Qualidade da água de cisterna relacionada à sua origem

May 31, 2017 | Autor: L. Moraes | Categoria: Water quality, Rainwater Harvesting, Rural Drinking Water
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Comunicação submetida ao 17.º ENASB, Guimarães, 14-16 setembro 2016 TEMA: Abastecimento de Água 1 ___________________________________________________________________________________

QUALIDADE DA ÁGUA DE CISTERNA RELACIONADA À SUA ORIGEM CISTERN WATER QUALITY RELATED TO ITS ORIGIN Lidiane Kruschewsky Lordelo a, Patrícia Campos Borja b, Rosilei Nascimento Santana c, Milton José Porsani d, Luiz Roberto Santos Moraes e a

Engenheira Sanitarista e Ambiental (UFBA). MSc. em Desenvolvimento Regional (UFBA). Doutoranda em Energia e Meio Ambiente (Cienam/UFBA). Professora Assistente do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. b Engenheira Sanitarista e Ambiental (EP/UFBA). MSc. em Arquitetura e Urbanismo (FA/UFBA). Dra. em Arquitetura e Urbanismo (FA/UFBA). Professora Adjunto do Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. c Bacharela em Ciência e Tecnologia (UFBA). Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental (UFBA). d Geólogo, MSc em Geofísica pela Universidade Federal do Pará (1981), Dr. em Geofísica pela Universidade Federal da Bahia, Professor Titular da Universidade Federal da Bahia, (1986). [email protected] e Engenheiro Civil e Sanitarista, MSc em Engenharia Sanitária pela Delft University of Technology-NE (1977) e PhD em Saúde Ambiental pela University of London-UK (1996). Professor Titular e Participante Especial da Universidade Federal da Bahia – [email protected] RESUMO O trabalho avalia a qualidade da água reservada em cisterna de cinco municípios do Semiárido Baiano, Brasil, com precipitações inferiores a 600mm/ano. Essas cisternas foram implantadas a partir do Programa Um Milhão de Cisterna do governo brasileiro. No período seco, as cisternas são abastecidas a partir da captação de água no rio São Francisco e no período chuvoso é realizada a captação de água de chuva. Muito frequentemente essas águas são misturadas em face da escassez. A metodologia utilizada foi aplicação de questinário a partir de uma amostra aleatória em domicílios e análise da qualidade bacteriológica e físico-química da água. Os resultados sugerem que as cisternas implantadas não dispõem das barreiras sanitárias para a garantia da qualidade da água captada nos telhados e o manuseio domiciliar da água tem comprometido a sua qualidade. Por outro lado, as águas que abastecem as cisternas nos períodos de seca, não atendem ao padrão de potabilidade. Assim, comparando as duas situações, a qualidade da água para os parâmetros físico-químicos se apresentaram melhor para as águas de chuva, e quanto aos paramêtros bacteriológicos, não houve diferença, pois ambas mostram-se alteradas. Palavras Chave – Qualidade da água, cisterna, água de chuva.

ABSTRACT The article evaluates the quality of the reserved water in the cistern in five municipalities of Bahia semiarid with rainfall lower than 600 mm / year. These cisterns were deployed from the Program A Cistern Million Brazilian government. In the dry season, cisterns are supplied from the water uptake in the São Francisco River and in the rainy season, the capture of rainwater is held. The methodology used was a questionnaire from a random sample of households and analysis of bacteriological and physical-chemical water quality. The results suggest that deployed cisterns do not have the health barriers for water quality assurance captured the roofs and household management of water has compromised its quality. Comunicação submetida ao On the other hand, the water supplying tanks in periods of drought, do not attend the potability 2 17.º ENASB, 14 a 16 de Setembro 2016 standard. So comparing the two situations, the quality of water for physic-chemical parameters ___________________________________________________________________________________ performed better for rainwater. As for bacteriological parameters, there was no much difference, since both show up changed. Keywords – Water quality cistern, rainwater. APESB

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Comunicação submetida ao 17.º ENASB, Guimarães, 14-16 setembro 2016 TEMA: Abastecimento de Água 3 ___________________________________________________________________________________

