Quando a cidade era universitária: a geografia da Univer-cidade do Recife antes da construção do campus da UFPE

June 5, 2017 | Autor: J. Melo Pereira | Categoria: Universidade Federal de Pernambuco, História Da Cidade, Memória Institucional
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Quando a cidade era universitária: a geografia da Univer-cidade do Recife antes da construção do campus da UFPE Denis Antônio de Mendonça Bernardes1 Juliana Melo Pereira2 RESUMO Antes da criação do campus da Universidade Federal de Pernambuco, as escolas e faculdades da Universidade do Recife (criada em 1946) estavam distribuídas no centro da cidade, principalmente no Bairro da Boa Vista e adjacências. O centro tinha, naquele momento, um caráter cívico e cultural muito forte. Além de ser ocupado por moradias, era lá onde se encontravam serviços inexistentes em outros pontos da cidade e os principais redutos dos intelectuais, estudantes e boêmios. A proposta deste artigo é mostrar, quais eram essas escolas e faculdades, quais eram seus edifícios e como se articulavam no espaço urbano, fazendo parte da vida do centro. Por trás de cada edifício há uma história. Alguns resistiram à passagem do tempo, como a Faculdade de Direito, outros, como a Faculdade de Economia, são, atualmente, impossíveis de identificar. Palavras-chave: Memória, Universidade do Recife, Bairro da Boa Vista

RESUMEN Antes de la creación del campus de la Universidad Federal de Pernambuco las escuelas y facultades de la Universidad de Recife (creada en 1946) se distribuyeron en el centro de la ciudad, especialmente en el Bairro da Boa Vista y sus alrededores. El centro tenia en ese momento, un carácter cívico y cultural muy fuerte. Además de ser ocupado por las viviendas, era en el donde se encontraban los servicios inexistentes en otros puntos de la ciudad y los principales reductos de los intelectuales, estudiantes y bohemios. El propósito de este trabajo es mostrar, cuales fueron estas escuelas y facultades, cuales eran sus edificios y como se establecien en el espacio urbano, haciendo parte de la vida del centro. Detrás de cada edificio hay una historia. Algunos resistieron el paso del tiempo, como la Facultad de Derecho, otros, como la Facultad de Economía, son hoy 1

Doutor em História Social. Professor Associado 2. Departamento de Serviço Social e Programas de PósGraduação em Serviço Social e em Ciência da Informação. 2 Arquiteta e urbanista pela UFPE. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano/UFPE. Universidade Federal de Pernambuco, Rua Prof. Morais Rêgo s/n, Cidade Universitária, 50732-970 - Recife, PE - Brasil - Caixa-Postal: 7809

imposibles

de

identificar.

Palabras-clave: Memoria de la Universidad de Recife, Bairro da Boa Vista Introdução A história da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) iniciou em 1946, quando foram reunidas – através do Decreto nº. 9.388 – as Faculdades de Direito, Medicina e Filosofia, além das Escolas de Engenharia, Belas Artes, Farmácia e Odontologia (estas duas anexas da Faculdade de Medicina) para formar a Universidade do Recife (UR).3 Naquele momento, não havia campus, as Escolas e Faculdades da UR se distribuíam pela zona central do Recife, entre o Bairro da Boa Vista e adjacências. A vida estudantil mesclava-se à do centro da cidade e atraía equipamentos para o grupo intelectual que freqüentava o Bairro: cafés, bares, restaurantes estudantis, teatros, livrarias, pensões. O objetivo deste artigo é chamar atenção para esta memória da UFPE, para o tempo em que, fragmentada e inserida na vida urbana, existia uma Univer-cidade do Recife. A idéia é mostrar nas próximas páginas as antigas Escolas e Faculdades da UR, um pouco de suas histórias e como se articulavam no espaço urbano. Para tal, foi preciso determinar um recorte temporal, já que algumas destas foram fundadas ainda no século XIX e transferidas de edifício algumas vezes até se estabelecerem de maneira mais duradoura. Portanto, serão abordadas aqui as unidades que formaram a UR entre 1946, quando esta foi criada, e 1965, quando foram integradas ao grupo de Instituições Federais de Ensino Superior que se tornou a UFPE. Para elaboração deste artigo, foram consultados4: o Arquivo Geral da UFPE, as Bibliotecas da UFPE (Biblioteca Central, Biblioteca Joaquim Cardozo, do Centro de Artes e Comunicação, Biblioteca do Centro de Filosofias Humanas e Biblioteca do Centro de Ciências Jurídicas/Faculdade de Direito do Recife – Seção Obras Raras), o Memorial de Medicina e o Acervo Arquitetônico Saturnino de Brito. Além da pesquisa documental, foram realizadas caminhadas para identificação e registros dos edifícios remanescentes da antiga UR, cuja localização foi possível com a descoberta de um Guia das Bibliotecas do Recife5. Estas caminhadas revelaram que alguns edifícios não

