Programa \"História Medieval\" - UFU. Segundo semestre de 2015.

July 4, 2017 | Autor: Guilherme Luz | Categoria: Medieval History, History of Historiography
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE HISTÓRIA COLEGIADO DO CURSO DE HISTÓRIA PLANO DE CURSO

DISCIPLINA: História Medieval CÓDIGO: GHI005

PERÍODO: 2º Período

TURMA: Manhã (Sala 5O 214)

CH TEÓRICA: 60h

CH TOTAL: 60h

Obrigatória para Licenciatura e Bacharelado em História.

ANO/SEMESTRE: 2015/2

PROFESSOR: Guilherme Amaral Luz

EMENTA DA DISCIPLINA O mundo medieval ocidental. A constituição do feudalismo e suas relações simbólicas. As relações de trabalho. A Igreja e o imaginário medieval. Vida cotidiana e sensibilidades. Crescimento urbano e comercial. As transformações na agricultura e nas mentalidades. Estudo da historiografia sobre o tema.

JUSTIFICATIVA Sob o risco de incorrer em exagero, é possível dizer que não existe conceito mais controvertido em termos de periodização histórica como aquele de “Idade Média”. A expressão, em si, traz a marca de uma concepção de tempo e carrega os preconceitos de uma construção posterior: a construção renascentista. Foi na Toscana humanista que emergiu a noção de uma Antiguidade greco-latina elevada, fonte de autoridade e saberes para os modernos. Esta “grande civilização” teria entrado em decadência e se degenerado a partir das invasões dos povos do norte da Europa, cabendo aos homens “modernos” fazer renascer, da ignorância e da estagnação do potencial humano, a grandeza de uma era perdida. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a leitura da história como um progresso rumo às “Luzes” se faz herdeira dos preconceitos renascentistas e pensa a “época moderna” como retomada do progresso, enquanto o período que a separa da Antiguidade (agora dita “Clássica”) como era de “trevas” e retrocessos. É desta tradição filosófica que surge o paradigma de uma periodização da história em três seguimentos: Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna; tripartição que seria naturalizada, propagada e, pior, universalizada no âmbito da historiografia desde o século XIX e com ressonâncias ainda hoje na academia e no ensino básico. Desde o final do século XIX e, sobretudo, início do século XX, no entanto, a periodização da chamada “Idade Média” passou a ser profundamente revista e, com ela, a sua própria conceituação histórica. Por um lado, este fenômeno esteve articulado à crise de um paradigma da História Política nacionalista do século XIX e à emergência de abordagens de História Social e Econômica em perspectiva “internacional”. Por outro, esteve articulado a um “olhar antropológico” que começou a buscar a compreensão da “Idade Média” como um “outro”. Isso implica pensa-la não como etapa obscurantista de uma civilização da qual é parte constituinte, mas, principalmente, nas suas particularidades como civilização singular. A partir do entre guerras, tais perspectivas

2 foram articuladas na historiografia francesa no âmbito da chamada Escola dos Annales, da qual um dos seus fundadores, Marc Bloch, era um exímio medievalista. A renovação dos estudos sobre a Idade Média no século XX, tendo como alguns de seus “precursores”, Henri Pirenne e Johan Huizinga, foi impactada e ao mesmo impactou na radical renovação da historiografia francesa e europeia, com enorme ressonância nas chamadas História Social e História Cultural da contemporaneidade. A disciplina, tal como organizada neste plano de ensino, justifica-se, portanto, como oportunidade de problematização do conceito e da periodização da “Idade Média”, entendida como lugar de invenção epistemológica contemporânea de uma historiografia com “olhar antropológico”. Ela buscará abordar algumas das temáticas mais clássicas implicadas nas discussões do século XX sobre o conceito de Idade Média e seus marcos iniciais e finais, operando principalmente com estudos de autores de referência, tais como Henri Pirenne, Johan Huizinga, Marc Bloch, Georges Duby e Jacques Le Goff. Nesse sentido, estará dividida em três unidades. Na primeira, pretende traçar um panorama sobre as discussões em torno da origem do “feudalismo” e do problema da “feudalidade”. Na segunda, buscará estudar os “modelos culturais” e as “formas sociais” que vêm sendo pensadas como características da “civilização medieval” na historiografia recente. Por fim, pretendese, em terceiro momento, aprofundar o entendimento da genealogia deste “olhar antropológico” sobre a Idade Média, explorando a obra clássica de Johan Huizinga: O outono da Idade Média.