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INTRODUÇÃO

O acesso à água para garantir o abastecimento humano tem sido um desafio no planeta e no Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2008, cerca de 12.148.032 brasileiros não dispõem de abastecimento de água. O acesso a esse direito humano fundamental é desigual entre as regiões do País, sendo que os melhores indicadores encontram-se nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Em 2008, a região Nordeste registrou o maior deficit absoluto de acesso ao abastecimento de água adequado, atingindo quase 7,7 milhões de pessoas (14,4% de sua população) (IBGE/PNAD, 2008). Na região Norte esse indicador era de cerca de 2,8 milhões de pessoas (17,3% de seus habitantes). A região Nordeste possui a pior situação considerando a população atingida e na Norte registra-se a maior proporção em termos populacionais. O Sudeste, com 1,2 milhões de pessoas compondo o déficit, o Sul (por volta de 313 mil) e o Centro-Oeste (aproximadamente 254 mil) possuem menos de 2% de seus habitantes vivendo em condições inadequadas de abastecimento de água. Cerca de 73% desse déficit concentra-se na área rural, onde, aproximadamente, 8,8 milhões de brasileiros não possuem acesso adequado ao abastecimento de água, enquanto 3,3 milhões de habitantes da área urbana encontram-se na mesma situação. Em regiões semiáridas a escassez de água para consumo humano se constitui em um drama social vivenciado por milhares de pessoas. A situação se agrava durante os longos períodos de estiagem, quando a necessidade diária de se buscar água obriga, notadamente, mulheres e crianças, a percorrerem longas distâncias na busca desse líquido tão essencial à vida. Na tentativa de garantir o abastecimento de água para a população, especialmente nessas regiões, o uso das cisternas para aproveitamento de água de chuva vem sendo adotado. A cisterna é utilizada para captar água da chuva nos períodos chuvosos e reservar a água para uso durante os meses secos. O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), do governo federal, visou implantar essa tecnologia nas regiões com déficit de abastecimento de água para consumo humano, notadamente na região semiárida brasileira. A alternativa da cisterna vem sendo implementada no Semiárido do estado da Bahia como uma tecnologia social integrante de uma nova abordagem da problemática da seca que pressupõe a convivência com semiárido. Porém, a depender das regularidades das chuvas e do período de seca o abastecimento de água fica prejudicado. Em muitas situações, ações do Poder Público são necessárias de forma a abastecer as cisternas com água captada em rios ou poços. Assim, as cisternas passam a funcionar como um tanque armazenador de água. Independentemente das fontes de água a população usuária necessita de orientações para o manuseio adequado de forma a garantir qualidade da água. No caso da captação de água de chuva essas orientações envolvem a limpeza do reservatório/cisterna, padrão de higiene para o uso e existência das instalações para captação das águas e barreiras sanitárias (calha, tubulação, desvio das primeiras águas, tampa, bomba, extravasador). A inexistência desses cuidados podem interferir na qualidade da água. Por outro lado, quando a água armazenada na cisterna não é de chuva e sim de corpos d´água superficiais ou subterrâneos deve-se garantir a sua potabilidade diante da vulnerabilidade dessas fontes, assim como os cuidados pelos moradores no manuseio doméstico e limpeza do reservatório. Diante das formas de uso da cisterna e a utilização para captação de água de chuva ou armazenamento de águas subterrâneas ou superficiais, estas normalmente sem tratamento prévio, esse trabalho se propõe analisar a qualidade da água da cisterna a partir de duas fontes: água de chuva e corpo d´água superficial. Como área de estudo, foram analisadas as cisternas de cinco municípios do Semiárido do estado da Bahia, na região Nordeste do Brasil.

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METODOLOGIA

A pesquisa se caracteriza por um estudo quali-quantitativo. Assim, foram utilizadas técnicas de pesquisa quantitativas e qualitativas de forma a propiciar uma maior compreensão das variáveis gerenciais, técnicas, operacionais, institucionais que influenciam na qualidade da água das cisternas. As cisternas estudadas são de placa de concreto e fazem parte do Programa 1 Milhão de Cisternas. Somando ao levantamento bibliográfico sobre o tema, a pesquisa foi realizada em cinco municípios do Semiárido Baiano selecionados considerando os seguintes critérios: situação de escassez hídrica (precipitação média anual menor que 600mm) e população do município (menor que 20.000 habitantes). Assim, foram selecionados municípios considerados mais vulneráveis, onde espera-se que as dificuldades sejam mais evidentes possibilitando realizar inferências em situações mais desfavoráveis. O Quadro 1 apresenta os municípios estudados e os dados referentes a população, precipitação e amostra. Quadro 1 – Municípios selecionados para o trabalho de campo Município

