Qual a verdadeira finalidade do ensino da língua inglesa na escola

June 1, 2017 | Autor: Flavius Anjos | Categoria: Applied Linguistics
Share Embed


Descrição do Produto

Qual a verdadeira finalidade do ensino da língua inglesa na escola? Publicado: Quarta, 01 Junho 2011 18:57 Escrito por Flavius Almeida dos Anjos Na formação permanente dos professores o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. Paulo Freire (1996) Resumo: O presente artigo traz uma reflexão acerca da verdadeira finalidade do ensino da língua inglesa nas escolas. Tal reflexão nos conduziu a caminhos que parecem ser desconhecidos pelos professores. Este trabalho mostra como o ensino da língua inglesa apresenta finalidade que precisa ser bem definida para os participantes do processo de ensinar e aprender Inglês, intencionando obter resultados que realmente justifiquem a sua inclusão nos currículos escolares. Traz também considerações importantes sobre o tema, que sinalizam para uma educação humanista, promotora de cidadania, que promovam o desenvolvimento de comportamentos, posturas, crenças, identidades e da consciência intercultural crítica de todos que do processo participem. PALAVRAS-CHAVE: língua inglesa; finalidade; ensino; identidade. Abstract: This article comes up with a reflexion on the true aim of teaching English at schools. Such a reflexion took us to a way that seems to be unknown by teachers. It shows how the English language teaching presents aim that needs to be clear for the participants of the English teaching and learning process, aiming at getting results that really justify its inclusion on the curriculums. It also brings important considerations on the present theme that indicate a humanist education, that promote citizenship, the development of behaviors, postures, beliefs, identities and of the critic intercultural awareness of those who take part in the process. KEY-WORDS: English language; aim; teaching; identity.

1.Introdução O ensino da língua inglesa nas escolas brasileiras há muito tempo tem sido alvo de críticas, desmerecimento e desprestígio. Muito, também, tem se discutido sobre as metodologias para o ensino da LI, suas implicações, e muitas crenças têm sido levantadas quanto a isso. Inclusive a pior que poderíamos imaginar, a de que é impossível se aprender inglês nas escolas públicas.

Toda essa discussão em torno do ensino e da aprendizagem da língua inglesa tem gerado uma série de pesquisas no Brasil que tem revelado como está este processo.(Barcelos & Abrahão, 2006; Leffa 1999; Lima 2009; Moita Lopes, 1996; Paiva, 2005; Rajagopalan, 2006) apenas para citar alguns.

Assim, baseado nestes e em outros estudos, este trabalho busca compreender a finalidade do ensino da língua inglesa nas escolas regulares, pois ela o justifica. A justificativa social para a aprendizagem da LE no Brasil só recentemente tem preocupado aqueles envolvidos no ensino. Uma das dificuldades para as LE no currículo é justamente a de justificar socialmente sua presença. (Cf. MOITA LOPES, 1996).

Desse modo, ao analisar alguns estudos que apontam para a verdadeira finalidade do ensino da língua inglesa, este artigo traz uma concepção política do ensino, e não metodológica, pois não isola a sala de aula, não trata de supostos problemas de ordem metodológica, mas a pensa com o resto do mundo, buscando mostrar o espaço político do aluno e do professor na sala de aula, e os benefícios que se pode adquirir através da LI.

2. Aspectos relativos à finalidade do ensino e da aprendizagem da língua inglesa Não é de hoje que o ensino das línguas estrangeiras Brasil vem sendo discutido, refletido e mal interpretado ao longo dos anos, talvez por não se acreditar na sua relevância ou se desconhecer a sua verdadeira finalidade. Quanto a isso, Moita Lopes (1996) assegura que o campo de ensino de línguas estrangeiras no Brasil tem sido vítima de uma série de mitos, oriundos da falta de uma reflexão maior sobre o processo.

Apesar de longos anos dedicados à discussão sobre o processo de ensino e aprendizagem da língua estrangeira, ele permanece ineficiente nas escolas públicas. Isso

parece estar acontecendo por não se atender à finalidade do ensino que o momento em que vivemos exige.

