Propostas de um novo nacionalismo: a visão do imigrante para Plínio Salgado no romance O estrangeiro. In: E/Imigrações: histórias, culturas, trajetórias.

June 2, 2017 | Autor: L. Pereira Gonçalves | Categoria: Literature, Modernist Literature (Literary Modernism), Imigration, Integralismo, Imigração, Plínio Salgado
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Descrição do Produto

Impresso no Brasil, 2011 Copyright

@ 2010 by Ismênia de Lima Martins e Alexandre Hecker Preparação de originais e revisão Tereza M. Lourenço

Pereira

Capa Daniela Fernanda

de Alrneida

Projeto gráfico Tereza M. Lourenço Pereira Editoração Andréia Garcia Artefinal Equipe Técnica E&A

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

(CIP)

E/imigraçóes : histórias, culturas, trajetórias / Ismênia de Lima Martins, Alexandre Hecker, organizadores . -- 1. ed. -- São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2010. Vários autores. ISBN 978-85-7935-014-6 1. Emigração e imigração - Brasil- Aspectos sociais 2. Emigração e imigração - Brasil- Aspectos sociais - História I. Martins, Ismênia de Lima. n. Hecker, Alexandre. m. Título.

10-13465

CDD-304.809 Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil: Imigrantes: História social 304.809

Os direitos desta edição pertencem a Ismênia de Lima Martins e Alexandre Hecker. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição, no todo ou em parte, sem permissão expressa dos editores.

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

9

Ismênia de Lima Martins eAlexandre Hecker

HISTÓRIAS 1

A PRESENÇA ITALIANA NO

RIo

DE JANEIRO

Ismênia de Lima Martins 2

15

IMIGRANTES ITALIANOS NA HISTORIOGRAFIA

DO

RIo

GRANDE

DO SUL: INSERÇÃO E CONTEXTO

Núncia Santoro de Constantino

3

"SER ITALIANO"

29

NO BRASIL OU COMO VIVER ENTRE DOIS

MUNDOS

Syrléa Marques Pereira

4

CHEGANDO

43

PELOS JORNAIS: IMIGRAÇÃO JAPONESA NO

RIo

GRANDE DO SUL

André Luis R. Soares e Tomoko Kimura Gaudioso

5

N OVAS RIo

55

LEITURAS DA PRESENÇA JAPONESA NO ESTADO DO

DEJANEIRO: UMA ABORDAGEM BASEADA NA ASSOCIAÇÃO

DOS ACERVOS ORAL E ICONOGRÁFICO

Mariléia Franco Marinho Inoue 6

ORGANIZAÇÕES

SOCIAIS

SEUS DESCENDENTES

DOS IMIGRANTES

EM CURITIBA (BRASIL,

69 POLONESES

E

1890-1938)

Márcio de Oliveira

7

83

Os MUSEUS DE IMIGRAÇÃO COMO ESPAÇOS DA MEMÓRIA

99

Eloisa Helena Capovilla da Luz Ramos 8

O GUIA DAS ASSOCIAÇÕES

CARIOCAS E A PES~ISA

SOBRE

IMIGRAÇÃO

FranciscoJosé Mendes Duarte, Luiz Valentim da Silva Junior e Vitor Manoel Marques da Fonseca

113

CULTURAS

19

Os GALEGOS EXCLUÍDOS: LADRÕES, MENDIGOS E CÁFTENS

Érica Sarmiento da Silva 9

MANIFESTAÇÕES IDENTITÁRIAS DE IMIGRANTES ESPANHÓIS

20

NO SUL DO BRASIL

133

21 151

Os IMIGRANTES ITALIANOS DO NOROESTE FLUMINENSE NA DOCUMENTAÇÃO AR~IVÍSTICA

ITALIANA

Rosane Aparecida Bartholazzi

163

ARARAT, HERMON E SION PAULISTANOS

Márcio Mendes da Luz 13

177

A IMIGRAÇÃO EUROPEIA PARA RIo CLARO: SÉCULOS XIXEXX

Flavia Mengardo Gouvêa

14

PROPOSTAS DE UM Novo

189 NACIONALISMO: A VISÃO DO IMI-

GRANTE PARA PLÍNIO SALGADO NO ROMANCE

O ESTRANGEIRO

Leandro Pereira Gonçalves IS

203

CIDADES E IMIGRAÇÃO

Vera Lúcia Bogéa Borges

219

TRAJETÓRIAS 16

SOCIALISTAS

CONTRA

O CONSENSO

AUTORITÁRIO:

ANTIFASCISMO EM SÃO PAULO NOS ANOS

O

20

Alexandre Hecker 17

233

FRAGMENTOS DA ES~ERDAJUDAICA

EM NITERÓI-

1910-1960 Andréa Telo da Côrte 18

SOB A CONTAGEM

253 DE

OUTRO

TEMPO:

SOCIAL E ESTRATÉGIAS POLÍTICAS

ORGANIZAÇÃO

(IMIGRAÇÃO ALEMÃ -

RIo GRANDE DO SUL - SÉCULO XIX)

Marcos Antônio Witt

(I)MIGRANTES

DAS BOMBAS

297 ATÔMICAS:

BRASIL MERIDIONAL, SOBREVIVENTES DE

Beatriz Rodrigues Kanaan

1880-1900)