População

Quantidade de cisternas executadas

Precipitação média anual

(Censo 2010 – IBGE)

Amostra

(mm/ano)

Abaré

408

17.084

435,5

88

Chorrochó

483

10.734

477,4

105

Glória

129

15.078

552,9

31

Macururé

161

8.073

491,9

36

Santa Brígida

402

5.080

591,2

87

3.336

56.049

Total

347

Para a definição das amostras do estudo procedeu-se ao cálculo de uma amostra aleatória estratificada com alocação proporcional e amostragem aleatória simples sem reposição. Fezse estimativas de tamanho da amostra segundo as variáveis de estudo, ou seja: qualidade bacteriológica da água, considerando-se a proporção de amostras fora do padrão bacteriológico da Portaria no 2.914/2011 do Ministério da Saúde do Brasil; consumo médio per capita de água; e as variáveis sobre o uso e funcionamento das cisternas. Para estimar a amostra foram considerados a proporção para a qualidade da água e a proporção para as demais variáveis, conforme o Quadro 2. Quadro 2 – Fatores que influenciaram no cálculo da amostra Proporção para a qualidade da água

Proporção para as demais variáveis

a) Variabilidade máxima, p = 0,7 e q = (1 – p) = 0,3;

a) Variabilidade máxima, 0,5;

b) um erro máximo estimação de 5%;

b) um erro máximo admissível para a estimação de 5%;

admissível

c) um grau de confiança de 95%.

para

a

p = 0,5 e q = (1 – p) =

c) um grau de confiança de 95%.

A aplicação dos questionários e coleta e análise das águas da cisterna foram feitos a partir de sorteio aleatório da cisterna. Foram aplicados questionários domiciliares com questões abertas e fechadas sobre aspectos tecnológicos da cisterna e das instalações hidráulicosanitárias junto a uma amostra de famílias beneficiadas nos municípios selecionados. Foram realizadas duas campanhas de coleta de amostras de água na cisterna nos domicílios das famílias pesquisadas, sendo uma no período seco ou de estiagem e outra no período chuvoso. Foram analisados os parâmetros físico-químicos e bacteriológicos, conforme apresentado no Quadro 3. As amostras coletadas foram analisadas por meio do Kit Alfakit, método aprovado pela Agência de Proteção Ambiental Norte Americana – EPA, que demonstrou eficiência por meio do método Standard Methods for Examination of Water and Wast Water, tendo sido aprovado e registrado pelo Ministério da Saúde (MS) do Brasil. O APESB

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resultado encontrado foi verificado o atendimento aos padrões da Portaria no 2.914/2011 do Ministério da Saúde do Brasil, que define parâmetros e padrões de potabilidade da água de consumo humano (Quadro 3). Quadro 3 – Parâmetros estudados Parâmetro Unidade Padrão microbiológico de potabilidade Coliformes termotolerantes

UFC/100mL

VMP(1)

Ausência em 100 mL

Coliformes totais UFC/100mL Ausência em 100 mL Padrão organoléptico de potabilidade Amônia mg/L 1,5 Cloreto

mg/L

Cor

uH(2)

250 15

Dureza total

mg/L

500

Ferro

mg/L

0,3

Padrão de potabilidade para substâncias químicas pH Alcalinidade

Unidade de pH * Desinfetante mg/L

Cloro

6,0 - 9,5 400 5,0

* A alcalinidade não é um parâmetro específico, porém é importante para a avaliação geral. Fonte: BRASIL, 2011 (adaptado pelos autores).