Vale ressaltar que a finalidade do ensino e da aprendizagem das línguas estrangeiras deve ser norteada de acordo com o contexto histórico, está relacionada ao momento cultural vivido pelos estudantes. A despeito disso, Oliveira (2009) acentua que: “Entre os séculos IX e XIX, época em que viajar era uma atividade extremamente difícil, pela falta de meio de transportes rápidos e confortáveis, o contato entre as culturas comumente se dava por meio dos textos literários. Nada mais natural, portanto, do que o ensino de línguas estrangeiras voltado para o desenvolvimento da competência de leitura dos estudantes”. (OLIVEIRA, 2009, p. 23).

Logo, o ensino e a aprendizagem da língua inglesa nas escolas públicas precisa também atender às exigências de hoje. Eles têm sido baseados nos aspectos gramaticais apenas. Por isso tem sido maçante e desinteressante. O que não é difícil de constatar, “o retrato negativo no uso e na aprendizagem de língua inglesa na sala de aula, em especial da escola pública, pode ser confirmado por inúmeros depoimentos”.(cf. SCHEYERL, 2009, p. 126).

Os estudos conduzidos por Basso (2006) com professores e alunos de LI revelaram que as aulas são baseadas em exercícios gramaticais e a gramática aparece como o que eles menos gostam de fazer. Ela menciona ainda que continuamos a ter professores como simples repassadores de um novo código, tendo a gramática como único recurso e foco principal em suas aulas, apoiados na crença de que saber a língua corretamente antecede o saber a usá-la e que, se aprendem assim, esse deve ser o caminho para ensinar.

Esta prática de ensino, infelizmente, parece ter espaço freqüente nas salas de aula de língua inglesa. Entretanto, a atual conjuntura mundial requer outra forma de ensino. Hoje em pleno século XXI, com o novo cenário mundial estabelecido, com o advento

da Internet, com o encontro das culturas, é imprescindível um programa de ensino de línguas dinâmico e envolvente, para o desenvolvimento da competência comunicativa e da consciência intercultural crítica, dentre outras coisas. Desta forma se estará desenvolvendo conscientemente um ensino que tende a minimizar resultados insatisfatórios.

E estes resultados parecem ser o reflexo da falta de esclarecimento acerca da verdadeira finalidade do ensino. Nesse sentido, Rajagopalan (2003, p. 70) nos diz que “o verdadeiro propósito do ensino de línguas estrangeiras é formar indivíduos capazes de interagir com pessoas de outras culturas e modos de pensar e agir. Significa transformar-se em cidadãos do mundo”.

Todavia, as universidades e as escolas precisam definitivamente inteirar-se sobre a finalidade do ensino da língua estrangeira. Quanto a isso, Bagno (2002), em ensaio acerca da formação do professor de língua, assevera que: “o objetivo da escola, no que diz respeito à língua, é formar cidadãos capazes de se exprimir de modo adequado e competente, oralmente e por escrito, para que possam se inserir de pleno direito na sociedade e ajudar na construção e na transformação dessa sociedade, é oferecer a eles uma verdadeira educação linguística”.

Também endossamos as palavras de Moita Lopes (1996, p. 76), compartilhadas por Scheyerl (2009, p.128), quando diz que: “espera que a escola, como instituição, não forneça apenas instrumentos adequados ao contexto dos alunos de língua estrangeira, mas meios de instrução que estimulem a consciência crítica, refletindo habilidades que tenham cunho socialmente justificáveis”.

Por isso é que o professor e as instituições de ensino precisam entender o mundo, o momento social, político e econômico e conduzir o ensino da língua inglesa de acordo com as exigências do hoje e promover um espaço mais inclusivo.

Para que isso aconteça é preciso que entendamos que o mundo passa por um processo de desenvolvimento global, as culturas se encontram e as identidades se fragmentam, se reconstroem. O mundo mudou. E vai continuar mudando para atender às necessidades de cada geração. Hoje em dia, ser capaz de acompanhar as mudanças, conhecer-se e conhecer o outro é uma habilidade importantíssima que toda e qualquer disciplina deve abordar. Com a língua inglesa não deve ser diferente, ela traz essa finalidade também. E é justamente isso que vai desfazer fatores que têm contribuído para injustificar o ensino da língua inglesa.