Maíra Ines Vendrame

DE IMIGRANTES ITALIANOS NA SERRA GAÚCHA

12

LIANOS DO SUL DO BRASIL (RIo GRANDE DO SUL,

As ITALIANIDADES: UM ESTUDO DOS DIFERENTES MODOS DE REPRESENT AÇÃODEPERTENCIMENTO ENTREDESCENDENTES

11

REFLEXÕES SOBRE AS CON-

CEPÇÕES DE HONRA E JUSTIÇA ENTRE OS IMIGRANTES ITA-

Regina Weber 10

ENTRE OFENSAS E PUNIÇÕES:

281

269

André Souza Martinello

JAPONESES

1945

NO

NO JAPÃO

309

14 PROPOSTAS DE UM Novo NACIONALISMO:

A VISÃO

DO IMIGRANTE

PARA PLíNIO SALGADO NO ROMANCE

O

ESTRANGEIRO

Leandro Pereira Gonçalves*

"Seremos lidíssimos! lnsultadíssimos! Celebérrimos. Teremos nossos nomes eternizados nos jornais e na História da Arte Brasileira."! Foi assim, com uma frase de impacto e premonitória, que Mário de Andrade descreveu o que ocorreria com os participantes da Semana de Arte Moderna de 1922. Não foi à toa que o líder da Ação lntegralista Brasileira - AIB, Plínio Salgado sentiu-se atraído pelo movimento. O evento de 1922, considerado um dos pontos centrais da arte nacional, provocou debates, discussões e críticas durante décadas. Plínio Salgado é conhecido sobretudo pela liderança em torno do movimento integralista, mas sua atuação literária após 1922 teve um grande destaque no cenário cultural brasileiro.' Em 1926, publicou o romance de

Doutorando da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP; professor titular do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (MG). Trecho da carta-convite de Mário de Andrade a Menotti Del Picchia para participar da Semana de Arte Moderna. ALAMBERT,Francisco. A semana de 22: a aventura modernista no Brasil. 3 ed. São Paulo: Scipione, 1999, p. 28. Plínio Salgado (1895-1975) publicou, em 1919, uma coletânea de poemas intitulada: 'Ibabôr, obra que o deixou conhecido na capital paulistanan (São Paulo: Seção de Obras de O Estado de S. Paulo, 1919). Na década seguinte, passou a ser reconhecido como um verdadeiro intelectual, principalmente após o sucesso de seu primeiro romance, O estrangeiro (Led, São Paulo: Hélios, 1926), seguido de

Propostas

de um Novo Nacionalismo:

a Visão do Imigrante ...

estreia na literatura, O estrangeiro, cuja temática central é uma crítica à sociedade brasileira nos primeiros anos do século :XX, com o propósito de refletir sobre o modelo nacionalista a ser empregado no Brasil, tema recor_ rente no país como consequência das agitações modernistas. Como pano de fundo, o romance faz um debate sobre o papel do imigrante no desenvolvimento da nação. A obra, que é situada entre os anos de 1913 e 1923, foi considerada inovadora e um sucesso de vendas na época do lançamento. A edição esgotou-se em trinta dias e foi alvo de críticas positivas, mesmo de opositores teóricos de Plínio Salgado, como o já consagrado Monteiro Lobato, que naquele momento era um dos principais protetores do autor: Vem de São Paulo um livro que vale pela mais pura revelação artística destes últimos tempos. O estrangeiro, de Plínio Salgado (...). Todo o livro (...) é uma inaudita riqueza de novidades bárbaras, sem metro, sem verniz,

o esperado (São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1931) e O cavaleiro de Itararé (São Paulo: U nitas, 1933), formando, assim, a trilogia romanesca denominada "Crônicas da Vida Brasileira". Plínio Salgado escreveu mais três romances: A voz do oeste, em 1934 (Rio deJaneiro:J. Olympio): Trepandé, redigido entre 1938 e 1939, mas publicado apenas em 1972 (Rio de Janeiro: J. Olympio) e O dono do mundo, que segundo o editor Gumercindo Rocha Dorea, foi escrito no fim da vida, aproximadamente entre o período de 1974 e 1975, não foi finalizado, em decorrência de sua morte, sendo publicado apenas em 1999 (São Paulo: GRD). A composição ficcional de Plínio Salgado abrange ainda a literatura infantil, quando, em 1951, lança a obra Sete noites de [oãozinho (Rio de Janeiro: Clássica Brasileira), além de uma produção poética, Poema da fortaleza de Santa Cruz, lançada em 1948 (nova edição - São Paulo: Voz do Oeste, 1980), e de uma coletânea assinada pelo pseudônimo de Ezequiel, Poemas do seculo tenebroso, no ano de 1961 (Rio de Janeiro: Clássica Brasileira). Plínio Salgado publicou, ainda, outras dezenas de obras com temáticas políticas, religiosas, sociológicas e filosóficas, como A quarta humanidade (Rio de Janeiro: J. Olympio, 1934), A doutrina do sigma (São Paulo: Revista dos Tribunais, 1935), O que éintegraLismo (Rio de Janeiro: Schrnidt, 1937), Vida de Jesus ([Lisboa] Ática, 1944), A aliança do sim e do não (Lisboa: Ultramar, 1943), O conceito cristão de democracia (São Paulo: Presença, 1945),A mulher do século XX (Porto: Tavares Martins, 1946), entre outras. Cf.: GONÇALVES,Leandro Pereira. Literatura e autoritarismo: o pensamento político nos romances de Plínio Salgado. 2006. Dissertação (Mestrado) - Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2006. 204

