QUANDO O LAICISMO NÃO É MAIS UM PRINCÍPIO: CEMITÉRIOS E SETORES CONFESSIONAIS EM ÎLE-DE-FRANCE

May 26, 2017 | Autor: M. Giampaoli | Categoria: Islamic Studies, Secularisms and Secularities, Paris, Cemeteries
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QUANDO O LAICISMO NÃO É MAIS UM PRINCÍPIO: CEMITÉRIOS E SETORES CONFESSIONAIS EM ÎLE-DE-FRANCE. Michelangelo Giampaoli [email protected]

RESUMO Apesar do Estado francês basear a coexistência das diferentes comunidades que o compõem no princípio do laicismo, uma etnografia realizada em alguns dos principais cemitérios da região metropolitana de Paris mostra como esse princípio é constantemente questionado. As comunidades muçulmana, judaica, assim como outras, utilizam diariamente os cemitérios como terreno em que reiteram - simbolicamente e concretamente - tanto sua propria (r)existência dentro do Estado, como sua aparente vontade de manter distância de outras comunidades. Os espaços da morte tornam-se, então, lugares privilegiados por meio dos quais se podem observar dinâmicas religiosas, políticas e sociais que afetam e marcam diariamente o espaço ocupado pelos vivos. PALAVRAS-CHAVE Cemitério; Setores confessionais; Laicismo; Paris; Comunidade.

ABSTRACT Despite the French state rests the coexistence of different communities on the principle of secularism, an ethnography carried out in some of the main cemeteries of the metropolitan area of Paris shows how this principle is constantly challenged. The Muslim community, the Jewish and others use the cemeteries, routinely, as territories wherein they reiterate - symbolically and concretely – as much their own (r)existence within the State as their apparent willingness to keep their distance from other communities. The spaces of death become, then, privileged places through which it can be observed the religious, political and social dynamics that concern the space occupied by the living people on a daily basis. KEY-WORDS Cemetery; Confessional sectors; Secularism; Paris; Community.

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Artigo .......................................................................................................... Introdução O texto apresentado nestas páginas foi formulado a partir da oportunidade que tive de refletir, em conjunto com colegas e estudantes de diferentes universidades brasileiras,1 sobre a temática dos espaços que os vivos consagram à morte, e da relação pessoal com seus próprios mortos (e com os dos outros) na vida diária. Ponto de partida destas reflexões e objeto deste artigo é a etnografia que conduzi durante anos nos cemitérios de Paris e particularmente no cemitério do Père-Lachaise (GIAMPAOLI, 2008; 2010), localizado no 20ème arrondissement, no centro da capital francesa. Esta experiência de etnografia urbana permitiu-me interessar, entre outras coisas, pelas problemáticas de uma área da cidade que é tradicionalmente destino de imigração, e em que as relações entre as diferentes comunidades sempre foram e continuam sendo tão ricas quanto difíceis. Também, foi uma oportunidade para ampliar minha reflexão sobre a relação entre os vivos e os mortos, incluindo no estudo, em uma perspectiva de análise comparativa, outros cemitérios localizados em Paris e na região da Île-de-France. Todos esses são lugares privilegiados de uma memória que é, ao mesmo tempo, individual e coletiva, francesa, mas também cosmopolita, devida à história mesmoa deste país situado ao centro da Europa e, durante muitos séculos, consideradao “central no mundo”. Por suas próprias características de espaços construídos e constantemente reconfigurados, a serem descobertos, lidos1 e analisados, os cemitérios permanecem como áreas em que a história não somente é lembrada - incrustrada na pedra, no mármore ou no bronze - mas também continuamente fabricada e solicitada, com consequências que têm um forte impacto sobre as dinâmicas sociais do presente. Decidi, portanto, dedicar minhas energias a uma pesquisa antropológica acerca da identificação das dinâmicas que, no presente, regulam a gestão dos espaços devotados à morte pelo Estado francês e, ao mesmo tempo, pelas diversas comunidades que o constituem. A referência não se restringe somente às comunidades com inclinação religiosa específica - católicos, muçulmanos, judeus, evangélicos e outros - mas compreende, também, outras possíveis formas de comunitarismo de inspiração política, étnica ou linguística. A partir desta premissa, analiso neste artigo alguns dos principais cemitérios localizados em Paris e na Région Parisienne (ou Île-de-France), concentrando-me particularmente em setores confessionais que já foram ou que estão sendo construídos nesses locais. Isso para tentar entender como esses setores, ao mesmo tempo comunitários e religiosos, foram concebidos (e às vezes, em seguida, eliminados), para quem foram pensados e arranjados e, finalmente, como se desenvolveram ao longo do tempo até se tornarem um elemento central do delicado debate político – não somente francês – sobre a relação entre laicismo e reivindicações religiosas na esfera pública. O que proponho aqui é lançar um olhar para cada um desses cemitérios não apenas como o destino último para a maioria dos membros de uma sociedade - neste caso, a francesa - e de uma comunidade específica, o ponto final de uma viagem individual e coletiva chamada vida; mas, também, como um lugar privilegiado de ação da história e, hoje, das comunidades dos vivos. Locais em que podem se desenvolver simultaneamente - e assim serem estudadas a partir de uma perspectiva original - diferentes dinâmicas sociais, religiosas, geracionais. As práticas e os discursos que ocorrem no âmbito funerário afetam de forma considerável o cotidiano de muitas das comunidades que constituem a sociedade francesa atual e, desse modo, os espaços dedicados à morte se revelam como verdadeiros laboratórios de reivindicação identitária e assuntos de debate político (VIEILLARD BARON, 2002).

