psicopedagogia

July 23, 2017 | Autor: Nilda Silva | Categoria: Psicopedagogía
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Descrição do Produto

UCB – UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO - RJ
PÓS GRADUAÇÃO - PSICOPEDAGOGIA







NILDA JOANA DA SILVA








AS RELAÇÕES FAMÍLIA E ESCOLA



















COXIM – MS
2005
UCB – UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO - RJ
PÓS GRADUAÇÃO – PSICOPEDAGOGIA







NILDA JOANA DA SILVA





AS RELAÇÕES FAMÍLIA E ESCOLA

Trabalho de conclusão de Curso,
apresentado como requisito parcial para
obtenção do título de especialista do
curso de Pós Graduação Lato Sensu em
Psicopedagogia da UCB - Universidade
Castelo Branco – RJ.












COXIM – MS
2005












































Aos nossos cônjuges, filhos, familiares e
amigos, que ao longo dessa jornada nos deram
ânimo e o apoio necessário. A todas as crianças
com quem trabalhamos, por nos ensinarem que –
mais do que conservar o novo – é preciso renovar
o velho, a cada dia.









AGRADECIMENTOS




Ao término de um trabalho, uma longa caminhada se fez, muitas pessoas foram
contatadas e neste momento são lembradas com gratidão.












































































Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca
inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem
no mundo, com o mundo e com os outros. (Paulo Freire)







SUMÁRIO


RESUMO......................................................................
.......................................07

ABSTRACT....................................................................
.....................................08

1.
INTRODUÇÃO..................................................................
..............................09

2. FILOSOFIA DE FAMÍLIA
2.1 Os tipos variados de
família.....................................................................
.....11
2.2 O que a família espera da escola e o que a escola espera da
família.........13

3. HISTÓRIA DA RELAÇÃO FAMÍLIA –
ESCOLA.............................................16
3.1 A escola como um meio social…………………………….............….......…....17
3.2 Situando as relações família – escola……………………....………………….21

4. A EDUCAÇÃO É PROCESSO SOCIAL
4.1 A filosofia da
educação....................................................................
..............23
4.2 A educação como processo
social................................................................25
4.3 O papel social do
professor...................................................................
........27
4.4 Educação familiar e educação escolar: uma
continuidade...........................30
4.5 Educação e família: uma união
fundamental................................................31

5.
CONCLUSÃO...................................................................
..............................33

REFERÊNCIAS.................................................................
.................................36







RESUMO


As relações família – escola visa propiciar o conhecimento dos pais e
responsáveis sobre a proposta pedagógica que está sendo desenvolvida, para
que possam discuti-la com a equipe. Favorece e complementa o trabalho
realizado com as crianças, na medida em que possibilita que conheça seus
contextos de vida, costumes e valores culturais de suas famílias. Quando se
fala na desejável parceria escola-família e convoca-se a participação dos
pais na educação, como estratégias de promoção do sucesso escolar, não se
consideram: as mudanças históricas e a diversidade cultural nos modos de
educação e reprodução social; as relações de poder entre estas instituições
e seus agentes; a diversidade de arranjos familiares e as desvantagens
materiais e culturais de grande parte das famílias; as relações de gênero
que estruturam a divisão de trabalho em casa e na escola. Este trabalho
discute estas questões argumentando que a política educacional e a prática
pedagógica articulam os trabalhos educacionais realizados pela escola e
pela família.


Palavras chaves: Família, Escola, Educação, Integração.


























ABSTRACT


The relationships family–school seeks to propitiate the parents' knowledge
and responsible on the pedagogic proposal that is being developed, so that
they can discuss her/it with the team. It favors and it complements the
work accomplished with the children, in the measure in that makes possible
that knows your life contexts, habits and cultural values of your families.
When it is spoken in the desirable partnership school-family and the
parents' participation is summoned in the education, as strategies of
promotion of the school success, they are not considered: the historical
changes and the cultural diversity in the education manners and social
reproduction; the relationships of power between these institutions and
your agents; the diversity of family arrangements and the material and
cultural disadvantages of great part of the families; the gender
relationships that structure the work division home and in the school. This
work discusses these subjects arguing that the educational politics and the
pedagogic practice articulate the educational works accomplished by the
school and for the family.


Key words: Family, School, Education, Integration.



























1. INTRODUÇÃO





"Pais e filhos precisam crescer juntos: a cada
etapa do desenvolvimento é preciso fazer ajustes
na maneira de lidar com as situações que surgem"
(MALDONADO, 2002:30).








A sociedade não é mais a mesma de três décadas atrás, quando
não havia tamanha violência, quando os filhos obedeciam à risca às regras
dos pais, quando a maneira de educar os filhos não era questionada. Mas,
várias transformações ocorreram ao longo desses anos.
Muitos pais, ainda não se conscientizaram da importância do
apoio deles junto à instituição escolar freqüentada pelo filho e não
conseguem ver que a escola possui outros objetivos a serem desenvolvidos em
seus filhos. Isso não quer dizer que a escola não deva se preocupar com o
desenvolvimento afetivo e as relações de vínculo desenvolvidas pelos
alunos, mas de forma diferente da família a escola utiliza critérios
específicos para avaliar o desempenho, a maturidade e desenvolvimento desta
criança. São essas peculiaridades que os pais não conseguem internalizar.
Ao deixar seus filhos na escola, ou creches, os pais passam toda a
responsabilidade de educação desta criança aos educadores e à instituição e
caso o filho apresente um comportamento inadequado, os pais culparão a
escola, os professores, os colegas, mas nunca colocarão a culpa em si
mesmos ou assumirão o fato de contribuir para algumas atitudes do filho.
A escola, por sua vez, também procura subterfúgios para escapar
da culpa pelos possíveis fracassos escolares de seus alunos, entre as
desculpas mais freqüentes está a de culpar os pais pela falta de tempo no
convívio com os filhos. Fato que acaba gerando alunos com problemas de
aprendizagem e relacionamento.
Atualmente a realidade social é complexa e em mutação quase
constante, através deste estudo podemos analisar e interpretar esta
situação por dois vetores: através de uma perspectiva sistêmica e de
integração funcional; uma visão da mudança, da flexibilidade e do conflito.
Neste sentido, sendo fundamental o estudo das estruturas e das funções da
família e da escola, mas também das transformações que estão a ocorrer na
sociedade moderna e nas suas instituições, bem como a análise dos quadros
sociais instáveis daí decorrentes.
Os diversos agentes sociais, e os educadores de infância não são
exceções, deverão estar atentos a estes novos quadros sociais que exigem
uma compreensão dinâmica e respostas flexíveis, mas articuladas.
Embora, o fundamental para a escola, professores e pais é
descobrir algo concreto para ser apontado como causador desses problemas de
aprendizagem, que prejudicam as crianças e aos adolescentes.
Conforme PAROLINI eles esquecem-se, porém, que:


"Tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar
as crianças para o mundo; no entanto, a família tem as suas
particularidades que a diferenciam da escola, e suas
necessidades que a aproximam dessa mesma instituição. A
escola tem sua metodologia e filosofia para educar uma
criança, no entanto, ela necessita da família para
concretizar o seu projeto educativo" ( PAROLINI, 2003: 99).


