PSICOPEDAGOGIA – UM OLHAR SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM CAUSADAS PELOS FATORES AMBIENTAES

September 12, 2017 | Autor: Mara Brum | Categoria: Education
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PSICOPEDAGOGIA – UM OLHAR SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM CAUSADAS PELOS FATORES AMBIENTAES

Marília de Fátima Pereira Lee 1 Mara L T Brum 2

RESUMO

O artigo faz um breve estudo sobre a psicopedagogia e as dificuldades de aprendizagem causadas por fatores ambientais. Buscando discutir a influencia dos fatores ambientais, familiares e escolares e suas reais conseqüências para o aprendizado dos alunos e como a psicopedagogia pode contribuir e ajudar a minimizar. A metodologia usada foi pesquisa qualitativa bibliográfica buscando a aprofundar questões relacionadas à psicopedagogia e fatores ambientais; verificando a atuação do psicopedagogo nessas questões, procurando desta forma contribuir na produção e sistematização de conhecimento que possam subsidiar a pratica educativa no campo da psicopedagogia .

Palavras - Chave: Psicopedagogia , Fatores Ambientais, Aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO “Temos que ser iguais todas as vezes que as diferenças nos inferiorizam, e temos que ser diferentes todas às vezes que as igualdades nos descaracterizam” (Boaventura Santos)

O artigo nasceu do desejo de aprofundar o conhecimento sobre os problemas de aprendizagem causados por fatores ambientais. Alguns estudos apontam os fatores ambientais como causadores das dificuldades de aprendizagem, tendo em vista que algumas crianças aprendem mesmo apresentando problemas clínicos enquanto outras clinicamente saudáveis apresentam dificuldade no aprendizado muitas vezes levando a evasão escolar. Nota-se um frágil olhar da escola frente aos fatores ambientais no aprendizado das crianças, dificultando cada vez mais o desenvolvimento de ações voltadas para as reais necessidades dos alunos. 1 2

Graduada em Pedagogia –ULBRA Mestranda em educação – UFPEL

Percebe-se que o ambiente familiar contribui para o fracasso ou para o sucesso escolar, cabendo a psicopedagogia alavancar meios para unir família e escola em prol do aprendizado do aluno. O artigo que vai promover um espaço de reflexão sobre as contribuições e importância da psicopedagogia nas dificuldades de aprendizagem causadas por fatores ambientais na família e escola. As dificuldades de aprendizagem ocorrem devido a várias razões. Uma delas é que a criança apresenta alguma dificuldade cognitiva particular que faz com que seu aprendizado de certas habilidades se torne mais difícil que o normal. Entretanto, algumas dificuldades - talvez a maioria delas - são resultantes de problemas educacionais ou ambientais que não estão relacionados às habilidades cognitivas da criança. Estratégias educacionais ineficientes podem afetar gravemente o nível de aprendizado da criança. Fracasso escolar precoce pode levar à perda da autoconfiança com efeitos subseqüentes no aprendizado. Uma grande gama de variáveis associadas ao ambiente familiar também contribuem para as dificuldades de aprendizagem. Algumas vezes, todos os diferentes fatores estão interligados. Mas, independente de causa primária, as crianças com dificuldades de aprendizagem estão defasadas em relação aos seus colegas no que diz respeito a importantes aspectos do aprendizado. O meio é o contexto no qual as crianças interagem. A compreensão do meio é importante em dois aspectos. Primeiro, o meio pode ser em alguns casos, o fator agravante do problema de uma criança. Se este é o caso, então o psicopedagogo deve ter por objetivo mudar tanto quanto possível os fatores ambientais que contribuem para a dificuldade de aprendizagem da criança. Em segundo lugar, mesmo se o meio não for um fator que contribui para uma dificuldade de aprendizagem, muitas vezes é possível modificá-lo de tal maneira que facilite a aquisição da habilidade que a criança não tem. O grande problema é saber de fato o quanto o meio social interfere no aprendizado das crianças e como o Psicopedagogo poderá ajudar nesse processo. Como a psicopedagogia vai atuar nos fatores ambientações formados pelo ambiente familiar e pelo ambiente escolar levando o aluno ao aprendizado significativo. A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem, ou seja, contribuir na busca de soluções para a difícil questão do problema de aprendizagem. A aprendizagem deve ser olhada como a atividade de indivíduos ou grupos humanos, que mediante a incorporação de informações e o desenvolvimento de experiências,

promovem modificações estáveis na personalidade e na dinâmica grupal as quais revertem no manejo instrumental da realidade. Nos diversos autores estudados fica claro que o objeto central de estudo da psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos e a influência do meio (família, escola, sociedade) em seu desenvolvimento.

