Qualificação de Projeto de Doutorado REDES DE COMUNICAÇÃO NO ESPAÇO POPULAR DE RIO DE JANEIRO

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR)

TÍTULO DO TRABALHO: Qualificação de Projeto de Doutorado REDES DE COMUNICAÇÃO NO ESPAÇO POPULAR DE RIO DE JANEIRO

NATALIA ANDREA URBINA CASTELLON

Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Planejamento Urbano e Regional.

Orientadora: Dra. Tamara Tania Cohen Egler Rio de Janeiro 2017

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Índice Motivação da Autora.......................................................................................................... ........4 Fotografia de Campo- Muro Morro Santa Marta .........................................................................4 Cartaz XXI Semanas IPPUR-UFRJ 2015 “Comunicação Popular e aportes para o ensino cotidiano e Favelas”............................................5 Problemática.......................................................................................................... .....................6 Objeto Empírico .........................................................................................................................9 Quadro da Comunicação Popular.................................................................................................9 Atores.........................................................................................................................................9 Processos e Fatos.......................................................................................................................10 Fotografia de Campo – Morro Chapéu Mangueira / Cartaz “Abaixo a Ditadura da Favela”..........11 Fotografia de Campo – Morro Chapéu Mangueira / Ronda. Policiais da UPP..............................12 Fotografia do Marlon Silva – Copacabana / Copa da Exclusão....................................................13 Fotografia de Campo - Morro Chapéu Mangueira / “Imprensa”...................................................14 Fotografia de Campo – Morro Chapéu Mangueira / “Mães, primas, irmãs e namoradas”............14 Fotografia de Campo – Morro Chapéu Mangueira / Camisas da Copa.........................................15 Fotografia de Campo – Morro Chapéu Mangueira / Descendo o Chapéu.....................................16 Fotografia de Campo – Morro Chapéu Mangueira / Rede das Comunidades................................17 Fotografia do Marlon Silva. Praça Saens Penha / Prisão a céu aberto..........................................18 Logo apresentação Mutirão rio 2016 nas mídias sociais..............................................................19 Fotografia Mutirão Rio 2016 – Ass. De Moradores Babilonia......................................................21 Imagem Radio Jambal.......................................................................................................... .....22 Cartaz Rádios Zona Sul mencionadas em Oficina.......................................................................23 Objetivos e Metodolgia.......................................................................................................... ...24 Proposta de Capítulos........................................................................................................ ........25 Cronologia................................................................................................................... .............26 Objeto Teórico ...................................................................................................................... ...26 Bibliografia...............................................................................................................................31

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Motivação da autora

O presente trabalho nasce da minha trajetória. Sou formada em História e Ciências Políticas no Chile, especialista em Educação de ensino médio, e cheguei a conviver no morro Santa Marta do Rio de Janeiro, em Botafogo, entre os anos 2009 e 2012. Nesta convivência identifiquei algumas contradições entre o discurso hegemônico existente nos médios meios de comunicação tradicional, instituições de ensino, instituições de pesquisa e órgãos de governo em torno ao processo de “urbanização” e “pacificação” que foi em verdade a ocupação do Estado e da Policia de algumas favelas no Rio de Janeiro. A favela Santa Marta é conhecida como “favela modelo”1 por ser o primeiro lugar de implementação dessas reformas em nível nacional (2008). Mas, convivendo na favela entendi que existe uma rica produção de discurso nela e muitas vezes o cotidiano difere muito do que se fala da favela. Foi ali então que começamos a observar as redes de comunicação e educação presentes no território, e até hoje isso nos motiva.

Fotografia de Campo. Ano 2010 – Muro Morro Santa Marta, Botafogo, RJ

Entre os anos 2012 e 2015, tive a experiência de morar no morro do Jorge Turco, na área de Coelho Neto, na zona norte do Rio de Janeiro, e lá tive a comprovação empírica da diferença entre zona sul e zona norte da cidade, ou seja, da importância dos conceitos aplicados: Território, Lugar e Identidade. A particularidade quanto ao investimento público, manifestações locais de discurso, acirramento da violência urbana cotidiana (guerras e invasões de facções criminosas e violência policial). Dali se fortalece a

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Silva, Marlon. Santa Marta, uma Santa Favelada. Documentário disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KLOa1Nh5ct4. Acesso: 14-02-2017, às 08h14min.

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necessidade de analisar cada lugar com suas próprias particularidades. É urgente elaborar novas propostas teóricas para a observação e intervenção na cidade.

Observando Acari, Jorge Turco, Complexo do Alemão, Pedreira, Costa Barros, Maré, desde perto, lugares que quase nem são conhecidos no resto da cidade, ou bem lugares de onde se tem uma imagem bastante deformada, fui juntado uma rica base de dados e documentação de campo permanente (vídeos, fotos, textos escritos) os quais nos mostram que estamos ante novas formas de participação política que demandam outra proposta de políticas públicas na cidade, de reconhecimento das juventudes e de novas práticas pedagógicas, mais apropriadas, todas no marco da necessidade de valorizar a comunicação e os discursos do lugar.