OBJETIVOS DA DISCIPLINA Objetivo Geral: A disciplina busca problematizar o conceito e a periodização da chamada “Idade Média”, tendo como foco a constituição, desde a crise do “mundo antigo” (particularmente do Império Romano do Ocidente) e a expansão do Islã em direção ao oeste, da chamada “civilização cristã europeia”. Busca-se compreender as particularidades antropológicas desta “nova civilização” e as suas condições sociais, econômicas e culturais de emergência e de desenvolvimento.

Objetivos Específicos (conforme Projeto Pedagógico do Curso): - Identificar o processo de formação, desenvolvimento e crise do feudalismo. - Analisar a sociedade de ordens e trabalho servil. Compreender aspectos da vida cotidiana, imagens, imaginário e sensibilidades. - Analisar o processo de desenvolvimento urbano e comercial aliado às transformações agrícolas. - Problematizar as guerras e revoltas de camponeses.

PROGRAMA 19/08/2015 – Aula 1: Apresentação e discussão do Programa Unidade 1: Origens do Feudalismo e o Problema da Feudalidade. 26/08/2015 – Aula 2: PIRENNE, Henri. “Introdução”; “Capítulo 1: o renascimento do comércio”. In: História Econômica e Social da Idade Média, São Paulo: Editora Mestre Jou, 1963. pp. 7-44. 02/09/2015 – Aula 3: CARROLL BARK, William. “O início da Idade Média”; “O problema do início medieval”. In: Origens da Idade Média, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962. pp. 11-49. 09/09/2015 – Não haverá aula. Professor estará em banca. Atividade substitutiva a combinar. 16/09/2015 – Aula 4: BLOCH, Marc. “Introdução - orientação geral da investigação”, “Condições materiais e tonalidades econômicas”; “A feudalidade como tipo social”; “Os prolongamentos da feudalidade europeia”. In: A sociedade feudal, Lisboa: Edições 70, s/d. Versão digitalizada disponível em http://groups.google.com.br/group/digitalsource. pp. 13-18; 83-93; 480-487; 488-494. 23/09/2015 – Aula 5: Prova 30/09/2015 – Aula 6: Avaliação da disciplina pelos alunos e autoavaliação 1. 07/10/2015 – Aula 7: Vista de prova e divisão definitiva dos grupos de seminários.

Unidade 2: Modelos culturais e formas sociais – a Idade Média como um “outro”. 14/10/2015 – Aula 8: Convidado para aula especial (Matielo Oliveira)

3 21/10/2015 – Substituição de Atividades: Integra UFU. 28/10/2015 – Aula 9: BLOCH, Marc. “As maneiras de sentir e de pensar”; “A memória coletiva”; “O renascimento intelectual na segunda idade feudal”; “Os fundamentos do direito”. In: A sociedade feudal, Lisboa: Edições 70, s/d. Versão digitalizada disponível em http://groups.google.com.br/group/digitalsource. pp. 94-110; 111-126; 127-132; 133-146. 04/11/2015 – Aula 10: DUBY, Georges. “Poder Privado, Poder Público”; “A solidão nos séculos XI-XIII”. In: História da Vida Privada vol. 2: Da Europa Feudal à Renascença, São Paulo: Companhia das Letras, 1991. pp. 19-46; 503-526. 11/11/2015 – Aula 11: LE GOFF, Jacques. “Franciscanismo e modelos culturais do século XIII”. In: São Francisco de Assis, Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2001. pp. 183-243.

