PROGRAMA\'DE\'PÓS,GRADUAÇÃO! MESTRADO\'EM\'INTEGRAÇÃO\' CONTEMPORÂNEA\'DA\'AMERICA\'LATINA

PROGRAMA'DE'PÓS,GRADUAÇÃO! MESTRADO'EM'INTEGRAÇÃO' CONTEMPORÂNEA'DA'AMERICA'LATINA!

! ! ! ! ! ! !

A'INTEGRAÇÃO'NA'AMÉRICA'LATINA'SOB'A'ÓTICA'DA'ARTE'DE'DENUNCIA' DURANTE'AS'DITADURAS.' ' FABIO'CASTANHEIRA' FABIO'MALIKOSKI' TALITHA'PEREZ'BIANCHINI' ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Foz!do!Iguaçu! 2015!

!

! ! PROGRAMA'DE'PÓS,GRADUAÇÃO! MESTRADO'EM'INTEGRAÇÃO' CONTEMPORÂNEA'DA'AMERICA'LATINA! '

! ! ! ! ! A'INTEGRAÇÃO'NA'AMÉRICA'LATINA'SOB'A'ÓTICA'DA'ARTE'DE'DENUNCIA' DURANTE'AS'DITADURAS.' ' FABIO'CASTANHEIRA' FABIO'MALIKOSKI' TALITHA'PEREZ'BIANCHINI' ! ! Trabalho! da! disciplina! de! Seminário! Teórico:! América! Latina! e! as! Integrações! Regionais,! apresentado! ao! Programa! de! PósGgraduação! do! Mestrado! em! Integração! Contemporânea! da! América!Latina!(ICAL).! ! ! ! ! ! ! Foz!do!Iguaçu! 2015! ! !

! 2!

! !

CASTANHEIRA,! FabioR! BIANCHINI,! Talitha! PerezR! MALIKOSKI,! Fabio.! A' Integração' na' América' Latina' sob' a' ótica' da' arte' de' denuncia' durante' as' ditaduras.!2015.!Artigo!para!a!disciplina!de!Seminário!Teórico:!América!Latina!e!as! Integrações! Regionais–! Universidade! Federal! da! Integração! LatinoGAmericana,! Foz! do!Iguaçu,!2015.! ! ! ' RESUMO' Neste!trabalho!propomos!uma!análise!das!representações!sobre!a!formação!de!uma! identidade!coletiva!latino!americana!presente!nas!obras!artísticas!dentro!do!contexto! ditatorial!nos!anos!1960!e!1970.!Partindo!da!hipótese!que!acontecimentos!similares! e!conjuntos!fizeram!parte!de!um!mesmo!contexto!histórico!e!assim!de!uma!formação! social,! vemos! a! importância! de! compreender! o! imaginário! coletivo! acerca! de! analises! semióticas! e! discursivas.! As! reflexões! sobre! uma! nova! condição! representativa! dos! ícones! tornamGse! promulgadores! de! uma! nova! construção! simbólica!e!sígnica.!A!denuncia!plástica!pode!ser!vista!como!um!indicador!para!uma! nova! construção! epistemológica! latino! americana! e,! sobretudo! como! meio! de! integração!de!povos!perante!aos!mesmos!contextos!sociais.! ' ' Palavras,chave:'Ditaduras.!Integração.!Iconografia!plástica.!Semiótica.! '

! !

'

3!

! !

Sumário( INTRODUÇÃO*..................................................................................................................................*5! CAPITULO*1.*O*FENÔMENO*DA*DITADURA*NA*AMERICA*LATINA*E*A*RESISTÊNCIA*COM* INTEGRAÇÃO*SUBVERSIVA*VERSO*INTEGRAÇÃO;COPERAÇÃOMILITAR*............................................*9! CAPITULO*2.*A*PROPOSTA*DA*SEMIÓTICA*PARA*ESTUDO*DAS*ARTES*COMO*METODOLOGIA*........*19! CAPITULO*3.*REFLEXÃO*SOBRE*AS*OBRAS*DE*ARTE*;*INTERPRETAÇÕES*A*CERCA*DA*ARTE*COMO* VEÍCULO*INTERPRETATIVO*DA*INTEGRAÇÃO*.................................................................................*22! CAPITULO*4.*CONSIDERAÇÕES*FINAIS*............................................................................................*34! REFERÊNCIAS*BIBLIOGRÁFICAS*......................................................................................................*36! ANEXOS*.........................................................................................................................................*39! !

!

! !

!

4!

! !

INTRODUÇÃO' Ao! refletir! sobre! as! perspectivas! culturais! e! artísticas! perante! aos! processos! sociopolíticos!da!América!Latina,!vemos!que!a!integração!em!um!conceito!amplo!e! dinâmico,! acontece! através! de! iniciativas! articuladas! como! rede! de! intercâmbio! e! cooperação!regionais!que!proferem!e!se!apropriam!de!diferentes!opiniões.! Perante! os! conceitos! de! integração! e! suas! diferentes! perspectivas! conferimos! aqui! esta! em! uma! noção! tanto! ampla! como! subjetiva,! vista! nesta! proposta! como! uma! junção! de! ideais! e! contextos! históricos! perante! a! promulgação! de! saberes! e! conhecimentos!simbólicos!condizentes!a!sociedade!latino!americana.! “O! estudo! clássico! das! relações! internacionais! parte! do! pressuposto! da! existência! de! relações! formais! entre! Estados! soberanos! o! que! implica! na! aceitação! plena! da! ideia! de! nação! e! Estado.! Inversamente,! o! emprego! do! método! marxista! no! estudo! das! relações! internacionais! teria! como! resultado! um! instrumento! de! análise! que! passa! pela! desconstrução! do! conceito! de! Estado,! tal! qual! entendido! pelas! teorias! dominantes! de! relações! internacionais,! isto! é,! pela! desconstrução! de! um! conceito! considerado! fundamental! por! tais! concepções! teóricas.! Não! desconhecemos! que! no! final! do! século! XX,! e! agora! no! XXI,! há! outras! teorias! no! campo! das! relações! internacionais!–!o!construtivismo,!por!exemplo!G,!que!reduz!significativamente! o! papel! do! Estado,! mas! essas! teorias! não! têm! como! pressuposto! o! papel! estruturador! das! relações! de! produção! e! o! papel! fundamental! das! classes! sociais,! pontos! centrais! para! o! marxismo! e,! ainda! que! de! forma! atenuada,! para!este!na!sua!versão!gramsciana!(VIGEVANI,!2011,!p.!112)”.!

Marx! tentou! compreender! o! sentimento! de! nação,! constituído! no! Estado! moderno,!a!partir!de!seu!sentido!ideológico!e!isso!embasa!as!teorias!construtivistas,! onde!observamos!o!conceito!de!estrutura!e!identidade!e!o!foco!está!na!construção! social! e! nas! ideias! são! baseadas! em! uma! realidade! social! construída,! onde! as! estruturas,! as! identidades! e! os! interesses! são! definidas! e! construídos! pelas! ideias! compartilhadas.!! “First,!social!structures!are!defined,!in!part,!by!shared!understandings,!expecG! tations,!or!knowledge.!These!constitute!the!actors!in!a!situation!and!the!nature! of! their! relationships,! whether! cooperative! or! conflictual.! A! security) dilemma,) for!example,!is!a!social!structure!composed!of!intersubjective!understandings! in! which! states! are! so! distrustful! that! they! make! worstGcase! assumptions! about!each!others'!intentions,!and!as!a!result!define!their!interests!in!selfGhelp! terms!(WENDT,!1995)”.!

Portanto,!uma!identidade!coletiva,!além!de!incluir!as!outras,!vai!além!da!mera! interdependência!dos!agentes!para!alcançar!um!grau!de!identificação!com!o!outro.!A! integração,! aqui,! é! vista! como! uma! ação! para! diminuir! barreiras! entre! as! nações! e! ! !

5!

! !

povos,!aprimorando!os!desenvolvimentos!socioculturais,!seja!através!da!integração,! da!cooperação!ou!mesmo!da!identificação!social.! “A! sociedade! civil! é! o! sistema! de! relações! sociais! que! organiza! a! produção! econômica! (agricultura,! indústria! e! o! comércio),! realizandoGse! através! de! instituições! sociais! encarregadas! de! reproduziGlo! (famílias! ,! igrejas,! escolas,! política,! partidos! políticos,! meios! de! comunicação,! etc.)! É! o! espaço! onde! as! relações! sociais! e! suas! formas! econômicas! e! institucionais! são! pensadas,! interpretadas! e! representadas! por! um! conjunto! de! ideias! morais,! religiosas,! jurídicas,! pedagógicas,! artísticas,! cientificoGfilosóficas! e! políticas! (CHAUÍ,! 2000,!p.!532)”.!

A sociedade é o espaço para isso e quando estas relações se veem em contradição ou são subjugadas - como nos períodos ditatoriais - estes agentes se veem em cheque e com seus espaços de discussão comprometidos, censurando a sua produção de material intelectual. Portanto, sua cultura, sua arte, como parte da sua construção de identidade, representativa e simbólica é colocada em risco. “A! ideia! de! cultura,! sempre! moldada! conforme! as! visões! políticas! de! cada! tempo,! detém! em! si! as! chaves! dos! sistemas! de! poder.! Chaves! que! podem! abrir!portas!para!a!liberdade,!para!a!equidade!e!para!o!diálogo.!Mas!também! podem! fecháGlas,! cedendo! ao! controle,! à! discriminação! e! à! intolerância! (BRANT,!2009)”.!

Na!América!Latina,!observamos!durante!o!século!XX!que!os!direitos!humanos!e! a! liberdade! da! sociedade! civil! foram! vítimas! de! atentados,! sendo! ora! diminuídas,! limitadas,! ou! mesmo! excluídas! da! noção! de! cidadania.! Essa! fase! da! história! de! nossa! sociedade! é! marcada! por! abusos! e! por! crimes! contra! a! humanidade,! fatos! esses!decorrentes!diretamente!de!circunstancias!que!se!tornam!comuns!em!vários! países!da!América!Latina.!! Neste! período,! regimes! políticos! autoritários! foram! resultado! de! quadros! evolutivos! das! novas! repúblicas,! substituindo! ou! alternando! seus! governos! entre! ensaios! de! democracias! representativas! e! partidárias,! em! ditaduras! militares! ou! governos!civis!totalitários!ou!autoritários.! No!caso!das!ditaduras,!podemos!avaliar!como!resultado!alguns!casos!do!cenário! internacional! que! seguiu! as! duas! grandes! guerras.! Dentre! estes! processos! totalitários,! podemos! identificar! ações! de! integraçãoGcooperação! institucional! entre! países!latinos,!tendo!como!exemplo!a!Operação!Condor,!operação!clandestina!que! ! !

6!

! !

criou!mecanismos!que!garantiram!a!“soberania”!diante!da!Ameaça!Vermelha!como! ficou! conhecida! o! crescimento! da! presença! dos! ideais! marxistas,! ou! socialistas! do! bloco!comunista!soviético!nas!Américas!desde!a!revolução!cubana!nos!anos!1950.! Mesmo!que!não!signifique!que!oficialmente!houve!cessão!de!soberania!por!parte!de! quaisquer! um! dos! países! membros! do! bloco! clandestino,! se! nota! em! várias! fontes! que! além! de! homens,! essa! cooperação! permitiu! que! equipamentos! e! outros! recursos!além!de!informações!circulassem!livremente!em!solo!estrangeiro.)! Por!outro!lado,!suportes!foram!oferecidos!por!nações!simpáticas!aos!movimentos! de!resistência!subversivos,!como!foi!o!caso!de!Cuba!e!União!Soviética!(URSS).!De! modo! sistemático! tais! nações! auxiliaram! e! facilitaram! em! alguns! momentos! a! logística!e!a!manutenção!de!células!de!resistência!armada,!com!transporte!de!bens! e!pessoas!dentro!do!continente!americano,!tornando!possível!instrumentalizar!uma! integração!de!resistência!aos!regimes!e!influencias!das!potências!hegemônicas!que! apoiavam! os! regimes! simpáticos! ao! modelo! liberal! ou! capitalista,! propostos! por! países!como!os!Estados!Unidos!da!América.!!! Tema!de!diversos!livros!e!trabalhos!acadêmicos,!as!ditaduras!foram!e!ainda!são! em! algum! nível,! causa! de! pobreza,! baixo! IDH,! atraso! no! desenvolvimento! social,! tecnológico,! ambiental,! econômico! e! de! políticas! públicas.! Dentro! de! diversos! campos! científicos! o! tema! é! objeto! de! estudo! historiográfico,! político,! econômico,! linguístico,!artístico,!estético,!entre!outros.!! Não! seria! possível! abordar! em! um! único! artigo! todo! o! período! histórico! que! compreendeu!a!ditadura,!bem!como!apresentar!todos!os!aspectos!sociais!que!esta! representou! para! cada! país! e! seus! respectivos! povos.! Assim! como! não! é! possível! abordar! todas! as! questões! sociais! que! foram! comprometidas! pela! atuação! das! políticas!de!estado!e!das!práticas!legitimas!ou!ilegítimas!promovidas!pelos!regimes! em! seus! respectivos! países.! Tampouco! se! pode! abarcar! num! ensaio! de! poucas! páginas! a! complexidade! de! fenômenos! gerados! pela! ação! do! estado! dentro! das! estruturas!sociais.!Assim,!pretendeGse!neste!trabalho!apontar!alguns!conceitos!para! elucidar! o! papel! da! arte–em! sua! formação! de! símbolos,! pensamentos! e! cultura! G!! como! meio! de! resistência! contra! a! repressão! destes! regimes! e! verificar! uma! formação!de!cultura!política!a!partir!das!obras!produzidas!neste!momento.!! ! !