Alguns fatores corroboram para injustificar o ensino e a aprendizagem da língua inglesa nas escolas públicas. A despeito disso, Oliveira (2009, p. 22) nos alerta que: “se não houver uma função clara, um objetivo claro, para a aprendizagem, não se pode justificar a manutenção de uma língua estrangeira no currículo das escolas públicas”.

Subjacente a este pensamento, Paiva (2005, p.9), ao elaborar estudo, diagnosticou o desconhecimento dos alunos sobre a necessidade e a razão para se aprender uma língua estrangeira e lamenta o fato de não saberem a importância do Inglês na vida deles e os sentimentos negativos que a disciplina e o professor despertam nos aprendizes.

A falta de esclarecimento da verdadeira finalidade do ensino da língua Inglesa nas escolas, para os docentes e discentes, resulta em fatores problemas, que constituem “barreira institucional e socialmente validadas contra quaisquer projetos pessoais ou coletivos de mudanças” (Donnini et al 2010, pg. 14). Entre esses problemas, cabe destacar: timidez, medo de errar, o uso inadequado de material didático e eletrônico,

metodologia inadequada, a aparente falta de praticidade da língua alvo, o grande número de alunos numa sala de aula, falta de interesse por parte do aluno e do professor.

Para por fim nestes problemas, o que nós, professores de LI, precisamos enxergar é justamente os objetivos e finalidades do ensino desta língua multinacional. Só a partir daí é que o ensino da LI fará sentido, tanto para quem ensina quanto para quem aprende.

3. Ensinar e aprender inglês para que? A língua Inglesa tem se consagrado como segunda alternativa de comunicação na maioria dos países; é a língua dos esportes, do cinema, da Internet; é usada nos restaurantes, hotéis, nos negócios, nos aeroportos; em congressos, na diplomacia, nos meios científicos e na publicidade. Neste sentido Paiva (2005) cita Ventura que nos diz que: “O inglês é uma epidemia que contamina 750 milhões de pessoas no planeta[1]. Essa língua sem fronteiras está na metade dos 10.000 jornais do mundo, em mais de 80% dos trabalhos científicos e nos jargões de inúmeras profissões, como a informática, a economia e a publicidade” (PAIVA, 2005, p. 10).

De modo semelhante, Le Breton (2005, p. 21) chegou à conclusão de que o Inglês de língua nacional, se tornou imperial, e tende a tornar-se universal, e não apenas por uma questão de geografia. Ele aspira manifestamente a se tornar a língua do progresso, da ciência, da pesquisa; a língua da inovação, da conquista material; a língua da riqueza; a língua dos homens que são seguros de si e que podem ser tomados como modelo, sem deixar de ser a língua do não-conformismo e da liberdade de espírito.

Por isso, língua Inglesa não é mais vista meramente como um fenômeno lingüístico através do qual se dissemina o progresso econômico da Inglaterra e dos Estados Unidos, hoje ela vai muito além disso

No entanto, devemos estar conscientes e buscar ensinar a usar a língua com outros propósitos; como por exemplo, para instrução, promover a solidariedade e a cidadania. (LEFFA, 2006).Este tipo de ensino faz-se necessário, para que o aprendiz possa se inserir e integrar-se em contextos diversos, e conseqüentemente acessar o mundo pósmoderno.

Desse modo, devemos ensinar e aprender Inglês, pois este processo possibilita a ativação ou ampliação das nossas formas de ver o mundo; teremos, assim, a oportunidade de refletir sobre a nossa própria cultura, o nosso ser, virtudes e ações, medindo, através de comparações, as nossas formas de agir, pensar e sentir, enriquecendo e muito a nossa formação, tornando significativos o ensino e a aprendizagem.