2 A PSICOPEDAGOGIA

A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e atuação em Saúde e Educação, enquanto prática clínica, tem-se transformado em campo de estudos para investigadores interessados no processo de construção do conhecimento e nas dificuldades que se apresentam nessa construção. Como prática preventiva, busca construir uma relação saudável com o conhecimento, de modo a facilitar a sua construção. Kiguel (1983) ressalta que a Psicopedagogia encontra-se em fase de organização de um corpo teórico específico, visando à integração das ciências pedagógicas, psicológica, fonoaudiológica, neuropsicológica e psicolingüística para uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem humana. Segundo Scoz, a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizandoos (2002, p.2) O foco de atenção do psicopedagogo, é a reação da criança diante das tarefas, considerando resistências, bloqueios, lapsos, hesitações, repetição, sentimentos de angustias. O psicopedagogo ensina como aprender e para isso necessita aprender o aprender e a aprendizagem. Para os profissionais brasileiros (Maria M. Neves; Kiguel; Scoz; Golbert; Weiss; Rubinstein pode-se verificar que o tema da aprendizagem ocupa os e preocupa-os, sendo os problemas desse processo (de aprendizagem) a causa e a razão da psicopedagogia. Para os Argentinos também a aprendizagem preocupa, ou seja, “a aprendizagem com seus problemas” constitui-se no pilar-base da psicopedagogia. São eles: Alícia Fernandez, Sara Pain, Jorge Visca, Mariana Muller. Para Sisto (1996) é uma área de estudos que trata da aprendizagem escolar, quer seja no curso normal ou nas dificuldades. Campos (1996), considera que os problemas de aprendizagem constituem-se no campo da Psicopedagogia.

Por Sousa (1996), a Psicopedagogia é vista como área que investiga a relação da criança com o conhecimento. A Psicopedagogia é uma área de estudos nova que pode e está atendendo os sujeitos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Bossa (1994), a Psicopedagogia nasce com o objetivo de atender a demanda – dificuldades de aprendizagem. Para Kiguel, "o objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos – bem como a influência de meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento" (2001, p. 24). De acordo com Neves, "a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos" (2001, p. 12). Segundo Jorge Visca, a Psicopedagogia, que inicialmente foi uma ação subsidiária da Medicina e da Psicologia, perfilou-se como um conhecimento independente e complementar, possuída de um objeto de estudo – o processo de aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. O profissional deve compreender o que o sujeito aprende, como aprende e porque, além de perceber a dimensão da relação entre psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem. Cabe a ele saber como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. Esse saber exige que o psicopedagogo recorra a teorias que lhe permitam aprender, bem como às leis que regem esse processo: as influências afetivas e as representações inconscientes que o acompanham, o que pode comprometê-lo e o que pode favorecê-lo. O referencial teórico pesquisado diz que o psicopedagogo é o profissional que auxilia na identificação e resolução dos problemas no processo de aprender.O Psicopedagogo possibilita a intervenção visando à solução dos problemas de aprendizagem tendo como enfoque o aprendiz ou a instituição no ensino público ou privado. Realiza a avaliação, o diagnóstico e intervenção psicopedagógica, utilizando métodos, instrumentos e técnicas próprias da Psicopedagogia; Segundo os autores pesquisado o termo dificuldade de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio, mas a vários problemas que podem afetar qualquer área do desempenho

acadêmico. O que as crianças com dificuldades de aprendizagem têm em comum é o baixo desempenho inesperado. São Inúmeras as teorias para explicar a aprendizagem humana e qualquer bom livro sobre o tema descreve o pensamento de vários autores que nos apresentam suas concepções sobre o processo de aprender. Elas vão desde o comportamentalismo, que prevaleceu no início do século passado, até o construtivismo que despontou no final do século e ocupa, até hoje, lugar de destaque. Nas filosofias behavioristas, a aprendizagem pode ser observada (e mensurada) pelos

comportamentos

intencionalmente.

