PROPOSTA DE UM MODELO ESPAÇO-TEMPORAL UTILIZANDO SGBD OPEN-SOURCE

July 6, 2017 | Autor: Eugênio Simonetto | Categoria: Gestão
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PROPOSTA DE UM MODELO ESPAÇO-TEMPORAL UTILIZANDO SGBD OPEN-SOURCE Eugênio de Oliveira Simonetto 1 Nilson Ribeiro Modro 2 Luiz Antônio Pereira Neves 3 Juliano Saueressig 4 RESUMO Um banco de dados espaço-temporal é, por definição, um banco de dados voltado para aquisição, análise e apresentação de informações referenciadas espacialmente com suas representações variando ao longo do tempo. Ele deve prover aos usuários a capacidade para trabalhar com diversos tipos de dados: espaciais, temporais e convencionais. O presente trabalho objetiva apresentar a forma de representação de um banco de dados espaço-temporal, utilizando um SGBD Open-Source. Para tal, foi utilizado o PostgreSQL, sistema de gerência de banco de dados objetorelacional gratuito e de código fonte aberto, que possui uma extensão para a modelagem de dados espaciais denominada PostGIS. Este trabalho se detém primeiramente em conceitos de bancos de dados temporais e espaciais, finalizando com a união dessas duas tecnologias em uma só implementação. Com isso, pôdese confirmar que é possível, de forma não complicada, implementar essa tecnologia usando apenas softwares livres, não havendo necessidade da compra de licenças de softwares comerciais. Palavras-chave: Banco de dados espaço-temporal, Data base Analysis, OpenSourde DBMS and PosgreSQL. 1

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Doutor em Administração (Área: Sistemas de Informação e Apoio à Decisão) pela UFRS (2004). Professor efetivo do Departamento de Sistemas de Informação na Universidade do Estado de Santa Catarina. Doutor em Engenharia de Produção e Sistemas (Área: Gestão do Conhecimento) pela UFSC. Professor adjunto do departamento de Sistemas de Informação - DSI da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC em São Bento do Sul, onde também atua como Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação do Centro. Doutor em Engenharia Elétrica pela UFCG (2006). Professor da Faculdade Expoente e professor adjunto da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC e líder do laboratório UDESC Vision Lab. Graduado em Sistemas de Informação no Centro Universitário Franciscano (2005). Atualmente atua no setor de tecnologia da informação da Prefeitura Municipal de São Pedro do Sul-RS. GESTÃO • Revista Científica de Administração, v. 10, n. 10, jan./jun. 2008

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ABSTRACT A spatio-temporal database is a database that embodies spatial, temporal, and spatiotemporal database concepts, and captures spatial and temporal aspects of data. This paper proposes a spatio-temporal database represention using an OpenSource spatio-temporal DBMS. The representation method has been validated using PostgreSQL and his extension PostGIS in a simple and single implementation. Key words: Spatio-temporal Database Analysis, Open-Source DBMS and PostgreSQL.