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BARRETO (1996). Agradecemos a Thallita Gondim e Vanessa Patrícia pela busca das datas de nascimento e morte da maior parte dos personagens citados. 5 ASSOCIAÇÃO PERNAMBUCANA DE BIBLIOTECÁRIOS (1963). 4

resistiram ao tempo, à transformação da cidade, e que poucos são os que trazem alguma referência sobre a nobre função que abrigaram outrora. Memórias de um centro animado: o Bairro da Boa Vista nas décadas de 1940-60 Grandes transformações urbanas marcaram o início do século XX na cidade do Recife, planos de reforma se sucederam a fim de atender a demanda por modernização. Primeiramente, entre 1909 e 1914, o Bairro do Recife, posto abaixo e reconstruído aos moldes do urbanismo francês. Depois, os Bairros de Santo Antônio e São José, reformados segundo os preceitos do urbanismo modernista, com a abertura de largas avenidas ocupadas por arranha-céus, para sediar um importante centro comercial, de serviços e de negócios. É neste contexto que se constrói a Avenida 10 de Novembro (atual Guararapes) em 1938 e a polêmica Dantas Barreto, entre 1930 e 1970. O Bairro da Boa Vista foi até década de1950 uma faixa de transição deste centro urbano para os subúrbios. O Bairro era ocupado por residências familiares de alta renda, pela proximidade com o comércio e serviços oferecidos em Santo Antônio e São José, sem, no entanto, sofrer os inconvenientes de sua interferência. É a partir da segunda metade dos anos 1950, com o alargamento da Rua Formosa, para dar origem à Avenida Conde da Boa Vista – uma continuidade da Avenida Guararapes – que o Bairro passa a ser ocupado por atividades de negócios e comerciais. 6 O Bairro da Boa Vista, assim como o centro da cidade do Recife, tinha um caráter cívico, boêmio e cultural. Lá estavam as melhores livrarias: a Imperatriz e a Editora Nordeste, na Rua da Imperatriz; a Boa Vista, na Rua do Hospício, freqüentadas por estudantes e intelectuais da época7. Além destas, cabe também citar os sebos, eis dois dos mais importantes: o de Brandão, até hoje um dos maiores da cidade, na Rua Matriz da Boa Vista, e o de Melquisedec, na Rua Corredor do Bispo. Na Avenida Guararapes, no Bairro Santo Antônio, era possível comprar os principais jornais do país (Correio da Manhã, Jornal do Brasil, O Globo e o Estado de São Paulo8) assim como ter acesso a instituições como os Correios, ainda raros em outros pontos da cidade.

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Pontual (1998). A Livro 7, na Rua Sete de Setembro, hoje uma referência quase mítica da geografia intelectual do Recife, ainda não existia 8 Neste período a Folha de São Paulo estava muito longe de ter a dimensão nacional que conquistou a partir da década de 70, do século XX. 7