fl(~H~,(!~,T~

sem lixa acadêmica - só força, a força pura (...). Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar." A liderança política de Plínio Salgado após 1932, com a criação da Ação Integralista Brasileira, tornou-o ainda mais conhecido e respeitado, já que em pouco tempo o movimento se transformou em uma das maiores mobilizações de massa do país, alcançando o invejável número de um milhão de militantes. O grupo tinha como proposta básica a criação do Estado Integral, que seria o Brasil dentro de uma ótica nacionalista com inspirações fascistas. A proposta básica do integralismo era a defesa dos valores tradicionais cristãos, enraizados no lema "Deus, Pátria e Família", e tinha como foco a luta constante contra o comunismo e o liberalismo, ambos considerados inimigos. Para enfrentá-Ios, os integralistas, os camisas-verdes, seriam os "Soldados de Deus", com suas vidas concentradas em torno da defesa de um país forte, dentro dos limites cristãos. O movimento funcionou na legalidade até 1937, ano da instauração do Estado Novo, mas a ideologia pregada por Plínio Salgado continuou a existir e permanece até os dias atuais, com o movimento denominado neointegralísmo.' O processo de formação ideológica da AIB foi desenvolvido com as discussões modernistas na década de 1920, como consequência da Semana de Arte Moderna de 1922. Plínio Salgado e outros intelectuais iniciaram discussões e ações culturais com base no que ficou conhecido como o Manifesto do Verde-Amarelismo? Na proposta do grupo pode ser encontrado um discurso baseado no nacionalismo cultural e político, num momento de ascensão dos movimentos fascistas europeus. É inspirado nesses regimes autoritários que o grupo mostra sua ação.

LOBATO, Monteiro.

Forças novas. In: DIVERSOS. Plínio Salgado - Obra coletiva.

São Paulo: Revista Panorama,

1936, p. 253-8.

Conferir: CARNEIRO, Márcia. Do sigma ao sigma: entre a anta, a águia, o leão e o galo - a construção de memórias integralistas. 2007. Tese (Doutorado) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007. Nhegaçu Verde Amarelo, conhecido como Manifesto do Verde- Amarelismo ou da Escola da Anta, foi divulgado no jornal Correio Paulistano de 17 de maio de 1929. Conferir: TELEs, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro. 17.ed. Petrópolis/R]: Vozes, 2002, p. 361-7.

205

r lVpV~tasce um Novo Nacionalismo: a Visão do Imigrante ...

Plínio Salgado encontrou uma concepção de nacionalismo nesses intelectuais do verde-amerelismo, mas acreditava ser necessário aprofundar o debate ideológico, por isso fundou o Grupo Anta com o q al , u InICIOU uma caminhada em direção ao ultranacionalismo de base direita extremista. Par 1 . « • .", ae e, era preciso errar a consciência da nacionalidade".6 í

O crítico literário Wilson Martins, ao analisar a produção de Plínio Salgado, afirma que o autor foi responsável por ter:



indústrias

no período

marco de extrema

próximo

importância,

à Primeira

Guerra

Mundial,

que foram um

na visão do autor, que diz, a propósito

da



evolução industrialista:

modernista

dali, derivou-se

nas duas correntes

o imperialismo

econômico

capitalista

que se chocam nos velhos países:

e o imperialismo

doutrinário;

e a expansão política. Esses dois fenômenos,

a expansão

que regulam o

ritmo da existência dos velhos povos, tendem a ampliar sua projeção até escrito os primeiros e, de resto, os melhores romances políticos da primeira fase. (...) E certo, porém, que tanto O Estrangeiro são as melhores realizações

romanescas

os países novos (...).

quanto O Esperado

Os países novos, como o Brasil, só se salvarão nesta era histórica, por uma

dos nos 20 (...). Plínio Salgado

grande capacidade de afirmação, de personalidade.

criará o esboço do que seriam, na década seguinte, os romances "sociais" e "políticos"?

a situação tornou-se

outra e vimos o quanto

(...) De 1914 para cá,

estávamos

deslocados

de

nós mesmos. Em 1919, após a Revolução Russa, nossa visão foi ainda mais nítida. Víamos, de um lado, o imperialismo doutrinário Nesse momento

de renovação

cultural,

o primeiro

romance

lou como uma obra de reflexão sobre a nação brasileira.

O estrangeiro brasileiro"."

é "uma

excelente

Tal afirmação

introdução

é confirmada

ao pensamento

pelo próprio

com ele, um grande movimento na Ação Integralista Brasileira"."

nacional,

intuito

de contribuir

ção aos caminhos

processo de transformação

"Estava lançado,

desse romance,

do pensamento

O romance revela a inquietude agrária, mas também

com o

não só com o

com os primeiros

surtos de

Para Plínio Salgado, a urbanização

não era o melhor

imperialismo

econômico

alma nacional:

No original: "une excellente introduction ti Ia pensée intégraliste au Bresii", Ver TONUS, Jos~ Leo~ardo. ,O estrangeiro de Plínio Salgado: un roman sur l'immigration. Paris: Universíre de Paris lU - Sorbonne Nouvelle, 2000, p. 2. Disponível em: < http://www.univ-paris3.fr/recherche/ sites/ edelal/D EA/Bresil/D EATonus. pdf>. Acesso em: 12 set. 2005.