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1. INTRODUÇÃO Os Sistemas de Gerência de Banco de Dados (SGBDs) são sistemas que representam e gerenciam os dados das aplicações. Para que esses sistemas possam representar situações do mundo real com a maior fidelidade possível, muitas vezes faz-se necessário introduzir estas novas dimensões. Dentro desta perspectiva, há mais de vinte anos estão sendo buscadas formas de representar, nos SGBDs, dados relacionados ao espaço. Tal representação busca garantir aos SGBDs a capacidade de representação das mais diversas formas de informações geométricas, geográficas, ou seja, informações espaciais. A evolução dos objetos espaciais ao longo do tempo (dimensão temporal dos dados), também carece de representação nos SGBDs comerciais, visto que estes pouco oferecem em termos de funcionalidades para o tratamento adequado de informações com características temporais (EDELWEISS, 1998; SIMONETTO & RUIZ, 2000). No entanto, os SGBD dominantes do mercado, atualmente, como Sybase e SQL Server, pouco oferecem nesse sentido (EDELWEISS, 1998; SIMONETTO & RUIZ, 2000). Por sua vez, o Oracle oferece um módulo específico, porém limitado, para tratamento de dados temporais, chamado Time Series Cartridge (EDELWEISS, 1998). Contudo, em se tratando de bancos de dados open-source, objeto de estudo deste trabalho, nenhum SGBD, tais como PostgreSQL ou MySQL, oferece, dentre suas funções, procedimentos para o desenvolvimento e a manipulação de aspectos temporais (EDELWEISS, 1998). Por outro lado, o fato desses SGBD pouco oferecerem em termos de funcionalidades para o tratamento adequado de informações com características temporais não significa que os sistemas de informação deixem de tratá-las. Tem ocorrido que, sendo necessária, a modelagem de uma aplicação representa essas características de maneira empírica já no nível conceitual. Em se tratando da representação das características espaciais, o SGBD Oracle apresenta o módulo Spatial Data Cartridge, o qual possui funcionalidades específicas para representar e disponibilizar informações com tais características. Por sua vez, nos bancos de dados open-source, o PostgreSQL possui uma extensão para o tratamento de informações espaciais, o PostGIS. Visto a deficiência de representação de características temporais em conjunção com as características espaciais por parte dos SGBDs open-source, é proposto neste trabalho um modelo que têm por objetivo incorporar aspectos da representação espaço-temporal a estes, no caso utilizando o PostgreSQL, com o uso somente das funcionalidades SQL (padronizadas ou não) para a representação do tempo e, utilizando o PostGIS para a representação do espaço. O modelo utiliza os conceitos de estados do banco de dados, intervalo temporal, tempo de transação e tempo de validade (ÖZSOYOGLU & SNODGRASS, 1995) para os bancos de dados temporais e de objeto e espaço para a modelagem espacial (GÜTING 1994). O trabalho está organizado da seguinte forma: na seção 2 são apresentados os conceitos básicos sobre bancos de dados, bancos de dados temporais e bancos de dados espaciais. Na seção 3 é apresentada a metodologia utilizada neste trabalho. GESTÃO • Revista Científica de Administração, v. 10, n. 10, jan./jun. 2008

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Na seção 4 é apresentado o modelo espaço-temporal utilizando o SGBD PostgreSQL, e na seção 4 são apresentadas as discussões e considerações finais do trabalho. 2. BANCOS DE DADOS TEMPORAIS E ESPACIAIS Nos bancos de dados convencionais, a realidade é representada apenas pelo estado presente de um objeto. Já os bancos de dados temporais permitem armazenar e recuperar todos os estados do objeto ao longo do tempo, ou seja, os bancos de dados temporais permitem armazenar todos os estados de uma aplicação (presentes, passados e futuros), registrando sua evolução com o passar do tempo (EDELWEISS, 1998). Para tornar isso possível, informações temporais são associadas aos dados armazenados, identificando quando a informação foi definida ou o tempo de sua validade. A noção de tempo, como datas, períodos, duração de validade de informações, intervalos temporais, surge em diferentes níveis: na modelagem de dados, na linguagem de recuperação e manipulação de dados, e no nível de implementação do SGBD. Assim, os Bancos de Dados Temporais devem considerar: • Temporalidade em atributos, objetos e relacionamentos; • Restrições de integridade: são regras que possuem uma validade apenas em um determinado período; • Tempo discreto: representação de intervalos do tempo através de intervalos regulares de mesma duração (chronos); • Tempo de validade, tempo futuro: considerar no mínimo o tempo em que a informação é válida no mundo real; • Tempo de transação: considerar a ordem em que os eventos ocorreram. É importante para o processo futuro de análise das informações; • Granularidade do tempo: é necessário que na mesma aplicação seja possível considerar diferentes granularidades; • Tempo impreciso: ou tempo indeterminado, caracteriza uma informação que não se sabe quando ocorreu, como, por exemplo “entre 2 e 4 horas” do dia 23 de março; • Tempo relativo: é o tempo relativo a outro tempo, como por exemplo “este evento ocorreu na semana passada”; • Duração das trocas de estados: é necessário registrar a duração entre a troca de estados de um objeto. Já os Bancos de Dados Espaciais permitem manter dados georeferenciados, sendo fundamentais para o desenvolvimento de aplicações em várias áreas, como controle sobre os processos ambientais, econômicos e sociais (ARONOFF, 1989). O que diferencia os Banco de Dados Espaciais dos demais sistemas capazes de manipular dados espaciais, como softwares de CAD, é a capacidade de realizar operações complexas de análise sobre dados espaciais (GOODCHILD, 1990). 40