O que podemos observar é que a escola e a família, cada qual com seus
valores e objetivos específicos na educação de uma criança, constituem um
organismo intrínseco, onde quanto mais diferentes são mais necessitam uma
da outra. Dessa forma, cabe a toda sociedade, não só aos setores ligados à
educação, transformar através de pequenas ações o cotidiano da escola e da
família, para que esta compreenda a importância dos objetivos traçados pela
escola, assim como o seu lugar de co-responsável neste processo.
Baseado nesta realidade; buscamos um estudo através de algumas
bibliografias de grandes autores, a respeito da relação família e escola e
a responsabilidade que cada um tem no desenvolvimento psicológico social e
educacional da criança.











Capítulo I




2. Filosofia de Família



1. Os Tipos Variados De Família Existentes Em Nossa Sociedade





A instituição Família teve uma importância fundamental na
história brasileira. Livros, hoje clássicos, como os de Gilberto Freyre
(Casa grande e Senzala, Sobrados e Mocambos), descrevem a importância que a
família extensa dos senhores de engenho teve na formação social e
econômica. Mostram a importância das relações familiares, não apenas como
relações efetivas de confiabilidade, mas como relações de poder.
Como podemos perceber, uma parte da população podia ter família
e valorizava fortemente as relações familiares, enquanto outra,
majoritária, não tinha o direito à instituição familiar.
Duas são as repercussões deste fato na camada social menos
favorecida economicamente, formando um verdadeiro paradoxo: a eliminação da
responsabilidade paterna e a suposição, para a mulher pobre, de que, tendo
filhos, manteria junto a ela o homem, pai de seus filhos. Afinal o ideal da
família era o homem, provedor, casado, e com muitos filhos. A função ativa
era masculina. A função da mulher era reprodutiva e seria tanto mais
valorizada quanto mais filho tivesse.
Este retrato apresentado é retrato parcial do passado, embora
ainda o encontremos em muitos recantos do país. É uma imagem valorizada, a
da permanência de um casal com filhos, articulado com a rede ampla de
parentesco, avós, tios, primos, sobrinhos. Hoje, o retrato é diferente.
Está nas propagandas, que na verdade vendem não só produtos, mas, sobretudo
representações, de modo claro e restrito: as imagens mostram um casal,
formado por um homem e uma mulher e poucos filhos, certamente dois, um
menino e uma menina. Esporadicamente aparece uma pessoa idosa: avô ou avó.
E é este modelo de família, o nuclear, que está presente também nos livros
didáticos, como se fosse o único, o correto, o normal, o desejável,
reforçando sua força como modelo que é, e não como a família se apresenta
na realidade, em que o predominante é a diversidade.
A família que não segue esse modelo é considerada
desestruturada. E, certamente, ela se apresentará desestruturada nas
camadas pobres da população, aquelas mais vinculadas ao passado da
escravidão. E certamente muitas das soluções encontradas pelas camadas
menos favorecidas da população para encontrar novas possibilidades de
organização de novos núcleos familiares são taxadas como modelos
desestruturados, porque se afastam muito do modelo familiar considerado
hegemônico.
É curioso nos lembrarmos de um outro fato. O autor de livros
para crianças mais conhecidos no Brasil é Monteiro Lobato. E que família
ele nos mostra? Uma avó, seus netos e outros personagens, inclusive a
cozinheira, negra, e o preto velho. Lobato mostra que a família é dos
brancos, mas apresenta sem o casal (os pais). Mostra apenas o eixo da
descendência, omitindo o eixo da aliança. Isto se verifica, também, nos
inúmeros contos de fadas do passado, em que os pais, em geral, não estão
presentes. Cabendo aos pais a função disciplinadora, omiti-los é fazer esta
desaparecer e valorizar os momentos de liberdade dos filhos em casa, ou na
casa dos avós, supostamente mais permissivos. Também surge a figura da
madrasta, hoje presente nos casais recasados com filhos, mas cuja
denominação é problemática, exatamente por carregar as negativas ganhadas
no passado.
Para uma família se formar, seria indispensável que cada
família de origem cedesse um de seus membros para a constituição de uma
nova família. O eixo da filiação: pai, mãe, filhos, netos, avós, ou o eixo
da aliança: sogros, genros, noras, cunhados. Para a criança, temos tios e
primos, independentemente da família de origem. Assim, Dona Benta, Pedrinho
e Narizinho é família, mas tio e sobrinho também o são. Essa denominação
tio, tia tem uma característica interessante, pois extrapola o núcleo
familiar e chega a outros por afinidade ou respeito. Está presente até em
outras situações. Tanta é a importância da instituição familiar no Brasil,
que os professores são chamados de tios.

O aluno, ao entrar na escola, tem uma família. Qual é esta, de
quantas pessoas se compõe isso é variável. Às vezes, formadas por mulheres
que desempenham sozinhas, a tarefa de manter uma casa e de educar os
filhos, por pais desempregados desempenhando papéis maternos enquanto suas
esposas trabalham e sustentam a casa e, ainda por avós que exercem sozinhas
a função de mãe.
A sociedade, antes marcada por uma distribuição entre os sexos
e uma divisão clara entre trabalho produtivo e reprodutivo se transformou,
dado o valor do pensamento feminista e de uma política de emancipação da
mulher, o que levou a uma redistribuição importante, embora ainda com
limites, das atividades profissionais e privadas.



2. O Que A Família Espera Da Escola E O Que A Escola Espera Da Família?


"Se a imagem da criança é contraditória, é
precisamente porque o adulto e a sociedade nela
projetam, ao mesmo tempo, suas aspirações e
repulsas. A imagem da criança é assim, o reflexo,
do que o adulto e a sociedade pensam de si
mesmos. Mas este reflexo não é ilusão; tende, ao
contrário, a tornar-se realidade. Com efeito, a
representação da criança assim elaborada
transforma-se, pouco a pouco, em realidade da
criança. Esta dirige certas exigências ao adulto
e à sociedade, em função de suas necessidades"
(ZILBERMAN,1985:13).




É ponto pacífico a necessidade de se buscar formas de
articulação entre família e a escola. Fácil falar sobre o assunto, difícil
construí-la. Ainda mais que se vê a educação hoje como algo permanente, por
toda a vida, um processo continuado e não mais como uma etapa: estudar,
para depois, entrar no mercado de trabalho.
Se assim é, a relação família – escola não diz respeito apenas
aos filhos – alunos, mas a todos, familiares, professores e comunidade em
geral.