Cartaz de Natalia Urbina e Marlon Silva, apresentado nas XXI Semanas de Planejamento Urbano IPPUR/UFRJ. “Comunicação popular e Possibilidades para um ensino Cotidiano na Favela”

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A participação em diferentes veículos de comunicação tais como Rádio Santa Marta, Fundação e Cocoordenação do Núcleo Autônomo Girasol Comunicações, e a participação em algumas redes formadas durantes os megaeventos esportivos, além da convivência em favelas, tem me sugerido inúmeras possibilidades para aplicar todo tipo de dinâmicas pedagógicas abrangentes na realidade educativa e cidadã dos espaços populares, e dessa forma fazer, enunciar e construir cidade.

Atualmente moro no Morro da Babilônia, desde o ano de 2015, e além de trabalhar em conjunto com a Associação de Moradores, muito focada na conservação do patrimônio histórico da favela e de seus veículos de comunicação (administração de André Constantine), tenho compreendido a importância do funcionamento de rádios e práticas territoriais de comunicação e organização territorial, sobre as quais temos muito a aprender.

Geografia e o Planejamento Urbano têm tudo a ver com isso, e precisamos refletir nossa realidade através dos conceitos nessas áreas, para poder buscar soluções a nossos desafios urbanos hoje.

Problemática

Na cidade de Rio de Janeiro se desenvolvem processos de enunciação, análise e formação de redes de comunicação que são formadas durante os megaeventos esportivos e têm desdobramentos até os dias atuais. Observamos três tipos de redes diferentes: redes de resistência, redes de informação e educomunicação, e por último, redes territoriais. Redes de comunicação que se sustentam através de produção, difusão e debate de cinema, formação de rádios e tvs, criação de blogs, todas iniciativas fortalecidas com o uso das novas tecnologias.

Qual é o discurso emergente de cidade? Quais são os atores, processos e fatos dessas redes? Gostaríamos de compreender as formas, conteúdos e significados dessas ações de comunicação, como elas constroem cidade no atual meio científico informacional e mostram novas formas de organização política, além de trazer grandes contribuições para os processos de educação. 6

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La necesidad comunicativa surge del descontento com el discurso oficial imperante y sus formatos, opuesto al levantamento de la propia voz y del testimonio popular del ejercicio del cotidiano y colectivo de subversion de sentidos que hacemos frente a las grandes pantallas y construcción de la hegemonia del relato (ECO, Comunicación y educaciones, 2012, p. 7).

Os megaeventos esportivos no Rio de Janeiro – Copa Mundial de Futebol, em 2014, Olimpíadas 2016 – e a comunicação comunitária na favela é um produto desse processo de desenvolvimento de discurso contra-hegemônico urbano que faz parte do processo de construção, enunciação e proposta de cidade desde abaixo, desde a sociedade civil, e desde o espaço popular da cidade. Desse ponto de vista podemos ver essas redes de comunicação nos espaços populares do Rio de Janeiro como um diálogo necessário, entre diversos atores, para achar um encaminhamento para tantas vozes urbanas emergentes que despertam numa cidade onde escolas são fechadas cotidianamente por causa de tiroteios, onde morre um jovem negro a cada 23 minutos, e onde o abandono escolar atinge mais da metade dos jovens entre 18 e 24 anos pertencentes à fatia mais pobre da população2.

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O IBGE, que analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), mostrou que o percentual de jovens que não haviam completado o ensino médio e que não estavam estudando passou de 43,8% em 2001 para 32,2% em 2011. Em países como Suíça, Polônia, Áustria, Irlanda, Dinamarca e Bélgica, a taxa de abandono dos estudos é de menos de 10%. Itália, França e Alemanha têm percentuais inferiores a 15%. Ainda de acordo com o IBGE, em 2011 o abandono escolar atingia mais da metade dos jovens entre 18 e 24 anos pertencentes à fatia mais pobre da população, enquanto no quinto segmento mais rico, essa proporção era de apenas 9,6%. Ver em: https://noticias.terra.com.br/educacao/ibgeabandono-escolar-no-brasil-e-3-vezes-maior-que-naeuropa,9608febb0345b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

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Objeto empírico: Nosso foco de investigação está na análise das redes sociotécnicas populares que utilizam processos de comunicação e que transformam as relações políticas sobre o espaço da cidade, e se articulam em diferentes momentos históricos. Esse estudo é importante para nós porque nos remetem ao lugar, ao território e à participação política; esses lugares permitem a enunciação da voz popular, e se colocam como um discurso contra-hegemônico ao discurso da grande mídia.

