Projeto universitário de extensão “Aprender hidrologia para prevenção de desastres naturais”, no Estado de Santa Catarina, Brasil

June 7, 2017 | Autor: Masato Kobiyama | Categoria: Santa Catarina
Share Embed


Descrição do Produto

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

PROJETO UNIVERSITÁRIO DE EXTENSÃO “APRENDER HIDROLOGIA PARA PREVENÇÃO DE DESASTRES NATURAIS”, NO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL Masato Kobiyama1; Thamara V. da Rocha2; Nayara C. dos Santos2; Joana N. Giglio2 1

Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental/ Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476,

Florianópolis – SC, CEP 88040-900, Brasil. 2

Curso de graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental/ Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal

476, Florianópolis – SC, CEP 88040-900, Brasil. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]

Resumo Cada vez mais, o estado de Santa Catarina, Brasil, vem sofrendo com desastres naturais, especialmente hidrológicos (inundação, deslizamento, estiagem, ressaca, etc.) Portanto, no gerenciamento de desastres naturais neste estado, a hidrologia é de grande importância, pois, além de demonstrar os mecanismos desencadeadores desses desastres, traz também a percepção dos fenômenos hidrológicos vivenciados diariamente, e demonstra a importância da água e do convívio integrado com a natureza. O projeto de extensão “Aprender Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais”, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), visa desta forma a valorização e o ensino da hidrologia para a conscientização da população quanto aos riscos e danos acarretados pelos desastres naturais. A conscientização é a melhor maneira de proteger as comunidades contra os desastres naturais, e uma ferramenta de prevenção com baixo custo e alta eficiência. O projeto, durante seu desenvolvimento, realizou cursos e produziu materiais didáticos. O livro “Prevenção de desastres naturais: Conceitos básicos” e a apostila “Aprender Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais” foram produzidos e utilizados como base para a realização dos cursos e também são disponibilizados no sítio do Laboratório de Hidrologia da UFSC. Para a comunidade acadêmica, realizou-se na UFSC o “Workshop de Prevenção de Desastres Relacionados a Sedimentos”, e foi mostrada a falta de conhecimentos sobre deslizamentos e de conseqüentes ações no estado, comparado com inundações. Para professores de rede pública, realizou-se duas vezes o Curso de Capacitação “Aprender Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais” (4 horas) no município de Rio Negrinho. No município de Tubarão, realizou-se o Curso de Capacitação “Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais” (16 horas) para profissionais da área. Durante a realização dos eventos em Rio Negrinho e Tubarão, um questionário foi aplicado a cada participante. Após a coleta destes questionários, as respostas dos mesmos foram avaliadas a fim de melhorar os materiais e a organização de futuros eventos. Os cursos tiveram resultados positivos e boa aceitação. Nas respostas, os participantes mostraram-se dispostos a repassar e utilizar as informações no campo de trabalho e convívio social, bem como expressaram necessidade de realização de mais cursos. Os participantes ainda destacaram a importância da realização de eventos como os realizados, abertos a toda a

1

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

comunidade.

Palavras-chave Extensão universitária; hidrologia; desastres hidrológicos; conscientização.

1. INTRODUÇÃO O aumento dramático de perdas e casualidades devido a desastres naturais após a década de 1950 (Figura 1), desencadeou a maior iniciativa científica internacional em busca de possíveis estratégias de mitigação. Hoje, a ONU possui a Intenational Strategy for Disaster Reduction (UNISDR). Segundo UNISDR (2007a) que analizou os dados de Emergency Disasters Data Base (EM-DAT), são desastres hidrometeorológicos que vêm aumentando a partir da década de 50, havendo um pequeno aumento das ocorrências dos desastres geológicos e biológicos (Figura 2).