É preciso entender o que estamos falando quando mencionamos os
termos família e escola. Aparentemente, todos sabemos do que se trata.
Todos têm uma família e quase todos freqüentam uma escola ou já
freqüentaram.
A partir da Psicologia da Aprendizagem, a infância é tratada
como uma etapa de preparação do pensamento para a vida adulta. O pensamento
infantil não tem ainda uma lógica racional. É necessário entender que a
criança é também cheia de medos, conflitos, dúvidas e contradições, não por
desconhecer a realidade, mas por trazer em si a imagem projetada do adulto.
A Psicologia Social reforça essa afirmação a medida em que
grande parte da aprendizagem humana ocorre através da observação do
comportamento de outras pessoas. Decorre daí que o processo de formação da
aprendizagem da criança está vinculado, no primeiro momento, às
características físicas e sociais do contexto familiar.
O fato é que poucas instituições conheceram mudanças tão
significativas como à família em uma geração: o seu tamanho se reduziu e
ela se tornou menos estável no que se refere à contribuição do casal
conjugal. O casamento passou a ter um papel social menos central e o
companheirismo tornou-se corrente e aceito.
Entre as transformações ocorridas na família temos:
1. Controle de natalidade – a mulher pode decidir se quer ou não ter
filhos. Há uma aceitação social do sexo em si mesmo, e não mais para a
reprodução.
2. Redução do número de filhos, onde menos irmãos, tios, sobrinhos,
primos.
3. Prolongamento do tempo de vida – mais pessoas idosas com saúde e vida
ativa.
4. Alteração do papel doméstico atribuído só à mulher – ruptura do quadro
tradicional provedor / dona de casa.
5. Instabilidade do casal aceita socialmente, com facilitação da
dissolução do vínculo conjugal – a razão do unir – se é efetiva e não
ter filhos. Isto gerou uma multiplicidade de situações: casais sem
filhos; casais temporários com filhos; famílias extensas; famílias uni
- parentais; casais homossexuais com ou sem filhos; casamento de avós
antes separados.
6. Forte mobilidade geográfica e social dos membros da família.
7. Igualdade entre os sexos.
8. Clima de incerteza: nada é seguro, donde a exigência de processos de
ajustamentos contínuos, isto é, a construção permanente da identidade
de cada um que exige liberdade individual de movimentos na incerteza
da construção de sua trajetória social.
Não há critérios para se julgar: o modelo de família das
gerações anteriores nada mais tem a ver com a realidade.
Na educação do aluno valoriza-se sua autonomia,
autenticidade, criatividade. E a família coloca filhos na escola e não
alunos, mas esta recebe alunos e não filhos. Mas se pensamos em parceria
entre estas duas instituições, temos de compreender suas diferenças. E a
família lida com os filhos 24 horas por dia, durante a semana toda. Já a
escola lida com os alunos por período determinado e, normalmente, apenas
algumas horas, em 5 dias da semana.
De acordo com COELHO(2000 p. 16):


"... a escola é, hoje, o espaço privilegiado, em
que deverão ser lançadas as bases para a formação
do indivíduo. E, nesse espaço, privilegiamos os
estudos literários, pois, de maneira mais
abrangente do que quaisquer outros, eles
estimulam o exercício da mente; a percepção do
real em suas múltiplas significações; a
consciência do eu em relação ao outro; a leitura
do mundo em seus vários níveis e, principalmente,
dinamizam o estudo e o conhecimento da língua, da
expressão verbal significativa e consciente-
condição para a plena realidade do ser".


É uma parceria com instituições distintas. Se a desejamos
eficaz temos de reconhecer as características de cada uma e descobrir as
pontes possíveis existentes.
O filho/aluno é o elo destas duas instituições, ambas em
crise, sendo criticadas pelo que não fazem numa realidade de intensas
transformações. Por mais que seja criticada a escola, e a família vista
como desestruturada, ambas são instituições valorizadas. Talvez seja o
aluno quem capte o atual desejo da escola como instituição de ter a
família mais próxima dela, para enfrentar as atuais dificuldades, senão
as intencionalidades e obrigações decorrentes para efetivar a parceria
desejada.












CAPÍTULO II






3. HISTÓRIA DA RELAÇÃO FAMÍLIA - ESCOLA



A questão das relações Família – Escola é demasiado ampla e
polêmica. Na segunda metade da década de 60, as escolas experimentais
públicas tiveram seu apogeu. E um dos pilares do trabalho educativo, para
todas elas, era a relação família – escola. As associações de pais e
mestres – APMS – não só davam o suporte financeiro complementar e
imprescindível para levar a tarefa educativa, como acompanhavam o trabalho
acadêmico, imiscuindo – se até no que era, considerado indesejável.
Cobravam desde conteúdos até atitudes e vocabulário dos professores.
Os anos eram especialmente difíceis, auge da ditadura militar.
Professores e orientadores educacionais envolvidos no projeto de orientação
sexual era o alvo predileto. As reuniões das APMS eram a ocasião
privilegiada para a manifestação de tensões e de conflitos. Não obstante,
talvez pela primeira vez na história da Educação nacional, os pais sentiam-
se fortes: contribuíam e exigiam. Desapareceram as escolas experimentais
públicas, porém essas associações proliferaram embora menos poderosas,
salvo raras exceções.
Hoje, poucos são os casos em que a família e escola, através
das APMS, compartilham a responsabilidade sobre a Educação Escolar. Em
geral, a escola promove reuniões para dar explicações – para não dizer
fazer queixas – sobre o desempenho e o comportamento dos alunos. Assim, uma
a duas vezes por semestre, às vezes por ano, os pais são convidados para
uma dessas reuniões. Há também os eventos festivos, para os quais eles
devem contribuir, resumindo-se nisso, quase sempre, as relações Família –
Escola. No mais os pais mantêm-se e são mantidos bastante afastados dos
acontecimentos na esfera escolar.
A educação tem um papel fundamental na produção e reprodução
cultural e social e começa no lar / família, lugar da reprodução física,
psíquica e cotidiana,que constituem as condições básicas de toda a vida
social e produtiva. Como processo de socialização, a educação tem duas
dimensões: social – transmissão de uma herança cultural às novas gerações
através do trabalho de várias instituições; e individual – formação de
disposições e visões, aquisição de conhecimentos, habilidades e valores. A
dimensão individual é subordinada à social no contexto de interesses
objetivos e relações de poder, nesse caso baseada na categoria idade –
geração, seja na família, seja na escola.
Segundo Carvalho (2000, p.154), há duas histórias da educação
relacionadas às classes sociais e à interação família – escola. Uma
história é aquela de uma classe que criou o valor da escola de acordo com
uma concepção particular de educação: a escola como extensão da família da
classe média. Outra história é aquela em que a escola, modo de educação não
familiar, foi imposta a uma classe como meio de salvação via aculturação. A
primeira é a história do sistema escolar credencialista e dos investimentos
familiares na competição dos jovens de classe média por diplomas, enquanto
a última é a história do fracasso escolar que legitima a exclusão
socioeconômica e que continua alimentar as políticas compensatórias
destinadas aos estudantes em situação de risco.