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A evolução dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) está ligada ao desenvolvimento dos bancos de dados espaciais e sua principal característica é a capacidade de inserir e integrar, numa única base de dados, informações espaciais e não-espaciais provenientes de dados cartográficos, dados censitários e cadastros urbano e rural, imagens de satélite, redes e modelos numéricos de terreno, como lembra DIAS et al (2005): “a maioria das aplicações de tecnologia de geoinformação utiliza representações estáticas de fenômenos espaciais. Isto se deve ao fato de que a principal abstração utilizada em Sistemas de Informação Geográficas (SIG) é o mapa. No entanto, um significativo conjunto de fenômenos espaciais, como o cadastro urbano, uso e ocupação da terra, fluxos hidrológico e poluição são inerentemente dinâmicos e as representações estáticas comumente utilizadas não os capturam de forma adequada. Deste modo, um dos grandes desafios da geoinformação é o desenvolvimento de modelos espaço-temporais que sejam capazes de representar adequadamente fenômenos que variam tanto no espaço como no tempo”.

Dentre a comunidade de software livre, um dos sistemas gerenciadores de banco de dados que vem se destacando é o PostgreSQL. Nesse sistema há uma extensão espacial conhecida como PostGIS que é descrita a seguir e que foi utilizada na implementação do modelo proposto. 2.1 A extensão espacial PostGIS do PostgreSQL A comunidade de software livre vêm desenvolvendo a extensão espacial PostGIS, construída sobre o PostgreSQL. Atualmente, a empresa Refractions Research Inc (http://postgis.refractions.net) mantém a equipe de desenvolvimento dessa extensão, que segue as especificações da SFSSQL (Simple Features Specification for SQL).

2.1.1 Tipos de dados espaciais A Figura 1 ilustra os tipos espaciais suportados pelo PostGIS embutidos na SQL do PostgreSQL.

Figura 1 - Tipos de dados espaciais do PostGIS

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Vale destacar que a criação de uma tabela com tipo espacial é construída em duas etapas (Figura 2). Na primeira, define-se os atributos básicos (alfanuméricos) e na segunda, usa-se a função AddGeometryColumn para adicionar a coluna com o tipo espacial. Essa função implementada no PostGIS e especificada no OpenGIS realiza todo o trabalho de preenchimento da tabela de metadado “geometry_columns”. Os parâmetros dessa função são: • Nome do banco de dados; • Nome da tabela que irá conter a coluna espacial; • Nome da coluna espacial; • Sistema de coordenadas em que se encontram as geometrias da tabela; • Tipo da coluna espacial, que serve para criar uma restrição que verifica o tipo do objeto sendo inserido na tabela; • Dimensão em que se encontram as coordenadas dos dados.

Figura 2 - Criação de uma tabela com tipo espacial

Após criar as tabelas de dados, pode-se inserir as informações usando comando SQL INSERT. Para isso, pode-se usar a representação textual das geometrias em conjunto com a função GeometryFromText, que recebe a representação textual e mais o sistema de coordenadas em que se encontra a geometria (Figura 3):

Figura 3 - Um comando de inserção em uma tabela com tipo espacial

Pode-se também recuperar as informações em cada tabela. Por exemplo, o comando abaixo seleciona a linha do bairro “Vila Mariana” (Figura 4):

Figura 4 - Um comando de seleção em uma tabela com tipo espacial

Aqui, emprega-se a função AsText para obter a representação textual, pois, a partir das versões mais recentes o PostGIS utiliza o formato binário do OpenGIS (WKB) como o padrão nas consultas. 42

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Para facilitar o desenvolvimento do trabalho optou-se por utilizar o PGAdminIII, pois o mesmo otimiza a escrita de comandos para o PostGIS. Utilizando este ambiente, trabalha-se como se a extensão PostGIS fizesse parte do PostgreSQL.