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Os atores Na pesquisa de campo realizada entre os anos 2010 e 2017, foi possível identificar três grandes redes sociotécnicas que nos mostram importantes discursos urbanos: a primeira rede é durante o ano 2014, na Copa Mundial de Futebol (um dos grandes megaeventos esportivos acontecidos no Rio de Janeiro), rede de comunicação fundada com o discurso “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” que organizou dois atos manifestações. Posteriormente, em 2016, durante as Olimpíadas, observamos a rede “Mutirão Rio” com um discurso que congregou vários coletivos de América Latina no Rio de Janeiro, uma plataforma coletiva de informação e divulgação de um “outro lado” das Olimpíadas, dando ênfases à realidade de favelas, ruas e periferias. E a terceira é a Rádio Jambal 105,9 FM. A rádio comunitária de Chapéu Mangueira e Babilônia que estimula uma rede territorial, forjada e vivida dentro da favela, que oscila entre comunicação, educação, arte, cultura, trabalho comunitário e cidadania.

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Processos e fatos Durante os megaeventos esportivos, observamos a formação de redes de comunicação onde existe uma troca permanente que potencializa atividades de formação, produção de conhecimento, colaboração e trocas nos diferentes territórios associados. No transcorrer dos megaeventos e na formação das redes podemos observar uma articulação entre vários grupos que são influenciados e influenciam o uso cotidiano de novas tecnologias para o aperfeiçoamento do trabalho, da educação e da cultura nos seus territórios. Desse ponto de vista, trazemos as palavras da professora Tamara Egler: É importante produzir um conhecimento orientador da formulação de propostas alternativas de políticas urbanas, cujos objetivos sejam a equidade econômica, a liberdade política e a justiça social nas cidades. O exame da história da resistência social na cidade do Rio de Janeiro atesta a importância da organização social para pôr limites aos interesses escusos manifestos na política urbana da globalização (EGLER, TAMARA, 2010, Depois da festa, a máscara cai: jogos esportivos na cidade do Rio de Janeiro)

A construção de um discurso emergente urbano através de redes de comunicação no espaço popular do Rio de Janeiro e suas principais produções – radio, vídeos e atividades de educação – são consideradas nesta pesquisa como uma voz emergente contra- hegemônica, que enuncia, propõe e constrói cidade. E, a seguir são descritas as redes de comunicação como objetos de observação. No ano de 2014, participei como comunicadora numa rede intitulada “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” durante a Copa Mundial de Futebol, e o objetivo foi organizar e realizar dois atos: um em Copacabana e outro na Praça Saens Peña. A rede juntou vários grupos que questionavam o investimento em grandes eventos esportivos enquanto ficavam abandonados os serviços básicos em favelas e periferias de Rio de Janeiro; e um discurso que chamou a minha atenção nessa rede foi “Abaixo a Ditadura na Favela”.

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Fotografia de Campo. Morro Chapéu Mangueira, 2014. “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” (Técnica: Pixação em Papel - Cartaz) A importância dessa rede é que ela nos mostra que a produção de grandes eventos esportivos na cidade é um acelerador na ocupação policial e militar das favelas, aumentando o número de vítimas da violência policial e da violência do Estado (Anistia Internacional, 2016). Realidades territoriais que se tornam visíveis a partir da troca de informações entre diferentes lugares da cidade; estamos falando principalmente de favelas e periferias.

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Fotografia de Campo. Morro do Chapéu Mangueira. A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” (Foto: Ronda; policiais da UPP)

Tamara Egler nos esclarece: Os Jogos Olímpicos, por mobilizarem um grande número de agentes, associados na transversalidade das esferas, unificam, numa mesma totalidade, organizações internacionais, como os Comitês Olímpicos, por exemplo, o COI e o COB, capitais que atuam globalmente, como redes de hotéis, agências de turismo e companhias aéreas. Ao mesmo tempo, oferecem vantagens aos governantes locais e a capitais nacionais, que passam a participar da rede, como empreendedores imobiliários, empresas de construção civil e até mesmo organizações sociais, que se associam a essa rede para participar da grande festa global. Essa política vem sendo implementada, numa escala crescente, em diferentes cidades do mundo, desde a realização das Olimpíadas em Barcelona (1992), passando por Atlanta (1996), Atenas (2004), Pequim (2008), Londres (2012) e Rio de Janeiro (2016) (EGLER, 2015).

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Fotografia de Marlon Silva. Copacabana, Rio de Janeiro, 2014 (Copa da Exclusão)

Paralelo a essa circulação de grandes capitais globais, reconhecemos que existe uma “história da resistência social na cidade do Rio de Janeiro, que atesta a importância da organização social para pôr limites aos interesses escusos manifestos na política urbana da globalização” (EGLER, 2016). Essa organização social no espaço popular tem tido grande importância desde o ponto de vista das comunicações. Em 2014 assistimos a uma chamada para fazer uma grande rede de resistência nas favelas pacificadas da Cidade Maravilhosa durante a Copa Mundial de Futebol. Em primeira instância foi uma chamada para as favelas pacificadas, onde se previa um aumento da violência e controle policial. A chamada foi reforçada por ONGS tais como Justiça Global e outras organizações cíveis e comunitárias, meios de comunicação alternativa e independente, associações de moradores de favelas da cidade, indivíduos se solidarizando com os discursos emergentes de cada favela e processos de colaboração e participação. A chamada impactou tanto que ampliou-se desde a proposta de organização das favelas pacificadas até a organização de todas as favelas que respondessem ao chamado.