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RESULTADOS

Os municípios de Abaré, Chorrochó, Macururé, Glória e Santa Brígida, localizados no sertão do estado da Bahia, apresentam índices pluviométricos médios anuais de 435,5mm, 477,4mm, 552,9mm, 491,9mm, 591,2mm, respectivamente, sendo entre os meses de janeiro a abril maiores índices chuvosos e com maior evapotranspiração. Essa característica de maior evapotranspiração atua como um aspecto negativo quando se analisa os volumes de água nos rios (na maioria são intermitentes) e a infiltração das águas no solo (com lençóis freáticos profundos). O armazenamento das águas em grandes reservatórios também são prejudicados devido à evaporação. Devido a essas caracteríeristicas climáticas as cisternas implementadas nos municípios tornam-se uma opção para o abastecimento de água. Porém, devido às caracterísiticas como a dimensão do telhado (pequena área de captação), número de habitantes por domicílio e baixa pluviometria, a quantidade de água armazenada nas cisternas não é capaz de suprir a demanda dos moradores. Essas condições locais e climáticas durante todos os meses do ano têm levado ao Poder Público abastecer as cisternas com águas do rio São Francisco. A captação de água vem sendo feita, diretamente no rio, sem tratamento posterior, transportada pelo Exército brasileiro para as cisternas em carros-pipa. Em face da irregularidade das chuvas e do abastecimento por meio de carro-pipa, as famílias têm retirado parte das instalações que compõem o sistema da captação, especialmente as calhas e tubulação que encaminha as chuvas captadas à cisterna. A Figura 1 apresenta os elementos técnicos estudados no projeto da cisterna do P1MC, com as características encontradas em campo. Um dos itens fundamentais para o funcionamento da cisterna e captação da água de chuva é a calha que coleta a água dos telhados. Verificouse que 72,6% dos domicílios estudados possuíam duas calhas para coleta d’água, 20,9% dispunham de apenas uma e cerca de 7,0% elas se apresentavam quebradas, porém em funcionamento. Juntamente com as calhas para coletar a água da chuva é necessária a canalização condutora desta água até a cisterna. Observou-se que mais de 50% dos domicílios estudados contavam com a canalização e em bom estado; 13,58% estavam em ©

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estado precário e quase 10% das cisternas não possuíam essa canalização. Existiam as que possuíam a canalização, porém as mantinham guardadas para serem utilizadas com o retorno das chuvas (25% dos domicílios estudados).

Figura 1 – Rsultados ds pesquisas quanto a forma de retirar a água da cisterna, estado da bomba, estado da estrutura da cisterna, estado da tampa, existência de calha e tubulação condutora

Quanto à existência de tampa na cisterna, constatou-se que todas as estudadas ainda dispunham deste item; porém, menos que 50% (41,4%) estavam com cadeado. A presença do cadeado é relevante para manter a tampa fechada, evitando o risco de acesso de impurezas e a incidência de raios solares. Esses são indesejáveis em face da possibilidade do desenvolvimemto de algas nas águas armazenadas. Por outro lado, cisternas sem tampa permitem fácil acesso de pessoas, podendo contribuir para a alteração da qualidade da água. A Figura 1 mostra que somente um percentual pequeno (9,17%) utilizava bomba para retirar a água, item importante como barreira sanitária. O uso do balde ou outro recipiente para a retirada da água pela maioria dos moradores implica no contato direto com água e maior vulnerabilidade para a contaminação. O estado do balde usado para retirar a água também interfere na qualidade da água. Nas famílias investigadas, a maioria utilizava o balde somente para uso na cisterna, sendo que o mesmo encontrava-se em bom estado e com aparência de limpo. Apesar disso, o balde não é guardado de maneira adequada, estando exposto a ação do homem, animais e tempo (Figura 2). APESB

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Figura 2 – Forma de armazenamento do balde © APESB

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Após finalizada as etapas de campo previstas no estudo, oorreu um período chuvoso (com duração de aproximadamente 2 meses – dezembro/2015 e janeiro /2016), após 3 anos de seca. Durante esse período de estiagem prolongada, as cisternas foram abastecidas com carro-pipa conforme levantamento de campo. O evento chuvoso possibilitou retorno a campo, para aplicação de novos questionários, coleta e análise de água. Para essa etapa foi feita uma sub-análise, com 20 cisternas nos municípios de Abaré e Macururé. As Figuras 3 e 4 apresentam os resultados das análises das amostras de água coletadas nas cisternas quanto à presença de coliformes totais e termotolerantes, para as diferentes origens da água: rio e chuva, respectivamente. Analisando-se os resultados constata-se que em ambas as situações (água de chuva e água do rio São Francisco transportada por carro pipa) apresentaram a presença de coliformes totais e termotolerantes, embora em Macururé os níveis de contaminação tenham sido menores.

