ao aniversário do Parque Municipal Américo René Gianetti. Foto: Marcelo Franco

53

ANEXO III – Documentos:

54

55

Doc.1.Documento expedido pela Associação dos Comerciantes e Concessionários do Parque Municipal Américo René Gianetti, em 11 de março de 1993, descrevendo o histórico de sua presença naquele espaço público. Fonte: Arquivo PBH 56

57

Doc.1.1. Decreto Nº 59 de 29/11/1935, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Depto. de Parques e Jardins, que dispõe sobre os pontos dos fotógrafos ambulantes. Fonte: Arquivo PBH.

58

59

Doc. 1.2.Abaixo assinado de 19/06/1988 dos fotógrafos do Parque Municipal Américo René Gianetti, contra o mini-laboratório dos Camargos. Fonte: Arquivo da PBH

60

ANEX O I V - Entrevista infor mal no campo com o fotógrafo José

Marcos há 40 anos fotógrafo na Praça Rui Barbosa em 30 / 08 2004:

“Me apresentei ao José (‘Zé guela’) como estudante ele logo começou a conversar comigo, se abrindo ainda mais quando disse que era amigo do Chico Manco – ‘há, fala para ele vir aqui, pois me deve 10 reais !’ - Conta que já por várias vezes foi a universidades e colégios falar sobre seu trabalho e que isso lhe rendeu bom dinheiro e, achando inclusive

essa

situação

engraçada;

disse

que



fora

entrevistado por vários jornais e revistas lamentando só ter comprado um exemplar de certa revista; Sr. José chega ao seu ponto pelas sete da manhã indo para casa às quatro e meia da tarde; guarda, como muitos outros trabalhadores informais do centro da cidade, o seu material em um ponto seguro por ali mesmo, ou seja, não leva para casa o equipamento que consiste em uma barraca guarda sol, uma caixa que serve de banco e baú ao mesmo tempo e sua antiga máquina modelo bernardi a qual só serve de chamariz para o Sr. José trabalha de segunda a sábado, não indo ao ponto aos domingos, conta, domingo eu - faz um gesto engraçado”

61

BIBLIOGRAFIA

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