1 Quero aproveitar desta oportunidade para agradecer os colegas pesquisadores e os estudantes do Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Departamento de Antropologia da UNESP – Campus de Araraquara, e do grupo de pesquisa IPLURES da Universidade Federal do ABC em São Paulo. 2 Neste sentido quero lembrar a grande importância do estudo das inscrições funerárias nas pesquisas desenvolvidas em cemitérios (PETRUCCI, 1995; BARTOLI, 2004).

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.......................................................................................................... Artigo Neste contexto, a observação desses espaços situados entre a vida e a morte - e muitas vezes entre a cidade e seus subúrbios - parece “naturalmente” conduzir à abordagem de um dos temas centrais do atual debate político francês: o da relação que as diferentes comunidades integradas no território da República (particularmente as comunidades religiosas) constroem entre si. Ao mesmo tempo, podemos estudar também a relação entre cada uma delas e o Estado francês, personificado pelos representantes das instituições republicanas. “Laicismo” é, portanto, uma palavra-chave neste sentido. Seu constante desafio a partir das expectativas e das demandas, cada dia mais veementes, das comunidades religiosas e confessionais - sobretudo a muçulmana e a judia - no âmbito especifico da gestão do espaço funerário (criação de setores confessionais, gestão do espaço e do tempo do processo funerário), revela-se como uma característica central desta análise. Sobretudo porque esta vontade de ir além dos “limites” impostos pela lei francesa a partir de 1881,3 recriando novos espaços confessionais e identitários dentro de alguns cemitérios, parece aproveitar do território da morte para fortalecer reivindicações ainda relevantes na cidade dos vivos e em seus bairros mais pobres.

Os vivos e o espaço funerário: uma etnografia multi-situada Se o tema elegido - ligar história e antropologia para proceder a uma leitura dos espaços urbanos dedicados à morte (e à memória) com base nas expectativas identitárias e religiosas dos vivos – se acomoda dentro de uma discussão teórica interdisciplinar mais ampla, uma escolha foi necessária com respeito ao terreno de pesquisa etnográfica. Sendo Paris e a sua região metropolitana o quadro geográfico e normativo dentro do qual este trabalho se desenvolveu, resolvi focalizar minha atenção em apenas quatro dos cemitérios mais representativos. Analisando tanto as semelhanças entre eles quanto as respectivas especificidades, optei, assim, pelo cemitério monumental do Père-Lachaise, localizado intra muros, dentro do perímetro da cidade de Paris, os cemitérios parisienses de Thiais (Departamento 94) e de Bagneux (Dep. 92) e, enfim, pelo cemitério muçulmano em Bobigny (Dep. 93). Os três últimos são situados na banlieue, a grande periferia da Capital francesa. Cada um com sua história, sua configuração geográfica específica, sua própria gestão e seu espaço (real e simbólico) dentro do tecido metropolitano da Grande Paris, esses cemitérios parecem ter em comum a função - além da principal de se constituir como morada e descanso eterno dos falecidos – de representarem legítimos sacrários de reivindicação religiosa e política, bem como sítio de constante reconstrução cultural. Frente a essas características, os setores confessionais existentes em alguns desses cemitérios assumem um papel certamente importante.

O Père-Lachaise Primeiro cemitério “moderno” da França, criado em 1804 por Napoleão I, o Père-Lachaise se tornou, ao longo dos séculos, um lugar de destaque da memória coletiva não apenas francesa. Desde mais de duzentos anos, traduz uma cena privilegiada do cosmopolitismo e dos encontros diários entre diferentes comunidades, sendo ainda um espaço monumental no qual o visitante parisiense pode traçar a trajetória histórica em que se pauta sua identidade francesa, descobrindo-se ao mesmo tempo universal, porque é, em parte, a história da própria Europa e do mundo, nos últimos dois séculos, que a se encontra ali representada. A maioria dos milhares de turistas que cada dia o visitam pode, facilmente, reconhecer rastros de sua própria cultura ou país de origem, seja devido à presença de um compatriota ilustre sepultado e ao valor histórico-artístico do seu monumento funerário, mas sobretudo em virtude do trabalho de muitos escultores e arquitetos estrangeiros que deixaram marcas indeléveis da sua passagem por esse cemitério-museu.

3 Lei de 14 de setembro de 1881 sobre a abolição dos traços confessionais nos cemitérios. Mais tarde, será aplicada a lei de separação da Igreja e do Estado, em 9 de dezembro de 1905, a qual afirma, entre outras coisas, que “a República não reconhece, financia ou subsidia qualquer religião ou culto”.