Figura 1 – Número de desastres naturais e seus prejuízos associados no mundo. (Adaptação de Alcántara-Ayara, 2002)

Figura 2 – Séries temporais dos desastres hidrometeorológicos, geológicos e biológicos no mundo. (Fonte: UNISDR,

2

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

2007a)

Na classificação da UNISDR, os desastres hidrometeorológicos são divididos em seis tipos: inundação; vendaval; estiagem; incêndio; alta temperatura; e deslizamento. Na América do Sul, no período de 1991 a 2005, as maiores ocorrências entre estes seis tipos foram inundação e deslizamento, respectivamente (UNISDR, 2007a). No caso do Estado de Santa Catarina (SC) – Brasil, existe um trabalho sistemático em relação a desastres naturais. Consultando os arquivos da Diretoria Estadual da Defesa Civil (DEDC) de Florianópolis – SC, os relatórios emitidos pelas prefeituras catarinenses, e jornais locais que documentaram os episódios climáticos, HERRMANN (2001) realizou um levantamento dos desastres naturais causados pelas adversidades climáticas neste estado no período de 1980 a 2000. Segundo a autora, as adversidades climáticas que freqüentemente ocorrem em SC são caracterizadas principalmente pela elevada quantidade de precipitação, pelo longo período sem precipitação, pelos vendavais, pelas chuvas de granizo, e ocasionalmente pelos tornados. Nos municípios atingidos, quaisquer desses episódios climáticos resultam, sempre, num impacto negativo sobre a área. Ainda afirmou que o excepcionalismo climático é caracterizado pelo elevado total pluviométrico que sempre existiu neste estado. Em termos de desastres naturais, o Estado de Santa Catarina possui uma alta diversidade, contendo quase todos os tipos destes (KOBIYAMA et al., 2006a). A ocorrência do Furacão CATARINA no ano 2004 (MARCELINO et al., 2005) aumentou ainda mais esta diversidade. Embora haja tal variedade, o desastre mais comum em SC é inundação (HERRMANN, 2001). Historicamente, o estado vem sofrendo com grandes desastres devido à inundação, por exemplo Tubarão em 1974 (MACHADO, 2005) e Blumenau em 1983 (FRANK e PINHEIRO, 2003). Apesar do número de ocorrências de deslizamentos em SC ter sido relativamente baixo segundo o trabalho de HERRMANN (2001), a urbanização sem planejamento em grandes cidades catarinenses possui uma grande potencial para aumentar essas ocorrências. Assim sendo, SC vem sofrendo e vai sofrer com os desastres hidrometeorológicos tais como inundação e deslizamento. Para contribuir na redução destes, o Grupo de Estudo de Bacias Hidrográficas no Laboratório de Hidrologia (LabHidro) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) iniciou o projeto de extensão “Aprender hidrologia para prevenção de desastres naturais” no ano 2006.

3

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

A iniciativa deste projeto surgiu após um episódio ocorrido no momento da gigante tragédia devido ao tsunami no sul e sudeste da Ásia, no dia 26 de dezembro de 2004. Usando a descrição de KOBIYAMA et al. (2006a), “Duas semanas antes da ocorrência deste tsunami, uma menina inglesa de 10 anos, chamada Tilly Smith, teve uma aula de geografia, onde seu professor mostrou um vídeo de um tsunami ocorrido no Havaí. Nesta aula, ele demonstrou e ensinou como diagnosticar o mar um pouco antes da chegada do tsunami. No dia 26 de dezembro de 2004, pouco antes da chegada do tsunami, ela observou o mesmo diagnóstico que ela aprendeu com o professor e avisou seu imenso perigo aos seus pais. Então, acreditando no aviso da filha, os pais dela agiram rápida e eficientemente para alertar diversas pessoas que estavam na praia. Assim, uma menina de apenas 10 anos salvou aproximadamente 100 pessoas numa praia na Tailândia.” Nesse episódio se encontra uma lição, isto é, a ciência é útil para prevenção de desastres naturais. Assim, no caso de SC, acredita-se que a hidrologia possui uma grande contribuição a esse assunto. Assim, a ciência tem grande importância e responsabilidade no desenvolvimento de conhecimentos a partir de estudos, experimentos e observações para a compreensão dos mecanismos que formam um desastre natural e como este irá provocar impactos. Através destes conhecimentos pode-se desenvolver medidas preventivas e mitigatórias frente aos desastres e, portanto, reduzir-se ao máximo os impactos. Segundo UNESCO (2007), as disciplinas científicas e tecnológicas envolvidas no estudo de desastres naturais incluem as ciências básicas, de engenharia, as naturais, as sociais e as humanas. Elas relacionam-se com o perigo ambiental (hidrologia, geologia, geofísica, sismologia, vulcanologia, meteorologia e biologia), com o ambiente construído (engenharia e arquitetura), e com o ambiente da política (sociologia, ciências humanas, ciências políticas, e ciência de gerência). É notória a interdisciplinaridade do estudo, experimento ou observação de um desastre natural, sendo necessária a constante troca de informações entre as ciências. Durante as últimas décadas, os desastres naturais devido à ação da água têm também aumentado de freqüência. A hidrologia, como ciência que estuda a água, é desta forma importante, pois, além de demonstrar os mecanismos desencadeadores desses desastres, traz também a percepção dos fenômenos hidrológicos vivenciados diariamente, e evidencia a importância da água e do convívio integrado com a natureza.