4. O professor de língua inglesa orientado pela verdadeira finalidade do ensino A finalidade do ensino da língua inglesa deve orientar todo o processo da aprendizagem. Neste sentido, Richards (2006, p.38) sugere que o objetivo das aulas de línguas estrangeiras é preparar os alunos para a sua sobrevivência no mundo real.

Por sua vez, Lima (2009) reflete sobre esse assunto e sugere que ensinar uma língua estrangeira implica a inclusão das competências gramatical e comunicativa, proficiência na língua, assim como a mudança de comportamento e de atitude em relação à própria cultura e às culturas alheias.

É necessário que se compreenda a finalidade do ensino da língua inglesa para que este processo passe a fazer sentido no seio escolar, assumindo o seu verdadeiro valor

educativo, que vai muito além de simplesmente capacitar o aluno a usar uma determinada língua para fins comunicativo ou cumprir exigências legais.

Por conta disso, discordamos de Oliveira (2010, pg. 30) quando ao postular sobre as funções do ensino de LE na escola pública, o autor atribui, dentre outras, a função legalista, isto é, cumprir o que o MEC determina. Não se trata aqui de uma função, mas de uma suposta (im)posição, sem disseminar as verdadeiras finalidades, contribuindo para a construção de discursos equivocados quanto ao ensino e aprendizagem da língua inglesa.

Dessa forma seria importante encontrarmos maneiras de desconstruir o discurso de que o aprendizado da língua inglesa é almejado apenas como meio para a obtenção de emprego, aprovação em concursos, viagem internacional, etc.

Paiva (2009, p. 33) em suas investigações sobre aquisição da língua estrangeira, utilizando um corpus de narrativas de aprendizagem, onde os participantes contam como aprenderam ou aprendem diversas línguas, concluiu que quando motivados, os aprendizes utilizam a LE para determinadas finalidades fora da sala de aula, tais como: ouvir música, ouvir programas de rádio e TV, assistir filmes, interagir com estrangeiros. No entanto, a autora acentua que isso, apesar de ideal, raramente acontece na escola.

Tal processo precisa ter sentido para os alunos e o professor tem papel crucial para a consolidação dele. Assim, os resultados serão outros na sala de aula. Por isso é que concordamos quando Scheyerl (2010, p. 131) afirma que: “a eficácia pedagógica dependerá principalmente da ação desenvolvida em sala com os alunos, pois é o professor quem tem a posição privilegiada de negociar, sugerir, incentivar e orientar as mudanças necessárias para que o processo de aprendizagem, como um todo, funcione de modo harmônico e produtivo”.

Esta autora chama atenção para uma educação humanista, promotora de cidadania, levando os alunos à autonomia para pensar e agir criticamente. (cf. SCHEYERL, op. cit).

Alinhado a esse pensamento, à luz da pedagogia crítica, Leffa (2006) sugere o ensino da LE com o objetivo específico da solidariedade internacional, cultivando o amor entre as pessoas, independentemente de religião, nacionalidade ou regionalidade.

É preciso lançar mãos de práticas educativas que criem e desenvolvam sentimentos, valores, condutas, posturas e identidades dos participantes desse processo e a escola é o espaço para se fazer isso, embora não o faça com frequência. A despeito disso, Brun (2003, p. 107) diz que: “o sistema escolar, de maneira geral, não consegue praticar o ideal humanista que advoga, e a escola raramente leva em consideração os valores, os sentimentos, as percepções, as atitudes e qualquer outra categoria de conduta associada à subjetividade humana”.

O argumento de Brun (2003) pode sustentar-se na observação de que a escola não consegue praticar porque muitos professores são “treinados” para atuar de modo a transmitir conceitos acerca da fonologia, fonética, morfologia, sintaxe, semântica da língua, sem, no entanto, voltarem os olhos para a relação entre esse sistema linguístico e o sistema cultural local e global e a cidadania, por exemplo.

Neste cenário, cabe especialmente ao professor conduzir o processo para torná-lo reflexivo para todos que fazem parte dele. É preciso entendê-lo dessa forma e assim sair do que Siqueira (2008) chamou do “estado de silêncio” ou de “ignorância confortável”, ensinando conteúdos que façam sentido na vida social, que promovam o desenvolvimento de todos que dele participem.