7!

! !

Segundo! Beyhaut! (1994)! “a! integração! vai! sendo! realizada! de! maneira! progressiva! e! irreversível! a! partir! dos! fenômenos! culturais”.! Sendo! então! a! arte! elemento!veicular!de!cultura,!esta!colocaGse!como!elemento!integrador!e!de!ligação! entre! povos.! Por! sua! condição! imagética! e! elucidatória,! permite! ao! ser! humano! o! pensar!e!o!reflexionar,!considerando!que!“toda!a!função!do!pensamento!é!produzir! hábitos!de!ação!(PEIRCE,!1975,!p.!21)”.! Neste! trabalho,! pretendeGse! analisar! num! recorte! específico,! as! obras! de! diferentes!artistas!no!que!concerne!a!utilização!da!arte!como!meio!de!resistência!as! Ditaduras!nos!países!da!América!Latina.!A!análise!se!dará!a!partir!de!um!olhar!nas! expressões! artísticas,! mais! precisamente! nas! artes! visuais,! música! e! charges! (tirinhas! de! jornal),! buscando! identificar! nestas,! a! expressão! da! sociedade! e! das! culturas!populares,!em!seu!alcance!massivo!e!influência!imediata!nas!mais!diversas! camadas!da!sociedade.!! Segundo!Fischer!(1983,!p.!58)!“Numa!sociedade!em!decadência,!a!arte,!para!ser! verdadeira,!precisa!refletir!também!a!decadência.!Mas,!a!menos!que!ela!queira!ser! infiel! à! sua! função! social,! a! arte! precisa! mostrar! o! mundo! como! possível! de! ser! mudado.!E!ajudar!a!mudaGlo”.! Artistas! e! intelectuais! como! cantores,! pintores,! chargistas,! cartunistas! e! caricaturistas,! atores,! compositores,! cineastas,! independente! de! estarem! inseridos! em! grupos! vanguardistas,! políticos,! subversivos,! ou! qualquer! outra! organização! de! resistência! contra! os! regimes! autoritários,! existiram! como! atores! ora! ativos,! ora! passivos! e! estão! neste! cenário! em! posições! distintas.! Interpretaremos! suas! obras! como! forma! de! sua! inserção! dentro! do! tecido! social,! de! pensamento,! hábitos! de! ação!e!fomento.!! Neste!trabalho!pretendeGse!apresentar!três!países:!Brasil,!Argentina!e!Paraguai,! em! semelhantes! períodos! históricos,! num! recorte! temporal! que! vai! dos! anos! 1960! até! fins! de! 1970.! Em! tal! período! temGse! a! permanência,! o! auge! e! o! fim! de! alguns! regimes! ditatoriais! na! América! Latina! enquanto! alguns! países! já! ensejavam! uma! abertura!ou!flexibilização!das!liberdades!e!dos!direitos!políticos.!! Será! feito! um! breve! resgate! histórico! sobre! as! ditaduras,! ilustrando! de! forma! sucinta! o! cenário! político! e! de! integração! que! consideramos! pertinentes! para! esta! ! !

8!

! !

breve! análise,! ora! através! dos! intelectuais! e! artistas! tidos! como! subversivos,! ora! perante! as! dinâmicas! de! poder! através! de! ações! conjuntas! como! a! Operação! Condor,!esta!como!forma!de!integraçãoGcooperação!ou!de!cessão!da!soberania!com! fins! de! manutenção! do! estado! de! exceção.! Posteriormente! será! apresentado! definições! breves! de! tipologias! artísticas! e! suas! respectivas! conexões! com! o! alcance!social!em!suas!mensagens.!! Também,!pelo!meio!de!análises!semióticas,!analisaremos!como!se!manifestaram! as!resistências!políticas,!de!crítica!aberta!ou!velada,!aos!regimes!ditatoriais.!Diante! das!análises,!pretendemos!identificar!discursos!subversivos,!de!crítica!aos!ditadores,! seus!apoiadores!e!suas!ações.!! Em! um! exame! final,! pretendeGse! identificar! o! papel! das! artes! no! contexto! histórico! das! ditaduras! e! interpretar,! compreender! e! elucidar! sobre! uma! possível! integração! social,! uma! identidade! coletiva! mesmo! informal! derivada! de! tais! acontecimentos,!obras!e!contextos.

CAPITULO'1.'O'FENÔMENO'DA'DITADURA'NA'AMERICA'LATINA'E'A' RESISTÊNCIA'COM'INTEGRAÇÃO'SUBVERSIVA'VERSO'INTEGRAÇÃO, COPERAÇÃOMILITAR' Este! capitulo! não! pretende! resumir! nem! apresentar! como! se! formam! as! ditaduras! na! América! Latina,! nem! mesmo! no! Cone! Sul,! outrossim! quer! evidenciar! aspectos!que!permeiam!o!cenário!político!desta!região!durante!anos!onde!a!política! e! a! sociedade! estiveram! sob! o! signo! totalitário.! Nesta! perspectiva! vemos! que! a! política!na!América!Latina!tem!evoluído!muito!desde!as!independências!nos!séculos! XVIII!e!XIX!e!tem!sido!de!interesse!estratégico!para!as!economias!emergentes!tanto! na!América!do!Norte!como!na!Europa.!A!partir!do!século!XX,!as!novas!repúblicas,! que! tentam! se! organizar! democraticamente! passam! por! crises! internas! e! relações! internacionais! complexas! e! polarizadas.! No! caso! Latino,! principalmente! no! Cone! Sul,!a!presença!das!economias!europeias!imperialistas!como!a!Inglaterra!no!caso!da! guerra! do! Paraguai,! ainda! no! século! XIX,! foram! intensas! e! fizeram! fortes! intervenções!nas!políticas!internas.!! Já! no! século! XX! países! como! os! Estados! Unidos! da! América! investem! fortunas!para!ter!participação!em!questões!internas!e!regionais.!É!possível!elencar! ! !

9!

! !

marcos! históricos! fundamentais! para! entender! esse! processo.! Destacamos! aqui! operações! e! ações! conjuntas! entre! forças! internas! presentes! de! direita! oligárquica! no!caso!brasileiro!e!a!aristocracia!herdeira!da!cultura!criola!na!América!espanhola.! Desde! tempos! do! Plano! Marshall! (que! consistia! em! empréstimos! e! doações! financeiras!realizados!pelos!EUA!e!seus!principais!capitalistas!aos!países!europeus! que! foram! devastados! durante! a! Segunda! Guerra! Mundial),! quando! em! 1947,! os! Estados! Unidos! e! os! países! latinoGamericanos! reuniramGse! no! Rio! de! Janeiro! para! assinar! o! Tratado! Interamericano! de! Assistência! RecíprocaR! nesta! reunião! Harry! Truman!então!presidente!norte!americano,!disse!que!não!seriam!usados!os!recursos! do!Plano!Marshall!para!suportar!a!América!Latina,!uma!vez!que!não!é!contemplada! no!momento!de!sua!!concepção!os!problemas!latinoGamericanos,!pois!estes!seriam! de!natureza!distinta!daqueles!da!Europa!e!sendo!que!a!América!Latina!necessitava! de!diferentes!investimentos.!Silveira!(2009)!cita!que!o!governo!dos!EUA!“acreditava! que!os!países!europeus!deveriam!receber!ajuda!econômica!proveniente!dos!cofres! do! governo! norte! americano.! Enquanto! a! América! Latina! deveria! receber! auxílio! vindo!do!capital!privado”.! As! doutrinas! de! segurança! nacional! e! transnacional! entre! Brasil! e! Estados! Unidos! desde! Eisenhower! com! seu! programa! civicactions,! que! consistiu! basicamente!no!“uso!de!forças!militares!em!projetos!não!estritamente!relacionados!à! segurança,!como!obras!de!engenharia,!serviços!públicos,!transportes,!comunicação,! saúde,! saneamento! dentre! outros,! se! intensificam! nesse! período”.! (FICO,! 2008).! Ainda!para!Fico!(2008,!p.26)!esta!política!de!assistência!econômicaGlogística!e!social! para! a! América! Latina! ganhou! maior! destaque! com! a! entrada! no! poder! de! John! Fitzgerald! Kennedy,! com! a! formulação! da! Aliança! para! o! Progresso.! Todo! o! programa,! lançado! em! março! de! 1961,! baseavaGse! entre! outras! coisas,! nas! promessas! de! erradicação! da! fome,! incremento! na! educação! básica! e! sua! universalização,! além! da! elevação! do! padrão! de! vida! das! famílias,! independência! econômica!e!sustentabilidade!dos!países!latinoGamericanos.!“Desde!a!administração! de! Eisenhower! até! os! tempos! de! Lyndon! B.Johnson! estas! políticas! de! integração! estratégicas!para!os!!norte!americanos!têm!se!intensificado!na!América!Latina!como! um! todo,! principalmente! no! Brasil”! como! pode! ser! analisado! no! texto! de! REIS! (2012).! “Apesar! do! discurso! dos! EUA,! o! governo! de! Washington! estava! ciente! da! existência! de! condições! concretas! da! América! LatinaR! por!

! !

10!

! ! isso,! adotou! uma! nova! política! para! a! região,! calcada! na! contraG insurgência,! e! com! o! intuito! de! conter! o! avanço! de! setores! sociais! subalternos!fortemente!mobilizados!em!prol!de!mudanças!nos!países! do!Cone!Sul!(REIS,!2012,!p.!32)”.! !

Notadamente!existe!uma!política!externa!por!parte!estadunidense,!quer!dizer,! mesmo!não!sendo!uma!integração!institucional!oficial,!alardeado!pelos!dois!países,! Estados!Unidos!e!Brasil,!o!que!existe!é!um!consentimento,!uma!permissão!por!parte! de! lideranças! políticas! e! econômicas! que! permeiam! os! poderes! institucionais! brasileiros.!!! Segundo!afirma!Silveira!(2009)!“o!responsável!por!essa!nova!política!(...),!na! administração! Johnson,! acumulou! os! cargos! de! coordenador! da! Aliança! para! o! Progresso,! secretário! assistente! para! Assuntos! Interamericanos! e! assistente! especial!do!presidente!para!a!América!Latina”.Apesar!de!ficar!pouco!tempo!nessas! funções! (entre! janeiro! de! 1964! e! março! de! 1965),! sua! atuação! na! formulação! de! uma!nova!política!para!a!América!Latina!foi!decisiva.!Diz!ainda!que!suas!diretrizes! diplomáticas! determinavam! que! “(...)! os! Estados! Unidos! deixariam! de! questionar! a! natureza!dos!regimes!que!estavam!recebendo!sua!assistência!militar!e!econômica,! desde! que! se! mantivessem! anticomunistas,! mesmo! que! fossem! autoritários! ou! ditatoriais”! (SILVEIRA,! 2008,! p.! 35)”.! Ainda! sobre! essa! interferência! dentro! do! território! brasileiro! G! para! não! citar! todos! os! casos! em! Argentina,! Paraguai! ou! Uruguai!G!existiram!outros!programas!de!assistência!social!colocados!em!prática!na! era!Kennedy!chamado!Peace)Corps,!que!consistiu!na!entrada!em!território!brasileiro! de! “jovens! norteGamericanos”,! numa! justificativa! nobre! de! realizar! trabalho! voluntário.! Fico! (2003)! afirma! que! a! presença! desse! grupo! no! Brasil! entre! 1967! e! 1975! e! suas! atividades! eram! registradas! oficialmente! dentro! do! campo! de! assistência!social!ligadas!a!cooperativas!agrícolas,!no!controle!de!zoonoses!como!a! esquistossomose,!práticas!educacionais!e!na!moradia,!o!que!justificavam!pela!falta! de!profissionais!técnicos!especializados.!Este!trabalho!desenvolvido!dentro!do!Brasil! pelos! Peace) Corpsera! sigiloso! ou! pouco! divulgado,! uma! vez! que! os! EUA! não! queriam!ser!interpretados!por!interferência!nos!assuntos!internos!do!país!bem!como! serem! acusados! de! interferir! em! economias! e! políticas! em! países! asiáticos.! ! Essa! presença! foi! relatada! por! Celso! Furtado! exGmembro! do! Comitê! Interamericano! da! Aliança!para!o!Progresso!(CIAP),!que!ainda!na!era!Kennedy!se!vê!com!frustrações! sobre! as! melhorias! das! ações! da! aliança! para! o! progresso,! que! faziam! ! !

