Proporção da Figura Humana - Da arte egípcia ao renascimento

July 26, 2017 | Autor: Cárina Reis | Categoria: Teoria da Arte, Anatomia, Proportion, FIGURA HUMANA
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Marcus Vitrúvio-Vitrúvio : Tratado de Arquitectura P.109
Erwin Panofsky – Significado nas artes visuais P. 91
Erwin Panofsky – Significado nas artes visuais P. 101
David Sanmiguel – Anatomia Artistica P.13
VITRÚVIO, Marcus -Vitrúvio : Tratado de Arquitectura P.109
Erwin Panofsky – Significado nas artes visuais P. 135
Bertram C. A. Windle – The proportions of the human body (1892) P.29
Leonardo da Vinci - A treatise on painting (1835) P.5
Isabel Ritto – Albretch Dürer: Um pioneiro da Antropometria


Proporção da Figura Humana
Da arte egípcia ao renascimento


Licenciatura em Desenho
Teorias da Arte
Universidade de Lisboa / Faculdade de Belas Artes

Docente: Prof. Margarida Calado

Discente: Carina Reis " nº6492

Lisboa, 14 de janeiro de 2015




Indice

Introdução 2
Teorias da Proporção 3
Egipto 3
Grécia 4
Roma 5
Arte Medieval 5
Renascimento 9
Conclusão 13
Bibliografia 14



Introdução

O estudo das proporções do corpo humano é algo bastante recorrente ao longo da história da arte. Esse estudo foi sempre sofrendo alterações que se adaptaram ás necessidades da época, e por essa razão existem períodos na história marcados por determinados cânones de proporções. Pode-se observar essas as diferenças na aplicação de cânones comparando por exemplo a arte egípcio com a arte Grega, a arte da Idade Média com a arte do período renascentista.
Neste trabalho irei abordar diversas teorias da proporção da figura humana, que vão desde a arte egípcia até á arte do renascimento e iremos observar como o estudo da teoria das proporções marcaram épocas ao longo da história da arte.

O que é uma teoria das proporções?
A proporção, segundo Vitrúvio " …consiste na relação modular de uma determinada parte dos membros tomados em cada secção ou na totalidade da obra, a partir do qual se define o sistema das comensurabilidades." . Trata-se de estabelecer relações matemáticas ou modulares entre as diversas partes, neste caso, do corpo humano. A sua principal função é a representação artística.
Os cânones de proporção podem ser estudados de variadas maneiras, por exemplo, através da divisão do todo em unidades, ou através da multiplicação da unidade. Segundo Panovsky , podemos ter diferentes abordagens no que diz respeito á interpretação dos cânones de proporção. Uma proporção "objetiva" antecede a atividade artística, diz respeito á relação entre diversas partes do corpo, por exemplo relação entre o comprimento do antebraço e o comprimento do corpo inteiro, quando o modelo se encontra diante de mim. A proporção "técnica" tem a haver com o transporte dessas medidas para o meu suporte, aí o processo artístico é que vai conseguir definir as relações de proporção.


Teorias da Proporção
Egipto

A arte egípcia aqui mencionada é referente ao período que se estende aos últimos 3000 anos antes de Cristo. É uma arte desenvolvida pela civilização do antigo Egito localizada no vale do Nilo, no norte de África.
Uma das coisas que marca a arte Egípcia é a sua constante homogeneidade pictórica, existem pequenas nuances na manifestação artística ao longo dos diferentes períodos, mas nada que difere substancialmente no uso dos cânones de porção.
Na sua generalidade a arte egípcia rejeita qualquer um dos processos de proporção objetiva ou proporção técnica anteriormente falados. No desenho egípcio tudo é representado num plano de duas dimensões, e por isso a representação de cada elemento deve ser escolhida de acordo com o ponto de vista mais importante. Assim sendo podemos observar que as figuras representadas em pinturas ou relevos são reproduzidas com a cara de perfil, mas com um olho virado de frente. O busto é representado de frente, o tronco a três-quartos e as pernas de perfil (lei da frontalidade) (fig.1). Os Deuses são representados com dimensões maiores à dos Homens, e os reis maiores que os seus súbditos.
Tanto na pintura como no relevo e na escultura, as figuras são representadas segundo planos geométricos. Isso pode não ser tão evidente na escultura mas muitas peças eram feitas através de um plano geométrico esboçado inicialmente na própria pedra.
Os Egípcios preparavam o suporte a ser desenhado dividindo-o numa malha de quadrados iguais (fig.2). Com essa malha o artista ficava a saber com exatidão aonde colocar as linhas mais importantes da figura.