4

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

2. IMPORTÂNCIA DE CONSCIENTIZAÇÃO DA HIDROLOGIA KOBIYAMA et al. (2006a) dividiram a prevenção de desastres naturais em dois aspectos: (1) compreensão dos mecanismos de fenômenos naturais que geram os desastres; e (2) aumento da potencial resistência da sociedade contra esses fenômenos. O primeiro item é a execução da ciência, e o segundo item pode ser realizado com apoio da ciência. No contexto de gerenciamento de desastres naturais (GDN), o corpo executor deve ser formado pelos três tipos de órgão: governamental, não-governamental e individual (Tabela 1). Os fenômenos que causam os desastres naturais ocorrem eventualmente (com ou sem periodicidade). Então, as atividades de prevenção de desastres naturais devem preocupar-se com as fases seqüenciais dos eventos, e são classificadas em três etapas: pré-evento, evento e pós-evento (Tabela 2). Portanto, no GDN cada órgão deve atuar eficientemente em cada fase para reduzir os prejuízos devido a desastres. Aqui nota-se que a Política Nacional de Defesa Civil apresenta quatro fases ao longo desse processo: (I) prevenção; (II) preparação; (III) resposta; e (IV) reconstrução (CASTRO, 1999). O item (I) e a maior parte do (II) correspondem a etapa “antes”; a parte restante do (II) e o item (III) correspondem ao “durante”; e o item (IV) ao “depois”. Tabela 1 – Tipos de corpo executor que devem atuar no GDN.

Órgãos governamentais

governo federal, estadual e municipal.

Órgãos não governamentais

ONGs, empresas, associações comunitárias, etc.

Indivíduos

pessoas. Fonte: KOBIYAMA et al. (2006a).

Tabela 2 - Etapas na prevenção de desastres naturais.

Etapas Pré-evento “Antes”

Classificação por CASTRO (1999)

Descrição

Antes de ocorrer os desastres, são realizadas Prevenção e preparação atividades para reduzir os futuros possíveis prejuízos.

Evento “Durante”

Resposta

Durante e logo depois de ocorrência de desastres, são realizadas ações emergenciais.

Pós-Evento “Depois”

Reconstrução

Após os desastres, atua-se na restauração e/ou reconstrução e/ou compensação dos prejuízos.

Fonte: Modificação de KOBIYAMA et al. (2006a).