manifestos

pelos

sujeitos,

após

terem

sido

estimulados,

Segundo esse paradigma, caso as condutas definidas nos objetivos

comportamentais não se manifestem é porque houve um problema, geralmente atribuído ao próprio aprendiz, por algum déficit que apresente ou por sua incapacidade de reagir adequadamente aos estímulos que lhe foram oferecidos. Nas explicações behavioristas para as dificuldades de aprendizagem não há referências sobre o funcionamento da mente ou sobre as emoções do aprendiz.(Moreira, 1999). Nas filosofias cognitivistas - das quais o construtivismo faz parte -, ao contrário do comportamentalismo, toda a ênfase deve ser colocadas nos processos mentais superiores (percepção, processamento de informações, resolução de problemas, compreensão, atribuição de significados, armazenamento de informações, uso dos saberes construídos, etc.) que permitem aos sujeitos conhecer o mundo e construir suas estruturas cognitivas, ou atualizar potenciais latentes.(Valett, 1972). As dificuldades de aprendizagem, segundo esse paradigma, podem ser explicadas pelas limitações dos sujeitos em processar ou utilizar, adequadamente, as informações que recebem do meio, mostrando-se como ‘incapazes’ de aprender, de compreender, de ler, escrever, calcular, de conservar, reunir, ordenar, classificar, abstrair. (Valett, 1972) Mesmo sem levar a extremos a contribuição das neurociências e, nelas, o papel do cérebro, alguns teóricos cognitivistas relacionam as dificuldades de aprendizagem a disfunções cerebrais, enquanto que outros levantam hipóteses distintas e que se afastam das lesões ou disfunções. Apelam para imaturidade, para o atraso no desenvolvimento de certas habilidades como: as perceptivo-motoras; as responsáveis em manter a atenção seletiva; a memória; o processamento das informações ou à existência de potencial intelectual médio ou baixo, dentre outras habilidades.(França, 1996). Segundo a concepção teórica de Vygotsky, parece-nos que as dificuldades de aprendizagem podem ser explicadas segundo a lei da dupla formação, cuja explicação é: no

desenvolvimento dos indivíduos qualquer função mental aparece duas vezes, primeiro em nível social e depois em nível individual. Em outras palavras, primeiro entre pessoas (daí a importância da mediação) e depois no interior do próprio aprendiz (pela internalização do conhecimento construído). Com base nessas premissas, as dificuldades podem ser geradas desde fora do sujeito, na mediação (que inclui a inadequação dos instrumentos ou signos utilizados) ou, ainda, no interior do próprio aprendiz, devido a algum problema biológico ou conseqüência psicológica das suas relações com o ambiente. Para Campus (1983, p.15), a eficiência da aprendizagem está diretamente ligada á existência de problemas, que vão surgindo na vida do aprendiz,que lhes leve a uma situação de insegurança , tendo em vista o resultado de seu fracasso. É evidente que a aprendizagem depende de inúmeras condições, que freqüentemente atuam inter-ligadas: idade, ambiente sócios cultural , experiências anteriores, necessidades, comportamentos, condições ambientais, entre outros. Cada um destes fatores é fundamental para que o aprendizado seja eficaz. Nos Fatores Ambientais a extensão em que as crianças são afetadas por dificuldades na aprendizagem freqüentemente é decidida pelo ambiente no qual vivem. As condições em casa e na escola, na verdade, podem fazer a diferença entre uma leve deficiência e um problema verdadeiramente incapacitante. Segundo Paín 3 (1985, p. 33) o fator ambiental é, especialmente determinante no diagnóstico do problema de aprendizagem, na medida em que nos permite compreender sua coincidência com a ideologia e os valores vigentes no grupo. A sociedade, caracteriza-se por situações de injustiça e desigualdade.Esses problemas atingem as crianças, que enfrentam inúmeras dificuldades para aprender. O tipo de educação, familiar, o grau de estimulação que a criança recebe desde os primeiros anos de vida e a influencia dos meios de comunicação. Os fatores ambientais, eles se relacionam mais especificamente sobre a estrutura da família, escola, moradia, bairros, disponibilidade de ter acesso ao conhecimento.