Fig.3 Sistema de divisão em malhaFig.3 Sistema de divisão em malhaFig. 1 Relevo do Túmulo de Metjetji,V Dinastia (c. 2400 a.C.). Calcário.Fig. 1 Relevo do Túmulo de Metjetji,V Dinastia (c. 2400 a.C.). Calcário.

Fig.3 Sistema de divisão em malha
Fig.3 Sistema de divisão em malha
Fig. 1 Relevo do Túmulo de Metjetji,
V Dinastia (c. 2400 a.C.). Calcário.
Fig. 1 Relevo do Túmulo de Metjetji,
V Dinastia (c. 2400 a.C.). Calcário.
Grécia

A arte clássica grega, por contraste á arte egípcia, é uma arte que se liberta dos movimentos mecânicos e vai em busca da organicidade do corpo humano.
A sua evolução, com influências orientais e egípcias, proporcionaram a uma serie de estilos figurativos que deram origem á arte da Grécia Clássica (por volta de 400 a.C.).
Foi Policleto, escultor Grego, que por volta de 440 a.C. criou o primeiro cânone de proporções humanas intitulado "Cânone". Ele estabeleceu a altura de sete cabeças para a altura da figura. No seu cânone também fazia relações entre diversas partes do corpo, por exemplo, entre os dedos da mão, entre a mão e o antebraço, entre o antebraço e o braço, etc.
Fig. 3 Doríforo. Mármore, cópia romana do original de bronze. Período HelenísticoFig. 3 Doríforo. Mármore, cópia romana do original de bronze. Período HelenísticoSobre o tratado apenas temos alusões á sua obra, feita por outros autores, como por exemplo Galeno, que diz "Crisipo…sustenta que a beleza não consiste nos elementos, mas na proporção harmoniosa das partes, a proporção de um dedo para o outro, de todos os dedos para o resto da mão, do resto da mão para o pulso, desses para o antebraço, do antebraço para o braço inteiro, ou seja, de todas as partes entre si, como está escrito no cânone de Policleto" .
Fig. 3 Doríforo. Mármore, cópia romana do original de bronze. Período Helenístico
Fig. 3 Doríforo. Mármore, cópia romana do original de bronze. Período Helenístico
Policleto ao desenvolver o seu tratado fez uma estátua de acordo com os seus princípios de proporção, chamou a essa estátua de Cânone. Apesar de nem a estátua nem o tratado terem chegado aos dias de hoje, acredita-se que a cópia romana da estátua designada Dorífero (fig.3) é na verdade uma cópia da estátua Cânone.
Fig. 4 Apoxiomeno. mármore, cópia romana (século I) do original grego de bronze.Fig. 4 Apoxiomeno. mármore, cópia romana (século I) do original grego de bronze.Por volta de 320ª.C. o escultor Lisipo desenvolve um novo cânone de proporções em que a altura da figura tem um total de 8 cabeças. Isto permite que as suas figuras se tornassem mais esbeltas. Na sua escultura, Apoxiomeno, (fig.4), é possível observar essa relação de proporção.
Fig. 4 Apoxiomeno. mármore, cópia romana (século I) do original grego de bronze.
Fig. 4 Apoxiomeno. mármore, cópia romana (século I) do original grego de bronze.


Com a chegada do período Helenístico (séc. IV a.C.) a liberdade de movimentos é total e a procura do ideal de beleza leva a que os artistas desenvolvam peças de nove ou mais cabeças, sempre com um enorme domínio da anatomia e movimento.
Ao contrário dos egípcios que desenvolviam o seu esquema de desenho sobre uma malha de quadrados iguais dispondo a figura nessa grelha, os gregos iniciavam a construção da figura pelas partes do corpo tendo em atenção como estas relacionavam-se entre si e com o todo, assim cada parte do corpo era tratada de forma distinta, orgânica e não mecânica.

