Projeto de Autoconstrução como alternativa para a construção de habitação popular sustentável

June 16, 2017 | Autor: Vítor Domício | Categoria: Sustentabilidade, Habitação, Autoconstruction, Autoconstrução, Projeto Arquitetonico
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ENCONTRO LATINOAMERICANO DE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS CURITIBA - PR | 21 A 24 DE OUTUBRO DOI: http://dx.doi.org/10.12702/978-85-89478-40-3-a026

PROJETO DE AUTOCONSTRUÇÃO COMO ALTERNATIVA PARA A CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÃO POPULAR SUSTENTÁVEL Amando Candeira Costa Filho1, Alexandre Gomes de Oliveira2, Flora Mendes Araújo Lima3, Bernardo Andrade4, João Luís Cabral Mendes5, Vítor Domício de Meneses6 Resumo O presente artigo tem o objetivo de descrever um projeto arquitetônico, e seu processo de concepção, para um protótipo de habitação unifamiliar a ser construída através de técnicas de autoconstrução.A ideia base da pesquisa foi investigar novas alternativas construtivas, com mínimo de capacitação técnica necessária de aplicação, que possam auxiliar no problema de moradia popular no Brasil.A concepção do projeto arquitetônico privilegiou a adoção de diferentes estratégias bioclimáticas e sustentáveis, que tem por objetivo incrementar o desempenho térmico da edificação, aproveitar a luz natural e reduzir o impacto ambiental da construção, considerando tanto a questão da eficiência energética quanto a sustentabilidade das soluções, principalmente em relação aos materiais e sistemas construtivos. O custo e o nível de exigência técnica exigida para a autoconstrução, além da disponibilidade local foram os critérios básicos para a escolha dos materiais e técnicas construtivas adotadas neste projeto. O resultado final do projeto indica a viabilidade do trabalho e demonstra que a orientação técnica no processo projetual pode possibilitar a utilização da autoconstrução como uma alternativa para o enfrentamento do problema habitacional no Brasil. Palavras-chaves: autoconstrução, habitação, projeto arquitetônico, sustentabilidade.

SELF-BUILD ARCHITECTURAL DESIGN AS ALTERNATIVE TO SUSTAINABLE LOW-COST DWELLING Abstract This article aims to describe an architectural design, and its design process, to a prototype of a single family dwelling to be built through self-build techniques. The basic idea for the research was investigate alternative building materials that require minimum knowledge to apply, which could help to decrease problems related to low-cost dwellings in Brazil. The architectural design favored the adoption of different bioclimatic and sustainable strategies to increase the thermal performance of the building, promote daylight use and reduce the environmental impact, taking in to account energy efficiency as well as sustainable solutions, mainly regarding building materials and systems. The cost and the techniques required in the self-build process, besides the availability of the material in the region, were the basics criteria to choose the materials and building technique used in this project. The final design indicates the project feasibility and shows that the technique guidance of the building process could enable the use of self-build as an alternative to face dwelling problems in Brazil. Key-words: self-build, low-rise residential building, architectural design, sustainability 1 Orientador/Professor do CAU - UNIFOR. E-mail: [email protected] 2 Professor do CAU - UNIFOR. E-mail: [email protected] 3 Professora do CAU - UNIFOR. E-mail: [email protected] 4 Graduando de arquitetura – UNIFOR. E-mail: [email protected] 5 Graduando de arquitetura – UNIFOR. E-mail: [email protected] 6 Graduando de arquitetura – UNIFOR. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem o objeto de descrever um projeto arquitetônico, e seu processo de concepção, para um protótipo de habitação unifamiliar a ser construída através de técnicas de autoconstrução. O projeto arquitetônico foi desenvolvido por alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) como parte de uma pesquisa de iniciação científica. Este foi elaborado com base em princípios bioclimáticos e sustentáveis, bem como em estratégias de construção de baixo custo que utilizem materiais e sistema construtivos disponíveis na forma de resíduos e que se adequem ao conceito de autoconstrução. O processo de autoconstrução tem sido utilizado com sucesso em diversos países em desenvolvimento. Basicamente, pode ser entendido comum processo econômico de uso da capacidade produtiva de um individua ou de uma família que, independente de qualquer instituição, constrói uma determinada edificação apenas com apoio técnico interno ou externo (SOLIMAN, 2012). Portanto, sua abrangência é vasta, no sentido da forma de execução, no nível de suporte técnico, em virtude das escolhas relativas aos materiais e sistemas construtivos e em relação qualidade do produto desejado. A ideia base da pesquisa foi investigar novas alternativas construtivas, que exijam condições mínimas de capacitação técnica para aplicação, possibilitando auxiliar no problema de moradia popular no Brasil. A experiência de uso de materiais alternativos e sustentáveis para construção e a proposição de formas construtivas com menor impacto ambiental ao meio-ambiente e aos usuários da edificação tem a intenção de promover uma discussão sobre estas possibilidades construtivas em face das técnicas tradicionais adotadas em habitações de interesse social e suas consequências, sob a ótica da tipologia formal, do desempenho ambiental e viabilidade econômica e social. Portanto, a elaboração do projeto arquitetônico buscou incorporar sistemas construtivos e materiais quase enquadrem no conceito de Autoconstrução a fim de oferecer maiores possibilidades de uso e construção por parte dos futuros moradores, promovendo a sustentabilidade da construção. A pesquisa também traz como meta subjacente gerar dentro do curso de arquitetura e urbanismo da UNIFOR uma experiência junto aos alunos de graduação e professores do curso no processo de construção de um protótipo da habitação a ser construída no campus da universidade a fim também de incitar um debate acadêmico acerca do processo de projeto, da importância da incorporação e de estratégias sustentáveis no projeto arquitetônico, da destinação de materiais e resíduos e da própria a questão da moradia popular e suas implicações na sociedade.