O aluno e um ser social com cultura, linguagem e valores

específicos, quando apresenta dificuldades de aprendizagem deve ser levado em conta sua realidade individualidade e particulares, ou seja e preciso buscar as causa do não aprendizado muitas vezes no meio social.

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PAÍN, Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985

No ambiente doméstico torna-se cada vez maior a preocupação dos pais em acertar na educação dos filhos. Segundo Pain (1992), Alguns dos principais fatores etiológicos e sociais que interferem na aprendizagem são: Carências afetivas, deficientes condições habitacionais, sanitárias, de higiene e desnutrição, pobreza da estimulação precoce, privações lúdicas, psicomotoras, simbólicas e culturais, ambientes repressivos, nível elevado de ansiedade, relações interfamiliares, métodos de ensino impróprios e inadequados. Piletti4 (1984) considera, assim como diversos outros autores, que as primeiras experiências educacionais da criança, geralmente são proporcionadas pela família. Fatores como à estrutura familiar devem ser levados em conta pois nem todos os alunos pertencem a famílias, com recursos suficientes para uma vida digna. Normalmente, verificam-se situações diversas: os pais estão separados e o aluno vive com um deles; o aluno é órfão; o aluno vive num lar desunido; o aluno vive com algum parente. Muitas vezes, essas situações trazem obstáculos à aprendizagem, não oferecem à criança um mínimo de recursos materiais, de carinho, compreensão, amor. Os pais podem influenciar a aprendizagem de seus filhos através de atitudes e valores que passam a eles. Pais autoritários- manifestam altos níveis de controle, de exigências de amadurecimento, porém baixos níveis de comunicação e afeto explícito. Os filhos tendem a ser obedientes, ordeiros e pouco agressivos, porém tímidos e pouco persistentes no momento de perseguir metas; baixa auto-estima e dependência; filhos pouco alegres, mais coléricos, apreensivos, infelizes, facilmente irritáveis e vulneráveis às tensões, devido à falta de comunicação desses pais. Pais permissivos, pouco controle e exigências de amadurecimento, mas muita comunicação e afeto; costumam consultar os filhos por ocasião de tomada de decisões que envolvem a família, porém não exigem dos filhos, responsabilidade e ordem; estes, tendem a ter problemas no controle de impulsos, dificuldade no momento de assumir responsabilidade; são imaturos, têm baixa auto-estima, porém são mais alegres e vivos que os de pais autoritários. Pais democráticos - níveis altos tanto de comunicação e afeto, como de controle e exigência de amadurecimento; são pais afetuosos, reforçam com freqüência o comportamento da criança e tentam evitar o castigo; correspondem às solicitações de atenção da criança; esta tende a ter níveis altos de autocontrole e auto-estima, maior capacidade para enfrentar situações novas e persistência nas tarefas que iniciam; geralmente são interativos, independentes e carinhosos; costumam ser crianças com valores morais interiorizados.( Piletti 1984).

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PILETTI,Nelson. Psicologia Educacional. São Paulo: Ática,1999.