206

oObras completas. São Paulo: Américas,

(liberalismo)

e o imperialismo

doutrinário

de brasileiro:

10

11 12 13

Plínio

para impedir

o avanço dos males na sociedade

do Brasil. Menotti enxuto,

Salgado

"Minha

(comuda

rural é o ponto de defesa que Plínio

Diz que a pureza de uma nação estava baseada na figura do caboclo,"

so caboclo,

-

é

O sentido de um desenvolvimento

o autor é o sentido

para

espaço e promoveriam uma verdadeira destruição . aloizaçao -" .11 d as ci d a des es e para a d esnacion

"A tendência

Salgado encontra

caminho

da pátria, pois com ela os grandes males da sociedade

ele como: "caboclinho SALGADO,Plíno. Despertemos a nação! Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 11. MARTINS, Wilson. A literatura brasileira. 5.ed. São Paulo: Cultrix, 1978, v. 6, p.249-51.

SALGADO,Plínio. Sentimentais. In: __ 1956a, V. 20, p. 373.

universal e, de outro, as

capitalistas.'?

o desenvolvimento

de Plínio

do autor em rela-

brasileira estava tomando,

pela mentalidade

diferentes expressões de imperialismo

nismo) - encontrariam

para o melhor entendimento

que a sociedade

seus tentáculos

de Moscou,

integralista

que mais tarde se corporificou

Dessa forma, é possível enxergar a importância Salgado e do integralismo.

estendendo

T onus,

Plínio Salgado, que,

do livro em 1926, disse o seguinte:

após o lançamento

Segundo

circu-

que para

Del Piccha se refere elogiosamente

nervoso

e formidável".'?

desurbanizada

SALGADO,Plínio. Literatura e política.In: __ 1956b, V. 19, p. 85-90. Ibid., p. 96.

a

Com esse discur-

volta os olhos para si próprio

mentalidade,

brasileira.

como

modelo

e cabocla, debalde

tem

oObras completas. São Paulo: Américas,

Ibid., p. 97. PICCHIA, Menotti DeI. Diário de Notícias. ln: DIVERSOS.Plinio Salgado - Obra coletiva. São Paulo: Revista Panorama, 1936, p. 229.

207

Propostas

de um Novo Nacionalismo:

a Visão do Imigrante ..,

Desse ponto procurado

sentir como o homem

da fábrica ou do gabinete,

da burocracia

O autor dizia que o Brasil precisava de um homem três elementos

único h~mem, de solucionar

14 q~e

era el,epróprio.

divulga a obra com um pseudônimo, dos livros do Antigo chamado fundou

Testamento

para pressagiar

durante

uma escola de profetas

Em

nacio-

Ezequiel,

profeta

e é identificado o cativeiro e ensinava

como

babilônico a Lei.

aquele

duplamente

que foi

atribuída a ele e ao personagem, impõe uma duplicidade

texto que me intrigou

do povo judeu, lá

e norteou

a(s) leitura(s).

ao

Salgado na persona de

Juvêncio cria lvan, seu duplo, o outro que só poderia existir fora dele.

O autor se coloca como

Fica explícito que, para Plínio Salgado, a concepção de nação, construção

o Brasil, princi-

algo decisivo para a existência do verdadeiro

a t~r s~br~ as zonas interioranas,

o anricosrnopolirismo

intelectual, exige a figura da alreridadc para, no modo do espelho, ganhar forma, adquirir particularidade.

nacionalismo.

diz que o urbanismo

a exemplo da passagem em que o

é o fim da nacionalidade,

expressando

também existente no Manifisto

Ao analisar esses aspectos do romance T onus conclui: "No diagnóstico o anticomunismo

de outubro de 1932. 17 O estrangeiro, José Leonardo

da civilização brasileira, que combina o antie o anticosmopolitismo,

surge como um eixo central do pensamento

o tema do mal urbano

político de Plínio Salgado"."

14

Plínio SALGADO, op. cit., 1956b, p. 29-30.

15

Rio de Janeiro: Clássica Brasileira, 1961.

16

Em t~das as c~tações do ~omance O estrangeiro foi realizada uma alteração na grafia em relaça~ ao original, devido à modificação linguística existente na edição usada na pesqUlsa (SALGADO, Plínio.

18

escola J uvêncio, nacionalista convicto, praticante. A autoria do romance,

que dá nome a um

O estranyeiro." ele exalta e defende o universo rural, símbolo da

profe~sor juvêncio

17

Romance dentro do romance é a sugestão do Autor, para se desvendar

em 1961, Plínio Salgado

Em u~ dos pontos do romance trata da influência negativa que as metrópoles

liberalismo,

Segundo Maria Srella Brescianio:

do mal cosmopolita.

pureza nacional, passanam

J uvêncio.

ele próprio talvez, na última página, cobrindo-se com as vestes do mestre-

lançado

aquele que prediz o futuro e que tem a missão de defender palmente

mestre-escola

contra os inimigos.

Em Poemas do século tenebroso=

.

a

E ainda se colocava como a pessoa ca;

e gUIar a SOCIedade brasileira em direção ao pensamento

nalista de luta constante

transformação que Plínio Salgado situou os personagens de seu livro. A obra O estrangeiro é um romance dentro do romance feito pelo

e propunha

união do homem das letras, do homem do Estado e do homem do povo em

em destaque

O processo imigratório é algo que deve ocorrer, mas com segurança, e foi nesse context~ de intensa

que soubesse

vitais em busca do nacionalismo

o tratamento

que o autor dá, em sua obra, ao papel do imigrante.

ou dos salões. Acredito que a grande maioria do país está em idêntica situação". coordenar

em diante, pode-se perceber

O estrangeiro. 3 ed.