3.1 A Escola Como Um Meio Social



A importância principal desta constatação precedente sobre o
processo educativo que avança de bom ou de mau grado, é conduzir-nos à
observação de que o único modo pelo qual os adultos controlam
conscientemente o tipo de educação que os imaturos recebem é controlando o
meio em que atuam, e portanto pensam e sentem. Nunca educamos diretamente,
mas sim indiretamente através do meio. Há uma grande diferença entre
permitir que meios aleatórios façam esse trabalho, ou concebemos os meios
para os nossos propósitos. E qualquer meio é um meio aleatório no que diz
respeito à influencia educativa que exerce, a menos que tenha sido
deliberadamente regulado relativamente ao seu efeito educativo.

''O ensino escolar é uma prática social
decidida e estabelecida pela sociedade moderna
a fim de formar e institucionalmente,
transmitir a cultura às novas gerações".
(SILVA, 1985: 57).


Um inteligente difere de um não inteligente essencialmente no
fato de os hábitos de vida e de comunicação que prevalecem serem
escolhidos, ou pelo menos alterados, pela consideração das suas
conseqüências no desenvolvimento da criança. Mas as escolas continuam a ser
evidentemente, o caso típico de meios moldados com a preocupação expressa
de influenciar as disposições mentais e morais dos seus membros.
Abreviadamente, elas surgem quando as tradições sociais se
tornam tão complexas que uma parte considerável do patrimônio social é
passado a escrito e transmitido através de símbolos escritos. Os símbolos
escritos são ainda mais artificiais ou convencionais do que os falados; não
podem ser compreendidos em intercomunicações acidentais com outras pessoas.
Alem disso, a forma escrita tende a selecionar e registrar assuntos que são
relativamente estranhos à vida cotidiana. As realizações acumuladas de
geração em geração são guardadas dessa forma, mesmo que algumas delas
tenham caído temporariamente em desuso. Conseqüentemente, a partir do
momento em que uma sociedade depende numa medida considerável, do que está
para além do seu próprio território e da geração imediata, tem que contar
com a intervenção das escolas para assegurar a transmissão adequada de
todos os seus recursos. Portanto, para tratar de assuntos como esse foi
instituído um modo especial de intercomunicação, a escola.
Este modo de associação, quando comparado com as associações
comuns da vida, tem três funções suficientemente especificas para serem
assinaladas. Em primeiro lugar, uma civilização é demasiado complexa para
assimilada na totalidade. Tem que ser dividida em partes, por assim dizer,
é assimilada aos poucos, num processo gradual e progressivo.
As relações na nossa vida social atual são tão numerosas e tão
entrelaçadas que uma criança colocada na posição mais favorável não poderia
participar prontamente em muitas das mais importantes. Não participando, o
seu significado não lhe seria comunicado, não se integraria na sua
estrutura mental. A primeira função da instituição social a que damos o
nome de escola é assegurar um meio simplificado. Seleciona os aspectos que
se distinguem como fundamentais e susceptíveis de respostas da parte dos
jovens. Depois estabelecem uma ordem progressiva, utilizando os aspectos
adquiridos em primeiro lugar para promover a compreensão dos que são mais
complicados.
E segundo lugar, é função do meio escolar eliminar, o mais
possível, a influência dos aspectos inconvenientes do meio existente nos
hábitos mentais. Estabelece um meio de ação purificado.
A seleção visa não apenas a simplificação, mas também a
supressão do que é desejável. A escola tem o dever de omitir essas coisas
do meio que oferece e, portanto, fazer o possível para contrariar a sua
influência no meio social comum. Ao selecionar o melhor para seu uso
exclusivo ela tenta seriamente reforçar o poder desse melhor. À medida que
a sociedade se torna mais esclarecida, apercebe-se de que é responsável por
não transmitir e conservar a totalidade das suas realizações existentes,
mas, as que contribuem para uma sociedade futura melhor. A escola é o seu
agente principal no cumprimento desta finalidade.
Em terceiro lugar, é função do meio escolar equilibrar os
vários elementos do meio social, e providenciar para que cada indivíduo
tenha a oportunidade de se libertar das limitações do grupo social em que
nasceu, e entrar em contato ativo com um meio mais amplo. Palavras como
"sociedade" e "comunidade" são susceptíveis de induzir em erro, porque
tendem a fazer-nos pensar que há uma única palavra corresponde uma única
coisa. De fato, uma sociedade moderna é constituída por muitas sociedades
com ligações mais ou menos frouxas. As famílias com as suas imediatas
relações de amizades constituem uma sociedade; a aldeia ou grupo de
companheiros de brincadeiras de rua é uma comunidade; cada grupo
profissional, cada clube, é outra. Para além destes grupos mais chegados,
existe num país como o nosso uma variedade de raças, de associações
religiosas, de grupos econômicos. No interior de uma cidade moderna, e
apesar da sua unidade política nominal, há provavelmente mais comunidades,
maior diversidade de costumes, tradições, aspirações, e formas de governo
ou de controle.

Cada um destes grupos exerce uma influência formativa no
caráter ativo destes membros. Cada um constitui tanto um modo de vida
associativa ou comunitária, quanto uma família, uma cidade, ou um estado.
Há também comunidades cujos membros
têm poucos, ou nenhum, contato direto entre si. Porque eles têm alvos
comuns, e a atividade de cada membro é diretamente modificada pelo
conhecimento do que os outros estão a fazer.
Os temas comuns familiarizam todos eles com uma unidade de
perspectivas sobre um horizonte mais amplo do que aquele que é perceptível
aos membros de qualquer grupo que esteja isolado. O poder assimilativo das
escolas públicas Americanas é um testemunho eloqüente da eficácia do apelo
comum e equilibrado.
A escola tem também a função de coordenar as diversas
influencias, no caráter de cada indivíduo, dos vários meios sociais de que
faz parte. Na família prevalece um código; na rua, outro; um terceiro na
oficina ou na loja; um quarto na congregação religiosa. Quando a pessoa
muda de um meio para outro, fica sujeita a forças antagônicas, e corre o
risco de se desintegrar num ser com diferentes padrões de juízo e emoção em
diferentes ocasiões. Este risco obriga a escola a uma pratica estabilizada
e integrada.
A educação sendo um processo social serve como pressuposto
básico para uma análise da educação atual. Através do nascimento inicia-se
o processo de transformação do ser biológico em um ser social, em um ator
social típico de sua classe, de sua sociedade, de seu tempo. Nesse
processo, as bases da individualidade, da personalidade, da identidade e da
cidadania são progressivamente construídas. Nesta abordagem, também é um
pressuposto a concepção sartriana de homem como um vir a ser, de uma
situação em constante e inacabado processo de construção e de reconstrução
conforme SARTRE (1960 P. 17-132).
Denomina-se socialização a esse processo de construção social
do homem.