Para Smith & Strick 5 (2001, p. 31) um ambiente estimulante e encorajador em casa produz estudantes adaptáveis e muito dispostos a aprender, mesmo entre crianças cuja saúde ou inteligência foi comprometida de alguma maneira. Crianças privadas de um ambiente estimulante nos primeiros anos em geral adquirem mais lentamente as habilidades cognitivas básicas. Têm fracas habilidades sociais e tendem a se comunicar mal. Não usam suas capacidades intelectuais em seu benefício e podem mostrar pouca curiosidade ou interesse por aprender, não possuem autoconfiança. São também menos persistentes que outras crianças, quando encontram problemas. Os professores observam que eles antecipam o fracasso, parecendo "desistir antes de começar". A educação familiar adequada é feita com amor, paciência e coerência, pois desenvolve nos filhos autoconfiança e espontaneidade, que favorecem a disposição para aprender. Percebe-se que o ambiente escolar e o sistema educacional não oferecem oportunidades apropriadas de aprendizagem, os alunos talvez nunca possam desenvolver plenamente suas capacidades. Salas de aulas abarrotadas, professores sobrecarregados ou pouco treinados e suprimentos inadequados de bons materiais didáticos comprometem a capacidade dos alunos para aprender. O estilo de aprendizagem deve ser variado - um aluno cuja orientação é principalmente visual e exploratória, por exemplo, precisa ver e tocar as coisas a fim de entendê-las. Ele não se sairá bem com professores que "palestram" o tempo todo. Muitos alunos fracos são vítimas da incapacidade de suas escolas para ajustarem-se às diferenças individuais e culturais. Para crianças com dificuldades de aprendizagem, a rigidez na sala de aula é fatal. Elas devem ser encorajadas a trabalhar no seu próprio modo. Se forem regularmente envergonhados ou penalizados por seus fracassos, provavelmente não permanecerão motivadas por muito tempo. A classe certa, o currículo certo e o professor certo são críticos para essas crianças, e sua escolha, em geral, faz a diferença entre o fracasso frustrado e o sucesso sólido. Paín (1985, p.33) destaca que embora o fator ambiental incida mais sobre os problemas escolares do que sobre os problemas de aprendizagem propriamente ditos, esta variável pesa muito sobre a possibilidade do sujeito compensar ou descompensar o quadro. Copiando Lima, Sandra dentro da escola existe, entre outros fatores que podem afetar a aprendizagem: o professor, a relação entre os alunos, os métodos de ensino e o ambiente escolar. O autoritarismo e a inimizade geram antipatia por parte dos alunos. A 5 SMITH & STRICK. Dificuldades de Aprendizagem de A a Z . São Paulo: Artes Médicas, 2001.

antipatia em relação ao professor faz com que os alunos associem a matéria ao professor e reajam negativamente ambos. O respeito entre os alunos será influenciado pela relação que o professor estabelece com os alunos: um professor dominador e autoritário estimula os alunos a assumirem comportamentos de dominação e autoritarismo em relação a seus colegas. Para aprender, o aluno precisa de um ambiente de confiança, respeito e colaboração com os colegas. Plagiando Lima, Sandra em seu artigo os métodos de ensino também podem prejudicar a aprendizagem. Se o professor for autoritário e dominador, não permitirá que os alunos se manifestem, participem, aprendam por si mesmos. O ambiente escolar também exerce muita influência na aprendizagem, o tipo de sala de aula, a disposição das carteiras e a posição dos alunos, por exemplo, são aspectos importantes que muitas vezes passam despercebidos aos olhos dos professores, mas que não foge ao olhar de um psicopedagogo. Diretor e outros funcionários também podem influenciar de forma negativa ou positiva a aprendizagem. Se os alunos forem respeitados, valorizados e merecerem atenção por parte da administração, a influência será positiva. Se, ao contrário, predominar a prepotência, o descaso e o desrespeito, a influência será negativa. De acordo com Paín (1985, p.33) o problema de aprendizagem que se apresenta em cada caso, terá um significado diferente porque é diferente a norma contra a qual atenta e a expectativa que desqualifica. No âmbito escolar, certas qualidades do professor, como paciência, dedicação, vontade de ajudar e atitude democrática, facilitam a aprendizagem. Ao contrário, o autoritarismo, a inimizade e o desinteresse podem levar o aluno a desinteressar-se e não aprender. Além disso, métodos didáticos que possibilitam a livre participação do aluno, a discussão e a troca de idéias com os colegas e a elaboração pessoal do conhecimento das diversas matérias, contribuem de forma decisiva para a aprendizagem e desenvolvimento da personalidade dos alunos. E preciso valorizar o saber do aluno, fazer com que esse aluno sinta-se integrado ao ambiente escolar, onde ele pode expor seu conhecimento, duvidas e problemas sem ser descriminado pelos colegas ou ridicularizado pelos professores. Pois ninguém escolhe nascer pobre muito menos com dificuldades para o aprendizado. O psicopedagogo tem muito a contribuir para adaptação desse aluno oriundo das camadas populares menos favorecidas fazendo um trabalho de rede, entre pai, escola e professores. O estudo revê-la sob o enfoque psicopedagógico, as dificuldades de aprendizagem representam uma questão extremamente complexa e, qualquer tentativa de explicação que atribua suas origens a uma única causa, será insuficiente e falha.