Roma

Em Roma, a arte etrusca no início do séc. VI a.C. tem uma forte influência da arte Grega, afirmando-se na altura em que Roma entra em contacto com as cidades Gregas do sul da Península. A partir desta altura os romanos tornam-se grandes colecionadores da arte Grega e os artistas romanos passam a copiar fielmente as grandes criações gregas.
O cânone Romano mais conhecido, que teve uma grande influencia na arte do Renascimento, foi o cânone de Vitrúvio, descrito no seu tratado de arquitetura De Architectura libri decem (séc. I a.C.).
De acordo com a sua teoria das proporções a altura do corpo corresponde à altura de 8 cabeças, a face, distancia do queixo à raiz do cabelo, corresponde ao tamanho da mão e é um décimo da altura do Homem. O pé corresponde à sexta parte, o antebraço e a mão juntos correspondem à quarta parte.
O cânone desenvolvido por Vitrúvio foi regeitado durante a época da idade média, reaparecendo séculos mais tarde no Renascimento, e muitos foram os artistas que o seguiram e criaram as suas próprias interpretações.

Arte Medieval

Podemos caracterizar a arte medieval como tendo um estilo "planar", divergindo da arte egípcia em vários aspetos. Na arte egípcia os fundos eram suprimidos, pois eles representavam apenas aquilo que poderia ser representado no plano, enquanto que na arte medieval colocam no fundo coisas que não podem de facto serem representadas devido á ilusão perspética. No que diz respeito á representação do corpo humano, os egípcios não caracterizam a cara a três quartos, enquanto que no estio medieval, a posição a três quartos assume-se quase como regra, e as posições de perfil e de frente são exceções.
As posições da figura humana são mais exploradas na arte da idade média que na arte egípcia, isso faz com que a primeira passe uma ideia de perspetiva. Essa perspetiva não é trabalhada em termos óticos no sentido como a conhecemos, mas cria algumas ilusões, por exemplo, ao representar os pés em posição obliqua ou a vista a três quartos dos ombros.
Com isto surge um novo cânone de proporções em que a arte medieval segue um caminho que nega a representação objetiva da figura humana, organizando-a de forma esquemática.
Na teoria bizantina das proporções, por influência da arte clássica, havia uma articulação orgânica da figura humana, importavam-se pela individualidade das partes do corpo apesar dessas partes já não serem medidas através de frações ordinárias mas sim através da aplicação de módulos.
A unidade de medida usada era a face, em que o comprimento total do corpo correspondia a nove unidades. Segundo o "Manual do Pintor" de Monte Atos, as outras partes do corpo correspondiam às seguintes medidas:
3 Unidades – Dorso
2 Unidades – Coxa e perna
1/3 – Topo da cabeça, altura do pé e pescoço
1 1/3 – Distância entre metade do peito e ombro.
1 Unidade- Parte interna do antebraço, braço e comprimento da mão.
A teoria bizantina também se debruça sobre as proporções na face através de um sistema modular (fig. 5).
Dividindo a face em três partes obtém-se a altura do nariz. Essa unidade repete-se no comprimento entre a parte inferior do nariz e o queixo e no comprimento entre a parte superior do nariz (entre os dois olhos) e a raiz dos cabelos, e também da raiz dos cabelos á parte superior do crânio. Através destas medidas é possível descrever a cara dentro de 3 círculos concêntricos cujo centro está na raiz do nariz:
Círculo interior – O raio é igual ao comprimento do nariz. Delimita a testa e as 2 faces
Círculo do meio – O raio é igual a duas vezes o comprimento do nariz. Delimita os extremos da cabeça
Círculo exterior – O raio é igual a três vezes o comprimento do nariz. O seu limite passa a meio do pescoço e geralmente caracteriza um halo.
Fig. 6 Detalhe de Madonna de CambraiFig. 6 Detalhe de Madonna de CambraiFig. 5 Esquema das 3 circunferênciasFig. 5 Esquema das 3 circunferênciasEste esquema faz com que as figuras fiquem com uma cabeça exageradamente larga, mas isto só demonstra que a preocupação da arte bizantina era a racionalização do problema e não a exatidão objetiva.
Fig. 6 Detalhe de Madonna de Cambrai
Fig. 6 Detalhe de Madonna de Cambrai
Fig. 5 Esquema das 3 circunferências
Fig. 5 Esquema das 3 circunferências