5

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

Na prevenção de desastres naturais, é essencial que cada pessoa seja responsável sua própria vida. Entretanto, como o poder de cada indivíduo é pequeno e limitado, é necessário unir os indivíduos e criar uma comunidade (ou grupo). Citando vários exemplos de desastres naturais, KOBIYAMA et al. (2006a) enfatizaram a importância da presença das comunidades que possuem forte união e alto conhecimento. UNISDR (2007b) discutiu o GDN em três níveis: comunitário, nacional e regional (ou internacional). Segundo ele, o GDN com base comunitária é essencial por três razões: (1) são as comunidades que sofrem mais com os desastes; (2) as organizações com base comunitária atuam mais rapidamente antes da chegada do apoio externo; e (3) o gerenciamento local tende a obter o suporte local. Assim sendo, é bem clara a importância de que as comunidades devem ser fortalecidas contra desastres naturais. Utilizando as bacias escola no município de Rio Negrinho/SC, a conscientização das comunidades em termos de hidrologia tem sido realizada (KOBIYAMA et al., 2007). Segundo os mesmos autores, o conhecimento do indivíduo sobre a hidrologia poderá fortalecer a auto-confiança e conseqüentemente intensificará a participação das atividades comunitárias. Essa participação fortalecida de cada indivíduo aumentará naturalmente a qualidade e a quantidade das ações das comunidades. Dessa maneira, estas conseguirão fazer o gerenciamento participativo de desastres naturais (GPDN). Como no caso do Estado de Santa Catarina ocorrem mais freqüentemente os desastres devido à água, o ideal é que os indivíduos das comunidades conheçam a hidrologia. Portanto, o aprendizado da hidrologia é de grande importância para que as comunidades possam opinar mais adequadamente para medidas preventivas e mitigatórias tanto estruturais e quanto não-estruturais no GPDN. A Figura 3 mostra esquematicamente a contribuição da conscientização para obter o GPDN. Tratando somente casos de deslizamento, DAI et al. (2002) afirmaram que perdas sociais e econômicas devido ao mesmo podem ser reduzidas por meio de planejamento e gerenciamento adequado. SCHUSTER e LEIGHTON (1988) relataram que o estado da Califórnia nos EUA conseguiu reduzir as perdas devido a deslizamentos em 90% com as medidas estruturais e não estruturais (por exemplo, sistema de alerta e mapeamento de área de risco). Estas medidas podem ser aplicadas para todos os tipos de desastres naturais.

6

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

Conscientização (Hidrologia)

Professor

Cidadão

Alunos (Crianças)

Participação Intensificada

Gerenciamento de Desastres Naturais

Participação Intensificada

Participação Intensificada

Comunidades

Gerenciamento Participativo de Desastres Naturais

Redução de Desastres

Figura 3 – Contribuição da conscientização ao GPDN.

Como GARES et al. (1994) enfatizaram, a meta final das pesquisas sobre desastres naturais deve ser a demonstração de como o planejamento adequado consegue mitigar esses desastres. Então, a universidade poderia realizar a pesquisa de hidrologia e repassar os resultados (conhecimentos) às comunidades. Embora a hidrologia, que faz parte da engenharia ambiental, possua diversas áreas de atuação, ainda não incorpora adequadamente a questão dos desastres naturais (KOBIYAMA et al., 2003). Assim, para a prevenção de desastres naturais é necessária a compreensão e a explicação de sua gênese a partir dos fenômenos a eles relacionados, tornando desta forma possível a realização de previsões e a adoção de medidas científicas para seu enfrentamento. A comunidade exposta aos desastres naturais tem também papel fundamental na prevenção. Uma comunidade consciente dos riscos que sofre diante de um desastre natural está melhor preparada tanto para evitar ou minimizar a ocorrência de impactos como para agir diante desses eventos extremos e, em sua maioria, inevitáveis. A resposta da comunidade determinará o grau do impacto causado pelo desastre natural, e, para que ela esteja preparada, é necessário que o conhecimento desenvolvido chegue as suas 7

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

mãos. Sendo uma ferramenta de prevenção de baixo custo e alta eficiência, a conscientização da comunidade é a melhor maneira de protegê-la dos desastres naturais. 3. EXECUÇÃO DO PROJETO O projeto de extensão “Aprender Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais” visa a valorização e o ensino da hidrologia para a conscientização da população quanto aos riscos e danos acarretados pelos desastres hidrológicos, levando o conhecimento adquirido e desenvolvido pela universidade à comunidade. O projeto de extensão, durante seu desenvolvimento, realizou cursos e produziu materiais didáticos. O livro “Prevenção de desastres naturais: Conceitos básicos” (KOBIYAMA et al., 2006a) e a apostila “Aprender Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais” (KOBIYAMA et al., 2006b) foram produzidos e utilizados como base para a realização dos cursos e também são disponibilizados no site do Laboratório de Hidrologia (www.labhidro.ufsc.br) do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC. Em 15 de setembro de 2006 realizou-se na UFSC, para a comunidade acadêmica, o Workshop de Prevenção de Desastres Relacionados a Sedimento. Nos dias 19 e 20 de outubro de 2006 desenvolveu-se o Curso de Capacitação “Aprender Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais” na cidade de Rio Negrinho (SC), para os professores da rede pública do município. E, nos dias 7 a 9 de março de 2007, na UNISUL de Tubarão (SC), realizou-se o Curso de Capacitação “Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais”, aberto para toda a comunidade. Durante a realização dos eventos em Rio Negrinho e Tubarão, aplicaram-se questionários a cada participante. Após a coleta destes questionários, o mesmo foi avaliado, e o resultado da avaliação foi utilizado para melhorar os materiais e a organização de futuros eventos. 4. AVALIAÇÃO DO PROJETO Visando o aprimoramento do material didático elaborado durante o projeto, bem como a melhoria na elaboração de futuros cursos abertos à comunidade, foi realizada a avaliação dos cursos ministrados nos municípios de Rio Negrinho e Tubarão, através de questionários aplicados aos participantes. Em geral, os cursos tiveram resultados positivos e boa aceitação. Os participantes mostraram-se dispostos a repassar e utilizar as informações no campo de trabalho e convívio social, bem como expressaram