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Artigo .......................................................................................................... Como antes salientado, sabe-se que a lei francesa estabeleceu, há mais de um século, o fim de qualquer vestígio de separação religiosa nos cemitérios, e assim propiciou o compartilhamento do mesmo espaço para os mortos - e os vivos - de qualquer origem, ideia e religião a partir, por exemplo, da remoção dos muros que antigamente separavam os setores judaico e muçulmano do Père-Lachaise. Esta coabitação é uma das características próprias desta necrópole e que jamais foi colocada em questionamento;4 por isso, hoje afasta vividamente o Père-Lachaise da maioria dos outros cemitérios parisienses nos quais, como veremos daqui a pouco, a necessidade de uma apropriação do mesmo espaço para diferentes comunidades, religiosas, linguísticas, étnicas é muitas vezes marcada por tensões e conflitos. A única exceção a esta ausência de demarcação comunitária do espaço que nós podemos ainda hoje encontrar no Père-Lachaise, não é referível à esfera religiosa e é justificada por razões relacionadas com a própria história desta colina durante o século XIX (TARTAKOWSKY, 1990): Referimo-nos ao espaço dito do “Panteão Comunista”. Localizado em frente ao Muro dos Federados - onde a experiência revolucionária da Comuna de Paris de 1871 viu o seu fim sangrento - este espaço tornou-se, ao longo do tempo, um verdadeiro santuário da esquerda francesa e internacional, pois muitos dos seus maiores representantes nos séculos XIX e XX (Laura Marx e Paul Lafargue, Jean-Baptiste Clément, Henry Barbusse, Paul Eluard, etc.) foram aqui sepultados e são constantemente celebrados. Lugar de memória coletiva, de patrimônio e de passeio para todo o mundo, este cemitério é assim um espaço que continua a fabricar a história, ligando-a a atualidade por meio de uma memória individual e coletiva constantemente reativadas por meio de muitos eventos e manifestações, oficiais (por exemplo a marcha do dia 1 de maio, festa dos trabalhadores) como espontâneos, que ocorrem dentro de seus muros. Espaço cosmopolita e multicultural, o Père-Lachaise é também um lugar demasiadamente ligado à vida diária do 20ème arrondissement em que se situa: o fato de que ele pode ser visto e visitado como um grande museu dedicado à história dos séculos XIX e XX, não deve fazer esquecer a importância simbólica, cultural e econômica que possui em relação ao presente, na construção do espaço (multi)social parisiense, francês e, mais em geral, europeu.

Os cemitérios de banlieue

Bem diferente é a história – e a atualidade – da maioria dos cemitérios situados na periferia de Paris.

O cemitério de Thiais, o mais recentemente construído dos grandes cemitérios da área metropolitana parisiense, foi inaugurado em 1929 na periferia sul da Capital, no departamento do Val-de-Marne. Trata-se, com seus 103 hectares, do segundo maior cemitério da capital em termos de área, depois do cemitério de Pantin que, com 107, 60 hectares, é o maior da França. Além disso Thiais é - junto com o Père-Lachaise - o mais cosmopolita da Île-de-France: assim como temos visto acontecer no cemitério mais famoso do mundo, aqui também são frequentemente sepultadas pessoas provenientes de muitos países do mundo, cujas trajetórias de vida os conduziram até a França. Os tratos em comum com o Père-Lachaise, porém, acabam aqui. Por sinal, os dois parecem se configurar um como a antítese do outro. Se por um lado, no Père-Lachaise que é visitado anualmente por dois milhões de turistas, encontram-se sepultados – além das celebridades Jim Morrison, Edith Piaf, Frédéric Chopin, Oscar Wilde, Allan Kardec – os grandes nomes do Império de Napoleão, no “Setor dos Generais”, célebre por seus monumentos imponentes, ornamentado e enfeitado por apaixonados de história; por outro lado, o que torna incomum e “original” o cemitério de Thiais – praticamente desconhecido dos turistas – é o bem menos atrativo “Setor dos indigentes”, nas divisões 48, 49 e 50, com seus túmulos individuais e expostos à rápida decomposição.5 Este setor (cujo nome oficial seria “Setor da Fraternidade”) marca por sua própria presença a imagem de Thiais como espaço de tristeza e dor, mas também atua emblematicamente como exemplo de uma gestão e apropriação deste local que descobrimos ser extremamente complexa e monitorada. O grande cemitério é, efetivamente, um território dividido, fracionado em setores específicos, definidos a partir de escolhas feitas pelas diferentes comunidades, tratando-se muitas vezes de comunidades religiosas ou confessionais. 4 Além disso, seu status de “monumento histórico”, bem como a sua localização atual - sendo totalmente inserido no tecido urbano de Paris - impede qualquer possível proposta ou projeto de expansão ou de modificação do Père-Lachaise. 5 O Setor dos indigentes teve as honras da imprensa apenas no final de verão de 2003, quando aqui foram enterrados os corpos, que ninguém nunca reivindicou, das cinquenta e sete vítimas do enorme calor que a Île-de-France sofreu naquele ano (TERROLLE, 2002).