3. METODOLOGIA ADOTADA A metodologia, baseada em um processo empírico, consiste em 3 passos: 1 – Criação de um modelo conceitual de representação através de um diagrama Entidade-Relacionamento que permita a localização de um atributo em tempo e espaço distintos; 2 – criação de um modelo de Banco de Dados Espaço-Temporal; 3 – definição de um Sistema Gerenciador de Banco de Dados – SGBD open source para se validar o modelo proposto; 4 – validação do modelo proposto através de consultas no SGBD. 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para validar a metodologia proposta foi criado um banco de dados com 3 tabelas que representam uma estrutura departamental em uma universidade. Como o objetivo é saber a localização de um departamento em um tempo indeterminado, foram criadas as seguintes tabelas: 1. Tabela Instantânea do Departamento: contém as informações atuais de um departamento acadêmico; 2. Tabela Temporal – Nome do Departamento: contém as diferentes denominações do departamento acadêmico ao longo dos anos; 3. Tabela Espaço-Temporal – Localização do Departamento: contém a localização de um departamento acadêmico ao longo dos anos. A criação destas três tabelas e a sua carga inicial correspondem ao passo 1 e 2 da metodologia adotada e as mesmas podem ser visualizadas nas Tabela 1, Tabela 2 e Tabela 3. Detalhes da escolha e o protocolo de validação estão apresentados nas próximas seções, que abordam o desenvolvimento do modelo conceitual de um SGBD espaçotemporal, utilizando o PostgreSQL e sua extensão espacial, o PostGIS, o qual é um SGBD livre de código fonte aberto. Estas seções correspondem aos passos 3 e 4 da metodologia proposta. 4.1 Premissas Básicas Para desenvolver um SGBD espaço-temporal deve-se levar em conta todas as propriedades apresentadas anteriormente, tanto para Banco de Dados Espaciais como para Bancos de Dados Temporais. Sendo assim, o SGBD utilizado para tal GESTÃO • Revista Científica de Administração, v. 10, n. 10, jan./jun. 2008

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aplicação deverá conter funcionalidades que implementem todas estas propriedades. O PostgreSQL possui dentro de suas funcionalidades uma extensão para tratamento de dados temporais chamado timestamp. Com esta extensão é possível fazer todo o tratamento dos dados temporais da aplicação: tempos presentes, passados e futuros. Para os dados espaciais o PostgreSQL possui uma ferramenta que é adicionada em sua instalação, chamada PostGIS. Com esta é possível o tratamento de dados espaciais e suas propriedades. Com a união destas duas ferramentas torna-se possível o uso do PostgreSQL para o desenvolvimento de um SGBD espaço-temporal, como será visto de maneira mais detalhada, a seguir, nos itens 3.2 e 3.3. 4.2 Modelo de implementação temporal Para a representação dos aspectos temporais dos dados utilizou-se o conceito de estados do banco de dados (SARDA, 1993), no qual cada estado é definido pelo valor de um atributo. Qualquer alteração efetuada no valor do atributo gera um novo estado no banco de dados. Cada estado possui uma determinada duração, que é representada por um intervalo de tempo no qual não é feita nenhuma alteração no valor do atributo. Portanto, cada instância do banco de dados é rotulada com um intervalo temporal. Para a construção do modelo, buscou-se utilizar uma maneira pela qual o usuário do banco de dados não manipulasse diretamente o dado temporal, ou seja, que ele continuasse visualizando (e manipulando) o banco de dados como uma base de dados instantânea. Pelas formas possíveis de representação temporal em um banco de dados, concluiu-se que no modelo a ser proposto o aspecto temporal teria de ser representado pelo tempo de transação (JENSEN, 1994), pois, utilizando-se esta linha de tempo, o dado temporal não precisaria ser manipulado diretamente pelo usuário, visto que ele utiliza o tempo do SGBD. Neste trabalho, optou-se pela representação temporal na forma de intervalos de tempo, pois facilita a recuperação de informações. Portanto, para representar o tempo de transação, deve-se acrescentar dois atributos adicionais: início do período de transação (DT_I) e final do tempo de transação (DT_F). Em bancos de dados espaço-temporais, as operações de atualização devem ser tratadas de forma diferente das atualizações em bancos de dados convencionais, pois devem garantir que nenhum dado espacial ou convencional que se torne antigo venha a ser perdido. Portanto, todas as operações de atualização devem ser seguidas de operações para a manutenção do valor antigo. Para tais atualizações foram desenvolvidas rotinas que atualizam automaticamente o tempo de transação. Essas rotinas ficam totalmente transparentes aos usuários convencionais do banco de dados.