8

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

necessidade de realização de mais cursos. Os participantes ainda destacaram a importância da realização de eventos como os realizados, abertos a toda a comunidade. 4.1. CURSO DE CAPACITAÇÃO EM RIO NEGRINHO O curso “Aprender Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais”, ministrado no município de Rio Negrinho, com carga horária de 4 horas, teve como público alvo professores da rede pública de 5ª a 8ª série do ensino fundamental no primeiro dia, e de 1ª a 4ª série do ensino fundamental no segundo dia. Após cada curso, foi aplicado um questionário aos participantes para avaliação do mesmo. A Tabela 3 apresenta as perguntas constantes do questionário. Tabela 3 – Questionário aplicado em Rio Negrinho. Professores de 5ª a 8ª série do ensino fundamental Sim (%) Não (%) 1. Você acredita que faltou algum assunto que poderia ser incluído na apresentação? 10,26 89,74 2. Você já tinha algum conhecimento a respeito dos assuntos abordados? 2.1. Sobre Hidrologia 71,05 28,95 2.2. Sobre Desastres Naturais 92,50 7,50 23,08 3. Você achou que o tempo de duração do Horas 76,92 seminário foi adequado? (média) Se Não, quantas horas seriam adequadas? 37h 4. Você identificou algum desastre natural que ocorreu ou ocorra com certa freqüência em seu 95,00 5,00 município? 5. Você acha que o seminário contribuirá em algo para seu município? 100,0 0,0 6. Você pretende fazer algo com o conhecimento adquirido? 97,44 2,56 7. Tempo médio de serviço dos participantes Anos de serviço (média) 10,34

Professores de 1ª a 4ª série do ensino fundamental Sim (%) Não (%)

Total dos professores Sim (%)

Não (%)

10,53

89,47

10,39

89,61

87,50 100,0

12,50 0,00 17,50

79,49 96,15

20,51 3,85 20,25

82,50

Horas (média)

79,75

24h

Horas (média) 30,5h

63,16

36,84

79,49

20,51

97,50

2,50

98,70

1,30

97,50 2,50 Anos de serviço (média) 10,88

97,47 2,53 Anos de serviço (média) 10,61

A análise desses questionários é de grande importância, visto que retrata a necessidade da realização de cursos como este para difundir o conhecimento sobre hidrologia, desastres naturais e prevenção de desastres naturais. Esse conhecimento é necessário para melhorar a resposta da sociedade frente a desastres naturais e para que se tenha melhor percepção sobre a influência da água. 4.2. CURSO DE CAPACITAÇÃO EM TUBARÃO No município de Tubarão, foi ministrado o Curso “Hidrologia para Prevenção de Desastres Naturais”, com carga horária de 16 horas, aberto para toda a comunidade. O público, bastante heterogêneo, compreendeu estudantes de engenharia, engenheiros formados, funcionários da Prefeitura, professores da rede pública, oficiais da Defesa Civil, integrantes do Conselho de Engenharia local, entre outros. Um questionário foi aplicado 9

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

antes do curso para verificação do conhecimento prévio dos participantes sobre o assunto, e outro questionário foi aplicado após o curso, para avaliação do mesmo e posterior comparação com o primeiro. A Tabela 4 mostra a avaliação do questionário aplicado antes da apresentação.