2 QUALIDADE E DÉFICIT HABITACIONAL NO BRASIL Assim como outros países em desenvolvimento, o Brasil enfrenta um grave problema de déficit habitacional. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios - PNAD, mais de 5,5 milhões de moradias precisariam ser construídas em todo o país para acabar com o déficit habitacional. No estado do Ceará, seriam necessárias 276.915 moradias (PNAD, 2009). Além disto, a qualidade das habitações muitas vezes é precária, sendo comum a falta de infraestrutura na distribuição de energia, de saneamento básico, dificuldade de acesso à água tratada, inadequação na destinação de resíduos e, principalmente, inadequação no uso de materiais e sistemas construtivos e/ou construídos, falta de orientação técnica, gerando problemas relacionados ao desempenho da construção como um todo. Nos últimos anos, o enfrentamento destes problemas, dar-se por ações e programas do governo federal para o financiamento de habitações populares no Brasil e de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e normas para aprimorar a qualidade física e ambiental das construções. Grande parte das habitações construídas, financiadas por programas do governo federal através da Caixa Econômica Federal, tem suas paredes construídas por não mais do que oito tipos de sistemas construtivos, entre sistemas tradicionais e outros considerados inovações tecnológicas, sendo a alvenaria tradicional de tijolos furados, alvenaria estrutural, concreto celular, solo-cimento, concreto armado in loco, steel-framming, aço estrutural e gesso acartonado os mais comuns. Embora haja limitação de financiamento para estes sistemas em vista da exigência de qualidade e desempenho das construções, apoiado em normas, o uso de técnicas especializadas, na maior parte das vezes inacessíveis ao futuro morador, pode gerar uma condição de dependência de mão-de-obra de construtores e fornecedores da indústria da construção. O desafio de se propor técnicas e sistemas construtivos alternativos para a autoconstrução de habitações ELECS 2013 - CURITIBA - PR | 21 A 24 DE OUTUBRO