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Fotografia de Campo. Morro do Chapéu Mangueira. “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” (Foto: imprensa). Essa rede culminou em dois atos: o primeiro foi no dia do jogo Brasil x Camarões (23/06/2014), o ato "A festa nos estádios não vale as lágrimas das Favelas" que se realizou desde o Morro Chapéu Mangueira, com depoimentos de mães e familiares de vítimas do Estado, quer dizer, de pessoas assassinadas por violência policial.

Fotografia de Campo. Morro do Chapéu Mangueira. “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas. (Foto: mães, irmãs, primas e namoradas).

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“A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” nos trouxe um belo exemplo de ressignificação da imagem e transformação simbólica da Copa Mundial de Futebol. E quanto ao discurso, a manifestação, além de denunciar os assassinatos de jovens, especialmente negros de favela, questionou a Política de Segurança Nacional representada na instalação de UPPs e a violência policial, falando-se sobre gentrificação, racismo e genocídio do povo negro. Isso não é um tema desconhecido no Brasil. Átila Roque, historiador e diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, declara que: “ Nos últimos dez anos, a violência letal entre os jovens brancos caiu 32,3% e entre os jovens negros aumentou 32,4%. ou seja, os homicídios de jovens negros são um dos principais pilares que sustentam o aumento das mortes. O mais chocante, na perspectiva do Estado de Direito, é que uma parte significativa da letalidade decorre de ações das polícias. Não é exagero dizer que as polícias no Brasil se encontram entre as que mais matam e morrem no mundo”

Fotografia de Campo. Morro do Chapéu Mangueira. “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” (Foto: camisas da Copa no Chapéu Mangueira). 15

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O ato manteve um caráter pacífico e contou com uma difusão ampla pelos meios de comunicação internacionais, e também pelos turistas que se encontravam na área. Podemos dizer que se inaugura, então, uma nova forma de manifestações em Copacabana, que se mostrou como um lugar de visibilidade e que não permite uma repressão muito forte. A visibilidade torna se, então, um mecanismo de denúncia, enunciação de discurso e proteção, da favela e da rede em torno dela formada.

Fotografia de Campo. Morro do Chapéu Mangueira. “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” (Foto: descendo o Chapéu Mangueira).

A rede “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” contou com o apoio de múltiplos coletivos autônomos e independentes de diversos locais da cidade do Rio de Janeiro, o que parece anunciar um novo tempo na organização política urbana. Temos considerado essa como uma rede de resistência, pela capacidade de sobreviver, agir e propor, por ser uma oposição ao discurso hegemônico sobre megaeventos esportivos, e por resistir a todo tipo de opressão vividos historicamente no espaço popular da cidade. Também por ser uma organização com caraterísticas de guerrilha no sentido de desafiar a falta de infraestruturas e recursos. 16

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Fotografia de Campo. Morro do Chapéu Mangueira. “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” (Foto: rede de COMUNIDADES). Contava com a participação de algumas ONGS, coletivos culturais e de comunicação de atuação em favela de caráter independente e alguns jornais e revistas, algumas Associações de Moradores e colaboradores individuais. Fotógrafos, cineastas, radialistas e documentaristas. Foi uma rede construída naquele momento para dar visibilidade ao discurso de tensão existente entre o Estado e as favelas, aproveitando a visibilidade do Rio de Janeiro durante a Copa Mundial de Futebol. Uma das maiores contribuições dessa rede foi a criatividade da organização popular. Dali, conheci vários veículos de comunicação, e com alguns continuamos trabalhando; com outros se concretizou o distanciamento; a rede surgiu e acabou com a Copa Mundial de Futebol. O segundo ato “A festa nos estádios não vale as lágrimas nas favelas” se realizou na Praça Saens Peña (Tijuca), no último dia do campeonato de futebol. Nele, a repressão policial foi perversa; já não estávamos em Copacabana e a presidente Dilma Roussef fez um pronunciamento esclarecendo que “Vai ter Copa Sim e os assistentes aos jogos vão ter segurança sim”. Isso significou vários jornalistas com equipamentos e corpos 17

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feridos, violentados. Daí conseguimos ver a importância das câmeras nesse contexto: uma verdadeira defesa de direitos humanos.

Fotografia de Marlon Silva. Praça Saens Penha “A festa nos estádios não vale as lágrimas das favelas” (Foto: Praça Saens Penha, prisão a céu aberto).