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.......................................................................................................... Artigo A presença maciça, dentro de seus muros, de tantos setores confessionais é, portanto, a característica mais importante desta necrópole, especialmente pela grande influência que ela tem na percepção que os vivos fazem dela. Aqui, parece ter se produzido um desenvolvimento tal desta subdivisão do espaço, que podemos falar de uma autêntica “auto-segregação” comunitária, desejada e, até mesmo, reivindicada pelas diferentes comunidades (judeus, muçulmanos, mas também chineses, ortodoxos, etc.) que escolheram este cemitério como um lugar de sepultamento de seus queridos. O “setor chinês”, nas divisões 36, 37, 44, 45 e 60, testemunha de maneira evidente esta vontade de criar uma réplica de “bairro” chinês dentro da grande e multiétnica cidade dos mortos. A maioria das sepulturas, em granito preto, ficam todas agrupadas, próximas uma a outra, sendo ricamente decoradas com inscrições douradas em língua chinesa e motivos florais. Observando-as, lembram as fachadas das casas tradicionais chinesas, com seus telhados curvos e os leões de Buda sentados como vigílias das famílias mais influentes da comunidade (Fig. 1). Da mesma maneira, nos numerosos setores muçulmanos, em que a maioria dos túmulos são, entretanto, muito menores e mais sóbrios, é imediatamente perceptível o mesmo desejo de se agrupar entre “iguais”, mantendo-se a distância dos “vizinhos” indesejados, particularmente os judeus. Talvez não seja supérfluo lembrar, a título de exemplo, que de acordo com a lei islâmica, os túmulos de muçulmanos não podem ser construídos perto dos túmulos de pessoas de outra religião. Os dois são exemplos de como, a partir também da relação construída com este espaço sagrado, seguida pela apropriação concreta de algumas porções dele, as comunidades religiosas ou étnicas redefinem, no diadia, suas próprias identidades e o sentimento de pertencimento de seus membros. Próximo ao cemitério de Thiais, encontra-se o de Bagneux (Departamento do Haut-de-Seine), um outro exemplo de grande necrópole suburbana, com uma planta regular e ausência de apelo turístico, mesmo sendo um dos locais mais arborizados e floridos da capital francesa. Inaugurado no final do século XIX, para lidar com a escassez de espaço disponível que já naquela época interessava os cemitérios intra-muros (Père-Lachaise, Montmartre, Montparnasse, Passy) esse é, juntamente com os de Thiais e Pantin, o cemitério em que, atualmente, os habitantes de Paris – especialmente aqueles que não podem pagar cifras imódicas pela concessão funerária cobradas nos cemitérios do centro da cidade – optam por serem ou haverem seus entes enterrados. Igualmente subdividido em setores confessionais, Bagneux representa um outro terreno de pesquisa onde podem ser analisadas as relações que os vivos desenvolvem entre eles por meio da apropriação de específicos espaços funerários, e do valor simbólico e identitário que lhes atribuem. Mais do que as outras, é a comunidade judaica, em particular os Ashkenazi, que parece ter escolhido este cemitério como seu lugar privilegiado de enterro e de memória. Testemunhas disso são os inúmeros monumentos, muitas vezes túmulos coletivos, construídos dentro de setores bem específicos do cemitério, mas também o imponente monumento dedicado aos soldados judeus que morreram pela França durante a Segunda Guerra Mundial (Fig. 2). Bagneux é também o cemitério que – em função da recuperação da memória coletiva nacional da guerra – as autoridades francesas tentaram transformar em um espaço altamente simbólico, em que a comunhão e a partilha dos ideais patrióticos mais elevados permitiriam – em teoria – ultrapassar, justamente, as diferentes tendências ao comunitarismo, em nome de um comum sentimento de pertencimento ao Estado francês. Esta tentativa foi feita por meio da construção de um enorme setor militar, no qual os túmulos de soldados mortos em defesa da França encontram-se dispostos em longas filas, um ao lado do outro. Os túmulos são todos idênticos, independentemente dos falecidos serem cristãos, muçulmanos ou professarem qualquer uma – ou nenhuma – outra religião. Uma organização do espaço funerário que ilustra muito bem este esforço público de fabricação de um ideal de igualdade e fraternidade entre os vivos, a partir do sacrifício comum de seus antepassados. Um esforço, na verdade, aparentemente pouco apreciado pelos usuários do cemitério, que parecem muito mais prontos a recortar cada um seu próprio espaço comunitário exclusivo ao invés de compartilhar um sentimento de fraternidade.