5. Convergências e divergências nas abordagens de ensino e o papel do professor brasileiro de inglês Ao argumentar sobre o ensino da língua inglesa nas escolas públicas, Moita Lopes (1996), inicialmente, sugere o ensino com foco na leitura e assegura que este ensino instrumental colabora com o desenvolvimento da habilidade em língua materna, geradores de problemas, com os quais também se defrontam as crianças, assim como faz desenvolver a capacidade de letramento global.

No entanto, vê-se aqui um equívoco do argumento do autor, uma vez que ele pontua que a única justificativa social para a aprendizagem da língua inglesa no Brasil tem a ver com a leitura, tendo em vista ser essa a única habilidade que atende as necessidades educacionais e que o aprendiz pode usar em seu próprio meio.

Por outro lado, concordamos quando Schimitz (2009, p.18) ressalta que “uma política de ensino de línguas que enfatiza somente a leitura enfraquece o papel do professor de língua estrangeira”.

Moita Lopes (1996, pg. 130) salienta também que “considerar o ensino de Inglês no Brasil como um recurso para a comunicação oral parece negar qualquer relevância social para a sua aprendizagem”.

O ensino da compreensão oral assim como da habilidade de falar é essencial. A comunicação via internet, assistir a um filme em inglês pode representar não só momento em que a LE pode ser apreciada em uso, bem como caracteriza exemplos que representam a continuidade do uso, após o término de um curso, sem contar o quão gratificante é ser capaz de entender um filme ou um e-mail na LE que estamos aprendendo.

Nesse aspecto, portanto, Schimitz (2009, p.14) chama atenção para o fato de muitos brasileiros usarem inglês no seu dia a dia, no trabalho, e que muitos falam inglês e outras línguas estrangeiras do que os ingleses ou americanos, o que parece desmistificar a crença levantada por Moita Lopes (1996).

No entanto, os problemas não se resumem apenas nos objetivos desse processo. Apesar de todos os problemas que as escolas públicas apresentam, por não disporem de recursos necessários para a consolidação das aulas, número inadequado de alunos por turma, carências de recursos audiovisuais, o fator mais dificultador ainda é o professor. Quanto a isso Oliveira (2010, pg. 29) seguramente afirma que “a grande maioria dos professores de línguas estrangeiras nas escolas públicas no Brasil falam muito pouco ou não falam a língua estrangeira que lecionam”.

Schmitz (2010, p. 17), por sua vez, compartilha dessa ideia ao postular que: “se o profissional de LE não fizer uso do idioma na sala de aula, estará abrindo mão da qualificação que mais o caracteriza e que mais o distingue dos professores de outra matéria: a sua condição de ser bilíngue, de poder transitar entre duas culturas”.

Parece-nos relevante aqui mencionar que, diante de tal realidade, é preciso repensar os currículos dos cursos superiores e a formação do professor de LE, buscando uma formação crítica e reflexiva, deixando de ser uma formação “conteudista”, geradora de crenças do tipo “finjo que ensino, eles fingem que aprendem”. Nesse sentido, Leffa (2007) assinala que como o professor não tem o domínio da língua que deveria ensinar, fica repassando com o aluno as páginas do livro didático com os exercícios devidamente preenchidos pelo autor do livro, fazendo de conta que ensina.

Por outro lado, o professor orientado pela verdadeira finalidade do ensino da língua inglesa passa a entender as dimensões desse processo, compreendendo, como afirma

Siqueira (2009, p. 80), que “as aulas de língua estrangeira devem, dentre outras coisas, servir como espaço para discussão de assuntos relevantes para a formação do(a) aprendiz.”

O ensino e a aprendizagem da língua inglesa deve ainda ser momento que proporcione oportunidade para explorar diferentes visões, desenvolvendo uma perspectiva multicultural crítica. Não apenas a do aprendiz, mas também a do professor, proporcionando o crescimento de ambos. Desse modo, a língua inglesa deve ser apenas o meio através do qual se pode criar e desenvolver pontos de vistas relacionados à esperança, à paz, à cidadania, aos direitos humanos, a condutas, a valores, crenças, tornando o processo prazeroso e significativo para os participantes.