Em opções de lazer, o centro contava com cinemas (Moderno, Art Palácio, Trianon e São Luiz, entre outros), teatros (Santa Izabel, Teatro Barreto Júnior), na Boa Vista, o Cine Boa Vista e o Teatro do Parque. Na Avenida Conde da Boa Vista funcionavam Teatro Popular do Nordeste e o Teatro de Arena. As praças e passeios públicos muitas vezes abrigavam festas. Uma das mais famosas era a Festa da Mocidade, realizada anualmente pela Casa de Estudantes de Pernambuco, no Parque Treze de Maio, para arrecadar fundos para sua manutenção. Este era o centro do Recife: um lugar que reunia comércio, serviços os mais variados, opções de cultura e lazer e moradias. Neste meio estava inserida a UR, a vida acadêmica era mesclada a vida da cidade. Os bares, padarias, lanchonetes freqüentados por estudantes e trabalhadores eram o mesmo. Os usos diversos faziam com que a área tivesse sempre movimento, ao contrário do que acontece atualmente com a predominância do comércio. As Faculdades, Escolas e Institutos da Univer-cidade do Recife Na ocasião em que foi criada a UR, já existiam instituições de ensino superior na cidade. A mais tradicional era a Faculdade de Direito, criada durante o Império (11 de agosto de 1827), passando, com a República a ser mantida pelo governo federal. As demais eram mantidas por associações particulares, mas já tinham certa tradição em seu ensino. Era o caso dos cursos de Engenharia e Medicina, que junto ao de Direito constituíram o “tripé de sustentação da futura Universidade” 9. Outras Escolas, como a de Belas Artes, apesar do curto tempo de existência, tiveram com criação da Universidade a chance de se consolidar. A Faculdade de Direito O Curso de Ciências Jurídicas, futura Faculdade de Direito, além de ser o mais antigo da UR, é um dos mais antigos do Brasil. Criado em 1827, por Decreto Imperial,10 funcionou em seus primeiros anos no Mosteiro de São Bento, em Olinda. Alunos de todo o país eram atraídos pelo curso, que antes de chegar a seu endereço atual, foi

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“Assim, em termos gerais, a Faculdade de Direito formava advogados, dirigentes políticos regionais e intelectuais humanistas; Engenharia formava os técnicos administradores, os responsáveis pela construção civil e pela “arrumação física” da cidade, reservando-se aos médicos o papel dos verdadeiros cientistas da época, além da manutenção das grandes clínicas e da administração da saúde pública.” (PERRUCI, 1986:5) 10 Barreto (1996)

transferido para o edifício hoje conhecido como Palácio dos Governadores de Olinda (1852), depois para um casarão na Rua do Hospício (1854) e para as dependências do antigo Colégio Jesuíta (1883) no Pátio do Colégio (atual Praça 17). O edifício da Faculdade de Direito11, na Praça Adolfo Cirne (imagem 1), teve sua pedra fundamental lançada ainda durante o Império, sendo inaugurado em 1911. O projeto, feito especialmente para abrigar a faculdade, é do arquiteto francês Gustave Varin. Apesar de ser um exemplar da arquitetura Eclética, o imponente edifício traz também influências Classicistas, que podem ser observada na rigidez de seu eixo de simetria, reforçado pelo corpo central e ritmo das aberturas (imagem 2). A utilização do ferro na estrutura e como elemento decorativo foi algo avançado para a época, pois poucos eram outros exemplares com esta técnica construtiva na cidade. A Faculdade de Direito, destaca-se por sua tradição, por ela passaram muitas personalidades como Joaquim Nabuco (1849-1910), Castro Alves (1847-1871), Augusto dos Anjos (1884-1914), Nilo Peçanha (1867-1924), Luiz Delgado (1906-1974) o e o primeiro reitor da UR, Joaquim Ignácio Amazonas (1879-1959).

Imagem 1: Faculdade de Direito do Recife; Fonte: Gaspar (2009). Imagem 2: Planta da Faculdade de Direito (1º pavimento); Fonte: Acervo Arquitetônico Saturnino de Brito

Escola de Engenharia O movimento para a criação de uma Escola de Engenharia no Recife se fortaleceu ainda no fim do século XIX. Formar engenheiros era marchar para o progresso, era formar profissionais que iriam atender a demanda por infra-estrutura e modernização das

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O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nos livros: Histórico e de Belas Artes.