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Artigo .......................................................................................................... Todas estas questões relativas à gestão de espaços comuns que afetam profundamente a vida cotidiana não somente dos cemitérios de Thiais e de Bagneux, mas também do outro grande cemitério da região de Paris, o de Pantin, parecem não se reproduzir, a menos à primeira vista, em outro terreno observado dentro desta análise comparativa: o cemitério inter-comunal de Bobigny (Departamento de Seine Saint-Denis). Localizado em uma zona industrial ao norte da capital foi, desde a sua inauguração em 1934 como um anexo do Hospital Avicena até 2010, o único cemitério na França reservado, exclusivamente, aos muçulmanos, com exceção de um outro cemitério semelhante situado na Île de la Réunion, (AGGOUN, 2009; EL ALAOUI, 2012).6 Devido ao grande número de muçulmanos que vivem no país, o que faz do Islã a segunda religião da França em número de praticantes,7 parecia importante incluir na presente análise o cemitério de Bobigny, sobretudo porque se localiza muito próximo ao centro de Paris. Elementos particularmente simbólicos como a orientação de todos os túmulos para a direção de Meca, a disposição espacial e sua forma sóbria dão, inicialmente, uma visão geral bastante regular desse pequeno cemitério. Única exceção se faz ao setor militar, em que distintamente se repousam apenas soldados franceses de religião muçulmana, facilmente reconhecível por suas lápides brancas dominados por uma grande bandeira francesa (Fig. 3). Uma observação mais atenta, no entanto, revela uma subdivisão do espaço surpreendentemente complexa: os túmulos de muçulmanos da Índia, de Madagascar, mas também do Afeganistão, Azerbaijão ou de outros países próximos foram, ao longo do tempo, sendo agrupados em divisões específicas, marcando assim a diferença de suas respectivas origens em confronto daquela da maioria dos sepultados no cemitério, de origem Norte Africana. Além disso, há também uma divisão por muito tempo atribuída somente às mulheres e na qual, ainda hoje, permanece um traço importante desta exclusividade. Da mesma forma, encontra-se a repartição em que se encontram sepultadas exclusivamente crianças. Acontece que, no contexto de uma migração de trabalho tipicamente masculina como foi aquela dos primeiros muçulmanos na França, o simples feito de ser uma mulher ou uma criança já constituía uma espécie de exceção à “regra” geral dos falecidos; por causa disso foi decidido reservar espaços funerários específicos, dentro do cemitério, por essas duas categorias. A observação dessa necrópole de 7 hectares e da mesquita construída em seu interior – ambas listadas no inventário dos monumentos históricos da França – parece indicar que mesmo dentro de um espaço destinado a comunidades que confessam a mesma crença existe um preocupação de fundo de tentar se distinguir e se “proteger” do contato com aquele que, mesmo próximo, é por outras razões – nacionalidade de origem, gênero, idade – distante. Essa dinâmica e tentativa de se singularizar e se agroupar entre “iguais”, como mencionado anteriormente, torna-se ainda mais aparente quando múltiplas “diferenças” devem compartilhar áreas comuns como é o caso, entre outros, de Thiais e de Bagneux.

Entre a “liberdade” e “liberdade de escolha”: o dilema do Estado Há 10 anos Olivier Dord argumentou que um estado é laico, antes de tudo, para garantir a liberdade de consciência e de pluralismo religioso de seus habitantes, e não simplesmente por causa da separação entre Igreja e Estado derivada do laicismo (DORD, 2004). Compartilhando ou não esta opinião, parece claro que qualquer reflexão sobre os setores confessionais - espaços que levam para o território da morte as divisões e as problemáticas muitas vezes próprias da vida cotidiana – exige de início uma visão de duas perspectivas: de um lado a “ilegalidade” formal desses setores com respeito ao direito francês (Lei do 14 de novembro de 1881; DUTRIEUX, 1999) e do outro lado, a coação por parte de diversas comunidades religiosas e seus representantes sobre as instituições francesas, que acabam por aceitar a segregação comunitária em espaços teoricamente comuns. Esta delicada questão nos leva a indagar sobre o sentido e a relevância que a ideia em si do laicismo – princípio fundador da República Francesa – possa ter nesse âmbito, bem como sobre as medidas

6 Graças ás regras da lei local da região da Alsácia-Moselle, em fevereiro de 2010 um segundo cemitério muçulmano foi aberto na França continental, na cidade de Estrasburgo. 7 Embora a lei francesa proíba recensear a população quanto á religião, há diversos estudos não oficiais ou para-oficiais (Pew Research Center, INED, INSEE) que certificam este dado.