Tabela 4 – Questionário aplicado em Tubarão, antes do curso. Questionário 1. Você sabe o que é Hidrologia? 1.1. Se SIM, o que você entende por Hidrologia?

1.2. Se NÃO (se você não sabe o que é Hidrologia), você já ouviu falar em Hidrologia? 2. Para que serve Hidrologia?

3. Você sabe algo sobre medição de chuva? 3.1.Se SIM, o que você sabe sobre medição de chuva?

4. Para que serve medição de chuva?

5. Você sabe algo sobre medição de vazão de rio? 5.1. Se SIM, o que você sabe sobre medição de vazão?

6. Para que serve medição de vazão?

7. Você sabe o que são Desastres Naturais? 7.1.Se SIM, o que você entende por Desastres Naturais?

Resultados Sim (%) Não (%) 93,8 6,2 Exemplos de resposta: “Estudo das águas” “(...) estudo mais aprofundado dos solos” Sim (%) Não (%) 33,3 66,7 Exemplos de resposta: “Serve para saber como está se desenvolvendo o Meio Ambiente” “Estudo das águas” Sim (%) Não (%) 60,1 31,9 Exemplos de resposta: “Sei que é sempre bom fazê-lo e pode ser feito em qualquer local” “(...) para as medições utilizamos dados históricos” Exemplos de resposta: “(...) para prevenir desastres ecológicos” “Prever desastres, controlar economia (plantio de produtos)” Sim (%) Não (%) 64,4 35,6 Exemplos de resposta: “Pode ser feito para obter dados” “Verificar o quanto o rio sobe” Exemplos de resposta: “Medição da calha do rio” “Para evitar inundações” Sim (%) Não (%) 100,0 0,0 Exemplos de resposta: “Fenômenos diversos da natureza” “Enchentes, erosões, etc.”

Mesmo afirmando terem conhecimento sobre: hidrologia (93,75%), medição de chuva (60,09%), medição de vazão (64,44%) e/ou desastres naturais (100%), percebeu-se a superficialidade e a vagueza das respostas dos participantes do curso ao descreverem em poucas palavras o que compreendiam sobre o assunto. A exemplo disso, têm-se as respostas sobre o que se entendia por Hidrologia, onde a maioria respondeu como a ciência que estuda a água ou simplesmente a ciência da água. A análise das respostas descritivas às questões referentes ao conhecimento pessoal mostra também a diferença de respostas entre as pessoas segundo suas profissões. Engenheiros e estudantes de engenharia apresentaram respostas mais técnicas sobre os assuntos abordados no curso (hidrologia, medição de chuva, medição de vazão de rio e desastres naturais) enquanto os participantes formados ou estudantes de outras ciências (geografia, química, etc.) deram respostas descrevendo a ciência mais pura, com função

10

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

enfocada no simples conhecimento. Os membros da defesa civil e técnicos responderam o questionário descrevendo o lado mais prático dos assuntos abordados. Muitos dos diferentes participantes apresentaram a importância da hidrologia, medição de chuva e vazão do rio na prevenção de desastres naturais, mesmo que de forma superficial. Outros participantes, em menor quantidade, responderam às questões de forma um pouco equivocada, apesar de relatar que possuíam conhecimento sobre determinado assunto. Foi antevendo os diferentes níveis de conhecimento e também diferentes enfoques que buscou-se atingir um público o mais heterogêneo possível (prefeituras, escolas públicas, comunidade universitária e comunidade no geral), a fim de passar tanto informações aos diversos campos sociais quanto receber informações sobre os graus de conhecimentos dos participantes, os impactos à comunidade frente aos desastres naturais existentes e sobre como esta se previne e responde a esses desastres. O conhecimento é necessário não só para comunidade acadêmica e para órgãos públicos como a defesa civil, mas também é necessário aos demais setores da sociedade, estando todos sujeitos à desastres naturais de diversas magnitudes. Segue a Tabela 5, com o questionário aplicado após a realização do curso, e a quantificação e exemplificação das respostas obtidas. Comparando-se as respostas anteriores e posteriores ao evento quanto ao conhecimento sobre os assuntos abordados durante o curso, verifica-se a diferença percentual entre as pessoas que antes afirmavam saberem o que é Hidrologia e/ou Desastres Naturais (93,75% e 100%, respectivamente) comparados com as que após o curso afirmaram já possuírem conhecimento prévio sobre o assunto (84,62%, e 84%). Estas respostas reafirmam a análise anterior de que, mesmo que os participantes soubessem conceituar e tivessem conhecimento prévio sobre o assunto, tanto sobre hidrologia e desastres naturais quanto sobre os demais assuntos abordados, este conhecimento mostra-se superficial. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a elaboração de materiais didáticos e a realização de Curso de Capacitação, foi confirmada ainda mais a importância do fator humano na prevenção de desastres naturais. A vivência com esses desastres é inevitável, e o que o ser humano pode fazer é apenas redução de prejuízos. Essa redução só pode ser possível quando cada ser humano participa da prevenção. 11