Mas, o que se aprende na psicopedagogia é que a criança não é a única e solitária responsável pelos problemas que enfrenta. Tampouco se justifica deslocar da criança para seus pais, irmãos, para os professores ou para o sistema educacional a responsabilidade por seu fracasso. Não é a busca de ‘ culpados’ que permitirá encontrar as soluções. As críticas que se fazem às teorias unicausais referem-se ao fato destas não considerarem o conjunto de fatores que se dinamizam em torno do aprendiz e que, além das pessoas com as quais interage inclui, também, o ambiente social, o ambiente escolar e o contexto sócio-econômico e cultural em que se insere. Percebe-se que as mais significativas contribuições da abordagem psicopedagógica residem, portanto, em mostrar as evidências de que as dificuldades de aprendizagem que levam ao fracasso não dependem de uma única causa e que, apenas conhecê-las não será o bastante para resolver a questão. Aprender e não-aprender dependem de um conjunto nada trivial de fatores que se interligam, dinamizando aspectos subjetivos dos aprendentes e dos ensinantes além dos fatores objetivos do contexto familiar e educacional escolar, incluindo-se nestes os pedagógicos e as relações que se estabelecem entre pessoas e com os objetos do saber. Dizendo de outro modo, sob a abordagem psicopedagógica, as dificuldades de aprendizagem

são

analisadas

sob

a

dimensão

plurifatorial,

implicando

em

interdisciplinaridade, na medida em que várias áreas do saber oferecem conhecimentos indispensáveis para entender a aprendizagem humana, quando bem sucedida ou não. Muito além da reunião entre Pedagogia e Psicologia, como erradamente se supõe ser a estrutura teórica da psicopedagogia, a psicanálise, a antropologia, a sociologia, dentre outras áreas do conhecimento compõem o seu referencial de estudos. Pedro Demo(1997) 6 define a força e a importância da interdisciplinaridade: [...] como arte do aprofundamento, com sentido de abrangência, para dar conta, ao mesmo tempo, da particularidade e da complexidade do real. Precisamente porque este intento é complexo, a interdisciplinaridade leva a reconhecer que é melhor quando praticada em grupo, somando qualitativamente as especialidades. (p. 97-98)

Mas, para haver a interdisciplinaridade não bastam os múltiplos olhares, os múltiplos saberes. Estes precisam ser compartilhados por meio de relações dialógicas nas quais as falas do Outro, ainda que diferentes da minha fala, precisam ser ouvidas e reconhecidas como

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DEMO, P. Conhecimento moderno. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

contribuições que garantam o meu saber no saber do outro e vice-versa. O conhecimento ‘ novo’ surgirá fortalecido porque constituído na interação. A abordagem da psicopedagogia, pela multiplicidade de olhares que se integram, permite que educadores e familiares modifiquem suas atitudes frente às dificuldades de aprendizagem de qualquer pessoa; analisando-as a partir da incessante dialética entre o equipamento heredo-biológico, materializado num corpo e num organismo e os ambientes nos quais o educando vive e se constitui como um ser de desejos, de pensamentos e de ações. Sito a contribuição de Scoz (1994) 7, por considerar que sintetiza a mensagem que se buscou compartilhar: (...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto possível, a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade (p.22).