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.......................................................................................................... Artigo que o Estado emprega na tentativa de gerir as complexas situações que surgem e indicam o descumprimento do estado laico. Se as leis de 1881 e de 1905 são muito claras, proibindo qualquer organização do espaço público feita a partir de considerações e preceitos religiosos, o continuo questionamento desse princípio – especialmente da parte das comunidades muçulmanas (NUNES, 2011) e judaicas – parece ter finalmente prevalecido sobre a legislação. A partir do que Stéphane Papi define como um “direito não-normativo” (PAPI, 2007) a eventual criação de tais espaços acabou sendo em um primeiro momento deixada à livre avaliação do prefeito dos diferentes municípios envolvidos; ao longo do tempo, esta criação foi até mesmo encorajada por três diretrizes ministeriais sucessivas, em 1975, 1991 e 2008. Por outro lado, o Conselho de Estado decidiu intervir diretamente na questão, em 2004, para lembrar que a lei francesa não permite que um prefeito possa tomar uma qualquer disposição coletiva com base na orientação religiosa de uma pessoa ou de uma comunidade, enfatizando, assim, a contradição óbvia sobre a qual é hoje baseada a criação dos setores confessionais.8 Não devemos esquecer, neste contexto, que a França continua sendo o país europeu com a maior diversidade de cultos religiosos e também com o maior número de laicos: isso provoca uma grande variedade de pedidos e, sobretudo, de expectativas em relação a questão da convivência entre leis do estado e preceitos religiosos, com as obvias consequências que afetam também o âmbito funerário (MICHAUD-NÉRARD, 2007). Na Île-de-France, o cemitério de Thiais – que desde a sua criação previu a presença dos setores confessionais – é o lugar, mais que qualquer outro, em que esse problema legislativo (e prático) se reproduz diariamente em toda a sua complexidade. Estima-se que hoje existam cerca de oitenta setores muçulmanos na França inteira, a maioria dos quais (vinte e três) situados na mesma Ȋle-de France. De todos os cemitérios do país, Thiais é aquele que possui o maior número destes setores, aos quais devem ser adicionados os setores judeus, ortodoxos, indianos e de outras comunidades ou religiões; sem esquecer a já mencionada grande área do cemitério comumente chamada de “território chinês”, a partir do momento em que esta grande comunidade decidiu fazer de Thiais o seu próprio cemitério privilegiado.9 Lugar cosmopolita, Thiais é, mais do que isso, uma espécie de resumo das comunidades religiosas, linguísticas e étnicas que, ao longo da história recente, fizeram da França seu próprio país de imigração e que poderiam considerá-lo sua nova pátria.10 No entanto, temos visto como esta pesquisa teve que se confrontar com uma imagem sectária e, por vezes, muito complexa da gestão e organização deste e de outros espaços funerários, pois as mesmas comunidades que veem se apropriando progressivamente deles, nas últimas décadas, raramente parecem dispostas a partilhá-los plenamente com as outras. Assim, o cemitério de Thiais é hoje um espaço em que é possível observar um fenômeno muitas vezes considerado como dos maiores fracassos da sociedade francesa contemporânea: a ilusão de uma verdadeira integração e convivência intercomunitária e especialmente inter-religiosa. Um lugar de uma certa maneira simbólico, onde os destinos das diferentes comunidades são diariamente questionados, a partir de como os seus representantes são capazes de se apropriar do território funerário. Uma apropriação que, na prática, significa tentar deixar fora (ou remover) dele os falecidos das outras comunidades. A partir dessas reflexões, poderíamos argumentar que este espaço parece, de certa forma, muito mais relacionado ao contemporâneo que, por exemplo, o Père-Lachaise, muito embora seja evidenciado que este último cumpra diariamente três papéis ao mesmo tempo: de necrópole, de parque-jardim e de museu ao ar livre (GIAMPAOLI, 2010). Isto porque Thiais se apresenta hoje como um dos principais laboratórios de uma

8 Por maiores informações sobre a complexidade legislativa desta questão, pode-se consultar o site internet do Senado francês: http://www.senat.fr/rap/r05-372/r05-37223.html. Entretanto, na vizinha Suíça, seguindo o exemplo do Líbano, está sendo discutida a criação de setores e até mesmo de cemitérios particulares na forma legislativa de propriedade privada, ou de direito à superfície de longo prazo. 9 Informantes relataram que, há alguns anos atrás, ricos representantes da comunidade chinesa teriam sondado a possibilidade de comprar uma parte do cemitério, sendo, todavia, esta ideia rejeitada pela administração de Paris. 10 O mesmo fenômeno, com uma historia e uma atualidade diferentes, aconteceu (e continua acontecendo) aqui no Brasil, principalmente através dos grandes fluxos migratórios das comunidades italiana, alemã, libanês e japonesa que trouxeram no pais milhões de novos brasileiros.

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Artigo .......................................................................................................... aparente vontade de auto-guetização – muito representativa da realidade cotidiana dos subúrbios que o cercam (VIEILLARD BARON, 2002) – de comunidades que parecem aproveitar deste amplo e ambíguo território da morte para produzir novos e exclusivos espaços de comunicação do próprio mal-estar social, novos marcos identitários, novos heróis.11 Se seus 103 hectares têm mantido tranquilos, por um longo tempo, os membros de cada comunidade respeito a qualquer possível proximidade com “vizinhos” não desejados, a luta para ganhar novos espaços se torna atualmente inevitável, às vezes envolvendo diferentes frações dentro da mesma comunidade. De acordo com o que disse o chefe do Serviço dos Cemitérios da Cidade de Paris, durante uma conversa informal: «somos testemunhas de tensões durante enterros. Por exemplo, quando muçulmanos xiitas descobrem que os túmulos nas proximidades são ocupados por sunitas». Isso acontece dentro do mesmo setor muçulmano do cemitério. Se cada uma destas comunidades parece (mais ou menos, no caso da muçulmana) atenuar as diferenças internas quando deve se confrontar com outras dentro de espaços comuns a serem – teoricamente – partilhados (Thiais, Bagneux), no momento em que um espaço é exclusivo (Bobigny, ou dentro de cada especifico setor confessional em outros cemitérios) suas diferenças internas emergem mais claramente e nem sempre de forma pacífica. Nesta perspectiva, mais uma vez os cemitérios tornam-se locais aonde são (re)definidas e podem ser identificadas as diferentes tendências do Islã, da comunidade judaica (HALBRONN, 1996) e das outras presentes na França. Além disso, a partir da análise dos pedidos e das reivindicações crescentes relacionados com a gestão do espaço funerário, em contraste com o princípio republicano do laicismo, nos podemos perguntar se estes mesmos cemitérios e seus setores confessionais podem também se tornar laboratórios de fundamentalismo. Ou de seu oposto.