Em 2016, durante as Olimpíadas, observamos outra rede de comunicação livre em nível de América Latina e Caribe, onde se articularam vários grupos de comunicação em diferentes territórios do continente, com a base física e técnica instalada em Rio de Janeiro. “Mutirão Rio” foi uma cobertura coletiva, de caráter independente, que buscou mostrar “A outra cara do Rio de Janeiro”: realidade de ruas, manifestações e favelas, onde a militarização foi sufocante; participaram grupos de rádio, televisão, Educação e grupos de EduComunicação. Educomunicação é um campo teórico-prático que propõe uma intervenção a partir de algumas linhas básicas como: Educação para a mídia; uso das mídias na Educação;

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produção de conteúdos educativos; gestão democrática das mídias; e prática epistemológica e experimental do conceito. A presença de comunicadores latino-americanos é dizer, pessoas que fazem diversas práticas de comunicação, educação e arte, em nível de América Latina e Caribe, marcou uma referência que, junto com pesquisadores e ativistas brasileiros, formaram uma plataforma interativa de formação, produção de informações e divulgação de notícias, sempre focando naquelas notícias que não têm espaço nos canais de TV tradicionais e nos dials de rádios tradicionais, principalmente desde as favelas do Rio de Janeiro.

Logotipo de apresentação do grupo nas mídias sociais. 2016.

Esses comunicadores vieram desde a Argentina, Peru, Colômbia, Chile, Estados Unidos, Guatemala, México e trabalharam conteúdos de informação livre, ou seja, independente e diretamente vinculadas aos territórios que informam. A plenária de comunicadores latino-americanos visitou o Complexo do Alemão e realizou um diálogo com o coletivo Papo Reto: 19

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“Coletivo de comunicação independente composto por jovens moradores dos Complexos do Alemão e Penha. Tem como foco propagar notícias dentro do morro: eventos, protestos, reivindicações... E também atua como um canal que mostra a realidade Favela, tendo forte importância na ‘mídia de guerrilha’ em tempos de guerra e na provocação reflexiva do ‘até onde é verdade o que diz a grande mídia?’ (Facebook. Coletivo Papo Reto).

Aqui se refletiu sobre a naturalização, isto é o fato do costume da violência na zona norte de Rio de Janeiro por parte da opinião pública, do conformismo com as notícias de guerras e violência por parte dos meios de comunicação tradicionais e, de modo abrangente, com essa configuração desigual da sociedade como um todo. Desse ponto de vista se alcança compreender a importância da existência de um grupo de comunicação que seja capaz de informar desde dentro do território a visão e vivência dos próprios moradores do lugar. Também visitaram o morro da Babilônia, realizando uma transmissão de rádio ao vivo e por vídeoTv. A entrevista foi com esta autora, Natalia Urbina, Marlon Silva, de Girasol Comunicações, e André Constantine, presidente da Associação de Moradores do Morro Babilônia. Na ocasião falou-se sobre comunicação popular e comunicação livre, e sobre a Associação de Moradores da favela, sua história, desafios, e conquistas. Entendemos que é de suma importância a criação de meios de comunicação livres na favela, para poder tratar de nossos próprios problemas e para poder confrontar a visão hegemônica que se tem dos jovens negros e favelados. André Constantine explica que: “Vivemos numa sociedade que tem naturalizado o racismo e preconceito com a favela e com os jovens negros, e essa visão se expande perigosamente a partir dos meios de comunicação tradicionais e hegemônicos que sempre vêm e enunciam a favela como um lugar de delinquência, pobreza, miséria e violência. Por isso, é fundamental criar meios de comunicação alternativos, e mais ainda pensando no diálogo entre os países latino-americanos e centro-americanos, torna-se fundamental e necessário”.

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Fotografia de Mutirão Rio 2016. Associação de Moradores Morro da Babilônia. “Mutirão Rio” (plenária de imprensa – Mutirão Rio). Podemos ver que a rede “Mutirão Rio” trabalhou com o conceito de EduComunicação, que é “aprender fazendo”, e da “comunicação livre”, que sugere que cada território crie seus próprios meios de comunicação em livre formato. Por último, uma rede de comunicação de caráter territorial é a Rádio Jambal, 105,9 FM. A primeira vez que subi a favela Babilônia foi no ano de 2010, para participar de uma reunião para formar uma “frente de favelas da zona sul”, e foi ali que conheci André Constantine, hoje presidente da Associação de Moradores. A partir da Associação de Moradores atual da favela, podemos identificar o que já tínhamos enunciado na pesquisa de mestrado sobre redes de comunicação e educação na favela Santa Marta: uma forte ligação que existe entre comunicação, educação e trabalho comunitário dentro do morro. A Associação de Moradores atualmente desenvolve os “Mutirões Comunitários”, onde se estimula a manter viva a tradição do trabalho comunitário nos espaços públicos e privados da favela, e também se leva a cabo uma constante resistência ante a companhia de luz/energia, Light, que tem executado a troca de relógios medidores, causando altos índices de consumo através de “leitura aproximada”. Com isso, os altos custos nas contas de luz promoveram a realização quinzenal de uma reunião com a intenção de cadastrar aqueles moradores 21

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afetados por altas contas de luz e, juntos, de forma coletiva, fazer seguimento dos processos contra a companhia elétrica. Algumas manifestações têm se realizado em torno do tema3.