Figura 3 – Percentual de amostras com a presença de coliformes totais e termotolerantes nas águas das cisternas oriundas do rio São Francisco. Número de amostras=347

Figura 4 – Percentual de amostras com a presença de coliformes totais e termotolerantes nas águas das cisternas oriundas da água da chuva. Número de amostras=20

A presença de coliformes deveu-se ao fato de não haver separador da primeira água e, como mostrado na Figura 1, existirem problemas evidentes no manuseio e uso das cisternas. As análises físico-químicas das amostras de água coletadas nas cisternas (água do rio) apresentam resultados que excederam os limites dos parâmetros analisados, sendo que Abaré foi o único município em que todas as amostras estavam em conformidade com o padrão de potabilidade (Figura 5). Em Chorrochó, 20% das amostras d’água coletadas nas cisternas apresentaram amônia acima do permitido e menos de 1% para o parâmetro cor. No período chuvoso, quando as análises foram feitas na água de chuva, 100% dos parâmetros físico-químicos estudados encontravam-se em conformidade com os limites estabelecidos pela Portaria no 2.914/2011 do MS do Brasil. Importante observar que, mesmo que a água analisada não tenha passado por tratamento, as avaliações foram feitas a partir dos parâmetros estabelecidos para água potável, pois o seu destino é o consumo humano.

Figura 5 – Percentual de amostras de água daujos parâmetros físico-químicos da água foram excedidos. Período seco. Número de amostras=???

Figura 5 – Característica físico-química da água da cisterna no período seco ©

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Os resultados encontrados corraboram com outros estudos que têm evidenciado a melhor qualidade da água de chuva, quando o sistema de captação de água de chuva está funcionando conforme requisitos técnicos, se comparada com a qualidade da água do rio transportada por carro-pipa. Segundo Andrade Neto (2013, p.69), (...) mostraram que a água de cisternas apresenta, geralmente, boas características químicas e físicas, mas, com frequência, contém microrganismos, inclusive indicadores de contaminação fecal, sobretudo quando a cisterna recebe, também, água de procedência duvidosa, transportada por carro-tanque. Porém, quando a cisterna acumula somente água de chuva e tem manejo cuidadoso, incluindo o uso de bomba para retirada da água e o descarte do primeiro milímetro de cada chuva, a qualidade é muito melhor e pode atender o padrão de potabilidade.

Estudos têm evidenciado, porém, que a boa qualidade da água da chuva é influenciada por diversos fatores. A primeira possibilidade para a contaminação das águas é no momento da captação nos telhados. Os telhados podem apresentar contaminantes, principalmente fezes de animais. Assim, a água que precipita nos telhados lavam a superfície antes de ser captada. Para isso, a presença do separador da primeira água é de fundamental importância. Silva et al. (2013) consideram que a perda de qualidade e a contaminação da água de chuva ocorrem, sobretudo, na superfície de captação ou quando está armazenada de forma não protegida. Quando escoa sobre a superfície de captação a água lava e carreia as impurezas acumuladas no intervalo entre duas chuvas. Ainda segundo Silva et al. (2013), a proteção sanitária das águas captadas é relativamente simples, envolvendo basicamente o desvio das primeiras águas das chuvas, que lavam a atmosfera e a superfície de captação. Com os dados levantandos na pesquisa pôde-se identificar que 100% das cisternas implantadas não receberam o separador da primeira água. Porém, 100% das pessoas entrevistadas informaram que deixava ocorrer a lavagem do telhado com a primeira chuva, e somente após um período é que faziam a conexão da tubulação para a captação da água. Os outros fatores que podem influenciar a contaminação da água estão associados ao estado da cisterna, presença de tampa e forma do manuseio da água. Os dados referentes a esses itens, apresentados na Figura 1, permitem evidenciar que existe potencial de contaminação das águas em todas as situações citadas. Diante do exposto, pode-se concluir que há uma diferença quando se avalia a qualidade das águas com suas origens em corpos d’água superficiais e água de chuva. Os corpos de água superficiais sofrem contínuo processo de degradação ambiental, relacionados com descargas de efluentes domésticos e industriais in natura, falta de mata ciliar, processos erosivos e os consequentes assoreamentos, que acarretam na alteração na qualidade das águas. As águas de chuvas, por sua vez, pelo fato de não manter contato com a superfície terrestre podem ofertar água de melhor qualidade. Tal fato evidencia que se o sistema da cisterna for utilizado de forma correta, e com a presença de todos os itens que o compõem, a possibilidade de a água da cisterna estar com boa qualidade é maior. 4