A montagem graças ao trabalho

O Manifesto de Outubro de 1932, considerado o marco inicial do movimento inregralista, foi divulgado no dia 7 de outubro de 1932, em uma solenidade no Teatro Municipal de São Paulo. T?NUS, José Leonardo. Progrês et décadence dans le roman O estrangeiro de Plínio Salgado, In: PENJoN,Jacqueline; PASTAJÚNIOR,]osé Antonio, (Org.}, Littérature et Modernisation au Brésil. Paris: Presses Sorbonne Nouvelle, p. 93-103, 2004,

gira em torno de um imigrante

árduo e a hábitos de poupança

de Ivan. personagem sua terra. Militante

que enriquecem.

de milhões de europeus

A história exp~lsos de

revolucionário

perseguido pela polícia czarista, ele mtrodu. ali 21 ziu a figura do outro entre os imigrantes, já que é o único russo entre it anos. no romance, é algo que ocorre trad d 'l XIX no contexto dicionalmente na literatura b rasi eira es e o secu o' . , 'b d ríodo modernista do realismo e do natura 1ismo, mas e so retu o no pe A questão

imigratória,

presente

'1'

. 102. No orioinal: "Dans le diagnostic de Ia civilisation brésilienne, ou se conjuguent

0,.,' ' le th ' du mal urbam surl'antilibéralisme, l'anticommunisme et I anttcosmopo tttsm:e, em: -' a) git ici cornme um axe central de Iapensée politique de Plinio Salgado (traduçao m~ "

19

BRESCIANI, Maria Salgado em

20

21

O

Stella Martins.

Falar literariamente da alteridade: Phmo . R v 87 P 53-83, 2001 d'A estrangeiro, Letterature menca, orna,. "

(verp.63). , . is o mestre-esco Ia lvan e Juvêncio podem ser considerados um UnlCOpersonagem, po . ali ., lvan como seu é o espelho de Plínio Salgado e, na busca do nacion isrno, criara autorretrato. Plínio SALGADO, op, cit., 1936, p. 16.

209 208

bem-su~ed~d.o

que divide a posição central do romance com o professor

J uvêncio." seguiu os mesmos caminhos

p

Rio de Janeiro: José Olímpio, 1936).

narrativa

19

Propostas

de um Novo Nacionalismo:

que a constituição de romances desse caráter ganhou destaque em nosso cenário literário, com o objetivo de refletir sobre as transformações do país no século XX. A história se passa em São Paulo, mas não se pode considerar que o romance O estrangeiro tenha um caráter exclusivamente paulista, e sim nacional. Segundo Augusta Garcia Dorea:

O estrangeiro é um romance essencialmente brasileiro, não apenas paulista, porque São Paulo é o Estado que maiores correntes migratórias recebe, internas e externas, havendo, portanto, de dar, ele próprio, o tipo brasileiro, graças a essa particularidade." A narrativa literária tem início no Porto de Santos, com a chegada dos imigrantes, e os momentos de maior destaque ocorrem na pequena cidade de Mandaguary e Campinas. No romance, o escritor define a pequena cidade como um local de conspirações, onde tudo se acomodava aos interesses de cada um. Os cidadãos se submetiam às vontades e aos caprichos dos chefes regionais e tornavam o ambiente propício para a destruição da nacionalidade, porque, para o brasileiro, tudo se resumia a uma questão de oportunidade. O momento final da obra será em Campinas, onde o desenvolvimento capitalista industrial ocorreu com intensidade, sendo este, segundo o autor, o elemento causador da destruição humana, que fez o russo Ivan cometer suicídio. Na década de 1920, Plínio Salgado fez uma reflexão sobre o papel do imigrante na formação da sociedade brasileira. Nas obras do líder integralista é possível observar menções de alerta em relação à entrada dos estrangeiros e, consequentemente, de sua cultura no Brasil. Deixa claro não ser contra a imigração e chega mesmo a demonstrar a importância do processo imigratório para o desenvolvimento do país, desde que com um certo cuidado. Plínio Salgado não admite o domínio espiritual do imigrante, mas aceita a imigração, achando até indispensável a sua contribuição para a formação étnica do povo brasileiro e para o progresso econômico do país. Assim é que mostra as aldeias no Norte, onde não há imigrantes, em completa 22

DOREA, Augusta Garcia. O romance modernista de Plinio Salgado. São Paulo: Ibrasa, 1978, p. 31.