Uma dupla perspectiva « Se não houver setores confessionais, haverá cemitérios confessionais».12 Esta afirmação incisiva, presente no Relatório Machelon de 2005, juntamente com a vontade de levar em conta as múltiplas perspectivas de investigação abertas pela análise do planejamento comunitário dos espaços funerários, parecem permitir uma leitura alternativa desse fenômeno. Seria, então, possível olhar para os setores confessionais não apenas (e talvez superficialmente) como uma forma de auto confinamento e de separação das comunidades dentro de um espaço público, e sim como uma maneira, mesmo ilegal, de prevenir talvez formas mais extremas de auto exclusão? Estes setores confessionais, poderíam até mesmo se tornar – inesperadamente – primeiros espaços de integração? Aliás, o Père-Lachaise não foi ele mesmo por um bom tempo ocupado por setores confessionais, os quais ao longo do processo histórico finalmente desapareceram (CHARLET, 2003; BAUER, 2006), tornando-se este mesmo cemitério, hoje, um marco da Paris cosmopolita, aberta e acolhedora? Relativamente ao cemitério de Thiais, os resultados de uma primeira observação direta, apoiados pelo estudo de documentos e fotografias de arquivo, parecem mostrar uma evolução na gestão dos setores confessionais que merece ser levada em conta. Assim, formas e práticas devocionais próprias da tradição cristã (uso de velas, flores e imagens sagradas) são hoje observaveis em túmulos e setores de outras confissões, criando as vezes novas formas sincréticas de comemoração dos falecidos (Fig. 4). No cemitério de Bagneux, nós podemos acompanhar o mesmo percurso de evolução através da análise específica dos muitos setores confessionais da comunidade judaica presentes no cemitério, cujos tumulos são as vezes decorados com flores ou velas, ao invés das tradicionais pedras.

11 Uma vez assumido que também uma necrópole pode se tornar um espaço para a expressão comunitária, seria certamente interessante investigar quem são os principais atores que gerenciam a relação entre estas comunidades e os espaços da morte, que governam a gestão do espaço-tempo sagrado do funerário e que também lidam com os procedimentos burocráticos necessários para a criação deles. 12 Trecho da Relação da “Commission de réflexion juridique sur les relations des cultes avec les pouvoirs publics”, presedida por M. Jean-Pierre Machelon e publicada em 2005.

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.......................................................................................................... Artigo Mudanças nas práticas devocionais parecem também ter ocorrido dentro do pequeno cemitério muçulmano em Bobigny: Se as mais velhas divisões islâmicas ainda evocam, pela sobriedade delas, os cemitérios do Magrebe, as mais recentemente criadas revelam mudanças nas práticas, por vezes, surpreendentes: flores, bichos de pelúcia, copias do Alcorão, objetos de vária natureza se misturam os uns com os outros sobre túmulos de menos em menos austeros. Pode-se também observar que um número crescente de túmulos de muçulmanos, chineses, judeus, em todos os cemitérios mencionados, ficam particularmente visitados e floridos em ocasião do dia dos finados, festa tradicionalmente católica. Parece mesmo que estamos assistindo a uma “apropriação”, por parte de alguns membros destas comunidades, de formas e práticas devocionais normalmente consideradas próprias ao mundo ocidental cristão. Se essas formas e práticas provocam críticas dos representantes mais ortodoxos das diferentes comunidades, elas refletem, todavia, uma crescente e espontânea abertura às práticas do país que os acolheu com suas famílias, e que pode enfim se tornar sua nova pátria (AGGOUN, 2006). Um fenômeno, esse, a não ser subestimado, sobretudo se levamos em conta o fato de que muitas vezes é precisamente o espaço sagrado (neste caso, o funerário) que costuma ser um dos pilares de toda a tradição e, portanto, se demonstra menos sujeito a mudanças, variações e aberturas. Aliás, o declínio na última década da porcentagem de repatriações nos países de origem de muçulmanos mortos na França, parece mostrar como a recusa de ser enterrados na França (o que muitas vezes implica o não reconhecimento desta como “próprio” país) começa a se substituir uma aceitação dessa possibilidade e, portanto, o desenvolvimento de práticas subsequentes. A pesquisadora de origem magrebina Soraya El-Alaoui mostra como, muitas vezes, seja a partir do caso de uma criança natimorta que começa este enraizamento no território francês (EL ALAOUI, 2006), sendo que um membro da família (normalmente a mãe, ou um irmão) acaba num segundo momento sendo sepultado ao lado dela, para a criança não ficar sozinha. Assim, pela sua morte tão prematura, esta mesma criança acaba se tornando uma espécie de “antepassado” (num sentido mais literal que anagráfico) graças ao qual pode começar a consagração e, portanto, a aceitação do solo francês como o próprio, e cuja presencia torna possível o enterro de outros membros da família no mesmo espaço. Permanece o feito que, se estamos testemunhando uma gradual, progressiva ligação das diferentes comunidades – religiosas, confessionais, linguísticas – ao território francês a partir também da apropriação do espaço funerário, muito embora os setores confessionais parecem permanecer a conditio sine qua non de uma tal evolução. Criados nos “novos” cemitérios do início do século XIX, os setores confessionais foram rejeitados pelo processo histórico que fez da França um país que tenta fundar a coexistência de seus cidadãos sobre o laicismo. Hoje em dia – apesar deste princípio permanecer teoricamente (e legislativamente) sempre válido – eles voltam a ser o objeto de uma demanda crescente por parte de muitos destes mesmos cidadãos franceses. Percebidos e criticados para alguns enquanto espaços de auto exclusão, de ilegalidade, até de fanatismo religioso, eles parecem, todavia, poder se tornar um elemento importante no tortuoso processo da integração das diferentes comunidades na França. Um processo com base também nas raízes que seus membros fincam no interior dos espaços mortuários do país.