2. Situando As Relações Família – Escola



A relação entre a escola e a família, além de supostos ideais
comuns, baseiam-se na divisão do trabalho de educação de crianças e jovens,
e envolvem expectativas recíprocas.
Quando se fala na desejável parceria escola-famíla e se convoca
a participação dos pais na educação como estratégia de promoção do sucesso
escolar, não se consideram:
As relações de poder variáveis e de mão dupla, relação de
classe, raça/etnia, gênero e idade que, combinadas, estruturam as
interações entre essas instituições e seus agentes;
As diversidades de arranjos familiares e as desvantagens
materiais e culturais de uma parte considerável das famílias;
As relações de gênero que estruturam as relações e a divisão
de trabalho em casa e na escola.
Para CARVALHO (2000 P. 103) existem dois argumentos que
evidenciam estas questões, o primeiro é que os modos de educação são
historicamente produzidos com base em diversos arranjos, tais como a
família, o trabalho, a escola e os meios de comunicação de massa. A
educação escolar veio a ser o modo predominante na sociedade moderna. O
segundo é que a política educacional, o currículo e a prática pedagógica
articulam os trabalhos educacionais realizados pela escola e pela família
conforme um modelo de família e papel parental ideal, com base nas divisões
de sexo e gênero, subordinando a família à escola e sobrecarregando as
mães, sobretudo as trabalhadoras e chefes de família, portanto perpetuando
a iniqüidade de gênero.
Ao considerar a escola e a família como elementos básicos para
a formação e orientação da aprendizagem da criança e do jovem, não se
pretende tecer uma apologia sobre essas duas instituições sociais e sobre
as funções que elas devem desempenhar no desenvolvimento da aprendizagem em
nosso texto.


"A educação existe no imaginário das pessoas e na
ideologia dos grupos sociais, e ali, sempre se
espera, de dentro, ou sempre se diz para forma,
que a sua missão é transformar sujeitos e mundos
em alguma coisa melhor, de acordo com a simples
imagens que se tem uns dos outros:... e deles
faremos homens". (BRANDÃO, 1981:12).


Recuperaremos o valor social da educação quando a definição de
suas funções for revista, principalmente no âmbito da família e da escola.
Assim, havemos de superar algumas formas estabelecidas de conceber a
educação, tão notadamente presentes em nossa sociedade que transformam num
mecanismo de discriminação, evasão da realidade e o isolamento intelectual.






















CAPÍTULO III



4. EDUCAÇÃO É PROCESSO SOCIAL


4.1 A Filosofia Da Educação

Toda teoria pedagógica tem seus fundamentos baseados num
sistema filosófico. É a filosofia que, expressado uma concepção de homem e
mundo, dá sentido à Pedagogia, definindo seus objetivos e determinando os
métodos da ação educativa. Nesse sentido, não existe educação neutra. Ao
trabalhar na área de educação, é sempre necessário tomar partido, assumir
posições. E toda escolha de uma concepção de educação é, fundamentalmente,
o reflexo da escolha de uma filosofia de vida.
Ao pensar filosoficamente, o educador foge da simplicidade, da
ingenuidade e das explicações mágicas ao interpretar os problemas do
cotidiano, buscando aprofundar sua análise, não se satisfazendo com as
aparências, buscando a causalidade dos fatos de forma inquieta e intensa.
Os professores e professoras, em seu fazer diário, preocupam-se
em demasia com métodos e técnicas em um verdadeiro endeusamento dessas
questões, como se a educação pudesse melhorar a partir da metodologia de
ensino, não querendo aqui minimizar a importância das metodologias; porém,
atentando para que, por vezes, se esquecem de buscar base conceitual que
respalde e sustente tais metodologias, o que deixa bastante explicita na
seguinte citação:
(...) qualquer método ou técnica encontra seus
fundamentos numa psicologia educacional, o que,
por sua vez, encontra seus fundamentos numa
filosofia da educação. O culto indiscriminado da
técnica somente terá fim quando os professores se
lembrarem dessa ligação, pelo menos, começarem a
refletir sobre certas coisas que, para eles,
supostamente são reservadas só para iniciados ou
privilegiados. A educação brasileira não precisa
de pílulas «metodological»; ela precisa, isso, é
de uma injeção de filosofia e política. (SILVA,
1992:32).


A citação vai ao encontro das idéias de SEVERINO (2001, P.
106), que nos faz entender que é tarefa da filosofia da educação
intencionar a prática educacional, dando respaldo para que essa prática
seja pensada, refletida, construída e reconstruída, enfim, seja uma pratica
não apenas empírica, mas também reflexiva, que se aporte na epistemologia.
Para tal, entende que a filosofia não deve ser vista como uma ciência
isolada, mas sim que busca se apoiar em fundamentos históricos e
sociológicos.
Procurando contextualizar o surgimento da filosofia da
educação, SEVERINO (2001, p. 121) aponta que o pensar contemporâneo busca
na ciência, na razão, a explicação para as causas primeiras, fugindo de
toda espécie de transcendentalismo tão presente no pensar medieval, sendo
assim "o racionalismo naturalista moderno transfigura a cosmovisão da
cultura ocidental e instaura uma avassaladora dessacralização da natureza e
da cultura". Fato este que, antes de tudo, atinge as ciências naturais, e,
a seguir, as humanas das quais se originam as ciências da educação. Nessa
perspectiva, a educação passa a ser pensada por meio da ciência, tendo a
filosofia da educação a função de justificar a utilização de recursos
técnicos -científicos que levem ao máximo o desempenho dos sujeitos
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
A educação brasileira é atingida por essa forma de pensar,
segundo SEVERINO (2001, P. 122), nos ideários escolanovistas, que emergem
como contraponto à educação tradicional jesuítica, a qual influencia por
séculos a escola brasileira. Para a Escola Nova: a educação é considerada o
único instrumento apropriado para a construção de uma sociedade laica e
justa, gerenciada por um aparelho estatal que se inaugura a partir de um
projeto político iluministicamente concebido e juridicamente implementado.
A Filosofia da Educação precisa implementar uma reflexão
epistemológica sobre si mesma. Seu papel é descrever e debater a construção
do objeto – educação, pelo sujeito. Sua dupla missão é se justificar e
também rearticular os esforços da ciência, para que estes se justifiquem,
avaliem e legitimem a atividade epistêmica como processo tecido no
texto/contexto da realidade histórico-cultural.

Nessa perspectiva, cabe à filosofia da educação empenhar-se na
construção de uma imagem de homem como sujeito da educação, buscando uma
visão integradora que leve em consideração a historicidade desse ser.