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populares não é um tema novo. Vários programas e ações em diversos setores da sociedade, bem como pesquisas nesse campo tem sido elaborados no sentido de auxiliar na resolução de tais problemas, porém nem sempre com êxito ou com pouca absorção pelo mercado de tais iniciativas. Mais recentemente, a publicação da norma desempenho da ABNT NBR-15575 para habitações representou uma avanço no sentido do desenvolvimento de moradias com maior qualidade. Ao estabelecer critérios de desempenho baseado não no tipo de material, mas nas suas propriedades e características físicas, termofísicas, acústicas, de segurança, estanqueidade, resistência estrutural, entre outros, a norma abre possibilidade para uso de outros sistemas que não necessitem de mão-de-obra especializada. Dessa forma, vislumbra-se uma nova oportunidade para o processo de autoconstrução como instrumento para redução do quadro de déficit habitacional que o país enfrenta, porém dentro de um modelo com critérios desempenho normalizados. A autoconstrução que a rigor acontece sem nenhuma orientação de natureza técnica, podendo comprometer a qualidade da edificação construída e representar um risco aos moradores, deve ser substituída por um novo modelo de capacitação dos construtores e amparo técnico, porém sem perder o seu maior atributo de possibilitar a participação do futuro morador no papel de construtor, pelo uso de sistemas construtivos acessíveis do ponto de vista das habilidades necessárias para uso. Essa lógica de construção, ao contrário dos conjuntos habitacionais construídos pelo poder publico que oferecem moradias padronizadas, nem sempre considerando a quantidade de pessoas em cada família ou necessidades especiais, permitiria atender questões específicas das famílias (construtores) pela participação no processo de construção e maior potencial de adaptação ás suas demandas pela presença constante no canteiro de obra.

3 PROJETO E INTEGRAÇÃO DE SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS E DE AUTOCONSTRUÇÃO O projeto arquitetônico foi desenvolvido com base nas etapas de Programa Arquitetônico, Estudo Preliminar, Anteprojeto e Projeto Executivo. Na fase de programa foram definidos os ambientes funcionais para habitação que se limitou a um quarto, um banheiro comum, uma sala de estar e jantar integrado, e uma cozinha. A simplificação do número de ambientes levou a consideração de uma meta prévia de projeto que seria a proposição de uma forma que possibilitasse a expansão da planta baixa para dois ou mais quartos. Nesta etapa também foi definido a localização do terreno, onde um protótipo será construído, e realizado a análise da legislação urbana referente à tipologia de projeto. Logo, a partir de uma pesquisa bibliográfica foram definidos os princípios bioclimáticos e sustentáveis a serem adotados e materiais e sistemas construtivos a serem usados, com base nas seguintes diretrizes de projeto: •

Adoção de princípios bioclimáticos de projeto para climas quente-úmido;



Incorporação de estratégias sustentáveis de projeto;

• Aplicação de materiais, tradicionais ou alternativos, disponíveis localmente na forma de resíduos: •

Uso de sistemas construtivos sustentáveis e com maior qualidade ambiental;



Adequação formal do projeto, dos materiais e sistemas construtivos à Autoconstrução.

Em suma, as etapas do projeto desenvolveram-se com base no modelo proposto por Szokolay(1984), quanto às atividades a serem executadas em cada etapa, as informações que seriam obtidas, as ferramentas de projeto a serem usadas e os produtos resultantes (Tabela 1), em vista do desempenho térmico e lumínico, principalmente.

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ETAPA PROGRAMA ARQUITETÔNICO

CONCEPÇÃO

ATIVIDADE − Discussão de ideias iniciais; − Identificação de limitações; − Análise Climática; − Definição das soluções espaciais (Partido). − Geração de ideias; − Proposição de alternativas.

EXECUTIVO

− Desenhos de representação do projeto; − Dimensões e especificações; − Detalhamentos.

AVALIAÇÃO

− Avaliação do desempenho térmico; − Avaliação da iluminação natural.

INFORMAÇÃO − Coleta de dados climáticos; − Adequação às normas; − Estudos de casos.

FERRAMENTAS − NBR 15520; − NBR 15575; − Legislaçãourbana; − Weather Tool (AUTODESK, 2012c)

PRODUTO − Metas de desempenho; − Recomendaçõesde projeto.

− Conhecimento dos efeitos térmicos da forma e dos materiais especificados; − Critérios de avaliação do desempenho. − Consciência relativa ao desempenho térmico e aproveitamento de luz natural das soluções. − Dados termofísicos dos materiais, arquivo climático horário, rotina de ocupação e densidade de cargas térmicas.

− Solar Tool(AUTODESK, 2012b) − Maquete física (Solarscópio)

− Proposta de projetopreliminar; − Estudo de alternativas.

− Ferramentas específicas: − Maquete eletrônica − Avaliação (EnergyPlus, Radiance e Ecotect)

− Definição do projeto; − Seleção de materiais e sistemas construtivos.