210

EI'~H~,C~,T~

a Visão do Imigrante ...

decadência; e as aldeias de São Paulo, onde a corrente imigratória é intensa, em grande progresso - as fazendas crescem, a lavoura amplia-se e as fazendas se enriquecem."

o autor

deixou claro que o propósito no romance O estrangeiro era

fazer reflexões. No diálogo transdisciplinar entre História e Literatura, observa-se a necessidade de conhecer a obra literária de Plínio Salgado para verificar os objetivos e as visões que ele propõe para o Brasil. Diz Bresciani: "O romance não aponta uma solução para a sociedade brasileira. Faz vagas menções a um tempo ainda indefinido".24 É um tempo de formação da consciência, de preparação intelectual, cultural e política para a solução dos problemas brasileiros, que viria através da Ação Integralista Brasileira. ~anto à atitude de Plínio Salgado ante o que ele observa, com apreensão, na sociedade moderna, diz Dorea: Mas, a verificação desses males não determina em Plínio Salgado uma atitude pessimista e descrente. Pelo contrário, ele acredita ainda nas reservas morais da sociedade e espera o seu reerguimento total. E não se limita a fixar em sua obra o resultado de sua observação, mas apresenta soluções para os nossos problemas. Seus romances não formam, pois, uma obra de ficção com objetivo puramente literário, mas a expressão da sua ideologia, da sua constante preocupação com o povo brasileiro, do seu estudo dos problemas nacionais." Partindo desse viés, o autor apontou a necessidade de se ter cuidado com o cosmopolitismo. N o Manifesto de outubro de 1932, ele expôs com clareza seus propósitos para o Brasil: "A Nação Brasileira deve ser organizada, una, indivisível, forte, poderosa, rica, próspera e feliz. Para isso precisamos de que todos os brasileiros estejam unidos".26

23

DOREA, op. cit., 1978, p. 34.

24

BRESCIANI, op. cit., 2001, p. 55.

25

DOREA, op. cit., 1978, p. 75. SALGADO, Plínio. Manifesto de outubro de 1932. São Paulo: Voz do Oeste, 1982, p. 4.

26

211

Propostas

de um Novo Nacionalismo:

a Visão do Imigrante ...

A defesa ideológica nacionalista e a aversão cosmopolita acompanharão Plínio Salgado durante toda a vida, como pode ser observado em O dono do mundo/? Nesse romance, ele adotou um tom profético, afirmando que o apocalipse chegaria com o desenvolvimento tecnológico e o advento das máquinas, expressões da força urbanística e que não eram o mais correto para a defesa nacionalista, devido à influência externa. Esse cosmopolitismo, que para o autor é o grande mal, causa "desagregação do homem de suas peias naturais, e o projetam no terreno neutro, que é o mercado"." Plínio Salgado, apesar de não ser inteiramente contra a imigração, como já foi dito, alerta a sociedade que esse pode ser um fator a contribuir para o mal, na fortificação do cosmopolitismo: N os países de imigração, como o nosso, as cidades vão se tornando, pouco a pouco, consciências isoladas na Grande Consciência. Falta-lhes, para a perfeita harmonia nacional, o liame das tradições e dos costumes, a consciência histórica, a unidade de sentimento. Forças diversas atuam sobre nossos centros mais populosos, estabelecendo o entrechoque de correntes religiosas,de doutrinas políticas,de credos literários,de processoscomerciais; e de tudo resulta o resfriamento gradual de nossas energias próprias. Essas forças se anulam em contraposição umas das outras, e o resultado fatal é uma permanente crítica negativista, que se infiltra como um veneno na alma de nossa gente. (...) Estas considerações me levam a crer na imensa necessidade de um levantamento da fé brasileira, de uma coordenação de forças novas, de uma intensa afirmação nacional. O Brasil precisa salvar-se do mal urbano (...). A mocidade brasileira tem necessidade de levantar-se, num movimento de fé.29

O estrangeiro é um romance que se desenvolve num ambiente de imigrantes. Logo no início da obra, o autor propõe uma explicação para o surgimento da imigração no Brasil: Trecho de história do Brasil: os naturais, por seu gênio erradio, não se prestavam à faina agrícola. Foi necessário instituir a escravidão africana. Os negros eram comprados nas feiras. A libertação dos escravos coincidiu com a República e esta com o desenvolvimento da lavoura. Abriram-se as portas à imigração." No início da narrativa, Plínio Salgado trata da chegada dos primeiros imigrantes e foca a análise nos italianos, ou seja, a família Mondolfi, que é caracterizada pela ascendência econômica. Carmine Mondolfi economiza, compra terras e se torna a figura central da colônia. Ajuda a fundar a sucursal da Escola Dante Alíghíerí, reduto e símbolo da italianidade. Depois, analisa a situação do brasileiro (caboclo) em face a chegada dos italianos. É possível perceber, no romance, a formação de alguns grupos divergentes em relação ao papel dos estrangeiros. Há alguns personagens que não aceitam, em hipótese alguma, a presença do imigrante e, radicalizando, evitam qualquer tipo de contato com o novo. Na obra, são caracterizados como os bandeirantes. Em um diálogo com o mestre-escola Juvêncio, o russo Ivan indaga ao professor sobre quem é o verdadeiro caboclo: Ivan queria ver um caboclo autêntico. Contou-lhe o amigo que eram raros. Quase todos estavam no sertão. Poucos ficaram nas redondezas, cantando a viola, empalamados. Alguns - pequenos agricultores, taverneiros, carreadores ou peões, exceção feita ao Zé Candinho - andavam por ali, mas guardavam poucos traços do caboclo genuíno, ou antes, eram uma expressão inferior do caboclo. O legítimo, esseprosseguia a sua faina, rumo às

Nesse discurso, é possível constatar o papel central dos imigrantes no projeto de criação de um novo movimento político. Desta forma, vê-se, com total relevância, a análise da obra com o objetivo de visualizar como Plínio Salgado os considerava. 27

SALGADO, Plínio. O dono do mundo. São Paulo: GRD, 1999.

28

SALGADO, op. cit., 1956b, p. 97.