cidades – construção de estradas, grandes estruturas, fornecimento de energia, etc. Além disso, era poder romper definitivamente com algumas marcas do Brasil atrasado e colonial que perduraram durante o Império. A Escola de Engenharia de Pernambuco foi criada em 1895, teve sua primeira sede em um prédio na Praça da República, no Bairro de Santo Antônio, onde permaneceu até ser extinta pelo governador Sigismundo Gonçalves, em 1904, alegando dificuldades financeiras de mantê-la. 12 Apesar do obstáculo, a escola não se manteve fechada e ressurgiu como Escola Livre de Engenharia de Pernambuco, mantida por particulares, no mesmo casarão que abrigara outrora a Faculdade de Direito, na Rua do Hospício. Eram oferecidos cursos de Engenharia Civil e Agronomia. Em 1919, este prédio foi vendido e a Escola obrigada a mudar de endereço. Nesta ocasião o então Governador do Estado, Manoel Antônio Pereira Borba (1864-1928), fez a doação da casa na Rua do Hospício, nº. 371. A escola ampliou seu quadro, passou a oferecer o curso de Química Industrial e Engenharia Elétrica. Em 1943, este edifício foi demolido e outro construído no mesmo local, para atender de forma mais adequadas às necessidades da escola (imagem 4). Na mesma Rua do Hospício, próximas à Engenharia, outras Escolas mais tarde passaram a integrar o corpo da UR, como a Escola de Geologia (nº. 415) e Ciências Econômicas (nº. 299). Ainda na Rua do Hospício, 619, funcionou a Reitoria e o Serviço Central de Bibliotecas13.

Imagem 3: Casarão na Rua do Hospício que abrigou a Faculdade de Direito em 1854 e a Escola de Engenharia em 1905; Fonte: Estudantina (1926) Imagem 4: Escola de Engenharia, Rua do Hospício, nº. 371, após a reforma de 1943; Fonte: Barreto (1996: 49)

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Escola de Engenharia do Recife (1946) O edifício da antiga Reitoria ainda existe com a mesma fachada original e continua sendo parte do patrimônio da UFPE (ver item 2, tabela 1). 13

Escola de Medicina Semelhante ao que ocorreu com a Escola de Engenharia, o movimento para a criação de um curso de Medicina em Pernambuco data de 1895, quando foi posto para análise da Câmara de Deputados um projeto que propunha sua criação. Apesar de não ter sido aprovado, abriu caminho para outras iniciativas. A criação da Escola de Farmácia, em 1903, foi uma dessas, pois partiu de seu corpo docente a iniciativa de arrecadar fundos para a criação da Faculdade de Medicina. Em 1920, a Faculdade de Medicina iniciou seu funcionamento sobre a direção do Dr. Octávio de Freitas (1871-1949), as aulas foram ministradas em um casarão na Rua Barão de São Borja, até 1927, quando foi inaugurado um edifício próprio. Neste casarão funcionavam também os cursos de Farmácia e Odontologia (em 1925, fundidos Faculdade de Medicina). O terreno onde se construiu a Faculdade de Medicina foi doado, em 1925, pelo então governador Sérgio Teixeira Lins de Barros Loreto (18701937), que investia em melhoramentos e infra-estrutura para o Bairro do Derby14. O projeto do arquiteto Giacomo Palumbo (1891-1966) é um exemplar completo do estilo Neocolonial, que buscava na arquitetura tradicional Barroca e Colonial, vocabulário para construir uma nova arquitetura genuinamente brasileira15.

Imagem 5: Faculdade de Medicina (1930). Fonte: Acervo Memorial de Medicina da UFPE

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O Governo de Sérgio Loreto investiu em infra-estrutura na área do Derby. Realizou trabalhos de drenagem, loteamento, construiu o quartel e a Praça do Derby. Para saber mais, ver Silva (2010). 15 A Faculdade de Medicina de Pernambuco foi construída pela firma J. Brandão, Magalhães e Cia. A pedra fundamental foi lançada em 20 de maio de 1925 e o prédio foi inaugurado em 20 de maio de 1927. Para sua construção contou com empréstimos obtidos da Liga Pernambucana contra a Tuberculose e do coronel Mendo Sampaio. Os laboratórios da Faculdade “foram montados com materiais vindos da capital federal e importados da Europa”. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil. 1832-1930. Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. . Acesso em 13 de julho de 2011.