11!

! !

melhoramentos!nas!forças!de!polícia!civil!no!nordeste!do!Brasil,!conforme!apresenta! Carlos!Fico!em!seu!livro!Ditadura)e)democracia)na)América)Latina:)balanço)histórico) e)perspectivas.! A!participaçãoGcooperação!dos!Estados!Unidos!e!do!Brasil!nas!dinâmicas!do! Cone! Sul! intensificamGse! entre! os! anos! 1960! e! 1970.! No! caso! do! Chile,! o! Brasil! participaria!segundo!alguns!pesquisadores!com!uso!de!força!militar!diretamente!no! território!chileno.! O!Cone!Sul!no!contexto!citado!se!vê!afetado!pelas!políticas!externas!dos!EUA! e!recebem!de!forma!passiva!e!colaborativa!conforme!apresentado:! “Na! década! de! 1960,! o! acirramento! das! contradições! sociopolíticas,! devido!à!crise!de!esgotamento!do!modelo!econômico!de!substituição! de!importações!implementado!pelos!regimes!populistas!da!região,!no! pósGguerra,! expressava! um! conjunto! de! tensões,! como! o! subdesenvolvimento,!a!elevada!concentração!de!renda!e!fundiária,!as! desigualdades! sociais! abissais! e! a! dependência! econômica.! O! crescente! descontentamento! social! está! inserido! no! auge! da! Guerra! Fria,! em! um! mundo! marcado! pela! bipolaridade! ideológica! entre! os! blocos! liderados! pelos! EUA! e! pela! União! das! Repúblicas! Socialistas! Soviéticas! (URSS).! Nesse! sentido,! é! importante! frisar! o! grande! impacto! causado! pela! Revolução! Cubana! (1959)! e! seu! regime! socialista,! apoiado! pela! URSS,! no! continente! americano! em! geral! e,! particularmente,!no!Cone!Sul!(REIS,!2012)”.! !

Reis! (2012)! apresenta! um! panorama! político! regional! que! sofre! diretamente! com! a! polarização! do! bloco! soviético! entre! URSSGCUBA! versus! EUAGAliados! no! Cone! Sul.! O! que! cresce! na! região! do! sul! andina! é! um! descontentamento! e! o! fortalecimento!de!ideias!que!levam!ao!estabelecimento!de!regimes!ditatoriais!quase! que!simultaneamente!em!países!como!Paraguai,!Brasil,!Chile,!Uruguai!e!Argentina.! Estes!países!evoluem!politicamente!e!com!colaboração!técnica!dos!EUA!consolidam! regimes! políticos! militares! com! ditaduras! extremamente! repressivas,! em! relação! a! movimentos! sociais! contestatórios.! Não! discorreremos! as! ditaduras! em! cada! pais! pois!se!tornaria!demasiado!cansativo!o!exercício!do!leitor,!pois!como!dito!antes!esta! historiografia!cabe!em!outro!formato!textual!e!proposta!discursiva.! !Os! conceitos! clássicos! dos! estudos! em! relações! internacionais! partem! em! sua! maioria! da! premissa! fundamental! da! existência! de! relações! formais! entre! os! Estados! soberanos,! implicando! na! aceitação! plena! da! ideia! de! nação! e! Estado.! Afirmam!Alves!et!al!!(2011).! O! que! faz! com! que! critiquemos! uma! “obrigatoriedade! epistêmica”! de! se! estudar! fenômenos! sociais,! econômicos,! políticos! e! culturais! apenas!pelo!viés!dos!estudos!e!conceitos,!ou!teorias!de!um!único!campo!científico! ! !

12!

! !

que! tem! capitaneado! o! domínio! destes! conhecimentos! e! ou! estudos! empíricos! destes!fenômenos!que!são!necessários!para!entender!o!que!se!deu!no!Cone!Sul!na! ocasião!abordada!neste!recorte.!! Ainda! buscando! um! campo! cientifico! próximo! dos! conceitos! clássicos! de! relações! internacionais! os! autores! ainda! citam! em! seu! trabalho! que! se! buscarmos! nos! pensamentos! marxistas,! por! exemplo,! podemos! chegar! a! conclusões! distintas! daquelas! que! temos! nos! conceitos! de! RI! (Relações! Internacionais),! eles! apontam! que:! “Inversamente,! o! emprego! do! método! marxista! no! estudo! das! relações! internacionais! teria! como! resultado! um! instrumento! de! análise! que! passa! pela! desconstrução!do!conceito!de!Estado!tal!qual!entendido!pelas!teorias!dominantes!de! relações! internacionais,! isto! é,! pela! desconstrução! de! um! conceito! considerado! fundamental! por! tais! concepções! teóricas.”! Onde! apontam! que! na! possibilidade! de! interpretar! as! relações! internacionais! com! a! teoria! Construtivista,! por! exemplo,! partindo! de! teorias! de! Antonio! Gramcsi! e! Marx! seria! necessário! desconstruir! a! noção! de! Estado! separado! das! classes! sociais,! para! dar! conta! da! ideia! que! esse! estado!esta!ligado!ao!poder!que!o!constrói,!ou!seja,!as!elites!capitalistas,!dominam!o! estado! e! este! passa! a! atuar! conforme! é! melhor! entendido! pelas! forças! intelectuais! que! controlam! o! estado! desde! suas! fundações.! Entender! que! determinadas! ações! que!não!partem!do!estado!nacional!seriam!formas!de!integração,!é!entender!que!o! estado! trabalho! em! função! dos! interesses! que! muitas! vezes! não! figuram! nas! políticas! de! estado! que! são! visivelmente! defendidas! ou! propagadas! como! sendo! oficiais.!Alves!et!al! !(2011).!!! As! ações! integradas! de! combate! á! subversão! é,! em! primeira! análise,! um! processo!de!integração,!embora!para!alguns!pensadores!das!teorias!de!integração! pósGmodernas! esta! tenha! mais! a! ver! com! a! cessão! de! soberania! pelos! estados! o! que!não!ocorre!em!primeira!instância.!Essas!ações!não!são!políticas!de!Estado!na! forma! declarada,! tratados! assinados! e! fundamentados! diante! da! comunidade! internacional! ou! assinados! perante! organismo! como! a! ONU,! como! a! Declaração! Universal!dos!Direitos!Humanos!ou!como!o!Tratado!de!Genebra!no!pósGguerra.!! Segundo! Silveira! (2009)! a! interferência! americana! é! algo! notório! mesmo! dentro! da! sociedade! norte! americana! tanto! que! “assim,! diante! dessas! questões! acerca! da! política! externa! dos! Estados! Unidos! na! década! de! 60! e! 70,! desde! o!

! !

13!

! !

suporte!que!os!EUA!ofereceram!aos!militares!que!derrubaram!João!Goulart!até!sua! política!anticomunista”!! Problematizar! a! integração! seria! uma! tarefa! mais! adequada! em! se! tratando! da! questão! da! cooperação! entre! os! governos! dos! EUA! e! os! membros! do! tratado,! conhecido!como!Operação!Condor,!que!nasce!da!mente!do!militar!chileno!e!que!se! torna! uma! prática! sistemática! gerando! ações! transfronteiriças! que! envolvem! forças! oficiais!ligadas!diretamente!aos!governos!e!outras!instituições!com!grandes!recursos! como! a! Itaipu! Binacional! e,! em! casos! mais! graves,! grupos! clandestinos! ligados! ao! Dops,!no!caso!brasileiro.!Como!podemos!ler!nos!reportes!que!o!Serviço!Secreto!do! Departamento! de! Estado! norteGamericano! (anexos),! onde! fica! evidente! a! importância! que! este! dava! para! o! quadro! político! no! Cone! Sul! e! sua! aproximação! cooperativa.! Cunha! (2012)! afirma! em! texto! recente! que! “A! Operação! Condor! trouxe! para! dentro!do!Estado!ilegítimo!das!ditaduras!as!práticas!ilegais!da!violência!de!bandos! paramilitares,! transformando! agentes! da! lei! em! executores! ou! cúmplices! encapuzados!de!uma!dissimulada!política!oficial!de!extermínio”.! Vendo! a! analise! do! jornalista! e! historiador! é! possível! notar! que! as! relações! transcendem! as! estruturas! estatais! e! instituições! antes! legitimas,! criando! um! envolvimento! do! aparato! de! segurança! estatal,! usando! de! práticas! que! são! típicas! de!grupos!bandoleiros!e!assassinos.!Ainda!Cunha!(2012)!afirma!que!isso!explicaria,! em!certo!nível,!alguma!leniência!e!até!em!outro!momento!a!conivência!com!crimes! de!algumas!das!corporações!historicamente!fundadas!na!lei!e!na!ordem.! Essa! atitude! do! estado,! no! caso! do! Brasil! e! Paraguai,! fez! do! exército! e! das! forças!auxiliares!um!verdadeiro!“Esquadrão)da)Morte”.!Em!outros!países!que!inclui! Brasil,!Argentina!e!Uruguai,!o!exército!perdeu!os!limites!com!uma!perseguição!aos! grupos!de!resistência!e!subversão!criando!uma!“guerra!antisubversiva”!com!muitos! abusos! e! crimes! contra! a! humanidade.! A! ação! contra! as! guerrilhas! urbanas! transpassou! a! fronteira! da! legalidade! e! levou! ao! crime! hediondo! contra! a! vida! e! a! democracia.!! Não! oficialmente,! G! ou! pelo! menos! que! os! governos! tenham! admitido! publicamente! à! época! ou! após! G! cada! estado! do! Cone! Sul,! dentro! de! seu! aparato! estatal! de! repressão! e! outras! instituições! com! amplo! poder! como! a! usina! hidroelétrica! de! Itaipu! ou! o! SNIG! Serviço! Nacional! de! Inteligência,! criou! maneiras! e! ! !

14!

! !

métodos! para! registrar! o! fluxo! de! pessoas,! bens! e! capital,! que! eram! considerados! pelos! regimes! como! crimes! contra! a! nação! e! uma! ameaça! ao! seu! status) quo,! seguindo! uma! doutrina! de! segurança! nacional! como! é! possível! analisar! em! documentos!oficiais!da!embaixada!brasileira!na!capital!do!Paraguai,!ou!em!informes! internos! do! serviço! de! inteligência! da! Itaipu,! documentos! disponíveis! no! site! oficial! da!comissão!da!verdade!(anexos!1,!2,!3!e!4).! PodeGse! ver! nos! documentos! uma! relação! entre! órgãos! do! executivo! e! da! administração!direta!e!indireta!que!são!colocadas!em!paridade,!e!de!forma!solidária! no! sentido! jurídico,! são! colaboradoras,! e! permitem! cessões! de! sua! soberania! para! um!objetivo!comum,!combater!a!subversão.! Por! outro! lado,! esta! onda! de! regimes! militares! na! América! Latina! e! as! suas! tendências! substitutivas! de! políticas! econômicas! como! a! industrialização! e! de! comércio! exterior! dos! países! na! região! do! Cone! Sul! afetam! negativamente! o! processo! integracionista.! Neste! cenário! por! outro! lado! países! asiáticos! começam! uma! lenta! inserção! na! economia! internacional,! ao! contrário! dos! países! latinoG americanos! que! recuam! relativamente! em! sua! participação! no! comércio! internacional.! Reis! (2012)! apresenta! em! seu! trabalho! o! quadro! que! se! deu! após! a! formalização! de! um! pacto! “ultrassecreto”! e! “terrorista”! entre! os! serviços! de! inteligência!e!polícias!políticas!de!regimes!do!Cone!Sul,!como!o!Dops!no!Brasil!em! meados!dos!anos!70,!a!assim!chamada!Operação!Condor.!Na!dinâmica!dos!golpes! e! nas! ditaduras! que! emergiam,! fazia! com! que! muitas! pessoas! que,! uma! vez! perseguidas,! politicamente! abandonassem! seu! país! e! criando! comunidades! de! exilados,!eram!alvo!principal!das!incursões!clandestinas!dos!órgãos!repressivos,!que! eram!secretos!e!internacionais.!Ressaltou!Mc!Sherry!apud!Reis!(2012)!que!as!ações! transnacionais! clandestinas,! realizadas! pelos! comandos! repressivos! dos! países! integrantes! da! Condor,! foram! executadas! por! estruturas! paralelas! que! operavam! à! margem!da!lei,!com!recursos!dos!estados!e!suporte!logístico!técnico!dos!EUA.!! O!retardo!da!integração!econômica!que!esse!processo!gerou!leva!a!região!do! Cone! Sul! a! buscar! apenas! nos! anos! 1990! uma! política! oficial! de! integração! dos! mercados! e! das! políticas.! Com! o! fim! das! ditaduras! essa! se! tornou! uma! possibilidade.!!

! !

15!

! !