Este método de esquematização chegou a ser usado em cabeças voltadas a ¾. Nestes casos a cabeça encontra-se ligeiramente inclinada e o contro das 3 circunferências é deslocado para o canto exterior do olho, sobrancelha ou pupila (Fig. 6)

Villard de Honnecourt (1225-1250), arquiteto, nascido em Picardy, norte de França, desenvolveu um sistema que não parte do tamanho da cabeça nem outra parte do corpo para definir uma unidade. Estabelece um sistema completamente geométrico através de linhas que são sobrepostas à forma da figura humana. Essas linhas servem para definir posições e não tamanhos. Determinadas essas linhas é possível encaixar a figura humana em determinadas posições. Na figura 7 podemos observar um homem de pé cuja posição é definida através de um pentagrama alongado. Esse pentagrama nada tem a haver com a posição orgânica de um corpo.
Fig. 7 Estudo de Villard de HonnecourtFig. 7 Estudo de Villard de HonnecourtOs a distância entre os pontos A e B, que definem a largura dos ombros, corresponde a um terço do lado AH e BG. O ponto médio de AB corresponde ao ponto médio do pescoço. Os pontos C e D determinam a localização do quadril e os pontos E e F dos joelhos. Os pontos G e H coincidem com os tornozelos.
Fig. 7 Estudo de Villard de Honnecourt
Fig. 7 Estudo de Villard de Honnecourt
Honnecourt faz também diversos estudos com a cabeça, inserindo-a igualmente dentro de formas geométricas, como quadrados, circunferências e triângulos (fig. 6). Num dos seus estudos coloca a cabeça dentro de um quadrado subdividido em 16 quadrados, cada lado dessa subdivisão corresponde ao comprimento do nariz, tal como no cânone de Monte Atos (fig. 9)
Fig. 9 Estudo de Villard de HonnecourtFig. 9 Estudo de Villard de HonnecourtFig. 8 Estudo de Villard de HonnecourtFig. 8 Estudo de Villard de Honnecourt
Fig. 9 Estudo de Villard de Honnecourt
Fig. 9 Estudo de Villard de Honnecourt
Fig. 8 Estudo de Villard de Honnecourt
Fig. 8 Estudo de Villard de Honnecourt



Estes cânones na idade média tornavam o artista mais preso á tradição e ao estilo que caracterizou a sua época. A teoria das proporções negava a determinação da proporção objetiva, organizava a figura através da esquematização planimétrica.
No período gótico o artista começa a libertar-se da rigidez que estes cânones proporcionavam, deixando quase de parte o uso de linhas de apoio para construção da figura humana.






Renascimento

Em Itália no séc. XV, nasce uma grande curiosidade pelo estudo da arte da antiguidade clássica, isso desencadeia um forte impulso no estudo da anatomia. Passa a haver um interesse por parte de muitos artistas em saber mais sobre as medidas do corpo humano, topografia exata dos músculos e os mecanismos da expressão e movimento.
Esse entusiasmo pela descoberta da anatomia leva os humanistas e artistas do renascimento a elaborar as mais variadas pesquisas em torno dos cânones de proporção do corpo humano.