− Modelagem detalhada da edificação usando: − EnergyPlus (DOE, 2013); − Radiance(PAPAMICHAEL, 2013); − Autodesk EcotectAnalysys 2012 (AUTODESK, 2012a).

− Graus-hora de desconforto térmico de acordo com Zona Bioclimática de Givoni; − Nível de iluminância no plano de trabalho.

Tabela 1–Fluxo energético nas fases de projeto, adaptado de Szokolay(1984).

3.2 Localização e análise climática O projeto arquitetônico foi desenvolvido para construção de um protótipo no campus da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), situada em Fortaleza-CE que pertence à zona bioclimática Z8 de acordo com a norma da ABNT NBR-15520 de Desempenho térmico de edificações em sua parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social(ABNT, 2005).

Figura 1 – Macrolocalização do projeto arquitetônico em Fortaleza-CE.

Figura 2 – Foto aérea com microlocalização do protótipo a ser implantado no campus da UNIFOR.

A análise do clima de Fortaleza-CE foi realizada a partir do arquivo climático TMY, usando o programa Weather Tool 2.0(AUTODESK, 2012c), que pertence ao pacote de programas do Autodesk ECOTECT Analysis. O objetivo foi determinar as estratégias bioclimáticas adotados no projeto e caracterizar o clima, que possui ELECS 2013 - CURITIBA - PR | 21 A 24 DE OUTUBRO



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temperaturas médias do ar que entre 26 °C a 32 °C e umidade relativa média de 60%, podendo alcançar níveis superiores a 90% em algumas épocas do ano (Figura 3). Os ventos predominantes são oriundos do quadrante Sudeste, com maior frequência de Leste e com velocidades médias de 6 m/s (Figura 4).A radiação solar no local é intensa, tornando o sombreamento tanto de aberturas quanto de vedações verticais e o uso de superfícies de baixa absortância, estratégias para evitar os ganhos de calor.

Figura 3 – Dados climáticos de temperatura do ar e umidade relativa para Fortaleza-CE (AUTODESK, 2012c).

Figura 4 – Rosa-dos-ventos de Fortaleza a partir dos dados climáticos do arquivo do tipo TMY(AUTODESK, 2012c).

3.2 Materiais e sistemas construtivos Os critérios principais para a escolha dos materiais e técnicas construtivas adotadas neste projeto foram o custo, o nível de exigência técnica exigida para construção, disponibilidade local e adequação climática. Na fase de programa arquitetônico foram elencados diferentes tipos de materiais convencionais e outros que poderiam ser usados na forma de resíduos, que são dispensados pela Universidade de Fortaleza, a fim de se identificar diferentes possibilidades de adaptação de seu uso na construção.

↓ ↑ ↓ ↓ ↑ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓

Tempo de Execução

↓ ↓ ↓ ↓ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑

Recebimento de instalações hidrosanitárias embutidas

↓ ↓ ↑ ↔ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓ ↑ ↓ ↑ ↑

Disponibilidade de matéria-prima

↑ ↑ ↑ ↑ ↔ ↔ ↔ ↓ ↓ ↑ ↑ ↑ ↑ ↔

Adequação climática

↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↔ ↑ ↔ ↔ ↓ ↓ ↑ ↓ ↑

Impermeabilização / Resistência à umidade

↑ ↑ ↔ ↔ ↔ ↔ ↑ ↑ ↑ ↑ ↓ ↑ ↑ ↑

Valor estrutural

↑ ↑ ↑ ↑ ↔ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓

Exigência técnica para uso em processo de Autoconstrução

Concreto moldado in loco Concreto celular Tijolo Cerâmico furado Tijolo Cerâmico Maciço Tijolo de solo-cimento Tijolo de Adobe Super-Adobe Taipa de Pilão Taipa de Mão Lata de Aço e Argamassa Garrafa de PET e Argamassa Pneu, Areia e Argamassa Vidro e Argamassa Bambu

Custo

A partir deste levantamento foram pré-selecionadas treze sistemas construtivos possíveis de serem empregadas no projeto. A seleção final foi realizada a partir de uma avaliação qualitativa, através de uma matriz de seleção (Tabela 2), onde esses foram analisados quanto a menor (↓), intermediária (↔) e maior (↑) adequação.