2. A Educação Como Processo Social


O processo educativo é um componente fundamental da vida social
moderna, é peça essencial da socialização dos seres humanos, que acabam se
vendo no espelho como diferentes dos demais animais justamente porque
conseguem viver em comunidades a partir de condições que se expressam de
forma histórica. Somos os únicos animais que tem a referencia do futuro,
construída a partir de nossa compreensão do passado e do presente em
movimento.
A organização desse processo de socialização foi sendo
construída ao longo de milênios, mas foi nos últimos três mil anos que ela
foi tomando a forma de um processo educativo, que agrega elementos que hoje
entendemos como parte do processo ensino-aprendizagem.
A educação, nesse amplo contexto da formação humana ou da
criação da humanidade, deve ser vista como um caminho de organização de
valores, como também um processo de construção de conhecimentos, formação
de habilidades técnicas e cognitivas. Contudo, apesar de fundamental para a
humanidade, o acesso ao conhecimento foi algo muito seletivo, às plebes
cabia o direito de obedecer – para isso tinham que aprender algumas coisas,
inclusive ter medo; às elites era reservado o direito de mandar, fazer
obedecer, criar o temor, processar o controle das massas.
Nos cursos de história ou estudos sociais aprende-se desde cedo
que a Revolução Francesa, de 1789, é uma das maiores referencias políticas
e históricas da formação das democracias modernas. Isto porque, naquele
momento, estavam em luta duas formas de governo, dois sistemas políticos e
sociais. Um deles despótico, representando o velho e o arcaico; o outro
parecia ser participativo, dinâmico e cheio de futuro, pois representava o
novo, as classes desfavorecidas e as classes em ascensão.

Vendo de longe, podemos valorizar aquele momento de passagem
ainda mais se observarmos que ali estava se iniciando um longo processo de
construção da cidadania.
Essa referencia imediata à Revolução Francesa se dá porque
desde aqueles momentos até os dias de hoje vivenciamos uma longa trajetória
de lutas e mudanças de comportamento, que foram, pouco a pouco, fazendo com
que pessoas excluídas dos benefícios sociais fossem se transformando em
indivíduos e depois em cidadãos.
Essa conquista da cidadania não é importante só porque todos os
adultos, independente de sexo, raça ou credos, podem votar e ser votados
mas, porque a pressão democrática colocou em tela as necessidades de todos
e ampliou o leque de direitos que hoje consideramos universais.
É possível, para se compreender melhor o sentido geral da
proposta da Universidade Permanente, fazer-se uma comparação semelhante
àquela que os cientistas sociais fazem entre os primórdios da democracia e
o veloz século XX, onde grande parte dos direitos foi conquistada. Para o
caso da democracia, as conquistas descortinadas no século que acaba de se
concluir somente foram possíveis porque havia uma base valorativa que se
firmou desde a Revolução Francesa. Dessa mesma forma pode-se dizer, com
muita tranqüilidade, que assim como "literatura é linguagem carregada de
significado" nada mais justo que ver a educação como o processo de
construção e reprodução de valores e saberes; especialmente como o meio de
edificação de modos de vida coletivos com base em valores éticos e de
solidariedade.
A educação é o processo de valorização, reprodução e construção
dos significados e dos valores.
Dessa forma, as conquistas democráticas do século XX passam a
marcar profundamente o sentido da educação e as opções que se faz para
incorporar as massas e dar-lhes acesso universal ao ensino. É nesse
contexto que surgem as políticas de educação popular, de educação para o
trabalho, de universalização do ensino e de respeito ao aluno.
Ao analisar os conceitos que estarão sendo sugeridos em
seguida, é importante observar que o ambiente histórico e as referencias de
valores deste projeto da Universidade Permanente estão ligados ao século
XX, mas nosso olhar estará voltado para o futuro. O sentimento de viver no
futuro pode ser a marca deste século XXI que começamos a construir. Por
isso nosso foco será sempre o ser humano em construção, o cidadão que
conquista o direito à educação e, ao mesmo tempo, é desafiado a pensar, a
criar, a reinventar seu mundo.
Deve-se tratar a educação não como adestramento ou o
instrumento de capacitação do indivíduo para o cumprimento de determinada
tarefa. Educação é parte essencial do processo social de construção da
humanidade em cada pessoa. Esse cidadão em construção será, crescentemente,
chamado a descortinar novos caminhos, novas alternativas, novas formas de
se conquistar o bem-estar da humanidade, combinando isso com respeito ao
meio ambiente e demais seres vivos.
Hoje em dia, a educação está, cada vez mais incumbida a
desempenhar um papel fundamental na construção da sociedade democrática.
Ela aparece como condição capaz de equalizar oportunidades e dar acesso
amplo e geral ao produto do conhecimento humano acumulado. "Educação é
simultaneamente a causa, a conseqüência e o facilitador de mudança no
interior de uma sociedade". E, fundamentalmente, a função social da
educação é muito concreta e está necessariamente vinculada ao processo de
conquista e exercício da cidadania plena por todos os membros de uma
sociedade, que se quer intransigentemente democrática.



3. O Papel Social Do Professor


Falar do papel de educadores na sociedade atual demanda
entender como esse foi se constituindo através do caminhar da educação
brasileira. Segundo Gadotti (1998, p. 138), os cursos de formação de
professores, mais especificamente o curso de pedagogia, regulamentado no
Brasil em 1969, no período da ditadura militar, fato este que remete a
pensar em um educador passivo, apolítico, técnico sem preocupações sócio -
políticas, com um agir totalmente desvinculado da realidade na qual se
inseria. Dessa forma, oferece habilitações para supervisão, orientação,
administração, inspeção e planejamento com conotações totalmente
tecnicista, apoiada no treinamento desses profissionais para atuarem nas
escolas com toda a objetividade possível.

Entender a forma que o curso de pedagogia foi regulamentado no
Brasil se faz necessário à compreensão de como essa mentalidade, mesmo que
de forma implícita, ainda permeia o agir de educadores no momento atual,
pois, como nos aponta Sany Rosa (2000, p. 105), a formação do profissional
da educação ao si inicia, ao contrário do que se imagina, quando esse
ingressa em um curso de formação de professores, mas sim desde o primeiro
dia em que esse ingressa na escola como aluno. Suas representações e
significados de educação, vivificados enquanto estudantes, são muito mais
influenciadas pela sua vivencia escolar do que com as teorias que venha a
entrar em contato em sua formação acadêmica.
Sendo que grande parte dos educadores que se encontram em sala
de aula atualmente passou por todo esse sistema repressivo da ditadura
militar e foram alunos de professores que trabalhavam sobre a égide desse
momento histórico, se Sany Rosa tem razão, necessitam sempre refletir,
questionar e rever sua prática pedagógica para não cair em um ciclo vicioso
de reprodução dessa ação castradora. Para Gadotti (1998, p. 71) o
profissional da educação precisa ser desrespeitoso para questionar a
realidade que a ele se apresenta para então promover mudanças sociais.