Escola de Belas Artes A Escola de Belas Artes de Pernambuco foi inaugurada em 1932, graças à ação de um comitê de vários artistas em prol de sua criação, liderado pelos pintores Álvaro Amorim e Mário Nunes16. Este Comitê encarregou-se de angariar fundos e doações para as instalações da Escola e compra do material didático. O casarão nº. 150 da Rua Benfica (imagem 6), foi inicialmente alugado e depois comprado e doado à instituição pelo Governo do Estado. A Escola oferecia inicialmente cursos de Arquitetura, Pintura, Escultura, após ser incorporada a UR, oferecia também Professorado de Desenho e Dramaturgia. Personalidades como Pelópidas Silveira (1915-2008), Lula Cardoso Ayres (1910-1987) e José Maria de Albuquerque Melo fizeram parte do corpo docente desta escola que reunia a elite de artistas e intelectuais do estado. O curso de Arquitetura separou-se da Escola de Belas Artes em 1958. Inicialmente teve as aulas ministradas nas dependências do Seminário de Olinda e, a partir de 1961, na Avenida Conde da Boa Vista, nº. 1424 (Mapa 1, Tabela 1), dirigida por Evaldo Coutinho. A pequena casa, além de comportar os estudantes do curso, tinha um restaurante universitário que atraía estudantes de outras escolas da UR.

Imagem 6: Escola de Belas Artes de Pernambuco, Benfica nº.150; Fonte: , acesso em 1º jul 2011. Imagem 7: Aula no atelier de arquitetura na escola de Belas Artes. Fonte: Barreto (1996)

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Faziam parte do Comitê pró-Escola de Belas Artes de Pernambuco: Bibiano Silva, Jaime Oliveira, Murilo La Greca, Baltazar da Câmara, Heitor Maia Filho, Henrique Elliot e Abelardo Gama. (REVISTA DA ESCOLA DE BELAS ARTES DE PERNAMBUCO, 1957)

Faculdade de Filosofia Duas Faculdades de Filosofia faziam parte do corpo da UR: a Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE), criada em 1940 e mantida pelas Irmãs Dorotéias, e a Faculdade de Filosofia de Pernambuco (FAFIPE) criada em 1948, pelo Governador Barbosa Lima Sobrinho17. A FAFIRE funciona até os dias atuais, embora não seja mais vinculada à UFPE, na Avenida Conde da Boa Vista nº. 921. Era restrita ao público feminino e seguia rigidamente os paradigmas do ensino da ciência vinculado ao da religião. Já a FAFIPE (ou “Fafipinha” como era apelidada pelos alunos) funcionava na Rua Nunes Machado, 42 e era, assim como a Escola de Arquitetura, um ponto de atração de estudantes das outras escolas, já que contava com restaurante universitário e tinha inúmeras atividades promovidas pelo Diretório Estudantil. Inicialmente foram oferecidos cursos de História, Geografia, Letras, Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Ciências Sociais. Atualmente, o edifício modernista que abrigou a “Fafipinha” se encontra em bom estado de conservação e abriga um bloco da Universidade Católica de Pernambuco. Outras escolas, além das já citadas integraram posteriormente a UR. É o caso da Escola de Química, na Rua Dom Bosco nº. 1002, a Escola de Biblioteconomia, na Avenida Rosa e Silva nº.1350, e os Institutos (que foram os primórdios dos programas de pósgraduação) de Geologia, na Rua Corredor do Bispo nº.155, o de Física e Matemática, na Rua do Progresso nº. 465 e o de Micologia, na Avenida Rosa e Silva nº.347. A seguir, o Mapa 1 lista algumas dessas unidades, localizadas entre os Bairros da Boa Vista e Madalena, a fim de ilustrar como se articulavam. Na Tabela 1 podem ser vistas fotos do estado atual de algumas das Escolas e Faculdades que foram objeto deste texto. Algumas delas foram apenas mencionadas, por não fazerem parte do grupo que formou inicialmente a Universidade do Recife. O que não significa que suas histórias também não sejam importantes. Como indicado em nossas conclusões este é um trabalho a ser prosseguido e que ainda exige muitas pesquisas e, evidentemente, a chance de encontrarmos a necessária documentação18.

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Informação disponível em , acesso em 7 jul. 2011. 18 A Escola de Serviço Social funcionou na Avenida Conde da Boa Vista nº.1512, em prédio que ainda existe com o mesmo número, mas bastante modificado em sua fachada e interiores. Não foi incluído neste artigo porque somente passou a integrar as unidades da UFPE em 1971

Mapa 1: Localização de Escolas e Faculdades da UR no Bairro da Boa Vista. Fonte: Denis Bernardes e Juliana Melo

1. Faculdade de Direito Foto: Juliana Melo, 03 jun. 2011

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Reitoria e Sistema de Bibliotecas Foto: Juliana Melo, 03 jun. 2011