4.3 Exemplo Prático para Descrição do Modelo de Implementação Ao definir o modelo de dados, houve a preocupação em desenvolver este de uma maneira na qual o aspecto temporal ficasse “transparente” ao usuário 44

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convencional do mesmo, de forma que este continuasse visualizando os dados como se fosse um banco de dados instantâneo. Para o desenvolvimento do modelo após a concepção do modelo conceitual, definiu-se uma relação somente com os atributos a serem representados no banco de dados, sem a presença dos atributos referentes ao aspecto tempo, a qual se chamou tabela instantânea. Nesta tabela todos os atributos não-chave são totalmente dependentes da chave primária e mutuamente independentes, caracterizando assim uma tabela normalizada na terceira forma normal (3NF) (DATE, 2000). Após a definição dessa tabela, classificou-se os atributos como estáticos (que não variam com o correr do tempo) e temporais (os quais variam com o correr do tempo), pois conforme a classificação o atributo será tratado de diferentes formas. Para os atributos classificados como estáticos é definida uma só tabela, chamada tabela estática, a qual contém o atributo chave da tabela instantânea, todos os atributos estáticos e mais os atributos adicionais referentes ao tempo de transação (DT_I e DT_F). Para cada atributo temporal (convencionais e espaciais) da tabela instantânea, é definida uma nova tabela, composta do atributo chave da tabela instantânea; o atributo temporal em questão e mais os atributos adicionais referentes ao tempo de transação (DT_I e DT_F). Nota-se que cada tabela com o atributo temporal e mais a tabela com os atributos estáticos são rotuladas com o intervalo de tempo durante o qual foram (ou estão sendo) válidas para a base de dados. Os usuários do banco de dados irão utilizar para as suas atualizações a tabela instantânea, sem necessitar saber que os dados temporais serão atualizados automaticamente nas tabelas onde são armazenados juntos com a rotulação temporal do fato na base de dados (Tempo de Transação). Esta alternativa, tabela instantânea, foi validada utilizando-se o PostgreSQL, implementando uma solução para um Banco de Dados de uma instituição educacional para simples demonstração da possibilidade da posposta. Esta possui o seguinte modelo relacional (Figura 5):

Figura 5 - Modelo relacional da tabela instantânea

Nota-se que na tabela DEPARTAMENTO existe o atributo Localização, que se refere ao ponto de localização de um determinado departamento, o que o faz tornarse um atributo espacial. Considerando a tabela apresentada acima, o modelo espaçotemporal desenvolvido utilizando o PostgreSQL e o PostGIS deve ser capaz de responder questões do tipo: “Onde localizava-se o departamento de pessoal em 31 de outubro de 2000?”, pois utilizando-se somente a tabela instantânea (Departamento) obtém-se uma resposta imprecisa. Entretanto, se utilizada a tabela espaço-temporal, obtém-se a resposta correta. A tabela Departamento será utilizada para as demonstrações desenvolvidas neste artigo. A tabela instantânea, bem como GESTÃO • Revista Científica de Administração, v. 10, n. 10, jan./jun. 2008

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a tabela temporal e espaço-temporal, descritas anteriormente, podem ser visualizadas a seguir nas Tabela 1, Tabela 2 e Tabela 3 e a Figura 6 apresenta um exemplo prático para a validação da metodologia adotada.