É!visível!que!a!integração!em!níveis!econômicos!e!políticos!além!dos!projetos! de! governos! ditatoriais,! são! deixados! para! o! período! democrático.! Desta! forma,! Almeida! e! Chaloult! (1999)! afirmam:! dentre! os! períodos! de! 1975G79,! houve! a! negociação! do! tratado! bilateral! BrasilGParaguai,! constituindo! o! consorcio! internacional! que! gera! a! Itaipu! Binacional,! com! a! intenção! de! exploração! do! potencial! hidroelétrico! do! Rio! Paraná,! mesmo! sendo! realizado! durante! fase! de! grande!rivalidade!políticoGmilitar,!além!de!desencontros!econômicoGcomerciais!entre! os!países!da!região!do!Cone!Sul,!especialmente!Brasil!e!a!Argentina.!Estes!passam! a!vivenciar!crises!diplomáticas,!pois!o!uso!dos!recursos!hídricos!da!bacia!do!Paraná! comprometeria! a! soberania! econômica! da! Argentina,! crise! que! só! foi! amenizada! quase! ao! fim! dos! anos! 1970! quando! um! acordo! tripartite,! surge! como! uma! pausa! nas! exasperações! entre! os! países.! Essa! superação! politica! contrastando! com! o! histórico! dos! tempos! da! operação! condor,! leva! mais! recentemente! à! políticas! de! cooperação!econômica!com!equalização!no!campo!político,!refletindo!nos!processos! de!redemocratização!de!cada!um.! Nesse! contexto! cabe! ressaltar! que! se! por! um! lado! a! Operação! Condor! aproximava!os!regimes!pela!clandestinidade!(em!alguns!casos!com!participação!de! órgãos!oficiais!como!a!Embaixada!brasileira!em!Assunção!no!Paraguai,!vide!anexos,! e!pela!atuação!direta!da!Binacional!Itaipu!que!disponibiliza!departamentos!internos!a! serviço! da! contra! espionagem! paraguaia! e! brasileira! como! se! vê! nos! relatórios! da! comissão! da! verdade! em! anexo),! por! outro,! a! mesma! clandestinidade! cooperativa! era! observável! entre! os! subversivos.! Com! uma! forte! influência! cubanoGsoviética,! alguns! grupos! ou! células! revolucionárias! na! região! se! tornam! visíveis.! Mesmo! não! sendo!esta!aproximação!com!Cuba!ou!com!a!URSS!o!que!os!gerou,!pois!são!grupos! de! reação! aos! regimes! que! se! instalavam! na! região,! pois! o! que! era! pregado! pela! concepção! geopolítica! estadunidense! era! que! todo! grupo! subversivo! advinha! do! crescente!Movimento!Comunista!Internacional!(MCI)!liderado!por!Moscou.!! Muitos!grupos!subversivos!recebiam!do!bloco!formado!entre!HavanaGMoscou,! suporte! bélico,! financeiro,! tático! e! de! logística! para! que! os! guerrilheiros! tivessem! alguma!força!de!resistência!que!pudesse!fazer!frente!ao!poder!interGestados!e!que! estivesse!a!altura!da!inteligência!dos!contraGsubversivos!na!região!do!Cone!Sul.! Como!apresenta!Magalhães!(2001):!! “No!dia!19!de!agosto!de!1961,!o!então!presidente!da!República,!Jânio! Quadros,! condecorou! com! a! Ordem! Nacional! do! Cruzeiro! do! Sul! o!

! !

16!

! ! ministro! da! Economia! de! Cuba,! Ernesto! Guevara,! o! Che.Provavelmente! sem! saber,! Jânio,! que! renunciaria! seis! dias! depois,! homenageou! um! dos! três! principais! dirigentes! (os! outros! eram!os!irmãos!Fidel!e!Raúl!Castro)!do!regime!comunista!que,!meses! antes,!já!incentivava!e!apoiava!a!preparação!da!luta!armada!contra!o! próprio! governo! Jânio! Quadros.(...)! Na! política! de! "exportação! da! revolução”! implementada! por!Cuba,! o! Brasil,! maior! país! latinoG americano,!tinha!um!lugar!importante.!(...)!Enquanto!conspirava!com! militantes! brasileiros! oferecendo! cursos! militares! Ge! talvez! já! fornecendo! o! apoio! material! que,! com! certeza,! chegaria! ao! país! a! partir! de! 1962G,! Cuba! tinha! em! Jânio! Quadros! um! aliado! contra! a! campanha! dos! EUA! para! derrubar! o! governo! de! Fidel! Castro.Ao! receber!a!condecoração!de!Jânio,!Guevara!discursou,!no!Palácio!do! Planalto:! ""Como! revolucionário,! estou! profundamente! honrado! com! esta!distinção!do!governo!e!do!povo!brasileiros".!Disse!haver!"todo!o! desejo!de!estreitar!relações".!(...)!O!gesto!de!Jânio!irritou!setores!das! Forças! Armadas! e! serviu! de! motivo! para! o! recrudescimento! da! oposição! ao! seu! governo.! Em! 25! de! agosto,! sete! meses! após! assumir,! o! presidente! renunciou.! (...)! Sob! o! comando! de! Prestes,! o! PCB!permaneceu!distante!da!opção!guerrilheira.!Até!o!início!dos!anos! 70,!Cuba!treinou!pelo!menos!202!militantes!brasileiros!em!guerrilhas! urbana!e!rural.!(...)”!(MAGALHÃES,!2001).”! !

Carlos! Fico! apud.! Silveira! (2009)! afirma! que! foi! a! partir! da! opção! de! Cuba! pelo! socialismo,! em! 1961,! que! a! política! externa! norte! americana! tornouGse! mais! ofensiva! em! relação! à! América! Latina.! Essa! situação! decorreu! do! temor! de! que! a! Revolução!Cubana!poderia!servir!como!modelo!para!os!demais!países!da!região,!o! que!faria!com!que!os!EUA!perdessem!áreas!de!influência!e!hegemonia!política!que! construía! desde! os! anos! de! Truman.! Fico! (2009)! menciona! que! a! administração! Eisenhower!desenvolveu!algumas!formas!de!ação,!que!foram!colocadas!em!prática! paralelamente.! Uma! delas! e! talvez! a! principal! consistia! em! oferecer! treinamento! para!as!forçasGarmadas!latinoGamericanas,!no!sentido!de!preparáGlas!para!combater! guerrilhas!e!para!atuar!também!na!segurança!pública”.! Seja!conceituada!como:!integração,!cooperação!ou!dominação,!conceitos!das! relações!internacionais,!o!quê!não!vamos!nos!aprofundar!aqui,!pois!este!não!é!um! estudo! sobre! estas! teorias,! e! sim! sobre! a! ditadura! sob! uma! ótica! regional! e! que! a! aproximação!oficial!ou!clandestina!em!momentos!distintos!é!apenas!mais!uma!das! dimensões!deste!processo,!fica!evidente!que!a!arte!assim!como!a!política!teve!e!tem! (estudo! que! nunca! cessa),! um! papel! importante! nas! relações! estatais,! dos! movimentos! sociais! organizados,! ou! nas! manifestações! populares! de! apoio! ou! de! rechaço!ao!sistema!ditatorial!na!América!Latina.! Observando! este! breve! resumo! da! situação! durante! os! períodos! onde! a! democracia!fora!excluída!da!ordem!do!dia,!e!que!as!liberdades!e!direitos!civis!foram! ! !

17!

! !

caçados!pelos!poderes!autoritários,!totalitários!que!de!forma!ditatorial!se!alastra!pela! região!e!colocando!suas!garras,!como!as!garras!afiadas!de!um!Condor!que!espreita! sua! vítima,! do! alto,! sempre! vigilante.! Assim! foram! estes! anos,! anos! de! chumbo! como! foi! denominado! no! Brasil,! e! neste! período! onde! pensar! era! um! exercício! perigoso,! como! diria! um! artista! muito! visado! pela! censura! por! sua! penetração! contundente! junto! as! camadas! mais! populares,! Raul! Seixas! que! sua! música!Metrô) linha) 743) (letra! da! música! a! seguir),! ter! uma! posição! política! explicitada! em! algum! trabalho!intelectual!é!um!ato!subversivo,!entendido!pelos!regimes!como!ameaça!ao! seu!projeto!de!poder,!de!sua!manutenção!á!sua!expansão,!estes!delírios!distópicos! de! política! e! de! governos! deixam! sua! marca! nas! manifestações! culturais.! Como! podemos!acompanhar!nas!letras!de!músicas,!telas,!charges,!grafites!em!muros!das! cidades,! obras! de! arte) povera,! de! galeria,! marchinhas! de! carnaval,! fanzines! universitários!e!outras!diversas!formas!desse!manifesto!autêntico!da!resistência!que! era!um!sentimento!comum!em!todos!os!países!que!tiveram!experiência!com!formas! de!governos!que!retiraram!os!direitos!civis.!Acompanhando!a!letra!de!Raul!Seixas,! vemos!a!preocupação!latente!de!quem!pensava!o!mundo!de!forma!diversa.! Metrô)linha)743! Ele!ia!andando!pela!rua!meio!apressado! Ele!sabia!que!tava!sendo!vigiado! Cheguei!para!ele!e!disse:!! Ei!amigo,!você!pode!me!ceder!um!cigarro?! Ele!disse:!Eu!dou,!mas!vá!fumar!lá!do!outro!lado! Dois!homens!fumando!juntos!pode!ser!muito!arriscado!! Disse:!O!prato!mais!caro!do!melhor!banquete!é! O!que!se!come!cabeça!de!gente!que!pensa! E!os!canibais!de!cabeça!descobrem!aqueles!que!pensam! Porque!quem!pensa,!pensa!melhor!parado.! Desculpe!minha!pressa,!fingindo!atrasado! Trabalho!em!cartório!mas!sou!escritor,! Perdi!minha!pena!nem!sei!qual!foi!o!mês! Metrô!linha!743!! O!homem!apressado!me!deixou!e!saiu!voando! Aí!eu!me!encostei!num!poste!e!fiquei!fumando! Três!outros!chegaram!com!pistola!na!mão,! Um!gritou:!Mão!na!cabeça!malandro,!se!não!quiser!levar!chumbo!quente!nos!cornos! Eu!disse:!Claro,!pois!não,!mas!o!que!é!que!eu!fiz?! Se!é!documento!eu!tenho!aqui...! Outro!disse:!Não!interessa,!pouco!importa,!fique!aí! Eu!quero!é!saber!o!que!você!estava!pensando! Eu!avalio!o!preço!me!baseando!no!nível!mental!que!você!anda!por!aí!usando! E!aí!eu!lhe!digo!o!preço!que!sua!cabeça!agora!está!custando! Minha!cabeça!caída,!solta!no!chão! Eu!vi!meu!corpo!sem!ela!pela!primeira!e!última!vez! Metrô!linha!743! Jogaram!minha!cabeça!oca!no!lixo!da!cozinha! E!eu!era!agora!um!cérebro,!um!cérebro!vivo!à!vinagrete!

! !

18!

! ! Meu!cérebro!logo!pensou:!que!seja,!mas!nunca!fui!tiete! Fui!posto!à!mesa!com!mais!dois! E!eram!três!pratos!raros,!e!foi!o!maitre!que!pôs! Senti!horror!ao!ser!comido!com!desejo!por!um!senhor!alinhado! Meu!último!pedaço,!antes!de!ser!engolido!ainda!pensou!grilado:! Quem!será!este!desgraçado!dono!desta!zorra!toda?! Já!tá!tudo!armado,!o!jogo!dos!caçadores!canibais! Mas!o!negócio!aqui!tá!muito!bandeira! Dá!bandeira!demais!meu!Deus! Cuidado!brother,!cuidado!sábio!senhor! É!um!conselho!sério!pra!vocês! Eu!morri!e!nem!sei!mesmo!qual!foi!aquele!mês! Ah!!Metrô!linha!743! !

Diante!deste!cenário!histórico!é!que!muitos!artistas!se!mostram!sensíveis!com! a! liberdade! perdida,! com! os! companheiros! desaparecidos,! exilados,! mutilados! e! utilizam! de! linguagens! artísticas! para! manifestar! repulsa! ao! regime.! E! transpondo! barreiras! e! fronteiras,! usam! sua! arte! como! a! mais! perigosa! e! sublime! arma! de! resistência.! Nossa! jornada! começa! traçando! um! ambiente! histórico! sobre! os! acontecimentos! e! dados! relevantes! sobre! as! ditaduras! e! caminha! para! as! análises! de! obras! de! arte! feitas! em! prol! a! resistência! subversiva! e! contrária! aos! governos! ditatoriais.!!!!