29

Id. ibid., p. 97-100.

brenhas, afastando-se da onda de absorvente dos estrangeiros. (...) Os que partem são fortes como fundadores de países. Os que ficam, são como seu lndalécio, olhos morteiros, toadas monótonas nos lábios (...).31

30

Plínio SALGADO, op. cit., 1936, p. 21.

31

Id. ibid., P: 28-29. 213

Propostas de um Novo Nacionalismo: a Visão do Imigrante ... 6/(~H~,C~,

Como como

foi citado,

Nhô Indalécio,

que morre

o poder. Ele representa piras, decadentes,

de desgosto

afetados

pela imigração,

por não conseguir

o desenvolvimento

No romance,

desafiar

um grupo que não tem poder de reação, pobres cai-

que não acompanham

reféns dos imigrantes. e demonstra

há na obra personagens

social, virando

dos italianos (Carmine

entiquecimento, promovendo para combater a opressão.

o abandono

que alcançam o

dos caboclos da terra, sem forças

Em uma passagem do romance envolvendo Nhô Indalécio e o violento administrador verificar a relação de violência existente:

Mondolfi)

e procuram ersonagens

constantes

fazenda. Martiniano

pelo

proble::~

se beneficiar

individualmente.

ele demonstrava

ser

um intenso nacionalista: O major Feliciano não admitia que estrangeiros governassem. Em M~~daguary, o prefeito

é possível

havia no Diretório

que os porcos de Nhô Indalécio aventuraram

representado

soluções para ganhar com essa re~aça.o. ~ ~m grup

que tem como único propósito

nos e o Governo Aconteceu

tipo de caboclo,

N a obra, quando o major Feliciano não estava no poder,

o "caboclo domesticado"32

da fazenda, Martiniano,

existe ainda outro

Pantojo e pelo major Feliciano. Aceitam a imigração sem ~aio:es

Essa é uma crítica que o autor faz à sociedade brasileira

a perseguição

T~

era italiano; o coleto~ sítio: ~ italianos e espanhoI~ e na Câmara. Caipiras inconscientes

o que queria eram votos. Ostensivamente,

todas as cidades, fundavam-se

excursões pela

acompanhavam em quase

as celebérrimas "Dante Alighieri" e as es-

colas onde as crianças aprendiam, antes de mais nada, a língua italiana. Um

mandou avisã-lo, "Que mataria os bichos". Indalécio

absurdo, dizia."

pôs mais um fio de arame na cerca. Os suínos eram teimosos. Romperam a barreira, entraram insolentes como hussards. Troaram tiros de espingarda.

No momento

Seguiu-se uma proclamação. "Que não se queixe a polícia, se não quiser levar umas lambadas, com este chicote." Nhô Indalécio mandou dizer que não se queixava à polícia; entregava a injúria nas mãos de Deus.33 Martiniano

representa outro grupo de caboclos, aqueles para quem ser brasileiro é praticar a xenofobia34 e com o uso da violência desenvolve sua cultura. No decorrer da obra, Martiniano e ficará totalmente

encantado

da vida levada durante

anos, como burro

cultores, e revolta-se intensamente deprimindo os brasileiros." 32 33

deixará a fazenda para ir

com o cosmopolitismo. com os imigrantes

"O major Feliciano

acordos com os imigrantes: a imigração

e adequava-se

brasileiras"."

Em uma carta, o personagem

fazia ~arte dos bra-

aos estrangeiros,

cendo um acordo com eles e com eles se identificando

e alheando-se

~stab~leas COISas

diz:

à cidade A localidade

os agri-

progresso.

que enriqueceram

[Mandaguary]

entrou

agora num período

de grande

O sr. Presidente do Estado prometeu vir, em pessoa, inaugurar

o chafariz. Fiz as pazes com o pessoal da "Dance Alighieri" por causa de uma causa que me deram e me rendeu cinquenta

contos. De modo q~e

subvencionei a escola e a banda da colônia. Vou conceder a uma com~a~hIa Id. ibid., p. 35.

de alemães vários favores para o serviço de luz. Havia uma de brasileIr~s

Id. ibid., p. 43.

que me dava comissão muito pequena e achei pouco patriotismo. Espero Ir para S. Paulo, deputado, servir o país em mais Iargos hori onzontes. 38

34

35

de

manter

Então, envergonha-se

de carga, ridicularizava

na

. com a Intençao

seu comportamento,

sileiros que aprovavam

o violento

em que o major alcança uma posição de destaque

política local, ele altera totalmente

TONus, op. cit., 2000, p. 3. O autor destaca, no estudo citado, a relação entre o romance O estrangeiro e o pensamento integralista, e afirma: "O estrangeiro, romance sobre o imigrante, é um panfleto nacionalista, racista, xenófobo e anti-sernita" (ibid, p. 2). O objetivo de T onus é demonstrar o pensamento nacionalista de Plínio Salgado, exaltando a aversão ao estrangeiro, que, segundo o autor, estará presente dentro do movimento integralista. No original: "O estrangeiro, roman sur l'immigration, est um pamphlet nationaliste, raciste, xénophobe et antisémite" (tradução minha). DOREA, op. cit., 1978, p. 33.

36

Plínio SALGADO, op. cit., 1936, p. 66.

37

BARROS José Eliseo de. O modernismo integralista nos romances O esperado e O estrangeIro '. d e Pii.mo. Sa Iga.do 2006 . Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006, p. 68.