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

Tabela 5 – Questionário aplicado em Tubarão, após o curso. Questionário 1. O que você achou do assunto abordado?

Resultados Ruim (%) Regular (%) Bom (%) Ótimo (%) 0 0 36,7 63,3 Ruim (%) Regular (%) Bom (%) Ótimo (%) 0 3,3 60,0 36,7 Sim (%) Não (%) 22,2 77,8 Respostas obtidas: “Mais exemplos relacionando causa e efeito” “Quais controles governamentais?” “Visita técnica” Sim (%) Não (%) 90,0 10,0

2. O que você achou do curso (apresentação)? 3. Você acredita que faltou algum assunto que poderia ser incluído na apresentação? 3.1. Caso SIM, coloque assuntos que faltaram.

4. Você achou que o tempo de duração do seminário foi adequado? 5. Você já tinha algum conhecimento a respeito dos assuntos abordados? 5.1. Sobre Hidrologia 5.2. Sobre Desastres Naturais 5.3. Sobre Prevenção de Desastres Naturais 6. Você identificou algum desastre natural que ocorreu ou ocorra com certa freqüência em seu município? 6.1. Se SIM, que desastre natural?

7. Você acha que o seminário contribuirá em algo para seu município? 8. Você pretende fazer algo com o conhecimento adquirido? 8.1. Se SIM, o quê?

Sim (%) Não (%) 84,6 15,4 Sim (%) Não (%) 84,0 16,0 Sim (%) Não (%) 64,3 35,7 Sim (%) Não (%) 85,7 14,3 Respostas obtidas: alagamento, inundação, furacão, vendaval, granizo, deslizamento de maciços, desmoronamento, cheias, enchente e escorregamento. Sim (%) Não (%) 100,0 0,0 Sim (%) Não (%) 100,0 0,0 Exemplos de resposta: “Transmitir o conhecimento adquirido” “Aplicar profissionalmente” “Ajudar com a coleta de dados pluviométricos da região (...)”

Dessa maneira, a realização do curso de capacitação para prevenção de desastres naturais deve contribuir para o aumento da eficiência das medidas preventivas contra desastres naturais. A apostila elaborada para uso no curso foi bastante elogiada por seus usuários. Entretanto, ainda deve ser melhorada para facilitar a compreensão dos leitores em algumas unidades, especialmente na parte de cálculo e de conceitos físicos (climáticos). De qualquer maneira, acredita-se que a conscientização da população através da realização do curso de capacitação é a melhor maneira para prevenção de desastres naturais. 6. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Sra. Leoni Fuerst Pacheco e Sr. Rogério Bardini pela realização do curso de capacitação em Rio Negrinho e Tubarão, respectivamente. Também agradecem aos membros do Grupo de Estudo de Bacias Hidrográficas da UFSC pelas discussões diárias sobre desastres naturais.

12

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

7. REFERÊNCIAS –

ALCÁNTARA-AYALA, I. Geomorphology, natural hazard, vulnerability and prevention of natural disasters developing countries. Geomorphology, Amsterdam, v.47, p.107-124, 2002.



CASTRO, A.L.C. Manual de planejamento em defesa civil. Vol.1. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 1999. 133p.



DAI, F.C.; LEE, C.F.; NGAI, Y.Y. Landslide risk assessment and management: an overview. Engineering Geology, Amsterdam, v.64, p.65-87, 2002.