CAPITULO'2.'A'PROPOSTA'DA'SEMIÓTICA'PARA'ESTUDO'DAS'ARTES'COMO' METODOLOGIA' Quando! falamos! no! estudo! da! comunicação! tornaGse! inevitável! não! pensarmos!em!linhas!filosóficas!e!de!análise!de!linguagem,!discurso!ou!imagem!que! fazem!aporte!ao!âmbito!das!ciências!estruturais.!Para!se!estudar!as!artes,!forma!de! comunicação!e!linguagem,!buscamos!usar!as!linhas!filosóficas!e!epistemológicas!da! Semiótica,! ciência! de! toda! e! qualquer! linguagem,! que! se! utiliza! de! métodos! de! análise! e! síntese! dos! objetos! e! que! tentaremos! explicar! em! sua! subjetividade! e! abrangência.! Em! praticamente! todos! os! métodos! de! pesquisa! de! linguagem,! se! faz! necessária!uma!análise!aprofundada!sobre!seu!contexto!social,!político,!econômico,! cultural,! autoral,! geográfico,! etnográfico! e! epistemológico.! No! entanto,! algumas! linhas! metodológicas! tradicionais! não! nos! propiciam! caminhos! amplos! para! tal! tarefa.! Contudo,! a! proposta! do! matemático,! cientista,! lógico! e! filósofo! norte! ! !

19!

! !

americano!Charles!Sanders!Peirce!(1839G1914)!se!torna!eficiente!para!tal!função!e! nos!leva!a!uma!interpretação!de!todo!e!qualquer!fenômeno!de!maneira!profunda!e! elucidativa.! As! linguagens! permeiam! o! mundo! a! nossa! volta! e! como! a! semiótica! tem! o! intuito! de! investigaGlas,! objetiva! o! exame! dos! modos! de! construção! de! todo! e! qualquer! fenômeno! como! produção! de! significado,! sentido! e! conhecimento.! Dentro! desta! análise,! utilizamos! primordialmente! o! entendimento! e! a! observação! dos! signos,!sendo!estes!considerados!por!Peirce,!toda!e!qualquer!forma!abstrata!ou!não! de! entendimento! e! assimilação! de! conhecimento.! Esta! assimilação! deriva! por! sua! vez! de! códigos! préGestabelecidos! socialmente! ou! ainda! não! reconhecidos! e! identificados,! representados! em! forma! de! linguagem,! seja! através! da! fala,! da! imagem,! da! grafia,! da! emoção,! qualquer! forma! de! expressão! comunicacional! utilizada!e!que!por!sua!vez,!também!são!considerados!signos.! Estes! signos! fazem! parte! de! sistemas! triádicos,! presente,! estruturada! e! arquitetada! por! Peirce! como,! estética,! ética! e! lógica! ou! semiótica,! tendo! somente! como! antecessor! a! fenomenologia! e! a! metafísica.! No! caso! a! ser! explorado,! manteremos! nosso! foco! a! entender! a! semiótica! peirceana! como! meio! de! ação! metodológica!que!se!utiliza!de!tais!aportes,!para!explorar!os!campos!pesquisísticos! das!artes!e!da!literatura.! Se! faz! importante! ressaltar! que! a! semiótica! peirceana! se! estende! por! três! ramos! de! análise:! a! gramática! especulativa! –! a! mais! conhecida! –! que! estuda! os! tipos!de!signosR!a!lógica!crítica!que!analisa!os!modos!de!condução!do!pensamento,! as! inferências,! o! raciocínio! e! os! argumentosR! e! a! retórica! especulativa! ou! metodêutica,!que!tem!por!função!analisar!os!métodos!a!que!cada!um!dos!tipos!de! raciocínio!dá!origem.! Peirce! manteve! sua! investigação! em! torno! da! lógica! como! teoria! geral! de! conhecimento,! onde! os! métodos! de! investigação! utilizados! nas! ciências! seriam! entendidos,! analisados! e! categorizados.! Seus! estudos! abrangem! aspectos! ontológicos!e!epistemológicos!do!universo!sígnico,!sendo!por!muitos!considerada!a! filosofia!das!ciências.! “...a! teoria! dos! signos! “é! capaz! de! explicar! e! interpretar! todo! o! domínio! da! cognição! humana”! [...]! Além! de! ser! uma! teoria! do! conhecimento,! a!

! !

20!

! ! semiótica! também! fornece! as! categorias! para! a! análise! da! cognição! já! realizada.! Com! isso,! ela! também! é! uma! metodologia.! [...]! “Infelizmente”,! completa! a! autora,! “á! moda! aludir! à! semiótica! de! Peirce! em! geral,! ou! a! muitas! de! suas! categorias! semióticas,! sem! uma! apreensão! mais! completa! de! seu! sentido! profundo! e! multidimensional”.! (SANTAELLA,! 2008,! p.! XIIIR! apud!BUCZYNSKAGGAREWICKS,!1978,!p.!3)!

A! semiótica,! no! entanto,! visa! investigar! e! não! compor! pressupostos! de! uma! ciência! préGestabelecida.! Seu! pragmatismo! é! constituído! como! método! e! almeja! propor!significados!para!que!estes!não!sejam!somente!ideias!e!sim!consequências! de!condutas!humanas.! Retomando!o!sistema!de!signos,!vemos!que!esta!nominação,!para!Peirce!tem! um! amplo! aspecto! de! significados.! O! signo! contém! então! três! propriedades! que! o! tornam! capazes! de! funcionar! como! signo:! sua! qualidade,! sua! existência! e! seu! caráter! de! lei,! características! estas! fenomenológicas! e! como! acrescenta! Santaella! (2008),! “é! por! isso! que! tudo! pode! ser! signo,! sem! deixar! de! ter! suas! outras! propriedades”.! A! relação! do! signo! com! o! objeto! nos! casos! a! serem! estudados! a! seguir! aplicaGse! a! sua! ação,! que! é! classificada! como! ícone,! indicadores! ou! índice! e! símbolos! dentro! de! uma! de! suas! tricotomias.! Tentaremos! de! forma! sucinta,! exemplificar! e! classificar! estas! três! categorias! pertencentes! aos! signos! que! utilizaremos!dentro!desta!pesquisa!através!das!iconografias!plásticas!propostas.! Tomando! como! primeiro! elemento! o! ícone,! vemos! que! este! são! como! um! sinal! referente! ao! objeto! que! denotam.! Podemos! exemplificar! o! ícone! como! uma! fotografia,! que! se! apresenta! o! objeto! fotografado,! mas! que! não! é! o! objeto! real! ou! dinâmico,!esta!somente!representa!um!mesmo!significado!e!mensagem!que!o!objeto! em!si!o!é.! Os!indicadores!ou!índice!por!sua!vez,!refereGse!ao!significado!dos!efeitos!que! tal!objeto!produz.!O!exemplo!de!uma!ondulação!num!espelho!d’água!que!pode!ser! interpretado! como! o! indício! de! uma! chuva.! Esta! ondulação! por! sua! vez,! não! é! a! chuva,!mas!o!resultado!de!como!o!espelho!d’água!indica!uma!possível!chuva.! Já! os! símbolos! se! associam! ao! objeto! através! de! convenções,! tal! como! acontece!com!uma!palavra!de!idioma!específico!e!reconhecido.!Este!é!o!resultante! da!transformação!do!signo!em!novo!signo,!tal!como!é!entendido!ou!compreendido.! ! !

21!

! !

Para! Peirce,! as! tricotomias! são! um! constante! ponto! de! partida! de! suas! pesquisas,! já! que! suas! relações! signicas! se! estabelecem! de! maneira! triádica,! diferente!dos!padrões!usuais,!onde!a!dialética!é!a!utilizada!na!maioria!dos!métodos! reconhecidos!nas!áreas!da!ciência.! Esta! nota,! somente! nos! ajuda! a! esclarecer! a! importância! deste! método! de! análise!e!síntese!contínuo!e!indissociável!que!é!a!semiótica!para!o!entendimento!de! fenômenos!artísticos!e!literários,!objetivando!a!compreensão!de!elementos!formais,! informacionais! e! de! significado! para! o! estabelecimento! de! um! possível! imaginário! coletivo.!! A!análise!das!obras!artísticas!produzidas!em!determinado!período!histórico!e! suas! repercussões! e! significações! dentro! de! um! inconsciente! social,! onde! o! signo! artístico! toca,! origina,! gera! sentimentos! e! emoções! nos! seres! humanos.! FazGnos! propor!esta!análise!onde!objetivamos!esmiuçar!as!demandas!representativas!e!que! possivelmente! possam! ter! influenciado! certos! processos! de! integração! na! América! Latina.!!

CAPITULO'3.'REFLEXÃO'SOBRE'AS'OBRAS'DE'ARTE','INTERPRETAÇÕES'A' CERCA'DA'ARTE'COMO'VEÍCULO'INTERPRETATIVO'DA'INTEGRAÇÃO' Conforme! foi! problematizado! nos! capítulos! anteriores,! nosso! caminho! de! pesquisa! vem! a! analisar! os! processos! de! integração! durante! as! ditaduras! militares! na!América!Latina!nas!décadas!de!60!e!70.! Neste!período!de!repressão!das!liberdades!muitos!artistas!LatinoGamericanos! abordaram! os! temas! cotidianos! e! sociais! com! olhar! crítico! e! transmitiram! em! suas! obras! G! vezes! de! maneira! velada,! vezes! escancaradas! –! mensagens! contrárias! ao! regime! vigente! e! que! atingiram! parte! da! população! e! grupos! subversivos! de! oposição!e!resistência.! Nossa!proposta!é!verificar!possíveis!contribuições!de!produções!em!crítica!a! censura! e! verificar! através! de! uma! analise! semiótica! e! discursiva! suas! possíveis! contribuições! para! a! integração! e! condição! de! reconhecimento! na! América! Latina,! seja!por!parte!de!seus!povos,!seja!por!parte!dos!grupos!de!resistência.!

! !

22!

! !

Dentro! dos! processos! sociais,! vemos! a! importância! de! identificar! saberes! através!dos!símbolos!através!de!novas!epistemologias!emancipadoras.! “A! sociología! de! las! emergencias! consiste! en! proceder! a! una! ampliación! simbólica!de!los!saberes,!prácticas!y!agentes!de!modo!que!se!identifique!en! ellos!las!tendencias!de!futuro![...]!Tal!ampliación!simbólica!es,!en!el!fondo,! una! forma! de! imaginación! sociológica! que! se! enfrenta! a! un! doble! objetivo:! por!un!lado,!conocer!mejor!las!condiciones!de!posibilidad!de!la!esperanzaR! por! otro,! definir! principios! de! acción! que! promuevan! la! realización! de! esas! condiciones!(Boaventura!de!Souza!Santos,!2010).!

Em!suma,!cogitamos!ser!possível!a!identificação!de!ícones!que!dentro!de!um! processo! de! cognição! e! construção! simbólica,! ou! seja,! que! se! torna! signico! e! que! influencia!pensamentos!individuais,!coletivos!e!sociais,!gera!influência!nas!práticas,! saberes!e!demandas!coletivas!trazendo!uma!proposta!nova!de!condição!social!plural! e!múltipla.! Segundo! Fischer! (1983)! “Numa! sociedade! dividida! em! classes,! as! classes! procuram! recrutar! a! arte! –! poderosa! voz! da! coletividade! –! a! serviço! de! seus! propósitos!particulares”.! Tendo! as! artes! como! linguagens! de! acesso! a! uma! gama! abrangente! e! diversa! da! população,! pretendemos! observar! suas! permeabilizações! nos! meios! de! comunicação! de! grande! alcance! e! também! de! certa! forma! considerados! restritos! durante!os!períodos!ditatoriais.! A! arte! como! ferramenta! de! construção! simbólica,! inteira! o! homem! de! seu! cotidiano!e!transforma!sua!ação!perante!a!humanidade.! “Só! a! arte! pode! fazer! todas! essas! coisas.! A! arte! pode! elevar! o! homem! de! um! estado! de! fragmentação! a! um! estado! de! ser! integro,! total.! A! arte! capacita! o! homem! para! compreender! a! realidade! e! o! ajuda! não! só! a! suportáGla! como! a! transformaGla! aumentandoGlhe! a! determinação! de! tornaGla! mais! humana! e! mais! hospitaleira! para! a! humanidade.! A! arte,! ela! própria,! é! uma! realidade! social! (FISCHER,! 1983,!p.!57)”.!

3.1'Análise'Mafalda' Como!primeira!opção!de!analise!para!este!artigo,!escolhemos!os!quadrinhos! de! Quino! (1932),! criador! de! Mafalda,! sua! mais! famosa! e! significativa! personagem,! que! dentro! de! seu! contexto! de! menina! portenha,! num! cenário! infantil! e! de! discussões! sociais,! coloca! suas! opiniões! e! duvidas! sobre! o! mundo! adulto,! principalmente!sobre!os!processos!presentes!durante!as!ditaduras!militares.!! ! !

23!

! !