3. Escola de Geologia Foto: Juliana Melo, 03 jun. 2011

4. Escola de Engenharia Foto: Juliana Melo, 03 jun. 2011

Escola de Ciências Econômicas Foto: Juliana Melo, 03 jun. 2011

6. Instituto de Geologia Foto: Juliana Melo, 03 jun. 2011

7. Faculdade de Filosofia do Recife Foto: Denis Bernardes, 03 jun. 2011

8. Faculdade de Filosofia de Pernambuco Foto: Denis Bernardes, 03 jun. 2011

9. Faculdade de Arquitetura Foto: Denis Bernardes, 03 jun. 2011

10. Escola de Química Foto: Denis Bernardes, 03 jun. 2011

11. Escola de Medicina Foto: Juliana Melo, 03 jun. 2011

12. Escola de Belas Artes Foto: Juliana Melo, 03 jun. 2011

Tabela 1: Escolas e Faculdade da UR;

Considerações finais Escrever sobre a memória da UR foi uma tarefa surpreendente. Primeiro porque não se espera ter as dificuldades que foram encontradas, em uma instituição de federal de ensino superior, onde a pesquisa é tão valorizada, deveríamos encontrar no mínimo um arquivo que guarde a própria documentação em boas condições. Não foi o que aconteceu, partimos então para alternativas, como a busca de periódicos e outros acervos, sendo a busca por iconografia a tarefa mais difícil. Este artigo não tem intenções saudosistas, não quer colocar que “naquele tempo era melhor” ou “que hoje em dia as coisas não mais como antes”. Natural que não sejam. O que se buscou neste texto foi mostrar um pouco da Univer-cidade do Recife que nos traz algumas lições. Esperamos que este artigo não se encerre por aqui, em cada uma das escolas e faculdades há uma história para investigar. A arquitetura, as relações de poder, os movimentos estudantis, a articulação destas escolas no espaço urbano, uma infinidade de temas ligados à UFPE que é uma das instituições de ensino mais importantes do país. Bibliografia

ACERVO Arquitetônico Saturnino de Brito: Memória da Arquitetura Pré-Moderna no Brasil. (CD-ROOM). Recife: LIAU/UFPE, Compesa, Ceci, 2010. ACERVO Memorial de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco. Recife: 2011. BARRETO, Luiz de Gonzaga B. Universidade do Recife: perfil das unidades no ano de 1946. Recife: Ed. Universitária/UFPE, 1996. BREVE crônica da Escola de Belas Artes de Pernambuco. Revista da Escola de Belas Artes de Pernambuco. Recife: ano 1, n. 1, p. 5-12, 1957. ESCOLA DE ENGENHARIA DO RECIFE. Relatório Anual. Recife: Universidade do Recife, 1946. ESTUDANTINA. Órgão dos Estudantes da Faculdade de Direito do Recife. Recife: Ano 1, nº. 4 a 10, ago. 1926. FREITAS, Octávio. História da Faculdade de Medicina do Recife: 1895-1943. Recife: Ed. Universitária/UFPE, 2010. GASPAR, Lúcia. Faculdade de Direito do Recife. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em: 4 jul. 2011. HISTÓRICO do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE. Disponível em , acesso em 7 jul. 2011. MAIOR, Heraldo Pessoa S. Para uma história da Sociologia em Pernambuco: a pósgraduação. Recife: Ed. Universitária/UFPE, 2005. MONTENEGRO, Antônio; SIQUEIRA, Antônio J. ; AGUIA, Antônio C. M. Engenheiros do tempo: Memórias da Escola de Engenharia de Pernambuco. Recife: Ed. Universitária UFPE, 1995. PERRUCI, Gadiel. Um projeto oligárquico-liberal de Universidade: Notas para uma História da UFPE. Cadernos de Estudos Sociais, V2, N2, p 505-520, 1986. Disponível em . Acesso em 9 jul. 2011. PONTUAL, Virgínia. O saber urbanístico no governo da cidade: uma narrativa do Recife das décadas de 1930 a 1950. São Paulo: Tese de doutorado, FAU/ USP, 1998. SILVA, Aline de F. Os jardins do Recife: uma história do paisagismo no Brasil (18721937). Recife: CEPE, 2010. LUCIO, Fernando. A destruição de um patrimônio: a Escola de Belas Artes de Pernambuco. Disponível em , acesso em: 1º jul. 2011.

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