FRANK, B.; PINHEIRO, A. (Org.) Enchentes na bacia do Itajaí: 20 anos de experiências. Blumenau: Editora da FURB, 2003. 237p.



GARES,

P.A.;

SHERMAN,

D.J.;

NORDSTROM,

K.F.

Geomorpholoy

and

natural

hazards.

Geomorphology, Amsterdam, v.10, p.1-18, 1994. –

HERRMANN, M.L.P. Levantamento dos Desastres Naturais Causados pelas Adversidades Climáticas no Estado de Santa Catarina, Período 1980 a 2000. Florianópolis: IOESC, 2001. 89p.



KOBIYAMA, M.; CHECCHIA, T.; SILVA, R.V.; ALVES, A.; POMPÊO, C.A. Papel da engenharia ambiental para prevenção de desastres naturais: monitoramento e modelagem. In: Encontro Nacional dos Estudantes de Engenharia Ambiental (1: 2003: Goiânia) Anais, Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 2003. v. 1, p. 23-24.



KOBIYAMA, M.; CHECCHIA, T.; SILVA, R.V.; SCHRÖDER, P.H.; GRANDO, Â.; REGINATTO, G.M.P. Papel da comunidade e da universidade no gerenciamento de desastres naturais. In: Simpósio Brasileiro de Desastres Naturais (1: 2004: Florianópolis) Anais, Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004. p. 834-846 (CD-ROM).



KOBIYAMA, M.; MENDONÇA, M.; MORENO, D.A.; MARCELINO, I.P.V.O.; MARCELINO, E.V.; GONÇALVES, E.F.; BRAZETTI, L.L.P.; GOERL, R.F.; MOLLERI, G.S.F.; RUDORFF, F. Prevenção de desastres naturais: Conceitos básicos. Curitiba: Organic Trading, 2006a. 109p.



KOBIYAMA, M.; ROCHA, T.V.; ROCHA, H.L.; GIGLIO, J.N.; IMAI, M.H.; SANTOS, N.C. Aprender hidrologia para prevenção de desastres naturais. Florianópolis: UFSC/CTC/ENS/LabHidro, 2006b. 12p. (apostila)



KOBIYAMA, M.; CHECCHIA, T.; CORSEUIL, C.W.; LINO, J.F.L.; LOPES, N.H.Y.; GRISON, F.; CHAFFE, P.L.B.; MALUTTA, S.; RIBAS JR., U.; LANGA, R.; BASSO, S. Forest hydrology project (UFSC–MOBASA) for water resources management in Rio Negrinho City, Santa Catarina, Brazil. In: Changes in Water Resources Systems: Methodologies to Maintain Water Security and Ensure Integrated Management, Wellington: IAHS, 2007. (Publ. 315) (no prelo).



MACHADO, C.C. Tubarão 1974: fatos e relatos da grande enchente. Tubarão: Ed. Unisul, 2005. 204p.

13

Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007



MARCELINO, E.V.; RUDORFF, F.M.; MARCELINO, I.P.V.O.; GOERL, R.F.; KOBIYAMA, M. Impacto do furacão Catarina sobre a região sul catarinense: monitoramento e avaliação pós-desastre. Geografia, Rio Claro, v.30, p.559-582, 2005.



SCHUSTER, R.L.; LEINGHTON, R.W. Socioeconomic significance of landslides and mudflows. In: KOZLOVSKII, E.A. (ed.) Landslides and mudflows, Moscow: UNESCO/UNEP, 1988. p.131-141.



UNESCO

About

natural

disasters.

Paris:

UNESCO,

2007.

Disponível

em

http://www.unesco.org/science/disaster/about_disaster.shtml#prevention (Acesso em 01/05/2007) –

UNISDR Disaster statistics Occurrence: trends-century. Gênova: UNISDR, 2007a. 5p. Disponível em www.unisdr.org/disaster_statistics/occurrence-trends-century.htm (Acesso em 20/04/2007).



UNISDR Guidelines for reducing flood losses. Gênova: UNISDR, 2007b. 79p. Disponível em www.unisdr.org (Acesso em 20/04/2007).

14

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.