Na! mesma! época! em! que! Brasil! e! Paraguai! enfrentavam! o! mesmo! regime! político,! Mafalda! consegue! tanger! diversas! nações! e! sociedades! que! vivenciam! a! mesma!condição.!! Durante! os! anos! de! 1965! a! 1967! o! El! Mundo,! um! dos! diários! mais! lidos! da! Argentina!publicou!tiras!semanais!ininterruptamente.!E!em!1966,!Mafalda!ultrapassa! as! fronteiras! nacionais! sendo! publicada! em! jornais! de! outros! países! da! América! Latina.! Este,! pode! então! já! ser! considerado! o! primeiro! passo! de! Mafalda! rumo! a! integração,! já! que! sua! imagem! tange! culturas! vizinhas.! Lida! e! traduzida! para! diversas!línguas!nos!anos!seguintes,!Mafalda!é!até!os!dias!de!hoje!um!personagem! conhecido! por! sua! personalidade! forte! e! seu! espírito! questionador! levando! ao! público! sua! maneira! bemGhumorada! de! encarar,! desde! problemas! cotidianos,! até! situações!de!caos!social.! “O! universo! de! Mafalda! não! é! apenas! o! de! uma! América! Latina! urbana! e! desenvolvidaR! é! também,! de! modo! geral! e! em! muitos! aspectos,!um!universo!latino,!o!que!a!torna!muito!mais!compreensível! do! que! muitos! personagens! de! quadrinhos! norteGamericanosR! enfim! Mafalda,!em!todas!as!situações,!é!um!“herói!de!nosso!tempo”,!o!que! não!parece!uma!qualificação!exagerada!para!o!pequeno!personagem! de! papel! e! tinta! que! Quino! propõe! (QUINO,! 1993,! apud.! Umberto! Eco,! para! o! prefácio! não! assinado! para! a! edição! de! Mafalda) la) Contestaria,!1969).”!

Partindo! de! uma! disponibilidade! contemplativa,! o! leitor! poderá! adentrar! ao! objeto! escolhido,! através! de! composição! gráfica,! suas! luzes,! formas,! superfícies,! linhas! e! contrastes.! O! sentir! da! obra! é! o! primeiro! passo! para! penetrarmos! neste! universo!plástico!das!tirinhas!de!Quino.!!

Figura)1:)Charge)da)Mafalda) ! !

24!

! !

O! primeiro! dos! signos,! a! percepção! icônica! do! que! ela! representa,! está! na! qualidade! do! que! exibe.! Sua! cor,! formas,! contrapontos! cromáticos,! texturização,! seus!detalhes!formais!nos!remetem!a!um!cenário!lúdico,!emocionante!e!repleto!de! informações.!! A! tira! (Figura! 1)! faz! parte! da! vasta! produção! dos! quadrinhos! de! Quino,! que! começaram! a! ser! publicados! em! 1965! no! diário! El! Mundo,! de! Buenos! Aires! com! uma!rodagem!ininterrupta!de!seis!tiras!por!semana.!Em!1966!as!tiras!ultrapassam!a! fronteira!nacional!e!começam!a!ser!publicadas!em!outros!países!da!América!Latina.! O! desenho! de! Quino! escolhido! está! dentre! as! inúmeras! produzidas! e! foca! no! assunto!ao!qual!neste!artigo!queremos!tratar.! Partindo! então! da! experiência! fenomenológica,! nos! deixamos! tocar! pelos! traços! e! pela! coloração! branca! e! preta! dos! diários! e! da! linguagem! das! tiras! de! jornais! por! sua! essência.! Queremos! aqui! trazer! à! tona! a! qualidade! da! obra! sem! inferências! ou! possíveis! índices! que! o! observador! costuma! se! ater! num! primeiro! momento.!Deixemos!de!lado!as!nomeações!e!estejamos!atentos!a!qualidade!pura!e! simples.! As! linhas,! a! clareza! de! detalhes! e! o! choque! entre! os! planos! torna! a! tira! expressiva!e!leva!o!espectador!a!atentar!sobre!sua!presença!gráfica,!escrita,!a!qual! a!própria!essência!a!denota.!A!personagem!de!traços!grossos!e!fisionomia!plástica! sem!muitos!detalhes!nos!leva!a!compreensão!de!volumes!e!uma!analise!perspectiva! do!quadro!em!sua!simplicidade!e!clara!diferença!de!planos.! Que!fique!claro!que!estas!são!qualidades!descritas!e!verbalizadas!e!que!não! atingem! ou! julgam! possível! muitas! vezes! traduzir! a! sensação! qualitativa! do! leitor,! mas! apensar! ilustram! um! pouco! do! início! de! nossa! jornada! rumo! ao! caráter! de! existência!da!obra,!o!sinGsigno,!ou!sua!singularidade.! Neste!momento!vale!lembrar!que!aqui!a!tira!está!em!outro!contexto!que!não!o! do! jornal! argentino.! Essa! realidade! que! se! apresenta! diante! de! nós! pode! ser! mudada!conforme!o!tamanho!e!local!onde!a!mesma!está!posicionada.!E!quando!o! suporte!modifica,!as!impressões!semióticas!analisadas!também!modificam.! Em!relação!aos!signos!e!suas!relações!com!o!objeto!consideraremos!agora!o! que!o!mesmo!sugere,!que!no!caso!da!tira!de!Mafalda!(Figura!1)!concerne!em!uma! ! !

25!

! !

calçada,!um!muro,!arvores!ao!fundo,!uma!rua!de!paralelepípedos!e!a!escrita!ou!para! alguns,!pichação!grafada!na!parede!de!fundo.! Mesmo! que! tais! sugestões! não! sejam! realistas,! estas! funcionam! como! imagens! que! representam! objetos! e! devido! a! sua! semelhança! com! estes,! caracterizam! tal! existência.! Toda! esta! identificação! consegue! levar! o! leitor! para! o! que!aqui!encontraGse!como!aspecto!indicial!da!imagem.! Passaremos!aqui!então!para!os!elementos!de!lei,!simbólicos!e!que!constituem! aspectos! das! convenções! de! época,! aos! elementos! culturais! e! tudo! que! a! obra! incorpora.!No!entanto,!cada!interprete,!ou!cada!cognição!trará!em!conta!aqui!o!que! traz!em!seu!conhecimento.!Aqui!é!onde!o!interpretante!dinâmico!está!condicionado! ao!nível!emocional!e!esta!entrará!de!acordo!com!a!ação!energética!do!interpretante! por!sua!vez.! Para!ajudar!nesta!reflexão!colocaremos!alguns!fatores!determinantes!para!a! observação! dos! objetos! em! suas! composições! imediatas! e! dinâmicas! da! obra.Podemos!considerar!algumas!de!suas!características.! Em!consideração!a!sua!qualidade!de!ícone,!a!descrição!do!acontecimento!como! objeto! imediato! refereGse! a! personagem! Mafalda,! que! anda! pela! rua! e! se! depara! com!um!muro!onde!está!escrito!“Basta!de!Censu...”.!O!escrito!descreve!a!hipótese! da! palavra! censura,! sem! a! mesma! estar! terminada.! Logo,! o! pensamento! da! personagem! expresso! no! balão! descritivo! como! ideia,! mostra! que! a! própria! fala/! pensamento!de!Mafalda!está!cortado!ou!sem!finalização!de!algumas!palavras.! O! dinamismo! em! sua! singularidade! dá! aqui! a! ocorrência! dos! acontecimentos! retratados!e!que!fizeram!parte!do!cotidiano!e!do!contexto!da!população!argentina!e! Latino!Americana!nos!anos!60!e!70.!Ela!traz!a!episódio!de!um!pensamento!social.! A!ligação!do!que!é!retratado!por!Quino!no!quadrinho!da!Mafalda!(Figura!1),!tange! a!população!e!os!meios!de!comunicação!que!através!da!representação!caricaturada! e!da!escrita,!visavam!expor!suas!opiniões!e!pontos!de!vista.! Como! objeto! dinâmico,! vemos! que! a! personagem! sugere! em! sua! ação! representativa!uma!censura!das!palavras,!tendo!as!mesmas!como!não!terminadas,! sendo!assim!inconclusivas.!Designa!a!personagem,!esta!uma!criança,!a!uma!tarefa! ! !

26!

! !

de!colocar!num!espaço!onde!ela!possa!discorrer!sobre!assuntos!do!universo!adulto! de!maneira!lúdica,!criativa!e!representativa.! A!necessidade!de!veicular!e!atingir!o!público,!em!um!momento!onde!o!veto!e!a! subordinação!aos!regimes!de!poder!da!época!atingem!o!social,!fazGse!contundente! ao!momento!ditatorial!e!repressivo.! O! signo! em! si,! enquanto! código! gráfico! não! termina,! o! que! motiva! o! leitor! a! ter! uma! ideia! cortada! do! que! está! escrito! e! mesmo! do! que! a! personagem! está! pensando.!Em!seu!existente,!sua!concretude,!há!a!própria!censura!em!si,!como!ela! é:!truncada,!vetada,!velada,!escondida,!bloqueada.!O!corte!tanto!se!faz!presenta!na! escrita! estrutural! como! no! pensamento! da! personagem.! Ao! abranger! o! coletivo,! tornaGse!compreensivo!e!consegue!viabilizar!a!uma!sociedade,!além!de!denunciar!a! condição!vivenciada!por!parte!da!população!argentina.! !

O! retrato! de! uma! sociedade! torna! aqui! linguagem! veicular! a! toda! uma!

América! Latina! que! restringida! pela! censura! e! pelos! vetos! ditatoriais! integramGse! através!da!locução!gráfica,!grafêmica,!jornalística!e!informacional!quando!traduzida! em!elemento!artístico!e!unificador!que!a!arte!o!é.! 3.2.'Analise'Luis'Alberto'Boh' Nesta! segunda! análise! optaGse! em! uma! vertente! das! artes! visuais! plásticas! através! de! um! dos! desenhos! do! artista! paraguaio! Luis! Alberto! Boh.! Nascido! em! Assunção! em! 1952,! é! desenhista,! desing! gráfico,! e! arquiteto.! Em! seus! trabalhos! esteve! como! arquiteto! presente! no! projeto! da! nova! sede! do! Union! Bank! na! capital! paraguaia! e! como! artista! plástico! desenvolveu! suas! obras! fazendo! alusões! a! diferentes! momentos! históricos,! onde! sua! arte! é! definida! entre! um! expressionismo! dramático,! uma! filiação! ao! realismo! fantástico! e! uma! preocupação! intelectual! refinada.! Seus! trabalhos! são! encontrados! em! diversos! centros! de! Artes! Visuais! e! coleções!particulares.! Na!obra!do!artista!paraguaio!encontramos!outra!via!de!relação!que!podemos! considerar! como! meio! de! veiculação! de! pensamentos! de! um! momento! onde! o! regime! político! se! fazia! ditatorial.! Na! série! apresentada! “Archivos! del! Terror”! encontraremos!algumas!evidências!nacionais!e!internacionais!de!tal!representação.! ! !

27!

! !

Assim! como! na! análise! anterior,! partiremos! de! uma! contemplação! do! leitor! sobre! esta! representação! do! trabalho! de! Boh! (Figura! 2).! A! obra! original! mantém! dimensões!de!51x73!cm!e!está!sobre!superfície!de!papel!trabalhada!em!tinta.!! Ao! abrimos! os! poros! do! olhar! e! nos! deixarmos! levar! pela! qualidade! em! si! trazida! pelo! ícone! em! sua! representatividade,! podemos! contemplar! uma! colocação! austera,! onde! as! formas! circundam! o! movimento! apresentado! pelo! artista! em! sua! proposta!de!luz!e!sombra!sobre!uma!tonalidade!de!sépia.!

Figura2:)La)Confesión,)1977)Luis)Alberto)Boh)–)Dibujo)a)tinta)sobre)papel)–)Dimensão:)51x73cm)R) Coleção)particular.!

A! obra,! como! um! signo! que! é,! coloca! o! observador! a! logo! fazer! inferências! indiciais!por!sua!expressividade!e!sensibilidade.!Mas!é!nesta!última!que!nos!atemos! a!colocar!em!sua!análise!somente!suas!qualidades!sutis.! A! superfície! chapada,! com! seus! traços! e! pinceladas! dicromáticas! mantém! o! expectador! fixado! em! sutilezas! como! o! amassado! da! folha! ao! fundo! junto! ao! sombreado!proposto.!Aqui!daremos!início!a!nossa!jornada!descritiva!sobre!o!signo!e! sua!formação!de!ação!sobre!a!cognição!do!contemplador.! ! !

28!

! !