Leon Batista Alberti e Leonardo Da Vinci elevaram o estudo das proporções a uma ciência empírica, procurando sempre o ideal. Para obterem dados concretos mediram um número elevado de modelos, que para eles fossem considerados ideais. A sua intenção não era determinar as proporções de forma generalizada, mas sim procurar medidas com grande exatidão descrevendo alturas, larguras, e profundidades, podendo assim descrever a figura na sua tridimensionalidade.
Leon Batista Alberti (1404-1472), arquiteto, teórico de arte e humanista italiano, tinha um grande interesse virado para a ciência e para a arte. Inspirado por Vitrúvio escreveu, entre 1443 e 1452, o tratado de arquitetura clássica "De re aedificatoria"(sobre a arte de construir).
Usando a afirmação de Vitrúvio de que o pé corresponde á sexta parte da altura do corpo humano, desenvolve um sistema de medidas chamado Exempeda. Esse novo sistema dividia a altura total da figura humana em 6 pés, sessenta polegadas, e seiscentas minutos. A vantagem deste sistema é que permitia uma medição mais detalhada, mas a sua aplicação tornava-se demasiado trabalhosa.
Leonardo da Vinci (1452-1519), foi uma grande figura do renascimento que se destacou nas mais variadas áreas. Foi cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico.
No seu tratado de pintura fala de padrões de medidas, mas parece não ficar 100% satisfeito com algum deles.
A formação de Da Vinci foi feita no atelier de Andrea del Verrocchio aonde o seu mestre insistia que todos os seus alunos deveriam aprender anatomia. Leonardo levou a cabo estudos a nível da anatomia topográfica, realizando estudos de músculos, tendões e tudo relacionado principalmente com anatomia de superfície.
Desenvolveu um trabalho de anatomia aonde falava das suas pesquisas e descobertas, mas só é publicado muitos anos depois da sua morte integrado no livro Trattato della Pittura (tratado de pintura)
Leonardo desenvolve um sistema de proporção em que usa a cara como ponto de partida. Diz que na infância o comprimento da cara corresponde á largura dos ombros, e ao comprimento do ombro ao cotovelo quando o braço está dobrado. Esse tamanho também se encontra na distância entre a parte inferior do ventre e o joelho, e do joelho ao pé. Mas quando o homem chega á sua fase adulta todas estas medidas duplicam exceto a cara. E assim, tendo presente um homem de boa estatura este deverá ter em altura um total de 10 faces, a largura dos ombros 2 faces.
Para Leonardo é importante a relação das partes com o todo, por isso se um corpo for curto ou alto, os seus membros terão que corresponder a essas variantes
O artista também desenvolve um cânone de proporções considerando os estudos de Vitrúvio. Recorrendo aos princípios da geometria para a construção da figura humana, Leonardo demonstrou que a proporção ideal da figura humana tem correspondência com o quadrado e com o círculo. No seu conhecido desenho Homem de Vitrúvio, Leonardo demonstra que quando coloca os seus pés firmemente no chão e estica os braços, ele pode ser contido dentro de um quadrado, mas quando os seus braços e pernas descrevem um X ele fica inscrito dentro de um círculo.
A preocupação do estudo das proporções em Leonardo passava pela observação do corpo não só ereto em repouso, mas também em movimento, estudando casos particulares da contração e expansão dos músculos segundo os seus movimentos.
Albrecht Dürer (1471-1528), foi um gravador, pintor, ilustrador, matemático e teórico de arte alemão, um ícone do renascimento do norte da Europa.
Os seus primeiros estudos sobre proporções humanas eram caracterizados através de um esquema planimétrico de superfície. À semelhança de Villard de Honnecourt, Dürer criava um esquema geométrico aonde ele determinava medidas, contornos e posturas.
Por influência de Alberti e Leonardo, os seus estudos viraram-se para uma ciência antropométrica. Abandona o uso do esquema geométrico em forma de grelha, e começa a trabalhar sobre linhas divisórias horizontais. O seu extenso estudo sobre o corpo humano fez com que desenvolvesse não um mas vinte e seis conjuntos de proporções, pois ele ao contrário da maioria doas artistas, não procurava um ideal de beleza absoluto, ele acreditavam que havia sim variadas formas de beleza.
Dürer não se deixa ficar pela norma, os seus esboços entre 1507-1058 revelem figuras de extrema magreza e extrema corpulência. Mesmo as suas figuras de "média estatura" revelaram-se para o artista ter um número incalculável de variações subtis, e por isso não era possível definir o belo através de uma só forma. Para ele o propósito da teoria das proporções não era dar ao artista uma ferramenta que proporcionasse a criação de uma figura idealizada, mas sim várias possibilidades de estudo em que o artista teria a possibilidade de estudar e adaptasse essa variedade às suas necessidades.
No seu primeiro livro publicado "Vier Bücher von Menschlicher Proportion" (Quatro livros sobre a proporção humana), Albrecht Dürer define cinco tipos diferentes de figuras masculinas e femininas, medindo, respetivamente, 7, 8, 9 e 10 cabeças. Definiu com detalhe medidas para cabeças, mãos, pés e medidas do recém-nascido.
No segundo livro acrescenta mais oito tipos de figuras, masculino e feminino e duas cabeças masculinas. Caracterizava o belo como sendo aquele que se encontra entre dois extremos (por exemplo, entre o extremamente magro e o extremamente gordo).
Dürer desenvolve estudos em que a estiliza a figura humana por meio de formas poliédricas. Isso deve-se ao facto de uma superfície orgânica ser caracterizada através de formas curvas, aos estilizar essa forma, possibilita uma melhor abordagem ao estudo da perspetiva no corpo humano.
Tanto Leonardo com Dürer fizeram diversos estudos sobre a cabeça humana, e ambos procuraram caracteriza-la de todos os aspetos, inclusive os disformes. Leonardo aproveitava exagerar as expressões humanas obtendo retratos com emoções muito fortes (fig.10).
Durer por sua vez, no seu terceiro livro, desenvolve, por meios geométricos, uma diversidade de caras grotescas e anormais (fig.11). Essas caras, representadas de perfil, encontram-se inscritas dentro de um quadrado, e usa como guias linhas horizontais e verticais, que vai variar o seu angulo para definir os contornos da cara. Representa grandes contrastes entre diversos perfis, em que, por exemplo, coloca uma cara com um nariz e queixo proeminentes, e outra com olhos pequenos e queixo achatado.