Imagem promocional da Rádio Jambal, 2017. Outra proposta interessante é a comunicação: a rearticulação da Rádio Jambal 105,9 FM (rádio comunitária dos morros Chapéu Mangueira e Babilônia/ ex Radio Estylo Fm), é uma ocupação do espaço público e uma proposta de participação política importante desde a favela, que forja também uma rede, desta vez de caráter territorial. Nesse contexto se concretizou de forma independente como uma parceria entre Associação de Moradores Babilônia, Girasol Comunicações e Rádio Villa Olímpica de Chile, a oficina de Rádio Livre, uma oficina que teve caráter de formação para a fundação de rádio independente, no livre formato, que responde ao território de cada lugar. Essa capacitação foi realizada na Associação de Moradores e na oficina se conversou sobre a história da Rádio Calypso do Cantagalo, da Rádio Poste de Chapéu Mangueira, Rádio Santa Marta, Rádio Jorge Turco Notícias, Rádio Jambal (Morro Babilônia) e Rádio Villa Olímpica de Chile, uma rica experiência que, nesse caso, territorialmente falando, mostrou que a história das favelas da zona sul está intimamente ligada com a produção radial. Esse é um fenômeno geográfico. Omar Ramirez de 33

Ver documentário Chapéu Mangueira e Babilônia, a favela vai descer/Contra os abusos da Ligth. Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=FJms1roFBLU

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Mutirão Rio já tinha explicado que a fisionomia geográfica das favelas é favorável à difusão do sinal radial, ao que Mister Zoy (produtor musical) complementa explicando que as ondas do mar ajudam também à expansão do sinal radial. Constantine conta que o sinal da Rádio Jambal da Babilônia ia até São Gonçalo, porque através do mar as ondas radiais se intensificam, e se transportam.

Cartaz explicativo realizado por Natalia Urbina, 2017. Além da ocupação de espaços públicos, alto falante e cartazes em postes, observamos uma forte rede ativa de comunicação, educação e território na favela Babilônia, que não nos deixa esquecer a experiência Santa Marta. Outro motivo de rede no território é a luta contra as remoções, que também é motivo de reunião permanente na Associação de Moradores. Observamos então que através da rede da Rádio Jambal existe uma articulação entre os problemas urbanos e a ação coletiva, e isso é fundamental e importante porque faz parte da organização política e da construção da cidade.

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Objetivos e Metodologia: Para melhor compreender qual é o discurso urbano que emana destas redes, compreender quem são os novos atores políticos, suas formas, linguagens e propostas e principais aportes ao mundo social, educativo e cidadão, procuraremos esclarecer: Objetivos: 

Identificar e caracterizar redes sócio técnicas de comunicação durante o ano 2014 na copa de futebol (Resistência), no ano 2016 durante as olimpíadas (Ação, Informação e Educomunicação) e A Rede atual da Associação de moradores do Morro Babilônia (Territorial)



Descrever atores, processos e fatos



Identificar os lugares e as atividades de onde emergem estes discursos



Definir o que é comunicação popular, independente, livre observada



Interpretar discurso emergente dos atores sobre a cidade do Rio de Janeiro



Ilustrar a influencia destes médios de comunicação, na produção da cidade.



Distinguir os processos de participação política envolvidos neste processo



Relacionar território, lugar, comunicação e educação.



Considerar o âmbito de educação cotidiana



Reconhecer quais são os discursos e propostas as praticas possível conceber politicas publicas de transformação do espaço. Esse processo de potencializam um discurso que se enfrenta com o pensamento hegemônico do Estado no planejamento urbano.



Compreender a Comunicação comunitária fortalecem uma rede em nível de cidade, comunicação comunitária fortalecem uma rede a nível de cidade

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Reconhecer a existência e importância de Redes de Comunicação de Resistência, Redes de Ação e Informação e Redes Territoriais

Metodologia: Analisaremos as três redes de comunicação observadas no espaço popular de Rio de Janeiro, entendendo que as principais produções são vídeos, rádios e práticas educativas: 

Classificaremos o nível de organização da rede e dos grupos que nela participam?



Qual é sua relação com as comunidades, qual é o nível de capacitação que tem?



Qual é a experiência em comunicação que eles apresentam?



Qual é a situação financeira, tanto das redes como também dos grupos que nelas participam?



Qual é o discurso?



Qual é a linguagem?



Como se definem os territórios?

Capítulos Propostos: 1- Copa do Mundo e Favela. Rio de Janeiro e o Mundo. 2- Olimpíadas e Comunicação Livre. Rio de Janeiro e América Latina/Caribe. 3- Radio Jambal e Território. Rádios Comunitárias na Zona Sul do RJ. 4- Importância da Comunicação popular, comunitária, livre em Comunidades. 5- Aportes da Comunicação à Educação no Território. Comunicação e Cronologia Educação.