Seu! objeto! imediato! retrata! uma! imagem! humana! em! primeiro! plano,! um! poste!em!madeira!logo!atrás!e!uma!possível!figura!humana!representada!por!braços! em!terceiro!plano.!A!figura!em!primeiro!plano!encontraGse!com!a!boca!aberta,!mas! ao! mesmo! tempo! vedada! por! um! fragmento! branco.! A! figura! em! terceiro! plano! coloca! levemente! suas! mangas/braços! ao! entorno! da! primeira! figura.! A! coloração! em!tons!de!ocre,!marrom!e!bege,!montando!uma!estrutura!mais!dicromática.!! As!características!presentes!na!obra!vêm!a!localizar!o!leitor!frente!uma!figura! humana!que!indica!estar!sendo!violada.!Sua!coloração!com!tons!ocres!e!sombrios!e! dicromáticos!são!apenas!aspectos!do!que!a!obra!é!de!fato!em!sua!representação.! Sua! ligação! ao! observador! acontece! por! sua! tocante! ênfase! de! censura! e! veto.! A! figura! a! frente! é! impossibilitada! de! “abrir! sua! boca”! tanto! pela! tarja! quanto! pela!figura!em!segundo!plano!que!faz!menção!a!mantêGla!presa!ou!em!retenção.!A! torre!em!madeira!colocada!em!segundo!plano,!sugere!uma!mensagem!de!ponta!de! cruz,!símbolo!de!mártires!presentes!nos!contextos!históricos.! Quando! apresentada! frente! a! ser! objeto! dinâmico,! representa! o! possível,! o! que! enseja! manifestar! a! dizer! ao! seu! expectador.! Há! por! parte! da! figura! uma! menção! em! querer! falar,! dizer! e! respirar.! Abre! sua! boca! na! tentativa! de! exprimir! algo.! Contudo,! é! censurada,! apresentando! possíveis! mãos! ao! entorno! de! seu! pescoço! na! tentativa! de! contenção! de! seu! corpo.! A! tora! de! madeira! acima! da! primeira! figura! remete! ao! topo! de! uma! cruz,! símbolo! este! que! esteve! presente! durante!o!cristianismo!como!método!punitivo!e!que!remete!a!crucificação!de!Cristo,! objeto!dentro!de!um!contexto!religioso!de!maior!castigo!e!violência!humana.! Aqui!podemos!contextualizar!mesmo!a!profundidade!de!tal!pensamento!para! a! América! Latina,! que! em! sua! colonização! teve! este! paradigma! religioso! embutido! em! suas! veias! de! pensamento! e! que! promulga! uma! identificação! do! sofrimento! a! sacralidade!por!esta!imposta.! A!igreja!católica,!emotiva!e!teatral,!leva!a!seus!fieis!toda!a!carga!emocional!no! intuito! de! criar! novas! imagens! e! pensamentos.! E! ao! observarmos! a! relação! de! colonialidade! latino! americana! e! os! propósitos! da! igreja,! vemos! essa! constante! repercussão!na!criação!de!material!simbólico!para!um!imaginário!coletivo.! “Nosso! repertório! de! símbolos! sagrados! (utilizando! aqui! uma!

! !

29!

! ! denominação! comum! das! ciências! sociais! da! religião)! é! cada! vez! mais! vasto! e! diversificado.! Quando! alguém! rompe! com! sua! tradição! religiosa,! pode! lançar! mão! de! inúmeros! símbolos! vindos! das! mais! diferentes!épocas!ou!sociedades!(SILVA,!2010,!p.103)”.!

Ocorre!na!obra!uma!espécie!de!vislumbre!do!que!pode!ter!acontecido!perante! as!repressões!ditatoriais.!Um!breve!ensejo!de!dizer!ou!expressar!algo,!muitas!vezes! era! censurado,! contido! ou! mesmo! reprimido! no! período! que! a! obra! representa! –! datada!de!1977.!A!imagem!condensa!aqui!um!tempo!histórico!e!o!expressa!através! de! formas! e! símbolos! e! pode! ser! aqui! considerada! como! uma! forma! de! representação!marginal.! A! necessidade! da! obra! em! tanger! ao! social! está! presente! em! toda! sua! conjuntura.! Sua! coloração! mórbida! e! sua! composição! fantasmagórica! se! fazem! como! construção! de! uma! condição! supra! sensorial! vivida! pelo! coletivo! da! época.! Esta! tornaGse! parte! documental,! lidos! aqui! como! representação! social! e! desafia! os! limites!repressivos!autorizados!pelas!ditaduras.! Ao! subjetivarmos! as! formas,! conseguimos! extrair! o! conteúdo! em! si! e! sua! separação!do!sujeito!exprime!o!sentimento!e!se!transforma!em!forma!de!denuncia!e! representatividade.! O! signo! como! existente! concreto! nos! leva! a! reflexionar! o! próprio! título,! A) confissão,!que!indica!a!revelação!de!verdades!não!expressadas.!É!a!impossibilidade! da!articulação!verbal.! A!união!plural!latente!a!obra!compele!a!sentimentos!e!ideias!de!pessoas!que! na!época,!possivelmente!estivessem!em!tal!contexto,!sendo!veladas!ou!aprisionadas! em! seus! pensamentos! e! ação.! Muitas! vezes! mantendo! ideias! dentro! de! suas! próprias! mentes,! sem! poder! exprimir! ou! verbalizar! suas! demandas.! Podemos! observar! numa! breve! volta! essa! condição! expressa! na! fisionomia! da! figura! em! primeiro!plano.! É!assim!que!constatamos!esta!inserção!e!meio!de!veiculação!onde!as!obras! de! arte! tornamGse! um! paralelo! aos! documentos! de! dados! textuais,! declarações,! depoimentos! e! fotografias.! Elas! são! documentos! sim,! mas! mostrados! de! outro! aspecto! da! realidade! e! ligados! a! uma! sensibilidade! coletiva! e! de! representações!

! !

30!

! !

sociais.!As!memórias!de!dor!e!os!modos!de!sentir!e!expressar!a!história!integram!e! tangenciam!os!povos,!sejam!através!dos!desenhos,!da!música!ou!das!caricaturas.!! 3.3'Análise'Música'Cálice' Vemos! que! a! historia! ao! longo! do! tempo! passa! por! transformações! em! seu! curso! e! tais! transformações! chegam! ao! campo! que! é! entendido! como! Historia! Cultural! e! por! isso,! exatamente! neste! contexto! que! a! música! pode! ser! explorada! enquanto!fonte.!Segundo!Moraes!(2000),!“a!música,!sobretudo!a!popular,!pode!ser! compreendida! como! parte! constitutiva! de! uma! trama! repleta! de! contradições! e! tensões! em! que! os! sujeitos! sociais,! com! suas! relações! e! praticas! coletivas! e! individuais! e! por! meio! dos! sons,! vão! (re)! construir! partes! da! realidade! social! e! cultural”.!Devido!a!isso,!vemos!que!as!músicas!de!protesto!permeiam!a!cena!cultural! de!períodos!conflitivos!como!a!ditadura,!e!são!consideradas!pelos!censores!(aqueles! que! censuram)! como! altamente! subversivas.! Entendemos! então! que! frente! a! este! aspecto,!as!músicas!presentes!neste!contexto,!podem!ser!consideradas!elementos! de!integração!entre!os!povos,!em!especial!aqueles!que!estão!vivenciando!momentos! históricos! como,! por! exemplo,! os! que! se! encontram! sob! o! domínio! ditatorial.! Ela! integra! porque! os! sujeitos! nela! envolvidos! lutam! para! combater! tal! regime! e! por! tanto!para!que!sejam!visibilizados.!Isso!os!fortalece!como!grupo.! Analisaremos! a! seguir! a! música! Cálice! de! Chico! Buarque! e! Gilberto! Gil,! composta!em!1973!e!lançada!em!1978,!como!elemento!de!denuncia!a!este!período! e!de!integração!já!que!a!mesma!se!faz!de!uma!natureza!poética,!que!revela!pontos! de!vista!ou!uma!visão!de!mundo!contrária!à!ideologia!de!uma!determinada!época!ou! contexto.!!NotaGse!por!tanto!que!é!por!isso!que!a!mesma!permite!integrar!os!sujeitos! que!a!determinadas!ideologias!desta!época!especifica!que!foi!a!ditadura.! A!análise!realizada!nos!apresenta!a!ideia!de!que!a!música!tem!um!papel! importante!nas!relações!sociais,!interferindo!de!forma!direta!e!significativa!na!vida! dos!sujeitos!e!por!isso!estimula,!encoraja!e!promove!a!interação!entre!os!mesmos! vislumbrando!novos!olhares!sobre!o!mundo.! Cálice(Chico)Buarque)e)Gilberto)Gil)) ! Pai,!afasta!de!mim!esse!cálice! Pai,!afasta!de!mim!esse!cálice! Pai,!afasta!de!mim!esse!cálice! ! !

31!

! ! De!vinho!tinto!de!sangue! ! Como!beber!dessa!bebida!amarga! Tragar!a!dor,!engolir!a!labuta! Mesmo!calada!a!boca,!resta!o!peito! Silêncio!na!cidade!não!se!escuta! De!que!me!vale!ser!filho!da!santa! Melhor!seria!ser!filho!da!outra! Outra!realidade!menos!morta! Tanta!mentira,!tanta!força!bruta! ! Como!é!difícil!acordar!calado! Se!na!calada!da!noite!eu!me!dano! Quero!lançar!um!grito!desumano! Que!é!uma!maneira!de!ser!escutado! Esse!silêncio!todo!me!atordoa! Atordoado!eu!permaneço!atento! Na!arquibancada!pra!a!qualquer!momento! Ver!emergir!o!monstro!da!lagoa! ! De!muito!gorda!a!porca!já!não!anda! De!muito!usada!a!faca!já!não!corta! Como!é!difícil,!pai,!abrir!a!porta! Essa!palavra!presa!na!garganta! Esse!pileque!homérico!no!mundo! De!que!adianta!ter!boa!vontade! Mesmo!calado!o!peito,!resta!a!cuca! Dos!bêbados!do!centro!da!cidade! ! Talvez!o!mundo!não!seja!pequeno! Nem!seja!a!vida!um!fato!consumado! Quero!inventar!o!meu!próprio!pecado! Quero!morrer!do!meu!próprio!veneno! Quero!perder!de!vez!tua!cabeça! Minha!cabeça!perder!teu!juízo! Quero!cheirar!fumaça!de!óleo!diesel! Me!embriagar!até!que!alguém!me!esqueça! ! !

A! música! se! chama! “Cálice”! e! expõe! a! realidade! do! regime! militar! em! suas! entrelinhas.! Gilberto! Gil! e! Chico! Buarque! procuram! através! da! arte,! denunciar! um! período!marcado!pela!degradação!onde!utilizam!também!desta!música!como!forma! de!combate!a!esta!forma!de!poder!ditatorial.!! Segundo! Morhy! &! Ferreira! (2007),! “A! palavra! Cálice! é! explorada! nos! mais! variados! aspectos! e! sentidos! para! desnudar! de! forma! expressiva! a! realidade! desumana!impingida!por!um!poder!autoritário!e!arbitrário.!A!música,!a!uma!primeira! e! desatenta! leitura,! pode! não! passar! de! texto! ou! canto! religioso.! E! isso! se! dá,! justamente,!por!conta!do!refrão!que!alude!ao!trecho!bíblico!em!que!Jesus!suplica!a! ! !

32!

! !

Deus,!momentos!antes!de!seu!calvário,!que!retire!de!suas!mãos!a!responsabilidade! de!realizar!o!sacrifício!da!paixão,!simbolizado!pelo!cálice.!A!referência!à!passagem! bíblica!teve,!sobretudo,!a!intenção!de!expressar!a!dimensão!da!dor!e!do!sofrimento! daqueles! que! estavam! submetidos! às! imposições! do! regime! militar.! PareceGnos! imaginável! num! primeiro! momento! que! esta! música! com! um! apelo! forte! a! questão! religiosa,!nos!levasse!a!um!panorama!extremamente!realista!do!sofrimento!de!uma! nação!que!naquele!momento!se!encontrava!subjugado.!Segundo!o!próprio!autor!da! obra! Gilberto! Gil! (em) entrevista) retirada) do) youtube)! relata! em! uma! de! suas! entrevistas! que! a! ideia! de! compor! esta! música! se! deu! exatamente! em! uma! sextaG feira! “santa’! e! por! isso,! a! música! vem! carregada! de! elementos! que! remetem! ao! cristianismo,! em! especial! ao! catolicismo,! religião! predominante! naquela! ocasião”.! Ele! descreve! que! compuseram! esta! música! trazendo! elementos! essenciais! que! eram!a!denuncia!do!sofrimento!físico!e!com!ela!a!tortura!e!a!censura.!! Ainda! neste! contexto,! Morhy&! Ferreira! (2007),! diz! que! a! expressão! “cálice”! remete!a!forma!imperativa!do!verbo!calar,!“caleGse”,!representando!toda!a!essência! autoritária!do!regime!militar!que!impunha!o!silêncio!de!ideologias!contrárias!a!ele!e! calava! todas! as! atitudes! de! contestação! àquele! status! quo.! ! Conforme! análise! dos! autores! é! perceptível! nas! entrelinhas! da! música! alusões! a! repressão! ditatorial.! A! seguir,! colocamos! a! análise! de! Morhy&! Ferreira! (2007),! de! algumas! das! frases! de! maior!profundidade!desta!música:! “Pai,)afasta)de)mim)esse)cálice”.) Mostra!a!súplica!por!algo!que!se!deseja!ver,!porém!a!distância.!Esta!parte!faz!alusão! a!Paixão!de!Cristo!e!o!sofrimento!vivido!pela!população!aterrorizada!com!o!regime! autoritário.! O! refrão! faz! uma! referência! à! agonia! de! Jesus! no! calvário,! mas! a! ambiguidade! da! palavra! “cálice”! em! relação! ao! imperativo! “caleGse”,! remete! à! atuação!da!censura.! “)De)vinho)tinto)de)sangue”) O!“cálice”!na!bíblia!é!mostrado!como!um!objeto!onde!é!colocado!o!sangue!de!Jesus.! Na!música!é!o!sangue!derramado!pelas!vítimas!da!repressão!e!torturas.! “Como)beber)dessa)bebida)amarga”) ! !