Fig. 10 – Albrecht Dürer – Estudo de 6 caras de perfilFig. 10 – Albrecht Dürer – Estudo de 6 caras de perfilFig. 10 – Leonardo da Vinci -Estudo de um grotescoFig. 10 – Leonardo da Vinci -Estudo de um grotesco

Fig. 10 – Albrecht Dürer – Estudo de 6 caras de perfil
Fig. 10 – Albrecht Dürer – Estudo de 6 caras de perfil
Fig. 10 – Leonardo da Vinci -Estudo de um grotesco
Fig. 10 – Leonardo da Vinci -Estudo de um grotesco
Conclusão


A teoria das proporções tem vindo a acompanhar o trabalho do artista mesmo antes da arte egípcia. Proporciona ferramentas que o ajuda a perceber melhor os mecanismos constituintes da figura humana.
Vimos que sofreu um leque variado alterações e interpretações em diversas épocas na história. Na Grécia permitiu desenvolver variações do movimento orgânico, o cânon passou a ter uma função estética e não funcional como na arte egípcia. Em Roma, Vitrúvio dá a conhecer o seu cânone de proporções no seu tratado de Arquitetura, o qual gere grande influencia nos artistas do Renascimento, como Alberti, Leonardo da Vinci, Dürer, entre muitos outros.
As relações de proporção tiveram meios de resolução muito diferentes: através de cânones modulares, em que se relaciona o total do corpo com uma unidade, cânones geométricos (feitos através de construções esquemáticas), cânones aritmético (uso de unidades de medida abstratas).
Atualmente são mais usados os sistemas de proporção em frações ou múltiplos de um módulo. É o sistema que vem por influencia da antiguidade clássica, que define que a altura da figura humana adulta está compreendida entre 7 e 8 cabeças.



Bibliografia

BRANDÃO, Carlos Antônio Leite – Quid Tum? O combate da arte em Leon Battista Alberti, Editora UFMG, Brasil, 2000
FRANCIS, John; Leonardo da Vinci- A treatise on painting, J.B. Nichols and Son, Londres, 1835 Disponível na Internet:
MOON, Warren G. - Polykleitos, the doryphoros and tradition, University of Winsconsin, 1995
PANOFSKY, Erwin - Significado das Artes Visuais, Editora Perspectiva, São Paulo, Brasil, 1979
RITTO, Isabel, Albretch Dürer um pioneiro da antropometria In: Desenhar, saber desenhar, Lisboa, 2012 Disponível na Internet:
SANMIGUEL, David – Anatomia Artística, Tradução: Isabel Dantas, Plátano Edições Técnicas, Portugal, 2003
SANMIGUEL, David – O Nu, Tradução: Isabel Dantas, Plátano Edições Técnicas, Portugal, 2002
VITRÚVIO, Marcus (séc. I a.c.) -Vitrúvio : Tratado de Arquitectura - tradução do latim, introdução e notas por M. Justino Maciel, ilustrações Thomas Noble Howe, Instituto Superior Técnico Press, Lisboa, 2006
WINDLE, Bertram C. A. – Proportions of the human body, Baillière, Tindall and Cox, Londres, 1892


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