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Quadro - Cronologia Levantamento de produções audiovisuais, escritas e fotográficas.

Analises material

Realizado

Abril 2017

do

Entrevista dos Atores

Analise dos Discursos Cifras e Estatísticas

Produção de Documentário

Produção Programa Radial

de

Analise, conclusões e Redação final

Defesa

Maio 2017

Junho 2017

Julho – Agosto 2017

AgostoSetembro 2017

Outubro 2017– Abril 2018

Maio 2018

Objeto teórico Desde o ponto de vista de Milton Santos, na globalização as grandes corporações tendem a homogeneizar o espaço mediante uma tecnologia cegamente usada, porém, isso é impossível, simplesmente pela realidade espacial presente nos diferentes territórios. Se bem as técnicas influenciam o modo como percebemos o espaço e o tempo, não só pela sua existência física, serão muito mais pelas sensações e imaginários que revivem, criam e recriam, os lugares vão se relacionar de forma diferente com as técnicas e os objetos técnicos de acordo com as condições do meio operacional, de acordo ao acesso as novas tecnologias (SERPA, 2011, p. 20).

Consideramos que os processos de apropriação social são imateriais e intangíveis, e também nos revelam que existe uma terceira dimensão do espaço, que se define pela sua dimensão simbólica (EGLER, 2012, p. 27). Essa discussão pode se evidenciar na observação da rede de comunicação popular na cidade de Rio de Janeiro, onde ações planejadas de comunicação visibilizam propostas de enunciação da cidade real, da cidade cotidiana, do discurso local, do território e do lugar.

Seguindo essa linha teórica, acreditamos que o conceito de espaço é fundamental e contribui para o entendimento do fenômeno técnico e, por outro lado, à investigação do papel deste na produção e transformação do espaço geográfico. Observamos isso na monografia “Redes de Comunicação e Educação na Favela Santa Marta”, orientada por William Ribeiro e Tamara Egler, no mestrado de geografia PPGG/UFRJ, onde pesquisamos sobre as redes de comunicação e educação na favela Santa Marta, e concluímos que variados atores, processos e fatos de comunicação “tem uma grande 26

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implicância social e educacional na favela, e podem ser entendidos como uma ação que (re) organiza o espaço, que cria e recria territorialidades” (URBINA, 2012. Redes de Comunicação e Educação na Favela Santa Marta, p. 8).

Aqui reconhecemos que: “Existe uma psico-esfera que faz parte do ambiente e estimula o imaginado: ao mesmo tempo em que se instala uma tecnosfera dependente da ciência e tecnologia, cria-se separadamente, e com as mesmas bases, uma psico-esfera. A tecnosfera se adapta aos mandamentos da produção e do intercâmbio e, desse modo, frequentemente traduz interesses distantes; desde que se instala, substituindo o meio natural ou meio científico que precedeu, constituiu uma unidade local, aderindo ao lugar como uma prótese. A psicoesfera, reino das ideias, crenças e paixões e lugar de produção de um sentido, também faz parte desse meio ambiente, desse entorno de vida, fornecendo regras e racionalidade ou estimulando o imaginado (SANTOS, 2001, p. 256).

Desse ponto de vista, a tecnologia também tem um papel importante, ela “amplia a capacidade de participação social; cria novas escadas de associação; articula as redes sociais, resultando de uma forma alternativa de constituição o Nós e de sua totalidade. Tem por pressuposto a ação coletiva e direta dos seus membros, ou seja, os atores se unem para potencializar as suas possibilidades de ação para o enfrentamento de problemas urbanos. Essa possibilidade de associação vai além das formas tradicionais de representação política: trata-se, pois, de eliminar a intermediação e possibilitar formas horizontais e diretas de ação e transformação” (EGLER, 2007, p. 220).

A teoria faz sentido, quando ilumina nossos fatos: já no ano 2010, vimos Itamar Silva se dirigir ao senhor presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, através de uma carta entregue nas mãos do presidente em visita à favela Santa Marta, onde ele escrevia: “Queremos uma participação onde os moradores sejam ouvidos e levados em consideração” (Silva, carta entregue ao presidente Inácio Lula da Silva, Rio de Janeiro, 30.08.2010). Silva se insere numa opinião e desejo de favela, de cidade, onde os moradores exigem ser parte das decisões do seu próprio entorno. E, nesse caso, observamos espaço, construção de espaço, psicoesfera e tecnoesfera plenamente. E finalmente, o que tem a ver isso com planejamento urbano? Parece que nos últimos anos a comunicação independente no espaço popular do Rio de Janeiro tem buscado ser uma das formas dessa participação exigida. 27

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Desde que a tecnologia amplia a capacidade de participação social (EGLER, 2007, 2008; DUARTE, 2007), cria novas escalas de associação, articula redes sociais (SHERER – WARREN, 2005) resulta uma forma alternativa de constituição do Nós. E tem também o pressuposto da ação coletiva e direta dos seus membros, o que poderia então facilitar o que o professor Marcelo Lopez de Sousa denomina como “tomar nas mãos o próprio destino: liberdade política e percepção da história como criação e autonomia é contrário de paternalismo, de tutela (SOUSA, 2006, p. 68).