Figura 6 – Exemplo de modelo para validação da metodologia proposta

Tabela 1 – Tabela Instantânea – Departamento

Tabela 2 – Tabela Temporal – Departamento_Nome

Tabela 3 – Tabela Espaço-Temporal – Departamento_Localizacao

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Ao analisarmos a Tabela 1 (Departamento), classifica-se os atributos Nome e Localização como atributos temporais, ou seja, variam com o decorrer do tempo. Para cada atributo temporal criou-se uma nova tabela temporal: Departamento_Nome e Departamento_Localizacao. Os atributos adicionados DT_I e DT_F fazem a representação do tempo de transação, onde DT_I é o atributo que representa o início de um intervalo temporal, ou seja, momento que a informação foi incluída na base de dados, e o atributo DT_F é o atributo que representa o fim de um intervalo temporal, ou seja, o momento em que a informação deixa de ser válida para a base de dados. 4.3.1 Atualização dos dados No modelo proposto, o usuário trabalha somente com a tabela instantânea, ou seja, todas as alterações, inserções e remoções são feitas diretamente nesta tabela. As rotinas utilizadas para a manipulação do tempo de transação e temporais foram desenvolvidas utilizando-se Rules (regras) do SGBD PostgreSQL. As rotinas de manipulação do dado temporal apresentam-se assim descritas: A operação INSERT: Ao usuário inserir um novo fato na base de dados instantânea, a rotina responsável pela inserção irá inserir cada atributo classificado como temporal na sua respectiva tabela, e os atributos estáticos na tabela estática. Tanto nas tabelas temporais como na tabela estática será inserido também o tempo em que o novo registro foi armazenado no banco de dados. O tempo referente à inserção do fato na base de dados é representado por DT_I. Uma desvantagem desse tipo de inserção é o aumento no volume de dados do sistema, visto que ele insere duas vezes a mesma informação (tabela instantânea e tabelas temporais) a fim de garantir a integridade temporal dos dados. A rotina de inserção na tabela DEPARTAMENTO esta apresentada na Figura 7.

Figura 7 - Rotina de inserção na tabela Departamento

Pode-se visualizar nas duas rotinas acima a função NOW ( ); esta retorna a data e hora do momento da execução da transação INSERT. Dessa forma, toda vez que o usuário fizer uma operação INSERT na tabela DEPARTAMENTO, as RULES são disparadas, executando um novo INSERT nas tabelas temporais e atribuindo a data e hora da inserção ao atributo DT_I. GESTÃO • Revista Científica de Administração, v. 10, n. 10, jan./jun. 2008

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A operação DELETE: Em banco de dados convencionais, ao ser removido um registro da base de dados, este torna-se inexistente ao usuário. Em banco de dados espaço-temporais, a operação delete não remove um registro da base de dados, e sim mantém armazenados os valores dos atributos do registro excluído associados a uma rotulação temporal, a qual representa o tempo em que os valores foram válidos na base de dados. No modelo proposto, ao excluir-se um registro da base de dados, a rotina responsável pela operação delete irá atribuir o valor ‘NOW’ ao atributo DT_F na tabela estática e em todas as tabelas temporais em que o registro até o momento era válido. Na tabela instantânea o registro é realmente removido. A rotina de exclusão de registro é exemplificada na Figura 8.

Figura 8 - Rotina de exclusão de registro

Pode-se observar nas rotinas descritas acima as funções OLD e NEW; estas são usadas para referenciar um estado de um atributo em um determinado momento. A função OLD referencia o valora anterior, do atributo, à operação de UPDATE ou DELETE. Já a função NEW referencia o novo valor do atributo no momento da operação INSERT ou UPDATE. A operação UPDATE: Ao alterar o valor de um atributo em um banco de dados convencional, o usuário estará destruindo o antigo valor do atributo e atribuindo a este um novo valor. Em banco de dados espaço-temporais, ao alterar o valor de um atributo, tanto convencional quanto temporal, o usuário estará pondo fim à história deste, e inserindo um novo valor que dará início a uma nova história na base de dados. A rotina responsável pela operação update, a cada alteração, atribui um valor NOW (o valor do momento no SGBD) à DT_F (final do intervalo de validade da informação) na tupla da tabela temporal, na qual o atributo está armazenado e gera uma nova tupla com o novo valor do atributo, atribuindo o valor NOW a DT_I (início do intervalo de validade da informação). A Figura 9 descreve a rotina de alteração proposta.

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Figura 9 - Rotina de alteração

Pode-se notar que para as RULES de atualização apenas unificou-se as rotinas da operação insert com as da operação delete. Isto se dá porque uma atualização em um banco de dados nada mais é do que um delete no atributo alterado e um insert da alteração do mesmo.