Espera-se que a abordagem da psicopedagogia permita melhor compreensão das dificuldades de aprendizagem, sem penalizar os sujeitos, mas buscando-se a melhor ajuda para todos. Finalizando a aprendizagem é considerada a matriz da própria vida e, por isso, a compreensão e o tratamento que se da às pessoas - com ou sem problemas de desenvolvimento - não devem mais se apoiar nos pressupostos que trazem consigo a idéia de menos-valia e de diferença que gera preconceitos. Em função desse entendimento, é que a psicopedagogia é o mais indicado no caso de se tratar problemas de aprendizagem. O psicopedagogo contribui abrindo possibilidades de mudança a partir da diferenciação, resgatando no aluno o prazer de aprender e tornando-o único a seus próprios olhos, aos olhos de sua família e da escola. Psicopedagogo e educando vão construindo juntos estratégias para um melhor desempenho, segundo suas potencialidades e interesses.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a psicopedagogia, o problema de aprendizagem está vinculado às formas singulares de cada pessoa pensar. Não é considerado como um desvio, mas como um sintoma

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SCOZ,B. A psicopedagogia e a realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Rio de Janeiro:Vozes, 1994.

ou uma reação ao ambiente, um sinal de que algo – inconscientemente - não está bem. Não existe, aqui, a comparação com um “normal” e não existe uma única causa, nem uma só situação determinante do problema de aprendizagem. O que existe é a historicidade dessa pessoa (do ponto de vista psicológico, pedagógico, social e clínico). Nessa história particular está incluídos o lugar subjetivo dela na família, a forma de circular o amor e o conhecimento na família, na escola e nos diversos grupos do qual ela faz parte. Todos esses aspectos contribuíram, de alguma maneira, para que ela não se percebesse inteligente e não se sentisse capaz de aprender com autonomia e com prazer, produzindo assim a dificuldade para aprender. Assim, a avaliação e o diagnóstico psicopedagógicos começam com um conjunto de hipóteses que se constroem a cada encontro com a pessoa, com os pais e com a escola. Isto permite observar a dinâmica da modalidade de aprendizagem individual e familiar e como esta foi interpretada por ele e seus pais. A postura, o olhar e a escuta do psicopedagogo são dirigidas para a pessoa e para sua história de aprendizagens e de não aprendizagens sempre levando em conta que é alguém único e especial que está diante dele. Por isso é uma escuta atenta, que vai além das evidências geralmente já observadas pela família e pela escola. Assim, o entendimento da origem das dificuldades de aprendizagem e das significações inconscientes delas na família,na escola e nas relações sociais, leva o psicopedagogo, junto com os demais profissionais que avaliaram o educando a determinar as prioridades de intervenção. O objetivo será sempre de abrir caminhos onde a autoria de pensamento seja possível, ou seja, onde possa surgir uma pessoa capaz de aprender, satisfeita consigo mesma e que se perceba inteligente e integrante do sistema de ensino. Voltando as questões iniciais, atualmente, a Psicopedagogia trabalha com uma concepção de aprendizagem com disposições afetivas e intelectuais que interferem na forma de relação do sujeito com o meio, sendo que essas disposições influenciam e são influenciadas pelas condições socioculturais do sujeito e do seu meio. Na pesquisa realizada identificou-se que a psicopedagogia vem contribuindo com muito sucesso nas diversas Instituições, sejam escolas, hospitais e empresas. Seu papel é analisar os fatores que favorecem, intervem ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição. Verificou-se que o meio social onde o educando vive atua de forma direta e indireta sobre o aprendizado deste aluno, assim a escola poderá ser uma porta para o aprendizado como poderá ser um entrave nesse processo; Tudo vai depender de como a escola recebera esse aluno e como a famílias vai preparar esse aluno para o ingresso no meio escolar. Muitas das dificuldades de aprendizagem causadas por fatores ambientais poderão ser

minimizadas quando escola, família, professores e psicopedagogos começarem a trabalhar em rede; quando a escola partir para realidade do aluno, o aluno encontrara significado na escola . O estudo mostrou que o psicopedagogo é o profissional importante na identificação e resolução das dificuldades de aprendizagem, pois está capacitado para lidar com fatores ambientais e orgânicos que leva a multi repetência e à evasão escolar, conduzindo a marginalização social. A Psicopedagogia tem muito a ensinar sobre o vínculo professor/aluno, professor/escola, aluno/escola, aluno/família e sua incidência na construção do conhecimento e na constituição subjetiva de alunos e educadores. Finalizo com o pensamento de Jacques Delors “Aprender a ser, a fazer, a viver juntos e a conhecer constituem aprendizagens indispensáveis que devem ser perseguidas de forma permanente pela política educacional de todos os países.”

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