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Artigo .......................................................................................................... Referências bibliográficas AGGOUN, Atmane. Les musulmans face à la mort en France, Paris: Vuibert, coll. « Espace éthique », 2006. AGGOUN, Atmane. Le cimetière franco-musulman de Bobigny: lieu de mémoire, traces d’immigration et patrimonialisation. Études sur la Mort, Paris, n. 136, 2/2009, p. 33-42. BARTOLI, Paolo. Parole di pietra. Le lapidi di Perugia 1860-2004, Perugia: Grafiche Benucci, 2004. BAUER, Paul. Deux siècles d’histoire au Père-Lachaise, Paris: Mémoires & Documents, 2006. CHARLET, Christian. Le Père-Lachaise – Au cœur du Paris des vivants et des morts, Paris : Découvertes Gallimard, 2003. DORD, Olivier. Laïcité: le modèle français sous influence européenne, Paris: Fondation Robert Schuman, 2004. DUTRIEUX, Damien. La neutralité du cimetière et les carrés confessionnels. Funérewe Europe. Bruxelles. n. 99-1, 1999, p. 30-32. EL ALAOUI, Soraya. Les réseaux du livre islamique. Parcours parisiens, Paris: CNRS édition, 2006. EL ALAOUI, Soraya. L’espace funéraire de Bobigny : du cimetière aux carrés musulmans (1934-2006). Revue Européenne des Migrations Internationales. Poitiers : Université de Poitiers, Vol. 28, n. 3, 2012, Université de Poitiers, p.27-49. GIAMPAOLI, Michelangelo. Père-Lachaise: Il cimitero vivente. ACHAB. Milano: Università degli Studi di Milano Bicocca, n. XII, 2008, pp. 14-20. GIAMPAOLI, Michelangelo. Il cimitero di Jim Morrison : Trasgressione e vita quotidiana tra le tombe ribelli del Père-Lachaise a Parigi, Viterbo: Stampa alternativa-Nuovi Equilibri, 2008. HALBRONN, Jacques. La problématique identitaire chez les juifs français. In HIER, JUIFS PROGRESSISTES, AUJOURD’HUI JUIFS…? QUELLE IDENTITE JUIVE CONSTRUIRE ?, 1996. Paris. Actes du Colloque des Amis de la CCE de février 1995. MICHAUD-NÉRARD, François, La révolution de la Mort, Paris: Vuibert, Collection « Espace éthique », 2007. NUNES, Juliette. La gestion publique des espaces confessionnels des cimetières de la Ville de Paris : l’exemple du culte musulman (1857-1957). in LE MOUVEMENT SOCIAL – Cimetières et politiques. Paris : La Découverte, n. 237, nov/2011, pp. 13-32. PAPI, Stéphane. Droit funéraire et islam en France: l’acceptation de compromis réciproques, Actualité juridique. In DROIT ADMINISTRATIF. Paris, n. 36, 2007, p. 1968-1973. PETRUCCI, Armando. Le scritture ultime. Ideologia della morte e strategie dello scrivere nella tradizione occidentale, Torino: Einaudi, 1995. TARTAKOWSKY, Danielle. Nous irons chanter sur vos tombes – Le Père-Lachaise, XIXe-XXe siècle, Paris: Aubier – Collection historique, 1990.

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.......................................................................................................... Artigo TERROLLE, Daniel. La mort des SDF à Paris : Un révélateur social implacable. In ÉTUDES SUR LA MORT. Paris, n. 122, 2/2002, p. 55-68. VIEILLARD BARON, Hervé. L’espace du religieux dans les banlieues : de la terre de mission aux regroupements communautaires? Communication au Festival International de Géographie (FIG) de Saint-Dié, 2002.

Fig. 1 : Setor chinês com seus imponentes túmulos decorados (Autor: GIAMPAOLI M., 2013)

Fig. 2 : Monumento aos soldados judeus no cemitério de Bagneux (Autor: GIAMPAOLI M., 2014) 16

Artigo ..........................................................................................................

Fig. 3 : Setor militar no cemitério muçulmano de Bobigny (Autor : GIAMPAOLI M., 2013)

Fig. 4 : Flores, plantas e outros objetos ornamentam os túmulos de um setor muçulmano no cemitério de Thiais (Autor : GIAMPAOLI M., 2014)

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