Desse modo, é que na sala de aula de língua inglesa, o professor, na posição de intelectual

transformador[2],

compartilhando

conhecimento,

privilegiando

a

diversidade, o diálogo, a esperança, a paz, atitudes, crenças, capazes de conduzir os aprendizes ao desenvolvimento da consciência intercultural crítica, atenderá aos aspectos inerentes à verdadeira finalidade do ensino de LE.

6. Considerações finais Ao finalizar este trabalho, cheguei a conclusão que refletir criticamente sobre a prática profissional produz mudanças que vão nos condicionando ao progresso. Mas é preciso reconhecer onde estamos e onde queremos chegar mudando. Bem postula Freire (1996, p. 39) quando diz que “quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me”.

Mudança exige reflexão sobre as práticas. Por isso que, em se tratando do ensino e aprendizagem, mudanças no processo exigem uma tomada de consciência sobre o real para se buscar o ideal.

Como um peso negativo recai sobre o ensino das línguas estrangeiras, que são apontadas como desnecessárias, irrelevantes do ponto de vista educacional, para a formação do aprendiz, é preciso, ao contrário do que se pensa, atenção especial e refletir sobre os recursos materiais e humanos adequados, que revelem a sua verdadeira finalidade.

Como educadores, devemos mostrar que a LE é útil, transforma, faz progredir quem dela se apropria, nos insere no mundo. Ela nos dá base para analisar, compreender, aceitar e participar da vida do outro.

Por fim, o processo, ao que tudo indica, parece estar sendo mal conduzido, negando política e/ou ideologicamente aos participantes a sua verdadeira finalidade, que é preparar para conhecer outras maneiras de ser, agir, pensar e sentir. A LE é apenas um meio através do qual se possibilitará a intervenção no mundo. Por isso, precisamos acertar os passos, pensar e agir corretamente e com ética compartilhar o que tem sido ocultado a quem de direito. Só assim as dimensões social, ética e política, inerentes ao processo de ensino/aprendizagem das línguas estrangeiras entrarão em cena, desfazendo equívocos, atendendo a verdadeira finalidade desse processo.

Flavius Almeida dos Anjos [email protected]

Referências BAGNO, Marcos. STUBBS, Michael. GAGNÉ, Gilles.(2002) Língua materna, letramento, variação & ensino. São Paulo: Parábola. BARCELOS, Ana Maria Ferreira & ABRAHÃO, Maria Helena Ferreira. (orgs). (2006).Crenças e ensino de línguas: foco no professor, no aluno e na formação de professores. Campinas: Pontes. BRUN, Millena. Dificuldades na aprendizagem de línguas e meios de intervenção.(2003). In: Sitientibus. Feira de Santana: UEFS. pg. 105-117. BASSO, Edcleia A. Quando a crença faz a diferença. In: BARCELOS, Ana Maria Ferreira & ABRAHÃO, Maria Helena Ferreira. (orgs). (2006). Crenças e ensino de línguas: foco no professor, no aluno e na formação de professores. Campinas: Pontes. p. 65-85. DONNINI, Lívia. PLATERO, Luciana. WEIGEL, Adriana.(2010). Ensino de Língua Inglesa. São Paulo: Cengage Learning. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa.(1996). São Paulo: Paz e Terra. GIROUX, Henry A. Professores como intelectuais transformadores. In: GIROUX, H. A. (1997). Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Trad.: Daniel Bueno. Porto Alegre, Artmed. LE BRETON, Jean-Marie.(2005). Reflexões anglófilas sobre a geopolítica do inglês. In: A geopolítica do Inglês. São Paulo: Parábola. LEFFA, Vilson J.(2001). Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras. In: O professor de línguas estrangeiras, construindo a profissão. Pelotas. p. 333-335. LEFFA, Vilson J.(2007). Pra que estudar Inglês profe?: Auto-exclusão em língua estrangeira. Claritas, São Paulo. Disponível em: http://www.leffa.pro.br/textos/trabalhos/auto_exclusão_le.pdf. Acesso em 06/01/11. LEFFA, Vilson J. Língua estrangeira hegemônica e solidariedade internacional. Disponível http://www.leffa.pro.br/textos/trabalhos/lingua_hegemonia_solidariedade.pdf (link indisponível, ver com o autor). Acesso em: 06:01/11. LIMA, Diógenes Cândido de (org.).(2009). Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa. Conversas com especialistas. São Paulo: Parábola. MOITA LOPES, Luiz Paulo da.(1996).“Yes, nós temos bananas” ou “Paraíba não é Chicago não”, um estudo sobre alienação, e o ensino de inglês como língua estrangeira