"É preciso ser desrespeitoso, inicialmente,
consigo mesmo, com a pretensa imagem do homem
educado, do sábio ou mestre. E é preciso
desrespeitar também esses monumentos da
pedagogia, da teoria da educação, não porque não
sejam monumentos, mas porque é praticando o
desrespeito a eles que descobriremos o que neles
podemos amar e o que devemos odiar. Nessas
circunstancias, o educador tem a chance de
repensar o seu estatuto e repensar a própria
educação. O educador, ao repensar a educação,
repensa também a sociedade".


Desrespeitar, no enfoque de Gadotti pode ser entendido como
questionar. Educadores precisam constantemente repensar e revisar suas
crenças mais intrínsecas sobre a representação que tem de educação, pois,
de acordo com Paulo Freire, que já proclamava desde os anos 60, e de acordo
com Gadotti (1998, p.72), a educação não é neutra. Ou se educa para
silencio, para a submissão, ou com intuito de dar a palavra, de não deixar
calar as angustias e a necessidade daqueles que estão sob a
responsabilidade, mesmo que temporária, de educadores e educadoras nos
âmbitos escolares. Sendo assim, métodos e técnicas precisam ser
secundarizados na discussão sobre a educação, o que se deve atentar
prioritariamente é sobre a vinculação entre o ato educativo, o ato político
e o produtivo.
Nesse prima, professores têm um papel político e precisam
problematizar a educação, buscando o porquê e o para quê do ato educativo;
mais que isso, sua tarefa é a de quem incomoda, de quem evidencia e
trabalha o conflito, não o conflito pelo conflito, mas o conflito para sua
superação dialética.
Gadotti (1998, p.74) entende que não há uma educação tão
somente reprodutora do sistema e nem uma educação tão somente
transformadora desse sistema. Essas duas tendências coexistem no plano
educacional numa perspectiva dialética e conflituosa. Sendo assim: há uma
contradição interna na educação, própria da sua natureza, entre a
necessidade de transmissão de uma cultura existente – que é a tarefa
conservadora da educação – e a necessidade de criação de uma nova cultura,
sua tarefa revolucionária. O que ocorre numa sociedade dada é que uma das
duas tendências é sempre dominante.
Sendo assim, o papel dos profissionais da educação necessita
ser repensado. Esses não podem mais agir de forma neutra nessa sociedade do
conflito, não pode ser ausente apoiando-se apenas nos conteúdos, métodos e
técnicas; não pode mais ser omisso, pois os alunos pedem uma posição desses
profissionais sobre os problemas sociais, não com o intuito de inculcação
ideológica de suas crenças, mas como alguém que tem opinião formada sobre
os assuntos mais emergentes e que está disposto ao diálogo, ao conflito, a
problematização do seu saber.
Atualmente não se pode mais apoiar-se em teses que apregoam que
a educação não pode mudar enquanto não houver mudanças estruturais no
sistema. Faz -se necessário acreditar, com Gadotti, que, apesar da educação
não poder sozinha transformar a sociedade em questão, nenhuma mudança
estrutural pode acontecer sem a sua contribuição. A transformação social
que muitos almejam para uma sociedade mais justa, com menos desigualdades,
onde todos tenham voz e vez, só será possível à partir do momento que se
evidenciem os conflitos, não tentando escondê-los ou minimizá-los, mas que
os tragam à tona, para que assim a educação não contribua como mecanismo de
opressão, buscando a superação e não a manutenção do status quo.



4. Educação Familiar e Educação Escolar: Uma continuidade



A educação tem um papel fundamental na produção e reprodução
cultural e social e começa no lar/família, lugar da reprodução física e
psíquica cotidiana, que constituem as condições básicas de toda a vida
social e produtiva. Como processo de socialização, a educação tem duas
dimensões: social que é a transmissão de uma herança cultural às novas
gerações através do trabalho de várias instituições e a individual que é a
formação de disposição e visões, aquisição e conhecimentos, habilidades e
valores. A dimensão individual é subordinada à social no contexto de
interesses objetivos e relações de poder
Antes do surgimento da escola como um lugar separado e
especializado de educação formal, as crianças e jovens educavam-se na
família e na comunidade, inclusive pela participação nas práticas
produtivas e rituais coletivos. A educação como transmissão cultural
distinguia-se em popular e erudita, sendo esta última reservada as elites e
em casa com mestres residentes, ou em colégios internos.
Conforme Carvalho (2004, p. 48), nas sociedades ditas
primitivas, a educação das crianças era uma tarefa comunitária informal e
imersa na vida prática, como ainda ocorre hoje em áreas rurais e urbanas
das regiões pobres do mundo. A educação formal, sinal de distinção cultural
e de classe, era exclusiva dos que tinham nascido no ápice da escala
social.
O advento da escola de massas representou uma solução para a
reprodução social e educação individual na nova ordem urbano-industrial,
substituindo a família e a comunidade. Concretamente, a provisão escolar
atendeu às necessidades de cuidado, instrução e liberação das crianças uma
solução tanto para o lazer dos privilegiados quanto para a exploração dos
numerosos pobres à medida que o trabalho infantil era erradicado, o
ingresso dos jovens no mercado de trabalho era crescentemente adiado, e o
trabalho das mães, além daquele dos pais, afastava-as de casa.
A universalização da escola básica, onde ela aconteceu, significou
democratização da cultura formal, mas também uniformização cultural:
democratização no nível inferior da escolaridade e seleção no nível
superior. Depois de um século de escola para todos, mesmo nos paises ricos,
o sucesso escolar não acontece para todos e a escolarização bem-sucedida
não eliminou a desigualdade social.



4.5 Educação E Família: Uma União Fundamental


Segundo Kaloustian (1988, p. 205), a família é o lugar
indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos
filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma
como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e
materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes.
Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu
espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários e onde se
aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se
constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais.
Gokhale (1980, p. 106) acrescenta que a família não é somente o
berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o centro da
vida social. A educação bem sucedida da criança na família é que vai servir
de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for
adulto. A família tem sido, é e será a influência mais poderosa para o
desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas.
Evidenciado, no nosso tipo de organização social, o papel
crucial da família quanto a proteção, afetividade e educação, onde buscar
fundamentação para a relação educação escola/família. O dever da família
com o processo de escolaridade e a importância da sua presença no contexto
escolar é publicamente reconhecido na legislação nacional e nas diretrizes
do Ministério da Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais como:
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º
e 55.