↓ ↑ ↓ ↓ ↔ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↔

Tabela 2–Critérios de seleção dos materiais e sistemas construtivos.

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A análise resultou na escolha de diversos materiais e sistemas construtivos para o projeto (Tabela 3). Esta diversidade deve-se também ao desejo de investigação as várias possibilidades construtivas indicadas no projeto, dentro de uma visão acadêmica e pedagógica que possam contribuir para o aprendizado dos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFOR em relação a sistemas construtivos alternativos. ELEMENTO

IMAGEM DO MATERIAL

MATERIAL OU SISTEMA

ELEMENTO

IMAGEM DO MATERIAL

MATERIAL OU SISTEMA

Piso (Sala/ Quarto)

Cimento Queimado

Janelas Altas/ Iluminação

Argamassa e Garrafa de Vidro

Piso (Bho)

Cerâmica

Janelas Altas/ Ventilação

Madeira e Vidro

Paredes Externas (Norte e Sul)

Argamassa e Lata/Garrafa de Vidro

Janelas Baixas

Bambu

Paredes Externas (Leste e Oeste)

Pneu e Argamassa

Estrutura da Coberta

Bambu

Paredes Internas

Super-Adobe

Caixa D´Àgua/ Cisterna

Pneu e Argamassa

Tabela 3–Materiais e sistemas construtivos adotados no projeto.

3.2 Concepção e estratégias bioclimáticas e sustentáveis de projeto A concepção do projeto arquitetônico privilegiou a adoção de diferentes estratégias bioclimáticas e sustentáveis de projeto, a partir da análise climática realizada na fase anterior. Estas estratégias têm o objetivo de incrementar o desempenho térmico da edificação, reduzindo-se os ganhos de calor, de aproveitar a iluminação natural, provendo maior conforto lumínico aos moradores, e de reduzir o impacto ambiental, considerando tanto a questão da eficiência energética quanto a sustentabilidade das soluções, principalmente em relação aos materiais e sistemas construtivos usados.

Figura 5 – Croquis da planta baixa na fase de concepção.

Figura 6–Croquis de corte transversal na fase de concepção.

Assim, o partido arquitetônico foi definido através do arranjo linear dos ambientes em uma planta baixa de forma retangular orientada no sentido Leste-Oeste na maior direção com um telhado verde inclinado ELECS 2013 - CURITIBA - PR | 21 A 24 DE OUTUBRO



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de uma água (Figura 5 e Figura 7). A composição formal do projeto também foi definida pelo reuso de pneus que conformam a vedação vertical das fachadas Leste e Oeste, formando taludes gramados, e por um elemento vertical de forma cilíndrica, posicionado ao lado da edificação, que abriga uma cisterna para coleta de água pluvial na parte inferior e uma caixa d´água elevada. Esta forma de planta baixa retangular e com ambientes sequenciais permitiria então a expansão do projeto para dois ou mais quartos, sem perder suas características estruturais e qualidades relacionadas aos princípios bioclimáticos.

Figura 7– Planta baixa ilustrando os ambientes e principais materiais e sistemas construtivos.

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Figura 8– Corte transversal ilustrando materiais e estratégias bioclimáticas associadas ás soluções.

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A forma retangular visou orientar as áreas menores da fachada da edificação para Leste e Oeste, reduzindo os ganhos de calor pela exposição destas áreas à orientações de maior intensidade de radiação solar. Para estas vedações foi definido o uso de pneus estruturados com areia e argamassa de cimento, associadas a um talude de terra, coberto com vegetação rasteira que formam uma barreira à radiação solar (Figura 9 e Figura 10). Nas orientações Norte e Sul, as vedações verticais são leves, porém sombreados pelo beiral da cobertura, sendo todas pintadas com cores claras a fim de aumentar a reflexão à radiação solar.

Figura 9 – Foto da maquete física com vista da fachada Leste-Norte.

Figura 10–Foto da maquete física com vista da fachada Oeste-Norte.