33!

! !

Esta!metáfora!do!verso!faz!alusão!à!triste!realidade!em!aceitar!um!quadro!social!em! que!as!pessoas!eram!subjugadas!de!forma!totalmente!desumana.! “De)que)me)vale)ser)filho)da)santa)/)Melhor)seria)ser)filho)da)outra”) Sem!fugir!à!temática!da!religião,!Chico!e!Gil!usam!de!metáforas!para!mostrar!suas! descrenças!naquele!regime!político!e!rebaixam!a!figura!da!“pátria!mãe”.! “)Nos)versos:)Como)é)difícil)acordar)calado)/Se)na)calada)da)noite)eu)me)dano”) NotaGse! aqui! que! o! eu! lírico! afirma! a! dificuldade! em! aceitar! passivamente! o! que! o! regime! impunha! e! diante! disso! tudo,! permanecer! calado! diante! de! tantas! atrocidades! (prisões! e! torturas)! e! que! aconteciam! geralmente! à! noite.! Vemos! aqui,! uma! forte! critica! aos! militares,! pois! tudo! faziam! de! forma! arbitraria,! fazendo! preferencialmente!de!forma!escondida.! A!arte!não!narra!literalmente!sobre!os!eventos!e!fatos,!mas!é!através!deles!que! sugere! e! abstrai.! Ela! critica! e! cria! através! de! imagens! e! metáforas! e! transmite! de! maneira!forte!e!questionadora!desafiando!os!limites!e!denunciando!as!injustiças!e!as! formas!de!repressão.!

CAPITULO'4.'CONSIDERAÇÕES'FINAIS' Ao! pensar! na! América! Latina! e! em! seus! processos! históricos! semelhantes,! nos! deparamos! com! situações! de! exclusão,! desgaste,! preconceito! e! subsistência! gerados! pelos! processos! de! uma! construção! nacional! imposta! pelas! elites! dominantes! e! subjugadas! pelos! regimes! políticos! inerentes.! Os! históricos! de! dominação!reais!e!simbólicos!sofridos!pelas!populações!latino!americanas!criam!um! espaço!emblemático!às!minorias!insurgentes.! Nesta!analise!não!fizemos!uso!das!teorias!puras!das!relações!internacionais,! pois! de! forma! sistêmica! muitos! já! têm! feito,! e! chegamos! sempre! nas! mesmas! conclusões.! Ao! ler! sobre! as! teorias! vemos! que! elas! servem! também! pra! entender! dentro! de! uma! epistêmica! tradicional,! que! as! relações! internacionais! são! tratadas! como! ações! bilaterais,! e! que! devem! em! menor! ou! maior! grau,! apresentarem! um! equilíbrio! de! forças,! e! que! estas! forças! são! medidas! pela! capacidade! de! cada! estado!ceder!aos!interesses!dos!estados!parceiros,!já!na!linha!mais!marxista!vemos! ! !

34!

! !

que!estes!interesses!são!mais!das!elites!dominantes!do!que!dos!Estados!Nacionais! (se!é!possível!separáGlos?),!estamos!mais!de!acordo!com!essa!visão!interpretativa,! não! retirando! o! poder! das! contribuições! das! linhas! tradicionais! funcionalistas! por! exemplo,!queremos!entender!que!os!estados!também!deveriam!ser!entendidos!com!! dimensões!que!representam!as!vontades!de!todas!as!classes,!e!não!apenas!desta! elite!que!forma!ou!mantém!o!estado!nacional,!e!que!este!estado!é!soberano!não!só! em! questões! econômicas,! mas! que! a! soberania! entendida! de! forma! mais! ampla! contemple!questões!mais!subjetivas,!o!que!não!se!esgota!como!objeto!deste!estudo.! Seja!por!via!Estatal!seja!por!via!popular,!as!configurações!e!a!criação!de!uma! significação! simbólica! se! faz! necessária! e! alude! as! premissas! humanas! que! nos! cercam!e!nos!fazem!seres!sociais!e!coletivos.! Inclusão! e! exclusão,! lembrança! e! esquecimento,! similitudes! e! diferenças,! harmonia!e!tensão!são!sentimentos!antagônicos!e!que!reforçam!a!cada!momento!a! necessidade! de! observar! este! contexto! de! outra! maneira.! Ao! tomarmos! certa! distância! estaremos! então! conseguindo! formular! de! maneira! crítica! uma! análise! significativa! sobre! tais! processos,! sem! descartar! ou! ignorar! e! sim! de! vislumbrar! novas!possibilidades!e!maneiras!de!verificar!a!integração.! Aqui!o!artista,!seja!ele!vanguardista!ou!não,!em!seu!contexto!social!e!por!sua! personalidade! criadora! enxerga,! visibiliza! e! remonta! um! movimento! como! meio! de! contestação! e! chega! onde! o! Estado! não! alcança.! Ele! escancara,! evidencia! e! denuncia!a!condição!humana!através!da!arte,!linguagem!universalizadora!e!social.! Os! ícones! estudados! neste! trabalho! pelo! olhar! da! semiótica,! passam! a! ser! entendidos! e! sintetizados! de! maneira! integral,! onde! conseguimos! descobrir! seus! papeis!representativos!e!evidentes.! Através!deste!estudo!passamos!não!somente!a!conhecer!iconografias!de!uma! América! Latina! em! evidência! por! seus! processos! ditatoriais,! mas! seus! grupos! sociais! com! sua! ação! e! formação! sígnica! e! simbólica! que! envolve! a! todo! um! contexto!epistêmico.! As!influencias!deste!imaginário!coletivo!é!considerada!uma!saída!para!gerar! ressignificações! e! novas! possibilidades! de! integração! e! identificação! para! este! contexto!atual!de!um!pensamento!Latino!Americano!integracionista!e!emancipatório.! ! !

35!

! !

REFERÊNCIAS'BIBLIOGRÁFICAS' BRANT,!Leonardo.!O'Poder'da'Cultura.!São!Paulo:!Editora!Peirópolis,!2009. ! BEYHAUT,!Gustavo.!Dimensão'cultural'da'integração'na'América'Latina.'Estud.! av.,!São!Paulo,!v.!8,!n.!20,!abr.!!1994.!Disponível! em.!Acessos! em!14!!nov.!!2014.!!http://dx.doi.org/10.1590/S0103G40141994000100019.! CALIRMAN,!Claudia.!Arte'brasileira'na'ditadura'militar:'Antonio'Manuel,'Artur' Barrio'e'Cildo'Meireles.'Rio!de!Janeiro,!2013.! CHAUÍ,!Marilena.!Convite'à'Filosofia.!São!Paulo,!2000.! FICO,!Carlos.!Além'do'Golpe:'versões'e'controvérsias'sobre'1964'e'a'ditadura' militar.!Rio!de!Janeiro:!Record,!2004.! LEME,!Caroline!Gomes.!Ditadura'em'imagem'e'som:'trinta'anos'de'produções' cinematográficas'sobre'o'regime'militar'brasileiro.!São!Paulo,!2013.! MORAES,!José!Geraldo!Vinci!de.!História'e'música:'canção'popular'e' conhecimento'histórico.!Revista!Brasileira!de!História,!Volume!20,!n.!39,!São! Paulo.!2000.! MORHY,!Annte!S.R!FERREIRA,!Jaqueline!V.R!“Cálice'–'A'música'e'as'relações'de' poder”.'Universidade!federal!do!Pará,!Intercom!–!Sociedade!Brasileira!de!Estudos! Interdisciplinares!da!Comunicação!VI!Congresso!Brasileiro!de!Ciências!da! Comunicação!da!Região!Norte!–!Belém!–!PA!G!2007! PERICE,!Charles!Sanders.!Semiótica'e'filosofia.!São!Paulo,!1975.! PRADO,!Maria!Ligia!Coelho.!Identidades'Latinoamericanas.!En:!Historia)General) de)América)Latina,)vol.)VII.)Los)proyectosnacionaleslatinoamericanos:)sus) instrumentos)e)articulación,)1870R1930.!Madrid:!Unesco/Trotta,!2008,!pp.!583G616.! QUINO.!Toda'a'Mafalda.!São!Paulo:!Martins!Fontes,!1993.! SANTAELLA,!Lucia.!O'que'é'semiótica.!São!Paulo:!Brasiliense,!2007.! __________.!Semiótica'aplicada.São!Paulo:!Cengage!Learning,!2008.! SANTOS,!Boaventura!de!Souza.!Refundacióndel'Estado'en'América'Latina.' Perspectivas'desde'una'EpistemologíadelSur.!Lima,!2010.!

! !

36!

! !

SILVA,!Eliane!Moura!daR!BELLOTTI,!Karina!KosickiR!CAMPOS,!Leonildo!Silveira.! Religião'e'sociedade'na'América'Latina.!São!Bernardo!do!Campo:!Universidade! Metodista!de!São!Paulo,!2010.! VIGEVANI,!TulloR!MARTINS,!Aline!Regina!AlvesR!MIKLOS,!ManoelaR!RODRIGUES,! Priscila.!A'Contribuição'Marxista'para'o'estudo'das'Relações'Internacionais.! Lua!Nova,!São!Paulo,!83:!111G143,!2011.! WENDT,!Alexander.Constructing'International'Politics.!International)Security,!Vol.! 20,!No.!1.!(Summer,!1995),!pp.!71G81.!Disponível!em:! http://links.jstor.org/sici?sici=0162G 2889%28199522%2920%3A1%3C71%3ACIP%3E2.0.CO%3B2GI>Acesso!em!9!de! julho!de!2015.! MAGALHÃES,!M.!História:!Cuba!apoiou!guerrilha!já!no!governo!Jãnio.!Disponível! em:!http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0804200114.htm#_=_!Acesso!em!10!de! julho!de!2015.! Documento'7:'Itaipu'Binacional,'Assessoria'de'Segurança'(Brasil),'Informe'No.' 031/76,'"Subversivos'Paraguaios'em'Foz'do'Iguaçu",'de'15'de'dezembro'de' 1976.Comissão)Nacional)da)Verdade.!Disponível!em:! ! Acesso!em!3!de!julho!de!2015.! Documentos'4:'Estado'Maior'do'Exército,'Adido'do'Exército'à'Embaixada'do' Brasil'em'Assunção,'Pedido'de'Busca'Nr.'12/75,'"Junta'Coordenadora' Revolucionária”,'de'13'de'outubro'de'1975.Comissão)Nacional)da)Verdade.! Disponível!em:! !Acesso! em!3!de!julho!de!2015.! Documento'3:'Departamento'de'Estado'dos'EUA,'Bureau' ofIntelligenceandResearch,'"South'America:'Southern'Cone'Security' Practices",'de'19'de'julho'de'1976,'p.'3'e'4.)Comissão)Nacional)da)Verdade.! Disponível!em:! !Acesso! em!3!de!julho!de!2015.!

! !

37!

! !

Avanços'da'regionalização'nas'Américas:'cronologia'analítica.'SciELO!–!The! Scientific!Eletronic!Library!Online.!Disponível!em:! .!Acesso!em!03!de!julho!de!2015.! El'Arte'en'Los'Tiempos'de'Stroessner.''Portal!Guarani.!Disponível!em:! !Acesso!em:!29!de!junho!de!2015.! Paraguay:'Los'Archivosdel'Terror,'2008.'Disponível! em:http://www.portalguarani.com/587_alfredo_boccia_paz/6714_paraguay_los_archi vos_del_terror_2008_alfredo_boccia_paz_rosa_palau_aguilar_y_osvaldo_salerno_.h tml!Acesso!em:!29!de!junho!de!2015.! Youtube:!Publicado'em'15'de'abril'de'2013.!Encontrado!em:! https://www.youtube.com/watch?v=8CnSiaPGjL4! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

38!

! !

' ANEXOS' !

! !

!

39!

! !

ANEXO'1' ! ! ! ! !

! ! ! !

' ' ! !

40!

! !

ANEXO'2' ' ' '

' ' ' ' ' ' '

! !

41!

! !

ANEXO'3'

! !

42!

! !

ANEXO'4' ' ' ' ' ' '

' ' ' ' '

! !

43!

! !

ANEXO'5'

! !

44!

! !

ANEXO'6' ' ' ' ' ' ' ' '

' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ! !

45!

! !

ANEXO'7' ' '

! !

46!

! !

ANEXO'8' ' ' ' ' ' ' '

' ' ' ' ' ' ' ! ! !

47!

! !

ANEXO'9' ' ' ' ' ' ' '

' ' ' ' ' ' ' ! ! !

48!

! !

ANEXO'10' ' ' ' ' ' ' '

' ' ' ' ' ' ' ' ! ! !

49!

! !

ANEXO'11' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' ' '

! !

50!

! !

ANEXO'12' '

! !

51!