CONCLUSÃO

O trabalho foi feito com o propósito de avaliar a qualidade da água da cisterna com suprimento a partir de diferentes origens, em estudo realizado em cinco municípios baianos que encontram-se na área de grande estresse hídrico, com precipitações inferiores a 600mm/ano. Devido às condições pluviométricas, as cisternas implementadas pelo P1MC nesses municípios não são capazes de armazenar um volume suficiente para abastecer a população nos períodos de estiagem. Isso resulta na intervenção municipal com auxílio no APESB

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abastecimento das cisternas a partir da captação da água no rio São Francisco, principal manancial superficial da região, via carro-tanque. Em face das condições pluviométricas somente no período chuvoso é realizada a captação da água de chuva. A partir dos dados das áreas estudadas foi possível observar que a população não dispõe das orientações necessárias para o manuseio apropriado das cisternas implantadas, o que pode contribuir para a contaminação das águas captadas. Foi possível observar que as cisternas implantadas pelo P1MC não contemplaram todos os itens necessários para garantir a qualidade da água. O desvio da primeira água é um importante mecanismo para evitar que as impurezas presentes no telhado sejam direcionadas para a cisterna. Constatou-se que 100% das cisternas não receberam esse desvio. Pôde-se perceber que quando as cisternas são abastecidas com água de chuva os níveis de contaminação podem ser menores, sendo influenciado pelo manuseio da água pelas famílias e cuidados com o desvio das primeiras águas. Por outro lado, quando do período de seca e o abastecimento das cisternas ocorre com as águas do rio São Francisco e com o uso do carrotanque as águas chegam com qualidade comprometida. Esforços devem ser feitos pelo Poder Público para que seja fornecida água em quantidade e qualidade às populações do Semiário do estado da Bahia e do Brasil, garantindo-se o direito humano à água e a promoçao da saúde. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq do Brasil, financiador dessa pesquisa, e a todos os colaboradores que contribuíram para a realização das atividades de campo. REFERÊNCIAS ANDRADE NETO, C.O de. Proteção sanitária das cisternas rurais. In: XI SILUBESA-Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 7p. Disponível em:< http://www.abcmac.org.br/files/simposio/4simp_cicero_segurancasanitaria sdaaguadec isterna.pdf> Acesso em: 17 mar. 2012. ANDRADE NETO, C.O. de. Aproveitamento imediato da água de chuva. Revista Eletrônica de Gestão e Tecnologias Ambientais (GESTA), v.1, n.1, p. 73-86, 2013. BRASIL. Lei no 11.445, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico ... Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20072010/2007/Lei/L11445.htm. Acesso em: 12 abr. 2016. BRASIL, Ministério da Saúde. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano. Brasília, DF, 2006. Organização Mundial de Saúde (OMS), Gabinete do Alto Comissário para os Direitos Humanos (ACNUDH), Centro sobre Direitos à Habitação e Despejo (COHRE), WaterAid, Centro de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. O Direito à Água. 2003 Disponível em: http://www2.ohchr.org//english/issues/água/docs/Right_to_Água.pdf. Acesso em: 17 abr. 2016. P1MC - Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais. Anexo II do Acordo de cooperação técnica e financeira celebrado entre FEBRABAN e AP1MC em 31/05/2003. FB – 101/2003. SILVA, A. de S.; SILVA, C.M.M. de S.; SILVA, A.L. da; BRITO, L.T. de L. Determinação da qualidade da água armazenada em cisternas por meio de parâmetros físicos, químicos e microbiológicos. In: ©

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SEABRA, G. (Org.). Terra: qualidade de vida, mobilidade e segurança nas cidades, João Pessoa: UFPB, 2013. v.1. p.1297-1305.

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