no Brasil. In: oficina de lingüística aplicada. Campinas, SP: Mercado de Letras. pg. 3761. MOITA LOPES, Luiz Paulo da.(1996).“Eles não aprendem português quanto mais inglês. A ideologia da falta de aptidão para aprender línguas estrangeiras em alunos de escola pública. In: oficina de lingüística aplicada. Campinas, SP: Mercado de Letras. pg. 63-79. MOITA LOPES, Luiz Paulo da.(1996). A função da aprendizagem de línguas estrangeiras na escola pública. In: Oficina de Linguística aplicada. Campinas, SP: Mercado de Letras. pg. 127-189. OLIVEIRA, Luciano Amaral.(2009).Ensino de língua estrangeira para jovens e adultos na escola pública. In: LIMA, Diógenes Cândido de (org.). Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa. Conversas com especialistas. São Paulo: Parábola. p. 21-30.. PAIVA, Vera Lúcia Menezes e. (org).(2005).Ensino de língua Inglesa: reflexões experiências. São Paulo: Pontes. PAIVA, Vera Lúcia Menezes e.(2009).O ensino de língua estrangeira e a questão da autonomia. In: LIMA, Diógenes Cândido de (org.). Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa. Conversas com especialistas. São Paulo: Parábola. p. 31-38. PAIVA, Vera Lúcia Menezes e.(2005).Projeto AMFALE: aprendendo com memórias de falantes e aprendizes de línguas estrangeiras. Belo Horizonte: UFMG. Disponível em:http://www.veramenezes.com/nosprofessores.htm (link indisponível, ver com o autor). Acesso em 23/12/2010. RAJAGOPALAN, Kanavillil. (2003).Por uma lingüística crítica. Linguagem, identidade e a questão ética.São Paulo: Parábola. RAJAGOPALAN, Kanavillil.(2009).O inglês como língua internacional na prática docente. In: LIMA, Diógenes Cândido de (org.). Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa. Conversas com especialistas. São Paulo: Parábola. p. 39-46. RICHARDS, Jack C.(2003).O ensino comunicativo das línguas estrangeiras. In: RENANDYA, Willy A. & RICHARDS, J. C Portfólio SBS 13. São Paulo:SBS. SCHEYERL, Denise.(2009).Ensinar língua estrangeira em escolas públicas noturnas. In: LIMA, Diógenes Cândido de (org.). Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa. Conversas com especialistas. São Paulo: Parábola. p.125-139. SIQUEIRA, Domingos Sávio Pimentel. O desenvolvimento da consciência intercultural crítica como forma de combate a suposta alienação do professor brasileiro de inglês. In: Revista Inventário. 4ª ed. Julho/2005. Disponível em http:// www. Inventario.ufba.br/04/04ssiqueira.htm. SIQUEIRA, Domingos Sávio Pimentel.(2009).Como abordar questões ideológicas nas aulas de língua estrangeira? In: LIMA, Diógenes Cândido de (org.). Ensino e

Aprendizagem de Língua Inglesa. Conversas com especialistas. São Paulo: Parábola. pg. 79-92. SCHMITZ, John Robert.(2009).Ensino/aprendizagem das quatro habilidades lingüísticas na escola pública: uma meta alcançável? In: LIMA, Diógenes Cândido de (org.). Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa. Conversas com especialistas. São Paulo: Parábola. p. 17-20.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.