Unidade 3: Huizinga e a antropologia de um espírito em mutação. 18/11/2015 – Aula 12: HUIZINGA, Johan. “A representação do sagrado”. In: O outono da Idade Média, São Paulo: Cosac Naify, 2010. pp. 247-285. 25/11/2015 – Aula 13: HUIZINGA, Johan. “O simbolismo fenecido”; “O realismo e o sucumbir da imaginação no misticismo”. In: O outono da Idade Média, São Paulo: Cosac Naify, 2010. pp. 333-351; 353-373. 02/12/2015 – Aula 14: HUIZINGA, Johan. “As formas de pensamento na vida prática”. In: O outono da Idade Média, São Paulo: Cosac Naify, 2010. pp. 375-411. 09/12/ 2015 – Aula 15: Avaliação da disciplina pelos alunos e Autoavaliação 2. 16/12/2015 – Vista de Avaliações e encerramento.

METODOLOGIA A disciplina, na primeira unidade, seguirá no formato de aulas de discussão de texto. A partir da unidade 2, as aulas terão a metade do tempo destinada à apresentação de seminários e a outra metade voltada a comentários do professor sobre as leituras determinadas. Os seminários serão apresentações simples do conteúdo e da argumentação dos textos escolhidos para a aula.

AVALIAÇÃO Na unidade 1, a avaliação ocorrerá por meio de prova escrita e autoavaliação. Nas demais unidades, por meio de seminários em grupo e autoavaliação. Valores: Prova Escrita da Unidade 1: 20 Seminário das Unidades 2 ou 3: 30 Autoavaliação 1: 20 Autoavaliação 2: 30 Obs.: As duas autoavaliações somadas correspondem à metade da nota. A prática da autoavaliação vem sendo aplicada pelo professor da disciplina e aperfeiçoada por mais de uma década. Ela tem como objetivo principal desenvolver a autonomia crítica do estudante a respeito do seu próprio desempenho, introduzindo elementos ligados à ética, à responsabilidade e à auto-percepção. O peso da autoavaliação parte da convicção da possibilidade de estabelecimento de relações maduras e de confiança entre professor e estudantes na busca por um objetivo comum: o crescimento intelectual e o amadurecimento acadêmico de todos. Os critérios da autoavaliação serão frutos de uma construção coletiva junto à turma e a orientação de todo o processo será conduzida pelo professor nos dias propostos para estas atividades.

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BIBLIOGRAFIA Bibliografia Básica: BLOCH, Marc. A sociedade feudal, Lisboa: Edições 70, s/d. CARROLL BARK, William. Origens da Idade Média, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962. DUBY, Georges (ed.). História da Vida Privada vol. 2: Da Europa Feudal à Renascença, São Paulo: Companhia das Letras, 1991. HUIZINGA, Johan. O outono da Idade Média, São Paulo: Cosac Naify, 2010. LE GOFF, Jacques. São Francisco de Assis, Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2001. PIRENNE, Henri. História Econômica e Social da Idade Média, São Paulo: Editora Mestre Jou, 1963.

Bibliografia Complementar: ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Porto: Afrontamento, 1989. BASCHET, Jérôme. A Civilização Feudal: do ano mil à colonização da América. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2006. BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio: França e Inglaterra, São Paulo, Companhia das Letras, 1993. DUBY, Georges. Guerreiros e Camponeses: os primórdios do crescimento Europeu, séc. VII / XII. Lisboa: Estampa, 1979. DUBY, Georges. Guilherme Marechal ou melhor cavaleiro do mundo. Rio de Janeiro: Edições do Graal, 1988. DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos. São Paulo: UNESP, 1998. HALPHEN, Louis. Carlomagno y el Imperio Carolingio, Mexico: UTEHA, 1955. KANTOROWICZ, Ernst H. Os dois corpos do rei. Um estudo sobre a teologia política medieval, São Paulo: Companhia das Letras, 1998. LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. v. 1. Lisboa: Estampa, 1983. LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa: Estampa, 1997. LE GOFF, Jacques. Em busca da Idade Média: conversas com Jean Maurice de Montremy. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. LOT, Ferdinand. El fin del mundo antiguo y el comienzo de la Edad Media, México: UTEHA, 1956. ROSTOVTZEFF, Michael. História de Roma, Rio de Janeiro: Zahar, 1961.

APROVAÇÃO Aprovado em reunião do Colegiado do Curso de Em ___/____/______

_____________________________________ Coordenador do curso

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