5. CONCLUSÕES A complexidade que envolve a implementação de um modelo de banco de dados espaço-temporal sobre um SGBD que não implementa todas as características temporais é muito grande. A falta destas características faz com que funções de administração e gerenciamento de informações temporais sejam absorvidas pela aplicação. A utilização do PostgreSQL, que possui funções para o tratamento de rótulos temporais e uma extensão que trata os dados espaciais, minimiza a dificuldade do desenvolvimento deste modelo, embora ainda não seja suficiente. O principal motivo é a falta do gerenciamento das informações de tempo, que são implementadas manualmente pelo desenvolvedor da aplicação. Mesmo que existisse um SGBD temporal com este gerenciamento dos dados, a complexidade da implementação do modelo não seria pequena. Todos os conceitos para SGBDs temporais tratam o tempo como um dado preciso e previsível, valores que estão presentes em uma linha de tempo e que possam ser representados através de valores reais. Em um modelo espaço-temporal, o conceito de tempo imprevisível existe e são conceituados como tempo impreciso e tempo relativo. Esses tipos de GESTÃO • Revista Científica de Administração, v. 10, n. 10, jan./jun. 2008

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tempo são difíceis de serem representados em SGBD temporais, a não ser como atributos não-espaciais e não-temporais. A alternativa que é apresentada neste trabalho, como foi detalhada no capitulo 3 (três), é uma proposta de solução para o desenvolvimento do modelo espaçotemporal em um SGBD de código fonte aberto (open-source), onde é possível a verificação de que há a possibilidade da implementação do modelo em questão sem haver a necessidade de gastos com licenças de softwares comerciais. Como trabalhos futuros, pretende-se realizar a implementação desse modelo de Banco de Dados espaço-temporal com PostgreSQL, usando para representação dos dados espaciais a ferramenta MapServer, sendo que se trata de uma ferramenta que trabalha em cima de mapas geográficos que os converte em dados espaciais para seu devido armazenamento no Banco de Dados.

REFERÊNCIAS ARONOFF. S. Geographic information systems: a management perspective. Canada: WDL Publications, 1989. COSTA, C. M. A tecnologia de bancos de dados aplicada aos sistemas de informações geográficas. III Colóquio Brasileiro de Ciências Geodésicas. Anais. Curitiba – PR, 2003. DATE, C.J. Introdução aos Sistemas de Bancos de Dados. Campus, 2000. DIAS, T. L.; CÂMARA, G. ; DAVIS JR., C. A.. Bancos de Dados Geográficos. Organizadores: Marco Casanova , Clodoveu Davis, Lúbia Vinhas, Gilberto Ribeiro de Queiroz e Gilberto Câmara. Editora MundoGeo, 2005. EDELWEISS, N. Bancos de Dados Temporais: teoria e prática. Recife, 1998. In: XVII Jornada de Atualização em Informática, do XVIII Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Computação, v.2. Ed. H.P. MOURA. Anais. p.225-282. GOODCHILD, M. F.; KEMP, K. K. (Eds.) NCGIA core curiculum: issues in GIS. Santa Barbara, 1990. National Center for Geographic Information and Analysis (NCGIA), University of California. GÜTING, R. H.; GraphDB: a data model and query language for graphs in databases. Fernuniversität Hagen, Informatik – Report 155, 1994. Short version to appear at Proc. 20th Intl. Conf. On Very Large Data Bases, Santiago, 1994. ÖZSOYOGLU, G,; SNODGRASS, R. T. Temporal and real-time databases: a survey. New York, Aug. 1995. IEEE Transactions on Knowledge and Data Engineering, v.7, n.4, p.513. SARDA, N.L. HSQL: a historical query language. In: Temporal databases: theory, design and implementation. Bridge Parkway: Benjamin/Cummings, 1993. p.110-140. SIMONETTO, E.O.; RUIZ, D.D. A proposal model to incorporation of temporal aspects to the relational DBMS using active databases concept. In: IEEE fourth international workshop on databases and information systems, proceedings… v1, p.52-59, Vilnius-Lithuania, 2000. 50

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