As aberturas principais foram localizadas à Norte e Sul, que permitem a captação dos ventos dominantes do quadrante Sudeste, permitindo a ventilação natural cruzada, incrementada pela reduzida profundidade da planta, desobstrução dos espaços e proporcionalidade de áreas de entrada e saída da ventilação. O telhado foi pensado para ser o principal sistema de sombreamento do projeto. Em virtude do ângulo solar, foi possível definir beirais que geram sombreamento completo das aberturas principais a Norte e Sul e de grande parte das vedações verticais. Além do sombreamento das principais janelas, os beirais também sombreiam aberturas estreitas e alongadas localizadas nas quatro fachadas, na parte superior. Estas, associadas aos vazios gerados entre o telhado e as vedações verticais, têm o objetivo de permitir a retirada do ar quente através da ventilação natural e também de aproveitar a iluminação natural. O telhado foi projetado para receber uma cobertura verde, sendo não só um elemento estético da edificação, mas também elemento responsável por incrementar à resistência térmica da cobertura. Sua inclinação, de 4°também permitirá a instalação de painéis fotovoltaicos em inclinação adequada à latitude da local, além de permitir o aproveitamento da água pluvial por uma calha localizada na parte posterior da edificação. As soluções de aproveitamento da luz natural perpassam aquelas para ventilação natural: ambientes estreitos, janelas principais localizadas nas fachadas Norte e Sul, porém sombreadas, assim como as aberturas localizadas acima das janelas principais e ao longo das vedações verticais que permitem apenas a entrada de luz natural difusa, evitando ofuscamento. No interior, o teto será formado por um estrado de bambu, de absortância média e cores claras nas paredes internas visando uma melhor distribuição da luz natural. As aberturas, que existem em todo perímetro da edificação, terão diferentes tipos de controles integrados as janelas, para ajuste do sombreamento, de direcionamento e velocidade dos ventos, de luminosidade e de contato visual com exterior, que possibilitam maior adaptação do clima interno.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A elaboração desta pesquisa possibilitou a definição de uma metodologia de projeto arquitetônico sustentável associado ao processo de autoconstrução. O resultado final do projeto indica a viabilidade do trabalho e demonstra que a orientação técnica no processo projetual pode possibilitara utilização da autoconstrução como uma alternativa para o enfrentamento do problema habitacional no Brasil. Atualmente, o projeto arquitetônico encontra-se na fase de elaboração dos projetos complementares em que serão definidos com mais detalhes os serviços de tratamento e reaproveitamento de águas pluviais, cinzas e negras além da geração de energia no local. Nesta etapa o projeto também será submetido a ELECS 2013 - CURITIBA - PR | 21 A 24 DE OUTUBRO



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avaliações através de simulação computacional para verificar o desempenho térmico e lumínico das soluções e a necessidade de ajustes no projeto antes de iniciar a construção.

Figura 11–Perspectiva do projeto.

Afim de contribuir com a disseminação dos resultados desta pesquisa pretende-se na continuidade dos trabalhos a elaboração de um manual de construção da edificação destacando os detalhes, os materiais e as técnicas construtivas adotadas. Por fim, realizaremos uma exposição do projeto na universidade, utilizando expositor confeccionado em bambu e desenvolvido para este fim, com objetivo de promover as ideias envolvidas na pesquisa e fomentar a construção do protótipo.

Agradecimentos À Universidade de Fortaleza (UNFOR) pelo incentivo através de bolsa de estudo PBIQ/UNIFOR de iniciação científica concedida a aluno do grupo de pesquisa e apoio com infraestrutura e investimento em aplicativos computacionais de análise de desempenho, usados no desenvolvimento do projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT. Desempenho térmico de edificações. Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro: ABNT-Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR15220-3: 25 p. 2005. AUTODESK. Ecotect Analysis 2012: AUTODESK 2012a. ______. Solar Tool 2012: AUTODESK 2012b. ______. Weather Tool 2.0: AUTODESK 2012c. DOE, U. S. EnergyPlus Energy Simulation Software. 2013. Disponível em: . Acesso em: 10 abr. 2013. PAPAMICHAEL, K. Desktop Radiance 2.0 Beta. Berkeley: Lawrence Berkeley National Laboratory 2013. PNAD. Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: 288 p. 2009. SOLIMAN, A. M. The Egyptian episode of self-build housing. Habitat International, v.36, p.10. 2012. SZOKOLAY, S. V. Energetics in Design. PLEA ‘84 - The Third International PLEA Conference. Cidade do México: Pergamon Press, 1984. p.

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