Marcelo Lopes de Sousa, desde a geografia, complementa nossa visão teórica conceituando o “fobopole”: “Cidade dominada pelo medo e a criminalidade violenta, onde o medo parece já estar enraizado inclusive na psicologia coletiva, provocando comportamentos diversos, até mesmo psicopatológicos” (SOUSA, 2007, p. 40), e questiona a ação democrática das cidades contemporâneas.

De qual forma, observamos essas redes na sociedade, no espaço popular do Rio de Janeiro hoje? Assim como as práticas de comunicação mais comuns na favela são “telenovelas da TVGlobo, os jogos de futebol e os programas de Silvio Santos” (ROCHA, 2005, p. 89), existem também outras práticas de comunicação e educação hoje, que neste projeto temos identificado como redes de resistência, redes de ação e informação e redes territoriais.

Rede como ação social, constrói territórios pois o espaço é também depositário de aprendizados, conquistas e projetos populares: ‘a ação social é o que implica no estudo dos vínculos entre sujeito social, conjuntura e lugar. O comprometimento das ciências sociais com estas tarefas, traduz-se, por exemplo, em pesquisas sobre modos de vida, meios de subsistência, cultura material, aprendizados, senso comum e cotidiano. Na mesma direção, constata-se o envolvimento do pensamento social com o território. Com este envolvimento, espera-se que as ciências sociais contribuam para a afirmação de racionalidades alternativas que orientem uma apropriação mais solidária e justa do espaço herdado’ (TORRES RIBEIRO).

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Seguindo a N. Curien (1988, p. 212), a rede é "toda infra-estrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscrevem sobre um território onde se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação". Mas a rede é também social e política, pelas pessoas, mensagens, valores que frequentam-na. Sem isso, e a despeito da materialidade com que se impõe aos nossos sentidos, a rede é, na verdade, uma mera abstração. Talvez por isso um geógrafo como O. Dollfus propõe (1971, p. 59) que o termo de rede seja limitado aos sistemas criados pelo homem, deixando aos sistemas naturais o nome de circuitos. A verdade, porém, é que uns e outros apenas são valorizados pela ação humana (SANTOS, 2001, p. 265).

Manuel Castells, em 1996, propõe a emergência de uma Sociedade em Rede, em detrimento de uma Sociedade do Território. A respeito temos teorias mais radicais que acreditam que território se opõe à rede, sendo a sociedade territorial substituída por sociedades em rede (CASTELLS, 1996; BADIE, 1996). Temos Levy (1993), que vê no o território uma forma de organização do espaço mais tradicional do que a rede, e também existe uma visão do território e a rede como uma formação binominal onde rede pode ser um elemento fortificador interno dos territórios e poderia promover uma desestruturação, ou seja, um processo de desterritorialização (HAESBERT, 1995).

E quando observamos essas redes de comunicação no espaço popular do Rio de Janeiro, podemos identificar também táticas cotidianas de enunciação e emancipação, porque: “O discurso fabrica o lugar: o lugar da vida cotidiana, da repetição, do trabalho (ou da ausência dele), mas também da criatividade e da subversão. Sim, subversão, pois trata aqui de grupos e iniciativas que produzem espaços na cidade contemporânea, para afirmar ideias alternativas de cultura, para fabricar o lugar a partir de táticas cotidianas de enunciação” (SERPA, 2011).

Essas táticas cotidianas de emancipação são um discurso local de enunciação, de proposta de espaço, e de proposta de cidade, e mais uma forma cotidiana de educação que alimenta os referentes sociais, culturais e emocionais do lugar.

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Midiativismo de Favela REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE PESQUISA Leonardo Léo Custódio (página 11)

Isso nos devolve a nossa problemática: na cidade do Rio de Janeiro se desenvolvem processos de enunciação, análise e formação de redes de comunicação que são formadas durante os megaeventos esportivos e têm desdobramentos até os dias atuais. Observamos três tipos de redes diferentes: redes de resistência, redes de ação e informação e, por último, redes territoriais. Redes de comunicação que se sustentam através de produção, difusão e debate de cinema, formação de rádios e tvs, criação de blogs, todas iniciativas fortalecidas com o uso das novas tecnologias.

Qual é o discurso emergente de cidade? Quais são os atores, processos e fatos dessas redes? Gostaríamos de compreender as formas, conteúdos e significados dessas ações de 30

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comunicação, e como elas constroem cidade no atual meio científico informacional e mostram novas formas de organização política, além de trazer grandes contribuições para os processos de educação.

Sem dúvida, atores, processos e fatos que nos obrigam a repensar nas Ciências Sociais, urbanas e educativas do novo tempo.

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