38

Plínio SALGADO, op. cit., 1936, p. 266-7.

214 215

EI'~H~,C~,T~

Propostas de um Novo Nacionalismo: a Visão do Imigrante ...

O mestre-escola

Nesse.descaso em relação ao Brasil, ao lado de Feliciano estava Pantojo, que pertencIa

a um grupo paulista

do café, lhe permitia

tradicional

e cuja riqueza, proveniente

residir ao lado de um luxo mundano.

Era apegado à

(ou Plínio Salgado), que revelou na última página da

obra ser o autor da história, é considerado cuja missão era amar e lutar pelo crescimento

moda estrangeira, ao sustento de amantes e ao vício do jogo. Sem preocupação

grantes, que serão absorvidos

alguma com o desenvolvimento

vo de Plínio Salgado foi demonstrar

promover

o enriquecimento

Em contraposiçâo

do Brasil, usava o imigrante

cosmopolitismo

e nada mais.

às imagens dos caboclos em sua relação com os imi-

grantes, estava o mestre-escola Salgado. Para o diretor

como forma de

Juvêncio,

expressão mais próxima

das Escolas Reunidas,

pela boca do homem"." Juvêncio

de Plínio

do nacionalismo

Juvêncio, estrangulando

de uma pátria forte. O .o~jeti-

que o Brasil tinha forças para resistir ao

e assimilar o imigrante,

mento de aglutinação.

caboclo (brasileiro),

da Nação, tendo ao lado os imi-

para a formação

mas, para isso, precisava criar um ele-

O autor desenvolve, então, em diversos momentos

romance, meios para pensar o processo educacional

(catequizador)

As crianças das Escolas Reunidas

quem descobriu

perante seus alunos os papagaios que ganhara de

eram filhos de italianos,

espanhóis,

espertos puxados ao português.

Cantavam

o Brasil? - Foi o almirante

português

repetir as palavras do hino fascista: "Giovinezza, Giovinezza, primavera di belleza!". Juvêncio exalava nacionalismo.t?

esguio, que parecia um homem cumprido e entusiasmado. E as vozes afinadinhas:

O momento

era o surgimento

cabeleira verde - na ponta do caule

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um

povo heróico o brado retumbante ... Juvêncio vibrava."

e o crescimento

O mestre-escola

ocorreu quando:

não admitia o excesso de italianidade

tecendo na "Dante Alighieri", Com foguetes e cerveja, fundou-se

em Mandaguary

onde ensinavam:

- Onde nasceu Cristóvão Colombo?

uni-

Um velho garibaldino fez um discurso dramático."

- Em Genova. _ Quem plantou o café no estado de S. Paulo?

Como forma de reação, o professor

- Os italianos. _ Quem inventou o automóvel Ford?

com dragonas

nidas resolvido a fazer concorrência

e alamares

verdes em fardas azul ferrete.

"reabriu as aulas das Escolas Reu-

- O conde Mararazzo.t'

à Dante Alighieri, disposto a tudo, a um

sem tréguas, violenta, arrasadora

que estava acon-

uma sucursal da

"Dante Alighieri". A banda musical "Giuseppe Verdi" compareceu

combate

(...)

o que era perigoso para a sociedade brasileira.

máximo de insatisfação

formizada,

-

Pedro Álvares

Cabral. (...) A bandeira flutuava - palpitante

presente porque haviam aprendido com seus antigos donos emigrantes a

em larga escala dos imigrantes,

brasileiro:

o hino nacional e respondiam na ponta da língua, se lhes perguntavam

aparece na situação burlesca do mestre-escola,

A oposição central do mestre-escola

do

"Pátria é a voz do país saindo

era o símbolo da nacionalidade:

japoneses, sírios, mulatinhos

o tema

o verdadeiro

guerra de extermínio".42

Plínio imigrante.

Salgado

não tenta

promover

uma aversão

generalizada

ao

O objetivo desse panfleto político é refletir sobre quais caminhos

a sociedade deve seguir com a presença da cultura estrangeira no país. O autor 39

Id. ibid., p. 46.

40

TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o fascismo brasileiro da década de 30. 2.ed. PortO Alegre: Difel/UFRGS, 1979, p. 59.

41

Plínio SALGADO, op. cit., 1936, p. 40.

43

Id. ibid., P: 29-30.

Id. ibid., p. 55.

44

Id. ibid., P: 101.

42

tem a intenção

216

de criticar

os imigrantes

217

que vêm para o Brasil mas não se

Propostas de um Novo Nacionalismo:

a Visão do Imigrante ...

moestram capazes de entrar no espírito de vida do brasileiro, como o russo Ivan, que não conseguiu se desligar do passado e, como consequência, não pensava no futuro. O moscovita não conseguiu se adaptar à nova terra, não conseguiu sentir e se integrar à vida brasileira. E seu fim foi trágico: o suicídio. Assim, o líder integralista demonstrou que era impossível e desnecessá_ rio lutar contra os imigrantes, pois o Brasil precisava deles para se desenvolver. Mas, para que isso ocorresse, era preciso promover sua assimilação pela realidade brasileira, e não o contrário. Se algum imigrante viesse para o Brasil sem esse propósito, ele não conseguiria viver no país. Foi o que aconteceu com o russo Ivan. Esse manifesto em forma de romance serviu de introdução para que Plínio Salgado criasse o embasamento teórico necessário à formação da Ação Integralista Brasileira.

218

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