Política Nacional de Educação Especial, que adota como umas de suas
diretrizes gerais: adotar mecanismos que oportunizem a participação efetiva
da família, no desenvolvimento global do aluno. E ainda, conscientizar e
comprometer os seguintes sociais, a comunidade escolar, a família e o
próprio portador de necessidades especiais, na defesa de seus direitos e
deveres. Entre seus objetivos específicos, termos: envolvimento familiar e
da comunidade no processo de desenvolvimento da personalidade do educando.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96), artigos 1º,
2º, 6º e 12.
Plano Nacional de Educação (aprovada pela Lei nº 10172/2007), que
define como uma de suas diretrizes a implantação de conselhos escolares e
outras formas de participação da comunidade escolar ( composta também pela
família) e local na melhoria do funcionamento das instituições de educação
e no enriquecimento das oportunidades educativas e dos recursos
pedagógicos.
E não podemos deixar de registrar a recente iniciativa do MEC
que instituiu a data de 24 de abril com o Dia Nacional da Família na
Escola. Neste, todas deveriam convidar os familiares dos alunos para
participar de suas atividades educativas, pois conforme declaração do
Ministro Paulo Renato de Souza "quando os pais se envolvem na educação dos
filhos, eles aprendem mais".
















5. CONCLUSÃO



Através deste estudo pudemos examinar a realidade escolar,
notamos que as práticas postuladas nos documentos que se constituem em vias
de acesso que as escolas possuem para implementar processos de integração e
participação familiar que podem e devem ser organizados e executados pela
escola. Essa constatação nos leva a refletir sobre as dimensões da inter-
relação escola-família no âmbito da comunidade e se intenta verificar a
possibilidade de operacionalizar uma orientação que possa refletir a
viabilização de uma inter-relação mais efetiva.
A iniciação das pessoas na cultura, valores e nas normas da
sociedade, começam na família. Para que o desenvolvimento da personalidade
das crianças seja harmonioso é necessário que seu ambiente familiar traduza
uma atmosfera de crescente progressão educativa. Todavia estamos
convencidos que todas as instituições e especialmente a escola deve não só
apoiar e respeitar os esforços dos pais e responsáveis pelos cuidados,
atenção e educação das crianças, e que devem também colocar - se em posição
efetiva de gerar iniciativas dirigidas à elevação e aprimoramento social e
educacional de seus educandos e respectivas famílias. Nessa perspectiva, a
escola por sua maior aproximação às famílias constitui-se em instituição
social importante na busca de mecanismos que favoreça um trabalho avançado
em favor de uma atuação que mobilize os integrantes tanto da escola, quanto
da família, em direção a uma maior capacidade de dar respostas aos desafios
que impõe nossa sociedade. Essa visão, certamente, contribui para que
tenhamos uma maior clareza do que podemos fazer no enfrentamento das
questões sócio-educativas no conjunto do movimento social.
As ações de caráter pedagógico que as escolas podem dirigir
para favorecer as famílias devem fazer parte de seu projeto e para que isso
possa acontecer é fundamental que as ações em favor da família sejam
desenvolvidas e presididas pelos princípios da convergência e da
complementaridade. Nesse sentido é importante que o projeto inicial se faça
levando em conta os grandes e sérios problemas sociais tanto da escola como
da família.

Substancialmente o que a escola deve fazer é melhorar a posição
da família na agenda escolar já implementada pela legislação existente.
Promover a família nas ações dos projetos pedagógicos significa enfatizar
ações em seu favor e lutar para que possa dar vida às leis. Mais do que
criar um novo espaço para tratar das questões da família ou da escola, a
própria escola deve articular seus recursos institucionais, de maneira a
assegurar que as reflexões, os debates, os estudos e as propostas se ação
possam servir de embasamento para que o desenvolvimento social se
concretize por meio de práticas pedagógicas educativas efetivas.
Para isso precisamos não só aprender sobre os princípios de
convivências comunitárias como também exercitar esses princípios por meio
de relações mais frutíferas e compromissadas com o desenvolvimento
educacional e social. Precisamos revitalizar nossas comunidades colaborando
para colocar claramente os princípios da inter-relação numa prática de
relações sociais fortalecidas pelo respeito, pela eficácia das ações e pela
luta por uma cidadania digna.
Nesse sentido, as mudanças estruturais e conjunturais dos
componentes educacionais em questão necessitam incorporar nas suas relações
as formulações desses princípios e utilizá-los como guias para manter pais
e professores no caminho do desenvolvimento estável e progressivo. O
primeiro desses princípios é a noção de interdependência. A dependência
mútua de todas as pessoas. Essa é a natureza de todo e qualquer
relacionamento social. Compreender a interdependência social significa
compreender relacionamentos e valorizar a importância que eles tem na
formação e no desenvolvimento das pessoas.
A cooperação é o segundo princípio no estabelecimento das
relações sociais. A troca de recursos educacionais e de impressões
educativas se mantém e se sustentam quando permanece fortalecida a ajuda
mútua. A incorporação desse princípio relacional se torna significativo na
medida em que vai se consolidando a integração da escola com a família.
O terceiro princípio é a interação dos agentes escolares e
familiares. As ações relacionais só podem ser mantidas por meio desse
processo. Nas suas relações cada um influencia o outro e desde essa
perspectiva educativa, os professores são considerados como as pessoas mais
preparadas e capazes de elevar o nível de desenvolvimento não só dos
alunos, mas de sua família também.

A integração desses fatores nessa proposta nos fornece uma nova
configuração da relação família-escola e ressalta a importância da função
reitora da escola no sentido de considerar as necessidades familiares no
que diz respeito aos aspectos psicológicos, sociais e éticos de uma relação
significativa com os outros, de crescimento da própria competência
educativa ou de uma participação na definição do significado experimental
da sua vida pessoal, social e educacional.
Construir a parceria entre escola e família é um trabalho
exigente que terá de levar em consideração as condições reais da escola, da
família e, também, desses novos filhos/alunos.
O tema, por sua complexidade, permite múltiplas visões. As
relações família e escola precisam ser analisadas do ponto de vista da
cultura, o que implica visões de mundo diferenciadas, tanto no que se
refere aos valores, quanto à realidade sócio-econômica.


























6 REFERÊNCIAS


BRASIL. Estatuto da criança e do Adolescente. Lei nº 8069, de julho de
1990


CARVALHO, M.E.P. – Pesquisa sobre o dever de casa; práticas atuais e
visões de professores, estudantes de pedagogia e mãe; análise preliminar.
João Pessoa: Centro de educação da UFPB, 2000.


GADOTTI, Moacir (1998): Pedagogia da práxis, 2ª ed., São Paulo, Cortez.


GOKHALE, S.D. A família desaparecerá? In Revista Debates Sociais nº 30,
ano XVI. Rio de Janeiro, CBSSIS, 1980.


KALOUSTIAN, S.M. (org) Família Brasileira, a base de tudo. São Paulo:
Cortez; Brasília, DF: UNICEF, 1988.


ROSA, Sanny S. da (2000): Construtivismo e mudança, São Paulo, Cortez
editora.


SATRE, J.P. – Questões de método – São Paulo: Nacional, 1960.


SILVA, E.T. (1992): Os (dês) caminhos da escola: traumatismo
educacionais, 4ª ed, São Paulo, Cortez.


http://www.espacoeducacional.com.br/mundo_educacional.asp?id_materia=14


http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/pef/pef0.htm


http://www.psicopedagogia.com.br/download/monografia.doc
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